Desnível Eletrônico Ano 7 - Números 13 e 14
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Informativo da União Paulista de Espeleologia
Janeiro/Dezembro de 2010
Carta ao Leitor Caros amigos e espeleoleitores, não é por acaso que a cada edição nosso informativo fica ainda mais com cara de revista. Melhorar a disposição gráfica, tornar a leitura mais agradável e impressiorar com boas imagens e mapas sempre foi nossa meta. O novo ―plug-in‖ de visualização ―ISSUU‖ permitiu mudar totalmente a maneira com que a formatação era feita, pois agora podemos usar páginas lado a lado, e isso faz toda diferença quando o assunto é a estética do olhar, aquela maneira com que estamos acostumados ao folhear uma revista. Nesta edição temos matérias fantásticas de explorações no PETAR—SP e em Mambaí—GO, com mapas e fotos de tirar o fôlego. Em nome de toda a comissão editorial, desejo a todos uma ótima leitura! Atenciosamente,
Editor Desnivel Eletrônico
Comissão Editorial Ricardo Martinelli - Gabriela Slavec Eduardo Portella - Fabio Kok Geribello Revisão Gabriela Slavec União Paulista de Espeleologia Endereço para correspondência: Rua Loefgreen 1291, Cj 61 - São Paulo - SP CEP: 04040-031
de responsabilidade dos editores e não refletem necessariamente a opinião da UPE. Artigos publicados no Desnível podem ser reproduzidos na íntegra, desde que citados fonte, autor, URL e data de consulta na web. Reproduções parciais somente com autorização prévia dos editores. O informativo em formato PDF poderá ser repassado para outras pessoas e listas de discussão. Para enviar um artigo utilize o e-mail: desnivel@upecave.com.br As datas limite são os meses de junho e novembro.
O Desnível é uma publicação eletrônica semestral da União Paulista de Espeleologia (UPE). O Desnível se encontra em regularidade com as leis anti-spam. Se deseja não mais recebê-lo, favor enviar um e-mail para: remover@upecave.com.br As opiniões expressas em artigos assinados são de responsabilidade dos respectivos autores. As matérias não assinadas são
Parceiros:
A UPE é filiada à SBE
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Palavra do Presidente
Memória
Abismo do Gurutuva
Maillon Rapid
Espeleologia & Medicina
Novas descobertas em Mambaí
Marche—EspeleoLOG
Imagem em destaque
Associação Nacional de Arquitetura Bioecológica
Parceria de apenas uma via Autor: Fabio Kok Geribello (Coringa) Presidente da UPE - fabio@geribello.com.br
Palavra do Presidente
Há apenas um ano atrás ficava pronto o Plano de Manejo Espeleológico das cavernas do PETAR e de outros três Parques Estaduais do Vale do Ribeira. Apesar da iniciativa ter sido feita por uma imposição do ministério público, foi um trabalho pioneiro aqui no Brasil, mobilizando toda a comunidade espeleológica técnica e científica do Estado e trazendo todos para uma discussão aberta e objetiva. Para que se conseguisse atingir o prazo, dentro da verba disponibilizada, a Secretaria do Meio Ambiente, através da Fundação Florestal, solicitou apoio à SBE e a todos os grupos Espeleológicos que atuam na região para que disponibilizassem seu acervo com a maior presteza possível. Esta solicitação contou com total apoio da sociedade, que prontamente disponibilizou todas as informações e mapas gerados, permitindo que fosse necessário apenas a execução de uns poucos mapas. Já comentado nesta coluna, este retorno da Sociedade Espeleológica gerou uma economia da ordem de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais). Pois bem, ao que parece, infelizmente para cada passo para frente damos outro para trás. Os Grupos que tanto apoiaram o Poder Público e que são, no discurso, Parceiros da Fundação Florestal, foram surpreendidos com a publicação da PORTARIA NORMATIVA F.F. nº 154/2011 de 28 de Abril de 2011, Gruta Alambai de Baixo: Impasses burocráticos estão prejudicando a caverna. assinada por João Gabriel Bruno, diretor executivo da Fundação, não isentando os grupos das taxas de pernoites nos parques em que realizam trabalhos em cavernas, gerando assim mais um custo na já complicada e totalmente voluntária atividade de campo. Os Grupos foram isentados da taxa de ingresso, mas não foram lem-
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Patriotismo dentro da Alambai: A UPE “ainda” acredita nas decisões de bom senso neste país.
brados quando precisarem pernoitar/acampar nos núcleos do parque, indicando que aquela parceria só funciona para um lado. Outro ponto relativo aos planos de manejo que assusta é o descaso relativo à Alambari de Baixo. Ela é uma das cavernas mais visitadas do parque, pertencente ao roteiro básico de visitação e cujo manejo já está preliminarmente definido, porém não implementado. Por uma razão burocrática, um trecho da trilha à jusante da caverna está interrompido, em função de um embargo imposto ao proprietário do terreno. A solução estapafúrdia encontrada foi a mudança do roteiro dentro da caverna, que está sendo realizado sem a travessia completa, sendo o retorno novamente por dentro da gruta. Tal procedimento, sem diminuição substancial no número de visitantes, está causando um impacto enorme na caverna, pois os visitantes, ao saírem molhados do trecho de rio, devem subir a rampa de terra causando visíveis estragos, mesmo a qualquer leigo que passe pelo local. Fica a pergunta então, para que serviram os trabalhos executados e terminados no ano passado? Foi apenas para cumprir tabela? Os estudos foram entregues e como o mesmo nome diz, são Planos de Manejo. Neles constam regras práticas e estratégias que devem ser implementadas e melhoradas visando a diminuição dos impactos causados pela visitação turística das cavernas. Ficamos esperando que o Manejo seja executado com a mesma integração da sociedade que foi feita para a elaboração do plano.
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Viagem ao Centro da Terra Texto de CESARION PRAXEDES Fotografias de VIC PARISI
ABSTRACT An expedition to the Roncador (Santana) cave was organized in 1975 specially for the Geográfica Universal magazine to capture in beautiful photos the underground world. The cave had 5.800 m surveyed at the time and the group spent about 18 hours inside the cave. Walking in cold water and climbing some difficult walls was worth when the group reached the most ornamented room of the cave. Amazing pictures and unforgettable memories!
