Rudge Ramos Jornal - Edição 1.073

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Produzido pelos alunos do Curso de Jornalismo De 30 de agosto a 12 de setembro de 2018

Vinícius Honório/RRJ

ANO 38 - Nº 1073

Descarte inadequado Renan Bandeira/RRJ

» CULTURA

Biblioteca Malba Tahan reúne quadros do artista do bairro Gilmar Pintol Pág. 11

» CIDADE

Concurso público em São Bernardo tem quase 100 mil candidatos para 782 vagas Pág. 5

Terreno particular abandonado, localizado entre a rua Noel Rosa e a Avenida Lauro Gomes, no Rudge, virou depósito de lixo. Moradores reclamam, enquanto catadores aproveitam material para revender Pág. 7 Arquivo/RRJ

» ECONOMIA

Comércio tradicional aposta na qualidade dos produtos para conquistar confiança do cliente e sobreviver à crise Pág. 4


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De 30 de agosto a 12 de setembro de 2018

COMPORTAMENTO

Voluntários falam da alegria em ajudar o próximo Práticas solidárias no ABC envolvem questões de cidadania, amor e doação Fotos: Divulgação/MP&Rossi

David Trindade

DOAR SEU tempo. Essa é a principal premissa de um voluntário. O voluntariado é uma prática de entrega ao outro baseada na cidadania, no amor e na doação. O Brasil é o quarto país em número de voluntários, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Já de acordo com dados do ranking global de solidariedade World Giving Index, as ações voluntárias no país em 2017, cresceram 20%, comparado ao ano anterior. Para muitos, ser voluntário vai além de ajudar o próximo. “Muitas vezes nos perguntamos por que fazer trabalho voluntário, até que vemos o sorriso de uma pessoa que foi beneficiada por nosso serviço”, diz Cyro Soldani, que há 30 anos ajuda no Rotary Club Santo André. Já Cassia Messias, voluntária da Casa Ronald McDonald ABC, destaca a experiência no trabalho voluntário. “Eu estou sempre aprendendo com as crianças. Toda atividade cresce desde o momento da proposta até a realização, e sempre nos surpreendemos com o resultado”. Stefany Camillo, voluntária no Interact Club de Santo André, também destaca o aprendizado. “Nesses dois anos de voluntária, me desenvolvi demais, inclusive minha liderança. Quando pensamos em ajudar, logo imaginamos que é algo fácil e rápido. Mas, não é bem assim. Exige muito

Rudge Ramos JORNAL DA CIDADE editorial@metodista.br Rua do Sacramento, 230 Ed. Delta - Sala 141 Tel.: 4366-5871 - Rudge Ramos São Bernardo - CEP: 09640-000 

Produzido pelos alunos do curso de Jornalismo da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo

Voluntários da Casa Ronald McDonald ABC realizam brincadeiras e diferentes atividades com crianças em comemoração ao McDia Feliz

planejamento e trabalho em equipe”. Para começar na atividade voluntária não precisa ter idade, apenas vontade. Naycha Mayumi Santos tem apenas 13 anos e, desde os 11, trabalha no Projeto Semear, que ajuda no plantio de árvores. “Eu acredito que nossa iniciativa faz diferença, apesar de sempre ter alguém para dizer que isso não irá mudar em nada”. Enquanto muitos jovens dessa idade têm outras atividades, Naycha não se importa em utilizar seu tempo livre para ajudar. “Eu amei esse projeto, não

me importo nem um pouco de acordar cedo em pleno sábado para fazer. No final, sempre tenho uma história para contar”. A psicóloga Carla Moura fala sobre a importância do trabalho voluntário para realização pessoal. “Os

No último dia 28, foi comemorado o Dia Nacional do Voluntário

adolescentes que passam no meu consultório comentam que se sentem muito úteis. As vidas deles têm mais

DIRETOR Kleber Nogueira Carrilho COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO Eduardo Grossi EDITORA-EXECUTIVA Eloiza Oliveira (MTb 32.144) EDITORA DO RRJ Camila Escudero (MTb 39.564) EDITOR DE ARTE José Reis Filho (MTb 12.357) ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA Maristela Caretta (MTb 64.183)

CONSELHO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO Valdecir Barreros (presidente), Aires Ademir Leal Clavel (vice-presidente). Conselheiros titulares: Almir de Oliveira Júnior, Andrea Rodrigues da Motta Sampaio, Cassiano Kuchenbecker Rosing, Marcos Gomes Tôrres, Oscar Francisco Alves Jr., Recildo Narcizo de Oliveira, Renato Wanderley de Souza Lima. Suplentes: Eva Regina Pereira Ramão e Roberto Nogueira Gurgel. Esther Lopes (secretária) e bispa Marisa de Freitas Ferreira (assistente do Conselho Geral das Instituições Metodistas de Educação).

EQUIPE DE REDAÇÃO - Andressa Navarro, Ariel Correia, Camila Falcão, Camilla Thethê, Flávia Fernandes, Gabriel Batistella, Giovanna Vidoto, Giulia Marini, Giulia Requejo, Gustavo Garcez, Helena Tortorelli, Letícia Rodrigues, Luchelle Furtado, Luis Henrique Leite, Marcelo Hirata, Mayara Clemente, Natália Rossi, Victor Augusto e alunos do curso de Jornalismo.

