Unifatos 2017 - 1º edição

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Foto: Diego Cavalcante e Vitor Miekzikowski

Jornal Laboratório elaborado pelo 5º semestre do curso de Jornalismo da Univel - Ano XVI - Edição 80 - Abril/Maio 2017

AVENIDA BRASIL:

ESSE CAMINHO TEM VOLTA?

Pág. 04 História: tragetórias e mudanças na Av. Brasil Pág. 06

Segurança: reforço da Guarda Armada e UPS Pág. 03

Para enfrentar a violência que cresce ano a ano, medidas são implantadas, inclusive pela prefeitura, mesmo segurança pública sendo obrigação exclusiva do Estado. Guarda Armada e UPS auxiliarão na segurança, que terá prioridade na cidade de Cascavel. Guardas municipais iniciaram os trabalhos há poucas semanas e já demonstram resultados.

Esporte: atletas escolhem o Futebol Americano Pág. 14


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Abril/Maio 2017

EXPEDIENTE Univel (União Educacional de Cascavel) - Faculdade de Ciências

EDITORIAL

Aplicadas de Cascavel. Av. Tito Muffato, 2317 Cascavel - PR. Fone: (45) 3036-3636 www.univel.com.br unifatos@univel.br

Direção Geral Viviane Silva Coordenador Anderson Antikievicz Costa Professor Orientador Josimar Bagatoli Editores Débora Dias de Oliveira Priscila Zulin Colognese Reportagens e Fotografias Afonso Magalhaes Daniela Cervi Débora Bernardo Débora Valdez Elesbão Everton Schmitt Fernanda Vieira Marques Guilherme Aldenucci Jader Milioransa Kaeddy Carlos Targa Lyrian Prestes Periolo Natalia Paiva Núbia Hauer Projeto Gráfico e Diagramação Diego Cavalcante Vitor Miekzikowski Impressão: Gráfica O Paraná S/A Tiragem: 1.500

Opinião O brasileiro come mal Fernanda Vieira Marques A operação Carne Fraca que revelou o escandaloso caso de venda de carne vencida e adulterada por parte de grandes frigoríficos do país como a JBS e a BRF, deixou muita gente chocada e também abriu margem para reflexões mais profundas; estamos vivendo em uma sociedade que cada vez mais pensa no indivíduo em detrimento da coletividade. Emprestando o termo do cartunista André Dahmer: estava eu “navegando pelos agitados mares do Facebook” pós-escândalo e tive o desprazer de me deparar com discussões totalmente egoístas e fora de foco diante de um problema que é de saúde pública. O vegetariano que se vangloria

Bomba Atômica de Cascavel As obras do PDI (Programa de Desenvolvimento Integrado) estão longe de ser uma catástrofe mundial, entretanto, a metáfora é cabível, pois em Hiroshima e Nagasaki os efeitos dos atentados foram instantâneos e perduram por décadas, tal como as obras iniciadas em Cascavel, que de imediato geraram transtornos à população, prejuízo ao comércio e por muitos anos assombrarão as contas públicas do município. E quem ficou satisfeito com as obras? A empresa que a realizou, certamente! Porém, os cascavelenses não andam com tranquilidade. Quem faz uso do transporte público está insatisfeito e grande parte dos motoristas também. Reflexo da ausência de uma consulta pública, a população sequer foi instigada a sugerir mudanças necessárias. Só o projeto inicial da Avenida Brasil estava orçado em R$ 41 milhões e custou R$ 69 milhões. Vale lembrar que todas as obras do PDI custariam 70 milhões, mas de acordo com o último balanço, apresentado em novembro, custará R$ 150 milhões. A situação

ainda piora, pois para não elevar ainda mais os custos, cinco parques ambientais e quatro centros de convivência não serão construídos, ou seja, o custo dobrou e o projeto ficou incompleto. Reza a lenda que as obras foram projetadas para incentivar o uso do transporte público continua ruim e dirigir tornou-se um teste de paciência. Os motoristas estão desorientados pela falta de sinalização que afeta, também, os pedestres, os passageiros do transporte público ainda esperam a nova frota e as novas rotas, que justificariam algumas alterações da Avenida Brasil. Lamentável, mas é preciso dizer: ônibus algum trafegará pela Avenida Brasil tão cedo. A previsão é de que isso ocorra apenas em março de 2018. Aos comerciantes que têm esperança de que as reformas deem um bom retorno, recuperando um pouco do que se perdeu entre abril e novembro do ano passado, é melhor que baixem suas expectativas: pelo andar da carruagem aqui no “Velho Oeste”, é melhor esperar e ver para crer.

por não consumir carne, mais instruído que o restante da população mundial, avisou. Ao passo que o consumidor de carne, sentindo-se lesado e com o sintoma de raiva constante, típica do brasileiro, afirma que o vegetariano se alimenta de agrotóxico sem ao menos provar o sabor da picanha. Em uma matéria publicada pelo Canal IBase, o FBSSAN (Fórum de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), afirmou que o nosso modelo de abastecimento, acelera o processo de “commoditização” e artificialização dos alimentos, de empobrecimento da base alimentar e no aumento do preço dos alimentos, o que me parece óbvio. O mais assustador é sermos um dos gigantes mundiais na produção agroindustrial e consumirmos um milho transgênico. Nosso café, de alta qualidade, é exportado e volta para nós em forma de Starbucks, extremamente caro. O país lidera o ranking do consumo de agrotóxicos. Como se não bas-

tasse, temos que ouvir declarações como a da senadora Kátia Abreu, de que o pobre precisa comer sim comida com agrotóxico porque é mais barato. Temos ainda uma classe alta egoísta, o que não é bem uma novidade, e uma classe média revanchista nível fundamental que se acha rica quando paga mais caro por “comida saudável”. O pobre, com seis bocas para alimentar, precisa comprar o embutido mais barato com retalhos de carne mecanicamente separada entre outros subprodutos que chegam às mesas do consumidor final totalmente mascarados. O que cabe discutir, pelo menos agora, já que a questão chegou escancarada no nosso próprio prato, é uma mudança cultural. Ao invés de debates utópicos como o não abate de animais, deveriam estar em pauta questões como a slow food e a permacultura, por exemplo, isso para não entrar no mérito da desigualdade social.

CRÍTICA DE CINEMA Cinquenta Tons mais Escuros: uma Saga Crepúsculo Priscila Zulin Colognese

Foi uma decepção para os fãs da saga Cinquenta Tons de Cinza ao ver que o segundo filme, Cinquenta Tons mais Escuros, não cumpriu as expectativas geradas no trailer. O público esperava uma história com mais segredos e cenas picantes. O primeiro filme da trilogia - baseado no livro escrito pela autora inglesa Erika Leonard James - foi às telonas em 2015 e levou o seu público a loucura com cenas sexuais de sadomasoquismo e dominação. Cenas bem produzidas, filmagens e ângulos bem planejados e a atuação dos atores muito real e bem encenada. Porém, a estória que envolve esses filmes é um tanto quanto clichê. O “príncipe encantado” Christian Grey - bonito, milionário, sarado, e simpático -, apaixona-se e corre atrás da sua donzela: que é não muito atraente, tímida, baixa autoestima, classe social média e sem muitos amigos. O enredo dessa trilogia tem a mesma essência dos filmes da saga Crepúsculo, onde ela é frágil e indefesa, e ele é o galã dominador. Todos já estamos cansados desses “contos de fadas”. O que atraiu o público e fez, tanto os livros como o filme virarem um sucesso, foram muitas cenas de sexo explícito e o prazer (no meu ponto de vista, psicopatia) que o Sr. Grey sente em bater/ castigar as mulheres durante o sexo. É muito raro ver nos cinemas filmes com a conotação sadomasoquista, ligados à opressão sexual. Ouvi e li muitos comentários de mulheres que dizem amar os livros/filmes, que é muito mais atraente um homem dominador. Porém, no filme Cinquenta Tons mais Escuros, Sr. Grey se torna mais romântico e comenta que se sente mudado, por conta de sua amada. Não irei revelar o fim da estória, mas os diretores deixaram uma brecha nos últimos minutos, mostrando ao público que haverá o terceiro filme dessa saga que foi tão bem recebida, principalmente aqui no Brasil. O que nos resta agora é esperar!


