Rudge Ramos Jornal - Edição 1.083

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Produzido pelos alunos do Curso de Jornalismo 5 de Novembro de 2019

ANO 39 - Nº 1083 Karina Fonseca/RRJ

» SAÚDE Dermatite atópica provoca desde conceiras pelo corpo a crise de asma. Pág. 4 Matheus MendonçaRRJ

CANUDO Com objetivo de proteger o meio ambiente, estabelecimentos já adotam materiais biodegradáveis. Pág. 2

» EDUCAÇÃO Projeto de lei propõe acompanhamento para crianças dislexas no Ensino Fundamental. Pág. 5

MUITO ALÉM DOS LIVROS

Biblioteca do Riacho Grande acolhe moradores de rua em ação de inclusão pela leitura. Pág. 3


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CIDADE

RUDGE RAMOS Jornal da Cidade

5 de Novembro de 2019

Comércios diminuem uso de CANUDOS PLÁSTICOS Medida adotada por alguns estabelecimentos visa proteger o meio ambiente Matheus Mendonça/RRJ

Matheus Mendonça

NA CIDADE de São Paulo, a lei que proíbe o uso de canudos plásticos como forma de proteger o meio ambiente foi sancionada em junho pelo prefeito Bruno Covas. Os estabelecimentos que descumprirem a lei, primeiramente, levarão uma advertência. Se descumprirem até seis vezes, receberão multas entre R$ 1 mil e R$ 8 mil. Descumprindo a lei pela sétima vez, o estabelecimento será fechado. Em São Bernardo, uma lei desse tipo ainda não existe. Porém, algumas lanchonetes e restaurantes já não oferecem mais canudos ou trocaram por similar de papel. Segundo a professora de engenharia ambiental da Universidade Metodista Tassiane Boreli, deixar de usar os canudos plásticos é eficiente, uma vez que diminui a quantidade de plástico que muitas vezes vão parar nos oceanos. O efeito disso é a formação de “sopas” de resíduos ou a ingestão por animais que entendem como comida. Além disso, as micropartículas plásticas se agrupam ao sal do mar que, na maioria das vezes, acabam voltando para as residências e sendo ingerida pelas pessoas. No entanto, Tassiane lembra que não adianta trocar o canudo, mas manter o copo e a tampa de plástico. “É necessário conscientização e mudança de hábitos”. A lanchonete Big Box Sucos e Lanches, localizada no bairro Rudge, aderiu aos

Rudge Ramos JORNAL DA CIDADE editorial@metodista.br Rua do Sacramento, 230 Ed. Delta - Sala 141 Tel.: 4366-5871 - Rudge Ramos São Bernardo - CEP: 09640-000 

Produzido pelos alunos do curso de Jornalismo da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo

Canudo de papel de em um fast-food que implantou canudos ecológicos em todas as franquias da rede

DIRETOR - Carlos Eduardo Santi COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO - Eduardo Grossi EDITORA-EXECUTIVA - Eloiza Oliveira (MTb 32.144) EDITORA DO RRJ - Camila Escudero (MTb 39.564) EDITOR DE ARTE - José Reis Filho (MTb 12.357) ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA - Maristela Caretta (MTb 64.183) EQUIPE DE REDAÇÃO - Amanda Caires Ferreira, Andressa Schmidt, Beatriz Lopes dos Santos, Beatriz Siqueira, Caroline Ripane Assis, Giovane Roberto Rodrigues, Giovanna Vidoto, Giulia Marini, Gustavo Brito de Jesus, Letícia Rodrigues, Luiza Carvalho Lemos Branco, Matheus Gomes Dias, Miguel Cyrino Rocha, Pedro La Ferreira, Sophia Gonçalves Villanueva, Vinicius de Oliveira dos Santos, e alunos do curso de Jornalismo.

