Desnivel11

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Informativo da Uni茫o Paulista de Espeleologia www.upecave.com.br Revista Paulista de Espeleologia www.upecave.com.br

Plano de Manejo Cr么nica Espeleol贸gica 50 anos do CAP Tutorial 3 do Survex O uso do Protractor

Ano 6 - N煤mero 11 2008 Janeiro/Junho de 2009


Comissão Editorial Ricardo Martinelli; Gabriela Slavec; Renata Shimura; Eduardo Portella & Fabio Kok Geribello

Diagramação

Editorial

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Em defesa dos grupos de espeleologia

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A espeleologia e os 50 anos do CAP

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Ricardo Martinelli

Revisão

Topografia - O uso do Protractor

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Planos de manejo do alto ribeira

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Crônicas Espeleológicas

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Tutoriais do Survex

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Gabriela Slavec / Renata Shimura

Expediente Endereço para correspondência: Rua Loefgreen 1291, Cj 61 - São Paulo - SP CEP: 04040-031 Desnível é uma publicação eletrônica semestral da União Paulista de Espeleologia (UPE). As opiniões expressas em artigos assinados são de responsabilidade dos respectivos autores. As matérias não assinadas são de responsabilidade dos editores e não refletem necessariamente a opinião da UPE. Artigos publicados no Desnível podem ser reproduzidos na íntegra desde que citados fonte, autor, URL e data de consulta na web. Reproduções parciais somente com autorização prévia dos editores. O informativo em formato PDF poderá ser repassado para outras pessoas e listas de discussão. Para enviar um artigo utilize o e-mail: desnivel@upecave.com.br As datas limite são os meses de junho e novembro. O Desnível se encontra em regularidade com as leis anti-spam. Se deseja não mais recebê-lo, favor enviar um e-mail para: remover@upecave.com.br

Veja Também 3 Memória 15 Plantão Médico 36 Lojinha da UPE

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A UPE é filiada à SBE

Foto da Capa: Gruta do Minotauro Parque Estadual Intervales Autor: Ricardo Martinelli Autor: Ricardo Martinelli

União Paulista de Espeleologia

37 Espeleolog 38 Maillon Rapid 39 Foto em Destaque Foto: Equipe da UPE em “reunião” na Gruta do Temimina II, durante os trabalhos de mapeamento para os planos de manejo espeleológico.


Parabéns.... UPE 15 anos!!!! Contate o Autor rsmartinelli@globo.com

Texto: Ricardo Martinelli

C

aros leitores e amigos de muitas cavernadas, cos o ponta e todos nós ouvimos um grande barua UPE está em festa!!! No Brasil, poucas são lho... parecia uma onça!!!!!! Neste momento, com o as instituições que atingem tal longevidade, grande susto, o rapaz veio cambaleando, pulando os e isso nos orgulha e dá forças para reinventar o grupo blocos, parecia que tinha visto o próprio “sucupira”! a cada ano, a cada saída à campo. Posso me orgu- Felizmente foi só o susto, um gato do mato nos prelhar de ter participado de praticamente toda a história gou uma bela peça! Lembro também de Iraquara, quando a UPE da UPE. Apesar de não ser sócio fundador, entrei nos primeiros anos de sua formação e relembrar fatos e mapeou um trecho da Gruta da Torrinha, o chamado “causos” é uma maneira de comemorar, deixando as complexo do minotauro e também descobriu uma granlembranças fluírem em fatos marcantes e engraça- de galeria na gruta Lapa Doce, apelidada de “é doce mas não é mole”, por necessitar de um extenso dos. A UPE começou de maneira avassaladora e já rastejamento para se chegar até ela. Nesta época em 1995 realizou uma das maiores expedições de estávamos auxiliando o “Chico Bill” em sua tese de que se tinha notícia até aquele momento. Explorando mestrado e não tinhamos ainda muita liberdade para o sistema São Vicente, em Goiás, mais de 30 pesso- brincadeiras. Mas isso se resolveu logo que o Coringa as entre Brasileiros, Eslovenos e Americanos com- e o Jerry mandaram a primeira “bomba” de lama nas costas dele... reação zero... partilharam momentos incríbomba 2... só uma veis e fizeram descobertas de balançadina... bomba 3... e grande monta, retornando de vira o Chico e no mais puro lá com mais de 20 km de gasotaque nordestino solta lerias mapeadas. Porém, re“vocés me réspéitem, sou um sultados à parte, lembro de homem casado, gélólogo, um fato que me marcou, mestrando da USP...” e sem uma equipe estava que acabasse a reclamação, mapeando uma galeria de a bomba 4 “pousou“ na cara águas termais no pórtico da dele!!!! Bom, nem precisa faSão Vicente II, já estava noilar que a amizade perdura até te e as outras equipes já eshoje. tavam no acampamento... e Poderia ficar aqui lembrannada do pessoal voltar! Lá pedo de histórias engraçadas e las tantas, os mais experienque marcaram minha trajetótes resolveram enviar uma ria e a do grupo durante esequipe para “averiguar” o que tes 15 anos, mas o fato é que poderia ter ocorrido, e assim são estas passagens que foi, 3 espeleólogos entraram Acesse o novo site da UPE em: sempre nos fazem voltar ao no conduto, sobraram pouambiente das cavernas, às cos no acampamento, entre http://www.upecave.com.br expedições, às reuniões eles eu e Peter Slavec. Passadas mais de 2 horas da segunda equipe, bateu um presenciais, a enfrentar a parte política e burocrática, certo desespero e resolvemos enviar a terceira equi- que é tão chata e tão necessária para que possamos pe de resgate... e EU estava nela!!! Já pensava no no final de semana pegar nosso carro, encontrar os pior, por ser termal, será que todos encontraram ga- amigos e cair na estrada para mapear este imenso e zes venenosos? Será que estão perdidos, sei lá, fi- rico subterrâneo brasileiro! Comemorando seus 15 anos de fundação, a quei desesperado, coloquei minha roupa de caverna, calcei as botas, estava tremendo! Fomos para a boca UPE está lançando seu novo site na web. Foi fruto de da caverna, eu e o Peter... para meu alívio, bem neste muito trabalho e dedicação de seus sócios e está momento a segunda equipe estava voltando, encon- muito mais interativo e dinâmico, esperamos um grantraram a primeira ainda mapeando e decidiram ajudar de feedback. Quanto ao Desnível, cada número que publicae explorar algumas ramificações, tomaram uma bela mos é uma conquista, cada vez mais com “cara de bronca e tudo acabou bem! Fato interessante ocorreu no mapeamento da revista”, entramos no sexto ano de publicações, o que Gruta Canhambora, em Cunha - SP, uma caverna em nos dá a certeza do sucesso desta importante publigranito muito interessante, que serviu de abrigo para cação. Um grupo se enfraquece muito se não divulga escravos. Lá pelas tantas da noite, finalizando os tra- o que está fazendo, seus mapas, seus resultados, é balhos, na última trenada, um integrante do grupo puxa como uma prestação de contas à sociedade, uma a trena por cima de blocos de granito, tentando atin- obrigação, uma contrapartida, pois entramos em amgir a “linha de gotejamento” do pórtico da caverna... bientes delicados, frágeis, causando impacto trena esticada, fazendo a visada, lá de cima dos blo- ambiental e precisamos gerar resultados!

Boa Leitura! Desnível Eletrônico - Ano 6, número 11 - Janeiro - Julho de 2009

Editorial

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Em defesa dos grupos de espeleologia A Palavra do Presidente Autor: Fabio Kok Geribello (Coringa) Presidente da UPE - fabio@geribello.com.br

D

esde os idos de 70, diversos voluntários vêm empenhando seus esforços, seus conhecimentos e seu tempo livre na defesa de nossas cavernas. Inicialmente, através de iniciativas isoladas, que aos poucos foram se unindo na organização de grupos de espeleologia, até a fundação da SBE, que hoje comemora seus 40 anos de atividades, com o objetivo de fomentar a exploração e o conhecimento das cavernas. Foi a partir dessas iniciativas, junto com a realização de pesquisas científicas, principalmente nas áreas de arqueologia, geologia e biologia, que o conhecimento sobre as cavidades brasileiras começou a ser organizado e divulgado, fazendo com que o público em geral demonstrasse curiosidade e interesse pela proteção das mesmas. Todos os parques hoje existentes para proteger o patrimônio espeleológico brasileiro foram criados a partir de uma luta isolada, porém constante, de alguns “fuçadores” que conseguiram, através de fotos, estudos, relatos e produção de mapas, mobilizar a sociedade e sensibilizar as autoridades. Nos últimos 40 anos muita coisa aconteceu na Espeleologia nacional, grandes descobertas ocorreram, diversos parques foram criados e as regiões cársticas, que normalmente não possuem um grau de desenvolvimento notável, descobriram o turismo como forma alternativa de renda, beneficiando também as comunidades locais. Hoje, muitos dinossauros da espeleologia se extinguiram. Alguns tiveram sua aposentadoria merecida e outros partiram para a busca de novas explorações nos terrenos de caça de seus antepassados... Nesta transição apenas alguns poucos Grupos de Espeleologia conseguiram reter o conhecimento técnico gerado e duramente aprendido. Contamos nos dedos os grupos que tem mais de 10 anos de existência e que ainda estão na labuta. Mas o que aconteceu com os outros? Como nivelar o conhecimento para os novos grupos? Quais as regiões onde deve ser estimulada a formação de novos grupos para exploração e pesquisa? Sempre criticamos a posição da SBE em dar preferência a sócios individuais ao invés de fomentar a criação de grupos sólidos e técnicos, pois como entidade nacional, entendemos que o papel da SBE, entre tantos outros, é de apoiar as iniciativas dos grupos, buscar formas de ajudar na organização dos trabalhos realizados, além de intervir em nome de toda a comunidade espeleológica sempre que for necessário. Entretanto, este não é o único problema, pois o que de fato ocorre é que os grupos nunca foram devidamente valorizados pelo enorme trabalho que realizam. Temos a tendência de valorizar as pessoas acima das entidades a que pertencem, e isso gera “inveja”, que é um dos piores sentimentos do ser humano moderno e especialmente do brasileiro. Temos inveja do sucesso do outro, invejamos a conquista alheia e por outro lado tendemos a valorizar a nós mesmos em detrimento de nossos feitos. E o grupo, onde fica? A minha opção pela espeleo, como atividade e idealismo,foi feita exatamente pelo espírito de companheirismo e equipe que reina numa saída técnica, bem diferente da escalada e outras atividades na natureza. A espeleologia nos obriga a trabalhar em conjunto, a segurança do grupo depende da atuação de cada um, a produção de um bom mapa depende da qualidade de todos os integrantes e do comprometimento dos mesmos com o projeto. Desnível Eletrônico - Ano 6, número 11 - Janeiro - Julho de 2009

