Rudge Ramos Jornal - Edição 1.081

Page 1

www.rronline.com.br editorial@metodista.br facebook.com/rudgeramosonline

Produzido pelos alunos do Curso de Jornalismo Setembro de 2019

ANO 39 - Nº 1081

Começam saques de até R$ 500 do FGTS Medida Provisória do governo entrou em vigor este mês com o objetivo de movimentar a economia. Pág. 2 Milene Otta/RRJ

RETORNO

Banda do Baeta criada em 1960 prepara concerto em homenagem ao maestro Irineu Negrini. Pág. 8

» MEIO AMBIENTE - Lojas e confecções já investem em moda sustentável. Pág. 6

» SOLIDARIEDADE - Projeto Mão Solidária ensina handebol a jovens em situação de vulnerabilidade. Pág. 7

Yuri Sena/RRJ


2

ECONOMIA

RUDGE RAMOS Jornal da Cidade

17 de Setembro de 2019

Governo começa a liberar FGTS

Matheus Moreira/RRJ

Medida provisória disponibiliza saque de até R$ 500 das contas ativas e inativas da Caixa Econômica Federal Matheus Moreira

O FUNDO de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) tem como objetivo proteger o trabalhador demitido sem justa causa. Para isso, o empregador deposita, no início de cada mês, o correspondente a 8% do salário de cada funcionário em contas abertas na Caixa Econômica Federal que podem ser sacados em casos específicos, como demissão, compra da casa própria, entre oturos. Em julho, o presidente Jair Bolsonaro anunciou duas novas modalidades que possibilitam o saque do FGTS: o imediato e o aniversário. O saque imediato é aquele que todos trabalhadores titulares de conta do FGTS têm direito, sendo limitado até R$ 500 por conta, que pode ser ativa ou inativa. Na modalidade aniversário, é possível sacar anualmente parte do saldo e esse será de acordo com o mês de aniversário do titular da conta. Ao optar por esse tipo de retirada, a pessoa não poderá sacar o total da conta por motivo de demissão. Para a economista Ana Claudia Polato, da Universidade Federal do Abc (UFABC), o saque imediato movimentará a economia brasileira de forma positiva. “Os comerciantes, que tiveram um primeiro semestre

Rudge Ramos JORNAL DA CIDADE editorial@metodista.br Rua do Sacramento, 230 Ed. Delta - Sala 141 Tel.: 4366-5871 - Rudge Ramos São Bernardo - CEP: 09640-000 

Produzido pelos alunos do curso de Jornalismo da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo

desastroso, já estão mais esperançosos, mas a tendência é que esse dinheiro seja usado, na sua maioria, para o abatimento de dívidas”. SITUAÇÃO DOS ENDIVIDADOS De acordo com a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, realizada pela Confederação Nacional de Comercio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em julho, o número de famílias brasileiras endividadas chegou a 64,1%. Segundo a economista, para quem for sacar imediatamente, pagar dívidas e investir são as melhores opções. “Para a economia do país, esse abatimento de dívidas é de suma importância”. Nesse cenário, o psicólogo Eduardo Henrique Tácito, morador do bairro do Rudge, viu a oportunidade de reestabelecer o controle das contas, algo que tentava fazer desde 2012. “Finalmente vou poder acabar com a dor de cabeça de estar no vermelho, é um alivio enorme”. Em contrapartida, os inadimplentes têm dívidas muito mais altas do que os R$ 500 que poderão ser sacados, foi o que mostrou a pesquisa realizada em junho pela Confederação Nacional de Dirigentes e Lojistas (CNDL) e pelo Ser-

Carteira de trabalho, documento que garante a formalidade e o direito às novas modalidades de saque

FIQUE SABENDO Retiradas do FGTS: quem tem direito? Como sacar? O saque que passou a ser liberado em setembro poderá ser efetuado por todos os trabalhadores com carteira assinada: trabalhadores rurais, temporários, avulsos, safreiros (operários rurais que trabalham apenas no período de colheita) e atletas profissionais.

viço de Proteção ao Crédito (SPC). Segundo o estudo, os brasileiros devem, em média, cerca de R$ 3.200. Logo, o saque seria apenas

