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Livro I: Modelo de desenvolvimento do Cooperativismo Solidário
Programa Nacional de Educação do Cooperativismo Solidário Formação e Aprimoramento de Estratégias Organizacionais do Cooperativismo da Agricultura Familiar e Economia Solidária
Modelo de Desenvolvimento do Cooperativismo Solidário
Ação 2 - Elaboração de Temática: Modelo de Desenvolvimento Cooperativismo Convênio 001/2013 - UNICAFES/SESCOOP
F723 Formação e aprimoramento de estratégias organizacionais do cooperativismo da Agricultura Familiar e Economia Solidária: modelo de desenvolvimento do Cooperativismo Solidário. / União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Org.). – Brasília: UNICAFES/SESCOOP, 2013. 33 p.; il. 1. Cooperativismo. 2. Desenvolvimento Econômico. 3. Cooperativismo – Organização em rede. I. União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Org.). CDD – 334
Editorial UNICAFES NACIONAL - União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária. Diretoria Executiva Presidente: Luiz Ademir Possamai (PR) Vice-presidente: Bárbara Paes de Lima (PE) Tesoureiro: Silvio Ney Barros Monteiro (TO) Secretário Geral: Valons de Jesus Mota (GO) Secretário de Formação: Armindo Augusto dos Santos (MG) Secretaria de Mulheres: Célia Santos Firmo (BA) Secretaria da Juventude: Jacionor Ângelo Pertille (RS) Elaboração M.P - Guimarães - ME: VITA CRED - VITA EDUC Organização Alcidir Mazutti Zanco Revisão Marisângela Pinto Guimarães Projeto gráfico www.arteemmovimento.org Ilustração Santiago Contepomi Coordenação de arte Patrícia Antunes Impressão Sergipe Soluções Gráficas Ltda-ME Tiragem 1.000 exemplares Brasília, novembro de 2013. 3
Para um Programa de Educação ter bons resultados é essencial que a metodologia de construção seja participativa e integrada. Por isso, antes de iniciar as ações educativas, as cooperativas necessitam debater e consensuar a estratégia de organização das turmas, de definição das pessoas e cooperativas participantes, do local de realização dos cursos, dos parceiros e dos principais objetivos a serem alcançados. A ação educativa é um processo que necessita ser construído pelos participantes, com ações que demonstrem compreensão, compromisso e dedicação para multiplicação da educação. Assim o Programa de Educação facilitará o fortalecimento das lideranças e a consolidação deste cooperativismo. Esse material desenvolve o tema gerador: Modelo de desenvolvimento, sendo este, o fundamento de todas as ações e estratégias desenvolvidas pelo Cooperativismo Solidário, como eixo articulador dos princípios que norteiam a participação, governança, produção e estratégias para o desenvolvimento socioeconômico. Para que "Este Cooperativismo" se fortaleça é de suma importância que as cooperativas reflitam sobre os eixos e temáticas que devem ser priorizadas no desenvolvimento deste módulo.
Juntos façamos o nosso cooperativismo crescer!
União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária
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Sumário Modelo de desenvolvimento do Cooperativismo Solidário
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Fundamentação
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1.1 - A Trajetória do Cooperativismo 1.2 - Modelo Macro de Desenvolvimento Econômico
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1.3 - Modelo de desenvolvimento do Cooperativismo Solidário
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Problematização
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I - Educação: “Organização Social”
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II - Participação: “Controle e Autogestão”
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III - Organização: “Desenvolvimento Local e Sustentável”
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IV - Interação: “Organização em Rede”
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V - Valorização: “Relações de Gênero, Geração e Etnia”
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VI - Diversificação: “Sustentabilidade Socioambiental”
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VII - Representação: “Relações Organizacionais do Cooperativismo”
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VIII - Intercooperação: “Articulação Cooperativa”
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IX - Inclusão: “Interação Solidária”
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X - Público Associado Interação
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Multiplicação
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Modelo de desenvolvimento do Cooperativismo Solidário
O Cooperativismo Solidário tem como estratégia fundacional e existencial, a missão de promover desenvolvimento econômico e social da Agricultura Familiar e Economia Solidária, fortalecendo a visão do Cooperativismo como ferramenta para o desenvolvimento local, a partir de bases diversificadas e sustentáveis. Esse modelo de desenvolvimento fundamenta-se em estratégias organizacionais, com base nas pessoas, com relações de proximidade, participação democrática e controle social, buscando aumentar a autonomia e empoderamento dos cooperados, para enfrentamento crítico à dinâmica econômica presente no seu contexto. 7
Esse modelo organizacional é articulado via UNICAFES - União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária, entidade que constrói de maneira permanente e progressiva, estratégias para o fortalecimento das redes de cooperação e, o Programa Nacional de Educação Cooperativa introduz um novo ciclo de formação junto à base associada, objetivando ampliar ações de inclusão e empoderamento socioeconômico dos cooperados, com dinâmicas horizontais, participativas e equitárias em torno da proposta de desenvolvimento sustentável. O Programa Nacional de Educação tem como missão fundamentar e ampliar qualitativamente e quantitativamente, o grau de empoderamento social e econômico, das lideranças que "vivem" o Cooperativismo Solidário, proporcionando mecanismos e estratégias para multiplicação do trabalho de base, junto às cooperativas. Neste contexto, este caderno pedagógico pretende facilitar a compreensão sobre o modelo de desenvolvimento que norteia e ilumina essa matriz organizacional, aprofundando as diretrizes fundacionais do Cooperativismo Unicafeano.
"Todo contexto societário é regido por um modelo de desenvolvimento". O Cooperativismo, além de viver o constante enfrentamento aos modelos neoliberais, necessita fortalecer o "reconhecimento e consciência" sobre seus diferenciais, pois a "vivência superficial ou negação" do seu modelo de desenvolvimento diminui a força doutrinal que sustenta a cooperação, gerando inconsistências na viabilidade socioeconômica dos empreendimentos. Diante dos desafios atuais, considera-se prioritário ampliar a consciência e formação sobre a dimensão estratégica, política e técnica das cooperativas, "tecendo teias conscientes" para fundamentação de novos modelos societários, articulando iniciativas para “construção social” inerente aos processos autogestionários do Cooperativismo Solidário. Desta forma, este caderno pedagógico concentra suas descrições no tema gerador: Modelo de Desenvolvimento do Cooperativismo Solidário, resgatando as bases e diretrizes organizacionais deste modelo, sendo importante refletir sobre os desafios que sofremos devido à influência do poder hegemônico e, quais alternativas as cooperativas podem priorizar para sustentabilidade organizacional.