CONSELHO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO Valdecir Barreros (presidente), Aires Ademir Leal Clavel (vice-presidente). Conselheiros titulares: Almir de Oliveira Júnior, Andrea Rodrigues da Motta Sampaio, Cassiano Kuchenbecker Rosing, Marcos Gomes Tôrres, Oscar Francisco Alves Jr., Recildo Narcizo de Oliveira, Renato Wanderley de Souza Lima. Suplentes: Eva Regina Pereira Ramão e Roberto Nogueira Gurgel. Esther Lopes (secretária) e bispa Marisa de Freitas Ferreira (assistente do Conselho Geral das Instituições Metodistas de Educação). DIRETOR GERAL - Robson Ramos de Aguiar DIRETOR DE FINANÇAS, CONTROLADORIA E GESTÃO DE PESSOAS - Ricardo Rocha Faria DIRETOR DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E

canudos biodegradáveis. A diferença entre esse tipo de canudos do tradicional, de plástico, é que o biodegradável é bem menos prejudicial para a natureza já que se decompõe em menos tempo, com mais facilidade, deixando menos resíduos. “Os clientes reclamam muito desses novos canudinhos, mas vamos continuar com o biodegradável. Está cada vez mais difícil encontrar o outro tipo”, disse Rogério Martins, proprietário da lanchonete. POLÊMICA Larissa Lima, 20, moradora do bairro Nova Petrópolis, é adepta da extinção dos canudos de plástico e desde que viu uma campanha da Organização das Nações Unidas (ONU) mostrando a quantidade de plástico que vai para o oceano. Ela utiliza um canudo de inox. “Eu admiro os restaurantes e lanchonetes que já substituíram os canudos de plásticos por outros mais sustentáveis sem precisar de uma lei”. Porém, nem todos aprovam a substituição. “Eu não gostei desse canudo de papel. Estou na metade do milkshake e não consigo tomar mais porque o canudo está todo enrugado”, disse Darli Martineli, 57, frequentador do Burger King localizado no Golden. A rede foi uma das que trocou definitivamente os canudos de plástico por papel. Outro que reclama da medida é Gabriel Amaral. “Primeiro foi Mc Donalds. Eles pararam de dar canudos, mas deixaram a tampa de plástico. Eles deveriam adaptar o copo pelo menos para beber sem depender do canudo. Depois foi o Cinemark. Eu peguei um refrigerante de um litro, mas eles não me avisaram que não vinha canudo e que estavam vendendo um de inox por R$ 10. Isso foi quase o mesmo valor que paguei no do refrigerante”.  MARKETING - Ronilson Carassini DIRETOR NACIONAL DE ENSINO SUPERIOR - Fabio Botelho Josgrilberg DIRETORA NACIONAL DE EDUCAÇÃO BÁSICA - Débora Castanha

GERENTE JURÍDICO - Rubens Gonçalves de Barros REITOR: Paulo Borges Campos Jr.; Coordenadora de Graduação e Extensão: Alessandra Maria Sabatine Zambone; Coordenadora de Pós-Graduação e Pesquisa: Adriana Barroso Azevedo; Coordenador de EAD: Marcio Oliverio. DIRETORES - Nilton Zanco (Escola de Ciências Médicas e da Saúde), Kleber Nogueira Carrilho (Escola de Comunicação, Educação e Humanidades), Carlos Eduardo Santi (Escola de Engenharias, Tecnologia e Informação), Fulvio Cristofoli (Escola de Gestão e Direito) e Paulo Roberto Garcia (Escola de Teologia).


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CIDADE Fotos: Karina Fonseca/RRJ

Biblioteca do Riacho Grande é uma das mais antigas de São Bernardo, instalada em 1973

Karina Fonseca

SABER LER. Saber escrever. Duas ações simples para muitas pessoas, mas que são transformadoras para quem não tem acesso à educação. É o caso dos moradores de rua que frequentam a biblioteca Machado de Assis, no Riacho Grande, em São Bernardo. Muito mais que um espaço que abriga um acervo de livros, o local recebe essas pessoas, chegando até a promover a alfabetização de uma delas. A bibliotecária Maria Cristina Telles Ferreira conta que tudo começou há alguns anos, com moradores de rua que frequentavam uma praça próxima. Uma iniciativa da Casa de Abrigo da Estrada Velha de Santos, responsável por essas pessoas, deu a elas uma carta autorizando e estimulando a entrada na biblioteca. “Desde então eles vêm até aqui, usam os computadores para se conectarem a internet, leem livros e participam das atividades, como as contações de história”, diz Maria Cristina. Segundo ela, pelo menos cerca de cinco moradores frequentam diariamente o local. Muito mais que a inclusão dessas pessoas, a formação e desenvolvimento pessoal é uma recompensa para Maria Cristina. Ela lembra de quando um morador aprendeu a ler e escrever frequentando a biblioteca. “Ele vinha aqui e participava das contações de história. Um dia, de forma simples, ele escreveu um bilhetinho para mim, di-