A palavra do Presidente

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Autor: Ricardo Martinelli

Porém, percebemos que algumas vezes, na volta pra casa algumas pessoas se tornam egoístas e se esquecem dos “apuros com os amigos”, tomando somente para si o mérito do trabalho de todos... é aí que um grupo desmorona, às vezes lentamente, outras vezes como em uma avalanche... O setor público, hoje responsável pela gestão das áreas protegidas pela ação dos Grupos, geralmente não valoriza o conhecimento por Foto: Grupo de espeleologia em ação. Trabalho de qualidade a serviço da sociedade. estes armazenado e não consegue enxergá-los como fortes aliados. Por exemplo, atualmente está em andamento a execução do Plano de Manejo de 32 Cavernas no Estado de São Paulo. Para que o trabalho fosse realizado, apenas uma parte dos mapas precisou ter a sua execução contratada, pois grande parte das cavernas já haviam sido mapeadas pelos grupos de espeleologia e foram doados ao projeto, da mesma forma que são sempre disponibilizados para todos os interessados, através do CNC ou contato direto com os grupos. Para uma reflexão, se utilizarmos o mesmo valor base para contratação dos mapas que já estavam prontos, o valor rodaria por volta de R$ 1.000.000,00, ou seja, os GRUPOS ESPELEOLÓGICOS doaram UM milhão de reais em trabalhos realizados para a Secretaria do Meio Ambiente poder viabilizar os planos de manejo das cavernas. Isso, sem contar o tempo economizado para a execução destes, que de outra forma inviabilizaria todo o projeto. Além disso, os Grupos participaram ativamente e voluntariamente das oficinas, reuniões e saídas a campo. Os Grupos estão sempre dispostos a oferecer ajuda e apoio a toda atividade que orbite sua área de interesse, que é a proteção e o conhecimento das cavernas e suas adjacências. O caso mais emblemático é o CECAV, órgão federal de atuação autoritária e que pouco conhece e nada valoriza os grupos de atuação regional, da preferência a refazer trabalhos espeleológicos, duplicando ou até mesmo triplicando o sistema de cadastro de cavernas ao invés de apoiar e fomentar a melhoria dos sistemas já existentes. De forma prepotente, prefere tomar para si o trabalho de mapeamento e exploração, que poderia ser feito voluntariamente pelos grupos já constituídos. Apesar da importância e responsabilidade dos assuntos tratados por este órgão, falta uma consulta democrática à sociedade espeleológica, que possui um grande e valioso conhecimento adquirido ao longo de muitos anos de trabalho. Dessa forma, temos que valorizar cada vez mais a atuação dos Grupos sobre as pessoas, o conjunto sobre o individual e, sobretudo, a amizade sobre o conflito. Somos poucos atuando na Espeleologia, mas são muitas as cavernas que ainda estão por aí para serem descobertas, exploradas, mapeadas, pesquisadas! GRUPO ESPELEOLÓGICO GOIANO Nós, representantes dos poucos Grupos de Espeleologia sobreviventes, continuamos nossa luta diária para entregar produtos de qualidade e estaremos sempre à disposição para apoiar a todos na defesa de nosso patrimônio espeleológico.

GREGO

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A palavra do Presidente

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A Espeleologia e os 50 anos do CAP

Por: Peter & Gabriela Slavec Fotos: Peter Slavec Mapas: CAP

ABSTRACT Over 50 years the Alpine Club of São Paulo (CAP) has made a number of expeditions and achievements in Climbing, Mountaineering and Speleological areas. From 1959 to 1994 the CAP Speleology Department was very active and responsible for the discovering and the surveying of more than one hundred caves in Brazil. Today the speleological activities of CAP is being held by the UPE. This article is about the Speleology history of CAP which is an important part of the Speleology history in Brazil. A HISTÓRIA

F

undado em 1959, pelo alpinista italiano Domingos Giobbi, o Clube Alpino Paulista – CAP está comemorando este ano seus 50 anos de atividades, que ao longo da sua história, incluíram o alpinismo, a escalada, o montanhismo e a espeleologia. Já no final de 1959, o espeleólogo francês Michel Le Bret, que viera morar no Brasil, encontrou o CAP e foi criado dentro do clube o Departamento de Espeleologia, sob sua direção. Dos membros do CAP, um pequeno grupo se identificou com as atividades subterrâneas, formando um grupo coeso e, curiosamente, de diferentes nacionalidades. Desta época, podemos destacar o esloveno Peter Slavec, os espanhóis José Luiz Vasques Yuste e Joan Jutglar, o búlgaro Salvator Haim, o italiano Sergio Andino, Zigurds Dunce, da Letônia, e o brasileiro Luiz Guilherme Assunção (Meca), entre outros.

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Não se conhece comoção mais violenta do que aquela que se experimenta ao penetrar sozinho numa gruta desconhecida, enquanto as gotas de água que caem das abóbodas são o único ruído que perturba como pequenas canções, o eterno silêncio dos mundos subterrâneos... é a influência irresistível do mundo mineral... Peter Slavec


Em agosto de 1965, o Clube Alpino Paulista enviou para a Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo uma carta com relatórios de exploração de grutas naquela região e na região da Caverna do Diabo, ressaltando o potencial turístico das mesmas e, ao mesmo tempo, pedindo proteção para o Meio Ambiente através da criação do Parque Turístico. AS EXPLORAÇÕES

O início dos trabalhos de Espeleologia do CAP teve como base o capítulo “As Grutas Calcárias do Vale do Rio Ribeira do Iguape” da Revista do Instituto Geográfico e Geológico – IGG (volume VIII, n. 1 a 4), onde estão enumeradas as 41 cavernas descobertas por Ricardo Krone, entre 1891 e 1905. Com estes dados em mãos, o CAP foi a campo, em busca destas e de novas cavernas. Nessa época já existia, em Caboclos, Espírito Santo, no Alto Vale do Ribeira, o Parque do IGG, que consistia de duas casas com administrador e guias. Os responsáveis eram José Epitácio Passos Guimarães, diretor do Museu Geológico na época e o Prof. Pedro Comério, que mantinham abertos os caminhos para grutas próximas, sob responsabilidade do IGG, para visitação turística. Foi nesta época que surgiu a idéia de se criar o PETAR, Parque Estadual do Alto do Ribeira, com a finalidade de proteger as grutas, a fauna e a flora nas suas imediações.

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No período entre 1959 e 1969, a Diretoria do Departamento de Espeleologia do CAP estava sob responsabilidade de Michel Le Bret. Nesta época começaram as grandes atividades no Vale do Ribeira, SP, com trabalhos de exploração e mapeamento das cavernas, além de alguns trabalhos conjuntos com Guy Christian Collet, que realizava trabalhos independentes na área de arqueologia, ou Pierre Martin e seu grupo de Londrina, que também exploravam a região do Vale do Ribeira. Durante dois anos, foram feitas explorações na Gruta da Tapagem e na Gruta das Ostras, até que em 1962, foi realizada a junção das duas, somando 4.500 m da hoje conhecida Caverna do Diabo (SP-02). A primeira travessia completa da caverna foi realizada em 1964, pelo CAP. Em um dos relatórios das explorações realizadas, com participação de Michel Le Bret, Felippe Goethals e Sra., Luiz Guilherme Assumpção (Meca) e Roberto Ribeiro Pereira, depois de 11 horas de permanência na caverna, Meca conclui: “Concluído o levantamento da gruta, pudemos averiguar que foram por nós explorados 1860m da gruta, dos quais 1040m tiveram, pela primeira vez, desde a sua formação há milhares e milhares de anos, sua eterna escuridão violada”.

Memória

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Na região do Bethari, destacaram-se a Gruta e Abismo de Água Suja, Gruta Laje das Furnas e Laje das Furninhas, Gruta do Morro Preto e Morro do Couto, Gruta do Córrego seco, Abismo de Ouro Grosso, com 104m de abismo, e Grutas Areias I e II, todas exploradas pela primeira vez em sua total extensão pelo CAP. Na região de Caboclos / Espírito Santos, foram topografadas a Gruta do Monjolinho e Arataca, Gruta da Pescaria e, em especial, a Gruta da Igreja (incluindo a Gruta Santo Antonio e a Gruta Krone), com seu pórtico de 142m de altura, que hoje é conhecida como Gruta Casa de Pedra (SP-09). Em Vila Velha, no Paraná, Michel Le Bret e Peter Slavec desceram com escadinha de alumínio os 54m de abismo negativo até a superfície da água da Furna I (PR-01), em 1962. Em colaboração com o IGG, foi publicado, em 1966, o Boletim n.47 do IGG, onde Le Bret descreve os trabalhos de pesquisas das cavernas no Vale do Ribeira. Em 1969, Michel Le Bret retornou à França, deixando uma grande contribuição à Espeleologia brasileira, além de um grupo de espeleólogos, que deram continuidade aos trabalhos de Espeleologia dentro do CAP. No período entre 1970 e 1982, quando o Departamento de Espeleologia ficou sob responsabilidade de Peter Slavec, os trabalhos se concentraram cada vez mais na área de Caboclos. O grupo cresceu bastante,

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ficou mais maduro tecnicamente e se especializou nas pesquisas da região. Nesta segunda fase, destacaram-se os colegas que incansavelmente passaram finsde-semana na mata, explorando grutas: Peter Slavec, Hilda Maria Britto Slavec, José Luiz Vasques Yuste, Lao Holland, Jonnathan Thornton, Adalbert Kolpatzik, Ulla Kolpatzik, Leonel Brites, Peter J. Barry, Álvaro Bento de Jesus Jr. (Spagetti), Peter Moser, Bruno A. Sellmer, Marion Nipper, entre outros. Na região de Caboclos, foram explorados o Sumidouro do Rio Braço da Pescaria e Salão da Pescaria, tentando encontrar a comunicação com a Gruta da Pescaria, que fora confirmada anteriormente através de coloração do rio da Pescaria. Foi encontrada a Gruta do Fartinho (SP-07) e a Gruta do Farto (SP-06), a m b a s interligadas com o Córrego do Fartinho, num total aproximado de 3.400 m, também comprovados por coloração. Este córrego é confundido por muitos com o Córrego do Monjolinho. No caminho da Gruta do Fartinho, virando-se para direção NO, foram descobertas ainda grutas como Pedra Marcada, Gruta do Jacaré e outras de menor relevância. Ainda mais perto de Caboclos foi cadastrada a Gruta dos Cogumelos. Outra grande e promissora área para exploração foi a região do Rio Temimina, onde sem dúvida a mais majestosa gruta é a Temimina II, descoberta por Pierre Martin

Memória

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e Marinho, mas explorada e topografada pelo CAP. Nossa meta era continuar descendo o Rio Temimina, onde deveríamos encontrar mais cavernas. Foi assim, mas vindo do sul, ou seja, subindo o Rio Pescaria, que foram descobertas a Gruta Demoronada, Gruta da Água Silenciosa e Gruta Itaoca. Em julho de 1975, já fazia dois anos que o espeleo-grupo do CAP estudava os mapas aerofotogramétricos da região do Areado Grande e tudo indicava a existênica de pelo menos uma gruta promissora. Entretanto, a região ficava isolada pelo sul, onde estavam sendo feitas as explorações do CAP na época. A partir de informações locais da região norte, obtidas em fazendas e aglomerações à beira da estrada entre Guapiara e Apiaí, o grupo decidiu dedicar uma semana de férias para explorar a região do Areado Grande, em busca de novas cavernas. Na época, era possível chegar até lá de jipe, saindo de Guapiara e seguindo cerca de 30 km em estradinha de terra. Foram quatro os participantes desta primeira investida na região: Peter Slavec, Jonathan Thornton, Álvaro Bento de Jesus (Spagueti) e Peter Barry. Por precaução, seguiram com dois carros, pois o jipe estava em condições que inspiravam certa desconfiança, sendo que o Peter Barry foi nomeado mecânico da expedição. Ele e John saíram na véspera, para garantir a chegada até Guapiara, não passando de 60 km/h no asfalto. No dia 11 de julho, 1975, em uma bela manhã ensolarada, o grupo se reuniu no posto de gasolina de Guapiara, às 10:00h, conforme combinado. Bagagem no jipe, último cafezinho no bar do posto e adeus à civilização por uma semana. Ao passar pelas moradias dos caboclos, o grupo foi recolhendo informações sobre grutas que poderiam existir nas proximidades. Duas vezes cruzaram com o carro por dentro do Rio Pilões, pois não existiam pontes. A estrada ficava cada vez mais tortuosa e íngreme, subindo e descendo os morros cobertos de mata virgem. De repente um vale maior, umas cinco casas e nova parada para perguntas Foto: O Jipe que foi para o Areado e nunca mais voltou! Seus restos podiam ser vistos em umas das trilhas da região até pouco tempo atraz.