SEGURANÇA

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UPS e Guarda Armada reforçam segurança nos bairros de Cascavel Há poucas semanas, os guardas municipais deram início aos trabalhos com a polícia Daniela Cervi, Afonso Magalhães Assim como a saúde e a educação, a segurança pública também deve ser tratada como prioridade: é uma cobrança social na maioria das vezes desprezada pelas autoridades. “Trabalhador é assassinado ao chegar em casa na frente dos filhos”. “Policial troca tiros com bandidos”. “Idoso reage a assalto e acaba baleado”. Engana-se quem pensar que essas são notícias de grandes capitais. São manchetes que estamparam jornais e sites de Cascavel somente neste ano e aumentam o medo dos moradores. Para enfrentar a violência que cresce ano a ano, medidas são implantadas, inclusive pela Prefeitura, mesmo segurança pública sendo obrigação exclusiva do Estado. A Guarda Municipal já atua nas ruas. São 50 profissionais que deram início aos trabalhos, complementando a ação da Polícia Militar. Durante o curso de formação dos guardas, foi liberado o uso da arma de fogo aos profissionais. Foram compradas 60 pistolas. 380 e 12 espingardas, no valor de R$ 4 mil cada. Segundo o comandante Avelino José Novakoski, a Guarda está legalmente autorizada a fazer uso dos equipamentos. “Eles podem usar a arma de fogo, da arma de choque elétrico, além de fazer – quando necessário – a ação de polícia, podendo prender, apreender suspeitos e encaminhá-los para autoridades policiais”, afirma Novakoski. Para o comerciante Juarez de Matos, os ladrões estão cada vez mais ousados e enfrentam a população. Em 14 anos de trabalho conta que foram

assaltados 24 vezes à mão armada. “O grande problema da criminalidade é a impunidade, as pessoas dizem que é a falta de oportunidade, mas eu não acho que seja isso, eles querem ganhar dinheiro fácil sem trabalhar”, diz Juarez. A expectativa dos moradores é que a vinda de uma segunda UPS (Unidade Paraná Seguro), à região Sul pode trazer mais segurança nos bairros. A unidade deve ser entregue até o fim do mês de março. Os bons resultados apareceram com a primeira estrutura instalada em 2012, na região Norte da cidade.

APROXIMAÇÃO A chegada da UPS no Bairro Interlagos aproximou a Polícia Militar dos moradores. Em pouco tempo houve redução da criminalidade: os indícios chegaram a ter queda de 70%, com o trabalho da equipe. “A polícia teve mais acesso aos moradores, comerciantes, e o entrosamento entre a sociedade e a polícia reflete no final a diminuição dos crimes, porque você tem a informação”, afirma o Sargento Alnei Nunes de Moura. Os trabalhos foram intensos. “Por seis meses a Polícia Militar chegou a ficar sem registros de ocorrências na região” ressalta o Sargento Nunes. A população tem uma confiança no trabalho feito pelos profissionais. “Já esteve bem pior, bastante precária, mas de alguns anos para cá mudou bastante”, relata Amauri Carlos Shaeffer, que é morador do bairro há 25 anos. A Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel), da região Norte, mensalmente faz uma arrecadação de

Efetivo policial da UPS do bairro Interlagos, em Cascavel / Foto: Afonso Magalhães

verbas com aproximadamente 60 moradores e comerciantes do bairro, entre R$ 20 à R$ 50, o valor total chega a R$ 1 mil. “O dinheiro arrecadado é para auxiliar nos gastos com manutenção e pintura da UPS e viaturas”, afirma Ivo Gluzezaki, que é responsável pela pasta de segurança da Acic. Além disso, no último mês, a Associação entregou aos policiais uma caminhonete Frontier, totalmente reformada e pronta para ir às ruas, o custo total do investimento foi de R$ 15 mil. Ivo ressalta que a Acic tem dado total apoio para a UPS, desde que a unidade foi instalada, para que as viaturas não parem de circular. A comunidade está bastante csatisfeita com o anúncio de uma nova Unidade Paraná Seguro na região Sul. De acordo com a população, a chegada do efetivo pode melhorar ainda mais a segurança. Os moradores pretendem colaborar com o trabalho

Adolescentes freqüentam o Centro da Juventude na região Norte de Cascavel / Foto: Afonso Magalhães

oferecido pela polícia. O comerciante e morador do Bairro Interlagos, Batista Luiz Fabian, diz que a comunidade tem crescido bastante. “O Bairro só ficou mais seguro depois da instalação da UPS, com o aumento de policiais nas ruas e mais viaturas disponíveis, os atendimentos às ocorrências estão mais rápidos e a criminalidade diminuiu”, afirma o morador do bairro.

AÇÕES SOCIAIS Ações Sociais estão sendo criadas para auxiliar na redução de envolvimentos de crianças e adolescentes em crimes. Alguns são desenvolvidos no Centro da Juventude Jomar Vieira da Rocha, também instalado no Bairro Interlagos. A obra teve um custo de mais de R$ 2,7 milhões, e foi financiada pelo Estado com recursos do FIA (Fundo da Infância e da Adolescência). Segundo a diretora do espaço, Rosangela Benedita Gouveia, cerca de 18 oficinas são oferecidas no espaço que é reservado para cultura, esporte e lazer, onde as crianças além de aprender, recebem refeições durante o dia e várias atividades são desenvolvidas. Psicólogos e assistentes sociais fazem acompanhamento com os que frequentam o local. “Um espaço que ajuda o jovem a refletir diversas situações que ocorrem no cotidiano, e aqui eles tem a oportunidade de aprender, de se expressar e desenvolver ações internamente e externamente na comunidade”, ressalta a coordenadora do Centro da Juventude Rosangela Gouveia.


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Novidades percorrem a Brasil Obras na principal via de Cascavel provocam várias mudanças no transporte coletivo Débora Bernardo A Avenida Brasil recebe diariamente fluxo intenso de veículos. A frota da cidade é de 215 mil veículos, conforme o Detran (Departamento de Trânsito do Paraná). São 125 mil carros e 37 mil motocicletas. Motoristas e pedestres já observam as mudanças no trânsito e estão curiosos: como será o tráfego de bicicletas, motos, carros e ônibus a partir de agora? Na década de 1980, os ônibus transitavam em linha reta na região central. Não havia curvas na Avenida Brasil e, isso, fazia com que a velocidade dos veículos por muitas vezes fosse elevada. Para reduzir o risco causado pelo abuso da velocidade, já registrado naquela época, mudanças foram implantadas na via. A avenida passou a ter retornos. A nova forma, com curvas, homenageou o nome da cidade, simulando o rastro da cobra Cascavel. De 1980 até hoje, houve muitas mudanças: a população atualmente ultrapassa os 316 mil habitantes. O mesmo acontece no trânsito e a preocupação agora é com a volta dos ônibus na principal avenida da cidade. Rosane Ferreira, 45, utiliza o transporte público todos os dias para chegar até o trabalho e fica em dúvida sobre a nova forma de circulação dos veículos implantada com o PDI (Projeto de Desenvolvimento Integrado). “Como é que vai ser? É uma pergunta que todo mundo está fazendo”, exclama a cascavelense. O principal objetivo do projeto de mudança no sistema viário é melhorar a mobilidade urbana. “Pensou-se no espaço para o pedestre, com as pistas de caminhada, no ciclista, com a criação das ciclovias e em agilidade maior no transporte coletivo, priorizar o transporte coletivo, sobre o transporte individual”, diz Fernando Dillenburg, secretário de Planejamento e Urbanismo da Prefeitura de Cascavel. Na Avenida Brasil, os ônibus terão pista exclusiva e o pavimento foi reforçado para suportar o peso dos veículos. A ideia é que investindo em conforto e agilidade, a fluidez seja maior, incentivando o transporte coletivo. Mas, para isso, a economia também é fundamental. Atualmente, o passageiro paga R$ 3,30 na tarifa de ônibus. O município, em negociação com as empresas responsáveis pelo transporte, reajustou o valor para R$3,55, válido a partir de 3 de maio deste ano. “O transporte não pode ser tão caro, a ponto de ser mais barato ir de carro”, enfatiza Dillenburg.

SENSORES Dentre as mudanças que fazem parte do projeto, está o semáforo com sensor. Essa alteração facilitará a circulação dos veículos coletivos e autônomos, promovendo também segurança na travessia dos pedestres e maior agilidade no caminho percorrido pelas lotações. Os pedestres, por sua vez, poderão circular pelo canteiro central da avenida, nas pistas exclusivas para passeio e, ao realizar a travessia, deverão utilizar as faixas que estão sinalizadas na via.

