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RRJ
ANOS
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Produzido pelos alunos do Curso de Jornalismo ANO 35 - Nº 1051
De 12 a 24 de maio de 2016
» ÔNIBUS
» REVITALIZAÇÃO
Nova lei permite que passageiros desçam fora do ponto das 22h às 5h
Mudanças nas vias causam transtornos no bairro e geram reclamações de motoristas
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Maristela Caretta/RRJ
» CULTURA
» R$ 1,99 Caroline Ferrari/RRJ
Gabriela Ribeiro/RRJ
São Bernardo preserva 31 patrimônios tombados que contam a história da cidade
Lojas populares têm preços menores e lutam para enfrentar a crise econômica
Págs. 10 e 11
Págs. 4 e 5
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POLÍTICA
RUDGE RAMOS Jornal da Cidade
De 12 a 24 de maio de 2016
DE OLHO NA CÂMARA
Câmara aprova percentual mínimo de cargos em comissão na prefeitura Servidores públicos efetivos ocuparão no mínimo 20% das funções comissionadas na administração Thamiris Galhardo Érika Motoda
Thamiris Galhardo/RRJ
OS VEREADORES da Câmara de São Bernardo aprovaram na quarta-feira (11) o Projeto de Lei nº 26/16, que determina uma porcentagem mínima de 20% para que servidores públicos ocupem cargos comissionados na administração municipal, ou seja, aproximadamente 200 funcionários dos 992 irão continuar na atividade como não concursado. O vereador Julinho Fuzari (PPS) disse que votou contra o projeto porque o parecer jurídico julgou inconstitucional. “O PL estabelece um mínimo, mas não há um máximo. O advogado que analisou o projeto, com certeza, consultou a Constituição antes de dar esse parecer”, falou. O presidente da Câmara, Luiz Ferrarezi (PT),
Sessão fica novamente suspensa durante três horas
ressaltou que todos os munícipios e câmaras municipais devem legislar sobre um número determinado
de funcionários. “A Justiça não fixa percentual, então cada órgão público coloca a quantidade como lhe convém”, contou o presidente. Em fevereiro de 2016, a Casa aprovou o PL nº 04/16, por acordo de lideranças, que determina quantidade máxima de 35% de funcio-
nários comissionados para cargos administrativos da Câmara Municipal. Sessão parada Como na semana passada, a sessão da Câmara de São Bernardo permaneceu suspensa por aproximadamente três horas.
Segundo Ferrarezi (PT), já houve conversa com os líderes dos partidos para mudar o regimento interno da Casa. “Queremos fazer um novo regimento para que situações como essa e a da semana passada não se repitam. Se o vereador assinou a lista de presença, ele deve estar na sessão para votar os PLs”, afirmou. Outros projetos O Legislativo também discutiu e aprovou o PL nº 24/16 que denomina o teatro do CEU Regina Rocco Casa como “Teatro Inezita Barroso”, além de instituir o “Dia Municipal da Caminhada Espírita pela Paz”. No próximo sábado (14), São Bernardo irá inaugurar um CEU no Jardim Silvina, que se chamará “CEU Luiza Maria de Farias”, cujo nome também foi estabelecido na última sessão ordinária.
Rudge Ramos Jornal é homenageado por artista plástico Reprodução/RRJ
Lucas Laranjeira O artista plástico Henrique Hammler, morador do Rudge Ramos, entregou na última terça-feira (10), um quadro para o Rudge Ramos Jornal. A obra, segundo ele, é uma homenagem a estagiários, professores que trabalham na redação e a representantes da Universidade. Hammler disse que o jornal
DIRETOR Nicanor Lopes COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO - Rodolfo Carlos Martino. JORNAL DA CIDADE REDAÇÃO MULTIMÍDIA editorial@metodista.br Editor-chefe - Júlio Veríssimo (MTb 16.706); EDITORA-EXECUTIVA E EDITORA DO RRJ Margarete Vieira (MTb16.707); Rua do Sacramento, 230 EDITOR DE ARTE Ed. Delta - Sala 141 Tel.: 4366-5871 - Rudge Ramos - José Reis Filho (MTb 12.357); São Bernardo - CEP: 09640-000 ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA Maristela Caretta (MTb 64.183)
Rudge Ramos
Produzido pelos alunos do curso de Jornalismo da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo
EQUIPE DE REDAÇÃO: Adílson Junior, Alexandre Leoratti, Allaf Barros, Amanda Leonelli, Claudia Leone, Erika Daykem, Erika Motoda, Felipe Siqueira, Gabriel Mendes, João Souza, Laís Pagoto, Larissa Pereira, Lucas Laranjeira, Marcelo Argachoy, Nathalia Nascimento, Paula Gomes, Thais Souza, Thamiris Galhardo, Victor Godoi e alunos do 5º semestre de Jornalismo.
TIRAGEM: 10 mil exemplares - Produção de Fotolito e Impressão: Gráfica Mar-Mar
é um patrimônio da cidade. “O Rudge Ramos Jornal tem muita credibilidade. Isso por causa dos profissionais que trabalham lá.” A pintura segue o estilo de Hammler, inspirado na cultura nordestina. “É um tema muito recorrente nas minhas obras. Está no meu subconsciente porque é a minha origem”, disse o artista, ao se referir onde iniciou sua carreira: Olinda (PE).
Reitores e diretores das Instituições Metodistas de Educação Marcio de Moraes (reitor da UMESP e do Centro Universitário Metodista Bennett); Gustavo Jacques Dias Alvim (reitor da UNIMEP); Márcia Nogueira Amorim (reitora do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix); Walker Soares do Nascimento (diretor da Faculdade Metodista Granbery); Roberto Pontes da Fonseca (reitor do Centro Universitário Metodista IPA e Diretor da FAMES); Walter Chalegre dos Santos (diretor geral do IMED e coordenador Administrativo da Educação Básica Metodista); Débora Castanha (coordenadora Pedagógica da Educação Básica Metodista); Marilice Trentini de Oliveira (diretora do Colégio Metodista Americano); Gilka Silvia de Rezende Figueiredo (diretora do Colégio Metodista Bennett); Angela Maria Nerys (diretora do Colégio Metodista em Bertioga); Flávio Setembrino Pereira (diretor do Colégio Metodista Centenário); Shirlei Debussi Pissaia (diretora do Colégio Metodista em Itapeva); Elizabeth Raad Nassif (diretora do Colégio Metodista de Ribeirão Preto); Lúcia Lopez (coordenadora Pedagógica do Colégio Metodista União); Raquel Paula de Fortunato (coordenadora administrativa do Instituto Educacional Metodista de Passo Fundo; Sergio Luiz Polizel (diretor do Instituto Noroeste de Birigui); Arlene Magda Charantola (diretora do Instituto Americano de Lins); Simone Borrelli Achtschin (diretora do Colégio Metodista Granbery); Márcia Amorim (diretora do Colégio Metodista Izabela Hendrix); Joselene Henriques (diretora do
Erramos A foto ao lado, publicada na edição 1050, é de autoria de Cibele Garcia.
