Boletim Observatório Econômico - Mês de agosto

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EconomiABC

Análise de Conjuntura

Agosto/2013

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Faculdade de Administração e Economia

Ciências Econômicas


EconomiABC Análise de Conjuntura Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de Administração e Economia Curso de Ciências Econômicas Observatório Econômico Reitor Prof. Dr. Márcio de Moraes Diretor da Faculdade de Administração e Economia Prof. Dr. Luciano Venelli Coordenadora do Curso de Ciências Econômicas Profa. Ma. Silvia Cristina da Silva Okabayashi Professores Prof. Me. Sandro Renato Maskio Prof. Me. Walter Grecov Estagiária Bruna Romualdo Teixeira

www.metodista.br/observatorio-economico

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s opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Observatório Econômico ou da Faculdade de Administração e Economia da Universidade Metodista de São Paulo. É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas.

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO PANORAMA ECONÔMICO MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA INFLAÇÃO MERCADO DE TRABALHO COMÉRCIO EXTERIOR OPINIÃO

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APRESENTAÇÃO A

terceira edição do Boletim EconomiABC traz importantes números e análises acerca da economia da região do Grande ABC paulista e do Brasil ao longo do 1º semestre de 2013, e ainda conta com a participação do Prof. Dr. Ladislau Dowbor, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na coluna Opinião, com a publicação do texto “A Economia do Desenvolvimento Local”. Vale ressaltar a participação de alunos do curso de Ciências Econômicas na elaboração desta edição, participação esta de suma importância para a integração do ensino e da pesquisa, da teoria e da prática.

Alunos envolvidos na elaboração do boletim: MERCADO DE TRABALHO Leandro Aparecido Sanches de Almeida Cristiane Tieme Sá Silva Ganaka INFLAÇÃO Anne Caroline Silva Oliveira Bruno Alves dos Santos FINANÇAS Willian Alves de Souza

Silvia Cristina da Silva Okabayashi Coordenadora do Curso de Ciências Econômicas Universidade Metodista de São Paulo

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PANORAMA ECONÔMICO O

primeiro semestre de 2013 revelou indicadores não muito animadores em relação ao desempenho da economia. No início do mês de julho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu a expectativa de crescimento econômico mundial para baixo (de 3,3% para 3,1%), a um nível menor que o previsto para o ano de 2012 (3,5%).

Previsão de Crescimento Econômico em 2013 - FMI

Mundo EUA Japão Zona do Euro Alemanha Países emergentes China América Latina México Brasil

PIB (% a.a.) 3,1% 1,7% 2,0% -0,6% 0,3% 5,0% 7,8% 3,0% 2,9% 2,5%

FONTE: Fundo Monetário Internacional

Não só o FMI, mas também o Banco Mundial e a Organização das Nações Unidas (ONU) revisaram para baixo a expectativa de crescimento da economia mundial em 2013 (2,2% e 2,3%, respectivamente). Discordâncias de estimativas à parte, todos concordam que a desaceleração tenderá a ser maior nos países emergentes, incluindo os BRICS, embora estes devam apresentar taxas de crescimento maiores que os países desenvolvidos. Segundo as recentes projeções do FMI, os EUA deverão apresentar um crescimento de 1,7% neste ano, enquanto a Zona do Euro deverá ter uma recessão de 0,6%. A persistência de incertezas, como a crise na Zona do Euro, problemas de déficit fiscal nos EUA e “novos riscos em médio prazo”, assim como “os possíveis efeitos prejudiciais das medidas monetárias adotadas no Japão” são as causas dessa desaceleração, segundo o FMI.

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estimulem a atividade econômica, eventuais probabilidades de insolvência de alguma instituição financeira, entre outros assuntos. Esses efeitos têm provocado uma estagnação da atividade econômica ao longo do tempo. Analisando os últimos 10 anos a economia mundial cresceu em média 4,74% a.a entre 2003 e 2007; e apenas 2,98% a.a. entre 2008 e 2012. Banco Mundial advertiu também que as grandes economias em desenvolvimento, que nos últimos anos conduziam a expansão mundial, não terão o mesmo desempenho que tinham antes da crise financeira e terão que se concentrar em fazer reformas estruturais para seguir crescendo. A moderação nas taxas de crescimento já pode ser sentida na queda dos preços das matérias primas, que afetam países como o Brasil. Para o Banco Mundial, este é o momento dos países emergentes reequilibrarem suas economias.

