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Produzido pelos alunos do Curso de Jornalismo
De 29 de setembro a 13 de outubro de 2016
ANO 36 - Nº 1056 Alexandre Leoratti/RRJ
JARDINS PERSONALIZADOS PERSONALIZADOS Moradores regam as plantas diariamente e colocam enfeites para crianças em espaços verdes de quatro ruas do bairro. Pág. 5 Claudia Leone/RRJ
» MEMÓRIA João Souza/RRJ
» MUDANÇA
CAISM (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher) sai do bairro Santa Terezinha e passa a atender na rua Brasil Pág. 3
Dono de banca de jornal acompanha transformações do Rudge há 50 anos Pág. 5
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CIDADE
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Amanda Leonelli Florindo
FIDELIDADE. Essa é uma das explicações para um comércio que se mantém no Rudge Ramos pelo menos há mais de 50 anos, como a Merci Disco. Há outros mais “jovens”, com 50, 47 e até 33 anos atendendo os moradores. A reportagem foi ouvir os comerciantes. A maioria deu a receita da longevidade: honestidade e bom atendimento. Desde de 1960, a loja Merci Disco faz parte do cenário da av. Dr. Rudge Ramos. Já passou pelas mãos de três donos. O primeiro ficou por cerca de oito anos. Depois, Antônio Nelson Sambrano, um vendedor que trabalhava no ramo de discos, a comprou no final da década de 60. E, há 40 anos, o sobrinho de Antônio, Sergio de Anuncio, 65, é o proprietário. Já houve outra Merci Disco, no Shopping Metrópole, por 28 anos, fechada em 2009. O proprietário contou que o principal público são idosos. “Hoje, os avós que são clientes há muitas décadas trazem os netos, às vezes até bisnetos”, disse. Ainda segundo Sérgio, para manter tantas gerações de clientes, “é preciso honestidade e dedicação ao cliente, além do principal, a mercadoria que o comprador precisa”. Outro comerciante do bairro que atribui ao bom atendimento a sua existência é Marcelo Fuzeti, 49, dono do Bazar São José, que fica na rua Helena Jacquey, desde 1967. Herdou a loja dos pais, com dois irmãos. Além de agradar os clientes, disse que é preciso “manter os produtos atualizados”. Há quase 50 anos no local, o bazar vende produtos de escritório e armarinho, como lãs, linhas, botões e materiais escolares e para cursos de crochê e tricô. Mas, de acordo com Fuzeti, o público que procura esse
Rudge Ramos JORNAL DA CIDADE editorial@metodista.br Rua do Sacramento, 230 Ed. Delta - Sala 141 Tel.: 4366-5871 - Rudge Ramos São Bernardo - CEP: 09640-000
Produzido pelos alunos do curso de Jornalismo da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo
Vendedores do Rudge mantêm comércios há mais de 30 anos Hoje os comerciantes recebem os antigos clientes acompanhados dos netos Amanda Leonelli Florindo/RRJ
tipo de material diminuiu. “Hoje, 60% dos clientes são senhoras, a maioria costureiras. O público jovem não segue essa tendência de costuras e bordados”, falou. Referência Permanecer por tanto tempo atendendo faz o comerciante ser referência para os mais velhos e também para as novas gerações. É o caso da Ótica e Relojoaria Rudge, fundada em 1971, e atendendo na rua Jacquey desde 1993. Antes estava na Helena Jacquey. Seu fundador é Arthur Takenori, 77, que segue à
frente do negócio. A ótica e relojoaria vende joias e acessórios, além de fazer consertos. Takenori disse que a maior parte do público são senhores e senhoras que frequentam o estabelecimento há muito tempo. E, por meio deles, filhos e netos também passaram a frequentar o local. “Nos tornamos referência para os mais antigos do bairro”, disse. Bate-papo Já a Sapataria Boa Esperança está no bairro desde 1972. Fica na rua Helena Jacquey. Já esteve na Rua Cabreúva até 1998. A sa-
Bazar São José está no bairro desde de 1967; o dono do local Marcelo Fuzeti herdou a loja dos pais, com dois irmãos
pataria passou de pai para filho. Hoje, está nas mãos de Eduardo Martins, 46. Segundo Martins, quando seu pai, Durval Martins, abriu a sapataria, havia outras cinco no bairro. Agora, só existe essa. “A maioria dos sapateiros já morreu ou está aposentada. É uma profissão que não se renova. Acredito que vá se extinguir em uns 30 anos.”
DIRETOR - Nicanor Lopes COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO - Rodolfo Carlos Martino. REDAÇÃO MULTIMÍDIA - Editor-chefe - Júlio Veríssimo (MTb 16.706); EDITORA-EXECUTIVA E EDITORA DO RRJ - Margarete Vieira (MTb16.707); EDITOR DE ARTE - José Reis Filho (MTb 12.357); ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA - Maristela Caretta (MTb 64.183)
EQUIPE DE REDAÇÃO - Alexandre Leoratti, Allaf Barros, Amanda Leonelli, Claudia Leone, Erika Daykem, Érika Motoda, Felipe Siqueira, Gabriel Mendes, João Souza, Laís Pagoto, Lucas Laranjeira, Nathalia Nascimento, Paula Gomes, Thais Souza, Thamiris Galhardo, Victor Godoi, Victoria Roman e alunos do 5º semestre de Jornalismo. TIRAGEM: 10 mil exemplares - Produção de Fotolito e Impressão: Gráfica Mar-Mar
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Ele também contou que, na década de 80, a maioria dos clientes eram homens, cerca de 80%. Mas, nos últimos anos, o público que mais procura o serviço de sapataria é feminino, em torno de 95%. Disse ainda que 5% dos pertences deixados para conserto não são retirados pelos donos. O que não é vendido é doado às igrejas. Há clientes que frequentam a sapataria há décadas e que, mesmo quando não necessitem dos serviços, costumam se reunir na sapataria para conversar. Por falar em sapatos, a loja Ta Cha, inaugurada em 1980 por Luiz Diogo Junior, 55, gerou filhotes. Além da matriz, na rua Jacquey, há mais três no bairro. Uma com o mesmo nome e outras duas com nomes diferente: R49, na avenida Dr. Rudge Ramos, e Outlet Rudge, na travessa Daré. Diogo Junior contou que, além dos novos, há clientes que frequentam a loja há mais de 30 anos e que é comum avós que levavam os filhos agora trazerem os netos. “Tem gente que veio comprar o sapato de casamento da filha, agora vem comprar os sapatos para os netinhos.” Por fim, na gastronomia, o bairro conta com Marcelo Salgados, desde 1983, de propriedade de Marcelo Nakamura, 57. Começou com a mãe no antigo Pão de Açúcar, no Rudge. Nesse ponto, o comerciante ficou 30 anos. Há três, está na rua Ângela Tomé. Já ganhou até prêmio gastronômico. Nakamura disse que o movimento caiu cerca de 30% em comparação ao ano passado. E que, para manter o público que conquistou, não aumenta os valores dos alimentos. Além disso, o comerciante diz que é necessário “ser honesto e trabalhar direito”. Para ele, esses são os segredos da longevidade de seu comércio.