Biblioteca Machado de Assis acolhe pessoas em

SITUAÇÃO DE RUA Local oferece acesso a livros, internet e contação de história

Carlos Roberto Domingos e Ozeomar Pereira de Arruda são moradores de rua da região

zendo que que a biblioteca Machado de Assis foi um mundo que o acolheu e que a leitura é um paraíso”, contou emocionada. Segundo a diretora da biblioteca, Lúcia Marta da Silva, para usufruir dos serviços os moradores de rua devem apresentar um comprovante concedido pela Secretaria de Assistência Social (SAS) ou o Centro de Referência

ANOTE

Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), do Governo Federal. “Nós trabalhamos como divisores de água. Tudo depende de como eles são recebidos e tratados aqui. Eles vêm com a carteirinha da biblioteca, pedem licença e já podem desfrutar do espaço. Com o grupo das pessoas que estão em situação de rua, conhecemos

muitas histórias. Sempre tem de tudo”. A diretora ainda destaca que dentro desse grupo é possível ter aqueles que amam escrever poesia ou cozinhar, e a biblioteca se solidariza em recebê-los. “Quem sabe na biblioteca eles não encontram aquele lado que perderam?”, questiona. É o caso de Ozeomar Pereira de Arruda, mora-

A BIBLIOTECA MACHADO DE ASSIS está localizada na Avenida Araguaia, nº 284, no Riacho Grande em São Bernardo. O atendimento é das 8h às 17h, de segunda a sexta. É uma das mais antigas da região de São Bernardo, instalada em 1973, possui em seu acervo 15.805 títulos de livros e 21.341 exemplares no total. O espaço oferece contação de histórias e o serviço de empréstimo de livros. Mais informações no site da Prefeitura de São Bernardo: www.saobernardo.sp.gov.br.

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dor de rua que frequenta a biblioteca há dez meses. “Eu gosto muito de cozinhar e aqui procuro livros de receitas, gastronomia e jornais. Eu gosto de pratos variados e italianos. O meu sonho é ser chefe de cozinha”. Arruda diz ainda que é bem acolhido pela biblioteca e os funcionários do espaço. “As pessoas tratam a gente de igual para igual. É um carinho especial, não existe diferença”. Já Carlos Roberto Domingos, também em situação de rua, começou a frequentar o espaço da biblioteca convidado por Arruda. “Aqui se tornou uma terapia para mim. Eu busco informações na biblioteca, gosto de acessar os portais de notícia e assim fico sabendo o que acontece no mundo”. Domingos lembra que foi parar nas ruas por conta do vício pelo álcool. “Minha família mora aqui perto. Não é a distância que me impede de voltar para casa, mas o problema é a bebida. Minha filha e esposa não aceitam. Então, agora, a rua passou a ser minha casa e a biblioteca também”. O professor Jeferson Félix, morador do bairro, frequenta a biblioteca para estudos, porém, não sabia da inclusão dos moradores de rua. “Eu sabia que, ao lado da biblioteca, tinham muitas pessoas em situação de rua. É uma boa ideia, principalmente por conta da inclusão, porque hoje em dia essas pessoas são marginalizadas pela maioria da população”. Maria Cristina é a responsável na maior parte do tempo por receber o público, bem como esses moradores de rua. “A leitura transforma as vidas das pessoas. Elas se sentem parte do universo dos livros”. A bibliotecária ainda comenta a sua paixão pelo acervo da biblioteca Machado de Assis. “Separo todos os dias tantos livros, tantas belas histórias em nosso acervo. Cada conto que leio é como se eu entrasse em um mundo mágico e diferente. Compartilhar isso com outras pessoas é um prazer para mim. A biblioteca deve repercutir além dos muros dela, que ela vá para fora. A biblioteca é viva, é nossa. Estamos aqui para acolher a todos e aprendermos juntos”. 