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aos moradores. Foi um rapaz, que se fazia procurar qualquer coisa nas imediações, mas cujo interesse real estava no grupo que acabava de chegar, quem forneceu as primeiras informações: - “Oi, moço, como se chama este lugar?”, perguntou Peter Slavec. - “Areado”, respondeu o rapaz. - “Conhece por aí alguma gruta?” - “Tem uma aí onde some o Rio Areado”. A resposta foi suficiente para animar o grupo. Estavam ao lado do Rio Areado, que fazia uma suave curva para fora da estrada e, entre ambos, um magnífico gramado plano,

Foto: Equipamentos usados nas explorações do Areado

ideal para estabelecimento do acampamento base. Não havia dúvida. Meia hora depois o acampamento estava montado e o grupo já estava de saída para ver aonde o rio sumia. O grupo acompanhou o curso da água, seguindo pela picada o novo guia, Bertolino. A cerca de 200 m, a água se infiltra entre as pedras, correndo assim por mais 250 m, voltando à superfície. Mais uns 100 m adiante há um novo sumidouro, entrando mais profundamente e atravessando pequena elevação por 50 m. Até aquele momento, nada que merecesse exploração. Andamos ansiosos por mais uns 200 m, onde o Rio Areado desaparecia novamente embaixo da terra. Foi aí que o moço parou. Perguntado se adiante o rio não aparecia novamente à luz do dia, o rapaz confirmou, mas disse que ele nunca fora ver o local. O grupo seguiu por mais uns 300 m, abrindo uma picada para chegar no fundo de pequena depressão, que ficava a uns 15 m abaixo do nível do vale, onde encontraram a saída do rio, uma boca de uns dois por dois metros aberta na rocha calcária. Surpresos, logo adiante avistaram uma entrada similar, por onde entrava calmamente o rio. Não havia dúvida. Era ali que deveriam entrar e iniciar a exploração. Como ainda era cedo, o sol brilhava no céu azul e até o acampamento eram apenas vinte minutos de caminhada, o grupo resolveu fazer uma rápida incursão inicial à caverna. Ao entrar, já tiveram que se molhar até quase a cintura. O rio corria em forma de um cotovelo e atravessando-o já se encontravam num pequeno salão. Seguiram o curso do rio, que a uns 50 m sumia entre as rochas de uma parede. Mas à direita a galeria continuava sem problemas e de longe se escutava novamente o rio saltando pedras. Foi suficiente para saber que tinham à sua frente uma grande caverna.

Foto: Sistema de comunicação por telefone em abismo sendo testado Desnível Eletrônico - Ano 6, número 11 - Janeiro - Julho de 2009

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Foto: Vista aérea do pórtico da Gruta Casa de Pedra

Durante os dias que se seguiram, foi realizada a exploração e topografia da gruta, com trena, bússola e altímetro, completando 1.283 m de caverna, além de registros fotográficos. A primeira expedição ao Areado Grande foi um sucesso. As explorações continuaram nos próximos anos, resultando em importantes

descobertas, como a Gruta Areado Grande I e II, Gruta do Baixão, Abismo do Baixão, Gruta Quebra Vento, Gruta do Jeep. A mais importante, além do Areado Grande II (SP-78), foi a descoberta da Gruta da Cabana (SP-108), cujo córrego, sem nome, corria dentro da gruta por 4.185 m, sempre em direção sul, indo de encontro à Gruta Desmoronada, entre os rios Temimina e Pescaria, em Caboclos. Por coloração foi comprovado que realmente que o córrego da Gruta da Cabana é afluente do Rio Temimina. Desenhavam-se para o futuro novas explorações naquela região, assim, uma trilha de ligação entre os bairros Caboclos e Areado Grande foi aberta, onde o percurso podia ser realizado em 4 horas de caminhada. Na região do Vale do Bethari, onde atuava a maioria dos outros grupos de espeleologia, as explorações também foram retomadas pelo CAP. Foi descoberta, em setembro de 1974, a Gruta do Córrego Fundo (SP-48). Com seus 1.360 m e seus maravilhosos travertinos, seu diminuto córrego provavelmente alimenta o córrego da Gruta das Areias I, topografada pelo CAP em 1961. Outra exploração e topografia do CAP em primeira mão foi do Abismo de Furnas (SP-31), com suas formações maravilhosas de calcita cristalizada, flores e vulcões, lembrando o Salão das Flores da Gruta Santana. No período de 1982 a 1986, Bruno Sellmer assumiu o Departamento de Espeleologia do CAP. Era hora de mudar, inovar e incentivar espeleólogos jovens como Bruno Selmer, Fábio von Thein, Luiz Eduardo Consiglio (Baixinho), Max Haim, Luiz Bernardino, Celso F. Ziglio e muitos outros. As explorações se deslocaram mais em direção do Bairro Espírito Santo, onde foram Desnível Eletrônico - Ano 6, número 11 - Janeiro - Julho de 2009

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Foto: Explorações em Goiás - Sistema São Vicente

descobertas a Gruta Azuías, a única conhecida com estalactites de cor azulesverdeada, coloridas por oxidação de sulfato de cobre, Gruta Morro do Chumbo, Cachoeira e Ressurgência 7 Reis, Abismo dos Cristais, Poço Pena, Gruta do Castelo, Túnel da Represa. Na região do Rio Temimina foi descoberto o Abismo João Forte e explorada a Temimina III, bem como feita a travessia Caboclos-Areado. Foram ainda topografadas as grutas do Meandro e Piraia. Entre 1989 e 1994, foi Roberto Brandi quem assumiu o Departamento de Espeleologia do CAP. Os novos espeleólogos sempre foram incentivados e orientados por Peter Slavec, para dar continuidade às atividades espeleológicas do CAP. Muitas grutas mereciam novas explorações ou precisavam de continuidade em trabalhos já começados, outras foram descobertas, mas não topografadas. Foi assim que, em fevereiro de 1989, Luiz Ricardo Valli, Roberto Brandi, Marcelo, Veronika B. Slavec, M. Pires Corrêa, Urandir

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e José Nelson Barretta Filho se dirigiram à Gruta Monjolinho, em Caboclos, mais precisamente ao Túnel da Esperança, onde, após retirar algumas dezenas de quilos de barro com as mãos e canecas improvisadas, encontraram a conexão com a Galeria do Caracol, 80 anos depois da passagem de Krone pela caverna. Neste novo período de explorações o CAP concentrou seus esforços a nordeste do Rio Temimina, onde ficava o Areado Grande. Ficou cada vez mais evidente que havia muito de interessante naquela região acidentada e virgem por completo, desconhecida até mesmo dos moradores mais próximos. Foi numa nova visita à Gruta Desmoronada que o grupo, após atravessar seu imenso salão iluminado pelos raios do sol, se deu conta do vale que se estendia à sua frente. Era o vale no fundo do qual corria o Rio Temimina, cercado por verdadeiras muralhas de paredões gigantescos de calcário branco. Foi batizado de Vale da Ilusão, há muitos anos procurado e provavelmente nunca antes visitado, nem mesmo por caboclos. Memória

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E assim vieram novas descobertas: Gruta da Ilusão, Gruta do Pau Oco, Gruta dos Sete Lagos, Abismo do Pôr do Sol... Em agosto de 1991 foi feita uma visita para levantamento do potencial espeleológico da região da Serra das Araras, no município de Cáceres, MT, por Peter Slavec, Roberto Brandi e Luiz Bernardino, do CAP, e Elio Padovan, da Comissione Grotte “E. Boegan”, de Trieste. Foram exploradas e topografadas as Grutas da Igrejinha I e II, Gruta da Luzia, Gruta Pindorama, Furnas das Palmeiras e Paredão Grande, todas de pequenas proporções.

AS EXPLORAÇÕES EM GOIÁS Paralelamente às atividades no Alto Vale do Ribeira, o Clube Alpino

Paulista se dedicou, entre 1973 e 1991 à exploração da região do Rio São Vicente, no município de São Domingos, GO, fazendo um total de 10 viagens àquela região. Foram supervisionadas e organizadas por Peter Slavec e Max Haim, junto com os espeleólogos do CAP. Foram convidados ainda espeleólogos de outros grupos brasileiros e estrangeiros, como o Clube Alpino Polonês, Organizacion Argentina de Investigaciones Espeleologicas, Espeleo Club de Paris (Claude Chabert, Bruno Chaumeton, Jean Maurizot), Comissione Grotte “E. Boegan”, da Itália (grupo de 8 espeleólogos sob direção de Elio Padovan). Finalmente, chegou a participar das explorações em São Vicente, Michel Le Bret, que veio matar saudades, e Paul Courbon. Os trabalhos continuaram, a partir de 1994, também com participação de espeleólogos eslovenos e americanos, sob

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coordenação da União Paulista de Espeleologia. A maior gruta da região e com certeza a mais difícil de ser explorada no Brasil é a Gruta São Vicente I, que foi vencida com ajuda da equipe italiana, a Gruta São Vicente II, Gruta Couro d’Anta e Gruta Passa Três. No total, foram cadastradas pelo CAP 28 grutas e abismos naquela região.

OUTRAS ATIVIDADES Em suas explorações o Clube Alpino Paulista se dedicou sempre também à procura de vestígios paleontológicos e arqueológicos, como ao estudo das geocaracterísticas das cavernas e sua fauna e flora. Na área de Bioespeleologia, convém destacar as pesquisas sobre o cascudo branco

(ancistrus cryptophtalmus) na Gruta Passa Três, feitas pelo Prof. Roberto E. Reis, do Museu de Ciências da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande da Sul - Porto Alegre, convidado do CAP. É impressionante a quantidade desta espécime, considerada nova, que foi encontrada na gruta e posteriormente em mais algumas outras do mesmo sistema hidrológico de São Vicente, o que indica claramente a interligação hídrica destas grutas. Outro destaque se refere a Aegla Aeglidadae, despigmentada. Foi encontrada na Gruta das Areias II (SP-19) e em maior quantidade na Gruta Temimina II (SP-61),

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estudada por Eleonora Trajano, do Museu Zoológico da USP. Foi publicado ainda um “Manual Básico sobre Pesquisas Biológicas em Cavernas”, por Peter Slavec, no Mosquetão - Boletim Informativo do CAP, n.15, pg.35. Trata-se de um manual orientando os espeleólogos como procurar e proceder na coleta de animais cavernícolas.

maior profundidade de escavação conhecida naquela região. Também foram encontrados vestígios de fogueira antiga no Abrigo Temimina. Foram feitos alguns estudos de Meteorologia relacionada com cavernas pelo meteorologista Rubens Junqueira Villela, sócio do CAP. Tentou-se fazer uma previsão do tempo antes de entrar em cavernas que representam perigo de exploração durante um temporal ou chuva forte, levando-se em consideração altitude, tipos de nuvens, pressão hidrométrica, ventos, etc. Por outro lado, foram estudadas as condições climáticas dentro da caverna, as quais dependem do espaço volumétrico da mesma, dos ventos nos condutos da caverna, presença do rio subterrâneo e outras fontes, podendo-se detectar dentro da gruta eventuais mudanças de tempo no exterior da caverna.