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Após o crescimento de apenas 0,9% em 2012, no primeiro trimestre de 2013 a economia brasileira cresceu 1,92%, comparando-se ao primeiro trimestre de 2012. Nos 12 meses compreendidos entre o segundo trimestre de 2012 e o primeiro de 2013, o crescimento acumulado é de 1,16%, menor que os 1,89% registrados no acumulado dos 12 meses imediatamente anteriores. A diferença é que, entre o início de 2010 e o segundo trimestre de 2012, o crescimento econômico brasileiro estava em uma trajetória de redução. Após esse período, dados trimestrais do PIB vêm apresentando uma reorientação da trajetória de crescimento, o que tenderá a resultar em um crescimento econômico maior em 2013, comparativamente a 2012. Ainda assim, as expectativas do mercado brasileiro sobre o crescimento econômico, medidas semanalmente no Relatório Focus, que é divulgado pelo Banco Central, vêm diminuindo ao longo do ano. A previsão de crescimento econômico para 2013, que em janeiro era de 4,25%, nas últimas semanas estava em 2,25%.

FONTE: FMI, IBGE e SEADE

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ualitativamente, podemos observar uma diminuição no ritmo de expansão do consumo das famílias, que fora tão importante nos anos anteriores na composição do desempenho da economia, reflexo do esgotamento da centralização da política em estimular o consumo. Após a retração de 4% no fluxo de investimento em 2012, cujos efeitos negativos se farão sentir ao longo dos semestres, observamos uma melhora no ritmo de expansão dos investimentos, sinalizando uma tendência à recuperação do nível anterior. Setorialmente, a maior preocupação é com a indústria de transformação, que apresentou uma retração de 1,37% no primeiro trimestre de 2013, dando sequência a uma trajetória de retração desde o final de 2011. Entre outros fatores, a indústria tem sido afetada pela dinâmica do setor externo da economia. Os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o primeiro trimestre deste ano apontam uma diminuição das exportações na composição da economia (no acumulado em 12 meses), frente a um leve aumento das importações. O baixo desempenho da atividade econômica refletiu-se no ritmo de geração de empregos. No primeiro semestre de 2013, houve uma redução de 21% na geração de empregos formais no Brasil, desacelerando em relação ao final de 2012. Após um ano muito ruim para a geração de empregos, até julho deste ano registrou-se um aumento de 39% na geração de empregos na indústria de transformação em relação a igual período do ano anterior. Regionalmente, este comportamento também é observado. Após perder mais de 7.000 empregos formais em 2012, o Grande ABC já registra um aumento de 2.667 empregos na indústria no primeiro semestre, apontando uma reacomodação neste novo patamar. Diante do fortalecimento do debate sobre a eficácia das medidas de estímulo à economia em 2012, o aumento dos índices de inflação e a diminuição do ritmo de crescimento econômico, a equipe econômica tem o desafio de acomodar diferentes interesses, inclusive políticos. Após algumas incertezas sobre a orientação a ser seguida na política econômica nos últimos meses, o Banco Central aumentou mais de uma vez a taxa básica de juros na economia e o próprio governo passou a adotar o discurso de que fará os esforços que forem necessários para combater a inflação. Entretanto, ainda persiste o desafio de buscar algumas alternativas para melhorar o ritmo de crescimento da economia, haja vista a proximidade das eleições federais e o descontentamento revelado em vários protestos realizados no país. Realizar as reformas almejadas pela população e declaradas nas ruas, bem como as melhorias estruturais apontadas pelo Banco Mundial, requer mais que vontade política. Estas requerem planejamento, reorganização política e reformulação da máquina do Estado, além de melhoria na efetividade da alocação dos recursos públicos e de tempo.

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MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA C

om a reversão da política monetária, que passou a apresentar um viés contracionista com a elevação da taxa básica de juros, o ritmo de expansão das operações de crédito desacelerou ainda mais em comparação a 2012, que já delineava uma amenização no ritmo de expansão. Fatores como a elevação do nível de endividamento das famílias e do grau de comprometimento de suas rendas já neutralizam grande parte dos esforços para tentar impulsionar o consumo desde o ano passado. No primeiro semestre de 2013, somaram-se a estes o aumento dos preços e também a elevação da taxa básica de juros, com reflexos sobre o custo de endividamento.

