julho | 2013
04
É tempo de férias! Tempo de se divertir, relaxar, descansar... e por que não fazer tudo isso em meio a muita arte e cultura? Foi pensando nisso que fizemos esta edição da revista Vitrine, baseada neste período tão esperado pelas crianças e jovens. Além da já conhecida agenda cultural, a 4ª edição da Vitrine traz um completo guia de férias, feito em parceira com o Catraca Livre , com programas para todos os gostos e idades, que vão de trilhas ecológicas e museus a parques para skate e bicicletas. E, depois de tantos passeios, é sempre bom curtir o conforto de casa, não é? Por isso, trazemos também a programação completa da Mostra Internacional de Cinema e do Clássicos na tela da TV Cultura, para os pais que sem dúvida precisarão de um descanso depois de acompanhar a energia das crianças durante o dia. Uma crônica do maestro Júlio Medaglia sobre sua relação com o antigo prédio da Rádio Cultura e o cronograma completo da programação musical das rádios da Fundação Padre Anchieta também permeiam as páginas desta edição, além de uma viagem pelo mundo caipira – ou ka’a pora, como você vai descobrir: Rolando Boldrin declama um poema do sertanejo Nhô Bento e Inezita Barroso bate um papo sobre a cultura e as tradições do homem do campo e do sertão. Para encerrar, mas não menos importante, uma entrevista com Maria Cristina Poli no molde de seu novo programa, Poli, relatado a partir dos fatos históricos ocorridos durante a vida do entrevistado, e os destaques do discurso de boas-vindas do novo diretorpresidente da Fundação Padre Anchieta, Marcos Mendonça. Boa leitura!
Mostra Internacional de cinema na cultura Filmes de juLho
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Foto: Divulgação
Mostra Internacional de Cinema | Filmes de juLho
Enquanto o sol não vem QUARTA- FEIRA, 3 DE JULHO, ÀS 22H45 | LEGENDADO SEXTA- FEIRA, 5 DE JULHO, ÀS 22H | dublado
Inédito Convidada: Esther Hamburger
Uma jovem feminista e importante figura política na França vai passar dez dias na casa de sua família, no Sul do país europeu. O local nunca a agradou e o motivo desta viagem é apenas para ajudar sua irmã a cuidar da mãe. Lá ela acaba convivendo com o cunhado e sobrinhos, além de uma governanta que acompanha a família desde que deixou a Argélia. O filho desta empregada e seu amigo, um cineasta sem expressão, decidem fazer um documentário sobre a visitante, para uma série de filmes sobre mulheres bem-sucedidas. Pelo carinho que a idealista tem pela doméstica argelina, ela aceita a proposta.
Cine
Ficha técnica Título original: Parlez-moi de La Pluie Direção: Agnès Jaoui Ano: 2008 Origem: França Duração: 110 minutos Colorido Elenco: Jean-Pierre Bacri, Jamel Debbouze, Agnès Jaoui, Pascale Arbillot, Guillaume De Tonquedec, Frédéric Pierrot Classificação indicativa: 12
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Mostra Internacional de Cinema | Filmes de juLho
Tomboy QUARTA- FEIRA, 10 DE JULHO, ÀS 22H45 | legendado SEXTA- FEIRA, 12 DE JULHO, ÀS 22H | dublado
Inédito Convidada: Laís Bodanzky – cineasta
Uma garota de 10 anos se muda de Paris para uma cidade nova, junto com seus pais e a irmã caçula. Com cabelos curtos e vestindo roupas masculinas, a pré-adolescente resolve ir para a rua e conhece uma nova vizinha que a confunde com um menino. A jovem aceita a confusão e lhe diz que seu nome é Mickaël. A partir de então, e com a ajuda de sua irmã caçula, ela leva uma vida dupla, já que seus pais não sabem de sua falsa identidade. Nenhum de seus amigos desconfiam de sua sexualidade, já que ela joga bola como um menino e até inicia um namorinho com uma menina.
Cine
Ficha técnica Título original: Tomboy Direção: Céline Sciamma Ano: 2011 Origem: França Duração: 82 minutos Colorido Elenco: Zoé Héran, Malonn Lévana, Jeanne Disson, Sophie Cattani, Mathieu Demy Classificação: 10 anos
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Mostra Internacional de Cinema | Filmes de juLho
Seguindo em frente QUARTA- FEIRA, 17 DE JULHO, ÀS 22H45 | legendado SEXTA- FEIRA, 19 DE JULHO, ÀS 22H | dublado
Inédito
Ryota é o filho de 40 anos da família Yokoyama. Ele acabou de se casar com uma viúva que tem um filho de seu casamento anterior. Com os dois, ele vai visitar seus pais idosos. Sua irmã mais velha também leva sua família para a visita. Para os pais idosos, é raro que seus filhos retornem para uma reunião familiar. Eles se reúnem para recordar a morte trágica do filho mais velho. Embora a espaçosa casa seja reconfortante, todos da família mudaram de alguma forma. Os Yokoyama são uma típica família disfuncional, ligada pelo amor, assim como pelos ressentimentos e segredos. O filme faz um delicado retrato de como uma família pode ser ao mesmo tempo maravilhosa e irritante.
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Ficha técnica Título original: Still Walking / Aruitemo aruitemo Direção: Hirokazu Kore-Eda Ano: 2008 Origem: Japão Duração: 114 minutos Colorido Elenco: Abe Hiroshi, Takahashi Kazuya, Harada Yoshio, Haruko Kato, Kirin Kik Classificação indicativa: 12 anos
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Mostra Internacional de Cinema | Filmes de juLho
A criança QUARTA-FEIRA, 24 DE JULHO, ÀS 22H45 | legendado SEXTA-FEIRA, 26 DE JULHO, ÀS 22H | dublado
Ficha técnica
Inédito
Título original: L’enfant
Sonia tem 18 anos e acabou de dar à luz um menino. Bruno, o pai, com 20 anos de idade vive de pequenos roubos, cometidos por ele e seus comparsas adolescentes. Os dois veem de maneira bem diferente o significado da chegada desta criança. As atitudes de Bruno em relação ao filho colocam o casal diante de um sério dilema. Ao acompanhar o destino deste jovem casal à margem da sociedade, o filme oferece o retrato de uma época em que valores, ideais e sentimentos estão em xeque.