Foto: Cabana que originou o nome da caverna no PETAR.

No campo da Paleontologia, foram encontradas bonitas ossadas de cotia e de uma cobra em sua forma original completamente calcificadas, no Abismo do CAP, destacando-se de outros inúmeros achados. O maior destaque, entretanto, ficou por conta das ossadas na Gruta da Cabana (SP108), encontradas cobertas e protegidas por lama. Trata-se de um megatério, ou preguiça gigante, e de um tigre dente-de-sabre, conforme confirmações do Instituto Smithsoniano, nos EUA, para onde foram enviadas pequenas amostras para identificação. Em matéria de Arqueologia, convidamos nosso colega Guy Collet para fazer algumas pesquisas nos sítios julgados pelo CAP de interesse para essas explorações. Constam desses sítios arqueológicos a Gruta Casa de Pedra (SP09), no salão Santo Antonio, onde foram encontrados vestígios de fogo e cerâmica na

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DIVULGAÇÃO, CURSOS DE ESPELEOLOGIA E INTERCÂMBIO Foi logo no início, quando o CAP começou a fazer as primeiras investidas ao campo, que surgiu a necessidade de atrair mais gente interessada em Espeleologia. Foi assim que surgiram os primeiros artigos sobre grutas na imprensa e realizadas as primeiras palestras. Michel Le Bret fez a “Primeira Conferência sobre Espeleologia”, em 21 de setembro de 1960, na sede da CBI, à Rua Formosa, 367, São Paulo, dando todo o histórico e significado da evolução da Espeleologia no Brasil e na França, convidando os presentes a participar da próxima excursão do CAP. Na sede do CAP foram dados muitos Cursos de Espeleologia, seguidos de aulas práticas nas cavernas de Caboclos, especialmente por Bruno Sellmer e Roberto Brandi, sendo os cursos básicos e

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da Espeleologia moderna no Brasil, notadamente no Estado de São Paulo.

Foto: Festa de aniversário do CAP 1979 - Areado/Buenos.

A HISTÓRIA CONTINUA Em 1994, a união do espeleo-grupo do CAP a espeleólogos do Espeleo Clube Paulista – ECP, deu origem à União Paulista de Espeleologia – UPE, grupo que deu continuidade aos trabalhos de espeleologia do CAP desde então. Durante os seus 35 anos de atividades espeleológicas, o Clube Alpino Paulista contribuiu imensamente para a Espeleologia brasileira, tendo explorado e cadastrado mais de 100 cavernas nos Estados de São Paulo (69), Paraná (2), Bahia (2), Distrito Federal (2), Goiás (23) e Mato Grosso (6), e realizado um total de 57.397 metros de topografia, com desnível de 3.206 metros.

adiantados, com técnicas de escalada e resgate. Foi publicado no Mosquetão - Boletim Informativo n.14 - do CAP o artigo “Prospecção e exploração das cavernas”, com intuito de orientar os espeleólogos na procura de novas cavernas. Foi a especialização dos espeleólogos do CAP que possibilitou em várias ocasiões a realização de resgates de turistas inexperientes, que se aventuravam sozinhos em visitar grutas no Vale do Ribeira, como, por exemplo, a Casa de Pedra. Desde sua fundação, o Departamento de Espeleologia do CAP manteve intercâmbio com outros grupos de espeleologia existentes, além dos pesquisadores em diversas áreas. Graças a esses contatos, quatro Foto: Hilda e Peter Slavec na entrada da Gruta Monjolinho. dos sócios do CAP foram também fundadores da Sociedade Brasileira de Todas estas grutas foram cadastradas na Espeleologia - SBE, em 1969, a saber: SBE, ficando à disposição dos interessados. Michel Le Bret, Peter Slavec, Salvator Licco Durante as comemorações oficiais dos 50 anos do Clube Alpino Paulista, que Haim e José Luiz Vasques Yuste. O intercâmbio se estendeu muito além das aconteceram no final de maio, 2009, entre fronteiras do Brasil, talvez por serem, no início os homenageados estavam Michel Le Bret, das atividades espeleológicas, a maioria dos Peter Slavec, Peter Barry e Max Haim, todos sócios ativos justamente os estrangeiros figuras importantes na história da radicados neste país. Estes por sua vez, Espeleologia dentro do CAP e também no passaram aos brasileiros técnicas de Brasil. exploração e pesquisa. Merecem, portanto, Parabéns ao CAP pelos seus 50 anos de o reconhecimento de serem os iniciadores histórias, expedições e conquistas!

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Queimaduras Das mais diversas lesões que podemos ter em uma atividade “outdoor”, com certeza as queimaduras estão entre as mais assustadoras. Atualmente vivemos uma época de uso limitado das carbureteiras, porém este artefato ainda é largamente utilizado por equipes de topografia ou exploração que necessitam de grande autonomia e segurança.

Prevenção Alguns acidentes já aconteceram envolvendo o uso de carbureteiras ou o mau acondicionamento de carbureto, portanto todo cuidado é pouco no momento da troca de cargas dentro da caverna e também a forma com que se armazena o pó gerado da reação das pedras com a água. Um cuidado básico é nunca colocar o pó junto com pedras novas, que devem ter recipiente próprio e hermético. No momento da troca, nunca deixar alguém com uma chama próxima, pois ao abrir o reator uma quantidade grande de acetileno é liberada, podendo causar um acidente. Geralmente os problemas ocorrem em momentos de descontração ou descanso, por exemplo na hora do lanche, quando é normal tirar o capacete e deixá-lo de lado. Se este ficar sobre o respiro, pode ocorrer acúmulo de gás, podendo causar uma pequena explosão. Outro equipamento que devemos tomar muito cuidado são os fogareiros de alta montanha, largamente usados em caverna por sua praticidade e velocidade em aquecer a água. A grande maioria utiliza benzina sob pressão, o que o torna um perigo em potencial. O primordial é realizar manutenção periódica, lubrificando todos os vedamentos e nunca usar outro tipo de combustível além daqueles recomendados pelo fabricante. Outro cuidado importante é delimitar o local onde o fogareiro será utilizado, minimizando assim um possível alastramento do fogo.

Conceitos Entende-se por queimadura o quadro resultante da ação direta ou indireta do calor sobre o organismo humano. As queimaduras ainda hoje configuram importante causa de mortalidade e esta se deve principalmente à infecção que pode evoluir com septicemia, assim como à repercussão sistêmica, com possíveis complicações renais, adrenais, cardiovasculares, pulmonares, musculoesqueléticas, hematológicas e gastrointestinais. Além disso as queimaduras resultam em considerável morbidade pelo desenvolvimento de sequelas, estando entre as mais graves a incapacidade funcional, especialmente quando atinge as mãos, as deformidades inestéticas, sobretudo da face, e também aquelas de ordem psicossocial. As queimaduras, dependendo da localização, podem ainda causar complicações neurológicas, oftalmológicas e geniturinárias. Decorre daí o fato de a correta abordagem inicial do queimado ser essencial para o prognóstico a curto e longo prazo.

Plantão Médico Responsável: Ricardo Martinelli Remoção da fonte de calor Como primeira medida a ser tomada deve-se remover a fonte de calor, afastando a vítima da chama ou retirando o objeto quente. Se as vestes estiverem em chamas a vítima deve rolar-se no solo e nunca correr ou ser envolvida em cobertores, que podem ativar as chamas. As vestes devem ser retiradas, desde que não aderidas à pele; do contrário só devem ser removidas sob anestesia no momento do debridamento da ferida. Em casos de queimaduras elétricas, deve-se providenciar a interrupção da corrente antes do contato com a vítima ou, se isso não for possível, tentar afastá-la com objeto isolante, como madeira seca.

Resfriamento da área queimada Em seguida deve-se providenciar o resfriamento da área queimada com água corrente fria de torneira ou ducha. Nunca deve ser feito com água gelada ou outros produtos refrescantes, como creme dental ou hidratantes. Além de promover a limpeza da ferida, removendo agentes nocivos, a água fria é capaz de interromper a progressão do calor, limitando o aprofundamento da lesão, se realizado nos primeiros segundos ou minutos, de aliviar a dor, mesmo se aplicado após alguns minutos, assim como pode reduzir o edema. Portanto o resfriamento com água corrente deve ser instituído o mais precocemente possível, durante cerca de 10 minutos, podendo chegar a 20 minutos, caso seja necessário. Porém deve ser mais breve quanto mais extensa for a queimadura, devido ao risco de hipotermia, não sendo recomendável em queimaduras superiores a 15% da superfície corporal (SC). Após o resfriamento, a área queimada, se menor do que 5% da SC, pode ser protegida com gazes, compressas ou toalhas de algodão, úmidas, em seguida coberta por plástico ou outro material impermeável, e por fim o paciente deve ser envolvido com manta ou cobertor. Aqui cabe a lembrança: “resfriar a queimadura mas aquecer o paciente”.

Para saber mais: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S036505962005000100003&script=sci_arttext&tlng=pt


O uso do Protractor para execucao do croquis em Escala! Texto e esquemas: Gabriela Slavec

ABSTRACT In order to make the work of drawing the sketches easier while surveying a cave, the UPE improved the Protractor tool based on the Therion Protractor. The article explains the use of this tool and how to make sketches in scale while working in the cave. There is also a .pdf document with the 1:250 and 1:500 scale Protractors ready to be printed and used.

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as atividades de mapeamento de cavernas, o trabalho do croquista é sempre o mais crítico, pois ele é o maior responsável pela qualidade do desenho final. Às vezes, o estilo da caverna simplifica bastante o desenho. Se na caverna prevalecem os condutos estreitos, sem muitos obstáculos ou formações, com altura do teto ideal para caminharmos, o desenho se torna fácil de executar. Já em cavernas com vários níveis, passando um por cima do outro, abrindo em salões enormes, com condutos inferiores abaixo de parte do salão, infinitas estalactites e estalagmites, blocos com passagens escondidas, etc., o desenho se torna bem mais complicado e é comum escutarmos do croquista um “silêncio!” ou “agora não”, quando ele está tentando se

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concentrar e encaixar as páginas de desenho caótico em sua caderneta de campo. Sempre buscando minimizar os erros durante o mapeamento, os croquistas da UPE fazem o croquis em escala. Se o croquis for bem feito, o desenho realizado em campo é praticamente o desenho que será visualizado no mapa final. Isso facilita muito o trabalho em escritório, pois após o processamento dos dados, fechamento de loops e avaliação do grau da topografia, basta que a linha de trena seja plotada e o desenho copiado por cima. Atualmente, com o uso do programa Therion, específico para produção de mapas de

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cavernas, o trabalho ficou ainda mais simples, pois o croquis é escaneado e os desenhos já são feitos no próprio Therion, pulando a etapa de passar o desenho a limpo em papel vegetal, que acontecia anteriormente. Na UPE, o trabalho do croquista segue basicamente as etapas: ¾Anotar as bases, distância, azimute e inclinação para cada visada; ¾Plotar a linha de trena correspondente; ¾Verificar se a visada no papel está de acordo com a realidade, fazendo assim uma

Figura 1 – as quatro posições principais do protractor, com referência ao norte da página Desnível Eletrônico - Ano 6, número 11 - Janeiro - Julho de 2009

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conferência das leituras realizadas; ¾Desenhar as feições da caverna. Anteriormente, este trabalho era realizado utilizando-se uma pequena régua e um transferidor, plotando a visada. Para facilitar este trabalho, a UPE desenvolveu um protractor, com base em um modelo disponibilizado pelo Therion (Mudrak & Budaj, 2000). O protractor permite que a linha de trena seja desenhada, já corrigindo a inclinação da visada, ou seja, a distância horizontal plotada será exata no desenho. Isso facilita muito a produção do croquis em escala e aqueles mais experientes poderão inclusive verificar erros de fechamento de loops a partir do próprio croquis. A Figura 1 mostra as quatro posições principais do protractor. Ele apresenta todos os ângulos, de 0° até 360° e em cada posição, os ângulos de um quadrante ficam na horizontal com relação ao norte da página. As quatro escalas foram sobrepostas no protractor para facilitar o manuseio e poder utilizar uma das laterais como régua e fazer a correção das inclinações para a projeção horizontal.