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Fundamentação Tema gerador: Modelo de desenvolvimento
1.1 A Trajetória do Cooperativismo O tema Cooperação esteve presente na sociedade, desde o início das civilizações como uma alternativa efetiva de participação social e, de superação dos problemas socioeconômicos das populações. Historicamente, o Cooperativismo pode ser considerado como movimento fundado a partir das consequências da Revolução Industrial, e, do Liberalismo Econômico do século XVIII, articulado como estratégia para construção de formas alternativas de organização. Na Europa, desde os fins do Século XVIII, pensadores e militantes sociais, incentivam iniciativas cooperativadas, como forma de organização, participação socioeconômica, e, de inclusão das pessoas. Portanto, podemos concluir que o Cooperativismo nasceu como um meio de enfrentamento social e econômico dos trabalhadores excluídos do mercado convencional, tendo como objetivo melhorar as condições de vida, por meio da "cooperação", valor responsável pela transformação social e pela constituição da “força coletiva”. No ato de cooperar, existem várias versões para a nomeação da primeira cooperativa. Diversas iniciativas poderiam receber este título, algumas mais voltadas para ajuda mútua, outras para o modelo empresarial, tendo maior reconhecimento à iniciativa dos “Pioneiros de Rochdale”, grupo de tecelões da Inglaterra, que se organizou e obteve registro formal como sociedade cooperativa em 1844. 9
No Brasil, o processo societário e organizativo foi mais lento. A história da colonização das Colônias feudais, dos grandes latifúndios, gerou nas populações camponesas consciência de subordinação e dependência. A primeira onda cooperativista aconteceu com a chegada de imigrantes europeus. Com base de formação cristã, os novos agricultores migrantes passaram a implementar medidas de articulação produtiva e de "mutirão" entre "vizinhos" que permitiram apesar da forte oposição da política do Governo Getúlio Vargas, o fortalecimentodo movimento cooperativista. Dentre as várias versões para a nomeação da primeira cooperativa, houve maior reconhecimento da Colônia “Tereza Cristina”, situada na região centro do Estado do Paraná, a qual obteve registro em 1847. Lei Geral: Com o crescimento do Cooperativismo, em 1971, foi promulgada a “Lei Geral das Sociedades Cooperativas”, que unifica e articula processos organizativos e representativos do Sistema. Com a modernização desencadeada no País, as cooperativas se tornaram forte instrumento para o desenvolvimento, no entanto, também sofreram ampla pressão das diretrizes capitalistas e, devido à ausência de processos educativos permanentes, esse modelo organizativo foi parcialmente distorcido, mas continuou desenvolvendo forte estratégia para promoção do desenvolvimento. Cooperativismo Solidário: No início do século XIX, surge no cenário Brasileiro um outro cooperativismo, com rearticulação dos princípios, prevendo maior participação das pessoas excluídas do sistema produtivo e consumidor hegemônico. Essas cooperativas se fundamentam na ajuda mútua e revisão ao modelo organizativo, sendo amparadas, com a promulgação da “Constituição Cidadãs” em 1988, meio que viabilizou a maior liberdade organizativa pautando-se na participação democrática da sociedade civil. O "Cooperativismo Solidário" possui como característica marcante, a sua fundamentação existencial na educação cooperativa, "chave de ouro" para a gestão participativa e autogestionária. Essa característica ultrapassa os limites de sua natureza econômica, que alcança não apenas seus membros, mas toda a sociedade, como instrumento para instauração de novas relações de produção, pautadas no crescimento, com preservação da natureza e redistribuição igualitária. Na atualidade, apesar de todos os avanços organizativos que circundam as cooperativas, presenciam-se poucos avanços no marco legal, políticas e programas para este segmento. As cooperativas ainda são amparadas pela Lei nº 5.764 de 1971 que reflete a trajetória das legislações anteriores, e, explicita o interesse do Estado em controlar e manifestar as possibilidades de atuação política das cooperativas. Em 1988, a Constituição Federal modificou vários pontos previstos nesta Lei, no entanto, ainda não foi aprovada nova legislação, sendo necessário aprimorar a legislação vigente para favorecer processos mais sustentáveis de organização, fomento e fortalecimento das cooperativas. 10
A humanidade teceu suas histórias em construções edificadas por lideranças sociais, econômicas e religiosas. Todas essas lideranças defenderam a cooperação como um "Ato necessário", para o desenvolvimento da humanidade, mas por necessidade tendenciosas, de realização pessoal, pendemos ao individualismo. Na sua vida social, há fatos que lhe desafiam negativamente para não cooperar? Que fatos concretos, vinculados a vida da sua cooperativa lhe motivam "positivamente" a cooperar mais?
"A Cooperativa será tanto mais autêntica, quanto mais formar nos seus cooperados, a convicção de que tem uma missão a cumprir na sociedade".