DIRETOR - Carlos Eduardo Santi COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO - Eduardo Grossi EDITORA-EXECUTIVA - Eloiza Oliveira (MTb 32.144) EDITORA DO RRJ - Camila Escudero (MTb 39.564) EDITOR DE ARTE - José Reis Filho (MTb 12.357) ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA - Maristela Caretta (MTb 64.183) EQUIPE DE REDAÇÃO - Amanda Caires Ferreira, Andressa Schmidt, Bárbara de Lira, Beatriz Lopes dos Santos, Caroline Ripane Assis, Daniel Vila Nova Rodrigues, Giovane Roberto Rodrigues, Giovanna Vidoto, Giulia Marini, Gustavo Brito de Jesus, Letícia Rodrigues, Luiza Carvalho Lemos Branco, Matheus Gomes Dias, Miguel Cyrino Rocha, Pedro La Ferreira, Sophia Gonçalves Villanueva, Vinicius de Oliveira dos Santos, e alunos do curso de Jornalismo.

Nos saques de até R$ 100 por conta, o beneficiário poderá realizá-los nas unidades lotéricas, utilizando o CPF e o documento de identificação. Já os saques de R$ 500 por conta, também podem ser feitos nas unidades lotéricas ou em agências da Caixa, mediante a apresentação do RG ou Cartão do Cidadão com senha.

para pagar parcialmente alguma dívida, caso de Renan Vicente de Souza, porteiro e também morador do Rudge. Apesar de poder sacar um

CONSELHO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO Valdecir Barreros (presidente), Aires Ademir Leal Clavel (vice-presidente). Conselheiros titulares: Almir de Oliveira Júnior, Andrea Rodrigues da Motta Sampaio, Cassiano Kuchenbecker Rosing, Marcos Gomes Tôrres, Oscar Francisco Alves Jr., Recildo Narcizo de Oliveira, Renato Wanderley de Souza Lima. Suplentes: Eva Regina Pereira Ramão e Roberto Nogueira Gurgel. Esther Lopes (secretária) e bispa Marisa de Freitas Ferreira (assistente do Conselho Geral das Instituições Metodistas de Educação). DIRETOR GERAL - Robson Ramos de Aguiar DIRETOR DE FINANÇAS, CONTROLADORIA E GESTÃO DE PESSOAS - Ricardo Rocha Faria DIRETOR DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E

dinheiro adicional, optou por não fazê-lo. “Pelo valor, não consigo quitar minha dívida, então prefiro deixar o dinheiro lá”. 

MARKETING - Ronilson Carassini DIRETOR NACIONAL DE ENSINO SUPERIOR - Fabio Botelho Josgrilberg DIRETORA NACIONAL DE EDUCAÇÃO BÁSICA - Débora Castanha GERENTE JURÍDICO - Rubens Gonçalves de Barros REITOR: Paulo Borges Campos Jr.; Coordenadora de Graduação e Extensão: Alessandra Maria Sabatine Zambone; Coordenadora de Pós-Graduação e Pesquisa: Adriana Barroso Azevedo; Coordenador de EAD: Marcio Oliverio. DIRETORES - Nilton Zanco (Escola de Ciências Médicas e da Saúde), Kleber Nogueira Carrilho (Escola de Comunicação, Educação e Humanidades), Carlos Eduardo Santi (Escola de Engenharias, Tecnologia e Informação), Fulvio Cristofoli (Escola de Gestão e Direito) e Paulo Roberto Garcia (Escola de Teologia).


RUDGE RAMOS Jornal da Cidade

ECONOMIA

17 de Setembro de 2019

Empreendedores jovens estão em alta no Brasil

3

Segundo a pesquisa DataSebrae 2018, 5% dos empresários no país têm entre 18 e 24 anos Fotos: Nathália Maretti/RRJ

Nathália Maretti

EM UM contexto de crise econômica vivido pelo Brasil nos últimos anos, no qual os empregos formais se tornam mais escassos, abrir o próprio negócio pode ser uma solução. Segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2018, o desejo de abrir o próprio negócio cresceu 15% entre a população brasileira. Em 2017, o número estava avaliado em 18%, já no ano seguinte, subiu para 33%. E os números não ficam só no desejo. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e com o Banco Central (BACEN), em 2018, foi registrado um crescimento de empreendedores no país, totalizando 38%, ou seja, em média, 51,9 milhões de pessoas de 18 a 64 anos são donas do próprio negócio. Nesse cenário, a participação de jovens empreendedores aumentou. Segundo a pesquisa DataSebrae de 2018, 5% dos empreendedores têm entre 18 e 24 anos. “De 2015 para cá, o quadro econômico brasileiro se deteriorou muito, estamos em plena recessão econômica, isto é, a atividade econômica medida pelo PIB, não cresce, ou cresce pouco mais de zero por cento. Por isso é importante estar aberto para novas oportunidades”, disse o economista especializado em empreendedorismo Jefferson Conceição, professor de economia da Universidade Federal do ABC (UFABC). JOVENS EMPRESÁRIOS iovanna de Sousa Almeida, 18, moradora do Bairro Assunção, em São Bernardo, é uma jovem empreendedora. A fundadora da marca de joias GS pratas