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ra noite quando saímos da caverna do Roncador, em Iporanga, no sul de São Paulo. A noite mais clara que já vi, apesar da ausência da Lua. As estrelas brilhavam mais do que de costume, e as montanhas que cercam o vale Betari-Alto Ribeira, imponentes, mostravam-se com nitidez. Paramos na porta da caverna e, por alguns momentos, não nos atrevemos a quebrar o silêncio. Estávamos na porta que separa os dois mundos: um, silencioso e escuro; o outro, sonoro e luminoso. Luminoso mesmo à noite, e que quase ofusca quando se deixa a profunda e silenciosa escuridão de uma caverna. À nossa volta se foram acomodando os homens que vivem nesses dois mundos e que, pacientemente, nos haviam conduzido pelos labirintos subterrâneos. Passáramos o dia e quase toda a noite naquele mundo de animais cegos e albinos, onde a natureza brinca de escultora, criando fantásticas
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formas na rocha. Naquele momento eu me conscientizei do quanto aqueles homens eram privilegiados, e não me importei que se divertissem com meu deslumbramento. Acostumados a visitar lugares onde nenhum ser humano havia pisado antes, os espeleólogos nos mostraram uma parte daquele estranho mundo subterrâneo do qual eles são exploradores, estudiosos e amantes. A expedição foi organizada especialmente para a Revista Geográfica Universal, com objetivo de documentar fotograficamente a caverna do Roncador, primeiro nome da Gruta de Santana. Isso porque recentes descobertas colocaram Santana entre as galerias mais bonitas do mundo, embora o acesso a essas galerias não seja possível ao homem comum, sem intimidade com a espeleologia. A mim, no entanto, a tarefa não parecia difícil, pois se tratava apenas de seguir pelo leito do Rio Roncador (afluente do Betari), que corre pelas galerias de Santana, e depois escalar algumas encostas que não ultrapassavam os setenta metros de altura. Penetramos em Santana às dez horas da manhã de sábado, 23 de agosto, trajando macacões, capacetes com lamparinas de carbureto, sapatos de tênis e agasalhos, e carregando muito equipamento fotográfico, cordas, escadas, alimentos e botes de borracha para os trechos mais fundos do rio. Alguns turistas que visitavam as partes mais acessíveis da gruta nos espiavam, curiosos, e senti-me um tanto constrangido pelo que ainda acreditava ser um aparato demasiado para uma empreitada tão pequena. Éramos quinze, e, com exceção de nós três, da Revista Geográfica Universal – o fotógrafo Vic Parisi, eu e o motorista Orí-
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pides, que se arriscou a nos seguir -, todos os outros tinham experiência de gruta. As idades variavam de 19 a 52 anos, e havia uma mulher, Cecília Torres, estudante de biologia, de 23 anos. Nos primeiros trezentos metros existiam pinguelas que serviam para os turistas terem acesso às galerias próximas da entrada. Depois tivemos que andar pelo rio, já que os paredões da gruta impossibilitavam a caminhada pelas margens. A água estava muito fria, e a marcha era lenta. As primeiras grandes diferenças sentidas relacionavam-se com a falta de luz e vegetação. O Sol fora substituído pelas pequenas chamas do carbureto nos capacetes, e a vegetação pelas estranhas formas de rochas genericamente chamadas de espeleotemas. Os espeleólogos caminhavam naquela escuridão, e os pontos luminosos espalhavam-se pelo corredor. Era uma enorme fenda escura, e em suas paredes havia marcas das águas do rio, demonstrando que ele costuma inundar a galeria. Clayton Ferreira Lino, 22 anos, estudante de arquitetura, alpinista e espeleólogo, disse que aquela mudança no nível das águas impedia Santana de ser, em toda a sua extensão, uma gruta turística. ―Mesmo que se construam pontes, continuará a existir o perigo, pois elas seriam inevitavelmente submersas e os turistas não saberiam como fugir‖, explicou ele. E continuou: ―Em regiões de muita precipitação pluviométrica como esta, uma forte chuva inunda as grutas em poucos minutos. Muitas vezes o tempo está bom na área da entrada da gruta, mas pode estar chovendo na cabeceira do rio, o que provocará a inundação sem ninguém esperar, apanhando todos de surpresa.‖ Assim, é uma preocupação constante dos espeleólogos nas grutas a verificação do nível das águas. Eles andam sempre atentos à coloração e ao volume da água dos rios, e em caso de qualquer anormalidade procuram logo os lugares mais altos para se refugiarem. Uma pequena distração pode ser fatal, mas até hoje não ocorreu nenhum acidente grave com eles, apesar de já terem cadastrado 136 cavernas e grutas paulistas, sendo 103 no vale do Alto Ribeira, no sul do Estado, onde nos encontrá-
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vamos. Trabalhosos levantamentos topográficos foram feitos por conta própria, sem ajuda oficial, por amor à exploração ou ―talvez por um pouco de altruísmo, mas na esperança de que, algum dia, sirva para muita coisa‖, como costuma dizer GuyChristian Collet, presidente da Sociedade Brasileira de Espeleologia, que ia conosco. Os trechos mais fundos do Roncador nos obrigaram a dar algumas braçadas. Molhado, comecei a sentir os primeiros e-
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feitos de uma outra realidade das grutas: a umidade acima dos 95%, que não deixa as roupas secarem, provocando muito frio. Depois de uma hora de caminhada, aquela grande fenda passou a assemelhar-se a um túnel bem traçado, e as estalactites e estalagmites já não eram avistadas com muita freqüência. Alguém que estava na frente gritou: ―Há uma pedra no caminho.‖ Era um gigantesco bloco que se havia desprendido do teto. Geraldo Gusso, 22 anos de idade,
estudante de geologia, caminhava a meu lado. Perguntei-lhe se seria possível ocorrerem novos desabamentos, e ele respondeu afirmativamente, ―Mas‖ – adiantou Geraldo -, ―parte do teto desaba um dia e outra parte vai desabar depois de um milhão de anos. Ninguém pode garantir, porém, que não caia uma parte hoje. Nossa margem de risco, no entanto, é numa percentagem de um por um milhão – e por isso nos arriscamos.‖
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Geraldo caminhava observando os paredões da gruta. ―As cavernas nos oferecem cortes naturais, possibilitando um estudo melhor das camadas do subsolo‖, disse. ―Expondo as rochas assim‖ – continuou, enquanto apontava para o paredão – ―as cavernas mostram o comportamento dessas rochas e as possibilidades da mineralogia em profundidade. Informações sobre erosão, a gênese dos depósitos minerais, a formação dos solos, a movimentação de águas subterrâneas têm sido colhidas nas cavernas através dos anos. Em termos de geologia geral, a caverna é muito didática.‖ As inúmeras paradas para fotografar as partes mais bonitas do trajeto nos atrasavam. É que o material fotográfico estava acondicionado em sacos plásticos, para não molhar, sendo preciso retirá-lo para as fotos e depois voltar a guardá-lo a fim de continuar a marcha. Guy Collet e Geraldo Russo pediram que os planos fossem mudados. Havia necessidade de andarmos mais depressa, sem parar para fotografias, pois já estáva-
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mos caminhando havia duas horas e meia e não tínhamos percorrido ainda nem metade do caminho. Fechamos as mochilas e apertamos o passo. A marcha prosseguiu num clima alegre, sustentado por uma cantoria liderada por Walter Schmich, de 26 anos, estudante de engenharia eletrônica, cuja voz de baixo ecoava pelos cantos escuros da Santana. Estávamos caminhando havia quase cinco horas quando alcançamos o chamado Estreito do Afogado. Seguindo rio acima, chegaríamos ao salão Ester, belo, mas sem a riqueza e variedade de espeleotemas dos salões que pretendíamos visitar. Naquele ponto, deixaríamos o leito do Roncador, que tanto frio nos havia feito sentir, mas que eu ignorava ser comparável a uma auto -estrada diante do que nos esperava. Clayton Ferreira Lino explicou que depois do Salão Ester não era possível continuar até muito à frente pela caverna. Seguindo o rio por uma galeria, esbarrava-se num sifão intransponível. A outra galeria existente era muito apertada, só sendo possível percorrê-
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À esquerda, Guy, Geraldo e Peter estudam a montanha no mapa, antes de entrar na gruta. Abaixo, parte do equipamento utilizado e Cecília e Clayton testando lanternas de carbureto.