1.2 Modelo Macro de Desenvolvimento Econômico A história da humanidade tem sido contada a partir de conflitos entre "grupos" ou "civilizações" com diferentes modelos ideológicos, políticos e religiosos, quase sempre fundamentados por interesses econômicos. Nos tempos modernos, sob a ótica da expansividade política e da hegemonia econômica, esses conflitos são prospectados por novos mecanismos, mas a disputa por modelos de sociedade define toda a trajetória da sociedade. No cenário Global o "modelo macro" de desenvolvimento de grande parte das nações, e, do Brasil, prioriza as atividades econômicas empresariais, com uma cultura societária fundamentada no individualismo e no trabalho subordinado. Esse modelo restringe as atividades econômicas solidárias, criando fortes obstáculos ao desenvolvimento de uma cultura da cooperação, gerando vários impasses culturais, sociais, financeiros e legais, á inserção das organizações de produtores(as) nos processos de desenvolvimento em suas múltiplas dimensões. No cenário Brasil, o processo de desenvolvimento sempre foi marcado por forte dependência do mercado e do modelo global. No início, mesmo com a "Independência", sofremos com a forte dominação territorial das capitanias e concessões de Portugal, na sequência sofremos pelas articulações imperialistas impostas pelos grandes proprietários. Essa trajetória resultou numa memória cultural e estratégia democrática, pouco inovadora, 11
bastante assistencialista e dependente da política econômica global. Nas diversas fases societárias, a população não encontrou respostas consistentes para os desafios socioeconômicos. Esse cenário negativo foi encurralando as utopias e sonhos revolucionários. Os cidadãos foram restringindo seu potencial de massa crítica, esvaziando sua capacidade de inovação afirmação, sendo empurrados gradativamente para o mundo capitalista globalizado. Por vários séculos, o Brasil permaneceu dependente dos Países emergentes. Somente no final do século XX, o País começou a ser visto como nação promissora e potência produtiva no mercado mundial. Essa conquista foi fomentada por um conjunto de políticas públicas, pautadas na distribuição de renda. Atualmente, vivemos um momento de grande importância na trajetória social e econômica do Brasil. A divisão de renda provocou inclusão das pessoas, as políticas públicas facilitaram a acesso ao crédito, mercado e habitação, no entanto, pouco se evoluiu na constituição de políticas e marcos legais estruturantes, fato que preocupa nosso rumo societário brasileiro. A herança do passado gera permanente desafio de diminuir as diferenças e desigualdades entre o rural e urbano, entre ricos e pobres. Vive-se a priorização da dinamização do mercado interno, fortalecendo a demanda, melhorando a capacidade de compra, acreditando no potencial de consumo dos mais pobres. Esta opção inverteu a lógica anterior, baseada na “inserção competitiva da economia brasileira no mercado global”, no entanto, "a morosidade ou não enfrentamento aos problemas estruturais presentes neste modelo societário, pedem acompanhamento sistemático dos movimentos sociais, sobre os posicionamentos do governo frente a pontos específicos do embate ideológico e político". (III Congresso, art. 16-28) Em nível global, a humanidade vive um momento delicado. Devido ao domínio do capital, e, da efêmera construção de estratégias para sustentabilidade humana e planetária, presenciamos problemáticas sobre o jeito de viver em sociedade, com efeitos cada vez mais presentes nas mudanças climáticas, na escassez de recursos naturais, na diminuição de alimentos, no aumento da fome, na crise nos países centrais do capitalismo e demais, que nos impõe a necessidade de repensar o modelo de desenvolvimento capaz de garantir vida com dignidade social. O Estado brasileiro tem a grande oportunidade de inovar nas políticas de desenvolvimento e promoção da justiça e equidade social, optando por modelo de desenvolvimento que tenha no centro da estratégia a ampliação de uma base social mais estruturada, tendo o campo com gente e dignidade, o urbano como meio de crescimento sustentável, buscando forte interatividade entre produção e consumo, entre o individual e cooperativo, entre valores e vida. 12
O Capitalismo, o Comunismo e todos os modelos de sociedade, fundamentam suas diretrizes em atores sociais, em pessoas simples como nós. Pessoas que em pequenos atos constroem seu mundo. Diante do contexto societário atual, onde consumismo, imediatismo e tanto outros "ismos", norteiam onde devemos ir, como você VIVE e ENFRENTA as ideologias e ideias que considera ruim? A liderança em alguns momentos necessita se distanciar do cotidiano, para de forma mais crítica, avaliar as situações, buscando ser um agente de transformação. Essa ação se concretiza com interação intelectual e moral.
"A falta de cooperação é um protesto contra a falta de consciência e participação involuntária no mal". Constato para mudar e não para me acomodar. Seria uma desolação para mim, se, enquanto ser humano tivesse de reconhecer a minha absoluta incapacidade de intervir eficazmente na realidade. (Mahatma Gandhi)
1.3 Modelo de desenvolvimento do Cooperativismo Solidário Denominamos modelo de desenvolvimento do Cooperativismo Solidário, as diretrizes institucionais que fundamentam e norteiam as iniciativas de dinamização socioeconômica, promovidas por este modelo organizacional. Destacamos que este formato organizativo é constituído por iniciativas imersas, e, presentes na sociedade, meio que solicita processos permanentes de interlocução, demandando consciência e maturidade organizacional para vivência viável e integrada. O Cooperativismo fundamenta suas estratégias de desenvolvimento, numa visão de sociedade amparada no equilíbrio entre a viabilidade econômica, social, política, tecnológica, cultural e ambiental, buscando dinamizar a economia e melhorar a qualidade de vida das populações com estratégias sustentáveis. Esse modelo está estruturado na promoção do desenvolvimento econômico com redução das desigualdades sociais e regionais, com superação de práticas compensatórias, a partir da articulação de projetos sustentáveis e emancipatórios. Para este Cooperativismo, o desenvolvimento não consiste apenas ampliar a luta por direitos, mas também formular propostas, construir parcerias, estabelecer pactos, conviver com contrários e lidar com ideais e interesses conflitantes. Por isso, as discussões sobre Programas de Desenvolvimento são prioridade para as organizações sociais que desejam planejar seu próprio futuro e superar uma postura político-institucional calcadas em bases reivindicatórias. (III Congresso, art. 37). 13
Como você analisa a concretude deste artigo em vossa cooperativa? O Cooperativismo Solidário possui como diferencial o fortalecimento da autogestão e articulação em rede. Neste cenário, a organização de cooperativas locais fortalecidas com serviços integrados em rede através de centrais regionais é uma ferramenta essencial para consolidação deste modelo de organização, pois esta articulação permite agregação de valor, concretização de serviços e diminuição de custos. Desta forma, debater e construir dinâmicas para o desenvolvimento territorial com interação entre sociedade civil e governo é um princípio essencial para o fortalecimento das cooperativas solidárias. (III Congresso, art. 137) Em grande parte dos países desenvolvidos, o Cooperativismo ocupa espaço central diante das políticas vinculadas à educação, organização, industrialização e inovação sociocultural. No cenário Brasileiro, este instrumento é pouco enfatizado, como meio para a educação cidadã, política e econômica. A cooperação deveria ser um valor inato na sociedade, no entanto, verifica-se que até mesmo nas cooperativas, a relação de "cooperação - cooperativa - cooperado", se baseia apenas na força do estatuto e não na confiança transparente, valor responsável pela transformação social e “criação da força coletiva”, mecanismo para consolidação de formas alternativas de pensar e conviver com a economia. "Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina" (Cora Carolina)