DIRETOR GERAL - Robson Ramos de Aguiar DIRETOR DE FINANÇAS, CONTROLADORIA E GESTÃO DE PESSOAS - Ricardo Rocha Faria DIRETOR DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E

sentido quando fazem esse tipo de trabalho. Eles percebem o quanto é importante a doação”. Carla lembra que muitos pacientes, durante a realização de suas ações voluntárias, convivem com o sentimento de dó, o que pode acabar comprometendo o real aprendizado da ação. “Alguns se sentem compadecidos, com pena, então eu tenho que trabalhar essa questão, porque o legal é eles se sentirem solidários”. O voluntariado, além de ajudar na vida pessoal, também pode auxiliar na vida profissional. “A sociedade vai buscar cada vez mais esse incentivo à questão do voluntariado. As empresas acabam aderindo e incentivando o relacionamento social que passa pela experiência de ajudar o outro. Muitas empresas estão dando atenção para o voluntariado, o que agrega e influencia a colocação no mercado de trabalho”, diz o sociólogo Edinei da Silva, de Diadema. Para se tornar voluntário basta procurar alguma entidade que trabalhe com ações sociais. O Portal ATADOS, por exemplo, disponibiliza uma base de dados com cerca de 70 mil pessoas cadastradas esperando por uma oportunidade de atuar em algum projeto social. Além disso, em agosto deste ano, o Governo Federal lançou o Programa Nacional do Voluntariado. O objetivo é fomentar o maior engajamento da população brasileira em ações sociais. Esse projeto concede diferentes benefícios ao voluntariado, que vão desde levar o acúmulo de horas de trabalho voluntário como critério de desempate em concursos públicos, até descontos na compra de produtos ou de ingressos em eventos culturais a partir do tempo de ações voluntárias praticadas. 

MARKETING - Ronilson Carassini DIRETOR NACIONAL DE ENSINO SUPERIOR - Fabio Botelho Josgrilberg DIRETORA NACIONAL DE EDUCAÇÃO BÁSICA - Débora Castanha GERENTE JURÍDICO - Rubens Gonçalves de Barros REITOR: Paulo Borges Campos Jr.; Coordenadora de Graduação e Extensão: Alessandra Maria Sabatine Zambone; Coordenadora de Pós-Graduação e Pesquisa: Adriana Barroso Azevedo; Coordenador de EAD: Marcio Oliverio. DIRETORES - Nilton Zanco (Escola de Ciências Médicas e da Saúde), Kleber Nogueira Carrilho (Escola de Comunicação, Educação e Humanidades), Carlos Eduardo Santi (Escola de Engenharias, Tecnologia e Informação), Fulvio Cristofoli (Escola de Gestão e Direito) e Paulo Roberto Garcia (Escola de Teologia).


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O fim de semana de um escoteiro Heloisa Fantini

O MOVIMENTO escoteiro é uma iniciativa educacional que foi criada em 1907, na Inglaterra, pelo ex-general Robert Baden-Powell. A ideia era transformar o escotismo em um

grande dissipador de desenvolvimento para os jovens, e ele conseguiu. Ao longo do tempo, os grupos escoteiros se tornaram conhecidos e adotados em todo o mundo, inclusive no Brasil. Atualmente, existem 22 distritos escoteiros no ABC e, apesar de uma

agenda intensa de atividades, uma das maiores dificuldades enfrentadas é a falta de voluntários. A coordenadora e Chefe do 40°-SP Grupo Escoteiro Polaris, Roberta Boareto Mendes, de Santo André, conta que o trabalho exige dedicação. “É muito amor que tem que ter. Principalmente por ser um trabalho voluntário. É recompensador quando você vê o sorriso no rosto de um jovem que superou

Uma atitude que salva vidas Guilherme Molina

A FALTA de tempo, típica da vida moderna, não pode ser usada como desculpa para não se fazer um trabalho voluntário. Um exemplo disso é a doação de sangue, que pode ser realizada, no geral, a cada três meses e ocupa menos de uma hora do dia. No Brasil, somente 1,8% da população doa sangue, sendo que desse total 60% são homens e 40% mulheres. Mas o que muitos não sabem é que apenas uma doação de sangue pode beneficiar até quatro pessoas. A estudante de Engenharia Química Beatriz Chyosho, de Santo André, é doadora de sangue há três anos. “Me sinto muito feliz por saber que pude salvar vidas em menos de uma hora do meu dia”. Beatriz comenta que,

na primeira vez em que ela doou sangue, a sua pressão caiu, mas nas demais ocorreu tudo bem. “Durante a doação há um incômodo pela agulha ser um pouco maior do que as normais de exame de sangue. Mas é só”. Rafael Akira, morador de Santo André, começou a doar sangue por conta da influência de seus familiares. Para ele, o fato das pessoas não verem o sangue correndo por nossas veias não dá a noção de sua importância para salvar vidas. “Você não precisa ser um bombeiro ou um policial ou qualquer outra pessoa com esses rótulos de super-herói para poder salvar vidas. Um simples gesto de doar sangue pode ajudar sem você nem saber”. Apesar de campanhas na mídia, muitos doadores foram impulsionados a conhecerem a prática por

motivos maiores. É o caso do estudante de Sistemas de Informação Vinicius Silva, de Mauá. “Comecei a doar quando minha tia recebeu diagnóstico de câncer e necessitou de doações urgentes. Me arrependo por ter começado tarde demais”. Como Doar Para poder doar é necessário se encaixar ao perfil básico, que compreende: apresentar boas condições de saúde; ter entre 16 a 69 anos, desde que a primeira doação tenha sido feita até 60 anos; pesar no mínimo 50kg; estar descansado com no mínimo seis horas de sono durante as últimas 24 horas; estar alimentado, evitando comidas gordurosas nas quatro horas anteriores à doação; e apresentar um documento original com foto recente. Para menores de 18 anos é

COMPORTAMENTO Heloisa Fantini/ RRJ

o próprio limite”. Já a presidente do grupo, Cassia Regina Sabatini, lembra que iniciou seu trabalho voluntário no escotismo como mãe colaboradora, há nove anos, e continua até hoje. “O escotismo me completou como pessoa, pois eu comecei a me sentir muito útil. Mesmo quando meus filhos não queriam ir, eu insistia, pois sempre achei o movimento muito importante para o desenvolvimento deles”.

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Grupo de escoteiros reunidos com a líder da equipe na preparação para mais um dia de atividades voluntárias

O dia de atividades de um escoteiro é repleto de tradições e práticas, que estimulam o respeito e a disciplina. Um exemplo disso é a forma com que os jovens aprendem a se relacionar com a natureza, com os animais e com os seres humanos. Por isso, o movimento tem a preocupação de fazer das crianças, jovens que irão lutar por um mundo melhor. Um exemplo concreto disso pode ser observado no último estágio dos escoteiros, que reúne jovens de 19 a 20 anos, chamado de Pioneirismo. Hilda Siqueira Mota, 72, é mestre pioneira e conta como funciona esse nível. “Os meus jovens trabalham em cima da bondade, do altruísmo e do respeito. O nosso lema é servir. Desde limpar uma praça, ir aos asilos, servir a comunidade”. Ainda de acordo com Hilda, o objetivo é “colocar” na cabeça dos jovens a ideia de cidadania e transformá-los em pessoas que vão ajudar o próximo a desenvolverem a prática do voluntariado. 