la arrastando-se. Mesmo assim não se podia ir longe, pois qualquer esbarrão provocaria desabamentos. Clayton acredita que depois do sifão possam existir outras galerias e até mesmo salões, mas ainda não foi encontrado um caminho para alcançá-los. Santana tem, até agora, 5.800 metros medidos, mas o rio Roncador sai da montanha a dez quilômetros de distância do local por onde entra. ―Por isso‖ – diz Clayton –―é muito grande a possibilidade de a gruta ser bem maior.‖ Antes de iniciarmos a escalada para as galerias superiores, almoçamos na beira do rio. Nas mais quatro horas e meia de caminhada havíamos percorrido apenas dois quilômetros, mas o trecho mais difícil ainda estava para vir. Geraldo, Cecília, Walter e Clayton eram os únicos do grupo que conheciam as galerias. Eles estiveram entre os onze com-
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ponentes da Operação Tatus, dos quais apenas seis visitaram aquela parte da gruta. A Operação Tatus consistiu na permanência de quinze dias dentro de Santana, promovida pelos espeleólogos do Centro Excursionista Universitário de São Paulo (CEU) e que teve a colaboração dos outros grupos que formam a SBE. Os seis estudantes eram os únicos seres humanos que haviam andado por aquela parte da Terra e a expedição para a Revista Geográfica Universal foi a primeira a penetrar em Santana após a Operação Tatus. Enquanto Walter, Geraldo e Clayton escalavam o paredão da gruta e armavam escadas para o restante da turma subir com o equipamento, Guy Collet explicava como se desenvolveu a espeleologia em São Paulo. ―No começo, as explorações eram feitas por grupos isolados, sem um maior planejamento, liderados pelo francês Michel Le Bret, um dos principais precursores da espeleologia no Brasil, juntamente com o engenheiro José Epitácio Passos Guimarães. Só em 1969 é que foi fundada a SBE, formada por quatro grupos, com áreas préselecionadas para explorar no sul do Estado. Nas férias, juntamo-nos para uma expedição maior em outro Estado. Já exploramos cavernas no Paraná, na Bahia e em Goiás. A maior caverna brasileira, a de São Mateus, em Goiás, com 13.800 metros medidos, foi explorada por uma expedição da SBE. O barulho da escada atingindo a água, depois de jogada por Clayton de cima do paredão, interrompeu a conversa. O primeiro lance de escada era pequeno, de uns seis metros. Subimos por ela e escalamos um outro trecho sem ajuda de escada ou corda. O segundo lance, no entanto, de uns trinta metros, não era muito animador, e o frio tornava-se cada vez mais intenso por causa das roupas molhadas. Estávamos esperando que as mochilas fossem içadas por cordas através do segundo lance da escalada, encostados no paredão para nos proteger das pedras que de vez em quando caíam ameaçadoramente nas proximidades. Cecília, que acabara de guardar o material de coleta biológica, juntou-se ao gru-
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po. Ela havia feito o trajeto procurando Aeglas, um crustáceo que habita as cavernas. ―Estudo a população e a migração desse gênero de crustáceos‖, disse ela. Para Cecília, é necessário conhecer melhor os cavernícolas, ―pois eles podem fornecer muitas informações relacionadas com espécies extintas, ou mesmo sobre mudanças climáticas que tenham ocorrido na região da caverna‖. ―Essas informações podem nos chegar‖ – continuou Cecília –―quando uma espécie não conseguiu viver bem na superfície – por uma deficiência visual, por exemplo – e se refugiou de seus predadores na caverna. Os predadores continuaram vivendo no ambiente externo, e, se esse ambiente mudou, eles, sem condições de se refugiarem nas cavernas, desapareceram da região. O ambiente poderia ser extremamente úmido e passar muito seco. Dentro da caverna, no entanto, continuou como era antes, e as espécies que habitam servem de testemunho de uma outra época‖, concluiu ela. Devido à ausência de sol e, portanto, de clorofila, a vida vegetal das grutas consiste em seres inferiores e microscópicos, entre eles as bactérias e os fungos. A fauna, por sua vez, é mais rica e bastante peculiar. Ela pode ser dividida em três categorias: os trogloxenos (do grego trogle, caverna, e xenos, hóspede), que são seres que passam parte de suas vidas nas cavernas e, normalmente, não ultrapassam as proximidades das suas entradas, como os ursos, pacas, porcos-do-mato, ratos, mosquitos, vespas, serpentes, algumas aves, morcegos e mesmo o homem: os troglófilos (trogle mais philos, amigo), animais que podem sobreviver em meios úmidos e sombrios do exterior e que vivem com regularidade nas cavernas, como minhocas e certas espécies de salamandras, besouros e crustáceos; e o troglobíticos (trogle mais bíos, vida), animais que habitam as profundezas das grutas e que na maioria são cegos, algumas vezes sem olhos, e sem pigmentação, com desenvolvimento especializado e avançado dos órgãos necessários ao olfato e à locomoção nas trevas, adquirido através de milhares de anos de vivência nas grutas. Os insetos têm antenas e patas enormes e os peixes são brancos e sem olhos, sendo seus barbilhões sensitivos (antenas) alongados.
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A entrada de Santana (foto da página anterior dispõe de pontes para a penetração de turistas até trezentos metros. Depois só é possível seguir sobre o leito do rio. Na foto à esquerda, Clayton e Geraldo vencendo uma correnteza. Embaixo, Guy num trecho mais raso, e o repórter acabando de atravessar um poço a nado.
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Os espeleólogos paulistas têm descoberto algumas espécies raras desses animais, entre eles um macho aranha Ctenus, antes nunca visto, dois espécimes do crustáceo isópode terrestre e uma espécie de inseto até então desconhecida, um pseudoescorpião classificado por Pseudochthomiu strinati. ―Allez, allez, mês amis de là-bas‖, gritou Guy Collet, que já havia escalado o segundo paredão. A resposta de Cecília também foi em francês, demonstrando que a influência da França na espeleologia paulista ainda é grande.
Foram os imigrantes franceses os principais responsáveis pelo desenvolvimento do estudo das cavernas em São Paulo, e eles ainda continuam bastante ativos. Cecília subiu rápido pela escada e parou a uns quinze metros acima. Podíamos ver a luz de seu capacete, mas o resto da equipe já havia desaparecido na escuridão. Ela ficou no meio do caminho, em uma fenda, para nos dar segurança. Subi a escada com uma corda amarrada à cintura e puxada por Cecília. Cheguei ao alto, ofegante, e encontrei José Luís Yuste, que me puxara pela cintura na segunda etapa da escalada.
Às vezes (foto em cima), o grupo era obrigado a abandonar o leito do Roncador para ultrapassar enormes blocos de pedras caídos do teto. A maior parte do trajeto foi percorrida no leito do rio (à direita), cuja profundidade variava muito. Em algumas partes a gruta de assemelhava a um túnel bem traçado, trechos considerados perigosos, pois em caso de inundação não haveria onde buscar refúgio. Os espeleólogos andam sempre atentos ao nível e à coloração das águas, indicadores de possíveis enchentes.
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Yuste é um alpinista tarimbado. Economista, natural da Espanha, tem 49 anos de idade. Já escalou inúmeros picos brasileiros, e na Europa, entre outros, o pico de Aneto, o mais alto dos Pireneus, com 3.404 metros de altura. ―Mas‖, explica Yuste, ―eu acrescentei uma ciência ao puro esporte do alpinismo. No estudo prático da espeleologia nós somos obrigados a escalar como no alpinismo, mas não nos realizamos quando alcançamos o alto de um cume. Pelo contrário, quando atingimos certos lugares, podemos passar dias e dias pesquisando, mesmo que seja numa pequenina área de dez metros quadrados.‖
Arrastei-me por entre as frestas da gruta e fui encontrar o pessoal na frente. Estavam todos em uma fenda, e no seu paredão, de mais de quinze metros de altura, dois vultos de homem, braços e pernas semi-abertos, se locomoviam como aranhas. Eram Clayton Ferreira e Geraldo Gusso, que procuravam atingir no teto uma passagem que dava para as partes superiores da gruta. O momento era de suspense, pois, além de a parede ser vertical, estava molhada, e as frestas nas quais os dois se apoiavam apresentavam-se escorregadias. ―Eles são muito bons, mas não precisavam correr o risco juntos. Bastava um deles su-
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bir.‖ O comentário era feito por Peter Slavec, 35 anos de idade, químico nascido na Iugoslávia, mas vivendo no Brasil desde criança. Como Yuste, Peter é alpinista, e faz parte da diretoria do Clube Alpino Paulista, outra organização ligada à SBE. Vencido o paredão, Clayton e Geraldo jogaram a escada e começamos a subir. O fotógrafo Vic Parisi deveria ir na frente, pois as galerias com o belos espeleotemas estavam próximas, e a presença de muitas pessoas em seus interiores não era aconselhável, pelo menos para fotografias. É que o vapor emitido por nosso corpo era tanto que iria formar verdadeiras nuvens e embaçar as lentes. Havia doze horas que estávamos dentro da gruta. Parisi começou a subir, e os primeiros dez metros foram suficientes para fazê-lo perder as forças: ―Não agüento mais. Acho que vou cair‖, gritou ele. Foi um corre-corre. Gritamos para Geraldo, que estava na segurança, para firmar a corda. Clayton correu até a beira do abismo, e jogou outra corda para Walter Schmich que, por sua vez, subiu correndo por ela até onde Vic se encontrava. Ajudado, nosso fotógrafo voltou para baixo. A caverna é traiçoeira. A umidade e o frio retiram nossas forças pouco a pouco. A escuridão faz perder a noção do tempo. Sem Vic Parisi – desani-
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Lances de cerca de trinta metros de escada tiveram de ser vencidos pelos componentes do grupo para alcançar os salões recémdescobertos. Nas duas fotos grandes, acima, o repórter subindo em direção aos salões. À esquerda, o grupo escalando outro trecho. À direita, Geraldo e Walter tentando alcançar o alto de um dos paredões. No pé da página, Clayton chegando ao alto do paredão.