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SAÚDE

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Alergia:

RUDGE RAMOS Jornal da Cidade Karen Pereira/RRJ

SAIBA O QUE É dermatite atópica Manifestações podem provocar de coceiras pelo corpo a crises de asma Karen Pereira

DADOS DA Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) mostram que cerca de 20% das crianças são vítimas de alguma alergia hoje em dia no Brasil. As principais são a dermatite atópica e a asma. Os dados apontam que, na maioria dos casos, há uma grande melhora até o final da infância, mas ainda existem pessoas que sofrem com as alergias mesmo depois de anos. A asma é a mais comum, mas você sabe o que é a dermatite atópica? É uma doença crônica, geralmente genética, caracterizada por uma alergia na pele. A principais partes em que se manifesta são nas dobras do braço e perna. Os maiores sintomas são a coceira, manchas vermelhas e feridas que aparecem em alguns momentos, às vezes, com crises mais moderadas ou mais intensas. A pele seca e um sistema imunológico baixo são apontados pelos médicos como impulsionadores da dermatite, mas não se tem certeza das causas reais da alergia. Corantes e alimentos de cores escuras em excesso podem causar coceiras e levar a feridas. O estado emocional também já foi comprovado como um grande influenciador ou inimigo no controle da alergia. Um outro fator são os perfumes e essências, já que o álcool contido nessas substâncias pode machucar e causar lesões na pele. “O emocional influencia muito, e por isso os tratamentos são diferenciados. Mas, além disso, para

Remédios, cremes e pomadas fazem parte do tratamento contínuo das pessoas

que haja uma melhora no quadro é preciso haver uma adesão do paciente em querer mudar os hábitos e o comportamento”, explica a dermatologista Rosana Sampaio, de São Bernardo. Ela lista algumas medidas: “ser disciplinado na alimentação, hidratação e retirar o uso de amaciante na roupa”. Por se tratar de uma doença crônica, não há uma cura para a dermatite atópica. Os tratamentos devem ser contínuos, com a aplicação de cremes, pomadas para as irritações - a maioria corticoide - e remédios via oral. Em alguns casos, há ainda a recomendação de injeções semanais. A dermatologista expli-

ca que houve um aumento de casos de dermatite atópica em pessoas mais velhas nos últimos anos, a partir dos 14 anos. A jornalista Fernanda Cristina Ribeiro (23) teve a primeira crise de dermatite alérgica aos três anos. Seus pais notaram manchas vermelhas nas dobras do joelho e braço - principais lugares em que a alergia aparecee, desde então, Fernanda faz tratamento. “Eu tomo remédio via oral uso pomadas e cremes para pele seca. Todo o tratamento é muito caro, por sinal”. Uma preocupação grande das pessoas que sofrem da doença é com a autoestima. As feridas e machucados que se formam devido

às coceiras são incômodos. Estudos internacionais comprovaram que cerca de 15% dos jovens que possuem os eczemas já tiveram pensamentos suicidas, e 51% desenvolveram depressão ou ansiedade. As crianças são as que mais sofrem, por ser a fase na qual há picos de crises alérgicas maiores. Além da questão da saúde, há o aspecto da aparência. A psicóloga Lilian Guimarães, mãe da Lívia Guimarães (10), que possui a alergia desde os seis meses, conta que a pequena já começa a reclamar da aparência. “Agora na fase pré-adolescência, quando fica tudo mais aparente, ela se preocupa muito com o que vão dizer”. 

FIQUE SABENDO A Associação de Apoio à Dermatite Atópica (AADA) existe há mais de 20 anos, é formada por médicos, psicológicos, assistentes sociais, pacientes com a dermatite e familiares. Grupos de apoiam acontecem em parceria com a Associação, em todo território nacional para ajudar crianças e adultos que passam pela doença e suas famílias.


