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Projeto garante comida no prato de moradores

Cozinha comunitária na Ocupação Mauá gera gratidão em quem consome e em quem faz as refeições

Aequipe do Enfoque foi recebida pelas líderes da Ocupação Mauá, Vanusa Patrícia Antunes de Sá, de 35 anos, e Shauane Bianca Antunes de Sá, 26 anos, com um rico café da manhã, que incluía cacetinhos, mortadela, margarina e uma garrafa térmica grande de café recém feito, posto na mesa da área externa na casa de Vanusa.

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As duas irmãs, além de desempenharem o papel de lideranças da Ocupação, estão à frente da cozinha comunitária na Mauá. O local onde os repórteres do Enfoque foram acolhidos, é o mesmo lugar em que cerca de 80 pessoas recebem uma refeição toda quarta e sexta-feira, através do projeto São Léo Mais Comida no Prato, da Prefeitura Municipal. Mas, antes mesmo do programa ser lançado, em junho de 2022, a cozinha comunitária, criada pelas irmãs, já desempenhava o papel de levar refeições aos moradores da Mauá.

A ocupação surgiu em agosto de 2020, em plena pandemia de Covid-19, próxima à Avenida Mauá. Poucos meses depois, em novembro, já estava ativa a cozinha comunitária das 17 famílias que iniciaram morando no local. “No início, a gente não tinha uma cozinha, era um galpão de lona na frente da minha casa”, explica Shauane. A irmã, Vanusa, complementa contando como era o fogão improvisado: “nós colocamos umas pedras, catamos lenha e pegamos emprestado um panelão, e ali nós fazíamos galinhada, feijoada…”. Shauane recorda que “todo mundo trazia um pouquinho”.

É este espírito de solidariedade e ajuda ao próximo que mantém viva a cozinha comunitária na Mauá. Além das irmãs, a mãe das duas, Sueli Antunes, de 56, e a filha de Vanusa, Sábata Ester de Sá Lara, de 15, também fazem parte do projeto. “Quando surgiu a ideia da cozinha eu falei pra elas ‘eu que vou cozinhar, eu vou fazer a comida’”, fala Sueli. A mãe das líderes da Ocupação é quem mais fica à frente no preparo dos almoços. “É gratificante fazer parte da cozinha comunitária. As pessoas falam pra mim ‘Deus te abençoe e abençoe tuas mãos pelo o que tu faz, isso que tu está fazendo não tem preço’”, conta.

Hoje, a cozinha não funciona mais no pátio de Shauane, mas nos fundos da casa de Vanusa.

Pelo espaço ser pequeno, somente as quatro integrantes da família cozinham e auxiliam no preparo dos alimentos. Apesar disso, o sonho é maior: “quando formos pro galpão, pretendemos chamar muito mais gente. Aí, vamos ter uma escala para todas as mulheres que não tem emprego ajudarem”, diz Vanusa. O ‘galpão’ é uma meta de todos da comunidade e seria um espaço de convivência dos moradores da Mauá, além de uma nova e maior estrutura para a cozinha comunitária.

Antunes Cozinheira no projeto São Léo Mais Comida no Prato

No dia da entrevista, a Ocupação possuía apenas as telhas para esta construção. No decorrer da semana, a ONG Cidadania e Moradia, dos funcionários da Caixa Econômica Federal, por intermédio de representante da Rede Solidária São Léo, liberou 23 mil reais para o projeto do galpão. Para as lideranças, a maior dificuldade não é ad-

Vanusa e Sueli comandam a cozinha comunitária da Ocupação Mauá. À direita, o local onde são preparadas refeições para cerca de 80 pessoas, todas as quartas e sextas-feiras quirir ingredientes para a produção das refeições, mas sim os dias chuvosos, em função da comida ser servida na área externa da casa da Vanusa. Por isso, o galpão da comunidade irá sanar esta e outras necessidades dos moradores.

AUXÍLIO GARANTE INGREDIENTES

O programa São Léo Mais Comida no Prato auxilia na compra de comida e ajuda na continuação da cozinha da Ocupação. A prefeitura encaminha verba mensal a 26 cozinhas comunitárias e com esse valor, as lideranças de cada comunidade realizam as compras dos ingredientes necessários para o preparo das refeições. Sábata, filha de Vanusa, conta com alegria sobre fazer parte do projeto: “saber que as pessoas têm ali- mento garantido toda quarta e sexta, é muito gratificante. Às vezes as pessoas contam só com esse alimento no dia delas”. Ela ainda reforça como a casa dela e da mãe é um ponto de referência quando moradores precisam de auxílio. “Nesses dois dias, as pessoas sabem que vão ter comida e que elas podem vir pra cá. E a gente não tinha isso, de poder pegar comida em outro lugar. Agora com o Comida no Prato, isso é possível!”. A verba permanente da prefeitura e a doação de um fogão e um forno industrial - realizada no início de 2023, pelo deputado federal Dionilso Marcon, do Partido dos Trabalhadores (PT) - auxiliam no funcionamento da cozinha comunitária da Mauá. Porém, para elas, o que mais motiva a continuidade do trabalho é a gratidão e a satisfação em ajudar e ver resultados. Vanusa se emociona ao falar da fome que as pessoas passam. “A gente nunca passou fome, mas tu ver uma criança não tendo um prato de comida pra comer, é muito difícil. Isso é desumano, é a palavra que eu uso sempre. É desumano um filho meu ou de alguém não ter um litro de leite para tomar”, diz, em lágrimas.

Sueli, que tem orgulho de chefiar o preparo das refeições, diz que mesmo quando há poucos ingredientes, coloca temperos comprados com o próprio dinheiro para entregar um alimento gostoso e feito com carinho. “Saio cansada de cozinhar, mas com o sentimento de dever cumprido. O dia que eu não posso vir [na cozinha], eu fico com a consciência pesada”, conta.

Já Vanusa, diz que na Ocupação nunca são preparadas poucas porções de comida, independente da quantidade de itens para o preparo: “aqui pode faltar água e luz, mas comida nunca mais faltou, graças a Deus”. Apesar de ainda enfrentarem algumas dificuldades, afirma que a alegria em ver alguém feliz por receber uma refeição paga o esforço de todas elas. Vanusa finaliza: “Só de ver uma criança comendo feliz… sabe o que é isso? Não tem preço!”. n

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