mação de prosseguir -, a expedição estaria praticamente perdida. Fotografar em grutas não é tarefa que amadores desempenhem bem. E ninguém queria responsabilizar-se pelas fotos. Mas Vic, depois de descansar, decidiu tentar subir novamente. Walter acompanhou-o através de uma corda paralela à escada, mas no meio do caminho Vic empacou de novo. Geraldo começou a puxá-lo pela corda de segurança, enquanto Walter o empurrava pelas pernas e, embaixo, gritávamos como uma torcida organizada. Finalmente, Vic desapareceu pela fresta próxima ao teto. Alcancei, por minha vez, o alto do paredão, e ainda pude ver Vic sendo arrastado através de uma corda por uma outra fenda de meio metro de largura. Ele, Guy, Walter e Clayton seguiam pelos labirintos que davam acesso aos primeiros salões descobertos no mês de janeiro. Apressei o passo e fui encontrar Clayton admirando um conjunto de espeleotemas: ―Tudo que há de delicado, em termos de espeleotemas, você encontra aqui‖, disse-me ele. Alguém quebrou um espeleotema no salão ao lado. O barulho era o mesmo de uma vidraça esfacelando-se quando atingida por uma pedra. ―Já começou‖ – disse Clayton. ―Por mais cuidado que se tenha, é impossível andar por aqui sem quebrar alguma coisa. Precisamos evitar até mesmo pisar no chão, pois a terra vai tremer e, certamente, muitos espeleotemas se quebrarão‖, preveniu ele. E saiu na direção de onde tinha vindo o barulho. Procurei segui-lo e fui parar no meio de milhares de espeleotemas. Alguns nasciam no teto e vinham até o chão, alcançando cerca de três metros de comprimento. Eram finos como lápis e brancos como leite. São os chamados canudos, e um deles estava tremendo, ameaçando partir-se. Clayton prendeu a respiração e segurou-o com as pontas dos dedos, cuidadosamente. Fez uma pequena pressão por alguns segundos e depois
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A fauna nas grutas não é muito variada, mas bastante peculiar. Nela são encontrados, foto acima, desde caramujos até insetos e crustáceos cegos e albinos. A falta de pigmentação é causada pela ausência total de luz.
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Vic Parisi aproximou-se de mim, acompanhado de Breno Chvaicer, engenheiro eletrônico, 28 anos de idade, amante da espeleologia e da caça submarina. Breno tem mergulhado nos rios das grutas, com a finalidade de encontrar passagens para outras galerias através dos sifões. Depois, fiquei novamente sozinho. Geraldo Gusso me havia falado sobre a formação das cavernas e eu imaginava quanto tempo aquelas ornamentações tinham levado para crescer. Segundo Geraldo, é muito difícil dizer a idade das ornamentações e mesmo das cavernas. Algumas cavernas têm a mesma idade das rochas de onde se encontram. São as chamadas cavernas naturais, geralmente resultantes do resfriamento diferencial de magmas, particularmente de lavas viscosas, basálticas, expelidas pelos vulcões em suas erupções. Mas as grutas existentes em maior número são fendas resultantes de movimentos bruscos da crosta, ou cavidades originadas da erosão ou ainda da combinação de movimentos da crosta com fenômenos erosivos. Walter Schmich gritou por mim, de uma distância que me pareceu consideravelmente grande. Pedi para continuar gritando e segui na direção do som. Quando o alcancei, vi que quase todos os participantes da expedição estavam no local. Era um enorme salão, todo decorado com espeleotemas, o mais extraordinário espetáculo que eu já vira. Tentávamos fotografar o máximo possível, documentando em detalhes, mas não havia jeito de fazer tudo o que queríamos. Poderíamos passar ali dias seguidos, e não conseguiríamos registra tudo. Era meia-noite, o carbureto de nossas lâmpadas não iria durar muito tempo mais e tínhamos de
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andar depressa com o trabalho. Vic Parisi já havia feito mais de trezentas fotografias, e Clayton, Geraldo, Peter e Guy, com suas máquinas, procuravam também ajudar na documentação fotográfica. Alguns membros da equipe já tinham voltado para as primeiras galerias, pois muitos espeleotemas estavam sendo quebrados por causa da movimentação de pessoas nas galerias. Queríamos evitar a depredação da gruta, e parte do pessoal preferira não seguir em frente. Começamos a descer em direção ao rio, e as imagens dos espeleotemas não me saíam da cabeça. Depois de visitar aquela gruta, pude compreender por que a espeleologia apaixona a tantos. Pierre Martin, um dos responsáveis pelo desenvolvimento da espeleologia no Brasil, e que não pôde acompanhar-nos, havia-me dito em São Paulo que Santana podia ser chamada de Capela Sistina das grutas, pelas preciosas ornamentações que contém. Mas ele não conhecia ainda os salões onde estávamos. Eu acabara de ver as mais belas e fantásticas esculturas da natureza. Embora o cansaço, a quase exaustão, deixamos aquele lugar com pesar. Para baixo, para fora – esse era agora nosso objetivo. Agrupamo-nos à beira do Roncador, cujas águas limpas, transparentes, me pareceram mais frias do que nunca. Faltavam vinte minutos para as duas horas da madrugada. Iniciamos a caminhada pelo rio em direção à saída da gruta. Apesar de mais sofrida, a viagem de volta não durou tanto tempo quanto a ida. Alcançamos as pinguelas para turistas em uma hora e 55 minutos de caminhada ligeira. Vic Parisi estava a meu lado quando avistamos uma claridade a nossa frente, um pouco ao alto. ―A luz do dia?‖, perguntou ele. Não era possível. Meu relógio marcava três horas e quarenta minutos, e eu tinha certeza de que não eram da tarde. A escuridão da caverna nos tirara da capacidade de distinguir a intensi-
Os espeleotemas levam milhões de anos para serem formados. A foto mais ao alto mostra o processo de formação de uma estalagmite. Nas duas outras, o início e a fase mais adiantada do crescimento de uma estalactite.
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dade da luz. Andamos mais depressa e verificamos que a claridade vinha de fora da gruta. E não era dia. Era noite quando saímos da caverna do Roncador, em Iporanga. A noite mais clara que já vi, apesar da ausência da Lua. As estrelas brilhavam mais do que de costume, e as montanhas que cercam o vale Betari-Alto Ribeira, imponentes, mostravamse com nitidez...
As dificuldades de acesso aos principais salões da Santana talvez nunca permitirão que eles sejam pontos turísticos. Essas fotos mostram alguns detalhes de suas variadas formações, escondidas a mais de quatro quilômetros longe da luz do dia. A gruta é tida como uma das mais bonitas do mundo.
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ABISMO DO GURUTUVA
A história da exploração e mapeamento de um dos maiores e mais difíceis abismos do PETAR
Texto e imagens Ricardo Martinelli
ABSTRACT The Gurutuva cave was listed by Krone around 1902. The cave was explored again in 1964 by Luiz Carlos Marinho, Pierre Martin, Guy Collet, Maurice Lourette and Michel Le Bret but it was only in 2006 that some new conducts were dicovered by the group Trupe Vertical. In 2007 the group UPE was invited to survey the cave together with Trup and more conducts were found. The surveying was finished in 2010 and the cave 1496 m of horizontal projection and 175 m of vertical projection.
Colaboraram para este artigo: Michel Le Bret — CAP Eleonora Trajano — IBUSP Eduardo Portella — UPE Paulo Jokesky — UPE Marcelo Fontes Neves — UPE Luiz Roberto — TRUPE
A origem do nome é um mistério, Gurutuva é o nome do córrego que batiza o abismo, pode-se pensar em uma modificação regional do Tupi Curutuba (“Cururu” = sapo e “tuba” = rio; Rio dos Sapos) ou ainda uma citação de Teodoro Sampaio, Gorutuba - corruptela de “curí-tyba”, seixal,
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pedregal ou rio dos seixos. Outra possibilidade é levarmos em conta a fonética, pois parece que o "G" ou "Gu" poderia ser uma interpretação equivocada do som do "W" ou do "Gw", dois fonemas da família Tupi, e sendo assim, foneticamente, a origem de Gurutuva poderia
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ser WyraTyba, que se pronuncia mais ou menos como "ghuriu-tiuva", que quer dizer "Lugar com muitos pássaros" ou "Bando de pássaros", sem no entanto termos algum grau de certeza. O fato é que, da mesma maneira que seu nome é de difícil compreensão, esta incrível caverna também guardou seus segredos até mesmo dos mais experientes e desbravadores espeleólogos como Michel Le Bret, Pierre Martin, Luiz Carlos Marinho, Guy Collet, entre outros. O Abismo da ou do Gurutuva é uma gruta Krone, citada em artigos do início do século passado com o número 36, o qual carrega até hoje no Cadastro Nacional de Cavidades, o CNC, da SBE. Os artigos de Krone datados de 1902 descrevem a cavidade da seguinte forma: “ Nº 36—O vale do Rio Alambarí apresenta, no seu lado direito, uma série de rochedos descalvados, e todos os afluentes daquele lado descem do planalto por cavernas. Um dos maiores destes riachos é o Gurutuva e subindo-se por íngreme caminho pelos aludidos rochedos, logo se chega à sua embocadura na montanha. Sendo esta caverna de uma declividade assustadora, nunca será explorada em todo o seu percurso e não é crível que haja ali depósito qualquer, que possa recompensar um esforço de investigação.” Aparentemente, Krone estava certo em relação a suas observações paleontológicas, porém os segredos do Gurutuva seriam sim desvendados, mas isso demoraria ainda mais de 100 anos para acontecer. Continua na página 27
Foto: Trecho de cachoeiras do Gurutuva oferece grande dificuldade tĂŠcnica.