DIRETOR DE FINANÇAS E CONTROLADORIA - Ricardo Rocha Faria DIRETOR DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO, MARKETING E SUPRIMENTOS - Ronilson Carassini CONSELHO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO - Paulo Borges Campos Jr. (presidente); Aires Ademir Leal Clavel (vice-presidente); Esther Lopes (secretária); Rev. Afranio Gonçalves Castro; Augusto Campos de Rezende; Jonas Adolfo Sala; Rev. Marcos Gomes Tôrres; Oscar Francisco Alves Jr.; Valdecir Barreros; Renato Wanderley de Souza Lima (suplente). DIRETOR GERAL - Robson Ramos de Aguiar VICE-DIRETOR GERAL - Gustavo Jacques Dias Alvim
REITOR: Fábio Botelho Josgrilberg (interino), Coordenadora de Graduação e Extensão - Vera Lucia Gouvea Stivaletti, Coordenador de Pós-Graduação e Pesquisa - Fábio Botelho Josgrilberg DIRETORES - Rogério Gentil Bellot (Escola de Ciências Médicas e da Saúde), Nicanor Lopes (Escola de Comunicação, Educação e Humanidades), Carlos Eduardo Santi (Escola de Engenharias, Tecnologia e Informação), Fulvio Cristofoli (Escola de Gestão e Direito) e Paulo Roberto Garcia (Escola de Teologia).
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Mais de 600 mil vão às urnas no domingo em São Bernardo Candidatos disputam cargos para prefeito e vereadores do município Lucas Laranjeira
NESTE domingo (2), ocorre a eleição que irá definir quem será o novo prefeito de São Bernardo
e os vereadores que irão compor a Câmara. Ao todo, 611.786 mil eleitores, distribuídos em seis zonas eleitorais, irão às urnas. No caso do Executivo, o candidato precisa obter 50% dos votos
válidos mais um. Se isso não ocorrer, os dois mais bem votados fazem o segundo turno, dia 30 de outubro. A votação começa às 8h e termina às 17h. Para votar é preciso um documento com
foto. De preferência, leve o título de eleitor também. Caso o eleitor não possa votar, é preciso justificar o voto no dia da eleição, preenchendo um formulário que pode ser obtido gra-
Claudia Leonet/RRJ
Claudia Leone João Souza
MAIS PRÓXIMO do HMU (Hospital Municipal Universitário) de São Bernardo, o CAISM (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher) passa por mudanças. Agora, está atendendo em novo endereço. A unidade, que antes ficava na rua Barão do Rio Branco, 45, no Bairro Santa Terezinha, foi transferida para a rua Brasil, 350, no Rudge Ramos. “Ainda estamos em processo de reorganização da nossa rede física. Então, para que possamos reformar alguns espaços, precisamos fazer essas mudanças”, disse a secretária de Saúde de São Bernar-
Centro de atenção da mulher passa a atender no Rudge Ramos do, Odete Gialdi. Apesar da nova localização, com espaço mais amplo, o centro continua a prestar os mesmos serviços que variam entre patologia cervical, climatério, ginecologia geral, colposcopia, histeroscopia, algia pélvica, mastologia, esterilidade, patologia ovariana, urogineco, oncologia, sexualidade e patologia benigna do útero. Para ter acesso à esses serviços, as pacientes necessitam de uma guia encaminhada por meio da Unidade Básica de Saúde (UBS) onde possuem cadastro. O centro também orienta sobre planejamento
familiar e tem o Programa de Atenção à Violência e Abuso Sexual. Lilian Kelly Martins, 35, é moradora do Bairro do Alvarenga há sete anos e contou que, apesar de receber atendimento rápido, acredita que a mudança de endereço da unidade não tenha sido tão vantajosa para alguns moradores. “Tem muita gente que precisa pegar dois ônibus para vir para cá. Eu ainda pego um só, mas, mesmo assim, demora muito para passar, principalmente na hora de ir.” Projetos De acordo com o coor-
denador médico do CAISM, Rodolfo Strufaldi, a unidade ainda passará por mudanças. A previsão é que os atendimentos sejam realizados no atual endereço dentro de um período entre três e quatro anos, até o tempo de construção de uma nova unidade hospitalar. A ideia é que o HMU vire o hospital da mulher e que seja integrado ao CAISM. “O desenho do projeto já está pronto, mas isso ficará por conta do próximo governo e é bem provável que as obras já iniciem no ano que vem. Quando tivermos um novo hospital, ele passará a se chamar
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tuitamente nos cartórios eleitorais, nos postos de atendimento ao eleitor, na página do TSE na internet, nas páginas dos tribunais regionais eleitorais e, no dia do pleito, nos locais de votação ou de justificativa. Para saber quais são os locais de votação de São Bernardo e dos outros municípios do ABC, acesse o RROnline (www.rronline. com.br). link - http://www.tre-sp.jus.br/eleitor/zonas-eleitorais/consulta-a-zonas-eleitorais-pelo-endereco
Para ter acesso aos serviços, é preciso de guia obtida nas unidades básicas de saúde
hospital da mulher, e nós ocuparemos uma área, provavelmente, um andar deste futuro hospital em si”, disse. A relocação do CAISM faz parte de uma série de mudanças nas unidades físicas de saúde feitas pelo município. A primeira mudança foi a inauguração da segunda Policlínica, na avenida Armando Ítalo Setti, 402, Baeta Neves, em junho, que recebeu o CRE (Centro Regional de Especialidades) do Rudge Ramos. O imóvel que o CRE ocupava, na rua Brasil, 350, recebeu o CAISM, que ficava no bairro Santa Terezinha. O terreno do CAISM, no bairro Santa Terezinha, foi leiloado no dia 11 de março para a Instituição Paulista Adventista de Educação e Assistência Social por aproximadamente R$ 7,5 milhões. O dinheiro que foi arrematado será usado na construção de uma nova UBS (Unidade Básica de Saúde) em uma área de 1.878 metros quadrados na rua Santo Antônio, no Santa Terezinha, para substituir a atual UBS do bairro localizada na rua Dois de Outubro, 175, espaço que é alugado. Ainda não tem prazo para o início da construção e entrega. As demandas de reestruturação vêm desde 2009, e a secretária de Saúde comenta que a mudança do CAISM para o bairro o deixará mais acessível.