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EDUCAÇÃO

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Fotos: Mateus Bertole/RRJ

Mateus Bertole Matheus Moreira

DISLEXIA é um transtorno de aprendizagem com origem neurobiológica. Quem é disléxico tem dificuldades para reconhecer as palavras, soletrar e formar frases. A dificuldade de compreensão se estende para a memorização de curto e longo prazos. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), esse distúrbio atinge cerca de 8% da população mundial. Mas, de acordo com a neuropsicóloga da Associação Brasileira de Dislexia (ABD) Maria Inez Ocanã, os dados são sempre estimados, porque não há pesquisas em larga escala, que inclua todas as camadas da população do país. O problema principal é quando esses pacientes são crianças e estão no ensino básico. A neuropsicóloga ressalta a falta de estrutura para lidar com alunos disléxicos. “Especialmente no ensino fundamental, esses estudantes não conseguem acompanhar o ritmo dos colegas”, diz Maria Inez. PODER PÚBLICO Pensando em melhorar esse cenário, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei (PL) 3517/2019, que obriga o poder público a manter um programa de diagnóstico e tratamento de estudantes de educação básica com dislexia ou outras disfunções de aprendizagem. A proposta, do senador Gerson Camata (MDB), determina que o sistema escolar, público ou privado, garanta o cuidado e a proteção ao aluno que tenha algum desses transtornos. Para Maria Inez, a medida seria de grande valor, já que mira o público-alvo correto, os alunos da educação básica. “É importante que o Estado atue na identificação e na intervenção, pois quando a interferência é precoce, os resultados são os melhores possíveis. Apesar de a dislexia não ter cura, é um transtorno e precisa de acompanhamento”. A realidade atual do estudante disléxico apresenta diversos obstáculos. Segundo a professora da prefeitura de São Bernardo Daniela Teixeira, “a lei vigente não permite que crianças com dislexia tenham o atendimento escolar especializado”. Esse processo é realizado apenas com alunos que apresentam deficiências físicas ou mentais, como os transtornos

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Projeto de lei discute realidade de estudantes disléxicos na educação Caso aprovada, medida prevê que alunos com o transtorno sejam acompanhados durante o ensino fundamental

8% da população mundial possui o transtorno, de acordo com a Organização Mundial de Saúde

do espectro autista (TEA) e do desenvolvimento global (TGD). Além da falta de atendimento, muitas vezes o estudante passa a ser observado por professores somente depois de perceber acentuada dificuldade no aprendizado. “Nós solicitamos aos pais que levem as crianças ao pediatra e relatem as suspeitas”,

Acima, brinquedo usado no processo de alfabetização. Abaixo, exercício que alunos disléxicos têm dificuldade em executar

disse a professora. Apesar da constatação do transtorno, de acordo com Daniela, não existe assistência aos alunos, sendo a adaptação dos disléxicos feita durante a aula, por quem leciona. POR UM DISLÉXICO Após reprovar na quinta série, Camila de Luca, que hoje trabalha como micropunturista, foi diagnosticada como disléxica, pois tinha muita dificuldade com interpretação de texto. Na época, chegou a receber comunicado feito pela escola. “Meus pais foram alertados que deveriam me matricular em uma escola especial, porque eu devia ter atraso mental”, disse. Segundo Camila, a atuação de uma professora de matemática foi fundamental para o avanço de seus estudos, porque a explicação do conteúdo era feita de forma adaptada. Hoje, a micropunturista vê com bons olhos o PL e afirma que caso ocorra a implementação e o poder público realizar à risca o acompanhamento, haverá enorme ganho para o processo de aprendizagem dos disléxicos na escola. 