Direção: Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne Ano: 2005 Origem: Bélgica / França Duração: 95 minutos Colorido Elenco: Jérémie Renier, Déborah François, Jérémie Segard, Fabrizio Rongione,Olivier Gourmet
Classificação indicativa: 12 anos Prêmio: Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2005
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Mostra Internacional de Cinema | Filmes de juLho
FAY GRIM QUARTA- FEIRA, 31 DE JULHO, ÀS 22H45 | legendado SEXTA- FEIRA, 02 DE AGOSTO, ÀS 22H | dublado
Ficha técnica
Inédito
Título original: Fay Grim
Fay Grim é uma mãe solteira de Woodside, no bairro de Queens (NY). Ela teme que seu filho de 14 anos se pareça com o pai, Henry Fool, um foragido da polícia há sete anos. Por ter auxiliado Henry a fugir, o irmão de Fay está na prisão há dez anos. Em sua cela, ele reflete nos anos em que conviveu com Henry e suspeita que ele não era o homem que se dizia ser. Seus pensamentos se confirmam quando a CIA pede a Fay que viaje a Paris para reaver os pertences de Henry. Sua missão se transforma num agitado jogo entre criminosos, que a arremessa num mundo de espionagem internacional.
Direção: Hal Hartley
Cine
Ano: 2006 Origem: EUA / Alemanha Duração: 118 minutos Colorido Elenco: Parker Posey, Jeff Goldblum, James Urbaniak, Saffron Burrows, Liam Aiken Classificação indicativa: 14 anos
De Penteu à Tropicália | TOM ZÉ Foto: Jair magri
Toque para assistir os bastidores do programa!
Do alto de seus 76 anos, mas com a energia de um menino, o veterano artista cutuca a Tropicália em sua segunda participação no Programa Ensaio Por Priscila Lima
om Zé chega ao teatro com um rabo de macaco nas mãos, que em seu show representa sua devoção a Caetano e Gil. Quando sobe ao palco, a primeira coisa que faz é colar ao chão um grande mapa sobre o qual, mais tarde, parte da Pérsia com os sufis, passa pelo litoral norte da África e chega ao Califado de Córdova para explicar a miscigenação cultural que “formou a primeira tiragem da canção popular brasileira”. Um dos personagens centrais do tropicalismo, o compositor traz seu jogo de palavras influenciado pela poesia concreta e explora os
limites entre a música popular e a de vanguarda em sua segunda participação no Programa Ensaio — a primeira foi gravada em 1990, quando ainda experimentava os efeitos do lançamento de “The Best of Tom Zé”, no mesmo ano, pela gravadora Luaka Bop, selo de David Byrne. Como um menino saltitante, executou com grande paixão faixas de “Tropicália Lixo Lógico”, em que vai de Penteu a Zé Celso para dar sua versão sobre o surgimento do movimento criado nos anos 1960.
Assista ao Ensaio com Tom Zé SÁBADO, 27 DE JULHO, 23H15 Para conferir mais arquivos e informações acesse a página do programa no cmais+!
Música
Ah, se as tradições fossem cultivadas...
obra: Hoje a festa é da vovó - Ana Maria Dias
Não somente em um mês do ano, tampouco apenas em quermesses. As tradições do homem do campo, do sertão, são ricas... porém, muitas desconhecidas. Mas como deixar cair no esquecimento algo ainda não visto?
Cultura
Ah, se as tradições fossem cultivadas... | CULTURA CAIPIRA
Foto: Jair magri
Por Thábata Mondoni
pós o mês das festas juninas, como não falar da cultura caipira?! Com a migração, cada vez mais constante, do homem do campo para as grandes cidades, a cultura de raiz passou a ser esquecida por muitos e até sofreu modificações. Mas é na tela da TV Cultura, em programas como Viola, Minha Viola, Sr. Brasil e TV Cocoricó, que se resgata um pouco dessa essência pura e simplificada do mato — a do caipira. Inezita Barroso, apesar de ter nascido em São Paulo, sempre teve um pé na vida da roça. Desde criança, sua paixão pelas coisas do campo era inegável. Após 33 anos no ar, com o Viola, a cantora e apresentadora diz que estar à frente do programa foi uma forma que encontrou de contribuir para a preservação de uma tradição que não deveria ficar apenas na lembrança. “A cultura caipira é muito boa, muito válida”, exclama.
Curiosidade Você sabe por que a viola tem 10 cordas e o violão tem 6? Inezita Barroso explica! Toque para assistir
Para quem pensa que nas festas de roça tem apenas quadrilha, sanfona, quentão, fogueira e
Querem pegar numa viola, perguntam tudo”.
pinhão, Inezita destaca que há muito ainda o que se aprender sobre a cultura dos caipiras, como as
Outra personalidade que foi atraída para o meio
histórias, folclores e danças típicas que ficaram, por
do mato foi violeiro e escritor Paulo Freire, guiado
muitos anos, limitadas apenas às suas regiões. “Só
por Guimarães Rosa. Depois de ler Grande Sertão:
agora que a gente está descobrindo”. Como, por
Veredas, foi para Urucuia, em Minas Gerais. “Lá eu
exemplo, a catira, marcada pela batida dos pés e
pude conhecer uma cultura riquíssima, que tinha
mãos dos dançarinos, e a cana verde, coreografia
um material muito esbrangente” — linguajar da
com rodas em sentidos contrários.
região que significa: atravessar o limite. “Por eles ficarem tão isolados nesse lugar, a cultura, através
“São coisas nossas que podemos mostrar para o
dos tempos, foi se modificando. E quando ela se
resto do Brasil. E a gente tem que cultivar”. A cantora
esbrange, esbrange com uma riqueza incrível”,
ressalta, ainda, que os brasileiros deveriam se
acrescenta com humor.
espelhar em países que fazem questão de preservar tradições e também de estudá-las com afinco. “Se
O violeiro defende que a música caipira é fundamental
eu der um recital inteiramente caipira, 90% do
para a música brasileira. Chico Mineiro e Viola
público será de estrangeiros. Eles têm curiosidade.
Quebrada são algumas das canções que revelam
Cultura
Ah, se as tradições fossem cultivadas... | CULTURA CAIPIRA
a alma do povo do sertão. “É muito bacana esses compositores que, ao longo dos anos, vêm fazendo essa música que retrata o homem do campo. Porque depois de um tempo, com a migração do homem do campo para as grandes cidades, foi ficando cada vez mais complicado você falar do homem do campo”.
Dialeto caipira
A palavra caipira, em Tupi, deriva de ka'a pora (ka'a = mato e pora = habitante de). Um termo que significa literalmente habitante do mato. Manoel Mouri Santiago, coordenador do projeto Caipira da USP, explica que o dialeto
Viola quebrada Mario de Andrade
Quando da brisa no açoite a frô da noite se acurvou Fui se encontrá com a Maroca meu amor Eu senti n'alma um golpe duro Quando ao muro lá no escuro Meu olhar andou buscando a cara dela e não achou
caipira é uma variação da língua portuguesa como muitas outras: “Em qualquer variedade, a pronúncia é o que chama a atenção. Mas há outras características também como o fônico, no ritmo, a prosódia — a melodia da palavra —, que de fato é o que referencia os dialetos.“
Glossário caipira
Frô = flor Acurvou = dobrou Encontrá = encontrar Trabaiá = trabalhar Saboreá = saborear Capiná = capinar
Você sabia? Manoel destaca que a palavra frô pode ser atribuída ao analfabetismo, mas trata-se também de um processo que se encontra em todas as línguas românicas, não somente no português. “Em Camões, encontra-se registrado palavras como frauta e até mesmo frô”.