O Cooperativismo Solidário é um instrumento fundamental para enfrentar os problemas históricos da pobreza e da falta de políticas de apoio ao desenvolvimento regional, articulando iniciativas econômicas para ampliar oportunidades de trabalho, de renda, de produção de alimentos e melhoria de qualidade de vida. Neste sentido, destacamos que o foco das cooperativas se concentra na satisfação das pessoas. Uma das bases mais fortes do Cooperativismo Solidário é a Agricultura Familiar, segmento caracterizado pela capacidade de produzir alimentos, com responsabilidade na preservação e manejo adequado dos recursos naturais, características que a distinguem em relação ao modelo extensivo de agricultura, legitimado como concentrador, produtor de commodities, despreocupado com os custos sociais e ambientais. Esses dois modelos antagônicos convivem no rural e estão simultaneamente inseridos nas faces do desenvolvimento, sendo facilmente visualizados como contraditórios e concorrentes. 14
"Toda força será fraca, se não estiver unida". (Jean de La Fontaine) No enfrentamento cotidiano, entre "Cooperativismo e Capitalismo" esse "jogo" também acontece, entretanto, somente as pessoas conscientes sobre modelos de desenvolvimento, "vestem a camisa", e, persistem no enfrentamento e defesa de um novo jeito de conviver com a economia. Especificamente em relação à sua dimensão solidária, o Cooperativismo subentende a diversidade de práticas econômicas baseadas nos princípios e valores da Economia Solidária, ou seja, da autogestão, do trabalho associativo, da democracia, do compromisso com o desenvolvimento local e sustentável, colocando ao centro de sua organização algumas características: • Participação e a prática do controle social para a definição dos resultados sociais e a distribuição das sobras eventualmente conseguidas. • Relações de proximidade entre os associados e suas cooperativas com construção permanente de processos democráticos e inclusivos. • Formação de novas consciências e hábitos de produção, distribuição e consumo que dialogam com questões sociais, políticas e ambientais. • Organização autônoma com capacidade dos produtores de se constituírem com sujeitos econômicos e políticos, sem a tutela do Estado. O Cooperativismo Popular ainda não encontra aderência na realidade brasileira, muitas vezes sendo compreendido como modelo de política social com a pretensão de ideais transformadores e emancipatórios, mas que ainda se converte em política assistencial. No entanto, o Cooperativismo deve ser visto como uma proposta emancipatória de caráter político e libertador. É importante salientar, que o Cooperativismo não é uma utopia do campo das ideias, mas uma proposta de superação do mundo capitalista com diminuição das desigualdades sociais. No modelo de desenvolvimento Unicafeano, o foco da sustentabilidade cooperativa deve se concentrar na "diversificação e não na disputa". As cooperativas agropecuárias, por exemplo, não têm possibilidades de superação ao mercado capitalista, dadas as relações que se travam na organização interna. Se as cooperativas participam da concorrência, a vitória da mesma exigirá a redução de custos, avanço tecnológico, aumento de escala e maximização do lucro.
Consequentemente, essa disputa nos torna também capitalistas exacerbados, sem autonomia e viabilidade estrutural de um modelo solidário. Sua cooperativa tem como diretriz a diversificação ou simplesmente disputa? 15
Segundo a definição da Aliança Cooperativa Internacional - ACI, uma cooperativa é uma associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva e democraticamente gerida. Deve-se sublinhar, em primeiro lugar, que as cooperativas são empresas privadas de gestão coletiva. As cooperativas aparecem como estruturas intermediárias, com existência autônoma e independente dos seus membros, mas a serviço da satisfação das necessidades particulares dos cooperados. Uma cooperativa tem como finalidade contribuir para melhorar a qualidade de vida dos cooperados. Buscando defender seu modelo de desenvolvimento, a Unicafes desenvolve mecanismos para aprofundamento e consolidação dos princípios e diferenciais do Cooperativismo Solidário, com destaque para manutenção das estratégias fundacionais que marcaram o surgimento deste modelo de organização. As diretrizes deste regimento são bases orientadoras para ações dos diversos ramos e, deverão ser inseridas nas estratégias de ação das cooperativas, fundamentando a relação com o quadro social e com o mercado. (III Congresso, Art. 105)
A educação clareia horizontes e orienta escolhas. Da mesma forma, o modelo de desenvolvimento fundamenta a matriz existencial das cooperativas, portanto, é fundamental que as lideranças saibam qual modelo de desenvolvimento que inspira suas ações. Essa clareza facilitará nossas escolhas cotidianas. Você tem claro o modelo de desenvolvimento do Cooperativismo Solidário? Na sociedade atual, existem vários modelos de desenvolvimento em disputa, mas destacamos a diferença entre o modelo empresarial privado e o modelo do cooperativismo solidário. O modelo empresarial privado segue a linha capitalista concentradora, que possui como objetivo ganhar mais. O modelo do cooperativismo solidário, que busca inclusão sustentável, valorização da diversidade ambiental, soberania e identidade regional, em síntese, "uma outra economia". Para construir esta economia é necessário rever a forma de compreensão do desenvolvimento, garantindo autonomia e fortalecimento das dinâmicas locais, ampliando o protagonismo das lideranças e organizações sociais.
Milhões viram a maçã cair, mas só Newton perguntou, por quê? Questione. “Aceitar o proposto é fácil, mas somente refletindo e inovando poderemos construir estratégias para o sucesso”. O Cooperativismo Solidário defende estratégias de desenvolvimento, que buscam conciliar a necessidade de desenvolvimento econômico, priorizando mecanismos de inclusão social e fortalecimento das pessoas, pois somente com participação ativa das pessoas o desenvolvimento é sustentável, com a construção de propostas, aprovação de Leis e execução de programas estruturais. 16
O ano de 2012 foi o Ano Internacional das Cooperativas, com poucos avanços estruturais. Em 2014 será comemorado o - Ano Internacional da Agricultura Familiar, diante do cenário deste segmento, é necessário inovar, e, a sociedade necessita de pessoas que compreendam esse momento societário, pessoas que assumam a defesa de novas políticas que permitam esta reconstrução social. Diante dos modelos de desenvolvimento atuais, foi vivenciado o risco de sofrer consequências de ordem planetária, no campo ambiental, alimentar e econômico. O desafio que se coloca no umbral do século XXI é nada menos do que mudar o curso da civilização, deslocar o seu eixo da lógica da acumulação, para a lógica do bem-estar social, do exercício da liberdade e da cooperação. Essa mudança de rumo exige que sejam abandonadas as ilusões, e, se assuma a história das pessoas enfrentando as oportunidades e desafios. No cenário atual, verificamos estabilidade considerável nas estratégias que fundamentam a economia brasileira, mas precisamos analisar este crescimento sob óticas sustentáveis. Todo avanço societário precisa estar fundamentado em modelos de desenvolvimento.