VEJA OS NÚMEROS

1,8%

doadores de sangue no Brasil

1,5%

doadores de sangue na América Latina e Caribe

1,0%

recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) Fonte: Ministério da Saúde

obrigatória também a autorização dos pais e o preenchimento de um formulário oferecido pelo Pró-Sangue, disponível no site http:// www.prosangue.sp.gov.br. A doação de sangue na região pode ser realizada

em diferentes locais como, Centro Hospitalar de Santo André, Hospital Estadual Mário Covas, Hemocentro Regional de São Bernardo do Campo e Núcleo Regional de Hemoterapia Dr. Agnaldo Quaresma. 


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ECONOMIA

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Tradição no bairro ajuda comércio a enfrentar a crise Estabelecimentos investem na qualidade do produto para garantir a confiança do cliente Fotos: Gabriel Rezende/SP

Gabriel Rezende

A CRISE econômica que assola o Brasil impacta diariamente os diversos setores da economia. No comércio, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 226,5 mil lojas fecharam em todo o país, desde 2015. Só no primeiro trimestre de 2018, foram quase 10 mil estabelecimentos que encerraram as atividades. Tradicionais no Rudge, as pequenas lojas apostam na confiança dos clientes para enfrentar períodos difíceis. Um exemplo é a Avícola Maravilha, situada há 39 anos no bairro. Gélcio Saturo, atual proprietário, explica que a loja sempre foi uma empresa familiar, já que ele herdou de seu pai, que herdou o local de seu avô. “A crise afetou demais e tivemos uma queda de aproximadamente 30% do público”. Segundo Saturo a maior salvação do estabelecimento foi a tradição na região e a confiança dos clientes na qualidade. “A gente tenta sempre inovar, trazer coisas diferentes, e já oferecer o produto assado, pronto para o consumo”. Essa confiança dos consumidores é resumida pelo contador Paulo Assunção, que já frequenta a avícola há mais de 20 anos. “O produto é bom, nós conhecemos a procedência, os preços e principalmente a confiança. Sabemos da qualidade”. Já a Merci Discos, loja de CDs e DVDs que está há 58 anos no bairro, além da crise, a questão da pirataria e as novas tecnologias na distribuição de música atrapalham o negócio. “A gente está se segurando pelo tempo e por nossa estrutura”,

Acima, Merci Discos, na Avenida Dr. Rudge Ramos, 17, que funciona desde 1960 Ao lado, loja do Laticínios Luso Brasileiro, um dos estabelecimentos mais tradicionais do bairro

diz o proprietário Sergio do Anúncio. De acordo com ele, a loja sobrevive graças à fidelidade dos clientes. “Nós estamos atendendo a terceira geração de clientes”. Na Drogaria Mesquita, Elvaldo Mesquita, proprietário do local, conta que o fato de a farmácia funcionar há 35 anos faz com que as pessoas conheçam e confiem. “Temos clientes assíduos, que por nos conhecerem preferem vir aqui, em vez das grandes farmácias. E isso ajuda”. Siomara Aparecida, sócia-proprietárioa do Laticínios Luso Brasileiro, mercado situado desde 1985 no bairro, explica o principal motivo de o público preferir seu estabelecimento. “Nós fatiamos na hora, vendemos uma mercadoria boa e de qualidade, por isso os clientes preferem a gente aos grandes mercados e confiam nos nossos produtos”. Possuindo uma sede de varejo, e uma de atacado, ambos situados no Rudge, Siomara conta que a crise econômica não teve tanta influência no varejo, porém, afetou o atacado. O ponto principal da queda não foi a diminuição das vendas, e sim os inadimplentes, que compravam e não pagavam. “Nós passamos a escolher melhor os clientes, e não fazer negócio com quem nós sabíamos que não iria nos pagar”. Cliente da loja há mais de sete anos, o secretário escolar Marcos Vinicius Zucateli conta que o fator principal de tanta confiança é o preço e a qualidade da mercadoria oferecida. “Nos grandes mercados, eles vão vender um produto mais caro e no máximo da mesma qualidade”. Zucateli também deu sua opinião sobre o porquê de tantos estabelecimentos terem sidos fechados. “Hoje em dia, os supermercados são mini shoppings, mas o comércio de bairro é muito importante, fortalece a região”. 


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ECONOMIA

Concurso público tem quase 100 mil inscritos Salários oferecidos em São Bernardo vão de R$ 1.675,86 a R$ 9.384,71 Tamara Sanches

A PROVA de concurso público em São Bernardo para preencher 782 vagas distribuídas em 25 cargos de diversas áreas será realizada no dia 23 de setembro, no período da manhã. Os salários variam de R$ 1.675,86 a R$ 9.384,71. As contratações serão gradativas, de acordo com a demanda. Porém, cargos como técnico em licitação, analista tributário, geólogo, entre outros, terão início imediato. Segundo informações da prefeitura, são cerca de 100 mil inscritos. O cargo de maior concorrência é o de Analista de Transporte, com média de 825 candidatos por vaga. Outra área com bastante procura é a de Guarda Civil Municipal (GCM), com 5.686 concorrentes, sendo 1.008 candidatas para as 30 vagas exclusivas para mulheres, e 4.678 interessados nas 70 vagas atribuídas aos homens. Para o economista Sandro Maskio, professor da Universidade Metodista de São Paulo e funcionário da prefeitura de Santo André, o principal motivo da grande procura por concursos públicos é a grande quantidade de desempregados no país. O número de pessoas sem trabalho chegou a 24,6% no segundo trimestre deste ano, atingindo 27,6 milhões, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Como o momento é bastante complicado, a demanda de candidatos aumenta”. O estudante de Relações Internacionais da UFABC (Universidade Federal do ABC) Igor Tomaz de Souza vai prestar o concurso. Ele conta que vem se preparando especificamente para a prova de São Bernardo há três meses, estudando de duas a quatro horas diárias. “Pretendo conseguir uma vaga de oficial administrativo. Já trabalhei na iniciativa privada e espero uma cultura