TOQUE PARA SABER MAIS SOBRE O DIALETO CAIPIrA
ASSISTA a um VÍDEO especial DE BASTIDORES DOS PROGRAMAS JUNINOS da tv cultura!
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Programação do Clássicos | ESPETÁCULOS DE JUlHO
Clássicos
em julho Entre os destaques deste mês estão a ópera La Sonnambula, escrita por Bellini, e três concertos do 44º Festival de Inverno de Campos do Jordão
Música
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Programação do Clássicos | ESPETÁCULOS DE JUlHO
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SILK ROAD ENSEMBLE COM YO-YO MA NO FESTIVAL DE TANGLEWOOD
44º FESTIVAL DE INVERNO DE CAMPOS DO JORDÃO
SÁBADO, 6 DE JULHO, 21H45 – CONCERTO
DOMINGO, 7 DE JULHO, 11H45 – CONCERTO
O tradicional Concerto do Festival de Tanglewood traz o violoncelista Yo-Yo Ma, que sempre teve um interesse musical que vai além do repertório clássico. Em meio a gravações que vão do barroco à música contemporânea, já gravou tangos e música brasileira.
O Clássicos apresenta mais uma atração do 44º Festival de Inverno de Campos do Jordão: o concerto da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo, sob regência de Claudio Cruz e com participação especial da soprano Rosana Lamosa. No repertório, obras de Shostakovich e Mahler.
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BERLIOZ: RÉQUIEM SÁBADO, 13 DE JULHO, 21H45 – CONCERTO Conduzido pelo maestro Sir Colin Davis (19272013), o coro da Orquestra Filarmônica Real, a orquestra e coro da Guildhall Escola de Música e Drama e o Conservatório Dramático de Paris apresentam o grandioso Réquiem, de Hector Berlioz.
Música
44º FESTIVAL DE INVERNO DE CAMPOS DO JORDÃO DOMINGO, 14 DE JULHO, 11H45 – CONCERTO O programa traz outro concerto do 44º Festival de Inverno de Campos do Jordão. A Orquestra do Festival, sob regência de Celso Antunes e Cristina Gomez Godoy, no oboé, apresenta obras de VillaLobos, Mozart e Debussy.
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Programação do Clássicos | ESPETÁCULOS DE JUlHO
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OSESP: MENDELSSOHN, MOZART E SCHUBERT
FESTIVAL DE LUCERNA
SÁBADO, 20 DE JULHO, 21H45 – CONCERTo
O Clássicos apresenta um concerto da Orquestra do Festival de Lucerna sob regência do maestro italiano Claudio Abbado e com a soprano alemã Christine Schäfer. No programa, árias e peças sinfônicas de Mozart.
Reconhecido pelo trabalho com obras românticas e barrocas, John Nelson é o regente deste concerto da temporada 2013 da OSESP. São interpretadas obras de Mendelssohn, Mozart e Schubert. Os solistas são Joel Gisiger, Ovanir Buosi, Dante Yenque e José Linarez.
DOMINGO, 21 DE JULHO, 11H45 – CONCERTO
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LA SONNAMBULA SÁBADO, 27 DE JULHO, 21H45 – ÓPERA Escrita por Bellini, La Sonnambula conta a história de Elvino e Amina, que às vésperas do casamento é encontrada na casa de outro homem. Amina sofre de sonambulismo e precisa provar para o noivo que tudo é apenas um mal-entendido. A montagem escolhida é de 2009 e foi feita pela Ópera Bastille de Paris.
Música
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44º FESTIVAL DE INVERNO DE CAMPOS DO JORDÃO DOMINGO, 28 DE JULHO, 11H45 – CONCERTO Para fechar as transmissões deste ano do 44º Festival de Inverno de Campos do Jordão, o Clássicos traz a Orquestra do Festival sob regência de Marin Alsop e com Jennifer Koh ao violino. No repertório, dois compositores russos: Tchaikovsky e Stravinsky.
Fascínio pelo Mal | MANUEL DA COSTA PINTO
Por Manuel da Costa Pinto
A F lip – F esta L iterária I nternacional de P araty – acontece entre 3 e 7 de julho, tendo como curador o jornalista Miguel Conde e, como autor homenageado, o escritor mais avesso a pompas e circunstâncias da literatura brasileira: o alagoano Graciliano Ramos – tema da palestra de abertura, do romancista Milton Hatoum. Entre os destaques internacionais da programação deste que é um dos principais eventos literários do país estão o francês Michel Houellebecq, o norueguês Karl Ove Knausgård, o italiano Roberto Calasso, a norteamericana Lydia Davis e o irlandês John Banville. Entre tantos nomes estelares da 11ª edição da Flip, gostaria de destacar um jovem autor francês que escreveu um dos livros mais interessantes – e perturbadores – da literatura contemporânea: Laurent Binet, cujo romance HHhH venceu o prestigiado prêmio Goncourt de Primeiro Romance em 2010. O estranho título traz, cifradas, as iniciais da frase em alemão “Himmlers Hirn heisst Heydrich” – que em português quer dizer: “O cérebro de Himmler se chama Heydrick”. Pois o tema do livro é justamente o assassinato, em 1942, de Reinhard Heydrich, oficial nazista que coordenou a ocupação da antiga Tchecoslováquia (hoje dividida em República Tcheca Coluna
e Eslováquia) durante a Segunda Guerra e que ficou conhecido como “o carrasco”, “o açougueiro” e “a besta loira” – não apenas por sua sádica brutalidade, mas também por ter sido o responsável por implantar a famigerada “solução final” concebida por Himmler, ou seja, os campos de extermínio de judeus, dentro do programa de purificação racial idealizado por Hitler e seus asseclas (e que vitimou igualmente, ciganos, deficientes físicos, testemunhas de Jeová e homossexuais). A ação para matar Heydrich ficou conhecida como Operação Antropoide, envolveu vários resistentes e teve como principais protagonistas dois paraquedistas, ambos do exército do país ocupado: o tcheco Ján Kubis (natural da região da Morávia) e o eslovaco Jozef Gabcik – ou seja, representantes das duas etnias que compões esse país de história acidentada (basta lembrar que a antiga Boêmia, berço da Tchecoslováquia e da atual República Tcheca, passou cerca de quatro séculos sob domínio da dinastia austríaca dos Habsburgos e de uma “germanização” que praticamente baniu o idioma tcheco das ruas). HHhH, porém, não é um romance histórico sobre o atentado ocorrido em Praga no dia 27 de maio de 1942 e que eliminou um dos maiores genocidas
Obra: Francisco goya, Aquí tampoco
Fascínio pelo Mal | MANUEL DA COSTA PINTO