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Ruas do Rudge têm jardins enfeitados por moradores Espaço criado há oito anos possui até cerca de proteção e enfeites para crianças Alexandre Leoratti/RRJ
Alexandre Leoratti Victor Godoi
PELO MENOS quatro ruas do Rudge Ramos passaram a abrigar jardins personalizados, com variados tipos de flores, árvores frutíferas e enfeites. A iniciativa foi de moradores que aproveitaram um obstáculo feito pela prefeitura na entrada de cada via para impedir o tráfego de veículos pesados e também em razão de tubulações instaladas na construção de um piscinão. Esses jardins estão nas ruas José Mori, Silvio Andreoni Traversa, Nelson Patrizi e Maria Alves Lorenzoni. Nelas, os moradores se revezam diariamente para molhar as plantas e cuidar da parte estética dos jardins. Enfeites como sapos, sol, placas com mensagens, vasos e, até mesmo, papai Noel,
Moradores se revezam diariamente para molhar as plantas, trocar enfeites e cuidar da estética do espaço
no Natal, são instalados e trocados periodicamente. Isabel Herculin,58, é moradora do bairro há 30
anos e resolveu criar um dos jardins há oito anos. “Antes, aqui era tudo mato aberto. Eu e meu marido
começamos a cuidar, e os outros moradores foram vendo e espalhando a ideia”, disse. Mas, de acordo com Isa-
Há 50 anos, jornaleiro vê a história do Rudge passar João Souza
DE UM espaço de oito metros quadrados, na calçada que fica entre o ponto de táxi e o restaurante Vip, na avenida Dr. Rudge Ramos, Luiz Ignácio Martins, 76, o Luizão, vê a história do bairro passar há mais de 50 anos, mais precisamente, desde 1964. É que nesse espaço fica a “Banca do Luizão”, em que ele começou a trabalhar aos 24 anos. Luizão disse que o bairro se transformou durante esses anos. E muito. Antes, a maior parte do bairro era área residencial, com casas térreas. Hoje, além do comércio, há muitos prédios. “Antigamente, aqui no bairro, minha banca era ponto de encontro.” Depois de alguns anos, as características do Rudge mudaram. Alguns restaurantes de frutos do mar, que hoje fecharam, se instalaram na avenida e desper-
tam saudade do jornaleiro. “Era tudo bar e restaurante. Era cheio de gente. Vinha gente de Osasco para comer aqui. Era famoso.” Para ele, o fechamento dos grandes restaurantes é reflexo da mudança das pessoas. “As indústrias começaram a mandar [os trabalhadores] embora, uma grande parte mudou para o interior e os botecos fecharam aqui.” Ele relata que o comércio hoje é bem diversificado e não tem mais lugares especializados, como era antes. Mas para ele a maior mudança é que, hoje, os moradores ligam muito para o status. “Só tem cara que se acha rico. É funcionário que ganha razoavelmente, compra um carro a prestação e acha que quem mora no Rudge Ramos tem um poder aquisitivo alto, e não é. Às vezes, de brincadeira, eu até pergunto: ‘[o carro] é seu ou é da financeira?”’ Luizão também disse que, com o passar dos anos,
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bel, tem gente que ainda não entendeu a pegada comunitária da instalação. Há problemas como roubos de enfeites, fezes de cachorros e destruição das grades que protegem os jardins. “Não podemos colocar uma planta vistosa porque o pessoal furta.” Apesar dos problemas, Isabel se orgulha de ser uma das criadoras do espaço e disse gostar de cuidar das plantas.” Todo dia regamos e cuidamos. A nossa mangueira nasceu de um caroço de fruta e, no ano passado, colhemos mais de 300 mangas, somente nesse jardim”, afirmou. Há dois anos, a aposentada Glória Martins,60, cuida dos jardins do espaço. Ao longo do tempo, a atividade se tornou um hobby. “Faço isso porque gosto de mexer com plantas e terra, e como não tenho isso em casa, acabo cuidando do jardim aqui da rua”, disse. Nair Marcari, 70, vai ao jardim, que fica perto de sua casa, todos os dias. Além de cuidar da área verde, Nair coloca comida aos passarinhos. Ela também pretende plantar um pé de erva cidreira para complementar o coentro e o pé de pimenta que já estão no jardim. João Souza/RRJ
as vendas de publicações caíram 50% nos dias da semana e 70% nos finais de semana. E não demora em apontar um culpado: a internet. “Quem não gostava de ler agora lê menos.” Trajetória O jornaleiro nasceu em Fartura, interior de São Paulo, na divisa com o Paraná. Mas por ter vivido a infância na paulista Piraju, se considera pirajuense. Chegou a São Bernardo com 21 anos para se tratar de uma doença. Morou com seu irmão, que já vivia em São Bernardo. Fez amizade com Ivanir Luis Escaravelho, dono de duas bancas, a da Dr. Rudge Ramos e outra na avenida Caminho do Mar. Luizão começou a tomar conta da banca onde está até hoje por 90 dias para que o jornaleiro que trabalhava para Ivanir pudesse viajar a Minas Gerais para se casar e que, no fim, acabou ficando por
Luiz Ignácio abre a banca todos os dias mesmo com queda nas vendas, para ele, a culpa é da internet
lá. Foi quando Luizão recebeu a proposta de comprar a banca em prestações. Daquele momento em diante, passou a cuidar da banca todos os dias. Acorda às 4h30 de segunda a sexta para abrir às 5h30. Menos no sábado, quando abre mais tarde. “Uma horinha
a mais para eu dormir.” Aposentado e morando no Taboão, Luizão, que ficou viúvo há dois anos depois de um casamento de 54 anos, disse que não fecha a banca nem para fazer horário de almoço. Sua filha, de 45 anos, leva a refeição para o pai. Depois de tanto tempo, Luizão, conta o que é essencial para ter um comércio por tanto tempo aberto. “Eu fico pensando, 50 e poucos anos aqui na esquina, tem gente que não acredita. Aqui tem que ter boa vontade, tem que ter paciência.”