FONTE: Banco Central do Brasil

A desaceleração observada nas operações de crédito refletiu diretamente na atividade comercial. Segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio, realizada pelo IBGE, o crescimento das vendas apresentou o pior desempenho desde o 1º semestre de 2009, em plena efervescência dos impactos da crise de 2008. Segundo dados do IBGE, a atividade comercial cresceu apenas 4,97% no Brasil e 3,99% no Estado de São Paulo.

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FONTE: IBGE

A alteração no comportamento do consumidor também afetou o setor comercial do Grande ABC. Nas últimas quatro pesquisas de intenção de compra realizadas na região (Dia das Crianças, Natal, Dia das Mães e Dia dos Pais), os consumidores reduziram sua disposição em gastar, com exceção do Dia das Mães. As pesquisas também revelaram, pontualmente, uma redução na intenção de utilização de crédito para pagamento, muito provavelmente pelo elevado grau de endividamento em que grande parte dos consumidores se encontra. Segundo o Banco Central, atualmente, o endividamento médio das famílias brasileiras corresponde a 44,23% da renda acumulada por estas em 12 meses, um dos maiores percentuais já observados. O cenário tem provocado um elevado índice de inadimplência. Embora os índices de inadimplência tenham diminuído levemente no último mês de junho e que, na comparação com mesmo mês de 2012, a variação seja insignificante, a questão é que a taxa de inadimplência tem se mantido em um nível elevado. Comparando a média do índice de inadimplência do primeiro semestre de 2013 em relação ao mesmo período de 2012, houve um aumento de 7,54% no total geral das operações de crédito, e de 18,62% nas operações junto às financeiras e cartões de crédito. A situação se agrava se realizarmos essa comparação no acumulado dos últimos 12 meses, cujos resultados estão no gráfico a seguir. Isso porque, ao longo do 1º semestre de 2012, houve uma forte expansão da inadimplência.

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FONTE: Serasa Experian

Com o aumento da taxa básica de juros (Selic) nos últimos meses, o custo das operações de crédito (como o cheque especial e capital de giro) deverá sofrer um pequeno aumento, revertendo as condições do cenário que possibilitou uma redução das taxas de juros dos mecanismos de crédito entre os anos de 2011 e 2012, como observado na tabela a seguir.

TAXAS DE JUROS (% a.a.)

Selic TJLP Capital de Giro Cheque Especial

dez/10

dez/11

dez/12

mar/13

abr/13

maio/13

10,75 6,00 21,40 170,71

11,00 6,00 20,21 169,60

7,25 5,00 15,05 138,04

7,25 5,00 15,73 137,94

7,25 5,00 16,44 136,82

7,50 5,00 15,86 136,32

jun/13 8,00 5,00 17,96 136,79

FONTE: Banco Central do Brasil

O primeiro semestre de 2013 marcou uma reversão na trajetória da política monetária, mediante o aperto no combate à inflação. No mesmo período em que o Comitê de Política Monetária (COPOM) voltou a aumentar a meta para a taxa básica de juros, o real apresentou uma desvalorização no mercado cambial.

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INFLAÇÃO N

os últimos 12 meses, a inflação acumulada, mensurada pelo IPCA, apresentou uma trajetória crescente, tanto no Brasil quanto na Região Metropolitana de São Paulo. O ano de 2012 fechou com uma inflação acumulada de 5,84% no Brasil. Passado o primeiro semestre de 2013, a inflação acumulada em 12 meses já soma 6,7%, superior aos 6,5% da banda superior da meta de inflação estipulada pelo COPOM. Ainda que, nos últimos meses, a inflação mensal venha apresentando uma tendência de redução, as ações de política monetária terão de ser bastante eficazes para reduzir a inflação acumulada em 2013 abaixo dos 5,84% observados no ano passado. Diante deste cenário, a expectativa do mercado medida pelo Relatório Focus, do Banco Central, é de que a inflação feche o ano registrando uma variação de 5,66%.

FONTE: IBGE

Um dos reflexos desta elevação da inflação tem se observado no orçamento das famílias, especialmente nas despesas com alimentação. No Grande ABC, a cada mês, o custo da cesta básica tem registrado novos recordes. O custo da cesta básica no Grande ABC vem se elevando desde o primeiro trimestre do ano passado, segundo levantamento da Companhia Regional de Abastecimento de Santo André (CRAISA). Nos últimos 12 meses, o custo da cesta básica foi de 13,15%, chegando a R$ 430,00, aproximadamente 65% do salário mínimo atual.