Como utilizar o Protractor? Primeiro, imprima o Protractor em uma transparência, usando impressora laser, para que a impressão dure mais tempo. Recorte o Protractor bem rente às linhas das margens. Faça um furo no meio e passe uma linha de nylon, que o fixará à sua caderneta de campo. Antes de iniciar o desenho, verifique qual a melhor escala a ser utilizada (em geral, a escala 1:500 é a mais indicada), avalie a direção predominante do conduto ou extensão do salão e defina a direção do norte na sua página (de preferência, utilize o norte sempre na mesma direção para todas as páginas, pois isso minimiza erros de desenho). Quanto melhor for o seu entendimento da caverna como um todo, mais fácil será a sua missão de representá-la no papel. Para exemplificar o uso do Protractor, considere a visada entre as bases 1 e 2, apresentada na Figura 2.

da leitura do azimute, no caso, 334°: - O zero do protractor deve coincidir com a posição da base de origem da leitura; - Posicione o protractor de modo que o ângulo da leitura fique na posição horizontal com relação ao norte da página; - Marque um ponto na margem externa do protractor, A na Figura 3, indicando o ângulo da visada (334° para a visada da base 1 para a base 2). b) Distância corrigida pela inclinação – será plotada a distância horizontal: - Posicione o protractor deforma que a régua lateral esteja posicionada com o zero na base de origem da visada e o 20 no ponto que indica o ângulo da visada (Figura 4);

Os seguintes passos deverão ser seguidos para a plotagem da linha de trena em planta: a) Direção da visada – será definida a partir do ângulo

Figura 3 – Marcação da direção da visada Figura 2 – Anotações na caderneta de campo Desnível Eletrônico - Ano 6, número 11 - Janeiro - Julho de 2009

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- Visualize na régua a distância de uma base até a outra (11,52 para a visada da base 1 para a base 2), sendo este o ponto B na Figura 4; - Do ponto B, trace uma linha imaginária acompanhando as curvas vermelhas do protractor, até o ângulo de inclinação medido (+38° para visada da base 1 para a base 2), como no ponto C da Figura 4; - Do ponto C, projete uma linha perpendicular à régua (use as linhas de apoio em preto no protractor), obtendo o D, que é a distância horizontal da visada, no caso 9,08 m.

Figura 4 – Posicionamento do protractor e correção da inclinação

c) Marque a base final da visada e desenhe o croquis Procedimentos para visada invertida (no exemplo da Figura 2, base 3 para base 1): - Para plotar a direção da visada, o zero do protractor deverá estar coincidindo com a posição da base final da leitura (base 1) e ele deve ser posicionado de modo que o ângulo da leitura fique na posição horizontal, mas de ponta cabeça, com relação ao norte da página (Figura 5). Comentários e dicas finais: - Para distâncias pequenas, de até 8 metros, quando a inclinação é menor que 10°, tanto positiva quanto negativa, a correção da inclinação é desprezível para escalas de 1:500; - A régua foi colocada nas duas laterais do protractor, para facilitar na hora da plotagem, pois dependendo do ângulo da visada é mais conveniente utilizar um ou outro lado. Entretanto, note que as linhas perpendiculares à régua só estão plotadas para utilização

em uma das laterais. Assim, para plotagem de ângulos maiores, utilize a lateral correta; - Antes de usar o protractor na caverna, é recomendável que o croquista pratique em casa com dados de topografias reais, para que encontre sozinho as melhores soluções para cada situação de visada. Este procedimento vai minimizar erros que podem acontecer durante o trabalho de campo. Para começar a usar o protractor nos seus croquis, baixe aqui o arquivo .pdf, imprima em transparência em impressora a laser e bons croquis! Referência Bibliográfica: Mudrak, S & Budaj, M, 2000 – Therion Protractor, Cave Surveying Tool. http://therion.speleo.sk/ protractor/index.php O link para download do protractor é: http://www.upecave.com.br/ downloads/ProtractorUPE.pdf

Figura 5 – Utilização do Protractor em visadas invertidas Desnível Eletrônico - Ano 6, número 11 - Janeiro - Julho de 2009

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Planos de Manejo do Alto Ribeira A participação da UPE e da Comunidade espeleológica

Texto: Ricardo Martinelli & Heros Lobo Fotos: Ricardo Martinelli

Contate os Autores: rsm@fotoabout.com heroslobo@hotmail.com

ABSTRACT During the whole of 2009 a large project was going on to begin the Management Plan for 32 caves in the Alto do Ribeira region. Speleologists, Geologists, Biologists, Archeologists and specialists in different areas were working at these caves to prepare a plan to give direction on how to explore the potential for tourism and visitation in these caves, which caves should be closed for preservation and which caves could be used for scientific research. It was a considerable job involving many professionals and caving groups! Introdução o extremo sul de São Paulo, as margens do rio Ribeira de Iguape e a Serra de Paranapiacaba guardam, através dos parques estaduais PETAR (Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira), Intervales, Mosaico Jacupiranga e Carlos Botelho, a maior faixa contínua de mata atlântica remanescente do Brasil. Local de importância ímpar seja por sua riquíssima biodiversidade, por seu potencial hídrico, beleza cênica ou utilização turística. Conhecida por sua grande concentração de cavernas, o Alto Ribeira foi o berço da moderna espeleologia brasileira. Mesmo antes da criação dos parques, espeleólogos já acessavam o local para realizar suas atividades de exploração e mapeamento de cavernas. Com o contínuo interesse das pessoas em ambientes naturais, formou-se na região uma previsível economia baseada justamente nessa atividade, com pousadas, guias e

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Gruta Alambari de Baixo, uma das mais visitadas do PETAR

restaurantes. No entanto, até o ano de 2008 pouco havia sido feito no sentido de organizar os diversos tipos de uso da região, notadamente com grande vocação turística, e tendo como principal atração um gigantesco patrimônio espeleológico. Pode-se dizer que o turismo em regiões cársticas possui peculiaridades, perigos e um alto impacto ambiental. Alguns acidentes fatais ocorridos no PETAR levaram o Ministério Público Estadual a interditar todas as cavernas com uso turístico no Vale do Ribeira, causando imenso prejuízo para toda a população que se acostumou a viver desta atividade. Até mesmo a conhecida Caverna do Diabo, com modificações extremas feitas há décadas, foi fechada. Após grande comoção e muita conversa, foi liberada parte das atividades frente a um termo de ajuste de conduta (TAC). Finalmente, no segundo semestre de 2008 foi anunciado que 32 cavernas em quatro

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A Equipe Para coordenar os trabalhos, o Instituto Ekos chamou o espeleólogo e turismólogo Heros Lobo, que posteriormente veio a se filiar à UPE. Iniciava-se um árduo trabalho de recrutamento de equipes e identificação das diversas pesquisas que já haviam sido feitas na região. Com centenas de cavernas cadastradas e grupos de espeleologia atuando há décadas, o projeto precisava de alguém que soubesse desta história e tivesse conhecimento e o discernimento para identificar as necessidades, onde estavam os melhores cientistas e técnicos e o que poderia ser aproveitado em termos de mapeamentos e dados existentes. A equipe foi composta por mais de 100 integrantes, sendo que todo o processo foi totalmente transparente e coerente com a história de pessoas, grupos e entidades com atuação pregressa nos parques. As atividades foram divididas em meio físico (microclima, geologia, Salões superiores da Gruta Santana. Locais restritos podem até vir a sofrer visitação controlada. geoespeleologia, topografia e fotografia), meio biótico parques (PETAR, Intervales, Caverna do (vegetação, fauna aquática, fauna terrestre, Diado e Rio do Turvo) seriam contempladas com planos de manejo espeleológico. O morcegos, fungos e leishmaniose) e prazo era curto, pouco mais de 1 ano para socioeconomia (ocupação humana, oficinas, trabalho de campo, coletas de patrimônio histórico, cultural e arqueológico dados, análises geológicas de de e turismo). espeleobiologia, elaboração de relatórios e o documento final. A Fundação Florestal do Estado de São Paulo, gestora dos parques, contratou o Instituto Ekos Brasil, que já possuía experiências anteriores com o Parque Nacional Cavernas do Peruaçú e fez um excelente trabalho para comandar a empreitada. Iniciava-se uma experiência sem precedentes!

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A participação da UPE A UPE teve grande participação em todo o processo, tanto como grupo, mapeando o Sistema Temimina, as grutas Aranhas e Arataca, e também na elaboração do Termo de Referência, com várias sugestões que foram acatadas pela

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coordenação do projeto. Além disso, foi importante a atuação individual de nossos sócios, com integrantes na coordenação geral, nas equipes de meio biótico e na documentação fotográfica. Mesmo antes de assinar o contrato para prestação de serviço, o grupo cedeu, sem nenhum custo, os mapas das cavernas Ouro Grosso, Pescaria, Desmoronada e Casa de Pedra, já elaborados e fruto de anos de trabalho e dedicação de seus sócios. As atividades de mapeamento das grutas do Temimina I e II e Aranhas foram finalizadas em quatro saídas, com diversas equipes atuando em cada uma delas, totalizando 16 integrantes, mais de 300 horas de atuação em campo e cerca de 160 horas de trabalho de escritório. Foi um trabalho extenso, maior do que o estimado inicialmente para o projeto. A projeção horizontal de todas as cavernas mapeadas sofreu acréscimo, com destaque para a Temimina II, registrada anteriormente com 750 metros e corrigida para 1.969 metros com a nova topografia, devido à existência de novos condutos e a continuação da galeria do rio. Especialmente para a Temimina II, foi feito um trabalho de recuperação histórica, por ter sido alvo de vários mapeamentos anteriores e por notadamente possuir um trabalho geológico importantíssimo por parte das equipes da Geologia da USP. Neste sentido, foi recuperado um perfil retificado de grande precisão e grande relevância artística, o qual foi considerado e anexado ao trabalho final, assim como alguns cortes e indicações de feições geológicas. Vale salientar que todo o trabalho foi entregue dentro dos prazos estipulados e que os sócios da UPE trabalharam para o grupo, elaborando mapas de alto nível, deixando nossa parcela de contribuição para esta região onde atuamos ha décadas e temos tanto apreço. Documentação Fotográfica Dentro do meio físico, optou-se pela elaboração de um “Dossiê Fotográfico” das 32 cavernas contempladas com plano de ( Continua na página 26......) Mesmo nas grutas com maior visitação turística, a fauna cavernícola está presente em abundância, um dos motivos da necessidade de se organizar o turismo e o uso destas cavidades. Desnível Eletrônico - Ano 6, número 11 - Janeiro - Julho de 2009