Colégio Episcopal - Bispo Paulo Tarso de Oliveira Lockmann (1ª Região Eclesiástica); Bispo Luiz Vergílio Batista da Rosa (2ª Região Eclesiástica); Bispo José Carlos Peres (3ª Região Eclesiástica); Bispo Roberto Alves de Souza (4ª Região Eclesiástica); Bispo Adonias Pereira do Lago (5ª Região Eclesiástica); Bispo João Carlos Lopes (6ª Região Eclesiástica); Bispa Marisa de Freitas Ferreira (Região Missionária do Nordeste); Bispo Carlos Alberto Tavares Alves (Região Missionária da Amazônia).
Leal Clavel (vice-presidente); Esther Lopes (secretária); Rev. Afranio Gonçalves Castro; Augusto Campos de Rezende; Jonas Adolfo Sala; Rev. Marcos Gomes Tôrres; Oscar Francisco Alves Jr.; Ronilson Carassini; Valdecir Barreros; Anelise Coelho Nunes (suplente); Renato Wanderley de Souza Lima (suplente).
Coordenação Geral de Ação Missionária Pastora Giselma Souza Almeida Matos; Deise Luce de Sousa Marques; pastor Clemir José Chagas; Iara da Silva Côvolo; pastora Cristiane Capeleti Pereira; Luiz Roberto Saparolli; pastora Hideide Brito Torres; Elias Bonifácio Leite; Recildo Narciso de Oliveira; Eric de Oliveira Santos; Silas Dornelas de Novaes.
Diretor de Finanças e Controladoria - Ricardo Rocha Faria
Conselho Superior de Administração - Paulo Borges Campos Jr. (presidente); Aires Ademir
Diretor Geral - Robson Ramos de Aguiar Vice-Diretor Geral - Gustavo Jacques Dias Alvim
Diretor de Inovação, Comunicação e Marketing - Luciano Sathler Conselho Geral das Instituições Metodistas de Educação - Rev. Luis de Souza Cardoso (secretário executivo); Evandro Ribeiro Oliveira (auditor interno); Marina Camilo Pereira Fazolim (secretária)
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CIDADE
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DE OLHO NA CIDADE
Ônibus podem parar fora do ponto entre 22h e 5h Objetivo é evitar assaltos tanto no embarque como no desembarque dos usuários Larissa Pereira/RRJ
Amanda Leonelli Larissa Pereira
COM O objetivo de evitar assaltos durante a noite no momento de embarque e desembarque dos passageiros, São Bernardo aprovou o projeto de lei 89/13, que determina a não obrigatoriedade da parada de ônibus da SBCTrans em pontos demarcados no período entre 22h e 5h. Assim, um passageiro pode pedir que o motorista pare o ônibus próximo de sua moradia, desde que ele não saia do itinerário. No entanto, a lei, de autoria do vereador Mauro Miaguti (DEM), em vigor desde o dia 15 de fevereiro de 2016, não tem sido respeitada por todos os motoristas, segundo os munícipes. A auxiliar de escritório Flávia Silva, 20, que utiliza a linha 51 (do Rudge Ramos até a Vila São Pedro) todos os dias por volta
Ônibus da SBCTrans tem aviso sobre nova lei, porém, segundo os passageiros, motoristas não a respeitam
das 23h, afirmou que já viu pessoas solicitando a parada fora do ponto, mas o condutor “fingiu que não escutou” e abriu a porta apenas no ponto de ônibus. “A maioria faz cara feia se você pede para abrir a por-
ta antes do ponto”, contou. A estudante Pamela Teixeira de Oliveira 19, sempre utiliza o ônibus por volta das 23h e afirma que não tem como pedir para o motorista realizar a parada fora do ponto, pois o veículo
Obras de revitalização modificam trânsito no Rudge Ramos Claudia Leone Maristela Caretta
AS MUDANÇAS que ocorreram no último dia 3 de maio nas vias do Rudge Ramos provocaram reclamações dos munícipes por conta do trânsito que se formou na região. Em abril, a prefeitura anunciou que a rua Laurindo Ádamo e a travessa Daré passariam por modificações com o objetivo de melhorar a mobilidade e a segurança dos pedestres. No entanto, os motoristas ainda não se adaptaram. A comerciante Camila Lattari Passos, 38, afirmou que o trânsito piorou muito desde a mudança. “As ruas
ficam totalmente paradas no horário de entrada e saída das escolas. O farol [da avenida Bispo César Dacorso Filho] fica tempo insuficiente aberto e tem muita gente reclamando do trânsito. O pessoal está confundindo muito as entradas. Até a população se acostumar, vai demorar”, disse. Após a conclusão da revitalização, a rua Laurindo Ádamo será configurada como rua compartilhada entre pedestres e veículos de uso local, para carga e descarga do comércio. A travessa Daré terá sua mão invertida e também será apenas de uso local, uma vez que os taxistas do Largo da Igreja serão realocados
sempre fica muito cheio. “Se você pede antes de passar pela catraca, o motorista vai esquecer de você.” A reportagem testou a lei duas vezes por volta das 23h. Na primeira tentativa, no sábado (16), o cobrador Maristela Caretta/RRJ
para a Praça da Capela, facilitando a circulação e acesso de pedestres. Para a esteticista Irene Maria de Oliveira, 47, a mudança pode atrapalhar suas clientes, que vão perder as vagas de estacionamento da via. “Mas por outro lado vai ter mais movimento com os pedestres que circularão pela praça. Como pedestre, eu achei ótimo, é uma melhoria, porque a gente costuma atravessar aqui e fica uma fila enorme de carros”, disse. Já a cabeleireira Silvana
Garcia, 47, acredita que a tendência é o movimento de clientes aumentar, pois vai abrir a visão do salão e intensificar a circulação de pedestres. “Como motorista vou sentir falta de um local para estacionar, porque aqui no Rudge não tem muitas vagas e, tirando mais essas duas ruas em que é possível parar, vai ficar ainda mais difícil”, afirmou. A entrega da obra estava prevista para abril. Piso do Largo Munícipes disseram