Continuação
A primeira exploração Graças a um contato direto por e -mail com Michel Le Bret, pude sanar algumas dúvidas a respeito do primeiro mapeamento da caverna. Contando com a ajuda do Sr. Vandir, morador do Bairro da Serra, em 1º de maio de 1964 o Abismo do (a) Gurutuva foi explorado pela primeira vez com a equipe composta por Luiz Carlos Marinho, Pierre Martin, Guy Collet e Maurice Lourette. A descrição encontrada em artigo publicado no periódico Espeleotema, da SBE, revela a dificuldade da época
com a água e o grande desnível da cavidade, sendo que Guy Collet tentara atingir a base de uma cachoeira de 18 metros com escadas, porém o grande volume de água o impediu de prosseguir, chegando então a -42 metros de profundidade. Instigados pela boa perspectiva que o abismo proporcionava, após dezessete dias da primeira investida, outra equipe se forma para dar andamento aos trabalhos, agora contando com Michel Le Bret, Guy Collet e Claude Chassan. Nesta ocasião o volume do córrego estava sensivelmente mais baixo, os exploradores
finalmente venceram o lago a -42 m e se depararam com uma fenda muito profunda e estreita que, segundo o artigo, não desceram, mas realizaram a medida com uma corda, somando mais 38 metros ao desnível e totalizando 80 metros, com 104 de desenvolvimento. Le Bret, por outro lado me conta por e-mail que diferentemente do artigo publicado, Claude Chassan, considerado o mais ―magrinho‖ da turma chegou sim a descer a fenda e encontrou um fundo com lama e que seria possível prosseguir, porém isso nunca aconteceu. Outra informação
interessante confidenciada por Michel foi a descoberta da Alambari de Cima no dia em que voltavam do Gurutuva: “Chegando perto do ALAMBARI, Vandir nos diz que por perto tinha um buraquinho soprando vento. Usando uma vara como alavanca, conseguimos mover algumas pedras e abrir um buraco de 20 cm. Consegui passar e jogar uma escada. Cheguei em cima de um desmoronamento. Em baixo, tinha um rio. Segui rio acima e o teto começou a baixar. Prossegui quase engatinhando e de repente dei
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numa sala. Voltei para chamar os outros. Exaustos por um dia de marcha sem comida nem reserva de luz, dividimos uma barra de chocolate, e assim descobrimos a caverna do ALAMBARI de CIMA”. A investida do GPME Não se sabe ao certo quando foi a primeira tentativa de integrantes do GPME em explorar o abismo, mesmo porque, na matéria encontrada no informativo Quebra-Corpo Nº 9 de 1997-1998, existe somente uma citação que a equipe estaria retornando para a caverna. Mais uma dúvida paira sobre esta nova tentativa, praticamente 30 anos após o primeiro mapa, que aparentemente fora motivada por uma documentação fotográfica e re-mapeamento da caverna que tinha sua importância por constar na lista do Krone.
A equipe foi composta por Roberto Rodrigues, Chico, Edna, Claudia e um ―EU‖ que não se sabe corretamente quem é, pois a matéria não é assinada e o autor não se identifica no texto, uma verdadeira pérola editorial! Não se sabe se ocorreram outras saídas, ou se o trabalho rendeu a elaboração de algum mapa, mas o fato é que mais uma vez optou-se por seguir o curso do rio, trajeto já feito por Michel, Pierre, Guy e Cia, não evoluindo muito mais no desenvolvimento da caverna. A grande descoberta Em meados de 2006, integrantes da TRUPE Vertical, de Vinhedo, instigados pelos mistérios e dificuldades do abismo, resolvem explorá-lo melhor. Após duas investidas seguindo o mesmo rumo das equipes que os antecederam, chegaram ao final da fen-
da e também não conseguiram passar. Porém, a equipe resolve seguir pela então pequena galeria seca e tentar avançar. Após descer por baixo de uma grande laje de calcário, se deparam com a galeria larga e totalmente aberta à sua frente e percebem que já haviam ultrapassado em muito o local já conhecido. Após algumas investidas, muita ralação, quebra-corpos, cachoeiras, e teto baixo, os integrantes da TRUPE chegam a um sifão e imaginam ser o final da caverna. Nesta ocasião ocorre outra grande descoberta, o que iria tornar a exploração ainda mais importante. Na base da última cachoeira, um lago repleto de bagres cegos, mas quanto a isso vou comentar mais adiante. Voltando à exploração, os integrantes da TRUPE, Beto, Leo, Nabu e Papi, impressionados com a intensidade e o tamanho do abismo, sentem a necessidade de convidar outro grupo, mais familiarizado com mapeamento, para enfim saber suas reais dimensões. Assim, em 2007 a UPE inicia os trabalhos de topografia.
gar até um pequeno salão de descanso apelidado de ―mocó‖, aliás um apelido muito bem dado! Mais uma vez o Gurutuva nos prega uma grata surpresa e a equipe responsável por mapear até o sifão faz a descoberta de outra galeria e a
Enfim o mapeamento Uma primeira saída é marcada para o mesmo ano com integrantes dos dois grupos. É montada uma estratégia para iniciar o mapeamento, vindo do final da caverna para a saída, facilitando assim o acesso a cada nova investida. Duas equipes são montadas e se dividem já próximo ao final conhecido da caverna, no lago dos bagres; uma equipe deveria descer o rio do lago até o sifão e outra já ir subindo as cachoeiras e tentar che-
Foto: Passagem ignorada pelos primeiros exploradores levou a uma caverna incrível
caverna continua bem mais do que o esperado. Os integrantes ficam explorando o conduto por horas e voltam sem mapear nada. Pronto, nossos planos tinham ido caverna abaixo, literalmente. Agora, com um tre-
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cho de topografia ―jogado‖ no meio O Dono da Terra da caverna, precisávamos voltar lá e continuar o mapeamento rio abaixo. Todos sabem dos problemas do Aqui vale uma ressalva pois, o PETAR no que diz respeito à situaGurutuva é uma caverna altamente técnica e de difícil exploração, exigindo grande preparo físico e psicológico dos exploradores. O frio é intenso, o desconforto absurdo, se você não está pendurado na beira de um precipício, está dentro da água ou apertado em uma fenda, escalando uma cachoeira ou travado em um quebra -corpo. Somado a isso ainda existe o risco iminente de inundação, o que pode ser mortal em muitos trechos da caverna. Aliás uma equipe em 2008 provou desta experiência, e por sorte estavam muito próximos da entrada, o que facilitou sua evacuação. Confira o relato completo na edição X do Desnível Eletrônico, no site da UPE — www.upecave.com.br. A necessidade de explorar e mapear o abismo somente no inverno e os requisitos técnicos dos exploradores fez com que o mapeamento demorasse mais do que o normal. Durante os anos de 2008 e 2009 foram feitas mais 3 saídas para mapeamento, trabalhando em média 12 horas dentro da ca- Mapa 3: Perfil do trecho das cachoeiras, único lugar no Gurutuva onde verna, com retorno ao Bairro da contrada por Michel e sua trupe Serra junto com os primeiros raios de ção irregular de terras em seu entorsol na manhã seguinte. Com todo o no e até mesmo dentro dos limites do conduto do rio explorado e topografa- parque. Em 15 de maio de 2010, esdo e sem encontrar novas galerias, távamos prontos para iniciar mais usó restava o mapeamento do trecho ma jornada ao abismo, equipamento antigo, perto do sumidouro e o dese- pronto, autorização nas mãos e lá vanho de um trecho de croquis que fora mos nós para a trilha no que seria a perdido. última investida no abismo, justamen-
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te o trecho das cachoeiras. Passando sempre soou como um desafio, mais pela Gruta Alambarí de Baixo, uma um a que o Gurutuva nos impunha. descida com grandes pedras e muita lama dificultava nossa caminhada. PARADOS AI....ONDE VÃO? AQUI É MINHA TERRA, NÃO PODE PASSAR! Estamos com autorização do parque.... TEM MEU NOME AI? .....não, é uma autorização para pesquisa, não somos turistas... NÃO IMPORTA, NÃO VAI PASSAR! Não dá pra explicar o que passa na cabeça uma hora destas, vindo de São Paulo, horas de estrada, planejamento, na última investida para fechar o mapa e me aparece esse ―infeliz‖ e do alto de seu ―pangaré‖ se acha o ―DONO DA TERRA‖! ....senhor, não somos turistas, não vamos causar problemas.
