Ed 1057

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Produzido pelos alunos do Curso de Jornalismo

De 20 de outubro a 2 de novembro de 2016

ANO 36 - Nº 1057

Érika Motoda/RRJ

Claudia Leone/RRJ

ABUSO E SUJEIRA Praças Bartolomeu Ferrero e João Américo são usadas como estacionamento e descarte de lixo irregular na cidade. Págs. 3 e 4

Victoria Roman/RRJ

» REVITALIZAÇÃO Largo da Igreja vira ponto de encontro de skatistas Pág. 4

» SEBOS VIRTUAIS Divulgação/Sebo Equilíbrio

Estabelecimentos utilizam a internet para atrair novos clientes para lojas físicas. Págs. 10 e 11


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POLÍTICA

RUDGE RAMOS Jornal da Cidade

De 20 de outubro a 2 de novembro de 2016

São Bernardo volta às urnas no próximo dia 30 Em 2º turno, eleitores vão escolher se PPS ou PSDB governará cidade nos próximos 4 anos Lucas Laranjeira

Fotos: Arquivos/RRJ

ORLANDO MORANDO JÚNIOR OS MAIS de 600 mil eleitores de São Bernardo voltam às urnas eletrônicas no próximo dia 30 de outubro (domingo) para escolher o prefeito que irá governar a cidade pelos próximos quatro anos. Quem comparecer à votação terá como opção os dois candidatos que passaram para o segundo turno: Alex Manente (PPS) e Orlando Morando (PSDB). No primeiro turno, o tucano Morando ficou com 45,07% dos votos válidos, o que representou 169.310 votos dados a ele. Já Manente alcançou 28,41% dos votos válidos, o que representa 106.726 votos. Ainda no primeiro turno, o candidato Tarcisio Secoli (PT), apoiado pelo atual prefeito da cidade, Luiz Marinho (PT), ficou em terceiro lugar. O candidato obteve 22,57% dos votos válidos (84.768). Neste pleito de 2016, disparou o número de votos nulos registrados pelo Tribunal Eleitoral. Em números absolutos, em 2012, foram computados 54.480 votos anulados pelos eleitores. Já nesta eleição, o número saltou para 81.842 votos, o que representa 16,73% do total de eleitores que foram às urnas. PSDB x PPS Os dois candidatos que estão no segundo turno são nascidos em São Ber-

Rudge Ramos JORNAL DA CIDADE editorial@metodista.br Rua do Sacramento, 230 Ed. Delta - Sala 141 Tel.: 4366-5871 - Rudge Ramos São Bernardo - CEP: 09640-000 

Produzido pelos alunos do curso de Jornalismo da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo

VEJA A VOTAÇÃO DOS CANDIDATOS NO 1º TURNO

42, é empresário do ramo varejista e atual vice-presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados). Vereador em 1996 e deputado estadual com dois mandatos, em 2006 e 2010. O candidato é natural de São Bernardo, do bairro de Battistini. É bacharel em direito. Morando está no terceiro mandato como deputado estadual e foi líder da bancada do PSDB entre 2011 e 2012. Seu vice-prefeito é o atual vereador Marcelo Lima (SDD)

106.726

Coligação: PSDB, PHS, Rede, SDD, PRP, PEN, PSC, PRTB, PMB

28,41%

169.310 45,07%

votos

votos

ALEX MANENTE ABSTENÇÃO

37, é natural de São Bernardo. É formado em direito e atua na política desde os 18 anos, quando filiou-se ao PPS. Vereador em 2008, deputado estadual em 2006 e 2010 e deputado federal em 2014, será candidato do partido pela terceira vez consecutiva à prefeito. Alex Manente foi eleito deputado federal em 2014 e, em novembro do mesmo ano, foi nomeado presidente estadual do partido.

votos

20,04% BRANCOS

6,48% NULOS

16,73% para o cargo. Bacharel em Direito, o candidato é empresário do ramo varejista e atual vice-presidente da APAS (Associação Paulista de Supermercados). 

DIRETOR - Nicanor Lopes COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO - Rodolfo Carlos Martino. REDAÇÃO MULTIMÍDIA - Editor-chefe - Julio Verissimo (MTb 16.706); EDITORA-EXECUTIVA E EDITORA DO RRJ - Margarete Vieira (MTb16.707); EDITOR DE ARTE - José Reis Filho (MTb 12.357); ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA - Maristela Caretta (MTb 64.183)

nelli, Claudia Leone, Erika Daykem, Érika Motoda, Felipe Siqueira, Gabriel Mendes, João Souza, Laís Pagoto, Lucas Laranjeira, Nathalia Nascimento, Paula Gomes, Raquel Gamba, Thais Souza, Thamiris Galhardo, Victor Godoi, Victoria Roman e alunos do 5º semestre de Jornalismo. TIRAGEM: 10 mil exemplares - Produção de Fotolito e Impressão: Gráfica Mar-Mar

81.842 votos

se reeleger em 2012. Hoje, o candidato é deputado federal, eleito em 2015. Já Orlando Morando, 42, é deputado estadual, eleito pela terceira vez

EQUIPE DE REDAÇÃO - Alexandre Leoratti, Allaf Barros, Amanda Leo-

31.717 votos

Coligação: PPS, PRB, PSB, PTB, PMN, DEM, PV, PPL

nardo. Alex Manente, 37, é formado em Direito. Foi eleito pela primeira vez vereador da cidade em 2005. Em 2007, foi eleito deputado estadual e conseguiu

122.581

ERRAMOS As fotos publicadas na edição nº 1056, na página 11, são de autoria de Yasmim Rodrigues.