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FONTE: CRAISA

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esmo diante do cenário de elevação da inflação, até meados do primeiro semestre de 2013, a equipe econômica do governo não havia deixado claro que o combate à inflação faria parte dos objetivos centrais da política econômica, tendo apenas adotado ações paliativas. Somente em abril o governo assumiu o discurso de que faria todos os esforços necessários para combater a inflação, quando então o COPOM decidiu pelo aumento da taxa básica de juros da economia. Atualmente, o Banco Central acena que a taxa básica de juros poderá ser elevada novamente nas próximas reuniões do COPOM. A alteração de orientação na política monetária, juntamente com a expectativa de uma desaceleração do crescimento econômico em diversos países do mundo, tenderão a desacelerar a atividade econômica no Brasil, o que também preocupa a equipe econômica.

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MERCADO DE TRABALHO F

rente às novas características presentes na economia brasileira, a geração de empregos formais no Brasil no primeiro trimestre diminuiu pouco mais de 20%. Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego medida pelo IBGE apresentou um pequeno aumento de 5,4% para 6,0% da População Economicamente Ativa (PEA), entre janeiro e junho de 2013. No Grande ABC, o mercado de trabalho apresentou um comportamento diferente, mas não distante da conjuntura que envolve a economia nacional. O volume de novos empregos formais gerados no Grande ABC foi de 8.679 no primeiro semestre de 2013, 49% a mais que no primeiro semestre de 2012. Essa variação está associada especialmente ao comportamento da indústria no mercado de trabalho, que no ano passado desligou mais de 7.000 trabalhadores da região. Nos primeiros seis meses deste ano, a indústria local gerou 2.667 novos empregos formais, tendo sido a grande maioria no primeiro trimestre, marcando uma recomposição do setor, mesmo sofrendo com a questão cambial. Ainda assim, no Grande ABC, o saldo da indústria na geração de empregos foi negativo nos últimos 18 meses. Mesmo com a melhora no volume de geração de empregos formais em relação ao ano passado, a taxa de desemprego da região do ABC aumentou de 9,4% para 10,6% da PEA, entre janeiro e junho deste ano.

FONTE: SEADE

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esse mesmo período, o salário médio real dos trabalhadores ocupados no Grande ABC diminuiu de R$ 2.036,00, em dezembro de 2012, para R$ 1.961,00, em junho de 2013, uma redução real de pouco mais de 3%. Já o salário médio estimado dos trabalhados no mercado formal de trabalho, no Grande ABC, teve uma pequena evolução real de 1,68% nos primeiros seis meses do ano. Os gráficos a seguir apresentam os salários médios estimados no mercado formal de trabalho do Grande ABC.

FONTE: CAGED/RAIS – Ministério do Trabalho e Emprego

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FONTE: CAGED/RAIS – Ministério do Trabalho e Emprego

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omparativamente ao ano passado, não houve significativas alterações no volume de empregos formais, nem em sua distribuição entre os municípios e setores da economia. Essas alterações demandariam tempo e reestruturação produtiva. Entretanto, merece destaque o comportamento do setor de serviços, que tem sido o maior gerador de empregos no mercado formal da região. No primeiro semestre de 2013, o salário médio estimado do setor diminuiu aproximadamente 5%, fruto da rotatividade da mão de obra e da precariedade dos empregos em alguns subsetores do segmento de serviços, que é bastante amplo e muito diversificado.

COMÉRCIO EXTERIOR A

Balança Comercial do Grande ABC acumulou um déficit de US$ 335 milhões no primeiro semestre de 2013, agravando uma trajetória de deterioração do saldo comercial que vem desde 2011.

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Balança Comercial Brasileira também registrou déficit no primeiro semestre deste ano, a qual somou pouco mais de US$ 3 bilhões (FOB), ante um superávit de mais de US$ 7 bilhões no mesmo período de 2012. Este é o pior resultado para o 1º semestre do ano desde 1995. Os principais fatores da situação são: a crise internacional, que tem provocado uma lenta recuperação no ritmo de expansão do comércio internacional; a cotação cambial, com o real valorizado entre R$ 1,60 e R$ 2,00 por dólar desde o início de 2009, e a desaceleração no ritmo de retomada da economia mundial, que vem provocando uma redução nos preços das matérias primas no mercado internacional. Somente nos últimos 2 meses, a taxa de câmbio no Brasil apresentou uma desvalorização mais significativa do real, estando atualmente no patamar de aproximadamente R$ 2,25 por dólar. Se a taxa de câmbio se sustentar neste patamar nos próximos meses, tenderá a trazer efeitos positivos para a competitividade dos produtos brasileiros no exterior ao longo dos próximos períodos. Entretanto, a desvalorização do real também proporcionará uma elevação no preço dos bens importados, aumentando a pressão sobre a política monetária no combate à inflação.