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Segundo a prefeitura, no total são

782

vagas distribuídas em 25 cargos de diversas áreas

Tamara Sanches/RRJ

Candidata mantém rotina de estudos especialmente focada no edital do concurso; área mais concorrida é a de Analista de Transporte

institucional diferente”. A área almejada por Souza tem 100 vagas disponíveis. O desemprego, porém, nem sempre é o motivo de participação no concurso. Thais Batista Bezerra, moradora de Mauá, é uma das 681 pessoas que vão disputar apenas uma vaga de assistente social, em São Bernardo. Atualmente, ela é funcionária na prefeitura da cidade onde reside, mas está disposta a mudar de emprego caso seja aprovada. “O estado é o principal empregador de assistente social. Os salários são maiores, e acredito que na esfera pública temos maior autonomia para desenvolver o trabalho”, diz a concorrente, garantindo que mantém uma rotina de estudos para

obter bons resultados. Segundo a prefeitura, o concurso tem como principal objetivo preencher o quadro de técnicos que se aposentaram ao longo dos anos, além de ampliar o número de profissionais em áreas nas quais há maior carência, como GCM e setores da Educação. A empresa organizadora é a Vunesp. Cursos preparatórios Em busca de adquirir melhor capacitação para a prova, muitos alunos recorrem a aulas presenciais ou a distância em cursos preparatórios para concursos públicos. Neles, são disponibilizados materiais didáticos específicos, que auxiliam no aprendizado e

ajudam o candidato a manter uma rotina de estudos mais produtiva. Gabriel Henrique de Jesus, professor e diretor da Central de Concursos de Santo André, há sete anos, afirma que já viu muitos alunos serem aprovados. “O recomendado para obter a aprovação é que o candidato assista às aulas regularmente em um ambiente adequado, no maior tempo possível”. Ele considera que os concursos, além da vantagem de estabilidade, oferecem melhor remuneração e possibilidade de crescimento profissional - o que nem sempre é a realidade em empresas privadas. “É vantajoso fazer cursos preparatórios para concursos. É um diferencial,

você faz a prova muito mais tranquilo, porque eles já te ensinam o modelo e o tipo de questões que costumam cair”, diz Eduardo Matsuda, educador para deficientes intelectuais, que tentará uma das 300 vagas para professor de Educação Básica. “A situação da educação no Brasil é bem complexa. Eu pretendo fazer a diferença”. A prova, que será realizada em colégios da cidade, será composta por questões objetivas e as disciplinas variam de acordo com o cargo desejado. Os conteúdos básicos são língua portuguesa, matemática, atualidades e noções de informática. Conforme informações do edital, o concurso terá validade de dois anos e poderá ser prorrogado por mais dois. 


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SAÚDE

Dia de combate ao fumo é marcado por queda no consumo de tabaco No ABC, pesquisa mostra que o número de fumantes caiu de 20,7%, em 2011, para 17,8%, em 2015 Shamuel Bailão

ONTEM, dia 29 de agosto, foi comemorado o Dia Nacional de Combate ao Fumo. A data, ao lado do Dia Mundial Sem Tabaco, em 31 de maio, simboliza a luta e o incentivo pela redução de fumantes no Brasil. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, o número de usuários de tabaco no país caiu de 15,7%, em 2006, para 10,1% em 2017. No mesmo período, a frequência do consumo de cigarros entre os fumantes diminuiu em 36%. No ABC, pesquisa realizada pela Universidade Municipal de São Caetano (USCS), mostra que a porcentagem de fumantes diminuiu de 20,7%, em 2011, para 17,8% em 2015. Para a pneumologista Maria Cecília Cardoso, de São Bernardo, esse declínio pode ser atribuído ao fato de haver cada vez mais informações sobre os efeitos nocivos do tabaco, além de não existir mais “aquelas propagandas bonitas, ligando o cigarro ao esporte ou ao homem forte e viril”. O tabaco possui mais de quatro mil substâncias tóxicas, como nicotina e pesticidas, além de liberar outros elementos como monóxido de carbono, amônia e formol. Segundo Maria Cecília, o uso constante do cigarro pode gerar cânceres “de pulmão, de laringe, de língua, do aparelho digestivo e também da bexiga”. Além dos tumores, outra doença grave é o enfisema pulmonar, ou Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), que “acaba afetando outros órgãos”, incluindo o coração, com risco de causar insuficiência cardíaca. Joerce de Carvalho Ramos, 47, ex-fumante, é segurança em uma farmácia no Rudge. Segundo ele, o cigarro entrou em sua vida depois dos 18 anos, quando ia em baladas com os colegas. “Antes disso, eu não podia fumar porque, naquela época, a gente respeitava muito nossos pais. Na balada, eu achava

Shamuel Bailão/RRJ

O cigarro contém mais de bonito as pessoas fumarem e, quando eu coloquei o cigarro na minha boca, foi um prazer que senti, coisa de vício mesmo”. De acordo com Ramos, ele parou aos 21 anos, após sentir os efeitos do tabaco, como cansaço e tosse, além de ter visto “as propagandas que havia na televisão, mostrando que o cigarro fazia mal, dava câncer”. Ele lembra que consegiu parar por vontade própria, sem a necessidade

de tratamento. Entretanto, nem todos conseguem sair do vício, como é o caso da Maria Aparecida Capella, 57. Fumante há 22 anos, Maria diz que já consumia tabaco antes, mas conseguiu parar durante nove anos. “Eu parei com 23 e voltei com 32. Estava casada e foi meu marido que me ajudou. Depois, a gente se separou, eu fiquei sozinha, para fazer tudo, cuidar da casa, do filho, de tudo. Aquilo foi