CONVERSÃO

As obras na avenida seguem até abril deste ano/ Foto: Débora Bernardo

No centro, já foram implantadas estações de embarque e faixas exclusivas para o sistema coletivo de ônibus, as mudanças despertaram curiosidade nos cidadãos que utilizam o transporte público. A auxiliar administrativa Kamila Caetano, 19, já observou mudanças na sinalização da avenida. A instalação das ciclovias, o fim da simulação do rastro da cobra no centro, a instalação dos postos de ônibus e a retirada dos retornos, são algumas das novidades que constam na via. “Creio que existam mais mudanças que eu não saiba”, salienta.

Existem algumas controvérsias sobre o que seria melhor. Essas polêmicas, poderiam ter sido mais discutidas com a sociedade, para que houvesse um consenso maior Fernando Dilenburg

Apesar do aumento da segurança com o fim dos retornos na avenida, pedestres ainda precisam ter atenção especial na travessia / Foto: Débora Bernardo

Outra mudança destacada é a proibição das conversões à esquerda na avenida. As conversões têm gerado confusão no centro da cidade. Apesar das placas e da sinalização na pista, os motoristas cometem infrações na hora de realizar os contornos. A orientação da Cettrans (Companhia de Engenharia de Transporte e Trânsito), é que seja feito o “looping de quadra”. É preciso fazer o contorno em vias paralelas para cruzar a Avenida Brasil. “As pessoas que estão caminhando ou de bicicleta, quando praticarem a travessia, terão segurança de que quem está andando na avenida, não vai convergir à esquerda, não existindo o risco de atropelamento com quem transita no centro da via”, diz o secretário de Planejamento e Urbanismo. O estudante Weslei Bomfim, 18, mora no centro e utiliza o ônibus para ir ao trabalho e à faculdade. Ele acredita que as alterações serão positivas se funcionarem como o planejado. “Vias mais rápidas, desafogando as ruas laterais da avenida, espero que seja como o imaginado”.

FROTA Para que mudanças nas linhas ocorram, será preciso substituir parte da frota de ônibus. A previsão é que quando o novo sistema de circulação entrar em operação, as linhas que vem da região Sul tenham alguns ônibus com portas dos dois lados. Algumas linhas percorrem o centro e bairros, logo, necessitam de uma estrutura diferenciada, com local para embarque e desembarque a direita e a esquerda. O sistema coletivo não é atrativo devido a superlotação dos veículos. Existe a previsão da inclusão de 47 novos ônibus para atualizar a frota, atendendo a demanda de passageiros, que nos meses de janeiro e fevereiro de 2017 ultrapassou os R$ 3 milhões.


OBRAS

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OS CONTRAS... O PDI foi um projeto implantado na gestão anterior. O atual secretário Fernando Dillenburg, alega que faltou maior discussão com a comunidade. “Existem algumas controvérsias sobre o que seria melhor. Essas polêmicas poderiam ter sido mais discutidas com a sociedade, para que houvesse um consenso maior”. Com as obras iniciadas, o projeto terá que ser finalizado. Os motoristas, pedestres e passageiros de transporte coletivo terão que se adaptar a nova realidade sendo ela positiva ou não. “É uma questão de nós nos policiarmos um pouquinho e entendermos que isso é um avanço. Isso melhora a segurança das pessoas e um

pouco mais de espaço que temos que andar é muito menos que causar um acidente. A vida de qualquer pessoa vale muito mais do que cem metros a mais que temos que andar com o carro”, conclui Fernando. As obras da Avenida Brasil têm previsão de término para o mês de abril. O custo dessa etapa estava avaliado em R$ 41 milhões. Hoje, atinge os R$ 69 milhões. Ao todo, o PDI teve estimativa de 28.750 mil dólares. A Secretaria de Planejamento reavaliou o projeto, que teve custo inicial de R$70 milhões e, atualmente, ultrapassa os R$ 150 milhões. As mudanças no fluxo e a inserção dos ônibus na Avenida Brasil estão previstas somente para março de 2018.

Kamila Caetano espera que o transporte coletivo seja mais rápido com as novas mudanças / Foto: Débora Bernardo

Os pontos de ônibus estão ao longo de toda a avenida e só funcionarão a partir de 2018/ Foto: Débora Bernardo

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Avenida Brasil: uma trajetória do crescimento de Cascavel Via principal sempre foi reflexo e palco das principais transformações do Município Débora Valdez Elesbão Fernanda Vieira Marques Das mais de mil avenidas que carregam o nome do País, uma em especial faz parte da história de milhares de cascavelenses. Pessoas que, como o professor Alberto Pompeu, viram crescer às margens da rodovia estadual, uma das maiores cidades do Paraná. Os primeiros registros são de 1920, quando Cascavel se resumia a um cruzamento. “Era um entroncamento de duas ruas. Alguns chamavam de Encruzilhada ou Encruzilhada dos Gomes, que foi uma família que abriu muitas estradas na região por causa da exploração da erva-mate”, conta Pompeu. A encruzilhada ficava na região que os antigos chamam de Patrimônio Velho e que hoje é esquina da Pio XII com a Avenida Brasil. De acordo com o historiador Alceu Sperança, o Patrimônio Velho ficava entre o Terminal Rodoviário Helenise Tolentino e a Rua Sete de Setembro, enquanto o Município ainda pertencia à Foz do Iguaçu. Nesse período, a pequena Cascavel passou a se chamar Aparecida dos Portos, nome que não se popularizou entre a população. Inclusive, a Avenida Brasil teve dois nomes: Avenida Iguaçu (nome do Território) e Avenida Major Frederico Trotta, que já foi governador do extinto Território do Iguaçu, entre 1943 e 1946. Em 11 de agosto de 1953, a via passa a ter definitivamente o nome que conhecemos hoje. O Patrimônio Novo foi doado pelo estado do Paraná a Cascavel com a

Avenida Brasil em 1980, com pistas estreitas, traçado sinuoso e passeio para pedestres / Foto: Divulgação - Museu de imagem e do som

formação do município em 1952. Ele começa na Rua Sete de Setembro e segue pelas demais ruas em direção ao leste. “Com a vinda dos imóveis o município poderia formar seus serviços e construir obras públicas e escolares”, explica Alceu.

Cascavel teve um crescimento nem sempre incentivado, ele foi espontâneo, Alberto Pompeu

REGIÃO O Oeste do Paraná teve uma ocupação tardia, comparado às outras regiões do Estado. O cultivo do café, por exemplo, responsável pelo crescimento econômico da região norte, não funcionou bem por aqui. Isso porque o clima frio aliado à falta de conhecimento do cultivo não impulsionaram a cultura. O desenvolvimento veio principalmente pela chegada de estrangeiros para a exploração da erva-mate, trazendo consigo moedas e costumes e também da vinda dos descendentes dos tropeiros, que se estabeleceram na região. Outros dois fatores fundamentais foram: Os militares que trouxeram as primeiras linhas telegráficas e a execução do projeto de uma rodovia federal estratégica. A Avenida Brasil então começa a traçar a marcha do crescimento.

UMA RODOVIA ESTRATÉGICA

Primeiras obras no Núcleo Urbano de Cascavel Foto: Divulgação - Museu de imagem e do som

A existência da rodovia facilitou muito o progresso da região. Para chegar aos povoados era necessário passar por Cascavel, que logo no início teve como destino ser um centro comercial. Os representantes comerciais e

viajantes circulavam com mercadorias em grandes charretes. Antes de ser a Avenida Brasil que conhecemos, a Encruzilhada dos Gomes foi uma rodovia federal, a BR-35. O trajeto começou a ser remodelado na década de 1940 pelo Plano Rodoviário Nacional, que consistia na abertura de rodovias estratégicas. A região já tinha algumas estradas, porém em mau estado de conservação. “No começo, só passavam montarias, tropas. Depois começaram os carroções por caminhos já um pouco melhorados. Eles traziam mantimentos já que a região ainda não produzia” conta Alberto Pompeu. O governo de Getúlio Vargas (19371945) passou a incentivar a vinda de colonos gaúchos – já que as fronteiras rio-grandenses já estavam ocupadas – e desenvolver estradas por meio do programa rodoviário Marcha para Oeste. “Fazia parte da estratégia de ocupar o Oeste despovoado para evitar o expansionismo argentino. Ao integrar a fronteira ao Estado do Paraná, a Estrada Estratégica foi o eixo fundamental pelo qual passou todo o avanço da colonização” relata o historiador Alceu Sperança. Frotas militares se concentraram do Litoral ao Oeste paranaense para executar uma logística fundamental para despachar a produção agrícola ao porto: a BR-277. No ano de 1969, com a conclusão, foi dado início a “Era do Agronegócio” em Cascavel. A história daqui para frente é marcada por promessas e mudanças.