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orientou que a solicitação fosse feita ao motorista. Pediu-se que ele parasse 40 metros à frente do ponto, o que aconteceu. Já na sexta-feira (22), o pedido foi para que a reportagem descesse em frente a uma casa de shows, mas o motorista acabou passando do local solicitado e apenas parou no ponto de ônibus, longe do local de referência. Projeto O vereador Mauro Miaguti afirma que a lei foi sugerida após reclamações feitas pelos cidadãos. “Tarde da noite, os ladrões já sabiam que as pessoas desceriam naquele ponto de ônibus, então eles ficavam lá esperando o desembarque. Foi a partir daí que entramos com o projeto de lei aqui na Câmara”, explicou. Para o estudante de engenharia elétrica Pedro Eduardo Lourena, 19, apesar de morar fora do itinerário do ônibus que costuma usar, a lei pode ser utilizada em “eventuais circunstancias”. “Se um dia estiver chovendo e o ponto for longe de um lugar coberto, posso pedir para ele [o motorista] parar perto de um mercado ou algum lugar com cobertura”, afirmou. A SBCTrans foi procurada pela reportagem para comentar as críticas dos passageiros, mas a empresa não deu retorno. Reforma no bairro gera transtorno para pedestres, comerciantes e motoristas
que surpreenderam funcionários da empresa que cuida da reforma do Largo da Igreja removendo o piso do entorno. No momento da execução, os profissionais não seguiram o alinhamento de um piso ao outro conforme projeto aprovado. Comerciantes da região que não quiseram se identificar afirmaram terem visto funcionários da obra realizando a retirada do piso mais de uma vez. A Prefeitura de São Bernardo, por meio da Secretaria de Serviços Urbanos, informou, em nota, que o custo da obra com o prejuízo da remoção é de responsabilidade da empresa que está executando o serviço, não acarretando nenhum acréscimo no orçamento inicial.
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COMPORTAMENTO
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RUDGE RAMOS Jornal da Cidade Fotos: Gabriela Ribeiro/RRJ
Joares Julião caminha pelos corredores de seu estabelecimento em Mauá e mostra a variedade de produtos oferecidos
Mas, segundo Borges, a grande variedade de artigos ofertados atrai os consumidores e acaba tornando o empreendimento lucrativo e “o melhor [negócio] que tem”. “O pessoal entra para comprar só um escorredor de louça e sai com três sacolas cheias de produtos.”
Após boom, lojas de R$ 1,99 sobrevivem Recessão econômica e alta do dólar repaginaram comércio popular Gabriela Ribeiro
NÃO PRECISA ser um bom frequentador do varejo popular para ter notado que a época dos preços fixos já ficou para trás. Isso porque, desde quando surgiram como sensação no país, no final da década de 1990, as famosas lojas de apenas R$ 1,99 sofreram mudanças e tiveram de se adaptar ao novo cenário econômico. Se antes a baixa inflação e a paridade dólar/real influenciaram a aparição desse tipo de comércio, hoje a desvalorização da moeda e a inflação na casa dos 10% colocaram uma verdadeira “corda no pescoço” dos comerciantes, segundo o aposentado Joares Carlos Julião, 57. Quando decidiu abrir a “Loja a partir de R$ 1”, há nove anos, em Mauá, 50% dos itens do estabelecimento dele eram comercializados por esse valor. Hoje, apesar de poucos artigos ainda nesse preço, Julião afirma fazer o possível para segurá-los.
“Diminuí o lucro para não aumentar o preço. Às vezes, você perde o cliente por causa de 10 centavos.” Ainda que não considere mais um negócio vantajoso para os “pequenos”, o comerciante aposta em uma velha fórmula para manter as portas abertas. “Para ter resultado, eu trabalho com parente. Se eu colocar dois ou três
Tem de tudo na “Loja a partir de R$ 1”: biscoitos, doces, salgadinhos, potes, copos e outros produtos são vendidos no local
funcionários, aumenta o custo”, afirmou. Quem também sente a dificuldade do setor é Michael Batista Borges, 36, dono de duas lojas de perfil
popular em Mauá, com 50% dos produtos vendidos a R$ 1. Para ele, o que pesa são as incertezas do mercado, já que atualmente não consegue ter uma média de venda diária. “Hoje, saio de casa e não tenho como fazer um planejamento de quanto vou vender”, contou. O carro-chefe das lojas do comerciante é o alimentício, como balas e bolachas.
Novo rótulo A diversidade de mercadorias a preço justo e com qualidade é o diferencial desse comércio, avalia Marcelo Pinto e Silva, um dos colaboradores da Expo Brasil Feira, evento de negócios no atacado e que abriga a “Feira de 1 a 99”. De acordo com o especialista em marketing, apesar do momento delicado do país, tal característica do setor gera oportunidades de crescimento para quem “não cruzar os braços e ir com a maré”. Para Silva, além da gama de produtos comercializados, muitos relacionados às necessidades do dia a dia, hoje as lojas de variedades – como prefere chamar –, também abrangem todo o tipo de consumidor. “Antigamente, se relacionava produtos de R$ 1 a R$ 99 com baixa qualidade. Agora esse cenário mudou. Sempre tem um consumidor, independentemente da classe social, que precisa de uma utilidade doméstica e de um artigo de decoração”. Esse é o caso de Santina Batista da Silva, 75, consumidora assídua das lojas de R$ 1 há quase 20 anos. Toda semana, quando percebe que a despensa da casa começa a esvaziar, corre para o centro de Mauá para encher a cesta com utilidades e alimentos que leva para o marido e a bisneta. Apesar de não comprar nada de marca, disse garantir que os produtos valem à pena. “Aqui não tem nada famoso, mas é tudo gostoso. Nunca fez mal a ninguém e faz bem ao bolso da gente”, contou a aposentada, frisando também que, em tempos de crise, tem que se fazer economia procurando os melhores preços. “Eu sou assim: saio procurando. Onde tem os produtos mais em conta, eu estou ali [para comprá-los]”.