da história (Heydrich morreria alguns dias depois, por obra de uma septicemia decorrente dos ferimentos da granada que destruiu o automóvel que o transportava). Na verdade, esse livro pertence a um gênero híbrido, o “romance não ficcional” – que repudia a invenção de diálogos ou cenas e se escora em fontes documentais – e constitui um work in progress sobre os impasses éticos de quem lida literariamente com um episódio traumático como o nazismo. Binet se recusa a “romancear”, a cair na obscenidade do entretenimento, lançando farpas contra As Benevolentes, de Jonathan Littell (também vencedor do Goncourt): para Binet, esse romance narrado por um SS fictício é obra de um “niilista pós-moderno”, um “Houellebecq entre os nazistas” – frase que, diga-se de passagem, permite antever os possíveis atritos que ocorrerão entre ele e o politicamente incorreto e provocador autor de Plataforma e O Mapa e o Território. Enquanto descreve minuciosamente suas enquetes, a história da Tchecoslováquia (ele lecionou francês em Bratislava), sua paixão pelo país de Dvorák, Kafka e Janácek, a sórdida biografia de Heydrich e a modesta trajetória dos heróis tchecoslovacos, porém, Binet vê suas prateleiras lotarem de livros Coluna
e filmes sobre o Holocausto, e percebe o risco de que a serpente nazista esteja novamente se insinuando, na forma de um fascínio travestido de rigor histórico. Binet percebe esse risco quando, durante o processo de escrita do romance, tem um sonho em que ele mesmo é um soldado da Wehrmacht. Após acordar do pesadelo, ele escreve: “Eu, filho de mãe judia e pai comunista, criado nos valores republicanos da pequena-burguesia mais progressista e impregnado, por meus estudos literários, tanto do humanismo de Montaigne e da filosofia das Luzes quanto das grandes revoltas surrealistas e dos pensadores existencialistas, não pude e não poderei ser tentado a ‘simpatizar’ com o que quer que seja que evoque o nazismo, nem de perto nem de longe. Mas sou forçado a me inclinar, uma vez mais, diante do incomensurável e nefasto poder da literatura. De fato, esse sonho prova formalmente que, por sua indiscutível dimensão romanesca, Heydrich me impressiona”. O fascínio pela imaginação do Mal e o tema, imprescindível após os desastres do século XX, da luta entre a ética e a estética: essa é a matériaprima do notável HHhH, de Laurent Binet.
FotoS: jair magri
FPA | marcos mendonça
“Nossa missão é ajudar na formação crítica do homem” Assim Marcos Mendonça abriu seu discurso como novo diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta, que deverá criar um canal de educação para estudantes dos ensinos fundamental e médio. No dia 14 de junho de 2013, Marcos Mendonça tomou posse na Fundação Padre Anchieta. Centenas de funcionários se reuniram para ouvir o primeiro pronunciamento do novo diretor-presidente da entidade. Durante o discurso, Mendonça falou sobre a Fundação e de seus desafios para contornar a delicada situação financeira atual: “Tenho certeza que nós vamos passar por essa etapa e vamos viver momentos positivos nesta instituição”. A criação de um novo canal digital também foi assunto da fala do novo diretor-presidente: “Nós temos metas muito ambiciosas para realizar em um curto espaço de tempo. [...]No terceiro canal, nós provavelmente vamos trabalhar muito fortemente Acontece
na questão da saúde”. Atualmente, a Fundação já conta com dois canais de multiprogramação, a UnivespTV e o Multicultura. (links para cada um) Mendonça encerrou o discurso pedindo apoio aos funcionários para que a missão da Fundação continue sendo cumprida: “Preciso muito da ajuda de você para que a gente possa continuar exercendo esse papel [...] de estar presente com uma programação positiva, que incentiva as pessoas a adquirirem maior conhecimento.” Marcos Mendonça já foi vereador (1983 a 1994), deputado estadual (1995 a 2002), secretário de Estado da Cultura (1995 a 1998 – 1999 a 2002) e presidiu a Fundação Padre Anchieta entre 2004 e 2007.
Programação de julho | Vitrine Indica
O que Exposição Quando Até 26 de agosto Quanto Gratuito Onde Museu do Meio Ambiente Rio de Janeiro - RJ contato (21) 2294-6619
Foto: Divulgação
Agenda
Pareceria:
Gênesis: os destinos inóspitos de Sebastião Salgado cmais+ Foram mais de 30 viagens, durante oito anos, para a realização de Gênesis. Um projeto de Sebastião Salgado, lançado mundialmente em Londres, que agora chega ao Brasil expondo cerca de 250 imagens e um livro. A mostra é separada em cinco sessões: “Amazônia e Pantanal”, “Terras do Norte”, “África”, “Santuários” e “Planeta Sul”. Mais informações
Mostra de filmes no Sesc Pinheiros
catraca livre
O Sesc Pinheiros recebe os cinéfilos para sessões da mostra “Os Imperdíveis”. A programação traz produções de Quentin Tarantino, Pier Paolo Pasolini, Serge Gainsbourg e Mario Monicelli. Os filmes antológicos são exibidos em 35mm e são precedidos de relato sobre o contexto histórico da época, a produção e o diretor.
Mais informações O que Mostra “Os Imperdíveis”
Exposição revela processo criativo de Sérgio Camargo cmais+ O Instituto de Arte Contemporânea (IAC) de São Paulo oferece ao público a exposição ‘Sérgio Camargo, Construtor de ideias’. A mostra reúne cerca de 100 itens, entre fotos, desenhos e esboços do escultor construtivista, ilustrando seu processo de criação.
Mais informações O que Exposição
Quando Até 30 de julho
Quando Até 31 de agosto
Quanto Gratuito
Quanto GratuitoTeatro do Sesi,
Onde Sesc Pinheiros – Rua Paes Leme, 195, Pinheiros, São Paulo, SP contato (11) 3095-9400
Agenda
Onde IAC - Rua Álvaro Alvim, 90, V. Mariana, São Paulo, SP contato (11) 3255-2009
Programação de julho | Vitrine Indica
MAC faz 50 anos e apresenta duas novas exposições cmais+
Peça com Cassio Scapin homenageia Myrian Muniz catraca livre
Na exposição ‘Di Humanista’, são apresentadas 67 obras do acervo, entre gravuras, desenhos e pinturas, do carioca Di Cavalcanti. Já ‘O Agora, o Antes’ tem 85 obras e reúne obras consagradas como o ‘Autorretrato’ (1919), de Modigliani, e trabalhos de artistas contemporâneos como Thiago Honório e Marina Saleme.