NÃO, ESTAS TERRAS SÃO MINHAS, O PARQUE NUNCA e é necessário técnicas verticais. Acima a passagem que não foi enME DEU DINHEIRO ALGUM, PORTANTO ESTAS TERRAS Até ali tudo normal, pois já estáva- SÃO MINHAS, JÁ ERAM DO MEU mos acostumados a passar pelo local PAI ANTES DE MIM. e as histórias que ouvíamos sempre que marcávamos saídas para o abis- OK..OK...então o que podemos fazer mo eram as mesmas: ameaças de para compensar o Sr.? que ―jagunços‖ poderiam ―atirar‖ em quem tentasse passar pelas terras do BOM...DEIXEM UMA CAIXINHA CO―Sr. Mineiro‖. Na nossa cabeça isso MIGO E TUDO BEM!
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Se soubéssemos que tudo era uma questão de dinheiro teríamos passado menos nervoso. Uma dúvida ficou incomodando nosso pensamento naquela tarde, pois o Sr. Mineiro estava em seu pangaré no meio da trilha nos esperando, e quando chegamos ele deixou escapar... ‖vocês demoraram‖! Agora eu pergunto, como ele sabia que nós passaríamos pela trilha? Será que a informação ―vazou‖? Bom, isso jamais saberemos. Biologia
exemplar em armadilha (covo), mas houve um acidente na saída da caverna e o bagre foi derrubado de volta na mesma. Voltei muitas vezes à Alambari com redes e covos, mas nunca mais vi ou capturei nenhum exemplar nessa caverna. O mesmo com meus alunos que estiveram lá recentemente, de modo que a população pode ser considerada extinta nessa localidade - embora sempre haja a esperança de recolonização a partir da Gurutuva, embora até o mo...já estávamos acostu- mento não haja emados a passar por ali, vidências disso vir as histórias que ouvía- ocorrendo.”
A importância do mapeamento mos sempre que marcáAluna e oriense confirmou com a observação de vamos saídas para o a- tada de Eleonora espécimes de ba- bismo eram as mesmas, Trajano, Ana Luíza quem está coorgre cego, que até a m ea ç as de que édenando os trabaaquele momento “jagunços” poderiam lhos de campo e eram declarados extintos no siste- “atirar” em quem ten- as análises laborama Alambari. O úl- tasse passar pelas ter- toriais. As pesquisas ainda não são timo relato da exisras do “Sr. Mineiro”... conclusivas, exatência de bagres mes de DNA estão no sistema é de Eleonora Trajano, que por e-mail me em curso e foram observadas certas diferenças morfológicas que sugerem relatou o seguinte: uma nova espécie, porém isso ainda “...quando estava desenvolvendo não pode ser afirmado. Outros espécimes precisam ser meu trabalho de Doutorado, em meados da década de 1980, tive informa- coletados para novas análises e aí ções locais (Vando, JJ e outros) de sim poderem concluir os estudos. Aque, nas décadas de 1950-60, ba- na Luíza afirma ainda que se confirgres cegos eram vistos na ressurgên- mada a nova espécie, será um marco cia da Alambari de Cima (do mesmo no estudos destes peixes no Vale do modo que se observa ainda hoje nas Ribeira, pois esta seria a segunda iBombas), aparentemente sendo co- dentificada. Uma expedição está sendo montada para auxiliar na coleta de muns na caverna. outros espécimes, uma vez que o aQuando a visitei durante meu cesso ao local onde os bagres estão doutorado, consegui pegar um único abrigados é muito difícil.
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Dados do Mapa Final O mapeamento do Gurutuva foi 1. finalizado pela UPE em maio de 2010. O mapa final apresenta 1764 metros de linha de trena, 1496 metros de desenvolvimento horizontal e 175 metros de desenvolvimento verti- 2. cal. Comparado com o primeiro mapa elaborado por Michel Le Bret, com desenvolvimento de 104 metros e 3. desnível de 80 metros, percebemos a importância de novas explorações e levantamentos topográficos em algumas cavernas no PETAR e outras regiões.
Referências Relatório de exploração da Sociedade Brasileira de Espeleologia — Revista Espeleo-tema, v.2 p.2 de 1971. Abismo da Gurutuva - Informativo Quebra - Corpo número 9 de 1998. Krone, R. “Grutas Calcáreas do Valle da Ribeira ― - Revista do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas, nº 7, p. 90 95, julho 1904.
Foto: Bagre Cego coletado no Abismo do Gurutuva — Laboratório de Pesquisa Subterrânea da USP Autora: Ana Luíza
ILLON R
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Notícias rápidas sobre a UPE e a espeleologia nacional e internacional
UPE tem nova diretoria No mês de março de 2011, foi eleita a nova diretoria da UPE para o biênio 2011—2012, assim constituída: Presidente: Fabio Kok Geribello Vice-Presidente: Heros Lobo Tesoureiro: Ronald Welzel Secretário: Ricardo Martinelli Almoxarife: Eduardo Portella
Recall—GriGri Petzl http://www.petzl.com/en/outdoor/news/ products-news-0/2011/01/24/grigri-2-newpetzl-belay-device-assisted-braking
Site Entrou no ar o site do Laboratório de Estudos Subterrâneos, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva – DEBE, da Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR:
www.biosub.ufscar.br
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Foto gentilmente cedida por Camilla Albano—visite: http://www.flickr.com/photos/camilla_albano/
Manifestação Nacional Contra o Novo Código Florestal Em várias cidades e capitais do país, a sociedade civil apartidária se reuniu no dia 19 de junho para pedir a ―não‖ aprovação do novo código florestal e a paralisação da construção da usina de Belo Monte. A manifestação em São Paulo foi no vão livre do MASP e contou com representantes da espeleologia paulista. Desnível 13/14 - Notícias
Espeleologia & Medicina Caros amigos, a partir desta edição vamos falar um pouco sobre doenças tropicais. Em nossas atividades estamos expostos a diversos patógenos que podem levar ao desenvolvimento de doenças e precisamos saber seus sintomas e como são os tratamentos, bem como ações para tentar evitá-las. A primeira doença a ser descrita é a Febre amarela. Doença infecciosa aguda, causada por um vírus RNA, arbovírus do grupo B, ou seja, vírus transmitidos por artrópodes (Arthropod Borne Viruses) do gênero Flavivírus, família Togaviridae, com transmissão através de vetores alados. É basicamente uma antroposoonose, isto é, uma doença de animais silvestres, que acomete o homem acidentalmente. Diferencia-se em dois padrões epidemiológicos: o urbano e o silvestre. O primeiro deve-se à ação de um mosquito de hábitos urbanos, o Aedes Aegypti, que transmite a doença de pessoas doentes a uma população sensível, e volta a causar temor pela possibilidade de reemergência, devido à intensa proliferação do mosquito nos grandes centros urbanos atualmente. O ciclo silvestre, por sua vez é mantido pelas fêmeas de mosquitos antropofílicos (especialmente do gênero Haemagogos) as quais necessitam de sangue para amadurecer seus ovos: têm atividade diurna na copa das árvores, ocorrendo a infecção do homem ao invadir o ecossistema viral. Após um período de incubação média de três a seis dias, surgem os primeiros sintomas, febre alta, cefaléia, congestão conjuntival, dores musculares e calafrios. Algumas horas depois podem ocorrer manifestações digestivas, tais como: náuseas, vômitos e diarréia, correspondendo à fase em que o vírus está circulando no sangue (Período de Infecção), evoluindo em dois a três dias à cura espontânea (período de Remissão). Formas graves da Febre Amarela podem surgir um ou dois dias após a cura aparente, observando-se aumento da febre e dos vômitos, prostração e icterícia (período de intoxicação). Em seguida surgem outros sintomas de gravidade da doença, tais como: hematêmese (vômito negro), melena (fezes enegrecidas), petéquias (pontos vermelhos) e esquimoses (manchas roxas) em várias regiões da superfície corporal, desidratação, agitação, delírio, parada renal, torpor, coma e morte (em cerca de 50% dos casos). O diagnóstico é essencialmente clínico, sendo que nas formas graves, somente é obtido post-mortem. Não existe tratamento específico, portanto utiliza-se de medicação sintomática, preferencialmente o Paracetamol, evitando-se os salicilatos (Ácido Acetil Salicílico e derivados), em função do risco de hemorragias. Pacientes com formas graves da doença necessitam de cuidados de Terapia Intensiva. Na prevenção da Febre Amarela fundamental é a aplicação da vacina Anti-Amarílica, na dose de 0,5 ml por via subcutânea, com reforço a cada dez anos. Não se recomenda a aplicação em gestantes e portadores de imunodeficiência (inclusive pelo Vírus da Imunodeficiência Humana). Condições ecoepidemiológicas da Amazônia não permitem a instituição de medidas profiláticas adequadas. Não existe vacina disponível para uso clínico.