HISTÓRIA

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CRESCIMENTO E MUDANÇAS Os primeiros planos de mudança da Avenida Brasil ocorreram em 1988, quando Fidelcino Tolentino, em seu último ano de mandato, aprovou o projeto de reforma da Avenida Brasil. Mas quem iniciou as obras foi a gestão seguinte, comandada por Salazar Barreiros. O atual secretário de Planejamento e Urbanismo, Fernando Dillenburg, foi também o engenheiro responsável pela construção do Calçadão, em 1989. “Quando o Salazar [Barreiros, prefeito de 1989 a 1992] assumiu, a obra estava contratada e pronta para ser iniciada. Nós que tivemos que transformar a avenida reta no projeto do Calçadão”. Para o secretário, o Calçadão criou uma identidade própria do centro da cidade. A avenida que até então era reta passou a ter curvas. A mudança foi uma tentativa de reduzir o número

de acidentes. “Aumentou a segurança para as pessoas descerem do ônibus na Rua Paraná. Como era uma reta, os carros tinham uma velocidade muito maior e as pessoas passavam pela frente e por trás do ônibus para cruzar a avenida”, explica Dillenburg. Cascavel começou muito cedo a ter vocação para o automobilismo, inclusive, sem o respeito as leis de trânsito. Campeonatos eram realizados desde 1950 nas retas da Avenida Brasil. As principais competições - atualmente no Autódromo Zilmar Beux - também tiveram origem no centro da cidade. Alceu Sperança relembra que a avenida foi o palco de todos os mais importantes eventos ocorridos na cidade: “Protestos, festas, corridas, visitas presidenciais e até a criação do MST (Movimento Sem-Terra), diante da Catedral”.

Avenida Brasil em 2016 durante o processo de revitalização volta a adotar as retas / Foto: Divulgação - Jornal A Voz do Paraná

REVITALIZAÇÃO

Cada período exige suas mudanças. Teve um momento em que foi eliminada a pista central e fizeram estacionamentos. Na época foi bom porque o movimento não era grande, mas hoje o movimento é terrível, Alberto Pompeu

Foto: Débora Valdez Elesbão

Pompeu com seus quase oitenta anos é contabilista e professor aposentado, historiador, segundo o próprio é por paixão. “Eu não tive muita escolha, quando a história acontecia eu estava lá. Sempre brinco, não me provoquem porque eu tenho muita coisa pra falar.” No subsolo do prédio em que mora, ele mostra orgulhoso a antiga gráfica que transformou em um imenso museu particular.

Trinta anos depois da última reforma, uma nova obra foi iniciada pelo ex-prefeito Edgar Bueno. A Avenida Brasil volta a ser uma reta e os ônibus passam a ter faixa exclusiva. O Hotel Copas Verdes foi um dos estabelecimentos que acompanhou a trajetória do trecho desde 1982 - ano de inauguração. “Ela está ficando com o visual mais bonito, porque antes estava bem detonada. E a gente espera que quando ela funcione já com os quiosques e toda sinalizada, que isso seja um atrativo à mais para os clientes do hotel”, conta a gerente Vera Lúcia Giordani. A Revitalização é um projeto grande e tem gerado controversas, principalmente entre motoristas e os comerciantes. De acordo com a gerente do hotel em toda reforma o transtorno é inevitável. “Nós ficamos oito meses praticamente sem acesso algum porque fechou a avenida nos dois sentidos. Não tinha como se chegar ao hotel. Só se podia entrar pela garagem e nem todo mundo sabia onde ficava. Além disso, trouxe muita poeira” relata. Para o professor Alberto Rodrigues Pompeu, cada período exige suas mudanças. “Teve um momento em que foi eliminada a pista central e fizeram estacionamentos. Na época foi bom porque o movimento não era grande, mas hoje o movimento é terrível”. Se o motorista já tem dificuldades para encontrar uma vaga no centro da cidade, a situação pode ficar ainda pior no futuro. Para facilitar a mobilidade urbana, o secretário de Planejamento e Urbanismo acredita que em determinado momento será preciso excluir a faixa de estacionamento no trecho em

frente a Catedral. “O Município terá que começar a pensar no Plano Diretor, uso do solo e Plano de Obras; exigir maiores espaços de estacionamento nas construções. Incentivar a construção de edifícios garagens e estacionamentos em lotes baldios, porque espaço público em tese é para que a população use para deslocamentos”, esclarece Fernando Dilenburg. No projeto atual, para incentivo do transporte público serão implantadas 30 estações de embarque e desembarque, além de ciclovias no trajeto da Avenida Brasil, que terá início na Praça Vereador Luiz Picoli (Praça da Bíblia) até a Rua Martin Afonso de Souza, no Jardim Gramado. O calçadão também é totalmente remodelado e a expectativa é de que até o próximo ano esteja concluído. Para Vera Lúcia, apesar de todos os transtornos as expectativas são positivas e de retorno financeiro. “A gente torce para que fique bonito, funcione legal e que eles façam uma sinalização boa, que oriente bem o cliente que chega de fora. E para recuperarmos um pouquinho daquilo que a gente perdeu de abril a novembro no ano de 2016”. Para saber mais sobre Cascavel e sua história: • Cascavel: a história - Alceu Sperança • Terra, sangue e ambição: a gênese de Cascavel - Vander Piaia • Artigo: Cascavel, uma reflexão sobre a influência sobre a primeira intervenção na Avenida Brasil – Lissandra Guimarães Gil • Visite também o Museu da Imagem e do som anexo ao Centro Cultural Gilberto Mayer.


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Crítica

M E N A I C

SOCIAL UNIFATOS

de sofá

BOAS VINDAS O movimento aumentou nos corredores da Univel desde o último dia 20. A recepção dos novos acadêmicos contou com show da dupla Mariana e Mateus. No dia 21 foi a vez da bateria Cobra Louca da Atlética de Direito se apresentar.

MANUAL DO CALOURO RM?

A essa altura, esperamos que vocês já conheçam o RM online. Ele funciona como um portal do acadêmico. Lá, os professores disponibilizam os materiais trabalhados em sala e você pode conferir informações como notas, número de faltas e mensalidades.

CPA?

A Comissão Própria de Avaliação acontece semestralmente e é um espaço que o acadêmico tem para avaliar os serviços prestados pela instituição – desde as condições estruturais de laboratórios até o desempenho dos professores em sala de aula.

EXPOTEC?

A Expotec é uma feira tecnológica que acontece anualmente no espaço da Univel. No evento, várias empresas trazem seus stands para exposição e é uma oportunidade para que os acadêmicos vivenciem experiências em suas áreas. Um dos serviços oferecidos já tradicional é a praça de alimentação sob o comando do Curso de Gastronomia.

No Oscar 2017, a qualidade do evento em si foi bastante mediana. Levando em consideração os anos anteriores, poucos dos indicados eram fortes candidatos. Quem acompanha sabe que o embate já foi bastante duro. O favoritismo – confirmado pela premiação – do ator Casey Affleck pela atuação quadradinha em Manchester à beira mar já dava a entender que o padrão não estava tão alto neste ano. Os filmes indicados para essa edição demoraram a despontar. O evento se aproximava e poucos eram os palpites sobre quem deveria concorrer. Desses o que mais virou queridinho

do público e da crítica foi o musical "La la land" que venceu seis estatuetas em 14 indicações – com muitos méritos, é verdade. O filme acabou sendo descoroado da categoria mais aguardada da noite (melhor filme) em uma falha constrangedora, principalmente para um evento desse porte. Depois dessa, uma das maiores gafes da história em premiações, "Moonlight: sob a luz do luar" levou a estatueta, o que não pode ser considerado uma injustiça. Neste ano, a premissa já parece melhor com muitos lançamentos interessantes. Esperamos que assim se concretize.

PROJETOS DE EXTENSÃO? A Univel conta com vários projetos extracurriculares em todos os cursos. Para saber mais a respeito, procure o seu núcleo de coordenação.

REBELDIA! Essa palavra define um pouco do perfil de Nick Farewell, engenheiro, dono de uma loja de histórias em quadrinhos, executivo de multinacional e redator publicitário. Ele participa sexta-feira, 7 de abril, da aula inaugural dos Cursos de Artes, Jornalismo, Designer Gráfico. Fotografia e Publicidade e Propaganda. No sábado, 8 de abril, 30 acadêmicos terão o privilégio de participar de um workshop com Nick, um rebelde com causa!