RUDGE RAMOS Jornal da Cidade
Locutor aluga voz para comerciantes Gabriel Russini
QUEM PASSA pela rua Marechal Deodoro, em São Bernardo, já deve ter ouvido a voz de Rogério Lujan Franco. Ele fez e faz de tudo um pouco. Canta, atua como DJ e já apresentou diversos eventos. Há aproximadamente dois anos e meio, trabalha como locutor profissional em empresas, lojas e estabelecimentos situados em centros comerciais da região. Franco, 42, disse que sempre teve facilidade na criação, no improviso e na hora de cativar o público para o local em que está trabalhando. O talento como locutor, segundo ele, veio do canto, da música, da alma, do coração de quem luta a cada dia por uma vida digna, simples e, acima de tudo, feliz e com muita saú-
COMPORTAMENTO
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Gabriel Russini/RRJ
Gabriela Ribeiro/RRJ
Gabriel Curty
A maior discrepância de valores entre os estabelecimentos aparece entre os copos e vasilhas plásticas
macarrão instantâneo. Em contrapartida, notou-se uma grande diferença em conjuntos de copos nos dois estabelecimentos. No Rei do Real, uma caixa com seis copos americanos de 200 ml custa R$ 6, o que representa R$ 1 cada. Já no
Rogério Lujan Franco já atuou como locutor em todo o tipo de estabelecimento da região
lojas dos mais variados segmentos, cantar em eventos, fazer cerimônias.” Entre os eventos e shows, Franco já atuou em uma grande empresa de títulos de capitalização e participou como locutor na entrega de um caminhão de prêmios de uma emissora famosa. Além dessas atividades, das quais se recusa a dizer quanto fatura, Franco também teve contato com rádios comunitárias na zona leste de São Paulo. Mas nem tudo na vida são flores. O grande sonho é seguir a carreira como cantor profissional, quem sabe conseguir uma gravadora e fazer o que sempre quis. Em meio a isso, há certa desilusão, mas nada que impeça o sonho de mostrar seu talento nos palcos da vida. “Não é só talento que determina o sucesso nesse ramo, há muitos fatores por trás”, completou.
de para seguir caminhando. “Trabalhei não só em São Paulo e em São Bernardo, mas também em Santo André e São Caetano. Já apresentei shows de artistas como o MC Gui, na Vila Carioca e no bairro Heliópolis.” Franco também já foi calouro do programa do Raul Gil e fez parte de um dos grupos de samba mais famosos do país: “Os Originais do Samba”. “Os Originais do Samba” é um grupo brasileiro formado na década de 1960 no Rio de Janeiro que conta com a participação de diversos ritmistas de escolas de samba. Mussum foi um deles. O grupo já contou com várias formações e existe até hoje. Franco participou do projeto por três anos. “Após a minha passagem pelo grupo, algumas pessoas passaram a me contratar para trabalhar em
Comércio popular oferece menor preço JARRAS, garrafas térmicas, bolachas, doces, sucos e até cotonetes. Dependendo da loja em que você comprar um desses produtos, pode desembolsar muito dinheiro ou apenas R$ 1. É que, em tempos de crise, alta no índice de desemprego e pouca variação nos preços, estabelecimentos da região com teor mais popular estão oferecendo produtos com um valor mais acessível à população. O produto nem sempre é da mesma marca, mas a finalidade é a mesma. O que importa é pesquisar os preços antes de comprar. A reportagem visitou uma unidade do Extra, que é uma grande rede de supermercados, e o Rei do Real, uma loja popular, ambos no Rudge Ramos. O objetivo foi comparar o preço cobrado pelos mesmos produtos. Há alguns, no entanto, que mantêm praticamente o mesmo valor. É o caso do suco em pó Tang e de diversas marcas de
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Extra, em algumas caixas com quantidade de 200 ml até 280 ml, os preços variam entre R$ 12 e R$ 31. A maior diferença de preços registrada nos dois locais foi em relação aos produtos plásticos. No Extra, um conjunto de três
vasilhas plásticas, do tipo Tupperware, era oferecido a R$ 9,99 e jarras dos mais variados tamanhos ficavam entre R$ 7 e R$ 10. Já no Rei do Real, tanto as jarras quanto as vasilhas custavam R$ 1 a unidade, o preço padrão da loja.
A diarista Júlia Carla da Silva, 25, disse que frequenta esse tipo de comércio pelo menos duas vezes por semana. Questionada sobre o preço dos produtos, a consumidora afirmou que a economia é garantida. “Gasto sempre menos. Por exemplo: compro uma caixa com cem cotonetes por R$ 1. Tenho certeza que gastarei mais em um mercado mais tradicional”, disse. Júlia, no entanto, também ressaltou que não compra tudo nesses locais “justamente por não conhecer a marca”. A técnica de enfermagem Damiana Francisca afirmou ter preferência pela compra de produtos de limpeza nessas lojas. Após sair da loja Shopping do Real, na rua Marechal Deodoro, no centro de São Bernardo, Damiana contou que fez a compra de panos e desinfetantes para a limpeza do lar. “Não é como um Veja [produto referência], que é muito caro em qualquer mercado tradicional, mas satisfaz a minha necessidade e, claro, ajuda o meu bolso”, afirmou.