Os cânceres de pulmão, de laringe, de língua, do aparelho digestivo e de bexiga são algumas das doenças causadas pelo cigarro‘‘ Maria Cecilia Cardoso Pnemologista

4 mil substâncias tóxicas, incluindo nicotina e pesticidas

me estressando, aí eu, sem querer, dei uma tragada num cigarro e depois não consegui mais parar. Estou nessa vida até hoje”. Maria ainda conta que já tentou vários tratamentos, incluindo adesivos de nicotina e remédios, porém, nenhum deu certo. Segundo ela, o que a mantém no vício é a ansiedade. Essa dificuldade de abandonar o cigarro pode ser explicada pela dependência química na mulher ser maior que no homem,

conforme explica a pneumologista Maria Cecília, devido à genética. Outra vítima do tabagismo é Fátima Cristina dos Santos, 43, professora de Sociologia e fumante há 20 anos. De acordo com ela, a primeira vez que fumou foi por curiosidade. “Experimentei uma vez. De início, não gostei, mas depois eu fumei de novo e acabei ficando com esse vício”, relembra Fátima. Atualmente, a professora está em processo de recuperação, tentando se livrar aos poucos do tabaco, porém, de vez em quando, ainda tem recaídas. “Quando estou muito estressada, muito nervosa, com muita coisa para fazer, eu fumo. Então, ainda estou no processo de parar”. 


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CIDADE

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Qual o destino do seu LIXO? Aumento do descarte irregular de resíduos preocupa moradores do Rudge; por outro lado, área é “o ganha pão” de catadores que reciclam o material

Fotos: Renan Bandeira/RRJ

terreno particular, que já foi autuado em fevereiro deste ano, pelo não cumprimento de notificação para limpeza, capinagem e remoção de entulho. O mesmo será notificado novamente. A Administração esclarece ainda que o Departamento de Limpeza Urbana, em conjunto com a Guarda Municipal Ambiental, tem trabalhado no sentido de aumentar a fiscalização no chamado “pontos viciados”, autuando e multando quando o morador é pego em flagrante. Denúncias sobre descarte irregular podem ser feitas por meio do telefone 153 da Guarda Civil e do endereço eletrônico www. sbclimpeza.com.br.

Em contra partida... Terreno baldio no Rudge virou depósito de lixo. Moradores próximos ao local sofrem com mal cheiro e com aparição de pombas e ratos Renan Bandeira

LUGAR DE lixo é no lixo, ou deveria ser. Na ligação entre a rua Noel Rosa e a Avenida Lauro Gomes, no Rudge, um terreno baldio foi ocupado pelo lixo. O cenário agora é de total abandono, sujeira e infestação de pombas e ratos que trazem grandes danos ao ambiente e também sérios riscos à população local, que diz vivenciar essa situação há mais ou menos quatro anos. Moradores próximos ao terreno estão assustados principalmente por não ser a primeira vez que acontece uma invasão desse tipo, como disse a dona de casa Ozana Riva, que mora há 35 anos no bairro. “Cada hora se forma uma coisa, é lixão, é favela, e ninguém toma providência. O pessoal cata o lixo para reciclagem e leva para lá, o que eles querem eles reciclam, o que não é útil, eles deixam”. Comerciantes do local vêm a situação com mais um agravante, o acúmulo do material deixado pelos moradores de rua resulta no crescimento da quantidade de ratos. Caroline Andrade, que é auxiliar de faturamento na empresa BRK Laticínios, localizada

na rua do lixão, faz um alerta para esse problema. “Muitos moradores de rua ficam ali, junto com restos de comida, roupa. Eles fazem reciclagem e no carrinho deles tem tudo, e onde tem lixo tem bicho”. Moradores indicam que além dos sucateadores, é a própria população do bairro que fomenta o lixão, jogando de tudo no terreno abandonado. “É o pessoal daquela casa verde ali, está

vendo? São eles que jogam”, diz o colaborador da Sabesp Robson Jardim, que mora há 34 anos no prédio em frente ao local. Quem confirma a ação dos moradores é a dona de casa Luzinete Silva. “É o povo da rua que joga sujeira lá, eu já vi carros parando e jogando lixo lá”. O cheiro também não agrada os moradores e nem quem trabalha próximo ao terreno invadido pela su-

jeira. Além do Ribeirão dos Meninos, rio que acompanha toda a avenida Lauro Gomes e que traz mau odor para as proximidades, o lixão é alvo de reclamação dos moradores. “Existe o mau cheiro, não chega até aqui (empresa), mas quem passa por ali, sente”, diz Caroline. Em nota, a prefeitura de São Bernardo, por meio da secretaria de Serviços Urbanos, informou que o local mencionado se trata de

Alexandre Gustavo e Ricardo de Paz são catadores que ganham a vida com a venda de material do local

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que os catadores são responsáveis por 90% dos materiais reciclados no Brasil. O Engenheiro Ambiental Andrey Leal, ressalta a importância dos sucateadores para a sociedade e o meio ambiente. “Os catadores têm uma grande importância para a coleta de resíduos, porque selecionam materiais de valor comercial que podem voltar ao seu ciclo de vida, e assim, menos recursos naturais são extraídos para a fabricação de novos produtos”. “Eles (os moradores) olham do outro lado da situação, julgam todo mundo e não sabem separar as coisas”, diz Alexandre Gustavo da Silva, o Píola, morador de rua que trabalha no lixão, reciclando material. Fora do mercado de trabalho, Píola está na rua há oito anos. Ele vê na sucata o seu ganha pão. “A gente ajuda o meio ambiente e a cidade e ela ainda fica contra nós. Com a idade que a gente está, tem que se virar de algum jeito, vamos ficar pedindo dinheiro em farol? Eu faço três cargas por dia, é assim que eu tiro minha comida, o meu remédio. Se a gente for em alguma firma por aí, a gente não serve mais para nada. Vocês querem que a gente faça o quê? Vá roubar?” 