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ECONOMIA Fotos: Ulysses Issamu/RRJ

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Passageiros de aplicativos de transporte no Brasil UBER

22 mil passageiros 99 App

16 mil passageiros Cabify

8 mil passageiros

Fonte: Dados oficiais da UBER, Cabify e 99

O TRABALHO como motorista de aplicativo Alternativa imediata ao desemprego e flexibilidade de horário são atrativos Ulysses Issamu

COM CINCO ANOS de circulação no Brasil, os aplicativos de carros particulares viraram uma condução alternativa para quem está atrasado para chegar em algum compromisso importante, ou para quem quer evitar ônibus lotados nos horários de pico. O sucesso se deve à praticidade no atendimento, além de ser uma opção mais econômica de transporte particular automotivo, em comparação aos táxis. O Uber foi o primeiro a ser lançado no país. O aplicativo veio dos Estados Unidos para ser testado nas cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, e acabou caindo nas graças do povo brasileiro, que ganhou outras opções de carros particulares, como a 99 e Cabify e, juntas, movimentam cerca de 50 milhões de usuários.

Um relatório da Coordenadoria Nacional de Combate às Fraudes nas Relações de Trabalho (Conafret), do Ministério Público do Trabalho, mostrou que trabalhar nos aplicativos de transporte, integra dois segmentos que compõem o conhecido “trabalho de bico”: o “emprego on-demand” e o “crowdwork”. O primeiro segmento foi baseado no sistema utilizado na plataforma, em que o empregado faz o serviço de acordo com a preferência do usuário, sendo a escolha específica do estilo do carro no caso dos aplicativos de transporte, enquanto o segundo apurou a quantidade de passageiros que as plataformas transportam todos os dias.

Patrício Reis (32) investidor imobiliário em São Bernardo, mas trabalha como motorista da Uber há um ano e meio, após sair do emprego e encontrar na plataforma uma solução para pagar as despesas da casa e ficar mais próximo da família. “Foi o nascimento do meu filho, que eu precisava de uma flexibilidade de horário para ajudar a minha esposa e, quando eu fiquei desempregado, pensei que era a melhor opção do momento”, afirmou Reis. O motorista afirma que

Patrício Reis (acima) e Bruno Thomás (abaixo) acreditam que ser motorista de aplicativo é uma forma de empreender e traçar metas de curto a longo prazo

o serviço é bom pela possibilidade de trabalhar em tempo livre, de poder buscar passageiros em qualquer

lugar, sem um ponto fixo. Além disso, há o ensinamento empreendedor que o aplicativo oferece no dia a dia. “Você acaba se tornando um empreendedor, mesmo indiretamente, mas você se torna dono do próprio negócio”, ressalta. No caso do paulistano Bruno Thomás (34), que abandonou o talento de criar joias na Zona Leste para se dedicar à função, o começo foi cercado de incertezas sobre o tempo que duraria trabalhando para a Uber, mas confessa que houve mudanças radicais até agora. “Vendi dois carros e comprei um, e estou há dois anos trabalhando aqui”, disse. Do aprendizado que teve até o momento, Thomás revela que o aplicativo o ajudou a sair das dificuldades financeiras e carrega junto à ideia de ser produtivo todos os dias. “Hoje, eu pago minhas contas graças ao meu trabalho. Não é um salário ruim, mas se você tiver uma meta para atingir, você alcança”. Além de ser considerado “crowdwork” (um trabalho para a multidão), os carros particulares servem de confessionário para os passageiros, como relata João de Souza (43), que trabalhava como supervisor operacional antes de se tornar motorista dos aplicativos 99 e Uber. Ele disse que se considera um psicólogo, pelo fato dos passageiros confessarem seus problemas e situações durante as corridas. “Tem gente que conta história, mas eu acho que eles (usuários) me olham como se fosse um psicólogo, e acabam desabafando”, afirma. 


