Adendos
Documento importante para a memória da aviação brasileira Este livro aqui reproduzido digitalmente é um documento importante da história da aviação brasileira. Como visto desde sua capa, trata-se de um Manual de Rotas Aéreas produzido pelo serviço de inteligência da Força Aérea dos Estados Unidos. A edição é de 17 de setembro de 1943. Ou seja: no auge da Segunda Guerra Mundial. Classificado de confidencial, ou secreto, em 121 páginas traz informações de aproximação para todos os aeroportos importantes situados na costa Leste da América do Sul. Começa na antiga Zona do Canal de Panamá e desce pela Colômbia, Venezuela, Guianas, Brasil, Uruguai e Argentina. Ele foi feito para orientar os pilotos norte-americanos nos voos em direção ao Norte da África, passando pela Base Aérea de Natal. Como a vitória sobre as tropas nazistas na região do Mar Mediterrâneo ainda não se consolidara, havia o temor de ser necessário combatê-los em céus brasileiros. E era preciso estar preparado. Por isto a enorme abrangência deste trabalho. O exemplar que tivemos a oportunidade de manusear e escanear cada uma das suas páginas — um original em perfeito estado de conservação — , pertenceu ao piloto brasileiro da Força Aérea Brasileira — FAB, Nélson Asdrúbal Carpes. Ele participava dos grupos de patrulhamento aéreo do mar territorial brasileiro, principalmente no Nordeste do País, naquele período. Nascido em 16 de julho de 1918, na cidade de Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina, era egresso da Escola Militar do Realengo. Ingressou na primeira turma, lendária, da Escola de Aeronáutica do Campo dos Afonsos, na cidade do Rio de Janeiro, aberta logo após a criação do Ministério da Aeronáutica. Nem bem tinha graduado como oficial aviador, em 1942, foi diversas vezes para o Estado da Califórnia, na Costa Oeste dos Estados Unidos. Tinha como missão trazer aviões de combate para o Brasil. Logo após, foi indicado para comandar um esquadrão de aviões PBY Catalina, do grupo de Patrulhamento do Atlântico Sul. Fazia voos de busca de combate a submarinos alemães que apareciam no litoral brasileiro. Terminado o conflito na Europa, foi condecorado com a Cruz de Guerra da Aviação. Seguindo sua carreira, foi subcomandante na Base Aérea de Recife e comandante em Florianópolis. Chefiou o Serviço de Prevenção de Acidentes da FAB, no Rio de Janeiro. Faleceu dia 25 de março de 1961, na cidade de Natal, capital do Estado do Rio Grande do Norte, no posto de coronel-aviador.
Estava a bordo como copiloto de um C-47 que caiu em voo do Correio Aéreo Nacional com destino a Manaus, capital do Estado do Amazonas. Talvez aquela fosse a última viagem que faria nos próximos três anos. O coronel Nélson tinha sido aprovado no exame de admissão à Escola de Comando do Estado Maior da Aeronáutica — Ecemar. E se preparava para voltar às salas de aula, para, ao final do curso, dar seguimento à sua carreira, alçando postos mais elevados na corporação. Um colega pediu que o substituísse na missão, pois estava com a esposa adoecida. Partiram da Base Aérea do Galeão e fizeram escalas em Vitória e Salvador, onde pousaram com pane num motor. Após os reparos, no seguimento da viagem, resolveram pernoitar em Natal. Chegaram lá de madrugada, com tempo muito fechado, chuva intensa e ventos fortes. Não conseguiram pousar. Foi promovido, post mortem, ao posto de brigadeiro, por sua atuação em combate durante Segunda Guerra Mundial. Ao manusear o documento original, percebe-se que o major Nélson fez correções de algumas informações, anotando a lápis sua revisões. E acrescentou os procedimentos de aproximação para três aeroportos não constantes nos levantamentos feitos pelos norte-americanos: Fernando de Noronha, Igarapé-Assu, no Pará, e Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Os dados foram anotados em pequenas folhas de caderno, que estão reproduzidas nas páginas a seguir.
Na foto, o então major Nélson Asdrúbal Carpes — em destaque no realce — lidera uma esquadrilha de North American AT-6, aeronave de treinamento avançado da FAB, em exercício de bombardeio rasante sobre Florianópolis. Todo este material foi foi cedido gentilmente pelo filho dele, Carlos Roberto Carpes.