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A força feminina dentro da comunidade Mauá
Sentadas na varanda de uma das primeiras casas da Ocupação Mauá, as irmãs Vanusa Patrícia Antunes de Sá, de 35 anos e Shauane Bianca Antunes de Sá, de 26, em um misto de sorrisos e lágrimas partilham suas histórias de lutas, de desafios e de vitórias.
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Escolhidas por aclamação popular e de maneira unânime, as duas mulheres são as lideranças responsáveis por fazer os hectares de terra se tornarem lares seguros para aqueles que tiveram negado o direito à moradia e buscam na comunidade Mauá um refúgio. “Se faltar 1kg de feijão, 1kg de arroz, a gente tá aqui pra ajudar. Nós vamos dar um jeito. Tem outros [moradores] que têm família, mas não podem contar com elas, eles contam com a gente” relata Shauane.
As irmãs, moradoras da Mauá há três anos, sentadas em frente a casa, que construíram com as próprias mãos, pedaço por pedaço, contam eufóricas e com brilho nos olhos as suas conquistas, refletindo sobre os anos de uma luta que parece não ter fim, mas que continua por amor à causa: “Para nós, é muito difícil. É a mesma questão da água, isso é desumano. Eu choro e fico com raiva, porque, hoje em dia, as pessoas não enxergam isso. Pra eles, é muito fácil, muito prático virar as costas e não ver a realidade do ser humano e julgar”, conta Vanusa, sem conseguir conter as lágrimas.
O papel da liderança torna o caminho árduo e promove desafios quase diários. Desde a necessidade de provarem o seu valor como mulheres representantes da comunidade, como a desafiadora tarefa de mediar a vida e os conflitos de mais de 60 famílias: “É difícil, até agora, tem muitos homens que não aceitam a gente. Eles falam que a gente não manda, que a gente só faz. A gente não quer man- dar em nada, a gente só quer o respeito pelo que a gente faz”, comenta Shauane.
O exemplo da força feminina, concretizado na imagem e no trabalho das duas lideranças, impactou diretamente a realidade de outras moradoras: “Muitas [mulheres] falam que se espelham em nós, pelo que nós somos e conseguiram ter coragem para ficar sozinhas”, conta Shauane, orgulhosa.
Entre as jovens mulheres moradoras, acompanhando atentamente esse emaranhado de narrativas, está Sábata Ester de Sá Lara, de 15 anos, filha mais velha de Vanusa.
Para ela, o trabalho da mãe e da tia não é só necessário, mas um exemplo a ser seguido. “Eu sempre falo pra ela: se um dia eu for metade da mulher que tu é, e vou ter muito orgulho de mim.
Só eu e ela sabemos o que a gente já passou.
Eu tenho muito orgulho", comenta Sábata, com lágrimas nos olhos e emociona quem escuta.
A adolescente divide o dia a dia com a tia e é um braço direito para a mãe dentro da comunidade. Acostumadas a lutar por tudo que conquistaram, mãe e filha representam a história de muitas outras mulheres: “Eu fui mãe solteira, então a gente sempre foi muito unida. Eu sempre trabalhei muito. Ela [Sábata] foi meu porto seguro. Por ser mãe solteira, tu tem que aprender a lutar sozinha”, conta Vanusa.
Uma geração de mulheres fortes que têm sua origem na matriarca da família: Sueli Antunes, de 56 anos, mãe de Vanusa e Shauane, avó de Sábata. A mãe e avó, que hoje não mora na comu- nidade, é a inspiração desse legado de força e determinação, carrega em sua trajetória as consequências de um câncer de mama, o abandono do marido e a criação solo de seus filhos e netos.
“Eu ensinei elas a trabalhar desde que eu tive câncer. Foi quando comecei a ensinar elas a fazerem as coisas, a lutar pela vida. Eu sempre achei que podia proteger elas, fazer tudo, dar tudo para elas, mas uma hora eu vi que não podia mais”, relata Sueli. Grande parte das adversidades, na comunidade Mauá, têm sido superadas através da
Da esquerda para a direita: Sábata, Vanusa, Sueli, Shauane e a pequena Agatha, três gerações de lideranças femininas resiliência, da facilidade em se adaptar às mudanças, e da perseverança de seus moradores. As líderes comunitárias são obrigadas a superar limites e romper preconceitos sociais que desmerecem o papel das mulheres enquanto representantes e capazes. Shauane, Vanusa, Sábata e Sueli são os símbolos da força feminina: se conectam na luta de tantas outras mulheres que têm suas vidas marcadas pelos obstáculos, mas, também, pela solidariedade e cuidado ao próximo. n