Acima, pulseiras de prata vendidas por Giovanna Sousa, fundadora da marca GS Pratas. Ao lado, foto ilustrando o processo de embalagem do produto da marca shopdudagazzi, criada por Maria Eduarda Gazzi

FATORES QUE AJUDAM E DIFICULTAM O EMPREENDEDORISMO AJUDAM Capacidade empreendedora Acesso à informações Políticas governamentais

DIFICULTAM Pesquisa e desenvolvimento Educação e Capacitação Apoio financeiro

Fonte: SEBRAE 2018

começou com a empresa em 2018, e falou dos prós e contras de ter o próprio negócio. “Pelo fato de o mercado ser muito instável, há épocas boas e ruins para a empresa, como nas férias, que é o período em que menos faturo. Mas é uma atividade que posso conciliar com a minha faculdade de Medicina, que é integral, garantindo um

dinheiro extra”. Outro exemplo é Jefferson Dourado, 20, morador de Santo André e fundador da agência de turismo Be Joy Viagens. O estudante de Administração, juntamente com um sócio, pesquisou durante cinco meses o mercado de trabalho até abrir a empresa. “Por enquanto estamos em franco cresci-

mento”, disse. Maria Eduarda Gazzi, 18, moradora de Santo André, e fundadora da marca de roupas femininas DudaGazzi, é outro exemplo de jovem empreendedora. Ela iniciou a marca em 2018, sempre vendendo seus produtos online e fazendo a entrega pessoalmente. Segundo a microem-

presária de 18 anos, o lucro do negócio quadriplicou após a criação de um novo canal digital para as vendas, Em um mês, ela chega a vender até R$ 5 mil com suas criações. “Minha meta para 2020 é atingir 10 mil seguidores nas redes sociais para aumentar minha visibilidade e engajamento”, declarou. Segundo o economista Conceição, visibilidade é fundamental para os negócios. “Além disso, é preciso firmar parcerias para o negócio dar certo”, disse. Como exemplo, ele citou o caso de blogueiras e influenciadores digitais que atuam nas redes sociais. O economista lembra de outras dicas para aqueles que querem se tornar jovens empreendedores. “Estudar o mercado de interesse, fazer um plano de negócios contendo as despesas e receitas futuras, verificar qual valor será investido e regularizar o empreendimento nos órgãos governamentais são algumas das medidas”. Aos que já tem o próprio negócio e querem melhorá-lo, ele diz ser necessário ouvir críticas de funcionários e clientes, além de conectar o negócio com áreas de pesquisas de Universidades. “Eles ajudam bastante no desenvolvimento da empresa”, completa o economista. 


4

CIDADE

RUDGE RAMOS Jornal da Cidade

17 de Setembro de 2019

s a i r a M s ê r T s o d s e r o d a Mor S A R U T I R C S E recebem s imóveis o m a r e iv t mil famílias o cooperativa ,2 1 e d is a e espera, m habitacional, no bairr d s o n a s ó Ap o conjunto n s o d a iz r la regu

RRJ

heus Silva/

Fotos: Mat

Matheus Silva

NO MÊS passado, mais de 1,2 mil moradores do conjunto habitacional Três Marias, na região do Cooperativa, receberam suas escrituras por meio do programa “A casa é minha”. O ato aconteceu com a presença do prefeito de São Bernardo, Orlando Morando, e o secretário executivo de Habitação, Fernando Marangoni. Estiveram presentes também o vice-prefeito Marcelo Lima, o secretário de habitação João Abukater Neto, vereadores e moradores do conjunto. “A escritura é o único documento oficial que determina a posse efetiva ao proprietário de um imóvel. O morador já era dono do apartamento dele, hoje a gente dá segurança jurídica que faltava, a escritura é o único título de posse oficial e é uma grande alegria poder entregar para os moradores”, disse Orlando Morando.