MURAL Fotos: Débora Valdez Elesbão

AGENDA 14 ABR, sex – Motorbastards (Adega Nóstra-Vamos) 14 ABR, sex – Bruno Boncini - ex-vocalista do Malta (Hooligans Pub) 15 ABR, sáb – Os Monarcas (Clube Olímpico) 21 ABR, sex – MC Gui (Ministterio Club) 21 ABR, sex – Detonator (Hooligans Pub) 21 ABR, sáb – Humberto Gessinger (Clube Tuiuti) 22 ABR, sáb – Track Day (Autódromo Internacional de Cascavel) 27 ABR, qui – Oficina Desigualdade de Gêneros e Feminismo (Casanóz) 29 ABR, sáb – Miss Cascavel Infantil (Teatro Municipal de Cascavel) 30 ABR, dom – K-Pop @Naega Jeil Jal Naga (Hell Sin Lounge)

Naiara Silveira e Beatriz Luckmann - Estudantes de Direito

Valeskah Amanda - Estudante de Contabeis

Renata Iglessias - Estudante de Direito

Daron Saron e Georgia Servilheire - Estudantes de Artes


MEIO AMBIENTE

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Contêineres unem economia, inovação e sustentabilidade Nova forma de habitação tem boa aceitação, principalmente para fins comerciais Jader Milioransa Guilherme Aldenucci Pouco provável seria imaginar tomar café dentro de um contêiner no centro de Cascavel. Essa ideia inusitada é a aposta do empresário André Peres de Magalhaes, 33, que em plena Avenida Brasil, trouxe a estrutura de metal para abrir o próprio negócio. “Um amigo compartilhou a ideia: só abri [o café], abasteci a geladeira e comecei a trabalhar”, diz o jovem empreendedor. O café dentro do contêiner faz parte de uma franquia que aposta justamente neste diferencial que impressiona os consumidores. O empresário, que é o arrendador de uma lanchonete no centro da cidade, diz que optou por essa estrutura por causa de uma boa oportunidade, uma ideia e com a ajuda financeira um amigo empresário, que entregou o contêiner pronto. André conta que optou pelo arrendamento, pois o custo era menor. “O aluguel era de R$ 5 mil por mês, por seis meses, e depois o custo baixou para R$ 3 mil”. Com um ambiente despojado e simples, André espera, assim como todos os empresários, o sucesso, apostando, assim, no diferencial que os contêineres oferecem ao seu empreendimento. Os clientes podem desfrutar, além da boa comida, um ambiente diferente e agradável; com direito à vista do movimento da Avenida Brasil. Mas os contêineres não estão restritos apenas ao tradicional cafezi-

Interior de um ambiente criado a partir de contêiners / Foto: Guilherme Aldenucci

nho. A moda, agora, é hamburgueria dentro da estrutura de metal. Essa é a aposta do economista Rui Eduardo São Pedro. Ele largou a carreira de professor da Univel para apostar no empreendimento, que fica no Bairro Santa Cruz. Rui disse que optou por esse tipo de construção pela praticidade, agilidade, custo baixo e por ser um produto de época “é da moda e uma forma de contribuir com o meio ambiente, pois é um material descartável”. A hamburgueria de Rui conta com o uso de seis contêineres convencionas, sendo que dois ficaram sobrepostos entre os outros quatro. O trabalho de acabamento deixa clara a lembrança dos contêineres de uma maneira mais rústica e moderna.

Hoje, esse tipo de estrutura de metal transporta todo tipo de produto das rodovias até os portos e é usada em projetos arquitetônicos, que tem como base a praticidade e a sustentabilidade. "É uma solução mais rápida, prática e mais barata do que construir em alvenaria” diz a arquiteta Ana Aldenucci, 51, que já recebeu projetos com essa temática. Para começar a construir é preciso tomar cuidado com a escolha do material. “Não é qualquer contêiner que serve para ser usado como moradia, comércio ou serviços, como as utilizadas pela UPP no Rio de Janeiro (Unidade de Polícia Pacificadora). Têm que ser aqueles que não foram usados para transportar materiais tóxicos ou contaminantes ao contêiner”.

Como acabamento, é possível usar placas de gesso para finalizar com tinta. Em projetos com aspecto mais rústico, como o do professor Rui, a pintura é feita diretamente sobre o contêiner. Vale ressaltar que os materiais de acabamento, tanto de parede, quanto de piso e teto, são os convencionais usados em qualquer obra. “Ao utilizar esse produto, estamos colaborando com a sustentabilidade, reciclando algo que deixou de ser útil para determinado setor e agora útil para outro”, diz João. Um contêiner totalmente modificado pode custar em torno de R$ 20 mil, com acabamentos essenciais; já um contêiner sem modificações pode sair por R$3 mil; existem no Brasil empresas especializadas em venda de contêineres pré-modificados, com custos mais acessíveis, e à pronta entrega. Empresas do ramo de construção já utilizam os contêineres para outros fins além dos de armazenamento de material e transporte de cargas. Uma construtora em Foz do Iguaçu, que presta serviços em Cascavel, utiliza um contêiner de tamanho médio, perto de uma de suas obras, para atendimento aos clientes, garantindo rapidez rapidez e praticidade às negociações. A maioria dos contêineres é trazida dos portos de todo o Brasil; no Paraná, o próprio porto de Paranaguá, vende algumas unidades fora de uso. Os valores variam de acordo com o tamanho e a situação estrutural do contêiner, mas partem de R$ 2,5 mil chegando R$ 6,5 mil sem o transporte.

SIMPLICIDADE

Centros gastronômicos são os principais adeptos aos contêiners Foto: Guilherme Aldenucci

Essa é a grande vantagem do projeto que tem como base o contêiner: fácil execução, baixo custo e rapidez. O arquiteto João Machado, 22, defende esse modelo de obra, que exige uma preparação da área, como toda construção. Antes de colocar o contêiner, deve-se construir no terreno uma base estrutural com contrapiso, para só então instalar os contêineres na posição estabelecida no projeto. Depois disso, começa a fase de limpeza, usando agentes químicos para remover quaisquer resquícios de material impuro. Só então vem a vez do acabamento: material isolante térmico e acústico.

Além da sustentabilidade, os projetos que envolvem o uso dos contêineres são muito mais rápidos do que as obras convencionais


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Nos bares da cidade

A

vida

quem

de

vive

tentando ganhar a

vida

com música Indios do Asfalto / Foto: Allef Canton

Carlos Targa “De bar em bar pela noite, cada um escolhe o que quer”, o trecho da música da Banda Velhas Virgens retrata a realidade de muitos artistas que tentam ganhar a vida entre um copo de cerveja e outro. Na hora em que a maioria dos brasileiros já descansam, depois de uma longa semana de trabalho, é a vez dos músicos iniciarem a labuta. Às vezes, tem trabalho todo o fim de semana, às vezes, não. Nem sempre é no bar e tem momentos que o palco é uma praça. Mas a canção não pode parar! O ensaio tem que ser diário e de todos os estilos, porque o repertório não é dos músicos e, sim, do público, então, os artistas devem estar preparados para tudo. Do samba ao rock, do pagode ao pop, do caipira ao internacional. É assim a rotina da vida de quem tenta seguir o caminho da música: homens, mulheres, jovens e velhos. Todos correndo atrás de um sonho, em busca do seu espaço. Entre esses músicos está a jovem Gabriele Costa, 20, ou simplesmente Gabi, natural de Foz do Iguaçu, que vive em Cascavel desde a infância. Seu relacionamento com a música iniciou quando criança. Aos cinco anos, ela e os pais en-

saiavam um coral e até hoje a música se faz presente em sua vida. Gabriele tem uma história semelhante a do também músico Allef Canton, 21, que é integrante da Banda Índios do Asfalto. Aleff sempre teve a música presente na vida. Na infância ele não queria ser músico. Agora segue também a trilha de bar em bar, hoje, influenciado por bandas dos anos 80 e 90. “Nossas maiores influências são Titãs, Ultraje a Rigor, Raimundos”. Do grupo que começou com cinco músicos, restam três: Allef, William e Vini. Allef diz “nem sei como o nome surgiu, lembro que resolvi criar um grupo no whatsapp com esse nome Índios do Asfalto e acabou ficando”. O músico vive vários dilemas diariamente. Um deles é escolher entre ter um trabalho concreto ou tentar algo incerto como a música. Essa foi a dúvida de Gabriele. “Aos 15 anos, eu queria trabalhar com música, mas com o tempo comecei a focar no trabalho. Quando fui garçonete, esqueci essa ideia”. Gabriele trabalhava em um restaurante, até que em uma noite o músico que se apresentava no local descobriu que ela cantava e pediu uma palinha e, assim, a caminhada recomeçou. “A partir daí, todos ficaram pedindo para eu cantar e foi aumentando a