DIRETOR DE FINANÇAS E CONTROLADORIA - Ricardo Rocha Faria DIRETOR DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO, MARKETING E SUPRIMENTOS - Ronilson Carassini CONSELHO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO - Paulo Borges Campos Jr. (presidente); Aires Ademir Leal Clavel (vice-presidente); Esther Lopes (secretária); Rev. Afranio Gonçalves Castro; Augusto Campos de Rezende; Jonas Adolfo Sala; Rev. Marcos Gomes Tôrres; Oscar Francisco Alves Jr.; Valdecir Barreros; Renato Wanderley de Souza Lima (suplente). DIRETOR GERAL - Robson Ramos de Aguiar VICE-DIRETOR GERAL - Gustavo Jacques Dias Alvim

REITOR: Fábio Botelho Josgrilberg (interino), Coordenadora de Graduação e Extensão - Vera Lucia Gouvea Stivaletti, Coordenador de Pós-Graduação e Pesquisa - Fábio Botelho Josgrilberg DIRETORES - Rogério Gentil Bellot (Escola de Ciências Médicas e da Saúde), Nicanor Lopes (Escola de Comunicação, Educação e Humanidades), Carlos Eduardo Santi (Escola de Engenharias, Tecnologia e Informação), Fulvio Cristofoli (Escola de Gestão e Direito) e Paulo Roberto Garcia (Escola de Teologia).


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CIDADE

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DE OLHO NA CIDADE

Cidadãos transformam praças do Rudge em lixeira

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Galhos de árvore servem de cabide para tênis; fezes de animais são comuns em locais visitados Érika Motoda/RRJ

Érika Motoda Thaís Souza

PASSEAR pelas praças do Rudge Ramos pode ser uma espécie de caça ao tesouro. Só que, em vez de riqueza, o leitor encontrará lixo. Papel de propaganda política, embalagem de pizza, frasco de iogurte, caixinha de cigarro, lata de bebida e palito de sorvete são alguns objetos que cidadãos arremessam no chão e inundam os espaços públicos. Tudo isso pode ser somado à falta de conservação das praças. A reportagem visitou no dia 30 de setembro as praças João Américo de Andrade Martins Filho, na rua Brasil, altura do nº 540; Bruno Stangorlini, na avenida Winston Churchill; Praça dos Meninos, na avenida Caminho do Mar, e Giovanni Batista Rubin, na rua José Gianotti com a rua Elías Severo dos Anjos. A praça com o pior estado de conservação era a João Américo. A parte inferior das grades estava enferrujada, especialmente nas áreas próximas à porta. A calçada está desnivelada. O gramado servia de depósito de diversos resíduos, como plásticos, panfletos de propaganda política, pois era antevéspera da eleição municipal, e até caixas de pizzas. Havia também dois sacos de lixos pendurados em uma das traves de gol, mais ao fundo da praça. Na área destinada às crianças havia fezes, supostamente de animais, já ressecadas e que se misturavam às pedras que forravam o chão. Balas ainda embrulhadas também estavam espalhadas nesse espaço. O alambrado da quadra de futebol e da pista de skate estava solto na parte central. Não havia redes nem nas traves de futebol nem nas cestas de basquete. Os galhos de uma árvore próxima à pista de skate serviam de cabide para oito

pares de tênis que estavam pendurados. Havia também um modelo sem par, totalizando 17 calçados. A segunda praça com o pior estado de conservação foi a Bruno Stangorlini: calçadas irregulares e bancos quebrados. Também havia doces, como balas e maria-mole, colocados sob uma das árvores. Duas placas anunciavam a execução de obras de canalização do córrego Ipiranga, que começaram em 2013 e deveriam ter sido entregues em após 18 meses. No dia 30, das 7h30 às 8h, não havia indícios de nenhuma operação. Por meio de assessoria, a prefeitura afirmou que a reforma já foi concluída no primeiro trimestre deste ano. O único sinal de manutenção por parte do poder público estava na grama recém-aparada. Esse serviço é realizado a cada 45 dias, ainda de acordo com a prefeitura. Segundo a

Praça João Américo de Andrade Martins Filho é um dos locais com maior concentração de lixo, segundo apurou a reportagem

aposentada Maria de Jesus Martinez Silveira, candidatos a vereador compareceram ao local para realizar campanha e prometeram revitalizar a praça. Maria de Jesus afirmou que mora na região há mais de 40 anos e teme que a árvore em frente à sua casa caia, pois o tronco está com aspecto ressecado e os galhos, sem poda. Ao final da conversa, a aposentada recolheu os panfletos de propaganda política do gramado e foi descartar no lixo de casa. Bom estado Já as praças dos Meninos e Giovanni Batista Rubin não apresentaram tantos problemas de infraestrutura e limpeza. Os

postes de lâmpada da dos Meninos são inspirados na cultura oriental. Possuem o formato da letra “T” e, em cada ponta, há um globo que abriga uma lâmpada. Alguns desses globos estavam com a base quebrada. As pedras e troncos de árvore do local estavam marcados com nomes de pessoas e grupos que supostamente passaram por lá. Próximo ao portão dos fundos, havia metros de fios soltos enrolados que se apoiavam em um telefone público. No dia da reportagem, por volta das 9h, funcionários da prefeitura estavam na Praça dos Meninos para realizar a poda do gramado, que foi utilizado como descarte de palito de sorvete, lata de energético e caixa de cigarro. Já a Praça Giovanni Batista Rubin se encontra em uma área cercada por moradias, restringindo o acesso a moradores. É o local que menos apresenta

sinais de depredação. Mas possui muitas fezes de animais domésticos. Uma moradora que não quis se identificar afirmou que é hábito dos moradores levarem seus cachorros para a praça. Porém só são advertidos aqueles que estão presentes no dia em que a prefeitura faz a inspeção. Ela ainda afirmou que todas as noites, às 22h, o vigilante tranca a praça. “As praças são abertas, porém algumas são fechadas, como a dos Meninos e a Natale Morassi, que têm horário de funcionamento das 6h às 22h. Já os parques têm horário de funcionamento das 6h às 22h, com exceção do Parque Chácara Silvestre com funcionamento das 6h às 18h”, informou a prefeitura por meio de nota.  Leia mais sobre praças na próxima página.