Sandra Maria Ferreira é uma das moradoras do Três Marias que recebeu a escritura de seu apartamento na cerimônia. Ela mora no local há mais de sete anos. “É um sonho realizado, porque eu sai de uma área de risco na

favela. Eu nunca podia falar que tinha uma casa, então hoje é minha conquista, uma conquista que não é só para mim e sim para os meus filhos, porque meu pai não conseguiu deixar uma moradia para mim e meus

irmãos, e, hoje, com essa escritura, eu vou poder deixar algo para meus filhos”. Já o aposentado Carlos Manoel do Santos morava na comunidade Jardim Ipê e se mudou para o Três Marias há sete anos, mas

À esquerda, moradores na cerimônia de entrega das escrituras. Abaixo, moradora Sandra Maria Ferreira segu ra itu cr rando sua es

só agora teve o imóvel regularizado. “É um lar que a gente não tinha. Morávamos no meio dos ratos, na favela. Em vista ao que nós vivíamos, nós estamos vivendo em um reinado”. Moradora dos Três Marias há oito anos, Sandra Fernandes, foi uma das primeiras moradoras a se mudar para os Três Marias, em 2011. “Com essa escritura em mãos, eu posso fazer o que eu quiser com meu apartamento, porque antes eu não poderia vender ou alugar, agora com ela em mãos posso vendê-lo para comprar uma casa”. O conjunto habitacional Três Marias começou a ser construído no mandato do ex-prefeito Luiz Marinho (PT), em 2011, e foi concluído em 2013. São 52 edifícios residenciais verticalizados que totalizam 1.236 apartamentos, com 43 metros quadrados. A obra foi feita em parceria com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com o valor divulgado de R$ 81 milhões, sendo que R$ 57 milhões são recursos do PAC e R$ 24 milhões é a contrapartida da prefeitura. Durante a campanha para a prefeitura de São Bernardo, o então candidato Orlando Morando prometeu regularizar os imóveis do conjunto caso fosse eleito. A prefeitura arcou com os gastos das escrituras, repassadas aos moradores. 


RUDGE RAMOS Jornal da Cidade

CIDADE

17 de Setembro de 2019 Roberta Dias /RRJ

Moradora fica inconformada com valor da conta de água

Roberta Dias

PARA OS moradores da Vila Vivaldi não é novidade os alagamentos que ocorrem na região. Porém, a chuva do inicio do ano, ocorrida no dia 13 de março, causou muitos estragos, e até hoje, seis meses depois, os efeitos dos estragos causados pelos alagamentos ainda são sentidos. Hoje, os moradores enfrentam uma luta diária para reparar os danos, além de conviverem com o medo de uma nova enchente. A técnica de enfermagem e moradora da Vila Beatriz Cordeiro, que estava grávida de dois meses quando tudo aconteceu, conta o prejuízo que ainda tem. “Perdemos dois carros, dois guarda-roupas, geladeira, fogão, três camas e ficamos com o prejuízo das paredes mofadas, manchadas, que até agora não saiu por conta do tempo que a água ficou parada dentro de casa”. A jovem de 21 anos lembra também que só não ocorreu uma tragédia familiar porque contou com o atendimento rápido dos bombeiros e até mesmo dos vizinhos, que resgataram com rapidez sua bisavó, que passou mal quando notou que a casa estava sendo invadida pela água. “Estávamos eu, minha vó de 67 anos e a minha bisavó de 86, que passou mal e foi

Vivaldi ainda se recupera da enchente de março

Foto de uma das principais ruas que alagou com as chuvas do início do ano

Após cinco meses das fortes chuvas, moradores tentam recuperar danos causados Arquivo pessoal

Parade marcada pela água parada que invadiu o imóvel

retirada de bote, para poder ir para o hospital”. As pessoas fora da região de alagamento se comoveram com a situação

das vítimas da Vila Vivaldi e se reuniram para fazer doações para os moradores. O radiologista Ederson Henrique, que mora na

Vila desde criança, foi um dos contemplados pela boa ação da população. Ele ganhou um sofá, já que o seu antigo tinha sido danificado pela chuva. Moraes conta que, agora, vive com medo de que uma chuva pior possa vir acontecer e ele não esteja em casa para ajudar. “Eu tenho medo, mas me mudar está fora de cogitação por conta de recursos financeiros. Tenho muito medo de a próxima chuva ser mais forte que a última e eu não estar em casa para poder fazer algo, não sei qual medida tomar”. 