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SAÚDE
Susi Elena
QUEM tem diabetes ou surdez vai sentir o custo no bolso se comprar algum dispositivo eletrônico para corrigir estes problemas. Um exemplo é a bomba de infusão de insulina para diabéticos. O preço do aparelho é encontrado a partir de R$ 12 mil. O valor faz com que os diabéticos recorram à Justiça para ter o dispositivo, que não está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde). É o caso da estudante e bailarina Bruna Martins Belo, 19, que aguarda o processo para comprar uma bomba. “Não tenho condições de arcar com todas as despesas, incluindo os R$ 800 mensais para a manutenção. O documento do processo está em andamento, mas não há previsão de quando vai terminar.” Para conseguir o dispositivo custeado pelo Estado o caminho não é simples. O paciente precisa de prescrição médica para comprovar a necessidade do tratamento. Além disso, o procedimento na Justiça pode demorar meses. Bruna, diagnosticada com diabetes desde os 3 anos, optou pela medicação por causa das complicações da doença. “O meu diabetes estava muito descompensado, e isso estava me trazendo alguns riscos, como desmaios, perda de visão e problemas na funcionalidade do rim.” Bomba A bomba de insulina é um dispositivo portátil que libera 24 horas por dia o hormônio de insulina no organismo. Ela fica ligada ao usuário por um cateter que transporta o hormônio para o corpo. Sua instalação é feita no tecido subcutâneo da região do abdômen, perna, braço e nádegas. O aparelho calcula a taxa de glicose no sangue com mais precisão, de forma a manter pré-programado o controle glicêmico entre as refeições e ao longo da noite. A bomba de insulina é mais utilizada em pessoas com diabetes do tipo 1, ou seja, que produz pouca ou nenhuma insulina no pâncreas. “Não é um tratamento obrigatório para alguns tipos de diabetes, mas é recomendado para o paciente que tem hipoglicemia, principalmente no período noturno. É também indicado para gestantes e mulheres
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Dispositivos eletrônicos para o corpo custam caro Aparelhos como a bomba de insulina, para diabéticos, valem mais de R$ 12 mil
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: Ministério da Sa ação úde
Fotos: Susi Elena/RRJ
Custo do implante coclear está em torno de
Bruna espera receber da Justiça a bomba de insulina para tratar o diabetes. Ao lado, Cleo, que é surda, mostra o aparelho auditivo externo
R$ 60 mil
ro de criança e cachorro latindo é complicado. Falar ao telefone também não consigo. Só ouço barulhos altos, como de carro e de avião. Vozes de pessoas eu escuto, mas não entendo. Preciso da leitura labial”.
que estão se preparando para engravidar”, disse o endocrinologista Márcio Krakauer. Segundo ele, o tratamento com a bomba é diferente dos convencionais por dar mais conforto ao paciente com relação à espessura e aplicação da agulha, feita uma vez a cada três dias. No dispositivo também há um sensor que dispara um alarme quando a glicemia sofre alteração. Surdez A professora de libras Cleudimar Silva Moraes, a Cleo, 40, teve perda de audição profunda aos 15 anos de idade em decorrência da meningite. Há cinco anos, ela usa o aparelho auditivo ao lado esquerdo do ouvido, que tem como finalidade melhorar a capacidade e o reconhecimento auditivo. Cleo também ganhou o objeto do governo estadual.
Na época, o preço do aparelho era de R$ 50 mil. Ela precisou comprovar a perda de audição por meio de laudo médico e chegou a ficar na lista de espera para levar o dispositivo para casa. “O aparelho não serve para ouvir bem. Ele serve apenas para aumentar o som e captar alguns ruídos”, disse Cleo. Ela ainda explicou que nenhum mecanismo aju-
da a pessoa a voltar ouvir como antes, nem mesmo o implante coclear. Para surdos de nascença, o dispositivo usado por Cleo pode não ter o mesmo efeito para aqueles que já tiveram a oportunidade de ouvir no passado e reconhecer os sons. Mesmo assim, ela tem certas dificuldades e confunde algumas sonoridades. “Sons agudos, como cho-
Implante O implante coclear é um aparelho instalado cirurgicamente na orelha e logo atrás dela, com outro dispositivo acoplado que se mantém por meio de um ímã. É capaz de estimular o nervo auditivo para causar sensações sonoras. A cirurgia existe no serviço público. No privado, incluindo o dispositivo, o custo é de cerca de R$ 60 mil. “É indicado para quem perdeu a audição. Se o implante for colocado em bebês a partir de seis meses, o resultado poderá ser mais eficiente”, disse a otorrinolaringologista Silvana Beloto.