Qual modelo de desenvolvimento fundamenta a economia brasileira? Se o modelo for centralizado, vertical e produtivista, em pouco tempo não teremos base social. Para construirmos um mundo melhor com inovação organizacional, necessitamos participação autônoma da sociedade. Estamos valorizando este processo? Onde está nossa maior dificuldade? 17
Problematização Modelo de desenvolvimento e cooperativas solidárias
O modelo de desenvolvimento do Cooperativismo Solidário fundamenta-se em diretrizes organizacionais, princípios que norteiam posicionamentos e ações diante da sociedade, na organização e vivência cooperativa. Estas diretrizes têm como objetivo fundamentar a constante busca pela maturidade fundacional, facilitando a definição de estratégias para construção do desenvolvimento. O Cooperativismo Solidário mantém as suas raízes nos princípios do Cooperativismo Tradicional, mas as cooperativas são “desafiadas” a ampliar formas de controle social e estender sua atuação para os segmentos mais frágeis das sociedades que as circunscrevem, fortalecendo relações de proximidade. As vivências destas diretrizes articulam processos mais participativos, inclusivos e sustentáveis, referenciando este "Outro Cooperativismo" na promoção do desenvolvimento socioeconômico da sociedade. Essa inovação social e organizacional pressupõe a construção das grandes diretrizes norteadoras da missão e das estratégias, com formulação de consensos horizontais, participativos e democráticos. A cooperação é a convicção plena de que ninguém pode chegar à meta se não chegarem todos.
(Virginia Burden)
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Nos diversos documentos geridos a partir de espaços democráticos e participativos do Cooperativismo Solidário, encontramos princípios e características norteadoras deste modelo de organização. Essas diretrizes devem nortear a organização deste Cooperativismo, fundamentando os espaços representativos, salvaguardando que as definições organizacionais sejam consolidadas em ambientes de formais, da esfera nacional, garantindo interação e organicidade (III Congresso, art. 82). Destacam-se algumas diretrizes Unicafeanas:
I. Educação: "Organização Social" Estimular o crescimento e fortalecimento do Cooperativismo por meio do investimento social, econômico, cultural e ambiental, pautados no desenvolvimento do ser humano, utilizando-se de processos permanentes e complementares de educação, atendendo todos os dirigentes, colaboradores/funcionários, e abrangendo maior percentual possível de associados, buscando criar uma identidade social e fazer com que as pessoas se reconheçam membros do Cooperativismo Solidário, quebrando o paradigma da individualidade e da competição, com fortalecimento da autonomia organizacional. “... O Cooperativismo Solidário desenvolve permanentes ações educativas, buscando aprimorar as relações de proximidade entre as pessoas, nas estratégias de organização, gestão, e, desenvolvimento socioeconômico. No entanto, apesar deste Cooperativismo ter a educação como princípio fundamental, verificam-se problemáticas na concretização das diretrizes de educação, na vida das cooperativas, dos cooperados e dos dirigentes, ocasionando distância considerável, entre a defesa teórica, e, a vivência cotidiana deste diferencial..."
Na sua análise, mesmo com todas as oportunidades provocadas pelas ações educativas, porque nossas lideranças têm dificuldade em participar de processos de formação desenvolvidos pelas Cooperativas Solidárias? O que você propõe para que a participação se fortaleça? "... Ao colocar o indivíduo num movimento educativo em que se relaciona com outros ‘se desperta a responsabilidade social’, elemento fundamental ao desenvolvimento do ser humano e de espaços de vida” característica importante para provocar reação diante da submissão institucionalizada, e, articular mudança na condição de subordinação, para a de ser "dono". No entanto, a condição de ser dono é quase irreconhecível nos cooperados, lançando essa "posse" a outros, a direção executiva, mas exigindo sobras...
Como melhorar a compreensão cooperativa? Como construir a consciência de ser sócio e dono? Precisamos repensar a politização dos cooperados? Que ações deveriam ser priorizadas pelas cooperativas? 19
II. Participação: "Controle e Autogestão" Fortalecer os espaços de participação na cooperativa, oferecendo condições para que o quadro social exerça o poder de autogestão nos espaços políticos, administrativos, estratégicos, operacionais e cargos estatutários das redes de cooperativas. Valorizando de maneira diferenciada nos processos eletivos, lideranças que vivenciam a Agricultura Familiar e Economia Solidária, buscando aperfeiçoar práticas inclusivas, democráticas e transparentes no Cooperativismo. "... No Brasil, Estado Republicano e Democrático, a participação e o controle social são elementos constitutivos fundamentais das políticas públicas... No Cooperativismo, o modelo de gestão fundamentado no controle social, verifica-se dificuldades na interação entre dirigentes, funcionários e sócios, principalmente no controle social. A gestão horizontal, com transparência e inclusão, exige elevado nível de maturidade política estratégica e técnica das cooperativas..."
Que metodologia a cooperativa que você participa desenvolve para fortalecer a participação social? Quais processos deveriam ser priorizados para garantir maior transparência junto aos cooperados? "... No Cooperativismo a participação pode ser construída de diferentes formas, via conselhos, fóruns, planejamento participativo, comissões, mas o principal desafio é não reduzi-las a “clubes fechados” que advogam em causa própria e privatizam o “comum”. "Participar para cooperar necessita ser uma máxima..."
"... A gestão democrática tem em vista a participação dos cooperados de todas as discussões e deliberações". No cenário atual, que mecanismos podemos construir para que aconteçam democracia e controle social? III. Organização: "Desenvolvimento Local Sustentável" Promover desenvolvimento local sustentável com estratégias de fortalecimento do Cooperativismo da Agricultura Familiar e Economia Solidária, estimulando a dinâmica da horizontalização, fortalecendo mecanismos de combate à desigualdade social. "... Na gênese do Cooperativismo Solidário está a ideia de cooperativas de pequeno porte, com atuação local e descentralizada. Mas com o passar dos anos, observou-se a centralização em nome da maior viabilidade. No entanto, observa-se que a governança descentralizada tem maior potencial para a sustentabilidade integral da 20
cooperativa. O desafio está na agregação destes diferentes atores. Porém, algumas cooperativas optam pela centralização do poder por medo da criticidade social..."
Se não acredita em cooperação, veja o que acontece com um vagão que perde uma roda. O homem deve criar as oportunidades, não apenas encontrá-las. Preferimos criticar ou oferecer propostas, soluções? "... A centralização solicita aumento das estruturas cooperativas, solicitando também a complexidade de sua gestão, típica das grandes corporações, com gerentes qualificados para tratar dos complexos problemas organizacionais, correndo forte propensão a eliminar o corpo diretivo formado por cooperados..."