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SAÚDE
RUDGE RAMOS Jornal da Cidade
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Mudança de hábito familiar gera obesidade infantil Especialistas apontam que crianças passam mais tempo comendo enquanto pais trabalham
Claudia Leone
A FACILIDADE e a acessibilidade de recursos que a sociedade atual oferece têm sido temas de discussão entre especialistas, principalmente quando o assunto é obesidade infantil. Dados de 2015 divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que uma em cada três crianças, entre cinco e nove anos, está acima do peso recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Ainda de acordo com a pesquisa, boa parte das crianças, atualmente, está crescendo em ambientes que favorecem e incentivam o ganho de peso e a obesidade. As causas, no entanto, se mostram diretamente ligadas ao desenvolvimento da globalização e urbanização sem depender, necessariamente, do grupo socioeconômico o qual as crianças vivem com suas famílias. “Hoje, notamos uma mudança na configuração familiar. Os pais passam mais tempo trabalhando e a criança, consequentemente, fica sozinha e, boa parte do tempo, ela passa comendo, justamente, como uma forma de suprir essa carência”, disse a pediatra e especialista em endocrinologia infantil Andresa Figueiredo. É o caso de Ana Caroline, 10, que, após a separação dos pais, passa a maior parte do tempo sob os cuidados da avó. A mãe, Cristiane Karina de Siqueira, 32, é comerciante e explica que a filha vem enfrentando diversos problemas por conta da má alimentação. “A avó oferece de tudo para a Ana e, com o tempo, ela passou a engordar muito. Hoje, ela passa por consultas periódicas com psicólogo e nutricionista para corrigir esses maus hábitos”, contou. Atualmente, Ana Caroline pesa 72 kg, cerca de 40 kg a mais do que o recomendado para a idade. De acordo com especia-
Causas da obesidade infantil
De cada
3
crianças
1
Consumo de alimentos não saudáveis
50%
está acima do peso recomendado para a idade
Sedentarismo
35% 10 % 5%
Genética
“
Hormônios
Os pais passam mais tempo trabalhando e a criança, consequentemente, fica sozinha e boa parte do tempo ela passa comendo, justamente como uma forma de suprir essa carência”. Andresa Figueiredo
Pediatra
“
É preciso que a família se alimente junto e pratique exercícios em conjunto. Isso contribui não só para uma vida mais saudável como também para manter a família mais unida e feliz”. Antonietta Domini Psicóloga
listas, as principais consequências da obesidade são problemas com as articulações, dificuldades de locomoção, problemas cardiovasculares, colesterol alto, desenvolvimento precoce de diabetes infantil, apneia do sono e problemas de concentração por não estar dormindo bem. Segundo Antonietta Domini, especialista em psicologia individual e familiar, para conseguir mudar os maus hábitos alimentares da criança é necessário que toda a família mude a própria rotina. “É preciso que todos se alimentem juntos e pratiquem exercícios em conjunto. Isso contribui não só para uma vida mais saudável como também para manter a família mais unida e feliz”, disse. Em casos mais graves, em que a obesidade infantil não é corrigida no momento adequado e não passa por acompanhamento médico, as consequências podem contribuir para o desenvolvimento de adultos depressivos, com crises de ansiedade ou com síndrome do pânico. Nesses casos, a psicóloga também esclarece: “Temos o costume de associar a comida como válvulas de escape, independentemente até mesmo de idade. Nessas situações, não é só a criança que necessita de um tratamento, e sim toda a família. Os pais precisam aprender a observar mais os filhos e a aprender mais com eles”.
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SAÚDE
De 12 a 24 de maio de 2016 Divulgação
Criança com sobrepeso pode sofrer bullying
Cléber C. Oliveira
O BULLYING nas escolas pode prejudicar a construção das relações interpessoais de quem sofre com a agressão. A obesidade infantil é um fator que gera esta situação. Os atritos em sala de aula, por conta da obesidade, trazem desmotivação para o agredido, inibindo-o de frequentar ambientes sociais, além de fazer mal para saúde física. O trabalho pedagógico desenvolvido nas escolas não trata o bullying contra obesidade como um caso à parte. A ideia é que o trabalho preventivo seja estruturado e evite situações de preconFotos: Gabriel Boridn/RRJ
Acima, cartaz da Amil sobre a campanha contra a obesidade infantil; à direira, prato de uma refeição considerada completa e saudável; abaixo, refeição que oferece substâncias acima do valor recomendado para uma porção diária
ceito em geral. “O respeito e a tolerância são explicados nos primeiros dias de aula, a fim de evitar os conflitos”, disse Alba Valéria de Almeida, coordenadora escolar do ensino primário. Quando os desentendimentos ocorrem, existe um trabalho de intervenção. A coordenação da escola instrui os professores a adotarem a conversa e explicar o impacto negativo que o bullying traz. “Muitas vezes, se trata de chamar atenção por terem alguma carência ou encobrir dificuldades escolares”, disse Alba. Mas a coordenadora salienta que “cada caso é um caso e cabe a interpretação do professor”. Também, é importante oferecer à criança que sofreu bullying estratégias mais eficientes para lidar com eventuais novas violências, tais como a busca por um diálogo e evitar situações que possam levar a novos constrangimentos.
Caso o problema prejudique mais do que o ambiente escolar, a orientação psicológica é indicada. Com a vergonha de interagir em lugares públicos, a criança fica deprimida e doenças psicossomáticas podem aparecer. Não são raros os casos em que crianças oprimidas, por estarem acima do peso, apresentem problemas gástricos, transtornos de ansiedade e crises de pânico. “Os pais precisam ficar atentos a esses sintomas, pois a criança pode ser alvo de bullying”, disse a psicóloga Rosilene Soler. A sociedade é exigente quanto aos padrões de beleza, sobretudo com a obesidade. E nem sempre pode-se atribuir o sobrepeso à má alimentação ou gula. Fatores como o estresse, distúrbios hormonais, metabolismo alterado e a depressão são agentes que trazem ganho de peso. Em alguns casos, o distúrbio gerado pela depressão traz um apetite exagerado. “O alimento é ingerido para aliviar sintomas como carência e medo”, afirmou Rosilene. “É importante integrar os pais no processo”, declarou o psicólogo Vinicius Renato Thomé Ferreira, doutor em psicologia. O especialista lembrou também que o comportamento alimentar na infância é fundamental para a constituição de adultos saudáveis, e a melhoria dos padrões alimentares ajudará muito a evitar futuros problemas de saúde.
vel para ele. “Quando vamos ao mercado, ele escolhe alguns alimentos. Se vemos que o que ele escolheu não vai atrapalhar a sua alimentação, compramos”, disse. A nutricionista ressalta que uma alimentação saudável, além de fornecer nutrientes para uma for-
mação óssea correta, é importante na proteção do organismo de várias doenças. “É na fase que se constroem os hábitos alimentares que são definidos todos os nutrientes que a criança irá ingerir por toda a vida.” Mas, a boa alimentação não deve ser vista como único pilar de uma vida saudável. Junto, as atividades físicas têm grande responsabilidade nesse processo. Segundo a preparadora física Maria Munhoz, a combinação alimentação mais prática de exercícios é uma boa forma de obter os bons resultados físicos. “A brincadeira é a melhor forma de exercitar uma criança, auxiliando na saúde, não só física, como mental dos pequenos”, afirmou.