FONTE: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Os fatores apontados acima demonstram uma expansão de 23,68% das importações no primeiro semestre no Grande ABC, e uma expansão de apenas 1,32% das exportações.

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etorialmente, a comercialização de bens intermediários apresentou um resultado deficitário de US$ 662,9 milhões no primeiro semestre de 2013, o que exprime a tendência de substituição dos fornecedores locais por fornecedores internacionais para atender a cadeia de produção de bens finais. Esse processo também contribuiu para entendermos o impacto que a indútria local vem sofrendo nos últimos anos, no Grande ABC. Os demais segmentos, embora tenham apresentado resultados comerciais positivos nos primeiros seis meses, tiveram reduções em seus superávits.

FONTE: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

O déficit na balança comercial apontado no primeiro semestre deste ano é um dos piores da história do Grande ABC. Em uma cadeia produtiva, na qual a produção industrial apresenta significativa capacidade de geração de valor adicionado e de impulsionar outros setores ligados à produção industrial, a desaceleração das exportações e a ampliação da participação dos importados no mercado local têm enormes e preocupantes impactos sobre economia regional. Alguns dos dados apresentados nesta edição do Boletim EconomiABC, como o déficit na balança comercial, a redução no ritmo de expansão das operações de crédito, a desaceleração na expansão da atividade comercial e o aumento da taxa de desemprego, corroboram com a expectativa de que não havia evidências claras, em dezembro de 2012, de que ano de 2013 traria uma melhoria significativa na dinâmica econômica do Grande ABC. Em grande parte, o desafio imposto pela conjuntura econômica atual nos chama atenção para a necessidade de ampliarmos nossa capacidade de artircularmos uma política microeconômica voltada ao estímulo da oferta e à ampliação da capacidade produtiva. A longo prazo, estaremos fadados à repetição das mesmas dificuldades que estamos enfrentando atualmente, se não corrigirmos nossa miopia estratégica o quanto antes.

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OPINIÃO A ECONOMIA DO DESENVOLVIMENTO LOCAL Ladislau Dowbor

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s nossos debates econômicos têm se caracterizado por generalidades e um bocado de ideologia. Generalidades – a inflação, a dívida pública, o impacto da crise internacional, dentre outras coisas – importantes, sem dúvida, mas cujo debate tem de se basear em cifras muito concretas e bastante conhecimento das interações, e na sua ausência nos permite afirmar qualquer coisa sem muito risco. São temas suficientemente gerais para que não haja risco de ser flagrado em bobagens. A parte da ideologia é igualmente cômoda, pois nos permite assumir posições ditadas mais pelo fígado – sou a favor ou contra o governo Dilma, por exemplo – do que pela racionalidade; a ideologia nos permite ter opiniões fortes sem precisar nos dar ao trabalho de entrar nos detalhes que exigem conhecimento efetivo. Permite inclusive afirmar bobagens com certa dignidade ética. A economia do desenvolvimento local representa um avanço. Estamos falando no nosso município, na nossa cidade, onde vivemos e acumulamos um conjunto de conhecimentos que resultam desta vivência. Sabemos que o rio está poluído simplesmente pelo cheiro, sofremos no levantar mais cedo a perda de mobilidade urbana e assim por diante. De certa forma, devidamente informada, a população pode participar de maneira muito mais efetiva da gestão democrática dos espaços locais. Mesmo sem muita teoria econômica, a população de um bairro sabe perfeitamente quais ruas ficam enlameadas depois da chuva. As prioridades são sentidas na pele. As opiniões ganham lastro. As vivências e as opiniões não bastam, naturalmente, mas tornam muito mais concretos os dados que se difundem, as análises setoriais, os indicadores de mortalidade infantil, de qualidade da água, de mobilidade urbana e assim por diante. E, neste plano, temos avançado de maneira muito significativa. A globalização, muito real, tem mascarado esta dimensão local das políticas econômicas, sociais, culturais e ambientais. Crise financeira global, aquecimento global, sistemas globais de circulação do conhecimento – tudo isso é verdadeiro. No entanto, a qualidade do atendimento médico na nossa cidade é eminentemente local, bem como a segurança das nossas ruas, a qualidade do transporte coletivo, a riqueza ou pobreza cultural, a existência ou não de parques e piscinas públicas, espaços de lazer abertos e assim por diante. De certa forma, os principais fatores que definem a nossa qualidade de vida e o prazer do nosso cotidiano são eminentemente locais.