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SAÚDE
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Surdos optam por deixar de utilizar aparelhos auditivos Vinicius Alves
PARA quem não tem problema de audição fica difícil imaginar como é não escutar sons do dia a dia. Mas para quem nasceu surdo, aceitar a ajuda de um dispositivo interno ou externo para conseguir ouvir ainda é considerado um tabu. Por isso os surdos lutam pela identidade de sua língua: a libras. Trata-se de uma linguagem desenvolvida por meio de gestos, reconhecida como um meio de comunicação e expressão em lei vigente. Ela é brasileira, mas varia de uma região para outra. Surdo desde o nascimento devido à complicações na gestação decorrentes da rubéola materna, Bruno de Oliveira, 29, conta que já chegou a usar o aparelho externo quando criança, mas não se acostumou com os ruídos robotizados. Há seis anos, Oliveira trabalha como monitor aprendiz na transportadora Via Brasil. Ele disse que se
PARA muitos diabéticos, conseguir a bomba de insulina não é apenas uma questão de saúde, é uma decisão que implica também na questão social do jovem portador da doença. Diagnosticado com diabetes aos 14 anos, Gabriel Fernandes trocou a tradicional seringa pela bomba de insulina por meio de processo judicial que durou cerca de 10 meses. Além de melhorar sua saúde, ele disse que o dispositivo lhe deu conforto nos afazeres do dia a dia. “Vou em uma festa e não preciso me preocupar com o que vou comer. Com os meus amigos, não preciso sair de canto e perder o assunto para ter que aplicar a insulina.’’ Hoje, aos 17 anos e despreocupado com as quatro aplicações que fazia por dia, ele chega até a esquecer que tem a doença. “O mais chato era
vira muito bem com libras, apesar dos desafios. “Meu chefe não sabe libras, ele conversa comigo por meio do papel, escrevendo o que precisa ser feito.” O monitor afirmou ainda que existe muito preconceito e segregação. “As pessoas percebem que sou surdo e ficam apáticas, elas fingem não me ver quando dou ‘oi’. Tento suportar e aturar, mas acho isso muito estranho.” Para o especialista em libras, Tiago Freitas, mesmo com todos esses desafios diários, voltar a ouvir é ainda uma questão polêmica para os surdos. “A primeira língua para eles é a libras, e a segunda é o português. Utilizar qualquer aparelho para ouvir impede que eles lutem por sua língua que também é sua identidade.” Para Freitas, na maioria das vezes a decisão de colocar o aparelho, seja interno ou externo, vem da família. A mãe de Oliveira, Cleide, 55, apesar de todas as dificuldades, sempre lutou para o bem do filho, conseguindo no passado o apa-
Fotos: Vinicius Alves /RRJ
Mãe e filho lutam por direitos iguais entre surdos e ouvintes; fluente em libras, ele ainda prefere os sinais
relho auditivo por meio de doação da Prefeitura de São Bernardo. “A língua dele é e sempre será a libras. Nem eu e nem ninguém pode mudar isso.” Deixada pelo marido por não aceitar a surdez do filho, Cleide sempre lutou para que os surdos tivessem mais reconhecimento. Mãe de mais três filhos, ela aprendeu a linguagem e sempre incentivou seus
filhos ouvintes a aprender também. “Acredito que ainda faltam muitos intérpretes de libras para facilitar essa inclusão.” Já Alessandra Siqueira, 22, também surda de nascença devido a uma rubéola da mãe, conta que quando pequena, seus pais queriam que ela usasse o aparelho. “Cheguei a usar por um tempo, mas decidi tirar, pois achava confuso e dolorido.”
Diferentemente de Oliveira, Alessandra pensa em voltar a usar o aparelho externo para captar alguns ruídos. Ela estudou durante o ensino fundamental em escola para surdos e o médio em colégio de ouvintes. Disse que a comunicação com ouvintes que não sabem libras é difícil, porém necessária. “Acho muito importante a inclusão entre surdos e ouvintes.”
Similar a um celular ou bipe, a bomba de insulina de Gabriel serve até para ver as horas
Diabetes pode interferir na vida social do jovem ter que ficar transportando a insulina, uma vez que ela só podia ficar em ambiente gelado. Sem contar que você tem que ir para os lugares e perguntar se tem uma
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geladeira para armazenar o medicamento.’’ Para o endocrinologista especialista no tratamento de diabetes infantil, Fernando Buonoschulz, o fator
social está muito presente no tratamento de diabetes dos jovens. “Além dos benefícios que a bomba traz para a saúde, existe o benefício social. Um adolescente ou uma criança, muitas vezes, não se sente bem em ficar aplicando insulina na frente dos outros, porque acaba expondo partes do corpo.” O endócrino ainda com-
pleta que é muito comum os adolescentes esquecerem de aplicar o medicamento devido à correria do dia a dia, e que muitas vezes eles não têm ciência da gravidade da doença e dos riscos que ela traz para a saúde, “por isso a bomba é benéfica. Como ela faz toda a contagem para o paciente, ele não tem mais essa preocupação.” Fernandes disse ainda que as aplicações sempre fizeram parte do seu dia, e que acabou acostumando com a rotina. “Eu tinha um pouco de preguiça de ficar aplicando, quando alguém fazia aniversário na escola e levava algo para comer, eu sempre tinha que lembrar de aplicar para poder comer os alimentos.” (VA).