ESPORTE

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Lateral da Rússia deixou São Caetano para brilhar na Copa Mário Fernandes, que atualmente joga no CSKA Moscou, recusou participar da Seleção Brasileira em 2011 Fotos: Divulgação/AD São Caetano e CBF

Nelson Coltro

ÍDOLO DO futebol russo, um dos melhores laterais da Copa do Mundo recém disputada em solo europeu e polêmico por ter recusado defender a Seleção Brasileira em 2011. Esse é Mário Fernandes, atleta do CSKA Moscou, da Rússia, que saiu de São Caetano para brilhar no futebol. Fernandes foi criado na cidade do ABC. Quando nasceu, em 1990, a Rússia, seu atual país, ainda era União Soviética. Começou brincando em um campinho em uma rua qualquer da cidade, onde jogava futebol por diversão com seus irmãos e amigos do bairro. “Comecei na escolinha de futebol do bairro Santa Maria, com o professor Dirceu, e também na quadrinha que existia ali na rua Rio de Janeiro. Sempre ia jogar com meu irmão e amigos”, conta ele. No futsal foram seus primeiros passos dentro de um ambiente competitivo no futebol. Por lá, fez amigos que leva até hoje e que ainda visita quando vem ao Brasil, em todos os anos, passar férias em São Caetano. “Conheci o Mário no Clube Águias de Nova Gerty, em 2004. Ele ainda jogava futsal, enquanto eu já atuava no campo, mas logo em seguida ele veio jogar comigo. Nós brincávamos muito nos recreativos, treinos e viagens. Logo a parceria virou amizade e hoje nos falamos todos os dias”, conta Marcel Rodrigues Barbosa que, ao contrário do amigo, acabou não vingando no esporte e hoje é publicitário. Tímido, Fernandes já le-

Mário Fernandes atuou pela Seleção Brasileira antes de optar pela Rússia. Acima, jogador em treino do São Caetano

vou até puxão de orelha de seu técnico na Rússia, Stanislav Cherchesov, durante coletiva na última Copa do Mundo. Esse lado tímido também foi evidenciado por Barbosa, que descreveu o atual craque como desatento na adolescência. “Apesar de às vezes meio avoado, o Mário sempre foi diferente. Era muito acima da média”, conta o amigo. Apesar da carreira bem sucedida e boa passagem pelas categorias de base do São Caetano, Fernandes relembra os momentos difíceis vividos na cidade do

ABC, antes de despontar para o mundo. “Vim de uma família muito humilde e às vezes nos faltava até o que comer, era difícil”, relembra. “Tudo que passei por mais difícil que tenha sido a minha infância ali, me fez crescer e evoluir como pessoa e profissional. Ali é onde me sinto em casa, por isso que nas férias vou para São Caetano ao invés de viajar para qualquer outro lugar”, diz. “Não” ao Brasil Após impressionar nas categorias de base do São Caetano, Fernandes assinou com o Grêmio, em janeiro de 2009, a princípio para defender a equipe sub20. Daí em diante, o sucesso veio rápido para o jogador. Dois anos depois, ocorreu o episódio mais con-

Mário Fernandes na carreira:

304 6 40

jogos

gols

assistências

traditório da carreira do atleta. Após ser convocado pela Seleção Brasileira para o Superclássico das Américas, em 2011, Fernandes recusou o chamado, contrariando o sonho de muitos jovens no país. Na época, a assessoria do jogador alegou que o atleta não se apresentou por problemas pessoais. Mano Menezes, então técnico do

Brasil, disse que seria difícil Fernandes voltar ao time sob seu comando. E foi. Fernandes voltou à seleção apenas três anos depois, já com Dunga como técnico, quando já vestia a camisa do CSKA Moscou. Ele participou da vitória brasileira por 4 a 0 diante do Japão. Como a Fifa considera apenas jogos oficiais como empecilhos para atletas “trocarem” de seleção, Fernandes, que só havia atuado em amistosos pelo Brasil, tinha caminho aberto para defender a seleção do país onde era ídolo. Os títulos e boas atuações com a camisa do CSKA levaram o brasileiro a tirar o passaporte russo em 2016. Pouco tempo depois, veio a primeira convocação e, consequentemente, o chamado para disputar o Mundial no país, em 2018. 


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ESPORTE

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A inclusão de deficientes por meio do esporte

RUDGE RAMOS Jornal da Cidade Fotos: Divulgação/ILIS

Instituto promove aulas gratuitas de taekwondo

ILIS, de Diadema, organiza campeonato para alunos com necessidades especiais

Durante as aulas, em Diadema, alunos trabalham equilíbrio, lateralidade, consciência corporal, entre outros aspectos do desenvolvimento Dayara Freire

O Instituto Lira de Inclusão Social (ILIS), em Diadema, promove, há quase sete anos, aulas gratuitas de taekwondo para crianças e adultos com deficiência intelectual e física. O projeto, que auxilia mais de 70 deficientes, apoia a integração social e os desenvolvimentos cognitivos e motores. De acordo com a fisioterapeuta da instituição, Elisabete Foster, a prática da arte marcial coreana trabalha equilíbrio, força, agilidade e memorização, através de dinâmicas feitas em aula. “A maioria dos alunos partilha de necessidades muito pare-

cidas. Então, toda aula visa aprimorar os aspectos como, por exemplo, a lateralidade, o equilíbrio, a noção de frente e trás e a consciência corporal. Tudo isso é trabalhado”. Ainda segundo a fisioterapeuta, a importância das atividades pode resultar na descoberta de novas habilidades. “A ideia de dar para as crianças aulas de taekwondo é porque acreditamos que essa prática atende às necessidades, seja física ou mental. Entretanto, há crianças que não se adaptam, isso faz com que elas acabem indo para outras modalidades, seja o futebol ou o balé”. Além de diagramas com socos e chutes realizados em aula, o taekwondo, que signi-

fica “caminho dos pés e mãos através da mente”, tem como objetivo principal aprimorar a disciplina, a autovalorização, a paciência e o respeito às diversidades. A atual coordenadora da instituição, Maria do Socorro Lira, uma das idealizadoras do projeto, conta como surgiu a iniciativa de ajudar pessoas com deficiências intelectuais por meio do esporte. “O surgimento do ILIS é muito antigo, a academia existe há 36 anos e, desde então, meu marido sempre teve alunos com deficiência nas suas aulas. Eu dou aula há mais de 20 anos também. Eu sempre trabalhei em escola particular e nas minhas aulas de dança, por exemplo, sempre

tiveram meninas com deficiência, que as professoras, em geral, não conseguiam lidar”. Maria do Socorro diz ainda que foi dessa dificuldade que nasceu a ideia do projeto. “Em 2008, nós resolvemos fazer um projeto, porque trabalhar com uma criança deficiente, dentro de uma aula de academia comum, é complicado, normalmente é um professor para todos. E quando você dá aula para um grupo especial, você possui mais pessoas auxiliando. Foi aí que começamos, na época com uma instituição parceira”. Com vagas limitadas, a procura pelo curso se tornou recorrente, levando os criadores do projeto a romper a parceria e a criar o Instituto