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o Brasil, 85% da população vive nas cidades. A urbanização faz com que aquilo que era feito pela população, na era rural, de maneira individual – lixo na valeta, água no rio e assim por diante – passe a fazer parte de serviços locais de recolha de resíduos sólidos, abastecimento de água, manutenção urbana etc. As iniciativas que eram da esfera individual passam a exigir soluções públicas, serviços de consumo coletivo. A população urbana depende vitalmente da organização do espaço local, do chamado ordenamento do território. Esse ordenamento envolve naturalmente interesses econômicos. Tradicionalmente, as grandes empreiteiras têm financiado as nossas eleições, e os resultados se observam em belos viadutos e na impermeabilização das cidades, em vez de investimentos em transporte coletivo de massa – que sai mais barato e mais rápido para todos – e em espaços públicos de lazer. Vender água rende, mas tratar esgoto menos, as pessoas já pagaram: o resultado é a situação catastrófica do saneamento básico nas nossas cidades. Este tipo de apropriação privada da política dos espaços públicos gera custos para a população, é um “custo Brasil” desdobrado nos seus componentes “custo São Paulo”, “custo Rio de Janeiro” e assim por diante. O que está na ordem do dia nos nossos 5.565 municípios é o resgate do ordenamento do território, em função da qualidade de vida da população. É a economia do desenvolvimento local sustentável. O resgate da dimensão pública da administração local passa por um salto na qualidade da informação da população sobre a sua própria realidade. De certa forma, trata-se de dar um lastro de conhecimento organizado ao conhecer prático que a população tem de sua cidade. Os avanços aqui têm sido muito significativos. O Orbis, no Paraná, organizou um sistema muito transparente de informação municipal. Belo Horizonte desenvolveu o Indicador de Qualidade de Vida Urbana. A Rede Nossa São Paulo criou um conjunto de indicadores, o IRBEM, indicadores de bem-estar municipal que permitem identificar as áreas críticas, os desequilíbrios territoriais (por exemplo, entre regiões bem ou mal providas em determinados serviços) e outras prioridades. Isso, por sua vez, permitiu o início de elaboração de Planos de Metas locais, articulando de maneira sinérgica as diversas prioridades e, sobretudo, dando uma base de organização sistêmica ao que, em geral, tem sido um mercado persa de venda de contratos, com as suas pomposas inaugurações e sobrevalorização das obras. Particularmente interessante é a rápida expansão da rede Cidades Sustentáveis. Mais de 200 prefeitos recentemente eleitos, representando 31% da população do país, assinaram a carta compromisso que detalha os objetivos a serem atingidos. Esta mobilização, aliada à expansão dos sistemas de indicadores que permitem detalhar os objetivos e monitorar os resultados, além da introdução de mecanismos participativos de planejamento gera uma nova cultura política local. A apropriação dessas tecnologias organizacionais pelos administradores públicos e pelas populações locais representa um avanço e um desafio.

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ara facilitar essa apropriação, o movimento Cidades Sustentáveis, com o apoio técnico do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP, gerou um conjunto de vídeos técnicos (GPS – Gestão de Políticas Sociais), com sugestões práticas de governança, organização da mobilidade urbana, inovações educacionais e assim por diante. São 13 vídeos de 14 minutos em média, que ajudam neste processo de qualificação das políticas locais. De certa forma, trata-se da reconstrução da democracia e da racionalidade econômica pela base.

Ladislau Dowbor é professor titular na pós-graduação de Economia e Administração da PUC-SP e consultor de várias agências das Nações Unidas. Os seus estudos podem ser baixados (Creative Commons) na íntegra no site: http://dowbor.org/2013/06/gestaopublica-sustentavel-gps-2013-13-videos-tecnicos-para-cidades-sustentaveis-media-14minutos-cada.html/. Os vídeos estão disponíveis online no YouTube. Colocando-se, por exemplo, GPS 07 no Google, aparecerá o vídeo “Educação para a sustentabilidade”.

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