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CIDADE

Claudia Leone

APESAR de ser um bairro residencial e aparentemente tranquilo, os moradores do Parque Santo Antônio enfrentam um problema constante. A praça Bartolomeu Ferrero é frequentemente utilizada por motoristas como estacionamento irregular. Depois de verificar uma série de reclamações dos munícipes, a reportagem esteve no local no dia 22 de setembro e contou um total de 62 veículos estacionados. Aparentemente, todos veículos particulares. “Moro aqui há mais de 36 anos e a praça sempre foi usada como estacionamento irregular. É uma área de pouco movimento e, por isso, nós ficamos esquecidos aqui”, contou a dona de casa Maria do Carmo Santos Pereira, 52. A praça está localizada entre moradias e duas empresas, sendo uma transportadora e também pela empresa automobilística Ford. De acordo com o morador Ivanildo Lopes dos Santos, 50, a praça sempre foi utilizada como estacionamento dos funcionários da Ford. “É costume, e o número de veículos na praça é cada vez maior.” O metalúrgico disse ainda que existe inclusive um “vigia” para os carros. “Tem gente que paga de R$ 100 a R$ 50 reais por mês.”

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Motoristas transformam “ praça pública em local de estacionamento irregular Moradores do Parque Santo Antônio, em São Bernardo, reclamam de descaso e uso incorreto do espaço Claudia Leone/RRJ

Carros ocupam espaço na praça Bartolomeu Ferrero que deveria ser destinado para uso de moradores

No momento da apuração, a reportagem constatou também que uma “guarita” está instalada no local, mas não havia informações sobre o responsável. O aposentado Arthur

Motoke, 73, também é morador do bairro há 25 anos e contou que a ideia de reformas no espaço já foi cogitada. O desejo dele e dos outros munícipes é que a praça seja revitalizada

para se tornar um local de lazer, onde crianças possam brincar e praticar esportes, mas nenhuma vistoria foi feita até o momento. “Até agora não vi nada e ainda tem dias que está tão lotado

APÓS SER revitalizado, o Largo da Igreja São João Batista passou a atrair jovens que aproveitam o espaço para andar de skate. Antes da reforma, iniciada em abril de 2015, o largo dava lugar a um estacionamento rotativo. Com a reforma, 85 vagas de estacionamento rotativo foram retiradas e realocadas na região. O valor investido na obra é de aproximadamente R$ 6 milhões. A instalação de duas lombofaixas (lombadas com faixa de pedestres) em torno do Largo da Igreja São João Batista também refletiu uma atenção maior aos pedestres e ambulantes da região.

Eric de Oliveira, 15, passou a frequentar o local assim que as obras foram concluídas, há aproximadamente três meses. “Antes não dava para aproveitar porque não tinha muito espaço, era ruim, agora o chão está mais liso, está bem melhor.” Oliveira ainda disse que, apesar de aproveitar durante o dia, por volta das 20h da noite, os PMs da base em frente ao largo pedem que os jovens deixem o lugar. Para a arquiteta Cláudia Campanhão, ao longo do tempo a ocupação dos espaços públicos foi se perdendo. “Os espaços públicos começaram a ser privatizados, ainda hoje vemos uma série de praças cercadas, impossíveis de acessar livremen-

Arthur Motoke Aposentado

que a gente não consegue nem entrar nela”, disse. Já o advogado Wilson Roberto, 33, alegou que, há aproximadamente dois anos, a praça já foi inclusive cercada com um muro, atraindo usuários de drogas, porém, após uma série de discussões, o muro foi derrubado pelos próprios moradores. O munícipe afirmou também que várias reclamações já foram feitas à prefeitura, mas, até o momento, não houve respostas. Em nota, a assessoria de imprensa da empresa Ford informou que oferece estacionamento gratuito aos empregados da fábrica de São Bernardo e que a praça Bartolomeu Ferrero não está sob responsabilidade da empresa. A reportagem também entrou em contato com a prefeitura para saber se haveria uma possível liberação da praça para o uso de estacionamento para motoristas e se existe, ainda, um projeto para a revitalização da mesma, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.  Victoria Roman/RRJ

Reformado, Largo da Igreja atrai mais jovens Victoria Roman

Até agora não vi nada e ainda tem dias que está tão lotado que a gente não consegue nem entrar nela”

Revitalizado, espaço no Rudge Ramos é utilizado diariamente para prática de skate e outros esportes

te, ou então ocupadas com outros usos específicos, como estacionamentos. Os espaços públicos devem servir para atender a todos.” Até pouco tempo, segundo a arquiteta, a cultura dos carros tomava conta dos projetos. Tudo era pensado em torno dos automóveis.

“Nós temos que pensar no pedestre e no uso geral para as pessoas, para que utilizem e aproveitem o espaço que é delas.” Para a arquiteta é possível perceber a população voltando para as ruas. Segundo ela, os espaços públicos eram associados às

pessoas mais simples, que não poderiam pagar um espaço particular. “Já nas praças em países europeus e Estados Unidos, todos usam o espaço público, independentemente da condição financeira. As pessoas se apropriam daquele lugar, entendem que é delas.” 