O desafio das cooperativas é manter seu sistema organizacional centrado no homem e, ao mesmo tempo manter um nível de organização capaz de concorrer nos diferenciais. Como você analisa essa diretriz organizacional? IV. Interação: "Organização em Rede" Fortalecer a organização e gestão local com estratégias para articulação em rede, constituindo normativas democráticas de acesso ao conhecimento em práticas sociais, culturais, econômicas e políticas, com execução de diretrizes e serviços a serem implantados nas singulares e centrais, para agregação de valor e fortalecimento das iniciativas locais. “... A Unicafes defende que o Cooperativismo Solidário brasileiro deve se expandir fortalecendo suas estruturas de acordo com os princípios da horizontalidade. As organizações devem preservar ampla base social mediante a formação de singulares e postos de atendimento de porte adequados a gestão pelos associados, evitando distanciamento entre o quadro social e a direção".
Em geral, os sócios possuem dificuldade de assimilar ações que provoquem complementaridade entre as cooperativas e a central. Que iniciativas foram desenvolvidas em sua região para vencer este desafio?
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V. Valorização: Relações de Gênero, Geração e Etnia" Valorizar relações inclusivas de gênero e geração com foco na inclusão de jovens, mulheres e idosos, aprofundando formas de interação com as diversidades étnicas. Para o mundo selvagem "quem corre mais chora menos". Publicamos que "concorremos cooperando", que somos "solidários e não solitários", mas, o princípio da inclusão é facilmente distorcido pela ideologia do "mais forte". O Cooperativismo tem como diretriz o empoderamento para maior participação de mais jovens e mulheres, mas esta ação ainda é bastante frágil.
Como podemos promover um modelo de desenvolvimento com menos assistencialismo e mais inclusão social? Que ações podemos implementar em nossa cooperativa para garantirmos maior participação de jovens e mulheres? VI. Diversificação: "Sustentabilidade Socioambiental" Promover desenvolvimento econômico, amparado pelo respeito à diversidade social e ambiental. Estimular as cooperativas, centrais e associados a construir o desenvolvimento da Agricultura Familiar, com fundamentos sólidos na busca pela sustentabilidade com preservação meio ambiente, priorizando processos produtivos diversificados e agroecológicos. “... Os diferenciais organizativos, a produção diversificada e a busca por um sistema solidário, tendem a ceder espaço para disputa desigual com o convencional, no entanto, esse processo gera subordinação. Aquilo que se mostra como solução de problemas, provoca perca da soberania e dependência estrutural". "O Acompanhamento técnico pode ajudar a elucidar soluções para os problemas das Unidades Familiares, e, contribuir para a elaboração de projetos sustentáveis, pautados num modelo produção diversificado e sustentável”.
"O desenvolvimento econômico, passa por questões produtivas e ambientais, sendo necessário construir estratégias á identidade grupal, no entanto, diante da pouca mão de obra familiar e, do avanço da evasão do jovem rural, verificam-se poucas iniciativas concretizáveis”. Que alternativas podem ser desenvolvidas pela Agricultura Familiar Cooperativada? 22
VII - Representação: "Relações Organizacionais do Cooperativismo" Desenvolver estratégias para fortalecimento dos diversos segmentos do Cooperativismo da Agricultura Familiar e Economia Solidária, pautando-se pela relação de respeito à organicidade entre as Singulares, Centrais e Federação. Garantindo a governança, identidade e autonomia cooperativa, não incorrendo em desrespeito aos princípios cooperativos e normatizações definidas democraticamente nos sistemas. "Numa rede de cooperativas é válido perguntar como a mesma poderia estruturar suas estratégias para aprimorar relações com os seus sócios. A simples troca ou compra de produtos é uma relação muito utilitarista, no entanto, grande parte das redes somente se torna viável quando articulam um produto necessário". "Buscando fortalecer sua estratégia organizativa as cooperativas solidárias e a UNICAFES valorizam como diretriz organizacional a liberdade organizativa, reservando processos autônomos de parceria, evitando relações de dependência que dificultem posicionamentos institucionais livres e conscientes".
Devido aos desafios situados em torno da sustentabilidade, as cooperativas podem fechar convênios, parcerias e acordos, que podem limitar sua liberdade organizativa, principalmente quando se vinculam a acordos com políticos ou organizações de grande porte, que demandem vínculo institucional. Na sua região que situações podem causar distorção no princípio da autonomia representativa?
VIII- Intercooperação: "Articulação Cooperativa": Desenvolver ações para organização e fortalecimento cooperativo com processos permanentes de interação entre as organizações cooperativas dos diferentes segmentos, buscando desenvolvimento de ações intercooperação conjuntas e complementares nas áreas de produção, comercialização, trabalho, crédito, assistência técnica e outras.
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"A Intercooperação não é prática habitual para a grande maioria das cooperativas. Para quem a exercita, ela significa abrir mão do isolamento e buscar a intra e Intercooperação com foco na interação entre as diversas iniciativas locais".
"Viver a cooperação é um desafio e, a interação cooperativa, intensifica ainda mais esse desafio, incorporando outras linhas existenciais, ou seja, sem Intercooperação os ramos se isolam e individualmente se tornam frágeis". Que ações interativas poderiam ser desenvolvidas entre as cooperativas locais? "...Eu participo na cooperativa, mas só assisto. Se a gente fala alguma coisa o pessoal diz que tá errado”; Quando a gente se reúne se discute bastante, mas na realidade não muda quase nada; "As outras cooperativas do município são nossas principais concorrentes"; Às vezes até fazemos algo juntos, mas só se necessário".
IX- Inclusão: "Interação Solidária" Implantar mecanismos de inclusão social como diretriz de ação permanente das cooperativas para promoção do desenvolvimento econômico e social, articulando relações entre família e cooperativa, fortalecendo práticas de solidariedade e ações de cooperação social, político e econômico. "Na tentativa de melhorar a competitividade das cooperativas, muitas vezes busca-se torná-las similares em tudo às empresas, parece que existe a crença de que devem ser menos cooperativas, para que possam ser mais competitivas". "O tema do oportunismo é um dos maiores problemas as cooperativas enfrentam. Por um lado os cooperados mantêm compromissos mais morais que contratuais com a cooperativa, vivem a busca pelo lucro – "tentados a cooperar apenas quando acharem preços convenientes"; "Por outro lado, a cooperativa tende a fortalecer sócios que geram sobras - "tentada a buscar cooperados que viabilizem o empreendimento". Em ambas as situações, a inclusão é um princípio desafiador.