“
Muitas vezes se trata de chamar atenção por terem alguma carência ou encobrir dificuldades escolares” Alba Valéria
Coordenadora Escolar
Mau hábito alimentar é herança de família Gabriel Bordin
“JUNIOR tem os olhos da mãe.” “José tem o porte do pai.” Maria tem o temperamento da avó.” Não é difícil ouvir e falar essas frases ao longo do desenvolvimento de uma criança. E a comparação com a família é inevitável e, muitas vezes, divertidas. Mas, uma comparação que é usualmente esquecida e nem tão engraçada assim é quando se refere a hábitos alimentares. A nutricionista Sylvia Pereira explicou que
as crianças imitam os hábitos alimentares dos pais, mesmo que eles não digam nada. “Uma criança que cresce com pais que possuem maus hábitos alimentares, dificilmente terá uma dieta saudável, mesmo com seguidas brigas e discursos, que soarão vazios”, contou. A dona de Casa Natalie Moreia, 31, é mãe de Guilherme, de 3, que possui uma alimentação balanceada desde os seis meses de idade. Segundo Natalie, a introdução de uma alimentação saudável foi natural, inserindo aos poucos alimentos mais nutricionais, sem gerar trauma na criança. “Com
isso, a alimentação de toda a família foi mudada e para melhor. Para dar o exemplo, nos enquadramos a uma nova rotina alimentar”, contou. Daiane Correa, mãe de Eduardo Correa, conta que a criança tem a liberdade de escolha dos alimentos, desde que seja necessário e saudá-
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COMPORTAMENTO
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De 12 a 24 de maio de 2016
“Faça Você Mesmo” é saída mais barata para reformar Técnica que utiliza tutoriais do Youtube está se tornando cada vez mais comum Caroline Gibin
A TÉCNICA do “Do It Yourself”, ou “Faça Você Mesmo”, tem se tornado um hábito comum entre pessoas que querem reformar e redecorar a casa, ou algum cômodo. O conceito do “Faça Você Mesmo” é baseado na fabricação ou reparação de algo por conta própria, no lugar de contratar um profissional especializado. Ao entrar na Internet é possível encontrar canais no Youtube e sites com instruções com o passo a passo e dicas para ajudar quem adere à prática. Uma das principais razões de quem opta por fazer os trabalhos sem a ajuda de um profissional é a questão financeira. Ao aprender etapas de execução por conta própria é possível economizar com a mão de obra. O assistente de marketing Matheus Bassani, 20, é um exemplo. Além de já ter facilidade com trabalhos manuais, a economia foi o ponto forte na hora de decidir usar as técnicas do “Faça Você Mesmo”. Ele já pintou cômodos de sua casa, reformou móveis e até mesmo construiu alguns, como uma escrivaninha de pallets, seguindo orientações do Youtube. Além de economizar com a mão de obra, também cortou gastos com os materiais usados. “Foi fácil aprender com por meio da internet, sempre gostei de tarefas manuais e já realizava projetos mais simples com meu pai, agora posso criar uma escrivaninha de pallets sozinho graças aos vídeos”, comentou Bassani. Essa técnica não é restrita para pequenos reparos e decoração, vai muito além, algumas pessoas buscam o passo a passo para mudar sua casa inteira e ainda assim, gastam menos. O morador de São Caetano, Edson Neves, 45, usou a internet como ferramenta para aprender como fazer uma reforma completa na casa onde mora. Já são três anos de obras
Fotos: Caroline Gibin/RRJ
Com a técnica do “Faça Você Mesmo”, Edson Neves conseguiu reformar sozinho desde a pintura até a parte elétrica de sua casa
e até agora ele e a família construíram novas paredes, reorganizaram a rede de água, esgoto e elétrica, instalaram portas, janelas e forros, assentaram pisos, azulejos e pastilhas, aplicaram gesso e massa corrida nas paredes e pintaram a casa. Segundo Neves, como era uma reforma de grande porte, para alguns casos específicos foi necessário contratar um profissional para supervisionar a obra e evitar complicações na estrutura da casa. “O primeiro passo foi pegar a planta original da casa e fazer um novo desenho preservando a parte estrutural, para isso precisamos da consultoria de um engenheiro civil. Então, dividimos todo o projeto da reforma em etapas, em procedimentos que podíamos realizar por conta própria e aqueles que precisaríamos contratar um profissional.”
O engenheiro civil Pedro Rodrigues Correia explica que a vistoria do projeto da obra deve ser feita por um profissional especializado, já que se o procedimento for incorreto, pode acarretar diversos problemas estruturais. “Ao optar fazer trabalhos que mexam com a parte estrutural de uma casa ou edifício é sempre recomendado que ocorra uma supervisão de um profissional qualificado, inclusive hoje em dia as prefeituras exigem que qualquer serviço tenha uma ART (Anotação de Responsabilidade Técnica), e estes documentos podem ser emitidos apenas por profissionais da área (engenheiros civis).” Os vídeos que ele encontrou na internet com dicas e instruções de como executar cada passo da reforma foram parte importante para que tudo fosse feito da forma correta. “Usamos muito a internet para aprender a fazer as coisas. Antes de fazer qualquer tarefa sempre procuramos algum tutorial ou vídeo na internet para ver dicas e a melhor forma de fazer. Nós nunca tínhamos feito a maioria dos trabalhos, com certeza isso foi essencial, ajudou muito.” Ao cortar gastos com a mão de obra especializada, como um pedreiro e eletricista, Neves conseguiu economizar R$ 50 mil. Transtornos Apesar dos benefícios econômicos que o “Faça Você Mesmo” pode trazer, alguns profissionais não acham viável optar por fazer esses trabalhos por conta própria. “Algumas pessoas tentam fazer sozinhas, mas não conseguem dar um bom acabamento e se arrependem porque estragam o material também”, disse o empreiteiro de obra, Daniel Natalício da Silva, que atua na área há 24 anos. Esse é um dos motivos pelos quais ele não sentiu uma queda na demanda de clientes e obras. O eletricista, Isaú Alves Ribeiro, também alerta quando o assunto é segurança nas obras feitas com tutoriais assistidos no Youtube. “O trabalho de elétrica é arriscado, perigoso, se você não tiver experiência com isso pode sofrer acidentes, colocar a instalação elétrica da casa em risco e até causar incêndios”.