O CCBB apresenta a peça “Eu Não Dava Praquilo”. O monólogo transcorre sobre a história do teatro, a arte de interpretar, baseando as narrações em depoimentos e fatos vividos pela atriz Myrian Muniz, influente personalidade do teatro brasileiro.
Mais informações O que Exposição Quando Até 27 de outubro Quanto Gratuito Onde MAC USP – Nova Sede, Av. Pedro Álvares Cabral, 1301, Moema, São Paulo, SP
Mais informações O que Teatro Quando De 12 de julho a 23 de setembro Quanto R$ 6 Onde Centro Cultural Banco do Brasil Rua Álvares Penteado, 112, Centro, São Paulo, SP contato (11) 3113-3651
contato (11) 3091-3039
Férias no Catavento: show e oficinas divertem as crianças catraca livre
Exposições, intervenções, música e arte urbana no MIS catraca livre
O Catavento traz uma programação especial de férias para as crianças, com show e oficinas. As atrações trazem temas como ecologia, animais e ciência.
No feriado de 9 de julho, o MIS recebe exposições, intervenções, arte urbana e música ao vivo na 4ª edição do projeto “Conexão Cultural São Paulo”, com entrada franca. Os destaques ficam para os shows de Tatá Aeroplano e Mustache e os Apaches.
Mais informações O que Férias no Catavento Quando De 2 a 31 de julho Quanto R$ 6 Onde Catavento – Av. Mercúrio, s/n°, Palácio das Indústrias, Centro, São Paulo, SP contato (11) 3315-0051
Mais informações O que Evento Quando De 2 a 31 de julho Quanto R$ 6 Onde Catavento – Av. Mercúrio, s/n°, Palácio das Indústrias, Centro, São Paulo, SP contato (11) 2117-4777
Agenda
Programação de julho | Vitrine Indica
Espetáculo traz reflexões sobre memória, infância e velhice catraca livre
Recital de violão clássico com Gabriel Freire catraca livre
A nova criação do bailarino e coreógrafo Alex Soares, o espetáculo “Oroboro”, é apresentada em julho. A performance, que traz reflexões sobre a memória e seus desdobramentos entre a infância e a velhice, acontece no Teatro Sérgio Cardoso.
O violonista clássico Gabriel Freire se apresenta no Museu de Arte Sacra. O recital, que traz clássicos da música erudita, é gratuito. No repertório, o músico apresenta obras de Johann Sebastian Bach, Francisco Tárrega, Tedesco, Heitor Villa-Lobos, entre outros mestres.
Mais informações
Mais informações O que Espetáculo “Oroboro” Quando De 3 a 25 de julho Quanto R$ 10 Onde Teatro Sérgio Cardoso - Rua Rui Barbosa, 153, Bela Vista, São Paulo, SP
contato (11) 3288-0136
O que Recital de violão clássico Quando Dia 20 de julho Quanto Gratuito Onde Museu de Arte Sacra – Av. Tiradentes, 676, Bom Retiro, São Paulo, SP contato (11) 3326-1373
Rubem Braga ganha exposição no Museu da Língua Portuguesa catraca livre
Mostra fotográfica de Michel Corbou no MuBE catraca livre
O Museu da Língua Portuguesa abre ao público a exposição “Rubem Braga – O Fazendeiro do Ar”, uma mostra interativa que comemora o centenário do autor e reúne textos, documentos, correspondências, desenhos, pinturas, fotografias, objetos, depoimentos em vídeos e publicações.
O MuBE recebe a exposição fotográfica “Os jardins fazem a cidade”, baseada no livro “Des Jardins Dans La Ville”, do renomado fotógrafo francês Michel Corbou. Os 69 trabalhos selecionados revelam o olhar do artista defensor dos locais públicos e arborizados, além de paisagens urbanas captadas pela Europa e Brasil.
Mais informações Mais informações O que Exposição O que Exposição Quando Até 2 de setembro Quanto R$ 6 Onde Museu da Língua Portuguesa – Praça da Luz, s/n°, Luz, São Paulo, SP
contato (11) 3326-0775
Agenda
Quando Até 31 de julho Quanto Gratuito Onde Museu Brasileiro da Escultura – Av. Europa, 218, Jardim Europa, São Paulo, SP contato (11) 2594-2601
Foto: Maira Acayaba
Programação de julho | Vitrine Indica
Confira a programação do Instrumental Sesc Brasil catraca livre
O que Instrumental Sesc Brasil Quando De 1 a 29 de julho Quanto Gratuito Onde Sesc Consolação – Rua Doutor Vila Nova, 245, Vila Buarque, São Paulo, SP contato (11) 3234-3000
O Instrumental Sesc Brasil, realizado no Sesc Consolação, traz apresentações de Pascoal Meireles, Fabiano de Castro, Wilson Dias, João Paulo Gonçalves Quarteto e Pablo Passini.
Mais informações
cmais+
Dica de livro - HQ Sabor Brasilis
cmais+
Criada a quatro mãos, a graphic novel ‘Sabor Brasilis’ traz um universo muito conhecido – e apreciado – pelos brasileiros: o das telenovelas. Mas de um jeito diferente. O foco da HQ está no cotidiano da equipe de criação do folhetim que dá nome ao livro, composta pelo autor da trama e quatro roteiristas.
Dica de livro - Bonita Maria do Capitão Lançado em 2011, em comemoração ao centenário do nascimento de Maria Bonita, o livro ‘Bonita Maria do Capitão’ foi organizado pela neta da cangaceira, Vera Ferreira, e pela pesquisadora Germana Gonçalves de Araújo, e reúne textos e obras de mais de 40 colaboradores. O volume mostra um perfil da companheira de Lampião pouco divulgado.
O que HQ Quanto R$ 45,00 na Livraria Cultura
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Enfim, fĂŠrias! | Guia de Julho
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Em busca
do diferente Ela costuma dizer que não é “a pessoa certa para fazer um jornal formal”. Em sua segunda passagem pela TV Cultura, Maria Cristina Poli nos conta um pouco de sua história nos moldes de seu novo programa na casa Por Felipe Tringoni
Entrevista
Foto: jair magri
Em busca do diferente | O INÍCIO DE POLI
Em busca do diferente | O INÍCIO DE POLI
Queria fazer teatro, mas meu pai me convenceu de que o jornalismo seria um ótimo canal para eu expressar o que eu observava na sociedade. Maria Cristina Poli já está acostumada às mudanças
Nascida em 1959, Poli conta que tem recordações
em sua vida. Aos 54 anos, mais de 30 deles no
do ano em que ocorreu o Golpe Militar no Brasil
Jornalismo, esta paulistana encara seu atual
e, principalmente, do período que o sucedeu: “Meu
momento — apresentando o Jornal da Cultura e
pai era militar, tinha discordâncias e chegou a ser
seu novo programa de entrevistas, o Poli — com
preso. Minha irmã mais velha era ligada a um grupo
naturalidade. “Estou mais mobilizada com o trabalho.
de teat ro de protesto. E um tio também era militar,
Fico mais atrapalhada se a babá das crianças falta!
mas ligado ao grupo no poder. Então o clima era
(risos) De resto, consigo me organizar.”
dividido dentro da família.”