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COMPORTAMENTO
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Pega-pega, bolinha de gude e, principalmente, pular corda, ainda são algumas brincadeiras passadas de geração em geração; a atividade faz parte do cotidiano na infância
Beatriz Moraes
MURILO RODRIGUES
A GERAÇÃO Z (nascidos na década 2000 em diante) ainda brinca das mesmas brincadeiras que seus pais. Seja na escola, buffet infantil ou até mesmo com os colegas no dia a dia. Pular-corda, pega-pega, esconde-esconde, amarelinha e bolinha de gude são algumas das atividades que foram brincadas durante muitos anos e, mesmo hoje, ainda são sucesso entre a garotada. Apesar de cada vez mais rara, a imagem de crianças brincando na rua com seus vizinhos ainda ocorre bastante, só houve uma alteração do espaço. A estudante de enfermagem Sabrina da Silva, que trabalha como animadora de festas há quatro anos, relata
Crianças herdam as brincadeiras dos pais Lazer na infância, como pular corda, ainda é passado de geração que, além das crianças saberem as brincadeiras, elas gostam bastante dessa interação de atividades como “o mestre mandou” em meio a todo aparato tecnológico disponível nos buffets infantis. Para o professor de educação física e pedagogia Raimundo Maximiano de Oliveira, uma criança que não brinca desse tipo de brincadeira tende a desenvolver dificuldades motoras e cognitivas futuramente. Atividades como pega-pega, amarelinha e queimada no ambiente escolar só se adaptam na questão de ambiente por ser em espaços maiores, como quadra poliesportiva, condomínios, e são utilizadas no ambiente escolar, assim como se brinca no quintal, por exemplo. Oliveira ressaltou todo o aspecto pedagógico que há por trás desse tipo de brin-
cadeira. “Quando um aluno vai jogar queimada, ele terá que fazer uma leitura do jogo, criar uma estratégia, ter uma noção de direção e entender quando perder”. É assim que o professor ensina seus alunos na EMEIEF (Escolas Municipais de Educação Infantil e Ensino Fundamental) Padre Fernando Godat, em Santo André. Além de gastar toda a energia que só as crianças têm, um estudo feito em 2014 pela Universidade Estadual de Michigan, nos Estados Unidos, com crianças de 7 a 8 anos, mostra que brincadeiras ao ar livre incentivam a espiritualidade e despertam o interesse em proteger o planeta. Aqui no ABC ainda há pais que levam seus filhos aos parques da região, proporcionando esse contato maior com a natureza, um
mundo com brincadeiras simples, longe das telas de cristal líquido. É o caso da família Moraes. Cristiano de Moraes, técnico de segurança, ao chegar em casa brinca com suas filhas Laura, 4, e Manuela de 11 meses. Mas aos fins de semana, a família, que mora em Santo André, aproveita os parques da cidade. Ele, sua esposa Cláudia Aparecida de Moraes e suas filhas frequentam parques como Parque Antônio Fláquer (Ipiranguinha), Parque Antônio Pezzolo (Chácara Pignatari), Parque Prefeito Celso Daniel (antigo Duque de Caxias) e Parque Central. Cláudia explicou que o ambiente é familiar. No Parque Antônio Pezzolo (Chácara Pignatari), além do espaço arborizado, o espaço contém outras atrações infantis. “Há uma brinquedoteca com sa-
las temáticas (casinha de boneca, jogos, monta-monta, fantoches e livros) a Laura adorou essa parte.” Desenvolvimento De acordo com a psicopedagoga Maristela Reis do Amaral, o brincar faz toda a diferença no desenvolvimento infantil. Brincar significa, além da diversão, o desenvolvimento das emoções como sentimento de frustração, empatia e solidariedade. A configuração da sociedade atual, com o crescimento desmedido das metrópoles, com casas cada vez menores, a insegurança da violência das ruas, é um dos motivos da falta de incentivo para essas atividades. “Os pais saem de casa para trabalhar muito cedo e voltam tarde da noite e usam isso como justificativa para não acompanharem e brincarem com seus filhos. O que muitos deles não entendem é que nem sempre a quantidade de horas para estarem com as crianças superam a qualidade desses momentos’’, afirmou Maristela. “Brincar, exercitar o corpo e a mente são essenciais para termos adultos centrados e equilibrados’’, falou.
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Playgrounds são opções para filhos brincarem com mais segurança Caíque Alencar
BRINCAR na rua tem se tornado uma prática infantil cada vez menos recorrente. A opção tem sido lugares fechados como os playgrounds dos prédios. Muitos pais argumentam que os tempos mudaram e que as ruas são lugares perigosos para os filhos, mesmo que reconheçam que as atividades sejam saudáveis. A dona de casa Sandra Ferreira dos Santos, 41, que tem dois filhos, um de 19 e outro de 11 anos, fala que os garotos nunca brincaram na rua por conta do medo que ela tinha de se envolverem em algum tipo de acidente. “Eu criei os dois dentro de casa”, afirmou Sandra. Ela disse que não se arrepende de ter optado por essa criação mais caseira. “Eu até permitia que eles fossem à casa dos amigos, mas preferia que viessem até minha casa primeiro para eu conhecer com quem eles conviviam”, explicou.
Mesmo assim a mãe afirmou que o garoto sempre questionou porque outros amigos podiam sair sem que a mãe precisasse acompanhar, enquanto ele tinha que estar ao alcance dos olhos dela. “Hoje, o melhor lugar para se brincar não é na rua e o que a gente vê as crianças fazendo, como andar de bicicleta e empinar pipa, meus filhos nunca fizeram”, disse. No entanto essa é uma decisão que divide opiniões. Segundo Sara Regina dos Santos, 39, também de Diadema, ela nunca teve problema de deixar o filho brincar na rua e conta que brincadeiras como futebol e pega-pega foram boas para o desenvolvimento e ajudou o menino, inclusive, a se socializar com a vizinhança. “Aqui ele é conhecido por toda a vizinhança”, contou. De acordo com pedagoga Marilena Nakano, professora da Fundação Santo André e coordenadora de um projeto recreativo em comunidades de Santo
Beatriz Moraes/RRJ
Parques infantis dentro dos condomínios oferecem alternativa mais segura de lazer para crianças
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A brincadeira tem um grau de complexidade que não pode ser minimizada pelos adultos.” Marilena Nakano
Pedagoga da Fundação Santo André
André, os adultos, de modo geral, tendem a desvalorizar as brincadeiras, sendo que para as crianças é a possibilidade de poderem criar o próprio mundo. “A brincadeira tem um grau
Uso de aparelhos digitais pode gerar sedentarismo Erika Daykem
O USO de celulares, tabletes e computadores não é apenas exclusivo dos adultos. As crianças estão cada vez mais conectadas em aparelhos digitais, o problema é que a quantidade de horas gastas nesses “brinquedos” pode acarretar em problemas de saúde, como o sedentarismo. Segundo a pediatra Carla Assanuma Dutra, 46, essa prática em longo prazo pode gerar problemas de convívio social. “Cada um fica atrás de um dispositivo eletrônico, o que está fazendo essa geração se comunicar menos no olho a olho”, explicou. Outra preocupação que a pediatra ressaltou deve ser o tempo de uso desses aparelhos. “Alguns estu-
dos mostram que crianças que estão em formação não deveriam ultrapassar 30 minutos por dia utilizando esses dispositivos.” De acordo com pesquisa realizada, em julho do ano passado, pelo CGI (Comitê Gestor da Internet), 82% das crianças e dos jovens acessam a rede por telefones móveis, enquanto 56% utilizam dispositivos fixos, como computadores de mesa. Já em 2013, o número era equivalente a 53% de crianças e jovens que usavam celular e 71% utilizavam aparelhos fixos. O levantamento foi feito com jovens entre 9 e 17 anos. Além disso, essa prática pode trazer problemas futuros para essas crianças, como o sedentarismo. “Se a criança fica sentada, mexendo em um aparelho, seja tablet ou celular, ela
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de complexidade que não pode ser minimizada pelos adultos”, afirmou. A pedagoga ainda explica que o território em que a criança vive deve ser entendido não só como um lugar de passagem, mas como um espaço onde vive processos de socialização importantes para a infância. No caso das comunidades, em que as crianças se deparam até com a violência, Marilena disse que esse processo continua fundamental para o desenvolvimento infantil. Assim como Caíque Alencar/RRJ
não vai brincar, pular, se exercitar, podendo gerar obesidade, hipertensão, ansiedade, distúrbio do sono entre outras doenças”, disse Carla. A psicóloga e terapeuta analítica comportamental Angélica Capelari, 40, afirmou que o uso desses aparelhos não é prejudicial
para as crianças se houver monitoramento dos pais. “A dica é limitar as horas de uso. O acesso é muito importante, porque o mundo gira ao redor disso hoje em dia. Por outro lado, quem precisa estabelecer o uso são os pais, pois a criança por si só não vai colocar um limite”, disse a psicóloga.