Como vossa cooperativa presta conta das ações de inclusão social. Que ações poderiam aprimorar estratégias de inclusão e interação com os sócios? 24
X- Público Associado Atuar exclusivamente com a Agricultura Familiar e Economia Solidária. “... Algumas cooperativas já buscam mecanismos para aproximar pessoas de outros segmentos sociais, motivados por relações de proximidade, amizade, viabilidade, no entretanto, qualquer fuga das diretrizes organizacionais tendem a maximizar problemas, minimizar os diferenciais e enfraquecer este modelo organizacional..."
Quais estratégias e diretrizes são utilizadas por sua cooperativa para definir critérios que limitam ou orienta o quadro social? Como garantir que a cooperativa consiga monitorar o perfil dos associados? Qual a importância do perfil dos associados para a sustentabilidade social, cultural e econômica do empreendimento solidário? “Saber onde colocar o foco de nossos esforços é metade do que é necessário para concretizar o sonho perseguido. Cada um pensa em mudar a humanidade, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo”. (Tolstoi) As lideranças são espelho para os que se encontram a sua volta. Uma fonte onde as pessoas encontram segurança para viver e desenvolver novos caminhos e, alternativas para o desenvolvimento. Somos agentes de mudança social. Atores para fortalecimento da inclusão social, para crescimento da autonomia local, para o desenvolvimento de novos projetos de vida. Agora a construção está na mão de todos.
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Interação Reflexão a partir de temáticas locais
O processo de interação tem como objetivo proporcionar momento de debate, diálogo e troca de saberes entre os participantes, visando facilitar a inserção do tema gerador, nas problemáticas concretas das cooperativas participantes. Para que a interação aconteça de maneira participativa é importante que as lideranças reflitam sobre o curso, buscando vincular a temática com situações vivenciadas junto aos associados, cooperativas, centrais, parceiros e, diante dos desafios e oportunidades presentes na sociedade atual. A primeira temática: modelo de desenvolvimento provoca interação e análise sobre a forma como as cooperativas estão vivendo nosso diferencial organizativo, podendo ser um meio para análise da vivência das diretrizes institucionais e, das estratégias adotadas para fortalecer este modelo organizacional, viabilizando assim processos de interação, criticidade e a multiplicação dos conhecimentos construídos no Programa de Educação do Cooperativismo Solidário. 26
Cada um dos eixos problemáticos pode gerar vários questionamentos, referente à organização, gestão, educação, inclusão, articulação e desenvolvimento. Diante do cenário societário vivenciado pelo Cooperativismo, neste eixo do caderno busca-se valorizar a diversidade organizacional, presente nas cooperativas e, provocar processo de análise sobre as principais oportunidades e desafios que este modelo de organização enfrenta, seja nas relações internas ou externas. "Todos nós precisamos mostrar o quanto nos importamos uns com os outros, e assim, cooperativamente, cuidarmos de nós mesmos". O campo político, todo segmento social, é configurado por práticas discursivas e condutoras, propositivas e favoráveis a interesses vários. Estes, oriundos de culturas, buscam avançar para práticas legitimadoras e garantidoras de resultados. O campo político é fomentado pelo discurso e pelas práticas. Então, construindo o raciocínio deste entendimento conceitual pela mão inversa, na construção de saberes, e nos jogos de poder existentes nas relações sociais. Existem alguns fatores importantes que podem dificultar o desenvolvimento dos processos educativos na cooperação, importante refletirem: 1. Porque os associados não participam das cooperativas? Porque muitos não se sentem donos. Pelo contrário, sentem-se sufocados na tomada de decisões, não são efetivos partícipes e até abrem mão deste direito? O que a cooperativa pode fazer para que isto mude? Que ações poderiam ser aplicadas com facilidade? 2. Porque os associados não executam controle social? Porque confiam na direção executiva repassam as rédeas institucionais, considerando não dominarem, eles próprios, os saberes necessários à gestão. Essa escolha elimina a possibilidade de gestão participativa. Que ações simples podem modificar este fato? 3. Porque algumas cooperativas são constituídas de espaços pouco participativas no campo financeiro? Porque em razão da técnica financeira, as informações devem ser reservadas, 27
especialisatas discutem estas questões, enquanto que os associados, desprovidos de conhecimento, devem ficar distantes. No momento certo serão informados. Talvez no rateio das sobras. 4. Porque alguns associados são infiéis? A infidelidade cooperativa é provocada em decorrência do imediatismo e da visão da “vantagem”. O associado se relaciona com sua cooperativa enquanto for vantajoso, e assim, reciprocamente? Que ações, que produtos a cooperativa desenvolvem para fidelizar seus "donos"? 5. Porque os associados participam pouco dos processos de formação? Porque as cooperativas não conseguem diagnosticar a real demanda dos cooperados. A dificuldade na estratificação social é um fator complicante à educação cooperativa. Sem educação, as relações de poder se refletem tal qual na sociedade, propiciando, não identificação do associado com seu empreendimento e, passividade de conduta e postura. Como se pode mudar este cenário? 6. Porque as cooperativas são facilmente comparadas com empresas? Porque as cooperativas concorrerem num mercado globalizado, e, simultaneamente, atendem ao associado. Sua estrutura é diferente, mas seu jogo comercial necessita ser igual, ou, melhor que a do mercado convencional. Neste meio, a vinculação voluntária ao empreendimento se mostra como fator restritivo relevante. Como vencer os desafios presentes no diferencial cooperativo? 7. Porque a inter e intrarrelação cooperativa possui limites? Porque a intercooperação - princípio que busca a integração intra e entre cooperativas, ainda não atingiu níveis mínimos razoáveis. E esse princípio só acontece quando existe interesse, uma vez que empresas capitalistas sabem “cooperar” entre si, de maneira muito mais efetiva e eficiente. Como melhorar a interação cooperativa? 8. Porque nas cooperativas o processo de gestão acaba sendo centralizado? Porque a Executiva e Conselho de Administração são órgãos diferentes e, como tal, devem ser operados separadamente? A Executiva deve somente executar e o Conselho deve se concentrar no âmbito político-decisório? Como planejar ações e decisões participativas e complementares? 9. Porque as cooperativas fogem das estratégias de inclusão social? Porque as cooperativas operam dentro do mercado capitalista, com atenção e práticas voltadas para as regras de mercado. O importante é atender os interesses de seus sócios-proprietários. As diretrizes de inclusão, empoderamento de mulheres e jovens somente são realizadas se acontecerem sobras. Sem econômico não tem social. Como este princípio é concretizado em sua cooperativa? 28
10. O que define o sucesso de uma cooperativa? As cooperativas possuem lógica social e econômica. Desta forma, o desempenho de uma cooperativa é influenciado principalmente pela geração de benefícios aos seus associados e, estes benefícios devem ir além do financeiro, pois somente esse diferencial, torna estes empreendimentos viáveis e sustentáveis. Que diferenciais são praticados em sua cooperativa? Como o sócio trabalha dimensão extra- financeiras? A maior participação dos associados é condição para o melhor desempenho da cooperativa. Apesar da importância da participação social, pouco ainda é feito para incentivá-la e aumentá-la. Na maioria dos casos, a participação dos associados fica restrita ao econômico, ou seja, à entrega de produtos na cooperativa e a busca por serviços e preços vantajosos no que diz respeito à produção. Além de incentivos econômicos, a educação e a comunicação são fatores chaves para o associado sentir mais confiança e acreditar que é através da união e da sua participação que a cooperativa pode realizar as suas necessidades.