Poli estreou mês passado, e já teve convidados
Ela relata que o pai teve muita influência em sua
como Jean Willys e Fernando Henrique Cardoso
formação: “O comportamento contestador dele
contando um pouco de suas vidas a partir de fatos
é herança direta em mim”. E foi por causa dele
que marcaram a história. Nesta matéria, vamos
que Maria Cristina decidiu estudar jornalismo,
contar a história de Maria Cristina usando justamente
aos 17 anos. “Queria fazer teatro, mas meu pai me
esse formato, idealizado pela própria apresentadora.
convenceu de que o jornalismo seria um ótimo
1964
canal para eu expressar o que eu observava na sociedade.”
• João Goulart, presidente eleito do Brasil, é deposto pelos militares
Também por incentivo do pai, desde o primeiro ano
• É lançado o filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, dirigido por Glauber Rocha e considerado um marco do Cinema Novo brasileiro
Seu primeiro emprego foi na TV Bandeirantes, na
• Os Beatles lançam seu terceiro álbum pelo selo inglês Parlophone, a trilha sonora do filme A Hard Day’s Night. É o único álbum da carreira da banda com todas as canções assinadas por John Lennon e Paul McCartney
jornalistas influentes, como Tarso de Castro.
no curso superior a garota começou a trabalhar. produção do programa de Hebe Camargo. Também produziu o Canal Livre e conviveu de perto com Depois de quatro anos de Bandeirantes, já formada, Maria Cristina foi trabalhar na TV Globo. “Consegui um trabalho durante as eleições para acompanhar o Lula. Era a primeira disputa dele para um cargo
Entrevista
Em busca do diferente | O INÍCIO DE POLI
1982
1992
• João Goulart, presidente eleito do Brasil, é deposto pelos militares
• É assinado em Maastricht, Países Baixos, o Tratado da União Europeia pelos Ministros dos Negócios Estrangeiros e pelos Ministros das Finanças dos Estados-Membros.
• É lançado o filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, dirigido por Glauber Rocha e considerado um marco do Cinema Novo brasileiro • Os Beatles lançam seu terceiro álbum pelo selo inglês Parlophone, a trilha sonora do filme A Hard Day’s Night. É o único álbum da carreira da banda com todas as canções assinadas por John Lennon e Paul McCartney
executivo, governador do Estado. O PT estava
• O Brasil conquista sua primeira medalha de ouro olímpica em esportes coletivos, no vôlei masculino. A seleção nacional tinha jogadores como Tande, Maurício e Marcelo Negrão • A Câmara dos Deputados aprova o pedido de Impeachment e Fernando Collor de Mello é afastado da presidência do Brasil. Seu vice, Itamar Franco, assume o governo
nascendo, e eu acompanhava de cima pra baixo.
Olímpicos. “Ver a cidade se reconstruir daquela
É uma fase marcante na minha vida.” Ela conta que
maneira para receber os jogos foi incrível. Vi gente
não escolheu se tornar repórter, mas que “era o
dos mais diversos tipos e culturas, todas juntas”. No
que tinha. Sempre gostei de produção, não me via
mesmo ano, veio para a Cultura, inicialmente para
como repórter de rua, e fiz isso por quase 11 anos
trabalhar como correspondente na China, depois
na Globo.” Outro momento marcante para ela foi
para apresentar o Vitrine, sobre os bastidores da
a cobertura da campanha pelas eleições diretas,
mídia.
em 1984. “Foi demais!”, repete enfaticamente. Poli tem muitas recordações de seus primeiros seis A primeira passagem de Poli pela TV Cultura
anos de Cultura, um período particularmente fértil
começou em 1992, um ano muito marcante para ela.
para a emissora: “Era uma fábrica em movimento,
Antes da mudança, foi a Barcelona cobrir os Jogos
um ambiente maravilhoso. O Castelo Rá-Tim-Bum
Entrevista
Foto: jair magri
Em busca do diferente | O INÍCIO DE POLI
Assista ao POLI DOMINGOS, 21H30 Para conferir mais arquivos e informações acesse a página do programa no cmais+!
revolucionou esse cenário. E o Vitrine, o Metrópolis, tudo acontecendo. Um ambiente em que se respirava criatividade”. A criatividade, aliás, é uma das características que se destacam em Maria Cristina. Desde cedo na profissão, ela diz sempre procurar algo que diferencie seus programas, como aconteceu no Metrópolis, no Circular (seu primeiro programa de entrevistas, no Canal 21) e, mais recentemente, no Jornal da Cultura, desenvolvendo o atual formato
2013 • Barack Obama e Joe Biden tomam posse pela segunda vez como presidente e vice-presidente dos Estados Unidos • Morre, aos 87 anos, Margaret Thatcher, primeira-ministra do Reino Unido de 1979 a 1990 • Milhares de brasileiros vão às ruas nas principais capitais do país para protestar contra o aumento nas tarifas de transporte público
do telejornal. “Eu gosto de criar um projeto, de estar envolvida em todas as fases de um produto
novo programa de entrevistas. “Eu adoro arquivo,
televisivo.”
então propus um programa usando o arquivo da TV
Há quase três anos de volta à TV Cultura, agora casada e mãe de dois filhos, ela começou uma nova fase na emissora no último mês de junho deste ano, apresentando, além do Jornal, o Poli - seu
Entrevista
Cultura e tendo o entrevistado como um anfitrião para revisitarmos assuntos e fatos importantes. Acho que é um olhar diferente”.
Os índios, a legislação e quem a desrespeita | WASHINGTON NOVAES
o relatório anual O Estado dos Direitos Humanos no Mundo, divulgado pela Anistia Internacional, que “vivemos em um país sob um déficit de justiça muito grande” em vários setores, principalmente indígenas e de moradores de favelas, como sintetizou seu diretor executivo no Brasil, Atila Roque. Segundo ele, o “marco institucional” garante os direitos, “mas na prática isso não se realiza”.