A cozinheira escolar Karina Rodrigues passou por uma situação de desespero no começo do ano. Ela estava sozinha com seu filho quando, por volta das 17 horas, sua casa começou a ser invadida pela água. Ela assistiu, em desespero, todas as mobílias de sua residência sendo danificadas pela enchente. O prejuízo foi além, por conta da água que chegou na altura de muitas gavetas, suas roupas foram danificadas. A moradora teve que ficar uma semana lavando roupas, o que resultou em uma conta extremamente alta. Devido ao acontecimento, a prefeitura decidiu dar o benefício do desconto na conta de água para as pessoas atingidas, mas a cozinheira se sentiu prejudicada. “Na época, o desconto foi da água que eu gastei na segunda-feira porque a enchente foi de domingo para segunda. Eles apenas deram desconto da água da segunda, mas eu demorei uma semana para lavar minha roupa. Então eu tive que gastar muito mais”. Nascida e criada na Vila Vivaldi, Karina já não via uma enchente, como a do início do ano, desde 1998. Ela conta que os moradores são acostumados com as chuvas que alagam as ruas e que, após a construção dos piscinões, a água já não invadia mais as casas. “Aqui, na Vivaldi, nós temos a Tietê, rua dos Meninos e Tibiriçá. Qualquer pancada de chuva, essas ruas enchem e os carros não conseguem passar”. Após ter perdido 90% de seus bens, Karina vai se recuperando aos poucos com doações e com o seu trabalho. “Eu fui abençoada com doações, algumas coisas ainda preciso até hoje mas, devagar, eu vou conquistando. 

5


6

MEIO AMBIENTE

17 de Setembro de 2019

RUDGE RAMOS Jornal da Cidade Fotos: Milena Otta / RRJ

Milena Otta

DADOS do Boletim de Inteligência de Sustentabilidade do Sebrae, de julho de 2018, informam que são geradas 300 toneladas de aparas de couro por dia e 170 toneladas de resíduos têxteis por ano. A falta de fundamentabilidade não está apenas no lixo produzido no setor. Outro estudo, do instituto Akatu, mostra que uma calça jeans comum precisa de 10.850 litros de água para ser feita. Diante desses dados, o desenvolvimento sustentável é uma tendência que está na moda. Marina De Luca, estilista e diretora de comunicação do movimento Fashion Revolution Brasil, uma mobilização global sem fins lucrativos criada em 2013, define que o consumo de moda consciente passa por três filtros, pilares da sustentabilidade: ambiental, social e econômico. “Entender o impacto do consumo individual e coletivo nesses três âmbitos leva a pessoa a refletir de onde vem o produto, como ele foi feito, é usado e para onde vai quando não serve mais”. Essa tendência ainda está em crescimento, porém, já existem marcas em São Bernardo que estão praticando essa ideia. Aqui, o chamado movimento slow-fashion ganha destaque. Prezando pela sustentabilidade, esse conceito é a favor do meio ambiente limpo, promove consciência socioambiental, preza pela boa qualidade dos produtos, contribui para a confiança entre produtores e consumidores e é contrário à produção em massa que propaga o consumo excessivo. MARCAS EM SBC Daniela e Tainá Carneiro são mãe e filha e proprietárias da Rosa Remédio, uma loja de roupas femininas em São Bernardo. Elas disseram que a escolha de participar do movimento slow-fashion foi seguir o que elas acreditam. “Priorizamos a produção de peças versáteis, sob medida e na cor que a cliente desejar”, disse Tainá. Jessica Campos também de São Bernardo, é proprietária de uma loja no mesmo segmento, a Jazz Niggas. A produção funciona como na Rosa Remédio: peças atemporais que podem ser usadas em diversas ocasiões. “Pretendemos trabalhar

Moda SUSTENTÁVEL inspira estilistas no ABC Consumo consciente de roupas vem crescendo na região

com tecidos sustentáveis. Mas por conta dos valores, que são mais altos, esse tipo de matéria-prima ainda é um projeto. Por enquanto, todas as nossas roupas são feitas de linho e algodão, que poluem menos do que materiais sintéticos”. Também conhecidos

como tecidos eco-friendly, os materiais sustentáveis são aqueles que não agridem o meio ambiente. É importante saber que nenhuma marca é 100% sustentável. De acordo com a estilista Marina De Luca, para que isso ocorra, “o ideal é transformar as grifes que

já existem, não criar novas”. Além disso, Marina destaca que as pequenas empresas são fundamentais no cenário da moda sustentável. “Elas têm muito mais maleabilidade, velocidade e oportunidades de mudar e adotar novas práticas”. De acordo com a estilista,