ILIS. “Em 2011, nós fundamos o ILIS, porque tínhamos uma procura muito grande e não conseguíamos atender a todos dentro da parceria. Por isso fundamos nossa entidade, para que pudéssemos atender com qualidade, da forma que queríamos, para uma quantidade maior de pessoas”, lembra a coordenadora. A aposentada Marlene Monteiro, mãe de Marcelo Monteiro, 32, portador de síndrome de Down, explica que a arte marcial ajudou na vida do filho, um dos primeiros beneficiados pelo projeto de inclusão. “Ele passou 20 anos na APAE (a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de São Paulo, e eu vi que tudo que ele tinha que aprender lá, ele já tinha aprendido, então eu soube desse projeto do taekwondo e matriculei ele. O esporte ajudou muito na coordenação motora dele, porque ele passava muito tempo parado em casa, e encontrei algo que ele gosta de fazer e sabe tudo”. A dona de casa Elisangela Cristiana Ferreira, mãe de Matheus Ferreira, 5, diagnosticado com autismo, afirma que em apenas cinco meses, a dinâmica das aulas ajudou no desenvolvimento do filho. “Ele melhorou muito em questão de habilidade, disciplina coisas que ele não tinha antes. Em um mês, já deu para notar a diferença. Hoje, ele é uma criança mais calma, ele gosta das aulas é como se o esporte o acalmasse”. As aulas são divididas em três partes: aquecimento, que prepara o corpo para evitar lesões; as atividades, que trabalham as habilidades, equilíbrio, flexibilidade e disciplina; e o encerramento, com uma sequência de socos, saudação à bandeira e ao mestre. 


10 CULTURA

Museus do ABC são gratuitos Acervos são formados por esculturas, quadros e objetos históricos, grande parte doada por moradores Renata Fernandes Mateus Romaniello

O PRIMEIRO museu brasileiro foi inaugurado em 1862, em Pernambuco, chamado de Museu do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano. De acordo com o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), atualmente, no Brasil, existem cerca de 3.118 museus. A maioria localiza-se na região Sudeste, com 1.150, Sul com 874 e Nordeste com 709. No ABC, um dos principais espaços é o Museu Municipal Dr. Octaviano Armando Gaiarsa, na

rua Senador Flaquer, em Santo André, inaugurado oficialmente em 1990. Entretanto, antes de se tornar um museu, foi a primeira escola da região, que até então recebia o nome de Grupo Escolar de São Bernardo, em 1914.  Grande parte dos objetos foram doados pela própria população andreense, de tal maneira que existem aproximadamente 70 mil itens no local. A coleção mostra a evolução da cidade em aspectos urbanos, sociais e econômicos, além de itens mais antigos, do final do século XIX.   A museóloga e gerente de preservação em memória do museu Santo André,

Maristela Caretta/RRJ

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Mayra Gusman de Souza, relata que o local recebe visitas frequentes. “O museu atrai diferentes públicos. A maioria das visitas vem das escolas, mas também tem os curiosos que estão passando na rua e decidem entrar. Também recebemos visitas de muitos idosos”. O horário de visitação é de segunda à sexta, das 8h às 16h30, e aos sábados, das 9h às 14h30. Em São Bernardo, a Pinacoteca foi fundada em 1975. Localizado na rua Kara, 105, no Jardim do Mar, próximo à Cidade das Crianças, o acervo do museu reúne arte moderna e contemporânea da região do ABC, com 1.125 obras de artistas representativos da arte brasileira. Um dos objetivos da inauguração do museu era divulgar e estudar essas artes por meio das obras expostas e exposições temporárias.  No momento, a Pinacoteca é considerada o maior

RUDGE RAMOS Jornal da Cidade Thalita Ribeiro/RRJ

Prédio onde funciona o Museu de Santo André foi projetado pelo arquiteto José Van Humbeeck; no detalhe, fachada da Pinacoteca, em São Bernardo

fotos, assim como móveis e objetos de cerâmica. Inaugurado em 1960, o museu museu com exposições per- fechou as portas e foi remanentes na região. Pos- aberto em 1977, na rua sui biblioteca, auditório e Maximiliano Lorenzini, um jardim com escultu- 122, durante um período ras. Além de apresentar a de festividades da cidade.  coleção popular da região, o O acervo é dividido em espaço busca também pro- grupos e, além dos itens fimover a música e a poesia.  xos, o espaço tem exposições O local atrai públicos temporárias, que atraem diversificados, apesar da os moradores da cidade. As faixa etária mais frequente salas recebem o nome de ser de 15 a 18 anos de ida- doadores dos acervos e o de, como conta Gonçalo Pa- museu conta com um espavanello, curador da pinaco- ço que mostra a formação teca. “Esse é o público mais da cidade, itens antigos, assíduo, porque muitas quadros de arte e fotografia escolas vêm fazer trabalhos dos prefeitos eleitos. aqui. Também temos vários   Regina Domenghelli, projetos de ampliação para assistente administrativa exposições”. do museu, diz que, a exemA entrada no espaço é plo de São Bernardo e Santo gratuita e fica aberto ao André, o maior público vem público de terça a sába- das escolas. “Aqui, os alunos do, das 10h às 18h. Nas podem ver a formação da quintas-feiras, estende-se cidade, por causa da olaria. até as 21h. Também visitam a área de Já em São Caetano, há exposição temporária, os o Museu Histórico Muni- quadros e objetos de São cipal, que possui cerca de Caetano”. O museu fica no cinco mil peças. São obje- bairro Fundação e as visitas tos de moradores antigos, podem ser feitas de segunda obras de artistas locais, a sexta, das 8h às 17h. 