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manejo espeleológico, com isso a coordenação procurou “trazer à tona” toda a beleza e importância das cavernas que seriam alvo do projeto, exaltando pontos de observação clássicos, potencial hídrico, pórticos, fauna entre outros. Quando fui contatado pelo Heros para assumir a empreitada, não aceitei de imediato, pois o trabalho seria exaustivo e implicava em imensa responsabilidade, Gruta da Capelinha - Rio do Turvo

Gruta Desmoronada - PETAR

cavernas, suas trilhas e acessos, o que facilitou muito na decisão. Posso dizer que a crise econômica mundial me ajudou, apesar de muitos sócios da UPE terem me auxiliado em várias investidas a cavernas mais distantes, o Marcelo Gonçalves, vulgo “Lagosta” que foi meu “fiel escudeiro”, desenvolvendo iluminadores e carregando muitos quilos de equipamento por trilhas e cavernas, estava Gruta da Santa - Intervales

Gruta da Tapagem - Caverna do Diabo

Acima, imagens representativas dos quatro parques contemplados com planos de manejo espeleológico no alto ribeira.

sabia do tamanho do desafio, das dificuldades de se fotografar as 32 cavernas no tempo determinado e com a qualidade que eu gostaria que ficasse. Só depois de algumas contas e a realização de um planejamento inicial, vi que era possível, mesmo porque conhecia a maioria das

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desempregado na época e este fato o deixou livre para poder viajar. Com uma equipe fixa tudo ficou mais claro, em locais mais complicados outros sócios da UPE participavam, aumentando a segurança da equipe. A documentação demorou mais de 6 meses para ser finalizada, demandando

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quase 120 horas de trabalho de campo e mais 85 de pós tratamento das imagens. Foram gerados mais de 1500 arquivos em RAW, sendo fornecidos à Fundação Florestal do Estado de São Paulo 640 imagens em alta resolução, contemplando todas as cavernas do projeto. Uma pequena mostra do trabalho você pode conferir nas páginas desta matéria e todas as imagens no “hot site” do projeto: http://www.ekosbrasil.org/cavernas Outros Grupos Outros grupos também colaboraram com os planos de manejo do alto ribeira fornecendo topografias já executadas e/ou realizando trabalhos de mapeamento. O GEGEO, Grupo de Geologia e Espeleologia da USP colaborou enviando topografia das cavernas Santana, Morro Preto, Couto, Água Suja, entre outros. O Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas colaborou realizando uma nova topografia da Gruta Monjolinho e o GPME, Grupo Pierre Martim de Espeleologia topografou as cavernas do Parque Intervales, inclusive, assim como a UPE, trabalhando além do que foram

Espera-se que os planos de manejo espeleológico consigam nortear o uso público das cavernas contempladas. O documento final mostrará “o caminho das pedras”, mas ainda será necessário que as autoridades implementem de fato tudo o que estará contido no documento final e que a comunidade local fiscalize e cobre tais medidas, só assim teremos o patrimônio espeleológico do Vale do Ribeira protegido. Foto: Caminho turístico da Caverna do Diado

contratados. Foram usados também mapas da SEE e EGRIC. Próximos passos A expectativa final é que os Planos de Manejo Espeleológico possam contribuir para o ordenamento do uso público das cavernas estudadas, de forma a estabelecer limites e possibilidades para a atuação de diferentes tipos de usuários: espeleólogos, pesquisadores, socorristas, monitores ambientais e turistas, entre outros. Por outro lado, também se espera que o documento final seja colocado em prática tão logo seja finalizado, já que de nada adianta a elaboração de um instrumento norteador se ele se limitar à sua elaboração. A efetividade da conservação e do uso público ordenado somente será resguardada se os PMEs forem implantados, de modo a resguardar a conservação das cavernas e contribuir para o desenvolvimento das comunidades locais envolvidas.


Crônicas espeleológicas Contate o Autor: marcelo.fontes@nokia.com

A proximidade dos 15 anos da UPE, e a minha recente visita à Arataca, me fez relembrar dos meus primeiros anos de visitas ao PETAR, há também 15 anos atrás. E foi justamente em uma destas visitas, quando conheci a Arataca pela primeira vez, que eu mudei a minha relação com a Espeleologia e com as cavernas em geral, me associando a grupos que estudam e divulgam este fascinante mundo novo!

ABSTRACT The celebrations of 15 years of UPE together with my recent visit to the Arataca cave reminded me of my first excursions to the PETAR region, also 15 years ago. And it was during one of these excursions that I went to the Arataca cave for the first time, and I changed my relationship with Speleology and caves in general and I became a member of the groups who study and expose this fascinating new world!

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á 15 anos, nos idos de 94 (não me lembro mais ou mês, e muito menos o dia), eu entrei pela primeira vez na Arataca (SP-004). Um acontecimento que hoje seria considerado simples, por ser uma gruta relativamente fácil de alcançar e visitar, mas que na época foi um verdadeiro marco para mim. Não tanto pela gruta em sí, mas sim pelos fatos de “como” essa visita ocorreu, e pelas conseqüências que ela produziu. Na época, ainda com menos de 1 ano desde que havia “descoberto” a Espeleologia e o PETAR, eu estava cada vez mais fascinado e empolgado com este novo mundo, que se apresentava como uma fronteira pouco explorada (ou, em muitos casos, até mesmo inexplorada). Entrar em uma caverna, não importava qual, era sempre uma experiência única para mim, e muitas vezes inexplicável! Lembro-me bem que era sempre mais fácil dizer “Você tem que ir lá, visitar uma caverna, para sentir como é”, do que simplesmente tentar descrever o ambiente ao redor!

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Mas, apesar de toda a empolgação, eu ainda era apenas um turista e agia como tal, longe de qualquer vínculo com a Espeleologia. Meu “uniforme” para as visitas era uma simples calça de moleton (!!), camisa de algodão ou lã, e um tenis normal. Claro que tudo acabava em 1 ou 2 visitas ao PETAR, no máximo! Quanto à iluminação, havia acabado de trocar minha surrada lanterna de mão, a prova dágua (melhor dizendo: a prova de chuva!), por uma carbureteira de latão, fabricada pelo já falecido Oswaldo “Vermelhinho”, de São Carlos. Uma excelente adaptação das carbureteiras de mão que ele fazia antigamente, para a companhia ferroviária, e que me atendeu durante mais de 10 anos, nas minhas inúmeras visitas e explorações “cavernícolas”... Completavam o “equipamento”, um capacete de pedreiro, com um bico de fogão adaptado (!!), e com uma concha de sopa como refletor! Sem falar que era necessário também carregar um isqueiro, devidamente guardando dentro de um tubo de Cebion (para não molhar), para acender esta “proto-carbureteira”! Uma inventiva “gambiarra”, mas que me sustentaria apenas por mais alguns meses, pois logo

Autor: Ricardo Martinelli

Texto: Marcelo Fontes Neves (Bucado)

Arataca - 15 anos


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(um desnível de uns 60 metros, se não me engano). Sabíamos que esta entrada estava próxima, mas, já de noite (e com um céu nublado), era impossível de visualizá-la. E foi numa destas “fuçadas”, onde cada um foi para um lado, que eu comecei a subir num escorrimento e, após uns 3 metros, meu tênis arrebentou de vez o solado (abriu a lateral totalmente, ficando o solado preso só por um lado), e eu caí. Não deu nem para falar nada. Só pensei na merda que ia ser se caísse em cima de algum bloco pontudo de calcário, que havia pelo chão, logo abaixo. Bom, apesar da queda barulhenta, tive sorte... Caí num dos únicos trechos plano e liso do local, coberto com uma lama seca (chão este que não encontrei na minha visita... As inúmeras chuvas e enxurradas, ao longo destes 15 anos, haviam deixado marcas...), e somente a minha mochila é que acertou um bloco de calcário. Minha “gambiarra” apagou com o impacto. E me lembro que alguém falou na hora, preocupado: “Alguém caiu!”. Logo avisei que eu era o infeliz que havia despencado, e quando perguntado se havia machucado algo, respondi: “Não... Só o ego mesmo...”. Tentei me levantar, mas minhas pernas ainda tremiam com o susto da queda... Resolvemos então fazer um descanso, comer algo, e aí iniciar o retorno. Foi aí que nos demos conta do quão cansados estávamos... A longa trilha, em conjunto com a travessia da Casa de Pedra, havia sido uma atividade bem pesada. Mas, na empolgação e na adrenalina, incluímos a Arataca, sem pensar muito no “roteiro”... Para piorar, nesta pausa, descobrimos que praticamente ninguém tinha mais comida, recarga de carbureto, ou mesmo pilhas extras, para utilizar na trilha a noite. O pouco que restava dificilmente daria até o núcleo, mas mesmo assim foi distribuído Autor: Ricardo Martinelli

viria a necessidade, por segurança, de ter mais pontos de luz, de acender mesmo quando molhado, etc, etc, o que acabou motivando a importação, via correio (catálogo Au Vieux Campeur), de um capacete de Espeleologia. Mas, enquanto essa “necessidade” não chegava, continuei utilizando minha “gambiarra”, e foi com ela que visitei a Arataca, pela primeira vez, há 15 anos. Já estava em vias de anoitecer, e, embora motivados com mais uma caverna, estávamos também cansados da longa e exaustiva visita à Casa de Pedra. Havíamos saído às 7 da manhã, caminhado 6 km até a Casa de Pedra (SP-009), numa trilha, não difícil, mas bem cansativa, com vários altos e baixos. Em seguida efetuamos a travessia, ida e volta, até a Boca da Caveira, e após lanche e descanso, iniciamos o retorno para Caboclos. Estávamos em 8 (sendo 4 mais experientes e o restante novatos) e, no caminho, quando chegamos, perto da bifurcação que conduzia à Arataca, surgiu a sugestão para os novatos “aproveitarem”, já que era caminho, para também visitar esta caverna. Assim o grupo se dividiu, com 3 experientes e 1 novato, continuando direto para o núcleo Caboclos, e o restante subindo uma “trilha-pirambeira”, até a entrada do “respiro” da Arataca. Para quem não conhece, o “respiro” é uma pequena entrada (cerca de 1m de altura, por 1,7 de largura), que funciona quase como uma entrada de “serviço” para a Arataca. Através do “respiro” se atinge rapidamente, e de forma traquila (passando por dentro de um grande escorrimento), o leito do rio, que representa o limite inferior desta gruta. Neste meio tempo já havia anoitecido de vez, e saímos todos vasculhando e “fuçando” em tudo quanto é local, procurando por um acesso para a boca principal, que ficava bem no alto

Crônicas

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irmanamente, entre todos. Eu me lembro de uma cena “clássica”, no qual foram divididas até as uvas passas, e no qual deu apenas 3 (!!!) para cada um! Como havíamos chegado nesta situação? Uma visita a uma caverna simples, relativamente próxima a Caboclos, mas sem nenhum planejamento ou critério, e que poderia ter tido graves conseqüências, com o meu “quase-acidente”! Bom, o retorno realmente não foi fácil... Basta dizer que eu e o experiente do grupo fomos os únicos a chegar de volta ao núcleo, por volta da 1am, completamente esgotados, e com apenas um fiapo luz (as pilhas praticamente esgotadas), via lanterna de mão... Apesar da situação arriscada, tivemos que deixar os 2 outros pelo caminho, praticamente sem luz, pois consideramos como prioridade máxima que pelo menos 1 de nós chegasse ao núcleo, para pedir ajuda para os demais. Os que haviam voltado antes foram então ao resgate dos demais que, ao serem encontrados, já estavam totalmente sem luz, e também completamente esgotados pelo árduo dia. Por sorte tudo acabou bem, e por volta das 2am já estavam todos de volta, se recuperando da “aventura”...