qualquer outro, as crianças, cedo ou tarde, vão escolher o caminho que vão trilhar, independente da vontade dos pais. É evidente que os educadores têm um papel importante na criação das crianças, mas, segundo Marilena, esse grupo também disputa com o da violência. “A gente não deve pensar as crianças como um ser que absorve tudo o que os adultos passam, é um sujeito capaz também de determinar aquilo que ela deseja seguir”, disse. Controlar o tempo de uso de equipamentos é o indicado para evitar problemas de saúde
Mãe de duas crianças, a advogada Amanda Aparecida Alencar, 35, controla não apenas o horário, mas, principalmente, o conteúdo que os filhos consultam. “Tenho sempre o cuidado de ficar supervisionando. Todos os jogos precisam ter a minha permissão, para saber qual jogo está baixando, qual vídeo está assistindo, tenho muito controle do que eles fazem”, explicou a mãe de Rian e Paola, que estão com 7 e 5 anos respectivamente. Outra dica da psicóloga é o monitoramento do conteúdo acessado pelas crianças. “Depende muito da idade, porque você vai ter aplicativos infantis muito interessantes e até mesmo, educativos para a idade da criança.” Já a pediatra aconselha essas famílias a praticarem o bom relacionamento com as crianças, exercitando o convívio familiar.
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RUDGE RAMOS Jornal da Cidade Fotos:Yasmim Rodrigues/ RRJ
Escola de Santo André adota música clássica para o ensino EMEIEF Profª Maria da Graça de Souza é piloto em projeto musical criado pelo maestro Carlos Eduardo Moreno Yasmim Rodrigues
BEETHOVEN, Bach. e, para citar um brasileiro: Tom Jobim. Esses compositores fazem parte do universo dos alunos EMEIEF Profª Maria da Graça de Souza, na Vila Floresta, em Santo André. É que essa escola adotou a música clássica como uma forma de estimular o aprendizado das crianças. A proposta foi idealizada pelo maestro Carlos Eduardo Moreno. O nome é complicado: protomusicalização. Na verdade, é um projeto musical para criar um ambiente mais agradável para as crianças estudarem, com música clássica, frases de incentivos e cores espalhada pela escola. Com 380 alunos nos períodos da manhã e tarde, de quatro a dez anos, a EMEIEF Professora Maria da Graça de Souza recebeu em agosto do ano passado a ideia do maestro que possui
oito passos de aprendizado. “Surgiu de várias experiências e de um pensar, de como a música faz bem para as crianças, para o ser humano em geral”, disse Moreno. Segundo Moreno, a neurociência já comprovou que ouvir música clássica ou tranquila ajuda no desenvolvimento de um cérebro saudável. “E quem lida com educação precisa exatamente disso, de um ambiente tranquilo, uma forma de estimular o cérebro em várias regiões ao mesmo tempo”, disse. De acordo com o maestro, mais três escolas se interessaram pelo projeto. Polo Desde 2013 a escola é um polo de ensino de Canto Coral, que também faz parte do projeto Música na Escola. Esse programa é feito com turma de 2º e 3º ano. As aulas ocorrem uma vez por semana na escola. Quando há evento escolar, eles são convidados a cantar. Ao chegar à escola, as
crianças são recebidas ao som de valsa e música clássica todos os dias, o ambiente foi todo modificado e deu lugar ao espaço completamente lúdico e alegre. Os ventiladores agora possuem fitas coloridas para dar uma nova cara ao pátio. Há também frases de incentivos colocadas na parede, para que o aluno se sinta parte especial e essencial dentro da escola. Nos bebedouros, a valsa e quadros de paisagens passam uma sensação de tranquilidade. O maestro afirma que a escola precisa ser um oásis aos olhos das pequenas crianças. Cada sala possui um nome de compositor clássico na porta em que, por alguns meses, suas composições serão tocadas. “A gente consegue trabalhar mais a imaginação quando estamos ouvindo essas músicas”, disse Isabele Vitória Fornato Araujo, 10, do quarto do ano do ensino fundamental. A história do compositor
de cada sala é contada para os alunos, para que tenham conhecimento da sua origem e saber por qual motivo e sentimento é colocado em cada melodia das músicas. Eles chegam a se identificar com algum músico e começam a enxergar as situações em casa de outra forma. “Nós tínhamos crianças um pouco violentas. Aí, trabalhamos uma música sobre a paz. Cada vez que a gente colocava essa música, havia criança que chorava. Mostrando que era por meio da música que iríamos trabalhar os sentimentos com as crianças”, afirmou Cecilia Helena Barbazia, diretora da escola EMEIEF Professora Maria Graça de Souza. Pelo menos uma vez por
Além de ouvir música clássica dentro da sala de aula, todos os alunos se encontram uma vez por semana no pátio para atividades com música
semana, todas as turmas de cada período se encontram no pátio antes de a aula começar, para ver e ouvir uma nova forma de se expressar e tocar música clássica. Assim, o dia já começa bem tranquilo, para os professores, alunos e funcionários, segundo a diretora. “O ambiente da escola acalmou. Algumas crianças mais agitadas já estão sendo beneficiadas com isso”, disse.