frequência. A dona do restaurante passou a me colocar para cantar nos intervalos dos músicos que se apresentavam no estabelecimento e os clientes começaram a chegar e pedir por mim”. Foi, então, que ela ouviu o conselho de uma amiga e preparou o repertório e os equipamentos, largou a vida de garçonete e passou a fazer música ao vivo em Cascavel. “Até hoje eu sigo o caminho da música, difícil, mas eu não desisto”. Nenhuma carreira profissional tem um começo de hits na web e plateias lotadas, o fracasso parece ser a sombra do bom profissional. O primeiro show é inesquecível para Aleff. Gabriele Costa Na estreia, todos estavam muito nervosos, mas o primeiro pagamento faz parte da memória. “Quando se começa uma banda é melhor nem pensar nele, mas deu pra pagar a bebida da noite”. A banda ainda não consegue viver somente da música, é um momento difícil para todos os estilos, mas se um dia isso for possível os Índios estarão felizes fazendo o que gostam.

Viver da

música, apesar de possível, é muito cansativo


COTIDIANO

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DIFICULDADES De início, Gabriele vivia só com a música, porém, a crise chegou a cantora. Onde conseguia lugar para cantar todo o fim de semana, agora nem é sempre assim. Gabriele pensa em procurar outra forma de renda paralela à música. “Viver da música, apesar de possível, é muito cansativo”. Em meio a esse sonho, os jovens têm de contar com convites de empresários dispostos a investirem no ramo, como é o caso de Rogério Oliveira, proprietário de um bar inspirado no estilo inglês (desde a decoração, bebidas e, claro, a música). O empresário afirma que não consegue dar oportunidade a todos que procuram uma oportunidade. “A crise também afetou o setor, então, com a diminuição dos clientes, acabou diminuindo o valor que podemos investir em um show”. Em alguns estabelecimentos é cobrado o couvert artístico que é um valor a conta nos locais onde ocorrem as apresentações, mas, segundo Allef, esse valor nem sempre é destinado ao artista. “Tudo depende do combinado, geralmente acertamos o valor antes da apresentação, somente em alguns casos o valor do couvert é dividido entre o estabelecimento e os artistas”. Rogério conta que os artistas aceitos pelo público conseguem se manter na agenda no pub. “Tem muitos músicos talentosos na região Oeste do Estado. São pessoas que se tiverem uma oportunidade com certeza ter muito sucesso. Nós tentamos ajudar ao máximo, fazemos sempre a divulgação de quem se apresenta, datas, estilo para que os clientes venham nos visitar também pela música. Com certeza, é uma parceria e todos ganham: a empresa, o músico, e claro, o cliente”. Christian Bruch, 24, bacharel em Direito, é fã de música e frequentador assíduo dos barzinhos, afirma que um bom artista ajuda na escolha de onde ir. “A música me influencia a escolher o local, independente do estilo. Música, cerveja e comida. Quando o artista sabe interagir com o público dá vontade de acompanhar o trabalho e torcer pelo seu sucesso”.

IMPORTÂNCIA Para muitas pessoas, a música é tão importante quanto uma cerveja gelada quando se está em um bar. Dependendo da diversidade do público, o artista tem que dar um jeito de agradar a todos. Seja com cordas ou batuques, eles são responsáveis por animar o ambiente com sambas de raiz, agitar o público com o bom e velho rock’n roll, ou levar romantismo e

Gabriele Costa / Foto: Mariza Mattos

nostalgia da vida boêmia ou como se diz no popular, com a “sofrência”. A diversidade do músico é o maior diferencial nas escolhas. “Não é que o músico não possa ter um estilo preferido. Longe disso! Todos nós temos preferências diferentes, com eles não é diferente, mas saber de tudo um pouco ajuda, desde uma moda de viola, até um clássico como Elvis”, diz Rogério. A dificuldade maior é se manter no meio musical. Crescer não é fácil, mas não impossível. “Buscava tocar os três dias do fim de semana, mas, por enquanto, ainda não conseguimos, mas já comemoramos o fato de termos um local fixo todo o mês. Os tempos mudaram, antes os bares iam atrás dos músicos, hoje, é totalmente

o contrário”, afirma o músico Allef. A banda corre atrás para que mais pessoas conheçam seu trabalho. A música pode nos levar à qualquer lugar. Para o músico, é uma maneira de descontrair, entusiasma e encanta mesmo sem ganhar por isso. É justamente nesse ponto que o empresário Rogério acredita que consegue ajudar os novos músicos. “O pouco que a gente pode fazer a gente faz, mas o importante pra eles, às vezes, nem é o dinheiro e, sim, a visibilidade, da mesma forma que dizem por aí que dinheiro chama dinheiro, show também chama show e, claro, que torcemos para o sucesso de todos, as portas do pub estão sempre abertas a todos os estilos. A

música ajuda a unir as pessoas”. As realidades de Gabriele e Allef são iguais a de muitos outros músicos do Brasil. Jovens que tem algo em comum: a busca de uma oportunidade de mostrar o seu trabalho e ganhar a vida com esse talento. “Viver da música não é nada fácil”, assim afirmam os dois artistas, mas eles não deixam o sonho acabar, como diz uma frase do escritor Walter Haddon: “A música é o remédio da alma triste”. É isso que eles buscam, a felicidade: que é poder continuar, e mesmo em meio às dificuldades e a pouca valorização. Eles seguem na estrada, como diz a canção de Geraldo Vandré: caminhando e cantando, e seguindo a canção...


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Projeto social muda realidade de bairro violento em Toledo 180 crianças e adolescentes são atendidas pelo projeto que já tem 25 anos de história Núbia Hauer “Senhoras e senhores! Respeitável público! Com vocês o Circo da Alegria!” Certamente, quem já foi assistir a um espetáculo circense ouviu está frase que marca o início das apresentações que engloba palhaços, malabares, dançarinos e espetáculos especiais. Por isso, a arte circense foi uma saída encontrada na Escola Municipal Anita Garibaldi, de Toledo, para afastar a defasagem escolar, a depredação e o baixo rendimento dos alunos. O projeto de circo vem apresentando bons resultados e completa 25 anos. Essa magia do circo está melhorando a perspectiva de vida dos estudantes. O brilho e o encantamento das crianças e adolescentes para desenvolverem as atividades propostas pelo Circo da Alegria é algo que surpreende, como os próprios frequentadores do espaço salientam. “Eu defino a atividade circense como minha vida e minha alegria”, comentou o aluno Marlon dos Anjos, 14. O estudante explica que o projeto começou a fazer parte da vida dele, por uma questão de qualidade de vida. “Desde pequeno, eu sofria com o meu peso elevado e minha mãe não achava nenhuma solução. Até que ela teve conhecimento do projeto”. Marlon comenta que de início a ideia de sua mãe não o agradou muito. “Eu vinha quase que obrigado para as oficinas, mas, agora, isso tudo virou minha paixão”. O aluno já traça planos para o futuro, mas sem deixar a arte circense de lado. “Eu quero ser um artista profissional e seguir na carreira do circo, porque é muito bom saber que você pode causar uma série de emoções nas pessoas, desde alegria, paz e motivação”. Essa perspectiva de vida não é diferente para a estudante Kezia Karen dos Santos, 14. “Eu comecei a participar por indicação da minha mãe e da minha avó, confesso que no começo eu não gostava, mas agora faz três anos que estou aqui”. Kezia reforça que não pretende sair tão cedo. “Eu brinco com meus professores que eles vão ter que me aturar por muito tempo, porque minhas perspectivas de sair daqui estão bem longe”. Esse brilho e encantamento por esse caminho da arte circense é ob-

O Teatro Municipal de Toledo é a primeira casa de espetáculo desse pequenos grandes artistas Foto: Divulgação - Circo da Alegria

servado, também, no coordenador do projeto Dado Guerra. “É muito bom saber que um projeto proporciona tantas experiências para essas crianças, que em muitos casos, não acreditam que é possível chegar a um bom resultado e o fato de saber que participo disso é algo fantástico”. O reconhecimento do projeto já