ECONOMIA

Principal motivo é a crise econômica, que diminui a oferta de vagas nos diversos setores Yuri Sena?RRJ

DE ACORDO COM dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de dezembro de 2018, cerca de 44,2% dos jovens entre 25 e 34 anos, formados na universidade não trabalham em suas áreas de formação. Porém, se for levado em consideração todos os grupos etários, a parcela é de 38%. Para o economista Sandro Maskio, da Universidade Metodista de São Paulo, isso acontece por vários fatores. “Com a redução da demanda por trabalhadores, fica mais difícil encontrar emprego tanto dentro como fora da área de formação”, afirma. Segundo o especialista, é importante observar que em momentos de retração da economia, as empresas

aproveitam para substituir alguns funcionários, principalmente pela redução do salário médio do mercado. “Há a busca por profissionais jovens e, em geral, com maior habilidade com as novas tecnologias”. Maskio diz que o crescimento de trabalhadores que operam fora de suas áreas de formação abala a atividade econômica atual, com impactos no futuro. Na opinião do especialista, os trabalhadores apresentam maior produtividade na área em que estudaram. Ainda de acordo com o economista, é fundamental

para quem busca atuar em determinado espaço, ser um profissional de excelente formação, de sólidos fundamentos e conhecimentos para ser reconhecido no campo escolhido. “Do contrário, haverá maiores dificuldades para se inserir na área em que se graduou”, diz Maskio. A agência de recrutamento de executivos Robert Half publicou que 92% dos desempregados com graduação aceitariam voltar ao mercado por salário e posição inferiores. “Em tempos como esse, não dá para ficar escolhendo oportunidades,

Estou feliz por ter um trabalho, mas frustrada por não atuar no campo ao qual me dediquei por tantos anos. Giovanna Pastorelli Recepcionista

Graduada em jornalismo, Beatriz Leonel, de São Bernardo, hoje é vendedora em uma loja de sapatos no shopping

ou aguardar que surja uma proposta na área de atuação desejada”, diz Maskio. Perspectiva de futuro De acordo com o economista, o fato de pessoas trabalharem fora de suas áreas de escolha continuará a acontecer nos próximos anos. “De um lado, não temos perspectivas de crescimento satisfatório capaz de gerar oportunidades para os trabalhadores, em especial, os que chegam ao mercado de trabalho”, afirma. Giovanna Pastorelli, de Santo André, é formada em Têxtil e Moda e em Marketing, porém, hoje trabalha como recepcionista em um hotel. Aos 25 anos, ela não

/R RJ tta ile na O

Cresce número de pessoas que trabalham fora de suas áreas de formação

Milena Otta Yan Campoi

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chegou a trabalhar na área. “Estou feliz por ter um trabalho, mas frustrada por não atuar no campo ao qual me dediquei por tantos anos”. Giovanna disse que sua formação foi toda voltada para a área de moda, mas como se formou no meio da crise, pensou ser uma boa ideia começar um curso de Marketing para não ficar parada. “Mas não funcionou muito”, afirma. Ela diz que a área de atuação atual a surpreendeu de maneira positiva, porém, gostaria de trabalhar com moda. Já Beatriz Leonel (22), de São Bernardo, se formou no ano passado em Jornalismo, chegou a trabalhar na área durante e após a faculdade. Porém, o veículo onde ela atuava fechou. Para piorar a situação, seu pais também estavam fora do mercado. Como ela precisava ajudar a família, começou a trabalhar como vendedora em um shopping. “Mesmo com a crise, esse é um dos lugares que mais contratam pessoas”, afirma. Beatriz disse que gosta da área de vendas e aprendeu muito com ela, mas sente falta do Jornalismo. Mudança por escolha Nem todas as pessoas que não trabalham em sua área der formação mudaram por conta das circunstâncias. Algumas tomam essa decisão por escolha e de maneira planejada. É o caso de Gabriella Rasa (26), de Santo André. Ela se formou em 2013, em Marketing e, em menos de um ano, se tornou secretária e maquiadora free-lancer por escolha. “Prefiro muito mais minha vida profissional atual do que a que eu tinha antes”. Situação semelhante viveu Lucas Aguiar, de Diadema. Ele se formou em 2017, em Direito, e hoje trabalha como tipster esportivo, denominação para apostador profissional na área de esporte, e como sub agente em uma plataforma de apostas online. “Sempre amei Direito e quis trabalhar com isso. Mas, na prática, a carreira não funciona do jeito que eu imaginava. Chegou num momento em que eu era mais feliz tocando meu negócio”, afirma. 