Por Washington Novaes
Como é observado no documento, para os indígenas 2012 foi um ano de “acirramento da violência”, usada como “instrumento para favorecer interesses econômicos” - com “brutalidade chocante”, de que o caso dos índios caiovás-guaranis, de Mato Grosso do Sul (MS), é um dos exemplos. E poderá haver muitos outros se prosperarem projetos em tramitação no Congresso Nacional, como o de emenda constitucional que propõe retirar da Fundação Nacional do Índio (Funai) - e passar para o Congresso - a atribuição de demarcar terras indígenas. Ou a proposta da “bancada ruralista” de CPI para analisar as relações da Funai e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) com organizações não governamentais (ONGs). A bancada cobra ainda a volta da portaria da AdvocaciaGeral da União que autoriza o governo a contratar a implantação de rodovias, hidrelétricas, linhas de transmissão de energia em terras já demarcadas. Por enquanto, a Casa Civil da Presidência mandou suspender processo de demarcação de terras no Paraná - onde há divergências entre a Funai e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) - e o ministro da Justiça promete p ara até o fim do ano novas regras para demarcação, que valerão para cem processos já em andamento. Mas ele diz ser contra a transferência de atribuições da Funai para o Congresso, pois “seria inconstitucional”. Já a ministra-chefe da Casa Civil, sabe-se, prepara um “pacote de mudanças no processo de demarcação”
Meio Ambiente
Os índios, a legislação e quem a desrespeita | WASHINGTON NOVAES
que altera os processos de identificação e demarcação de terras, basicamente para contemplar os “ruralistas” e impedir que passem a se opor ao Executivo no Congresso. A chefe da Casa Civil ainda lembrou que o Executivo aguarda decisão do Supremo Tribunal Federa ianomâmis, de 2008. É oportuno que, numa hora difícil, venha à luz o livro O Profeta e o Principal, do antropólogo Renato Sztutman (USP), que trata da obra do antropólogo francês Pierre Clastres, que morreu muito moço, mas conheceu várias etnias brasileiras, entre elas a dos guaranis. Um dos livros de Clastres trata exatamente dessa etnia - e do que ele designava como “sociedade contra o Estado”. Esse é o título de outra obra sua, onde mostra que nós, não índios, nos habituamos a descrevê-los não pelo que têm, e sim pelo que não têm - não usam roupas, não detêm nossas tecnologias, não vivem como brancos. Com isso nos esquecemos do que têm e pode ser muito importante: 1) a não delegação de poder (o chefe não dá ordens; é o conhecedor da história e da cultura, o grande mediador de conflitos, mas não dá ordens - até porque seria recebido com espanto); 2) a autossuficiência no nível pessoal (um índio, na força de sua cultura, sabe fazer sua casa, plantar sua roça, colher, fazer seus instrumentos de trabalho e adorno, sua rede, conhece as plantas nativas úteis, etc., não precisa de ninguém para nada); e 3) o privilégio de conviver com a informação aberta, ninguém dela se apropria para transformar em instrumento político ou econômico. Renato Sztutman pensa que “por se estruturarem como uma sociedade contra o Estado os guaranis se tornam indesejáveis para a nossa sociedade e o Estado hegemônicos”, e ainda cercados pelo agronegócio - embora até no Município de São Paulo haja três aldeias dessa etnia. Nesta hora de graves ameaças aos direitos indígenas - que temos de respeitar - precisamos relembrar
Meio Ambiente
o parxecer do respeitado constitucionalista José Afonso da Silva no processo em que o STF reconheceu os direitos dos índios ianomâmis a suas terras em Roraima. Catedrático de universidades, o professor José Afonso liquidou a questão ao demonstrar que o reconhecimento dos indígenas a terras por eles ocupadas imemorialmente vem da legislação de Portugal, desde 1640. Foi mantido pela legislação do século seguinte, chegou à nossa primeira Constituição, foi preservado nas de 1934, 1967 e 1988 - nesta, com o reconhecimento de que a demarcação de suas terras é um ato “meramente declaratório”, antecedido pelo “direito originário” que está no artigo 231. “A demarcação”, diz o parecer, “não cria nem extingue direitos, reconhece apenas a situação de fato e o direito consequente”. E sendo assim, “a localização e extensão da terra indígena não é determinada segundo critérios de oportunidade e conveniência do poder público, porque o critério que define a localização e a extensão das terras é o da ocupação tradicional, ou seja, a demarcação tem de coincidir, precisamente, com as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, definidas cientificamente por via antropológica”. E isso, conclui ele, não ameaça a soberania nacional nem a atuação das Forças Armadas. Em meio a tantas ameaças aos índios, convém refletir sobre isso. * Artigo reproduzido do jornal O Estado de S. Paulo
PRE4 - Rádio Cultura | JÚLIO MEDAGLIA
A primeira em Frequência Modulada
Por Júlio Medaglia
Eu
era adolescente , no início dos anos
1950,
quando meu pai vendeu nossa casa na Vila Pompeia e comprou outra na Lapa. A casa precisava de algumas reformas, e meu padrinho, um comerciante bem sucedido, nos ofereceu um apartamento na Avenida São João para morar durante esse período. Ao lado havia um suntuoso edifício, meio art-déco, mas sua arquitetura aparentava um aparelho de rádio antigo. No alto do edifício havia a inscrição PRE4 e, mais abaixo, Rádio Cultura. Esse edifício foi construído pela família Fontoura para ser uma estação de rádio. Possuía estúdios bem aparelhados para rádio-teatro, noticiários e um belo auditório onde aconteciam os programas noturnos, todos ao vivo. Além de um cast de atores fixo, a rádio possuía uma orquestra e vários arranjadores. Comecei a frequentar os programas de auditório, me apaixonando por música e por rádio ao mesmo tempo.
Explore mais Ouça a Rádio Cultura FM
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Coluna
PRE4 - Rádio Cultura | JÚLIO MEDAGLIA
Fim de Tarde, com Júlio Medaglia Segunda a sexta, 17H
Confira a Coluna de Júlio Medaglia no site da Rádio Cultura FM
Duas grandes surpresas aconteceram e me deixaram intrigado à época. A Rádio tinha adquirido uma aparelhagem nova e o disco girava muito lentamente. O som era maravilhoso e não tinha ruídos. O técnico, que me havia deixado entrar na cabine de transmissão, informou que aquele disco chamavase Long Play. Mas tinha outra novidade. O locutor J. Alvise Assunção (o Alfredo Alves da época) tinha um carro pequeno sempre estacionado na porta. Tinha um selo grudado no vidro com a seguinte inscrição: Rádio Cultura: a primeira em FM. Perguntei ao técnico o que queria dizer aquilo. Ele me mostrou, então, os novos equipamentos e explicou que se tratava de uma frequência de onda mais elevada que produziria uma qualidade sonora fora do comum. Fiquei deslumbrado com a qualidade sonora do disco e da transmissão, me interessando ainda mais por música e estudando violino com mais afinco para, quem sabe, um dia fazer parte daquela caixa de encantamento. Hoje, passando pelo local, com muita dor no coração, vejo um enorme terreno baldio e um projeto de novo edifício. Por sorte, a Rádio Cultura (que neste mês de julho celebra seus 36 anos) continua aqui, com seu som FM, com sua programação clássica de primeira e seus discos com leitura por raio laser. É claro que os Long Plays que marcaram época continuam arquivados e, sobretudo, presentes em nossos corações.