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ECONOMIA

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Mulheres buscam o empreendedorismo

RUDGE RAMOS Jornal da Cidade Vinicius Alves/RRJ

Esteticista há mais de 17 anos, Lu pretende dar o próximo passo e abrir um spa de tratamento estético na região; motorista há quase 13 anos, Regina também atua no ramo de beleza para complementar a renda

Abrir o próprio negócio é uma decisão que cresce no ABC Vinicius Alves

ESTETICISTA, dona de loja ou motorista são apenas algumas escolhas de mulheres que decidiram se aventurar com o próprio negócio em meio ao atual cenário econômico do país. Sem medo de tomar a decisão errada, elas optaram por seguir seus sonhos ou até desenvolver atividades informais de seu gosto, para complementar a renda. Quem tornou o sonho realidade, por exemplo, foi Maria de Lourdes Fernandes, 46, a Lu. Ela trabalhou por 17 anos como esteticista em grandes salões de beleza, no Centro de São Bernardo, e dentro de shoppings, em Santo André. Em 2014, decidiu abrir sua própria sala de estética para continuar exercendo sua profissão. Cansada de trabalhar no shopping e ter que seguir à risca os horários do salão em que era funcionária, ela disse que a fidelidade de seus clientes ajudou muito na hora de empreender. “Se alguns clientes não tivessem me acompanhado e eu tivesse começado meu próprio negócio do zero,

teria fechado as portas no primeiro mês.” Lu sempre teve o sonho de ser sua própria chefe e gostaria de abrir um spa, mas acha que ainda não é a hora. “Devido à instabilidade econômica que nosso país está passando, fico com um pé atrás para investir em outros empreendimentos”. Motivos A coordenadora do Projeto Mulheres Empresárias

do ABC, Bernadete Dourado, comenta que cada mulher tem um motivo para se tornar empreendedora. “Cada uma tem a sua história. Tem as que querem abrir um negócio próprio por sonho, as que querem mudar de profissão, precisam sustentar o filho e não tinham outra opção.” Segundo ela, o objetivo do seu grupo, é auxiliar e dar apoio por meio de eventos e palestras. Sempre empresária,

Bernadete começou a fabricar bijuterias em casa para vender. Hoje, já possui sua própria empresa de bijus, chegando até a exportar seus produtos. Segundo a pesquisa do Dieese, nos serviços, que abrigam 69,1% da mão de obra feminina na região do ABC, a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho diminuiu. Passou de 54,4%, em 2014, para 53,2%, em 2015. O aumen-

to do desemprego feminino deve-se à retração do nível ocupacional, atenuada pela saída de mulheres do mercado de trabalho da região. Algumas vezes, os motivos da saída de mulheres do mercado de trabalho formal não são nem por vontade e nem por demissão, como é o caso de Juliana Souza, que faz parte do grupo de mulheres empresárias. “O meu pai tinha uma empresa que vendia iluminação e eu era estagiária em um banco. Aos 20 anos, devido a problemas de saúde dele, larguei o emprego e fui cuidar dos negócios.” Hoje, aos 24 anos, realizada com o mundo empreendedor, ela abriu uma segunda loja de luzes de LED. Flexibilidade Relacionada também com a área da beleza e com a de vendas, a motorista de van Regina Rojas, 41, sempre gostou muito da flexibilidade que tem com os horários devido ao seu perfil profissional. Ela ainda desenvolve atividades autônomas para complementar sua renda. “Eu me defino como mulher Bombril’, sou motorista profissional, cabeleireira, manicure, fabrico artesanatos por encomenda e ainda cuido de todo o serviço doméstico.” Sem salão fixo, Regina atende na própria casa ou na casa das clientes durante o dia, e faz a linha de alunos da Universidade Metodista de São Paulo durante o período noturno. Mãe de dois filhos, incluindo a pequena bailarina Letícia, 12, ela relata que o dinheiro que ganha com seus extras serve para as despesas do balé e o inglês da filha. E, mesmo assim, às vezes ela não consegue cobrir as despesas. “As coisas estão bem difíceis. Devido à crise, alguns alunos tiveram que desistir do meu serviço de van e começaram a ir de ônibus para a faculdade. Teve um que até precisou trancar a o curso porque o pai foi demitido.” Questionada sobre atuar em uma profissão considerada masculina, ela afirmou que ainda existe preconceito, uma vez que os homens ainda são maioria dos profissionais que fazem linha para adultos e universitários. “Sempre tem os dois lados. Tem homem que entra na van e acha ruim pelo fato de uma mulher dirigir, mas tem aqueles que elogiam e afirmam não ver a diferença.”


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ECONOMIA

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Susi Elena/RRJ

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Fotos: Vinicius Alves/RRJ

À esquerda, a autônoma Célia Gritti trabalha na rodoviária do Centro de São Bernardo; à direita, Rose Faria expõe os trabalhos dela no standard da loja Economia Solidária Susi Elena

TODA quarta-feira, das 9h às 16h, a autônoma Célia Gritti, 52, leva os produtos artesanais para o Terminal Rodoviário João Setti, no centro de São Bernardo. Ela faz parte do projeto Economia Solidária, desenvolvido pela prefeitura. O objetivo do programa é oferecer um ambiente para os artesãos comercializarem os serviços, além de valorizar os profissionais e o trabalho coletivo de forma igualitária. O projeto conta com uma loja para exposição das obras, mas a área não é suficiente para atender os cerca de 70 profissionais inscritos, sendo 95% mulheres. Para não deixar os profissionais na mão, uma parte da rodoviária foi disponibilizada. Agora, Célia espera que a administração pública ofereça um novo espaço que possa agrupar todos em um mesmo local. “Estamos apelando para ter uma Casa do Artesão para não trabalharmos na rodoviária.” Antônia Carrara, 57, assessora do programa Economia Solidária desde o começo, em 2008, explica que não há informações concretas sobre a oficialização do novo ambiente. “A Casa do Artesão não tem data para ser entregue, é só um projeto que está sendo reivindicado junto à prefeitura.” Para ela, um espaço fixo para expor as obras ajudaria na organização e valorização das obras dos munícipes. Além de promover a popularização das obras,