Acima, etiqueta é de uma peça feita com algodão responsável; abaixo, há peças variadas confeccionadas com a ideia do slow-fashion

servem como teste para criar novas maneiras de trabalhar, pois sofrem menos quando alguma prática dá errado. “As menores se tornam referência, inspiração e ajudam a trazer as tendências de sustentabilidade para médias e grandes empresas”. COMO CONSUMIR? Fast-fashion é um padrão de produção e consumo no qual os produtos são fabricados, consumidos e descartados rápido. O modelo tem essência para orientar e atender a demanda de consumo por novos estilos a baixo custo. Algumas empresas conhecidas nesse segmento são Renner e C&A. O fato de duas grandes magazines de fast-fashion criarem peças sustentáveis mexe com o mercado. “Eu não diria que são exemplos, mas só de estarem fazendo, mesmo que pouquinho, é importante”, explica Marina. A moradora de Santo André Juliana Castelleti é adepta ao movimento e explicou como põe a teoria em prática. “Reutilizo todas as minhas roupas, não jogo nada fora, calça vira saia, saia vira top, vestido vira saia e top. E de tempos em tempos, troco roupas com alguma amiga que tenha o mesmo manequim”. 


RUDGE RAMOS Jornal da Cidade

ESPORTE

17 de Setembro de 2019

7

Fotos: Yuri Sena/RRJ

Foto: Divulgação

Handebol SOLIDÁRIO em São Bernardo Acima , alunos reunidos na quadra do bairro Ferrazópolis antes de iniciar os exercícios propostos pelo professor. Ao lado, alunos executando movimentos de arremesso

C

AIS RE IP G

RAS

A ASSOCIAÇÃO Desportiva e Cultural Mão Solidária é uma OSC (Organização da Sociedade Civil), sem fins lucrativos, que trabalha com o handebol de forma gratuita para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. No Ferrazopolis, em São Bernardo, fica um de seus pólos, onde os jovens praticam treinos e disputam amistosos. O projeto foi criado em 2005 por Daniel Robert Suarez. Conhecido como Daniel Cubano, ele foi atleta da seleção de handebol de Cuba e depois veio para o Brasil, onde foi jogador da equipe de handebol Metodista/São Bernardo - 2004. Após presenciar algumas crianças pulando o muro para ter acesso às dependências do clube da Volkswagen, onde ele treinava, Cubano teve a iniciativa de pedir permissão ao presidente da organização para que pudesse trabalhar voluntariamente com as crianças das comunidades que margeavam o local. Foi então que surgiu o projeto Mão Solidária. De uma forma inclusiva, o programa vem fazendo o papel de integrar as crianças na sociedade como diz o diretor estratégico do projeto, Ricardo de Campos Oliveira. “O handebol sempre teve um aspecto de inclusão. Nós sabemos que o esporte é uma ferramenta

OSC Mão Solidária no bairro Ferrazopólis promove projeto que ajuda jovens em estado de vulnerabilidade social

PRIN

Yuri Sena

O professor da Mão Solidária Douglas de Andrade, explica algumas regras do handebol: 4 1 - Não é permitido dar mais de três passos segurando a bola. 4 2 - Se estiver segurando a bola, deve-se contar três segundos para assim poder passar para outro atleta. Quando estiver batendo a bola no chão, é permitido andar o quanto quiser.

de transformação na vida de pessoas, então, nós sempre tivemos essa ferramenta para mudar a vida delas”. Em 12 anos, o projeto já atendeu mais de 1,5 mil crianças e adolescentes que vivem nas comunidades próximas às unidades que disponibilizam a prática do esporte. É o caso de Nicole dos Santos (14). “O handebol é tudo na minha vida. Aqui, eu aprendi a me concentrar mais, mudando a forma que eu percebia sobre o esporte, antes eu via só como um passatempo e hoje eu vejo

realmente como o meu futuro”, conta a adolescente. Propondo assistência social, cuidado psicológico e cultural, além de conscientização com o meio ambiente, o projeto vem transformando vidas, como diz Márcia Evaristo Ramos, mãe de Estefani (10), uma das alunas atendidas. “Eu a coloquei no handebol porque ela estava muito sedentária, passava muitas horas no celular”. A mãe da garota conta que pode ver a diferença no comportamento da filha. “Ela ficou mais ativa, com um

raciocínio rápido, até mesmo na escola o desempenho dela melhorou”. E não é só o lado psicológico ou cognitivo os benefícios do handebol. De acordo com Douglas de Andrade, professor da modalidade que atua no Mão Solidária, há ganhos nos aspectos biológicos, como a adaptação ao exercício físico. “O corpo ganha agilidade, capacidade aeróbica e força. E, claro, no caso do projeto interação social com novas amizades, trabalho em equipe e o respeito são diferenciais. 