COMPORTAMENTO
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Giovana Alves/RRJ
Giovana Alves e Ana Beatriz Moço
O MOMENTO dos jovens morarem sozinhos e arcarem com as próprias despesas pode ser desafiador. Os gastos com a faculdade, locomoção e outras contas normalmente ultrapassam os salários de estágio. Uma possível solução são as atividades que possibilitam uma renda extra. Vitor de Souza, 22, se uniu aos amigos Lucas Filinto, 23, e Caio Mitsuo, 22, para vender saladas de pote e bolinhos de grão de bico com ricota para seus colegas de curso da UFABC (Universidade Federal do ABC). Isso porque a renda do estágio não estava cobrindo todas as despesas. “Eu divido apartamento com um colega e, como os produtos básicos do nosso dia a dia aumentaram de preço, começou a ficar difícil pagar todas as contas só com a renda do estágio”, explicou. Neste primeiro mês de vendas, o lucro chegou a R$ 700, que é utilizado para pagar despesas
Jovens buscam segunda atividade para ter como complementar salário “
Às vezes menosprezamos os impactos que as crises econômicas têm na vida das pessoas, mas são enormes, e podem reorganizar toda a cultura familiar e mudar os hábitos radicalmente”. Esther Solano
“
Eu juntei dinheiro vendendo roupas que não usava mais e montei um negócio próprio que, atualmente, paga a maior parte da minha faculdade de arquitetura”.
Socióloga
da casa e combustível, de acordo com Souza. Vendas via internet são outra opção muito utilizada pelos jovens, já que o meio é um elemento importante de divulgação de habilidades que podem se transformar em negócios de baixo custo, ou mesmo uma plataforma para o desenvolvimento de empresas de baixo custo e alta rentabilidade, como explicou o economista Ricardo Balistiero.
Nas redes sociais, por exemplo, é comum encontrar grupos de brechó em que jovens vendem peças de vestuário, móveis, e qualquer outro produto usado, ou até mesmo novo. Para Mônica Conessa, 21, o Facebook foi uma porta de entrada para abrir uma loja on-line. “Eu juntei dinheiro vendendo roupas que não usava mais e montei um negócio próprio que, atualmente, paga a maior
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Mônica Conessa
Projetista
parte da minha faculdade de arquitetura”, afirmou. Além da loja, Mônica trabalha oito horas por dia como projetista em um escritório de engenharia. Estrutura familiar A taxa de desemprego no ABC aumentou de 15% em janeiro para 15,7% em fevereiro de 2016, segundo dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED, realizada pela Fundação
Vitor de Souza e Lucas Filinto se juntaram há cerca de um mês para investir em um negócio autônomo
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Seade e pelo Dieese em parceria com o Consórcio Intermunicipal Grande ABC. Neste cenário, a única faixa etária que apresentou diminuição do número de ocupados foi a de 16 a 24 anos, com decréscimo de 2,8% em relação ao mesmo período de 2015. O mercado formal também perdeu força, dando lugar a um crescimento de 1,9% do número de trabalhadores autônomos, também comparado a 2015. Para a socióloga Esther Solano, estes números explicam o fato de boa parte da população buscar alternativas para enfrentar a crise, cortar despesas e aumentar a renda. A especialista aponta ainda que a necessidade de buscar alternativas para enfrentar queda na renda doméstica, como produzir alimentos para vender, por exemplo, leva a uma mudança na estrutura familiar. “O impacto na vida individual e coletiva é grande, claro, porque muda toda uma cultura familiar e se reorganiza a vida diária. Às vezes, menosprezamos os impactos que as crises econômicas têm na vida das pessoas, mas são enormes, e podem reorganizar toda a cultura familiar e mudar os hábitos radicalmente”, disse Esther. Esther relata também que as mudanças implicam em benefícios: “As pessoas podem encontrar outros tipos de vantagens, como aumentar suas habilidades, passar mais tempo com a família ou conhecidos e aprender conhecimentos novos. Mas a mudança acaba sendo na marra, provocada pela instabilidade econômica.” Murilo Rodrigues
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Bens tombados contam a história de São Bernardo Cidade tem 31 patrimônios culturais que contribuem para a preservação da memória local Caroline Ferrari
Murilo Rodrigues
QUEM anda por São Bernardo pode não perceber, mas por meio de alguns monumentos, casas e ruas pode-se contar a história da região. Atualmente, a cidade tem 31 bens tombados localizados em diferentes endereços. No início da sua histó-
ria, o município estava ligado à Vila de Santo André da Borda do Campo e era local de passagem das tropas até Santos. Com a inauguração da Via Anchieta em 1947, que coincide com o período pós-guerra e a industrialização da região, grandes empresas se instalaram na cidade o que levou trabalhadores a escolherem a região para morar devido à oportunidade de empregos. A partir da década de 1950, empresas automobilísticas se instalaram na região impulsionando a economia local. A Chácara Silvestre, por exemplo, foi uma antiga casa de veraneio de Wallace Cockrane Simonsen (1909 - 1965) um dos líderes do movimento pela emancipação política do município. Em 18 de junho
1984, a casa foi tombada. Uma forma de reconhecer e eternizar esses bens é solicitar o tombamento. O COMPAHC – SBC (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural de São Bernardo do Campo) é o setor responsável por propor e realizar tombamentos e dar as diretrizes para reformas. Qualquer cidadão, entidade pública ou privada pode solicitar o tombamento de um objeto por meio da Rede Fácil, que fica no andar térreo do Paço Municipal da cidade, o interessado deve formalizar, justificar o pedido e juntar os documentos sobre o bem cultural, após a requisição será feita a análise. Segundo Flavio Augusto de Campos chefe da seção de patrimônio
histórico, a preservação de um patrimônio mantém viva a memória e o reconhecimento histórico da região. O tombamento é um instrumento jurídico que reconhece oficialmente o valor de um bem seja ele público ou privado. O recurso valoriza o passado e a memória coletiva, não só na arquitetura como em outras áreas. Campos ressalta que não existem critérios pré-definidos para o tombamento, mas é avaliado se o objeto teve participação em algum momento histórico. Segundo ele, em muitos casos as propostas feitas não são suficientes para tombar um patrimônio. “Uma pessoa ou entidade pode fazer o pedido. Após a solicitação é aberto um processo administrativo que chega para gente e fa-
RUDGE RAMOS Jornal da Cidade Caroline Ferrari/RRJ
Chácara Silvestre foi moradia de um dos precursores da independência do município e hoje abriga o acervo histórico da cidade
zemos o estudo sobre o bem material”, disse Campos. O aposentado e morador do bairro Bonfim, em São Bernardo, Jerônimo Lima Alves, busca sempre acompanhar as exposições sobre a história da cidade. Segundo ele, os espaços públicos históricos deveriam ser mais divulgados. O arquiteto e urbanista Jair Antônio de Oliveira Junior destaca a importância de resgatar a memória do local. Segundo o especialista, o patrimônio cultural deve ser tratado de forma responsável, pois ele gera pertencimento às pessoas. Para Junior, é preciso dar importância ao patrimônio histórico para lembrarmos quem nós fomos e projetar quem seremos. “Quando você preserva a sua cultura arquitetônica você está construindo e constituindo a identidade da população, os patrimônios mostram como a sociedade se estruturou“, afirmou.