A professora Paula Regina Bombonatto define que o circo representa sua vida. Foto: Núbia Hauer

ganhou destaque nacional e internacional. “Já participamos da Bienal, em São Paulo, do Fórum Nacional de Assistência Social, em Brasília e em eventos no Paraguai”. Dado comenta que o convite para a apresentação no Fórum Nacional de Assistência Social foi uma surpresa até para ele. “Eu não esperava que o con-

vite surgisse do próprio ex-ministro de Desenvolvimento Social, Patrus Ananis de Souza. Ele viu o nosso espetáculo na Bienal e 15 dias depois entrou em contato comigo para averiguar a questão de passagem aérea e hospedagem para os alunos e professores”. O circo ficou responsável pela abertura do evento. “Foi uma grande responsabilidade, além da experiência maravilhosa para as crianças e adolescentes, porque o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, estava presente e passamos por toda a segurança presidencial de acesso ao evento”, diz Dado. Para o pagamento dos custos dessa e de outras viagens, o coordenador explica que o projeto é de caráter social, por isso, depende de doações voluntárias. “Geralmente, quem convida o circo, oferece uma ajuda, além do auxílio que recebemos da Prefeitura de Toledo”. Mas o circo não se faz apenas de belos espetáculos. As roupas e adereços, também causam um grande


CULTURA

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impacto, porque o que faz esse proporciona uma trabalho valer a emoção maior. pena. Por exem“Os figurinos e plo, esses dias as maquiagens eu estava cotambém são criamentando com dos de acordo meus alunos a com o roteiro da importância da apresentação. O vacina do HPV nosso foco é ofe[Papilomavírus recer o melhor humano] e no para essas criandia seguinte eles ças e adolescenvieram mostrar tes. O objetivo à carteira de vaé demonstrar a cinação de que importância que realmente foelas têm na soram ao posto de Marlon dos Anjos ciedade”. saúde tomar a A relação endose”.professotre alunos e prora ainda ressalta fessores e um “a oportunidade dos fatores que traz todo esse reco- de levar essas crianças e adolescentes nhecimento do projeto, de acordo com para prestigiarem espetáculos como do a ex-atleta de ginastica rítmica e ago- Circo de Soleil ou de ir para outras cidara professora do projeto há seis anos, des com o intuito de realizar apresentaPaula Regina Bombonatto. "O vínculo ções é algo fascinante. Não há dinheiro que é criando com os estudantes é que pague ver o sorriso delas no rosto”.

É muito bom saber que você pode causar uma serie de emoções nas pessoas, como alegria, paz e motivação

Apresentação cultural do Circo Ático e Circo da Alegria, com o tema Carrossel das Cores, no Teatro Municipal de Toledo. Autor: Ricardo Morante. Foto: Divulgação - Circo da Alegria

O PROJETO: O Circo da Alegria de Toledo desenvolve, desde 1992, um trabalho com crianças e adolescentes de 4 a 18 anos, na Escola Municipal Anita Garibaldi. O projeto começou quando o professor Galdêncio Siqueira, de Fortaleza, no Ceará, realizou com mais três educadores uma viagem pelo Brasil. O objetivo era levar a arte circense, para crianças de rua ou que se encontrava em situação de vulnerabilidade social. Segundo Dado Guerra, com o fim das ações promovidas pelo professor Galdêncio Siqueira algumas transformações foram perceptíveis no comportamento das crianças que buscavam de toda forma chamar atenção. “Os próprios alunos procuraram a direção da escola para que a oficina continuasse”, explica Dado. O projeto atendente 180 crianças e adolescentes, mas há uma demanda reprimida, na lista de espera. “Estamos buscando aumentar o número de professores e assim ter uma capacidade de 220 alunos”. A equipe do circo é composta por dois profissionais de circo, dois de educação física, dois de pedagogia, um coordenador, um administrativo e três estagiários. O coordenador explica que existe uma distribuição específica para o

desenvolvimento das atividades que é compatível com a idade de cada participante, devido à prática exigir muita responsabilidade. As categorias se dividem em: dos quatro aos seis anos, nível baby, dos sete aos nove anos, nível um, dos 11 aos 14 anos nível dois e a equipe de rendimento, que é responsável pelas apresentações. Para participar da equipe de rendimento são selecionadas as crianças e adolescentes que tem um melhor desenvolvimento. “Eu gosto sempre de reforçar que o sucesso não está em criar artistas para o circo, mas o nosso foco é ajudar a tirar essas crianças e adolescentes da rua e formar bons cidadãos, que tenham objetivos na vida”, reforça Dado. O coordenador salienta que a continuidade do projeto se dá, principalmente, pela mudança de vida desses estudantes. “Ver o quando bem o Circo da Alegria faz para essas crianças e

adolescentes e algo muito recompensador, ainda mais quando eles procuram se profissionalizar na arte circense, ou na área de educador, buscando aplicar aquilo que aprenderam, em beneficio do outro”, finalizou.

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Futebol americano: a bola da vez O time de futebol americano “Cascavel Olympians” ganha cada vez mais popularidade

Após o aquecimento o treino é feito específico para cada posição / Foto: Lyrian Periolo

Natalia Paiva Pelé, Neymar, Ronaldinho Gaúcho, Davi Luiz, entre outros. Tenho certeza que você sabe o nome de boa parte dos jogadores de times de futebol brasileiros. Agora se pergunte quais são os atletas em destaque no futebol americano. Serão necessários alguns minutos a mais para lembrar de um talento – quem sabe –, que represente o País na modalidade esportiva. Os gramados antes dedicados, exc l u s i va m e n te, à bola redonda, agora têm como estrela a bola oval. “Cascavel Olympians” é o primeiro

time de futebol americano de Cascavel. Mas no início, em 2011, o nome era outro: Red Snakes (Cobras Vermelhas). O time tem 75 jogadores e começou pelo interesse de um pequeno grupo de amigos que se encontrava nos fins de semana por diversão no Ceep (Centro Estadual de Educação Profissionalizante) Pedro Boaretto Neto e também no Parque Tarquínio. Em 2013, houve uma reformulação do time, nascendo uma “família de deuses”. Essa denominação se faz pelo espírito compartilhado entre os jogadores: todos se

O futebol americano é a junção das regras do Rugby e o modo de correr do futebol de campo

comportam como se fossem irmãos. O Cascavel Olympians. No ano seguinte, o time montou uma comissão - associação sem fins lucrativos. Eles têm apenas um patrocinador. “Nós sempre estamos em busca de novos apoios. Somos uma associação sem fins lucrativos, então os equipamentos são caros, a bola é cara. Precisamos de viagem e assim necessitamos de muito apoio”, diz Wanderson Nunes, presidente do time. Uma das alternativas encontradas pelo time foi fazer uma “vaquinha” online sob o nome de “Projeto Cascavel Olympians FA 2017” para conseguir dinheiro suficiente e comprar equipamentos. O time passa por muitas dificuldades, o treinador Alexandre Silva, 24, explica que eles mesmos tiveram que montar as traves dos gols com canos de PVC, além de terem de improvisar diversos equipamentos. “Nós usamos pneus velhos, cones feitos em casa e partes de sofás para ajudar nos treinos”.

UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO Já há dois anos no time, Ruan Gabriel da Cruz, 17, nasceu com Artrogripose, doença que causa a retenção das articulações do corpo. Foi no futebol americano que encontrou a inclusão. “É um esporte bem democrático, sempre ouvi histórias de pessoas nos Estados Unidos da América que mesmo com deficiência começavam a jogar. Os jogadores são a minha segunda família, não consigo mais imaginar a minha vida sem o futebol americano”. A definição de família para o time faz parte do depoimento de cada um dos jogadores. Gabriel Labarba, 22, faz parte do grupo desde 2013. “A união e a disciplina do time nos torna uma família”. O mesmo é dito por Wanderson, 29, que é responsável pela união e entrosamento do grupo. “Como uma família, a gente briga, discute, mas sempre um ajudando ao outro tanto dentro, quanto fora de campo”.


ESPORTE

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PROFISSIONAL O Cascavel Olympians se prepara para jogar pela primeira vez no Campeonato Paranaense. O treinador Alexandre está otimista na participação do grupo na disputa, ao fazer uma comparação com os demais times. “Em 2014, o Maringá participou pela primeira vez do Paranaense e chegou à semifinal. Em 2015, a Universidade Federal participou pela primeira vez e também chegou à semifinal [...] Então a minha meta para este ano é chegar à semifinal”. Além do Campeonato Paranaense, eles também participarão da Copa Sul, campeonato que abrange todos os times de futebol americano do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em jogos profissionais, a Federação Paranaense exige a idade mínima de 16 anos dos jogadores. Os interessados passam por uma seletiva, na qual realizam algumas provas. “Existem várias provas, tem a de 40 jardas, a de três cones, prova de shuffle e catch de bola”, explica o treinador. Ele conta que na última seletiva compareceram em torno de 50 pessoas, sendo que 35 foram selecionadas para entrarem no time.