Coluna
PROMS 2013 | Guia do Ouvinte
Entre julho e setembro de 2013, a Rádio Cultura FM transmite 17 concertos do Proms, o grandioso festival inglês dedicado à música clássica. A programação selecionada, que traz 14 concertos ao vivo e três a serem transmitidos logo após sua realização, contempla efemérides como o centenário de nascimento de Benjamin Britten e Witold Lutoslawski e os bicentenários de Verdi e Brahms. Pelo segundo ano, a Rádio Cultura FM transmite com exclusividade no Brasil o Proms, maior festival de música clássica do mundo
Nos concertos sinfônicos, destaque para obras como a “Sinfonia fantástica”, de Berlioz, “Wesendonck Lieder”, de Wagner, e “Assim falou Zaratustra”, poema sinfônico de Richard Strauss, além de um programa totalmente dedicado à obra não operística de Giuseppe Verdi. Estão ainda programadas três óperas: de Wagner, “Parsifal” e “Tristão e Isolda”; e, do britânico Benjamin Britten, “Billy Bud”. Como é tradição no Proms, haverá estreia de obras de autores contemporâneos, como Thomas Adès, John McCabe e Diana Burrell. Grandes solistas também marcam presença, como os pianistas Paul Lewis e Mitsuko Ushida, a violinista Baiba Skride e a soprano Anna Caterina Antonacci. O primeiro concerto transmitido pela Cultura FM é o do dia 17 de julho, com a Sinfônica da BBC sob a regência de Thomas Adès em obras de Britten, Lutoslawski e do próprio Adès. A rádio também transmite o encerramento do evento, no dia 7 de setembro. Trata-se de uma grande festa com repertório variado, com solos de Joyce DiDonato e do violinista Nigel Kennedy, além do Coro e da Orquestra Filarmônica da BBC dirigidos por Marin Alsop. Alsop, que é também regente titular da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, será a primeira mulher a comandar o concerto de encerramento do Proms.
Proms na Cultura FM 17 julho a 7 de setembro Confira a programação completa
Frequência
As transmissões da Cultura FM contarão com comentários de músicos e especialistas, que estarão nos estúdios da Cultura ao lado dos apresentadores Ligiana Costa e Carlos Haag.
Brincando de música! | para os pais
Naturalmente, todas as crianças são criativas e as possibilidades de autoexpressão e aprendizado através das artes são ilimitadas. O trabalho com música desenvolve a criatividade, a cooperação, e habilidades físicas e cognitivas. Por meio da música, a criança também expressa emoções que não consegue expressar por palavras. Abaixo, algumas ideias e atividades que trabalham a música de diferentes formas. Aproveite as férias de seu filho e desenvolva com ele seu lado musical!
Infantil
Brincando de música! | para os pais
Peça ao seu filho para repetir simples padrões rítmicos usando uma bateria ou batendo palmas. Incentive-o a usar diferentes partes do corpo, como bater o pé, acenar com a cabeça ou piscar. Explore ritmos ruidosos e suaves, rápidos e devagar, e permita que seu filho crie seus próprios padrões.
Inclua uma variedade de canções, músicas de dedoches, com sons bobos, que nomeiem coisas, que falem de movimentos, e músicas relaxantes. Escreva as letras das músicas favoritas de seu filho num quadro para que você possa cantar junto com ele e seus amigos.
Te n t e m o v i m e n t o s c o r p o ra i s c o m t o d a s a s p a r t e s d o c o r p o p a ra d i fe r e n t e s t i p o s d e m ú s i c a . Converse com seu filho sobre usar espaços largos e apertados, fazendo grandes e pequenos movimentos, movendose rapidamente ou vagarosamente, enquanto a música vai mudando.
Toque diferentes tipos de música, ritmos e sons, e peça para que seu filho desenhe a música do jeito que ele quiser. Use materiais diversos como giz de cera, lápis de cor, canetinhas e desperte em seu filho a percepção sonora e a expressão visual.
Infantil
RECEITINHA
Crianรงa
O Lubisômi | POR ROLANDO BOLDRIN
Nhô Bento Oh, fiquemo um tempão ali se namorando Eu oiando bem nele, ele me oiando... Rezei um oração, num diantô Fiz o pelo siná, ele afastô, Mas eu errei, num fiz dereito, não fiz co a mão dereita E o coisa ruim vortô. Mas aí eu fiquei com mais corage Me deu réiva, eu num corro da bobage... Ranquei da cinta minha garrucha E gritei assim: Ocê imbucha ou desimbucha? Engatiei, puxei. Quá tiro nada. A garrucha intupiu... No desespero Eu tremia quiném um maleitero Pru que o Lúcifer ficou valente Que nem um leão... e estralava os dente Mais brabo inté do que quarqué quexada
Despois ele me oiô muito sentido Cumo argúem quando fica arrependido... Entrou dentro do mato e eu num vi ele nunca mais. Bão, eu vim vindo a pé Vinha pensando o causo que passô Quando ascancei o sitio do Dotô Topei com meu cumpade, Zé Correia Contei o causo pra ele, contei tudo... Ele escuitava e ta... mas tava mudo, Maginando decerto que eu mentia... Eu que num minto e sei o que dizia Fui ficando com as purga atrás da orêia
Eu tava assim, oiando
Inté que eu catuquei assim: Cumé, mecê duvida? Ele me disse: É, pode ser... Pode ser não ora essa, pois eu vi. Eu que tava queimado, ai xinguei A assombração de tudo quanto é nome.
Ele dava pulo assim, deste tamanho E eu dava pulo assim deste tamanho também Pra me livra dos dente do Diánho Uma hora que ele quis me atarracá Minha potranca azulô no matagá E me dexô sozinho com o ladrão.
Quando oiêi pro cumpade ele chorava... Dava dó vê como saluçava. Aí é que eu percebi. Quá... essa vida Há de ter sempre história assim doida História que mar consomi Era ele, o cumpade Zé Correia: o LUBISÔMI.
Gramei cô tá um pedacinho duro... Inté que eu gritei pra ele: Te escunjuro... Seja quem for vai pros quinto já... Aí ele murchô, garrô a uivá Triste que retaiáva o coração da gente. Quando parou de uiva... dava dó vê... Ele oiô pra eu assim, cumo quem diz: Ocê... Pruquê me escunjurô? Minha sorte é esta... Coitado. Eu sei que escunjurá num presta... Mas só fazendo assim ficava em paz. Deus que me perdoe, mas se escunjurando errei Mas afiná num fui eu que provoquei.
Poema
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