Artesãs de São Bernardo reivindicam espaço

Mulheres representam, aproximadamente,

95%

das autônomas do programa Economia Solidária

Trabalhadores se reúnem no espaço designado ao projeto Economia Solidária para debater propostas

ter um local adequado para estocar e vender os produtos também ajudaria a preservá-los melhor, e evitaria que as idosas, que representam boa parte das integrantes, carregassem peso. Crochê Esse é o caso da aposentada e viúva Neles Nascimento Pereira, 81, que tem dificuldades para se locomover e transportar algumas mercadorias. Há mais de oito anos trabalhando com produção de crochê e bordado na rodoviária, ela afirma que não consegue ter sucesso com as vendas. “O pouco que ganho já me ajuda na compra de

remédio. Passa bastante gente, mas não compram. De vez em quando vendo alguma peça.” Para Célia, uma alternativa para expandir e melhorar as vendas seria realizar o trabalho em um estabelecimento comercial. “Expor os produtos na loja ajudaria o pessoal a conhecer os artesãos de São Bernardo. Para nós é bom porque podemos divulgar os nossos trabalhos”. A autônoma Rose Faria, 54, artesã há mais de 30 anos, é uma das que conseguiram expor diariamente os trabalhos manuais na loja, em vez de comercializar na rodoviária.

Desde setembro do ano passado ela participa das reuniões de fórum, o que é uma obrigatoriedade para todos os integrantes do projeto para começar a vender os produtos. “Pelas reuniões foi dito que São Bernardo é a cidade que está com o projeto Economia Solidária mais avançado.” Reuniões No entanto, Rose acredita que ainda é necessário mais participação das pessoas. “Ninguém conhece ou sabe onde é a loja. A gente fala, mas ainda fica mais entre os amigos. São Bernardo anuncia no Guia da Cidade, mas o pessoal não

se interessa muito.” As reuniões de fórum são realizadas uma vez por mês para abordar assuntos sobre o trabalho manual e os princípios do movimento. “Conversamos sobre gestão, empreendedorismo e os tópicos do Economia Solidária. No final, acaba tendo a discussão das feiras realizadas e das próximas”, explicou Rose. Os encontros também são ferramentas importantes para compartilhar informações sobre o espaço da Casa do Artesão, que seria um suporte para o projeto Economia Solidária e um ponto de referência cultural para o município e para a concentração de trabalhadores manuais. Serviços Os munícipes interessados em participar do projeto devem procurar o Fórum Municipal de Economia Solidária, localizado na rua Zelinda Zanella, s/n, no centro de São Bernardo. O espaço fica aberto de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h. Uma vez por mês ocorrem reuniões às terças-feiras. Para saber mais informações, você pode ligar no telefone da instituição (11) 4128-1248 ou acessar a página do Facebook “Economia Solidária SBC”. 


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COMPORTAMENTO

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RUDGE RAMOS Jornal da Cidade Valmir Franzoi / PMSBC

Também precisa ter disponibilidade para aprender, se superar no dia a dia e dar o máximo de si no fogão.” Nicolas Toriano Marketing do IGA

Programas de TV impulsionam cursos de gastronomia Região tem opções para quem deseja seguir na profissão Ana Beatriz Moço

Murilo Rodrigues

OS PROGRAMAS de televisão destinados à gastronomia e culinária têm influenciado mais pessoas a procurarem os cursos da área, conforme avaliação da socióloga Esther Solano. “A TV tem grande capacidade para estimular hábitos e criar tendências. Então, claramente reforça esse desejo em quem está inclinado a seguir nessa profissão.” Além de buscar aumentar a audiência, Esther Solano avalia que o interesse das emissoras em dar mais espaço para programas vol-

tados ao tema tem como pano de fundo a questão mercadológica. “As produtoras perceberam que esses programas podem dar bom retorno financeiro. É uma questão de investimento. Afinal, as TVs são empresas que buscam sempre aumentar seus lucros.” A diretora de cursos do Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC) Selma Denize Lima Tonelotto, entidade que atende, em média, 500 alunos por ano nos cursos ligados à gastronomia, afirmou que “boa parcela de chefs de cozinha de sucesso é composta de homens, e isso incentiva muitos a se aventurar e aprender a cozinhar, quer seja para ajudar as esposas ou para conquistar a simpatia de amigos, familiares e namoradas.” A unidade do Senac em São Bernardo, inaugurada em agosto de 2015, tem o curso na grade curricular, enquanto o IGA (Instituto de Gastronomia das Améri-

cas) iniciou suas atividades em Santo André em dezembro de 2011 e, desde o mês de dezembro de 2013, conta com unidade também em São Bernardo. Já a Universidade Metodista de São Paulo mantem o curso de Tecnologia em Gastronomia, com duração de dois anos. Chef informal Enquanto alguns se aventuram na gastronomia por hobby, outros estão dispostos a enfrentar o calor, a fumaça e o trabalho árduo na cozinha em busca do título informal de ‘chef’. “É uma profissão que requer grandes sacrifícios, principalmente no começo. Trabalho duro nos fins de semana e em dias em que a maioria das pessoas está descansando ou se divertindo”, explicou a coordenadora de cursos do Sehal. Além de estar disposto a horas seguidas de trabalho na cozinha, a pessoa que escolhe o caminho da gastronomia precisa ter

Alunos do Restaurante Escola participam de cursos de curta duração, que levam no máximo duas semanas, contando com professores especializados

convicção e foco para se tornar um chef, segundo avaliação do responsável pela área de Marketing do IGA Nicolas Toriano, “também precisa ter disponibilidade para aprender, se superar no dia a dia e dar o máximo de si no fogão.” Fundado há cerca de 10 anos na cidade argentina de Rosário, o IGA tem hoje aproximadamente 100 escolas em toda a América, sendo 30 apenas no Brasil, sendo duas no ABC, que registram em torno de 200 alunos em cada uma e oferecem cursos com duração de quatro meses a dois anos. Sem contar o ‘Cozinheirinhos’, voltado para crianças a partir dos 8 anos. Sonho de criança Formado em 2012 em Tecnólogo em Gastronomia pelo Senac, Rodolfo Sá, 24, está disposto a enfrentar todos os sacrifícios para se tornar um chef e ter o próprio negócio na área. Morador de Santo André, o sonho começou ainda menino, quando se arriscava a mexer nas panelas para ajudar a mãe. “É preciso derramar muito suor, conviver com ferimentos e o cansaço de ficar praticamente todo o tempo”, disse Sá.