A união e a disciplina do time nos torna uma família Gabriel Labarba

INÍCIO DE TUDO: UNIÃO DOS JOGOS Tudo começou há 150 anos, quando as faculdades de Harvard e Yale realizaram um campeonato e durante um jogo houve um desentendimento: uns jogavam com as mãos e outros no estilo de futebol de campo. Para resolver o impasse surgiu o futebol americano. Hoje é o esporte mais praticado nos Estados Unidos. A modalidade é tão importante para eles que há um campeonato entre as universidades. Jogos que além de lotarem estádios são transmitidos pela TV. A liga profissional é conhecida como NFL (Liga Nacional de Futebol) e sua final é um dos maiores eventos do ano. O Super Bowl é um evento que além de trazer shows de grandes nomes da música traz prévias das principais séries de TV. Conhecido mundialmente por ser mais violento que outros jogos, o futebol americano exige agilidade, força e capacidade tática de seus atletas. Por isso, não se assuste com o tamanho de alguns jogadores. Eles precisam de força e tamanho para atacar e defender os times.

Representação de um campo de Futebol Americano

FALANDO NOS TIMES, VOCÊ SABE COMO É FEITA A DIVISÃO DELES? Os times são formados por 40 jogadores cada, sendo apenas onze em campo, o time é dividido em três unidades: ataque, defesa e os especialistas. No ataque há quatro posições, quarterback, bloqueadores, corredores e recebedores. A defesa é composta pela linha defensiva, os linebackers e a linha secundária. Faz parte dos especialistas o long snapper, holder, kicker, punter, kick returner. O campo de jogo tem a forma de um retângulo de 120 jardas (109,73 m) por 53 e ¹/3 jardas (48,76 m). O campo é delimitado por linhas laterais e linhas finais. Há 10 jardas (9,14 m) das linhas finais se encontram as linhas de gol, sendo que elas têm a distância de 100 jardas (91,44 m) uma da outra. A área livre entre elas é denominada campo de jogo, depois das linhas de gols é a área de finalização. Veja abaixo um desenho do campo: Agora que já conhecemos as posições, o campo, por que não damos uma olhadinha nas regras e pontuação? As regras são simples. O jogo é divido em quatro tempos de 15 minutos cada, com um intervalo de 12 minutos entre cada tempo. Cada time deve entrar em campo com 11 jogadores, sendo que pode haver substituições a qualquer momento. No primeiro e terceiro tempo há o Kickoff, que é o marco inicial da primeira e segunda parte do jogo. Essas são as regras base do esporte. Acha que acabou por aqui? Não, ainda tem mais coisa para explicar, vamos lá:

A pontuação do jogo é diferente do futebol de campo, no americano há cinco formas de pontuação, a mais famosa e importante é o “touchdown”, porém, também temos o “extra point”, o “fiel goal”, “Safety” e a conversão de dois pontos. Até pode p a r e c e r complicado de entender agora, mas a ideia geral do jogo é bem fácil.

O time que mais pontuar ganha, assim como no futebol brasileiro Interessou-se pelo esporte? Porque não dá uma passadinha no Centro Esportivo Ciro Nardi e assiste a um treino do time cascavelense? Os treinos acontecem todos os domingos a partir das 15 horas. Quem sabe você não se torna um futuro jogador!

Presidente do Cascavel Olympians Wanderson Nunes defende as cores do time da cidade desde 2014 Foto: Lyrian Periolo


16 LITERÁRIO

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NEM SEMPRE É O QUE PARECE

Lyrian Periolo Encarei o antigo casarão com um frio subindo a espinha. Entrava ou não? Balancei a cabeça negativamente. Todas as pistas coletadas me levavam até aquele lugar e uma vida estava em jogo: não era hora para desistir. Passei pelo portão alto e enferrujado e fui até a porta que já estava meio aberta. Respirei fundo mais uma vez antes de empurrá-la o suficiente para que eu entrasse e assim que coloquei os pés para dentro ouvi o piso de madeira ranger sob meu peso. “Maldita lasanha” - ralhei mentalmente. Voltei a caminhar observando tudo ao meu redor. Não era muito diferente de outras casas abandonadas: móveis espalhados pelos cômodos, vidros quebrados pelo chão, uma camada grossa de poeira sobre toda e qualquer superfície. Comecei a rezar para que minha rinite alérgica não resolvesse dar o ar da graça enquanto estivesse lá dentro. Fui tirada de meus devaneios por um barulho no andar superior que nem preciso dizer que fez meu ritmo cardíaco aumentar consideravelmente. Permaneci encarando o teto por alguns segundos como se minha visão de raio-X inexistente começasse a funcionar, mas como não começou, tive que tomar coragem e me dirigi até as escadas. Estiquei o pescoço para tentar ver algo, mas sem sucesso, comecei a subir os degraus, que como o resto da casa, rangia sob meus pés. Cheguei ao segundo andar com os olhos encarando todo e qualquer movimento, mas o que quer que fosse que tivesse feito o barulho deveria estar em um dos quartos e não no meio do corredor. Olhei da direita para a esquerda demoradamente. Para que lado ir? Eu me fazia essa pergunta, mas já sabia a resposta. Mesmo sem nenhum movimento um barulho baixo e contínuo vinha da última porta do corredor à minha direita, e era para lá que eu deveria ir. Respirei fundo pela décima vez nos últimos cin-

CHARGE

co minutos e fui até o quarto, andando consideravelmente devagar para que as tábuas sob meus pés não fizessem barulho. Depois de angustiantes minutos, finalmente cheguei até a porta que se encontrava entreaberta e espiei lá dentro. O cômodo estava com todos seus móveis arrastados para as extremidades, mas o que me chamou a atenção não foi isso e sim o assassino no meio do quarto, que se debruçava sobre sua vítima em uma poça de sangue. Arregalei os olhos enquanto meu coração disparava, martelando no peito. Uma pessoa normal gritaria ou sairia correndo, mas meu corpo resolveu brincar de estátua, permanecendo petrificado no lugar. Quando, finalmente, consegui me mexer percebi que minhas mãos tremiam. Fechei os olhos e cerrei os punhos tentando me acalmar, entrar em pânico só pioraria a situação. Assim que voltei a abrir os olhos somente um pensamento brilhava em minha mente como uma placa de "neon": SAIA DAÍ! E foi o que fiz me afastando da porta em direção à escada. - Creck! Baixei o olhar para o pedaço de madeira partido em dois sob meu pé. “Droga”. A movimentação no quarto atrás de mim foi o

suficiente para que meu corpo se mexesse sozinho. Sem mais alternativas, comecei a correr. Eu já descia a escada pulando de dois em dois degraus quando a porta bateu estrondosamente, os rangidos altos e violentos mostrando que meu perseguidor não teria piedade se me alcançasse. Os móveis no primeiro andar pareciam ter se reagrupado propositalmente ficando em meu caminho. Tive que pular por cadeiras quebradas, desviar de estantes vazias e empurrar cômodas parcialmente desmontadas. Quando finalmente alcancei o trinco da porta ouvi uma das cômodas ser violentamente quebrada. Ele estava ali. Admito que foi mais instinto do que razão, mas sem olhar para trás saí e fechei a porta, confinando meu perseguidor dentro da casa. Travei o trinco com uma cadeira velha da varanda, enquanto o segurava com as mãos trêmulas. A porta estremeceu com o impacto vindo de dentro, mas a mantive fechada. Mais três pancadas e, finalmente, o silêncio. Já estava pronta para comemorar quando a janela ao meu lado explodiu em um mar de cacos de vidro. Deixei a porta para trás e corri até minha última barreira: o portão. Por sorte o deixei aberto, então só precisei puxá-lo ao passar. Assim que a trava fechou meu perseguidor atirou-se furiosamente contra o metal, me obrigando a recuar alguns passos. Ele arranhava e empurrava o portão repetidas vezes sem sucesso. Finalmente, consegui respirar aliviada, mas tenho certeza que aqueles olhos negros e as presas pontiagudas povoariam meus sonhos por algumas noites. No caminho para casa peguei meu celular e liguei para minha avó. - Vovó, encontrei sua galinha, mas não acho que a senhora vai querê-la de volta.


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