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CULTURA

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Fotos: Kayke Nascimento/RRJ

Kayke Nascimento Leonardo Gouveia

ENGANA-SE quem pensa que saraus literários, rodas de leituras e cantorias são coisas do passado ou de novelas antigas. Com o objetivo de reunir pessoas e estimular as trocas culturais, desde 2010, a funcionária pública aposentada Regina Copernik teve a iniciativa de promover na região encontros mensais regados à música, poesia, dança e interações. “Como eu trabalhava na biblioteca há muitos anos, sempre gostei de cantar para as pessoas e contar histórias. Eu era funcionária da Escola de Jovens e Adultos (EJA), então, uma vez por mês, entrava em alguma classe e contava uma história e cantava. Mas eu tinha essa vontade de fazer sarau para que as pessoas pudessem se manifestar artisticamente. Ela lembra que tudo começou com um curso na Casa das Rosas, em São Paulo. “O curso se chamava Entre na Roda, e ali eu tive muita orientação para organizar uma roda, principalmente de leitura, mas como gosto de cantar, incluí a música. Troquei várias experiências lá e comecei na biblioteca a roda de leituras e cantorias, assim deu certo”. O projeto é itinerante e, atualmente, é realizado aos sábados em espaços públicos, como teatros, bibliotecas, escolas etc. A ideia, no início, era reunir pessoas para uma roda de leitura e cantorias, além de mostrar que as letras das músicas são poesias, histórias, enxergando a literatura presente nas composições. Porém, com o passar do tempo, cada sarau começou a ter um tema específico, homenageando grandes compositores da música brasileira, como Vinicius de Moraes, Gilberto Gil e Dorival Caymmi. Depois de um tempo, Regina começou a fazer a roda de leituras e cantorias com um tema em cada mês. Uma época ela fazia homenageando compositores, e então os participantes da roda, procuravam canções desses artistas para apresentarem, às vezes, até sem saber quem era o artista. Então, dessa maneira, acabavam conhecendo compositores e músicas novas. No sarau, acontecem manifestações culturais, que na sua maioria são

Literatura e música nos cantos do ABC

Espaço Canto Moreno, em Santo André, foi sede de um dos encontros, onde amantes da música se apresentaram

Encontros mensais gratuitos ocorrem em locais variados, são abertos ao público e regados à poesia, canção e interação

músicas, com participações de compositores independes que a própria Regina convida. Esses compositores apresentam suas peças e também cantam canções de artistas consagrados.

“Eu sempre deixo alguns livros à disposição, caso alguém queira participar na hora, porque, às vezes, o convidado não leva algo para apresentar, mas sente vontade de participar. Então

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já deixo algo preparado”. A média de idade das pessoas que participam do projeto é entre 40 e 60 anos. Porém, Regina afirma que é difícil especificar o público, pois também há adolescentes, crianças

e idosos participando. “Acho importante ter um lugar que você reúne pessoas para falar sobre cultura. Eu fiz vários amigos na roda. Pra mim nunca foi importante saber tocar violão, mas hoje sinto que é uma coisa especial”, conta Leila de Lima Garcia, professora aposentada, que participa das rodas desde o início. Os participantes acreditam que o projeto faz diferença em suas vidas, pois conhecem pessoas novas e podem expor suas ideias por meio da arte, sem se preocupar com a técnica e aceitação. “É um espaço onde pessoas que não fazem arte profissionalmente podem vir e se expressar sem o menor compromisso, isso que é o mais legal, porque o que importa mesmo é a expressão artística”. Quem diz isso é Obadias de Deus (50), que recita poesias autorais em algumas rodas. Regina conta que ela não recebe ajuda financeira, porém, os amigos a auxiliam com a organização ou levam alguma coisa, como lembrancinhas ou fotos do evento. Dependendo do lugar, ela leva uma água ou um chá. No entanto, segundo Regina, o que ela recebe em troca é mais importante que dinheiro, são os agradecimentos e o sentimento de proporcionar bons momentos para as pessoas. No dia 9 de novembro, acontece a edição de 10 anos da roda de leitura. Até o fechamento dessa matéria, o local ainda não estava definido.


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