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RUDGE RAMOS Jornal da Cidade

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Fotos: Vinícius Honório/RRJ

Vinícius Honório

ETERNIZAR a antiga São Bernardo em aquarela e óleo sobre tela. Esse é o objetivo da exposição “São Bernardo em foco”, de Gilmar Pintol, artista plástico do Rudge. Em cartaz na Biblioteca Pública Municipal Malba Tahan, a mostra faz parte da programação especial organizada pela prefeitura para celebrar o mês de aniversário da cidade, que completou 465 anos no último dia 20. Nascido e criado em Santo André, desde muito cedo, Pintol já rabiscava esboços de quadros, todos inspirados em recortes de jornais e revistas. Mas foi no início da adolescência que, por obra do acaso, o neto de imigrantes italianos descobriu mais uma paixão. “Um dos meus tios pintava porcelanas. Para você colorir e fixar imagens nas peças, utiliza-se um produto que, quando entra em contato com o calor, exala um aroma que impregna tudo. Agreguei a vontade de desenhar e pintar a esse cheiro. Foi uma coisa espontânea”, lembrou. Mesmo certo de sua vocação, o sonho de Pintol teve de esperar. Para ajudar no orçamento da família, trabalhou como metalúrgico até a década de 80, quando passou a se dedicar integralmente ao que antes era apenas um passatempo. “O sonho estava só adormecido. Saí da indústria por um problema de saúde e entrei na área das artes”. Entregue à carreira artística, em seus mais de 30 anos de atuação, o aposentado já estudou composição e teoria das cores, fotografia e fez vários cursos de desenhos, mas conta que não se deu bem em nenhuma das áreas. Foi na pintura que se destacou. “Comecei a pintar e tive aceitação, o público gostava. Passei a vender meus trabalhos”. A primeira exposição que o artista participou ocorreu em 1983, no Senac Santo André. Já a mostra que mais o marcou e tem um lugar especial na memória do pintor estreou há quase 20 anos, em novembro de 1998. O projeto cultural “Reminiscência”, organizado pela Prefeitura de Ribeirão Pires, também retratava a história do município em técnica óleo sobre tela. “A cidade do ABC que mais valoriza a arte é Ribeirão. Além de eles me ajudarem financeiramente, na confec-

Gilmar Pintol ao lado da diretora da biblioteca Malba Tahan, Lucia Marta da Silva

Mostra de quadros é destaque na biblioteca do Rudge

Gilmar Pintol ao lado da diretora da biblioteca Malba Tahan, Lucia Marta da Silva

Pinturas de Gilmar Pintol fazem parte das comemorações do aniversário de São Bernardo Releitura do artista a partir de uma foto da Paróquia São João Batista, no Largo do Rudge, em 1954

ção das obras e com o espaço, eles também me deram um prêmio em dinheiro. Foi bem compensador, não pelo dinheiro em si, mas pela consideração”. Reconhecimento Hoje, aos 65 anos, Pintol é um artista catalogado, premiado em salões e com trabalhos expostos nos Estados Unidos e na Europa. Mesmo com tanta experiência, conhecimento e um currículo expressivo na área, não se considera um pintor famoso e lamenta não ser reconhecido nem mesmo no Rudge, onde já mora há mais de 20 anos. O artista acredita que a falta de incentivo e divulgação de seus trabalhos dificultaram a fama. “Nunca tive incentivo de ninguém. É muito difícil essa profissão. Ninguém apoia, todo mundo quer explorar, quer trabalho seu de graça... É bastante complicado”. Amante das obras do pintor pós-impressionis-

ta francês Paul Cézanne, Pintol também relembra o legado de Luiz Sacilotto, artista contemporâneo andreense considerado um dos pioneiros do concretismo no Brasil, que só recebeu homenagens depois de morto, em 2003. “Depois que se está in memoriam não adianta mais nada. O orgulho que você leva da vida é esse, fazer uma coisa que tenha algum interesse das pessoas”. “Eu não quero ser um Neymar da vida, rodeado por 30 microfones. Só quero

mostrar as minhas obras, ampliar esse leque de pessoas que gostam do meu trabalho”, explicou. E mesmo diante de tantas dificuldades, a conexão quase que espiritual que Pintol criou com a arte sempre fala mais alto. “A arte é um refúgio para mim, porque enquanto estou pintando distraio a cabeça e não penso em coisas ruins. Depois de Deus, a minha maior paixão na Terra é a pintura. Ela é o carro-chefe, é o que me incentiva a viver, produzir,

construir e me interessar pelo mundo”, finalizou. Arte na biblioteca Para a mostra na biblioteca Malba Tahan, Gilmar Pintol foi convidado a expor quadros que retratam locais importantes para a história de São Bernardo, todos baseados em fotos do acervo iconográfico da cidade. “Todas as divulgações culturais nos espaços da prefeitura valem a pena. E sendo um morador do próprio bairro, abrilhanta ainda mais a nossa biblioteca”, afirmou a diretora Lucia Marta da Silva. Já para Elaine Magarotto, chefe de Divisão de Biblioteca Pública do município, expor quadros nas bibliotecas constitui uma nova forma de leitura, que vai além dos livros. “As obras de arte também são uma leitura. Essas exposições trazem um novo olhar para quem não tem o hábito de ir a museus”, explicou. Sobre os trabalhos de Pintol, Elaine se lembrou do aniversário da cidade e disse que a exposição veio na hora certa. “Essas obras vêm de encontro ao que é São Bernardo, faz a gente recordar nossas memórias afetivas”. A exposição “São Bernardo em foco” ficará em cartaz apenas até 31 de agosto, na biblioteca Malba Tahan, localizada na Rua Helena Jacquey, 208, Rudge. O espaço funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, e aos sábados, das 8h às 14h. 


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RUDGE RAMOS Jornal da Cidade


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