4 3 - Para a cobrança do lateral é necessário que um dos pés esteja em contato com a linha marcada na quadra. 4 4 - O contrário se aplica quando for arremessar em direção ao gol, é proibido pisar na linha que demarca a área do goleiro. 4 5 - Em caso de substituição a quantidade de trocas são ilimitadas, apenas é necessário esperar um atleta sair da quadra para que outro possa entrar.


CULTURA

Yan Campoi

OS MÚSICOS da Banda Mirim do Baeta Neves se reunem em formação original para realizar uma homenagem ao maestro Irineu Negrini. Criado em 1960, o grupo encerou as atividades no final da década de 1980 e foi retomado em 2018. A figura do maestro, formado em educação artística e regência e composição, foi essencial, já que ele comanda os músicos desde a fundação até os dias de hoje. Negrini lecionou música por 37 anos. Hoje, já aposentado, ele lembra que o requisito maior para entrar na banda, na época um projeto da escola do bairro, era ter notas boas e frequência escolar. “Eu não ensinei só música, ensinei aos alunos como se estudar”. Uma das histórias mais marcantes do maestro foi ter regido o hino da França para o presidente Charles de Gaulle, em sua visita à empresa automobilística Simca, em São Bernardo, no final dos anos 1960. “Ficamos honrados com o convite. Ter levado a banda para ocasiões como essa foi gratificante”. No auge dos trabalhos, nos anos 80, o grupo se apresentou em programas de rádio e TV, como Silvio Santos e Hebe Camargo Moacir Franco na TV Excelsio O projeto atual é a gravação de um CD com músicas populares e instrumentais.

RUDGE RAMOS Jornal da Cidade

17 de Setembro de 2019

(

BANDA MIRIM do Baeta está de volta

Músicos preparam homenagem ao maestro Irineu Negrini, fundador do grupo nos anos 1960

Milena Otta/RRJ

( Arquivo pessoal

8

Fotografia da Banda Mirim tirada em 1973, no teatro Lauro Gomes, em São Bernardo

Relação com a música Alexandre Barbato começou a tocar clarinete na banda mirim do Baeta

aos seis anos e lembra que se apaixonou por música logo nos primeiros ensaios. “Tudo era marcado por mui-

to aprendizado e cobrança do maestro Negrini. Nunca pegávamos o instrumento antes de atingir um nível

mínimo de conhecimento teórico, tinham muitos passos e isso poderia levar até seis meses”. Hoje músico profissional, Barbato toca em casamentos e festas e já fez shows com o cantor Leonardo. “Nunca foi fácil, é necessário muita dedicação e vocação artística”. O cirurgião dentista Ivan de Camargo entrou na banda com seis anos e hoje, aos 63, lembra que não tinha muito compromissos com o grupo. Porém, ao longo dos ensaios, aprendeu admirar o projeto. “O maestro Irineu não ensinou só musica, ele nos ensinou a ter responsabilidade para assumir e cumprir compromissos”. Atualmente, Ivan administra as redes sócias da banda. “Ajudo a divulgar o fã clube e outras informações. Podemos dizer que o grupo está em sua versão sênior, já que o integrante mais novo tem mais de 50 anos”, brinca. No passado, a Banda Mirim chegou a ter apoio da prefeitura de São Bernardo, mas hoje é um projeto voluntário. O concerto que fará a homenagem ao maestro ainda não tem data preprevisa, mas os ensaios estão em pleno vapor no teatro Baeta Neves, uma vez por semana, nas noites de quarta-feira. “A nossa reunião já é algo sagrado, onde todos se reúnem para ensaiar e espairecer”, disse Camargo. 