Outra jovem que tem amor à cozinha e às panelas é Francine de Souza, 20, há três anos decidiu abandonar o curso de Direito para se dedicar àquilo que diz ser sua verdadeira vocação e paixão. Fez curso de confeitaria e panificação no IGA. “São produtos que gosto de produzir. Amo confeitaria, fico feliz com cada trabalho finalizado”, explicou. Francine trabalha basicamente com encomendas, mas já está nos planos montar a loja física da sua marca, a ‘Quero mais um’, que tem no Facebook um dos principais aliados para divulgar o trabalho, além de imãs para geladeira e adesivos nas embalagens. “Produzimos cerca de 32 bolos por dia, tanto os mais simples quanto para festas, além de docinhos.” Procura aumenta A Secretaria de Educação de São Bernardo, tem entre os vários cursos oferecidos para a formação de profissionais ligados à área de alimentação. E a procura por uma vaga em cursos gratuitos como panificação, cozinha quente, confeitaria, confeitaria artística e salgados registrou crescimento de cerca de 100% no comparativo entre o primeiro semestre de 2015 e o mesmo período deste ano, segundo a secretaria informou por meio de nota. A secretaria disse também que, no ano passado, 555 pessoas se interessaram. Neste ano, o número saltou para 1.004 inscritos, dos quais 398 foram matriculados, em 16 turmas. Levantamento da Secretaria de Educação aponta 2.720 pessoas foram formadas desde que os cursos foram implantados na cidade, em 2009. Segundo pesquisa realizada com egressos dos cursos ou alunos concluintes em 2014, 68% desejam fazer novos cursos, 93% destacaram os cursos como ótimo ou bom e 39% estavam trabalhando na área no momento da pesquisa. São 200 horas de aula, entre teórica e prática (aproximadamente três meses de duração). 


RUDGE RAMOS Jornal da Cidade

Caroline Gibin/RRJ

Moniqui descobriu na internet uma forma de aprender a culinária

NÃO É novidade que a internet está cada vez mais inserida na vida das pessoas. Metade dos brasileiros, cerca de 36,8 milhões de casas, estão conectadas à rede, segundo os dados da Pnad (Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em abril de 2016. Essa ferramenta ajuda até mesmo quando há interesse em aprender algo novo, como a culinária. A fotógrafa Moniqui Parruca, 19, usa a internet para aprender receitas novas há dois anos. “Ultimamente cozinho como hobbie, mas tenho interesse em me profissionalizar, principalmente na confeitaria”, contou. Moniqui recorreu a in-

A GASTRONOMIA é um dos meios mais eficazes para preservar a cultura, identidade e memória de um povo. São Bernardo é um dos exemplos de cidades que estabeleceram diversidade na culinária, com cerca de 200 restaurantes divididos entre cozinhas italiana, asiática, nordestina, japonesa e muitas outras, segundo dados da ASSORTH (Associação de Hotéis Restaurantes e Turismo). A diversidade se justifica com a história da cidade. A partir de 1947, a chegada de estrangeiros e brasileiros de outros estados se intensificou com a industrialização no município. As décadas de 50, 60 e 70 foram marcadas pela migração, principalmente, de nordestinos. É o caso do aposentado José Ferreira da Silva, 72, que com 10 anos de idade se mudou do interior de Pernambuco para São Caetano. “Quando comecei a trabalhar nas automobilísticas da região, tinha muitos colegas nordestinos e isso resultou na necessidade de abrir restaurantes especializados nesta cozinha. Sentíamos falta da nossa

ternet para aprender técnicas da culinária pela rapidez com que consegue a informação e a forma didática que os vídeos e receitas online passam para quem deseja aprender. “Muitas vezes um aplicativo avisa quando sai novas receitas, e em um clique você já pode assisti-las”. O supervisor de montagem, João Pita, 54, começou a buscar na internet receitas por necessidade, antes só sabia cozinhar o básico, como arroz, agora já consegue se arriscar em outros pratos. “Hoje em dia faço picanha, carne moída, macarrão, aprendi até a usar panela de pressão, tento imitar receitas de restaurantes que gosto também”. O professor de gastronomia Daniel Nakagawa afirma que nem sempre a internet é uma ferramenta

eficiente para aprender a cozinhar. “Tem muita coisa errada, muitos equívocos, mas sabendo usar bem a internet ajuda bastante, no entanto não é a solução para tudo”. O professor acha interessante algumas ferramentas como vídeos no Youtube e redes sociais com dicas de receitas, porque mantém os profissionais antenados com as novas tendências do mundo culinário, mas mesmo assim não vê a internet substituindo os cursos presenciais. “O diferencial do presencial é o profissional disponível para tirar dúvidas e corrigir os erros de imediato. Outro fator importante é a aula prática, ou seja, o colocar a mão na massa, é quase certo que nem sempre vai ser tão fácil como aparece nos vídeos da internet”.  Fotos: Giovana Alves/RRJ