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Novas descobertas em Mamb A cada nova expedição mais cavernas são descobertas e mapeadas. Novas galerias surpreendem na Gruna da Tarimba. ABSTRACT The 2010 expedition to Mambaí, GO, was very much expected by UPE due to the in 2009 of the “Monumental Room” at the southern of Tarimba cave. There was many possibilities to find new conducts and increase the length of the cave. During eight days of work the group surveyed 1900 meters of conducts in eight different caves and eleven new caves were found and registered. There is still a lot of work to do in the region and the 2011 expedition is already being planned.
Texto e Imagens: Ricardo Martinelli (rsm@fotoabout.com)
Foto 1: Equipes exploram galerias superiores na Gruta das Dores II
baí
O
ano de 2010 iniciou com uma grande expectativa para a realização de mais uma expedição em conjunto com o GREGO em Mambaí, GO. A ansiedade se justificava pois a equipe de 2009 trabalhou brilhantemente, dentro de suas limitações, frente ao escasso número de participantes, na porção mais ao sul da Gruna da Tarimba, se deparando com o ―salão monumental‖, que revelou várias possibilidades de continuação, inclusive com um afluente do córrego da tarimba a ser explorado.
A alegria era imensa, uma expedição sempre anima a todos, a convivência, os desafios, o aprendizado, as trocas de experiência, tudo o que envolveu esta semana gerou sentimentos inexplicáveis. Depois de uma logística interessante, mas complicada, com integrantes seguindo para Goiás de avião e por nossas estradas, todos se encontraram em Brasília e rumaram para Mambaí em uma ―possante‖ Kombi. Entre integrantes da UPE e do GREGO, participaram das atividades 9 espeleólogos que durante os trabalhos se revezaram entre mapeamentos, explorações e prospecções. Logo no primeiro dia, para dividir as equipes e esquentar os motores, fomos para uma região adjacente à Gruna da Tarimba, mapear duas cavernas descobertas na expedição de 2007. Localizada na fazenda ―Das Dores‖, a Gruta das Dores I tem boa ornamentação, um pórtico interessante, porém suas dimensões são pequenas, possibilitando seu mapeamento completo. Entretanto, uma surpresa negativa chocou os participantes ao constatarem que os moradores da fazenda, por comodidade, falta de opção ou descaso mesmo, despejam fraldas de criança em uma fenda acima da caverna, fazendo com que parte deste material caia dentro da cavidade, uma visão desoladora. A segunda equipe foi em busca da Gruta das Dores II, cuja entrada encontra -se em meio a um desmoronamento. Seguimos a coordenada antiga, mas como os paredões deixavam o GPS meio confuso, demoramos um pouco para acessar a caverna, que só conseguimos após ―desescalar‖ uma fenda de mais ou menos 5 metros e ai sim por dentro encontrar a entrada principal. Continua na página 43
Fotos 2 e 3: As caminhadas são curtas porém o sol é de matar; abaixo vemos um rio de calcita na Dores II.
Novas galeria a serem exploradas
Gruta das Dores II
Mapa em fase de elaboração
Galerias labirínticas apontam na direção da Gruna da Tarimba
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Continuação
A Gruta das Dores II possui em sua porção inicial uma feição labiríntica, afunilando em um conduto ―meândrico‖ que só dá passagem em sua porção superior, dificultando bastante sua exploração. Vencida esta etapa, a caverna ―abre‖ em duas frentes, tomando proporções maiores e seguindo no sentido da Gruna da Tarimba. Neste primeiro dia, iniciamos seu mapeamento e conseguimos praticamente terminar o labirinto. Nosso intuito era voltar mais uma vez até o final da expedição e tentar finalizar seu mapeamento.
Fotos 4 e 5: Na Gruna da Tarimba, a passagem do Camboja e uma pequena abertura que facilita o acesso à porção mais sul da caverna.
Tarimba Como nas expedições anteriores, a Gruna da Tarimba seguiu como nossa prioridade número 1. Justifica-se este fato, pois desde a priFoto 6: Galeria superior sendo mapeada na Tarimba.
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meira investida dos grupos em seu re -mapeamento, a caverna mostrou-se uma fonte inesgotável de galerias, condutos e salões, atingindo hoje a 11ª posição entre as maiores do país, com mais de 9000 metros de projeção horizontal. Vários são os locais onde galerias e mais galerias ainda se espalham, principalmente acima da linha do rio, onde existe pratica-
mente ―outra caverna‖, incluindo vários locais labirínticos. Duas frentes foram abertas, sendo a primeira a partir do Salão Monumental, onde as equipes se dividiram, uma trabalhando em um conduto superior e outra em um afluente que depois foi apelidado de conduto do ―caranguejo‖, pois o tempo todo
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os exploradores ficavam de lado, com paredes distantes menos de meio metro uma da outra, tornando a progressão muito penosa e lenta. O conduto ainda apresenta possibilidades de continuação e deverá ser melhor explorado na próxima expedição. A segunda equipe trabalhou em um conduto superior bem difícil, com muito teto baixo e apertado, finalizando em uma base fixa mais à frente na galeria do rio. A segunda frente de trabalho na caverna atuou em galerias superiores à jusante da ―passagem do Camboja‖, onde as equipes topografaram um longo trecho acima do rio, seguindo praticamente o mesmo sentido, porém de forma totalmente independente. Os trabalhos evoluíram até um local onde várias possibilidades se abriram, sendo que a caverna se torna labiríntica e com grande potencial para evolução da topografia. Destaque também para a tentativa de conexão da Tarimba com a Gruta Pasto de Vacas, onde uma equipe entrando pela PV tentou em vão a junção. Forçando o rio a montante, a galeria fica muito estreita e bem obstruída, além de bastante instável. Depois de muita ralação desistiu-se da tentativa, porém ainda não podemos dizer que é impossível a conexão, devendo ser forçada a passagem em novas expedições.
Fotos 7: Gruta Borรก IV em processo de mapeamento. Seu rio volumoso torna o trabalho bem agradรกvel.
Rio das Pedras Quem explora o belíssimo cerrado do centro oeste de nosso país à procura de cavernas sabe da aridez que existe geralmente na superfície. Especialmente na região de Mambaí, muitas cavernas possuem uma temperatura altíssima, verdadeiras ―saunas‖ naturais. Esse fato se deve ao baixo volume dos rios e à pouca profundidade do carste local. Porém, quando encontramos uma caverna que apresenta em seu interior um rio com volume considerável, a temperatura fica mais agradável e nosso trabalho também.
Mapa da Gruta Borá. Novas galerias foram descobertas, o que deve ampliar seu atual desenvolvimento.
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Fotos 8 e 9: A Gruta Santa Colomba possui pórtico e galerias bem amplas, mas seu desenvolvimento foi pequeno.
O vale do Rio da Pedras é daqueles lugares incríveis onde a quantidade de cavernas impressiona, um verdadeiro ―parque de diversões‖ espeleológico. Durante um dia inteiro topografamos a Gruta Borá IV com 955 metros de projeção horizontal e já cadastrada em 2002 pelo pessoal do GREGO e do CECAV/GO. A caverna é utilizada turisticamente pelas agên-
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cias locais e possui grande importância por possuir um aporte de água singular. Nesta data também foram plotadas algumas entradas a serem exploradas posteriormente. No vale do Rio das Pedras também foram cadastradas e mapeadas as Grutas Santa Colomba, Areião, Travertinos e Rio das Pedras IV.
visível o prejuízo causado pela lavra, inclusive o final da caverna é um desmoronamento muito instável, nitidamente causado por explosões. Várias referências ainda necessitam de investigação e o potencial do vale para novas descobertas é alto.