9

CULTURA

17 de Setembro de 2019

RUDGE RAMOS Jornal da Cidade Foto: Arquivo Pessoal

Os grupos covers fazem apresentações em eventos de cultura pop, como o Anime Friends, realizado em julho de 2019, em São Paulo

K-Pop muda a rotina de jovens no ABCD Cursos de dança coreana e bandas covers são atrações Milton Moreira

SURGIDO nos anos 1990 na Coreia do Sul, o K-Pop é um estilo de música carregado em passos de dança e roupas coloridas. No Brasil, o gênero atrai a atenção de jovens de 14 a 21 anos, que lotam shows de seus ídolos – que só cantam em coreano. O primeiro evento, em 2011, reuniu cinco mil pessoas no festival de K-Pop United Cube Concert. Oito anos depois, o gênero explodiu no Brasil e, em maio desse ano, o grupo BTS chegou a realizar dois shows seguidos em São Paulo, que juntos venderam mais de 84 mil ingressos. A maioria dos fãs é formada por adolescentes, como Ronaldo Cavalcante (16), morador do Rudge Ramos, estudante do ensino médio. Desde o ano passado ele participa de um curso especializado em coreografias dos grupos sul coreanos. “Eu sempre gostei de dançar. No Anime Friends, um evento de cultura geek e pop, conheci o meu professor de dança e a partir dali, comecei as aulas”. O estudante conta que o K-Pop acabou mudando sua vida. “Eu me transfor-

mei em alguém bem mais extrovertido, minha autoestima melhorou bastante e também acabei me tornando mais esforçado”, disse. Por ser um estilo asiático, não são encontrados muitos artigos de todos os grupos, geralmente só dos mais famosos

(veja o box abaixo). Foi com isso em mente que, em 2017, a empresária Deborah Cristina, moradora de Diadema, criou uma loja especializada em vestuário de K-Pop. “Era muito difícil encontrar peças

Blackpink - Grupo formado em 2016

EXO - Grupo formardo em 2012

Grupos famosos

como camisas, jaquetas e moletons dos ídolos coreanos. Quando achava, era muito caro, então decidi eu mesma fazer esses produtos”. Covers Outro fenômeno bastante comum são os inúmeros grupos covers – pessoas que treinam juntas para fazer apresentações iguais aos dos ídolos orientais. Uma dessas pessoas é Vitoria Valder (17), estudante do terceiro ano do ensino médio e moradora do bairro Assunção, em São Bernardo. Ela conta que entrou no grupo BFK01 no ano passado e

BTS - Grupo formado em 2013

Red Velvet - Grupo formado em 2014

Fotos: Divulgação

desde então, muita coisa mudou na sua rotina. “Não temos férias, já que a maioria dos eventos de cultura pop é no meio ou no fim de ano. Nós aproveitamos esse tempo para intensificar os ensaios para que as apresentações fiquem boas”. O grupo cover de Vitoria já fez algumas apresentações grandes, incluindo um concurso de dança num programa de TV. “Ainda não caiu a ficha sobre a apresentação no SBT. Tínhamos somente três meses de grupo e uma única coreografia que ensaiamos bastante para passar na primeira fase”, afirmou Vitoria. Fanbases A maior parte da informação de K-Pop não é encontrada facilmente em português. Por isso há as fanbases (pessoas que se juntam nas redes sociais para traduzir e publicar notícias dos grupos). Fernanda Magliocchi (21), estudante de Rádio e TV e moradora do Rudge Ramos, colabora em uma dessas páginas. Ela participa, desde 2017, de um fanbase sobre um grupo pequeno chamado Cross Gene. “Eu sempre achei difícil pesquisar qualquer coisa sobre eles. Quando vi que estavam precisando de ajuda, me candidatei”. Thiago Haruo Santos é mestre em Antropologia pela Universidade de São Paulo (USP) e especialista no assunto – sua dissertação de mestrado, Jovens em São Paulo na onda coreana: um estudo da prática do K-Pop, concluída em 2016 foi sobre o fenômeno musical coreano. Segundo ele, o K-Pop teve um longo processo para se tornar o estrondo que é atualmente. “Desde os anos 2000, a indústria do K-Pop vem aprendendo a adaptar-se aos diferentes mercados. Começou popularizando-se em países asiáticos, como China e Japão, e gradualmente foi almejando outros mercados, marcadamente o dos Estados Unidos”. No caso do Brasil, sendo mais especifico em São Paulo, Haruo fala que muito dessa popularização se dá por conta dos fãs, que na maioria dos casos se encontram foram da comunidade coreana no país. “Desde o final da década passada, são os próprios fãs que vêm atuando fortemente na disseminação dessa música: realizam eventos, ensaiam em espaços públicos, compartilham conteúdo na internet”. 


10

17 de Setembro de 2019

RUDGE RAMOS Jornal da Cidade


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.