Culinária preserva cultura na cidade comida”, falou Silva. O restaurante Cantina do Zelão, localizado na rua Jurubatuba, centro de São Bernardo, é um exemplo da resistência da cultura nordestina na região. Inaugurado em 1977, a especialidade é o caldo de mocotó, que na época fazia sucesso entre os metalúrgicos. Nos dias atuais, o restaurante ainda mantém um cardápio exclusivamente nordestino. Para o presidente da ASSORTH Juno Rodrigues, restaurantes especializados em culinária nacional são importantes para preservar a cultura brasileira, mas também existe uma preocupação em ter estabelecimentos que oferecem pratos estrangeiros. “Para o turismo da cidade, é essencial que existam alternativas de cozinhas internacionais e, nesse sentido, eu diria que São Bernardo é bem completo”, afirmou Rodrigues. A receptividade dos pratos estrangeiros, porém, não vem só dos turistas. A secretária Nataly Mendonça, 24, por exemplo, é adepta a experimentar novos sabores. “Me encanta tanto a possibilidade de conhecer sabores diferente como a de vivenciar, mesmo que ra-

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Internet como aliada na cozinha Caroline Gibin

Giovana Alves

COMPORTAMENTO

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Além do tradicional caldo de mocotó, a Cantina do Zelão também tem outros pratos nordestinos, como a virada paulista

pidamente, a atmosfera de outra cultura que pode ser totalmente desconhecida para mim”, disse Na av. Prestes Maia, a proprietária Michele Forton, 36, inaugurou o restaurante peruano Tumi Cevicheria em abril. Para ela, a cultura é preservada por meio da gastronomia quando a comida mantém sua originalidade. “Eu procuro usar ingredientes importados para que os clientes tenham uma experiência bem próxima da realidade”, afirmou Michele. 


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RUDGE RAMOS Jornal da Cidade Foto: Reprodução Facebook

Divulgação/Sebo Equilíbrio

Sebo Equillíbrio, em São Bernardo, já tem site na Internet e até página no Facebook (na foto em destaque) para aumentar as vendas e atrair mais clientes para o estabelecimento

Sebos ingressam na web para atrair mais clientes Plataformas da internet ajudam bibliotecas alternativas a venderem livros Sophia Cury

OS SEBOS estão usando a tecnologia e se inserindo nas redes sociais para prestar serviço e atrair mais clientela para suas lojas físicas. Até vídeo no Youtube é oferecido como forma de orientar aficionados sobre como conservar seus livros. A Livraria Pacobello, em Santo André, já começou a utilizar algumas ferramentas digitais. Felipe Pacobello, dono do estabelecimento, acredita que a tecnologia veio para agregar muitas vantagens ao serviço oferecido pelas bibliotecas alternativas. É da Pacobello, inclusive, o vídeo no Youtube que ensina a tirar o amarelado das páginas e borda dos livros com uma tira de lixa d’água. Felipe Pacobello é quem protagoniza esses vídeos, nos quais também dá sugestões de livros e re-

Os perfis no Facebook e YouTube permitem criar uma relação muito mais próxima com os clientes.” Felipe Pacobello

Dono do sebo Pacobello

senhas de obras que já leu. A livraria existe há 14 anos. “Recebemos encomendas de todo o país por meio de nosso site na web (https://www. pacobello.com.br/) e do Whatsapp, o que aumenta o número de vendas. Além disso, os perfis no Facebook e YouTube permitem criar uma relação muito mais próxima com os clientes.” A estratégia vem dando resultados. Segundo Pacobello, somando o número de pessoas que visitam as quatro unidades da loja no centro de Santo André, ele

recebe uma média de mil visitantes por dia, das mais variadas idades e classes sociais. Antes do ingresso nas redes, o dono do estabelecimento não fazia uma contagem de clientes por dia, mas diz que o aumento de visitas e vendas aumentou consideravelmente com o uso da tecnologia. “Em questão de e-mails e mensagens do Whatsapp temos de 800 a 1200 por dia. São nossos clientes virtuais, que nem mesmo frequentam nossas lojas”, disse Pacobello. “Temos clientes de dois, três anos de idade que vêm acompanhados pelos pais, jovens universitários, adultos e o pessoal na faixa dos 65.” O preço, em torno de 50% a 60% mais baixo do que as livrarias tradicionais, é outro atrativo que torna os livros mais acessíveis ao público em geral. Tradição O Sebo Equilíbrio que

Livros em sebos são até

60% mais baratos do que nas livrarias tradicionais fica no bairro Planalto, em São Bernardo, também aderiu à tecnologia. Tem perfil no Facebook e site na web (http://www.seboequilibriolivros.com.br/). Segundo Susete Xavier e Fábio Victal, donos do estabelecimento, os clientes têm de 2 até os 90 anos de idade. “Alguns nos visitam toda semana. Outros, uma vez ao mês. Há os que entram só para dar uma ‘olhadinha’ e se apaixonam, e os ‘ratos de sebo’ que procuram raridades por bons preços”, disse Susete.

Um dos atrativos da livraria é a biografia em inglês de William Shakespeare, livro mais caro da loja, que sai por R$ 300 reais. Com 18 anos de experiência no ramo e há 13 anos sob o comando da livraria Equilíbrio, Fábio e Susete acreditam que a digitalização de livros definitivamente não vai acabar com os títulos em papel. “Quando se fala em toque, cheiro, tradição e costume, fala-se em livros físicos. É diferente da proposta digital, não tem jeito.” Além disso, os donos do sebo destacam que, ao ler em tablets ou celulares, inevitavelmente corre-se o risco de sofrer algum assalto. “Dependendo do lugar fica aquela preocupação, aquela insegurança com o produto eletrônico que não acontece se você estiver com um livro em mãos”, disse Victal. Outra vantagem dos livros físicos em relação aos digitais é poder encontrar obras raras que nem sequer foram editadas. “Como se fosse a primeira versão, sem alterações de editores, só o que o próprio escritor de fato colocou no papel”, disse Pacobello, que detém um acervo com mais de 300 mil livros. Além disso existem muitos títulos que ainda não foram digitalizados, ou seja, só são encontrados na forma física. 