Mas, foi justamente a partir daí, desta “aventura”, que eu resolvi entender melhor esse ambiente, e passei a me envolver mais com a Espeleologia. Compreendi que não era apenas “interessante” ter um maior conhecimento sobre este ambiente, mas sim que era fundamental, até por segurança! Com o tempo, eu devoraria livros a respeito, compraria equipamentos melhores, faria cursos adequados, e me associaria a grupos de Espeleólogos. Essa visita a Arataca foi um momento decisivo, que mudou o meu relacionamento com as cavernas e com a Espeleologia, e que eu agradeço até hoje. Fico feliz, após 15 anos, em ter a oportunidade de revisitá-la, com um grupo de espeleólogos da UPE. E ainda por cima dentro de um Projeto vinculado ao Plano de Manejo! É realmente uma conquisa para UPE, e para todos que contribuíram para este grupo, ao longo destes 15 anos de atividade. Apesar de ter me afastado por quase 10 anos do grupo, por diversos motivos (trabalho, família, etc) é bom ver que a UPE continuou progredindo e evoluindo, durante todo este tempo! E é bom ver que a Arataca ainda está lá, e que eu não me esqueci do que ela me ensinou, mesmo após 15 anos...

Antigo mapa da Arataca, feito por integrantes do CAP.

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SURVEX

tutoriais

Texto: Mauro Zackiewicz e Fabio “Coringa” Geribello

Contate o Autor: fabio@geribello.com.br maurozac@gmail.com

Por que o fechamento das poligonais numa topografia é tão importante?

A

resposta é simples: porque é no fechamento das poligonais que conseguimos avaliar a qualidade do levantamento topográfico e, muitas vezes, corrigir erros.

A linha de trena é obtida pelo posicionamento seqüencial de bases topográficas, escolhidas pelos espeleólogos no ambiente da caverna. As bases são escolhidas de modo que a linha imaginária que as une acompanhe o melhor possível o desenvolvimento dos salões e condutos da caverna. A linha imaginária que liga cada par de bases é definida por 3 medidas: o comprimento (C), obtido em metros com uma trena; o azimute (A), obtido em graus com uma bússola; e a inclinação (I), também obtido em graus (positivos ou negativos) com um clinômetro. Com essas três medidas é possível unir quaisquer dois pontos no espaço, azimute dá o ângulo horizontal, inclinação dá o ângulo vertical e o comprimento dá a distância. Imaginando a base de partida como o centro de uma esfera, a base a ser ligada está em um ponto da superfície dessa esfera que pode ser perfeitamente definido pela distância (raio) e pelos ângulos na horizontal e na vertical. A qualidade do levantamento topográfico depende da precisão do conjunto das medidas realizadas. O problema prático para os espeleólogos é que no trabalho de campo sempre ocorrem erros. Por esse motivo, a prevenção de erros é fundamental na atividade de topografia. Mas o que fazer com os erros que efetivamente acontecerem? Aí entra o trabalho de escritório de avaliação dos erros. Os trechos da topografia em que as linhas formam poligonais, isto é, quando o caminhamento das visadas volta a uma base pela qual já se passou, são os pontos do levantamento topográfico em que conseguimos “ver” o tamanho do erro acumulado. No exemplo a seguir, mostramos um esquema fictício de um caminhamento de visadas “ideal”, ou seja, no qual não ocorreram erros. Como as medidas foram perfeitas, a última visada, da base 4 para a base 1, obteve medidas que completam perfeitamente o quadrado topografado. Desnível Eletrônico - Ano 6, número 11 - Janeiro - Julho de 2009

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de/para 1/2 2/3 3/4 4/1

distância 10 10 10 10

azimute 90º 180º 270º 0º

inclinação 0º 0º 0º 0º

Acontece que na prática a realidade é sempre outra....

de/para 1/2 2/3 3/4 4/1

distância 10,1 9,9 10 10,2

azimute 91º 178º 268º 1º

inclinação 0º 0º 0º 0º

No campo, a medida da base 4 para a base 1 usou o mesmo local para a base 1 nas duas visadas que passaram por ela, mas na hora de desenhar de fato a poligonal, ela não fecha! A segunda base 1 cai em um lugar diferente da base 1 onde começaram as medidas. Isso ocorreu porque erros aconteceram nas várias visadas e acumularam-se de tal modo que uma poligonal que devia ser fechada não fecha! Mas que tipos de erros podem ter causado isso? Tipos de Erros Em levantamentos topográficos ocorrem 3 tipos diferentes de erros, os erros aleatórios, os erros sistemáticos e os erros grosseiros. 1) Erros Aleatórios São erros pequenos que ocorrem durante o processo de levantamento. São resultantes do fato de ser impossível obter uma medida perfeita a cada leitura da bússola, clino e trena. Existem inúmeras variações de causas que podem afetar as medidas. Os próprios instrumentos usados possuem limitações em relação à precisão em que podem ser lidos. Por exemplo, as bússolas usadas em campo não possuem marcas de medida menores que 0,5 graus. O que significa que o ângulo correto poderia ser 156,7 mas acaba sendo lido 156,5 ou 157,0. Todos estes efeitos aleatórios na medida causam uma pequena variação nos valores lidos e, acumulados, causam imprecisões que aparecem no momento de fechar os loops. Por serem aleatórios, estes erros acumulados formam um padrão que é chamado de distribuição “normal” cujo gráfico possui um formato típico.

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2) Erros Sistemáticos Esses erros ocorrem quando algum fator externo causa um desvio constante e consistente das medidas durante o levantamento dos dados. Por exemplo, uma trena que seja 3 cm menor do que deveria, a declinação magnética de uma região ou sua variação durante os anos, ou um instrumentista que faz a leitura da inclinação em porcentagem ao invés de em graus. Se você compreende a causa deste erro, ela pode ser facilmente removida a cada leitura, ou mesmo diretamente na massa de dados, com simples matemática. 3) Erros Grosseiros São os erros mais graves ocorridos durante o levantamento da topografia. São erros causados por fatores humanos, tais como enganos causados durante a leitura, anotação, transcrição ou armazenamento dos dados. Esse tipo de erro é difícil de ser tratado matematicamente. Não sendo sistemático nem aleatório, não há base objetiva para corrigi-lo ou controlá-lo. O problema é que erros grosseiros são bastante comuns em topografias de cavernas, uma vez que estamos expostos a condições adversas de conforto e a situações muitas vezes estressantes e cansativas. Na espeleologia, estima-se que ocorre um erro grosseiro a cada 40 visadas. O tratamento dos erros Para encontrar erros na topografia é preciso que haja poligonais fechadas (que chamamos também de loops). Em condutos lineares, comuns em linhas de rio, não é possível estimar a magnitude dos erros. Nesse caso, as opções são: a) encontrar erros grosseiros ao comparar com o desenho do croquista (uma galeria foi desenhada para um lado enquanto a linha de trena caminha para outro); b) assumir que os erros aleatórios e sistemáticos dos trechos lineares são os mesmos que os encontrados nas poligonais. Desse modo, assumimos que a qualidade da topografia toda é igual à qualidade do pior loop que faça parte dela. A distância residual entre as bases que deveriam fechar o loop é o primeiro indicador do tamanho do erro. No exemplo abaixo, de um levantamento feito no Abismo do Gurutuva, o tratamento com o Survex indica que o loop não fechou na base 2r.19 por 79 centímetros. Esse é o valor do “deslocado”, ou erro absoluto do loop.

2r.19 - 2r.18 - 2r.18u - 2r.17 - 2r.16u - 2r.16 - 2r.14 - 2r.14u - 2r.15 - 2r.15u - 2r.p503 - 2r.30 - 2r.29 - 2r.29u - 2r.28 - 2r.27x - 2r.27 - 2r.27u - 2r.26 - 2r.25 - 2r.24u - 2r.24 - 2r.23 - 2r.22 - 2r.22u 2r.p504 - 2r.19u - 2r.19 Desenvolvimento Original 95.27m (27 visadas), deslocado 0.79m (0.03m/visada). Erro 0.83% 1.527233 H: 2.046852 V: 0.203024

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O Survex ainda indica o comprimento total do loop (95,27 metros), o número de visadas e o erro relativo, calculado em percentagem, no caso 0,79/95,27 o que dá 0,83%. O bloco de informações sobre os erros ainda fornece três outros parâmetros adimensionais dependentes do grau BCRA escolhido que vamos explicar em detalhe na próxima seção. Após o tratamento da massa de dados, o Survex apresenta um bloco de informações similar ao do exemplo para cada um dos loops existentes na topografia. Esses dados vêm todos reunidos em um arquivo com extensão .err lançado pelo programa após o tratamento dos dados no mesmo diretório em que ele rodou. No arquivo com extensão .3d o Survex exporta uma linha de trena corrigida, em que os loops existentes são fechados “na marra”. O programa faz isso distribuindo proporcionalmente o erro absoluto pelas bases e modificando levemente suas posições de modo que o loop inteiro possa convergir para fechar. Esse método é conhecido como “quadrados mínimos”, um método numérico interativo bastante usado na engenharia para calcular aproximações a uma posição desejada modificando o mínimo possível cada variável (no caso, a posição de cada uma das bases do loop). O importante é sabermos que o fato do programa nos montar graficamente uma linha de trena em que todos os loops aparecem fechados não nos garante que a topografia deu certo. Pode haver erros enormes que o programa ajustou à força, mas o Survex não corrige nossos erros! Aqui que entra a análise cuidadosa dos indicadores de erro que estão nos arquivos .err do Survex. Sabemos que se formos muito cuidadosos podemos eivtar os erros grosseiros e sistemáticos. Mas não podemos controlar os erros aleatórios. Então, dependendo dos instrumentos utilizados e da situação de trabalho, podemos esperar erros dentro de certos limites. A variação nas medidas dos instrumentos poderiam até ser determinadas experimentalmente, mas em espeleologia o que se convencionou usar são os padrões de referência da BCRA British Cave Research Association (http://bcra.org.uk/surveying/index.html). Os graus BCRA, como se costuma dizer, nos dão a referência para a magnitude dos erros esperados (e, portanto, tolerados) para uma topografia. Os graus BCRA3 e BCRA5 são as referências principais. Os graus BCRA4 e BRCRA6 são intermediários e derivados desses. A classificação da BCRA não reconhece oficialmente outras variações como BCRA4+ ou BCRA5que são tentativas de segmentar ainda mais as já meio difusas classificações intermédiarias.