Que ação vossa cooperativa desenvolvem para aprimorar a comunicação com o quadro social e integrá-los melhor na dinâmica local? Na transformação social as lideranças assumem posturas que possam vir a ser seguidas. Em suas ações, jamais se impõe ideias a um grupo, se vive as ideias, e, se busca fazer com que os membros destes grupos exponham suas próprias ideias, dessa forma podem juntos propor soluções. Lideranças, usando de nossos diferenciais é hora de preparar os "soldados" para a luta cooperativista. As mudanças dos paradigmas e do modelo de desenvolvimento necessitam ser imediata. Vivemos o momento de lançar as sementes, na vida, e, aumentar nossa consciência de líderes, que vivem nesta batalha. A colheita dos frutos depende de nossa labuta. 29
Multiplicação Estratégias para multiplicar o conhecimento
"A educação tem objetivo de superar a prática sem teoria que se resume em espontaneísmo, e, gerar multiplicação, pois, a teoria sem a prática, redunda em contemplação"
(Demerval SAVIANI)
Os cursos de formação são construídos com forte interação entre teoria e prática, entre momentos presenciais e alternativos, entre estudo e implantação. Neste sentido, a multiplicação do conhecimento pretende valorizar os potenciais dos atores envolvidos, superando a ideia do conhecimento como instrumento restrito a alguns grupos, e, valorizando o pressuposto de que os atores são capazes de render, gerar e multiplicar estratégias para fortalecimento do cooperativismo. 30
Neste eixo, as lideranças participantes terão a missão de encontrar formas, dinâmicas, produtos, estratégias que melhor se integrem a vida da cooperativa e, objetivando facilitar esta multiplicação, de maneira participativa e sustentável, o livro propõe algumas formas de interação local:
• Articular revisão ou elaboração do planejamento da cooperativa buscando fortalecer a compreensão de que formação e a assessoria técnica são processos contínuos de promoção, apoio e fomento das redes de cooperação.
• Articular intercâmbios interativos, buscando fundamentar ações do Cooperativismo como construtor de alternativas para enfrentamento as situações de exclusão socioeconômica, capacitando lideranças para tomada de decisões nos âmbitos econômico, político, social e cultural. • Realizar oficina de educação cooperativa junto a conselheiros ou associados da cooperativa, buscando aprimorar
a consciência cooperativista entre os sócios, oferecendo oportunidades de acesso à educação e espaço nas ações das cooperativas, incluindo novas lideranças nos processos internos das cooperativas.
• Articular a elaboração de Regimento Interno ou Código de Ética da cooperativa, ampliando diretrizes que fortaleçam os diferenciais deste modelo organizacional.
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Planejar participativamente a utilização do FATES - Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social, articulando atividades inovadoras como programa de rádio sobre diferenciais do cooperativismo, intercâmbios e atividades alternativas.
• Articular implementação de unidades produtivas de referência nas cooperativas, aumentando a diversificação e fortalecendo a produção agroecológica.
A transformação depende de nós... “é preciso acreditar nas utopias, na transformação, numa sociedade mais justa e igualitária... é preciso ter dentro de si a esperança, a ousadia, a coragem de enfrentar as “adversidades do dia a dia"... é preciso, igualmente, acreditar na integridade e no poder de transformação dentro do ser humano". (Paulo FREIRE)
Cooperativismo Solidário: Desenvolvimento com inclusão social. 31
A transformação depende de nós Hoje eu estava conversando com um amigo e falávamos sobre a sabedoria dos mestres. Recordei de um provérbio que diz: Não ande atrás de mim, talvez eu não saiba liderar. Não ande na minha frente, talvez eu não queira segui-lo. Ande ao meu lado, para podermos caminhar juntos. Ele então me comentou sobre uma parábola muito interessante sobre o repolho e a rosa, vamos compartilhar: Repolho: Ao nascer o repolho apresenta a forma de um pé de couve, folhas largas, abertas ao sol, chuva, ao mundo, porém no processo de crescimento suas folhas começam a fechar-se, assumindo a forma arredondada. Muitas pessoas decidem iniciar cursos, carreiras, dietas, ou mudanças de caráter da mesma forma que o repolho, abertas e dispostas a aprender, porém no decorrer do processo de aprendizado e mudança elas começam a fechar-se sobre si mesmas. Desanimam se enchem de autopiedade, justificam e racionalizam suas fraquezas, e por fim, fecham-se completamente. Essas pessoas acreditam que o que já aprenderam é suficiente para seguir pelo resto de suas vidas. Rosa: Já existem outros que, como a rosa, iniciam estas mesmas coisas um tanto fechados, até por serem um pouco tímidos ou devido à preocupação com o desconhecido, como as rosas em botão. Porém, decidem aplicar-se, dedicar-se, agir em direção ao desafio. Estes, como a rosa, gradativamente, em seu desenvolvimento vão abrindo-se para o mundo, para as coisas ao seu redor, para a luz do sol, para a brisa da manhã, e com isso, espalham seu perfume para todos. Para esta rosa não existe “não posso” ou “não sei”, ela esta aberta para desenvolver-se e marcar a sua presença nesta Terra. E nós? Somos um repolho ou uma rosa? O que estamos aprendendo hoje? "As mudanças que queremos dependem unicamente de nós. Para mudarmos o mundo precisamos querer mudar. Tudo é possível para quem acredita e continua na luta".
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Parceria
UniĂŁo Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia SolidĂĄria