RUDGE RAMOS Jornal da Cidade

CULTURA

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Vitória Vinturini

Contos antigos ainda são preferidos entre as crianças Vitória Vinturini

EM PLENA era tecnológica, contos infantis e fábulas ainda são a melhor ferramenta para alfabetizar as crianças. Pelo menos isso é o que constatou a reportagem ao contatar quatro escolas de São Bernardo (três públicas e uma privada) para saber quais os livros e recursos usados na alfabetização dos alunos. No ranking dos preferidos, seguem imbatíveis: Chapeuzinho Vermelho, Patinho Feio, Três Porquinhos e a fábula A Cigarra e a Formiga. Segundo a pedagoga Nueli Quirino, que é coordenadora de uma escola municipal, os professores são orientados a apresentar todos os títulos

às crianças para despertar o interesse deles pelo tema. Mas os contos famosos, “conhecidos por gerações” são os primeiros a acabar na biblioteca e os mais pedidos em sala de aula. Uma das explicações para essa preferência pode ser a fácil interpretação. E até a ingenuidade. Essa é a opinião da professora do ensino fundamental Danyelle Melque ao justificar a paixão das crianças pelos contos tradicionais. “Os contos podem ser imaginados, despertam curiosidade, têm muitos conflitos e isso chama a atenção das crianças. Por ser de fácil interpretação, faz com que absorvam a ideia do que o livro quer passar e elas reproduzem a história, isso é uma maneira de aprender”,

Irmãos Siqueira lendo os clássicos “Três Porquinhos” e “O Patinho Feio”, que o pai comprou para aprenderem a ler

contou Danyelle. Já a professora de literatura Rita de Cássia Malva acredita que ler clássicos faz com que as crianças criem um gosto pela viagem, pela imersão no desconhecido e pela exploração da diversidade. Para ela, os contos “transportam” as crianças

para outro tempo e outro espaço. “Os personagens estão em outro contexto e são fictícios, permitindo um distanciamento que acaba ajudando as crianças a entenderem melhor o sentido de suas próprias experiências”, disse a professora. Esse hábito pela tradição começa em casa. Foi o

Stéphanie Santos

TEATRO com fantoches, historinhas durante a noite e gibis são uma das alternativas que os pais encontraram para conseguir tirar os filhos dos tablet, celulares e computadores. Segundo eles, fazer com que as crianças se interessem pela leitura tem sido cada vez mais complicado. É o caso da dona de casa e mãe Luciene Rodrigues. Ela disse que, quando as filhas Juliana e Jaquelline tinham 7 e 8 anos, respectivamente, e estavam iniciando a leitura, não gostavam nem um pouco de ler. “Sentia que elas encaravam a leitura como algo obrigatório e chato.” Luciene disse que quase chegou a desistir de incentivar as filhas à leitura, mas resolveu continuar a batalha porque uma delas pronunciava muitas palavras de forma errada. “Achava um absurdo falar ‘brusa’ em vez de ‘blusa’, trocar o ‘r’ pelo ‘l’ para mim era o fim”, disse. O teatro de fantoches foi a saída que a dona de casa encontrou para fazê-las ter interesse pela

Fotos: Stéphanie Santos

Mães recorrem a fantoches e gibis para estimular leitura leitura. “O lado lúdico e a brincadeira foram a melhor saída que encontrei para fazer o interesse delas voltar”, contou Luciene. A brincadeira com os fantoches foi tão positiva que em três meses sua filha Juliana já não estava mais trocando as letras. E, para sua surpresa, as duas filhas já pediam para ir às livrarias e bibliotecas para escolher os próprios livros. Hoje, aos 12, Juliana ado-

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ra ler e até deixa seus eletrônicos de lado. “Acho incrível. Consigo me imaginar no cenário da história”, contou. Diversão A psicóloga Isabella Genttini explicou que o melhor caminho para vencer os eletrônicos é demonstrando para os pequenos que a leitura pode ser algo divertido. “É importante que os pais apresentem a leitura como algo prazeroso

Vinícius, 5 anos, mostrando sua coleção de livros

e não obrigatório”, contou. Ela ainda afirmou que o comportamento dos pais em frente aos filhos influencia muito a atitude deles, principalmente quando são pequenos e estão nessa fase de copiar tudo que os pais fazem. “Querer que os filhos sejam leitores e ficar o tempo todo no celular na frente deles não é a melhor opção”, disse Isabella. E foi vendo os hábitos de leitura de Jeniffer Bueno,

que aconteceu com o técnico em eletrônica Domingos de Oliveira Siqueira, 47. Seus filhos, Isadora, 8, e Cauã, 10, aprenderam a ler com as mesmas histórias que ele aprendeu a ler na escola, há 40 anos. “Por ser de fácil entendimento e eu lembrar das histórias até hoje”, disse Siqueira.

30, que seu filho, Vinicius, 5, passou a imitá-la. Ela contou que houve uma noite em que surpreendeu o filho sentado no sofá, com um livro na mão, simulando leitura. No mesmo momento, segundo a empresária, ela achou a atitude do filho interessante e perguntou o que ele estava fazendo. Para seu espanto, ele respondeu que estava lendo igual à mãe. Jeniffer contou ainda que, depois desse dia, percebeu que, apesar de ser uma leitora frequente, não estimulava tanto a leitura do seu filho. Ela passou então a contar histórias para ele na hora de dormir. “Ele presta tanta atenção que depois ele conta para mim toda a história. E ele não sabe ler totalmente.” Para seguir estimulando Vinícius, Jennifer chegou a criar um cantinho da leitura no quarto do filho, com mesinha e até uma mini estante de livros. “É o lugar que ele mais gosta de ficar. Acho engraçado ele sentar nessas mesinhas e passar horas com os livrinhos fingindo que está lendo”, disse. 


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RUDGE RAMOS Jornal da Cidade


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