RUDGE RAMOS Jornal da Cidade
CULTURA
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Museu Castelo deve reabrir em maio Érika Motoda/RRJ
Érika Motoda
A REABERTURA do Museu Castelo, mais conhecido como Castelinho pelos moradores e comerciantes da Vila Ferroviária de Paranapiacaba, em Santo André, está prevista para o final do mês de maio. O local, que está fechado desde o começo de março para reformas preventivas e manutenção da pintura, já foi moradia do engenheiro-chefe da empresa SPR (São Paulo Railway Company). A casa foi erguida em 1897 e ainda abriga objetos pessoais do antigo dono, como relógios, quadros e móveis, além de banners com a história da formação da vila. O comerciante e representante dos moradores da vila Gercino Luís da Silva afirma que os restauros estão sendo feitos para reparar os danos causados pela tentativa de incêndio de outubro de 2015. A prefeitura, por meio da assessoria de imprensa, diz que as obras já estavam previstas no cronograma da Secretaria de Paranapiacaba e têm como única função conservar o espaço, porque o fogo atingiu apenas algumas cadeiras, que
O INTERESSE da sociedade por um patrimônio cultural está diretamente ligado ao significado que desempenha na comunidade. No bairro Rudge Ramos existe três patrimônios históricos. A árvore Jatobá e a Chácara Colúmbia ficam na avenida Vergueiro, enquanto o Edifício Alfa pertence ao campus da Universidade Metodista. Reconhecido como patrimônio histórico em 2006, o Jatobá fica na altura 1.001 da Vergueiro e é preservado por ser uma espécie em extinção. Já a chácara
R$ 42 milhões para o restauro
Mirna Bosnick conta que os turistas vão a Paranapiacaba para conhecer o acervo do Castelinho, mas acabam voltando sem ver a exposição. De acordo com a gerência de turismo do distrito, a média de visitantes do Museu Castelo por final de semana varia entre 50 a 200 pessoas e os ingressos custam R$3, sendo que um terço do valor é destinado para os serviços de manutenção dos locais históricos.
Principal acesso ao Museu Castelo fica aberto para os visitantes; o interior do monumento continua fechado para obras de manutenção
já foram encaminhadas para o Museu de Santo André para restauro. O monumento é consi-
derado a principal construção arquitetônica da parte baixa de vila ferroviária, mas, por enquanto, apenas a entrada principal que dá acesso à fachada da casa está aberta, de onde é possível observar uma placa da prefeitura sinalizando que o término da obra deveria ter sido em janeiro deste ano.
Rudge Ramos abriga três patrimônios históricos Aesa Galli
Governo Federal repassou mais de
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Colúmbia fica no número 3.490 da mesma via. Conhecida como casarão entre os moradores do bairro, a chácara é o item mais recente na lista de bens municipais. O IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) disponibiliza uma relação com todos os monumentos de São Bernardo na internet. Daniel Salles, 23, professor de educação física, mora no Rudge há cinco anos, e fala que nunca havia imaginado que na avenida existem dois bens históricos. “Se fosse mais divulgado, as pessoas valorizariam a representatividade cultural e histórica desses patrimônios”, afirmou. A atual responsável pela administração do Edi-
O valor investido foi de aproximadamente R$574 mil e a verba veio do FUGEPHAPA (Fundo de Gestão do Patrimônio Histórico da Vila de Paranapiacaba e Parque Andreense), da Prefeitura de Santo André. A vendedora de artesanato e moradora da Vila
Aesa Galli/RRJ
fício Alfa, Gláucia Dias, defende que informações a respeito dos bens públicos cumprem um papel importante na preservação e divulgação da memória regional. “Quando a divulgação é feita de maneira correta, as pessoas se interessam em conhecer os bens
municipais”, comentou. O Edifício Alfa foi construído em 1942 e desde 1987 é tombado como patrimônio histórico. Gláucia explica que além de funcionar como biblioteca pública e moradia para os novos alunos, o prédio foi construído para concentrar as aulas de
Patrimônio Mundial A Vila Ferroviária de Paranapiacaba está passando por uma série de reformas para poder se tornar Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a ciência e a Cultura). O Governo Federal repassou cerca de R$42,5 milhões do PAC (Programa de Aceleração ao Crescimento) das Cidades Históricas para que a vila fosse restaurada de acordo com os padrões estabelecidos pelo órgão mundial.
Edifício é aberto para visitas de segunda a sexta, das 10h às 16h
teologia da universidade. Hoje, o espaço abriga o CMM (Centro de Memória Metodista) – um órgão de pesquisa e documentação da universidade. Segundo a responsável pela administração do prédio, no Centro de Memória estão organizados o Arquivo Geral da Igreja Metodista, o Arquivo Histórico da Faculdade de Teologia e a gestão do IMS (Instituto Metodista de Ensino Superior). No andar térreo estão alocados o Museu Guaracy Silveira e o Projeto Digital (Biblioteca e Documentação Digital do Protestantismo Brasileiro). “Mas o que realmente está em atividade são os arquivos e o museu”, explicou Gláucia.’
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