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O grau BCRA5 pressupõe que toda medida de ângulos verticais (clinômetro) e horizontais (bússula) tenha variação de até 1º, que as distâncias (trena) tenha variação menor que 1cm e que as posições das bases variem menos que 10cm em qualquer direção. É como se usássemos como bases “caixas de leite” de 10cm de aresta. No grau BCRA3 os erros tolerados são maiores e nossas bases seriam “caixotes” de 50cm de lado. Para determinar a precisão de uma massa de dados, o que precisamos fazer é testar se os dados obedecem ou não o nível de erro tolerado por cada um dos graus. Começamos em geral com o Grau 5, que indica maior precisão. Se todos os loops fecharem dentro do Grau 5 com bastante folga podemos dizer que a topografia está no Grau BCRA6. O que é exatamente “com bastante folga”, o BCRA não define. Um critério razoável seria exigir que todo loop estivesse com erro menor que 1 desvio-padrão em relação ao erro esperado em BCRA5. Calma, já explicaremos melhor isto. No Survex, o padrão BCRA5 precisa ser indicado ao programa em um arquivo .svx em separado. O próprio Survex já fornece os dois padrões básicos (bcra5.svx e bcra3.svx). Basta assegurar que o arquivo correto esteja no mesmo diretório que o arquivo .svc com a massa de dados e chamá-lo dentro da massa de dados com o comando *include bcra5 Olhar o conteúdo dos arquivos bcra5.svx e bcra3.svx ajuda a entender como funciona o teste de qualidade dos dados.

O que esses arquivos estão definindo são os desvios-padrões tolerados para cada medida. Note que os valores fornecidos são metade dos valores definidos pelo BCRA. A lógica é a seguinte: a medida realizada em campo estará dentro do padrão esperado se ela variar até dois desvios padrões em relação ao valor correto. Então, se o conjunto de medidas não ultrapassar esse limite, há 95,4% de chances dos erros serem mesmo apenas aleatórios (para quem já estudou estatística, lembre-se da distribuição normal mostrada acima...). O programa usa esses parâmetros de desvio-padrão esperado para cada tipo de medida (bússola, clino, trena e posição da base) para calcular para cada loop qual seria então o desvio padrão tolerável para o erro absoluto. Os cálculos são um pouco sofisticados e vamos deixar para entrar neles num artigo futuro. Agora, voltando ao exemplo do Gurutuva, o coeficiente adimensional 1,527233 que aparece no relatório de erros é o resultado da divisão entre o erro absoluto (deslocado) e o desvio esperado calculado em BCRA5 para aquele loop.

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A interpretação é a seguinte: Se o adimensional estiver muito próximo de zero é porque o erro absoluto está bastante pequeno (parabéns!) em relação ao que seria uma variação aceitável. Estatisticamente falando, se tivermos apenas erros aleatórios em nossas medidas, 68,2% dos loops precisam estar com erro absoluto igual ou menor que 1 e 95,4% (ou seja, praticamente todos) precisam estar com erro abaixo de 2 desvios padrões. Nessas condições a topografia é BCRA5. Nesse caso do Gurutuva, o erro está a 1,5 desvios-padrões do esperado. A topografia ainda pode ser classificada em BCRA5, desde que a maioria dos demais loops esteja com erros abaixo de 1. Além do desvio geral, o Survex ainda fornece o mesmo cálculo para as componentes horizontal (H) e vertical (V). Desse modo, no exemplo do Gurutuva, o erro acumulado tem muito mais a ver com erros de medidas de azimute do que de inclinação. Ao examinar a relação entre erro absoluto e esperado na componente horizontal, vemos que 2,046852 é um valor não só elevado como também improvável. Isso pode ocorrer por causas aleatórias em apenas em 4,1% dos casos (para calcular isso é preciso usar uma tabela de probabilidades em distribuições normais). A busca por erros sistemáticos ou grosseiros, de anotação ou de inversão de leitura, deve então começar pelos dados de azimute. Essa é a principal utilidade desses indicadores, nos ajudar a corrigir no escritório alguns dos erros grosseiros cometidos em campo. Esses erros, ao serem encontrados e corrigidos, melhoram substancialmente a qualidade dos dados. Por isso, a recomendação é sempre rodar a análise de erros o mais rápido possível após o trabalho de campo, a memória recente dos condutos e das medidas ajuda muito a confirmar a correção de erros grosseiros. Nos casos em que as correções dos erros grosseiros não forem suficientes para enquadrar os dados em BCRA5, então o acumulado tem que ser tratado mesmo como erro aleatório, e erros aleatórios não podem ser encontrados e corrigidos. A solução é testar os dados com o padrão BCRA3, menos restritivo e indicativo de que os instrumentos usados eram menos precisos e/ou que as condições de leitura eram precárias (frio, calor, com uso de cordas, em terreno instável, quebra-corpos, dentro da água etc.). Em caso de condições adversas, é aceitável que apenas os trechos mais complicados da caverna sejam classificados em qualidade BCRA3, ficando o restante em BCRA5. Agora, se mesmo em BCRA3, os “loops não fecharem” e persistirem alguns casos com erros maiores que 2 desvios padrões, a solução final é mesmo voltar a campo e refazer os trechos problemáticos. E lembre-se que é preciso refazer todo o trecho mapeado pela equipe que apresentou problemas. Os trechos sem loops (rios e outros condutos lineares) também podem estar muito errados e, na dúvida, é preferível topografar novamente.

Referências: 1 - http://survex.com/ 2- http://bcra.org.uk/ 3- http://pt.wikipedia.org/

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Lojinha da UPE

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MARCHE!!!

Log de Atividades

Tudo o que a UPE fez ou participou no primeiro semestre de 2009 Coordenação: Fabio Kok Geribello (fabio@geribello.com.br)

22/1/2009 a 25/1/2009

04/4/2009 a 05/4/2009

16/5/2009 a 17/5/2009

Grutas Temimina I e II - Apiaí - SP Local: PETAR - Caboclos Objetivo: Apoio ao mapeamento e Doc. Fotografica -Temiminas Participantes:

Grutas do Plano de Manejo - SP Local: PETAR - Caboclos Objetivo: Doc. FotográficaPescaria-Desmoronada-Espírito Santo Participantes: Fabio Kok Geribello Gabriela de Britto Slavec Ricardo de Souza Martinelli Leandro Valentim Milanez Marcelo Gonçalves

Gruta Arataca - Apiaí - SP Local: Núcleo Caboclos Objetivo: Topografia para o plano de manejo Participantes: Fabio Kok Geribello Gabriela de Britto Slavec Mauro Zackiewicz Josef Herman Poker Felipe Costa Luis Gustavo Pinheiro Machado Ivan Stacioni Cerqueira Oliveira

Fabio Kok Geribello Gabriela de Britto Slavec Ricardo de Souza Martinelli Leandro Valentim Milanez Marcelo Gonçalves Elvira Maria Antunes Branco Mauro Zackiewicz Luis Gustavo Pinheiro Machado

Gruta Arataca, mapeamento e fotografia.

16/5/2009 a 17/5/2009

Sistema Temimina, região foi alvo de intenso trabalho durante o primeiro semestre de 2009.

Caverna do Diabo - Eldorado - SP Local: Parque Estadual Caverna do Diabo e Rio do Turvo Objetivo: Doc. Fotografica-Caverna do Diabo (Travessia)-Capelinha Participantes: Ricardo de Souza Martinelli Marcelo Gonçalves

20/2/2009 a 23/2/2009

18/4/2009 a 21/4/2009

Grutas Temimina I e II - Apiaí - SP Local: PETAR - Caboclos Objetivo: Apoio ao map. E Doc. Fotografica -Aranhas Arataca Participantes: Fabio Kok Geribello Gabriela de Britto Slavec Elvira Maria Antunes Branco Mauro Zackiewicz

Sistema Temimina - Apiaí - SP Local: PETAR - Caboclos Objetivo: Exploração Participantes: Mauro Zackiewicz Josef Herman Poker Luis Gustavo Pinheiro Machado

20/2/2009 a 24/2/2009

01/5/2009 a 03/5/2009

30/5/2009 a 31/5/2009

Grutas do Plano de Manejo - SP Local: PETAR - Caboclos - Santana Objetivo: Doc. Fotografica-AranhasArataca-Santana Participantes: Ricardo de Souza Martinelli Leandro Valentim Milanez Marcelo Gonçalves

PETAR - Iporanga - SP Local: Núcleos Santana-Casa de Pedra-Ouro Grosso Objetivo: Dossiê fotográfico para o plano de manejo Participantes: Ricardo Luiz Terzian Ricardo de Souza Martinelli Marcelo Gonçalves Nivaldo Possognolo

Gruta Fartinho - Apiaí - SP Local: PETAR - Nícleo Caboclos Objetivo: Finalização de topografia Participantes: Eduardo Tastardi Portella Ricardo Ulhôa Cintra de Araújo Leandro Valentim Milanez Marcelo Gonçalves Mauro Zackiewicz Michel Sanches Frate Nivaldo Possognolo

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LOG de saídas

Caverna do Diabo, para retratar melhor suas feições, foi feita a travessia durante os trabalhos dos PME´s

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Maillon Rapid Notícias curtas sobre a UPE e a espeleologia nacional PM do PETAR e Projeto 32 Cavernas Fazendo parte das iniciativas para elaboração do plano de manejo do PETAR e também dos planos de manejo espeleológico das 32 cavernas já mencionadas nesta revista, durante o mês de outubro realizaram-se duas oficinas. A primeira, teve a intenção de angariar subsídios para iniciar os trabalhos na elaboração do plano de manejo do PETAR. Integrantes de vários clubes e entidades ligadas à espeleologia estiveram presentes e frente a uma rápida explicação por parte da Fundação Florestal, fez críticas e propôs mudanças no termo de referência. A segunda teve o objetivo de coletar a opinião da comunidade espeleológica, colocando sua opinião sobre diversos temas ligados aos estudos realizados. Em ambas as reuniões integrantes da UPE tiveram participação ativa e expuseram o ponto de vista pessoal e do grupo sobre os assuntos colocados.

UPE em novo endereço Por algum tempo a UPE se reúne na sede da ANAB - Associação Nacional de Arquitetura Bioecológica (http://www.anabbrasil.org/). Por motivo de mudança desta entidade, mudamos junto e agora realizaremos nossas reuniões no endereço abaixo, sempre na última quarta-feira do mês: Rua Humberto I, 305 Vila Mariana - SP (próximo ao metrô ana rosa) Horário: 20hs

Apareça!!!!! Confirme a reunião pelo email upe@upecave.com.br.

18º EPELEO - 40 anos da SBE Durante os dias 14 e 15 de novembro foi realizado o 18º EPELEO, em comemoração aos 40 anos da SBE. A UPE participou com uma palestra sobre as áreas de atuação do grupo, o que foi feito até hoje, exibindo mapas e imagens. Também participou de mesa redonda com discussão sobre o futuro dos cadastros de cavernas no Brasil, com participação de todas as entidades interessadas, inclusive representantes do IBAMA/CECAV.

UPE na UIS Por indicação da SBE, o atual presidente da UPE, Fabio “Coringa” Geribello, foi nomeado delegado do Brasil na UIS para o Grupo de Trabalho de Topografia e Mapeamento.

CECAV lança informativo em PDF O CECAV lançou seu primeiro informativo eletrônico, no intuito de estreitar a comunicação entre a sociedade e o órgão governamental. Confira em: h t t p : / / w w w. i c m b i o . g o v. b r / c e c a v / download.php?id_download=893

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Maillon Rapid

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Gruta do Pescaria PETAR - SP

Foto : Leandro Valetim Dados Técnicos: velocidade 4 seg; abertura F 3.1; ISO 100; distância focal 10,5 mm; Máquina - Fuji Finepix 100 Desnível Eletrônico - Ano 6, número 11 - Janeiro - Julho de 2009

Foto em destaque

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