RUDGE RAMOS Jornal da Cidade
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Stephanie Koren/RRJ
Alunos da EMEIEF Vila Sá aprendem a tocar instrumentos Stephanie Koren
ALUNOS de escolas do ensino fundamental de Santo André, além de lápis, borracha e caderno, também usam instrumentos musicais para aprender. Na cidade, há três anos, existe o Projeto de Músicas nas Escolas. Por meio dele, os estudantes utilizam instrumentos fora do período normal de aula. Neste ano, são 2,8 mil alunos no projeto de aula de música, nas escolas. São 11 CESAs (Centros Educacionais de Santo André), unidades da educação que concentram EMEIEF (Escolas Municipais de Educação Infantil e Ensino Fundamental), creche e Centro Comunitário, informou a prefeitura por meio da assessoria de imprensa. O projeto de orquestra infanto-juvenil e coral irá até este ano. A possibilidade de expandir o projeto está em análise. Segundo a Secre-
taria de Educação de Santo André, o objetivo do projeto é proporcionar o desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor das crianças. Desde 2014, o canto e coral foram substituído pela orquestra de metais, que então passou a acontecer também no contra turno. A coordenadora do EMEIEF, Luana Luciano, explica que o projeto atende aos alunos matriculados no 1º ao 5 º ano do ensino fundamental. A faixa etária varia de 6 aos 11 anos. São cinco turmas. Aproximadamente 300 alunos aprendem a disciplina musical, e 25 as que estão no contra turno, horário fora de aula. As crianças aprendem música popular e introdução à música clássica. Instrumentos Os 58 instrumentos utilizados no projeto foram adquiridos pelo Instituto Vitalis, que os repassou à Prefeitura de Santo André. Desses, 30 são usados em
aula e 28 foram disponilizados para empréstimo até o final do projeto para alunos que estão matriculados. Entre os equipamentos há bombardino (instrumentos metálico de sopro), trompa, trompete, tuba e trombone. Para conservá-los são armazenados em cases (estojos) e os próprios professores acabam fazendo os pequenos reparos, como lubrificação das peças e limpeza dos instrumentos. A oficina de musicalização ocorre no contra turno de terça e quinta-feira, das 12h às 13h30. A oficina de orquestra de metais ocorre no turno toda quarta-feira,
das 9h às 11h e das 14h15 às 16h15, atendendo aos alunos do 2º e 3º ano da EMEIEF Prof.ª Maria Cecília Dezan Rocha. A Orquestra de Metais também ocorre durante o contra turno, de quarta e sexta-feira, das 18h às 20h, e aos sábados, das 9h30 às 12h30. A equipe de reportagem esteve no dia 31 de março no EMEIEF CESA Vila Sá em Santo André, onde assistiu apresentação da orquestra do maestro Carlos Eduardo Moreno que ocorre para as crianças uma vez ao mês e dura cerca de 40 minutos, contando a história com o som dos instrumentos.
Crianças ganham espaço musical Valmir Moraes/RRJ
Valmir Moraes
QUEM DISSE que bebês não gostam de música? Para o Sabina Escola Parque do Conhecimento, de Santo André, eles gostam, e muito. Desde o último dia 2 de abril, começou a funcionar no espaço o “Engatinhando no Sabina”. Trata-se de um projeto que visa introduzir crianças de 0 a 3 anos no universo da música. O “Engatinhando no Sabina” fica em uma tenda, dentro do parque. A inauguração foi acompanhada por uma orquestra. O ambiente do local é propício para a criançada. É repleto de painéis informativos e tecidos de texturas diversas para tornar a visita o mais sensorial possível. Para experiência ficar ainda mais inesquecível, só é permitido
Projeto visa estimular aprendizado pela música para crianças de 0 a 3 anos usando diversos instrumentos e materiais
entrar no espaço descalço. Dessa forma, o visitante fica mais à vontade. Por todo o ambiente estão espalhados instrumentos e objetos que produzem diversos sons para instigar a audição e explorar a música de todas as formas possíveis. Há uma exposição direcionada à história do rádio, onde está disponível diversos modelos para o
aprendizado se tornar mais participativo. Todo o espaço foi estilizado para incentivar a criatividade e conhecimento cognitivo de todos que entram ali, mas principalmente do público infantil. Logo na entrada do ambiente, que remete a um circo, há uma coruja gigante com olhos que giram. “Conforme o desenvol-
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vimento das crianças, elas vão adquirindo mais conhecimento. Aqui é um laboratório das percepções. A nossa intenção é trazer esse registro para as crianças. A música é base do trabalho do laboratório”, afirmou a coordenadora do Sabina, Ivone de Santana. A pedagoga Camila Godoi levou sua filha, de dois anos e três meses, na inau-
Apresentação de orquestra regida pelo maestro Carlos Eduardo Moreno, conta história do Pedro e o Lobo com o som dos instrumentos, para alunos do EMEIEF Cesa Vila Sá
Para Juan Martinez, professor de música no EMEIEF na Vila Sá há quatro anos, as crianças se sentem privilegiadas. “Pela escola ser localizada na periferia, é difícil a criança ter contato com instrumentos da música clássica. Sempre estão mais próximos de um pandeiro e do funk.’’
guração. Camila disse que sua filha já está habituada à música. “Percebo que o desenvolvimento intelectual da minha filha foi um pouco à frente. Todas as atividades que ela realiza é cercada por música. Como professora, tento fazer o mesmo com os meus alunos. É notória a diferença.” Uma vez por mês o espaço realizará atividades diferentes visando proporcionar novas descoberta e explorar o sentido de diversas maneiras. Na inauguração, foram tocadas músicas dos grandes clássicos do Walt Disney, em versões eruditas. Durante a semana, o Sabina recebe somente grupos escolares. Para o público em geral, o funcionamento é aos sábados, domingos e feriados, das 12h às 18h, a bilheteria fica aberta até 16h45. O valor da entrada é R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia), e crianças de até 5 anos não pagam.
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RUDGE RAMOS Jornal da Cidade