Outra caverna que merece destaque no vale do rio das pedras é a Santa Colomba. Possuindo lindo pórtico, a caverna é cortada pelo próprio Rio das Pedras, de grande volume, possuindo galerias largas porém baixas. Seu nome se deve à sua localização, dentro das terras de uma mineradora de mesmo nome. Aliás, é
As Grutas Pasto de Vacas I e II, mapeadas nas primeiras expedições por pertencerem ao sistema de drenagem da Tarimba, possuem grande importância local. Nesta última investida constatamos que na época erroneamente consideramos a caverna dividida e a nomeamos em I e II. Em uma nova inspeção, constatamos o
Pasto de Vacas
Foto 10: A gruta Pasto de Vacas, após nova inspeção e uma topografia de junção, será considerada uma única caverna.
PV I
PV II 49
erro e a dolina existente agora está sendo considerada somente uma clarabóia, sendo que o desenvolvimento das cavernas conectadas chega em torno de 1500 metros. Nesta última investida à caverna, foi realizada uma topografia de conexão, unindo as duas linhas de trena. Conexão na Tarimba No último dia foi tentada a conexão entre a Tarimba e a Gruta Pasto de Vacas. Uma equipe de 4 espeleólogos entrou por uma galeria superior e acessou o rio, tentando avançar à montante. O esforço foi enorme, inclusive removendo pedras e areia até um local onde a instabilidade ficava
evidente e a prudência falou mais alto, impossibilitando o prosseguimento. As esperanças na conexão ainda não foram totalmente perdidas e uma nova tentativa deve ser feita pela Tarimba, removendo areia e tentando avançar à jusante, talvez até com duas equipes simultâneas. Resultados Apesar de novamente contarmos com um número reduzido de espeleólogos, os números desta expedição foram significativos. Em 8 dias foram mapeados cerca de 1900 metros de galerias em 8 diferentes cavernas,
Fotos 11, 12 e 13: Muita caminhada com “sol a pino”, carro atolado e cavernas descobertas: histórias como estas fazem das expedições eventos únicos.
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sendo que 6 delas tiveram seu mapa concluído. Apenas 2 dias foram reservados para prospecção, rendendo 11 novas cavernas e muitas outras indicações a serem checadas posteriormente.
No momento que escrevo este artigo, pelo fato desta edição do Desnível ter atrasado bastante, já preparamos mais uma investida em Goiás, assim, aguardem novidades no próximo informativo.
Foto 18: Cânion do Porco, um dos acessos à Gruna da Tarimba
Fotos ao lado: A equipe, o equipamento, a Kombi, as formações na Gruta das Dores II e I e os moradores da região, sempre solícitos para ajudar na descoberta de novas cavernas.
MARCHE!
Tudo o que a UPE fez ou participou no ano de 2010
espeleoLOG
05/1/2010 a 07/1/2010
17/4/2010 a 18/4/2010
Local: Felipe Guerra—RN Objetivo: Apoio logístico a pesquisador—Chico Bill Caverna(s): Gruta do Trapiá Participantes: Fabio Kok Geribello Gabriela Slavec Chico Bill
Local: PETAR—Caboclos Objetivo: Curso de Topografia Caverna(s): Espirito Santo Participantes: Fabio Kok Geribello Gabriela de Britto Slavec Marcelo Fontes Neves Silmara Zago Luis Gustavo Pinheiro Machado Heros Augusto Santos Lobo
24/4/2010 a 25/4/2010 05/3/2010 a 07/3/2010 Local: PETAR—Caboclos Objetivo: Saída de iniciação espeleológica Caverna(s): Aranhas; Chapéu e Água Sumida Participantes: Leandro Valentim Milanez Marcelo Gonçalves Mauro Zackiewicz Luis Gustavo Pinheiro Machado
27/3/2010 a 28/3/2010 Local: PETAR—Caboclos (Vale do Rio Temimina) Objetivo: Mapeamento e exploração Caverna(s): Furo da Agulha Participantes: Ricardo de Souza Martinelli Marcelo Gonçalves Nivaldo Possognolo
02/4/2010 a 04/4/2010 Local: PETAR—Santana Objetivo: Monitoramento atmosférico Caverna(s): Santana Participantes: Silmara Zago Luis Gustavo Pinheiro Machado Heros Augusto Santos Lobo
Local: PETAR—Camargos Objetivo: Topografia Caverna(s): Gurutuva Participantes: Ricardo de Souza Martinelli Eduardo Tastardi Portella Marcelo Gonçalves Mauro Zackiewicz
15/5/2010 a 16/5/2010 Local: PETAR—Caboclos (Vale do Rio Temimina) Objetivo: Topografia e exploração Caverna(s): Furo da Agulha Participantes: Fabio Kok Geribello Ricardo Barone Gabriela de Britto Slavec Ronald Jorge Welzel Ricardo Ulhôa Cintra de Araújo Silmara Zago Heros Augusto Santos Lobo Nivaldo Possognolo
23/7/2010 a 01/8/2010 Local: Mambaí—GO Objetivo: Topografia e exploração Caverna(s): Tarimba; Dores I e II; Borá IV; Rio das Pedras IV e V; Santa Colomba; Areião; Travertinos Gigantes; Suindara; Córrego do Arroz I, II e III; Assentamento Cyntia Peters I e II e outras. Participantes: Ricardo de Souza Martinelli Marcelo Fontes Neves Eduardo Tastardi Portella Mauro Zackiewicz Fábio Renato de Souza Cruz Emílio Calvo (GREGO) Riva (GREGO) Antonio (GREGO)
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20/8/2010 a 22/8/2010 Local: PETAR—Caboclos (Vale do Rio Temimina) Objetivo: Topografia e exploração Caverna(s): Furo da Agulha Participantes: Leandro Valentim Milanez Marcelo Gonçalves Mauro Zackiewicz Michel Sanches Frate Luis Gustavo Pinheiro Machado Felipe Costa Sergio Luiz de Siqueira Bueno
13/11/2010 a 15/11/2010 Local: PETAR—Caboclos (Vale do Rio Temimina) Objetivo: Exploração, mapeamento e prospecção. Caverna(s): Gruta da Onça Participantes: Mauro Zackiewicz Luis Gustavo Pinheiro Machado
20/11/2010 a 20/11/2010 04/9/2010 a 05/9/2010 Local: PETAR—Camargos Objetivo: Topografia Caverna(s): Gurutuva Participantes: Ricardo de Souza Martinelli Eduardo Tastardi Portella Marcelo Gonçalves Mauro Zackiewicz
Local: SBE—sede em Campinas Objetivo: Apresentação do novo CNC / Comemoração de 41 anos da entidade. Caverna(s): —————————— Participantes: Fabio Kok Geribello
04/12/2010 a 04/12/2010 11/9/2010 a 11/9/2010 Local: Campo escola—Coringa Objetivo: Reciclagem de Vertical Caverna(s): ————————Participantes: Fabio Kok Geribello Ricardo de Souza Martinelli Paulo de Valhery Jolkesky Eduardo Tastardi Portella Michel Sanches Frate Luis Gustavo Pinheiro Machado
16/10/2010 a 17/10/2010 Local: Arapeí—SP (Serra da Bocâina) Objetivo: Exploração—Informações sobre mineração e possível denúncia sobre destruição de cavernas—Lavra de Dolomito. Caverna(s): Gruta de Arapeí e da Chacina Participantes: Ricardo de Souza Martinelli Eduardo Tastardi Portella Bruno Lenhare
Local: Sítio do Urso Objetivo: Churrasco de final de ano Caverna(s): —————————— Participantes: Fabio Kok Geribello Ricardo Barone Gabriela de Britto Slavec Ricardo de Souza Martinelli Paulo de Valhery Jolkesky Ronald Jorge Welzel Silmara Zago Josef Herman Poker Michel Sanches Frate Luis Gustavo Pinheiro Machado Heros Augusto Santos Lobo
30/12/2010 a 01/01/2011 Local: PETAR—Santana Objetivo: Monitoramento atmosférico Caverna(s): Santana Participantes: Silmara Zago Luis Gustavo Pinheiro Machado Heros Augusto Santos Lobo
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Imagem em Destaque Cachoeiras do Abismo da Gurutuva — PETAR / SP Autores: Ricardo Martinelli / Lendro Valentin / Mauro Zackiewicz / Marcelo Gonçalves e Eduardo Portella
Dados Técnicos: Máquina - Nikon D300 / Velocidade - 4seg. / Abertura - f 6.3 / ISO - 400 / Distância focal - 24mm / Tripé / Iluminação - Carbureteiras, Flash e Lanternas / Pós Tratamento - Adobe Lightroom