Informativo da União Paulista de Espeleologia http://www.upecave.com.br
Ano 2 - Número 4 Julho/Dezembro de 2005
Serra da Bodoquena Expedições Areado Topografia Memória: Gruta das Areias
1
Índice
Comissão Editorial Ricardo Martinelli; Gabriela Slavec; Renata Shimura; Leandro Valentim; Eduardo Portella; Paulo Jolkesky
Diagramação Ricardo Martinelli
2 Editorial
Yes...... nós temos CNPJ!!!!
6 Topografia Artigo completo sobre as técnicas utilizadas no Brasil.
14 Areado 2005 Relato das expedições.
Revisão Renata Shimura
21 Serra da Bodoquena Trabalho em conjunto em uma das mais belas regiões cársticas do país.
Expediente União Paulista de Espeleologia Endereço para correspondência: Rua Loefgreen 1291, Cj 61 - São Paulo - SP CEP: 04040-031 Desnível é uma publicação eletrônica semestral da União Paulista de Espeleologia (UPE). As opiniões expressas em artigos assinados são de responsabilidade dos respectivos autores. As matérias não assinadas são de responsabilidade dos editores e não refletem necessariamente a opinião da UPE. Artigos publicados no Desnível podem ser reproduzidos na íntegra desde que citados fonte, autor, URL e data de consulta na web. Reproduções parciais somente com autorização prévia dos editores. O informativo em formato PDF podera ser repassado para outras pessoas e listas de discussão. Para enviar um artigo utilize o e-mail: desnivel@upecave.com.br As datas limite são os meses de junho e novembro. O Desnível se encontra em regularidade com as leis anti-spam. Se deseja não mais recebê-lo, favor enviar e-mail para: remover@upecave.com.br
Capa: Gruta Córrego Azul II. Foto tirada durante a 2ª Avaliação Ecológica Rápida - IBAMA/ CECAV-MS - Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra da Bodoquena.
Topografia na gruta Areado 3, várias incursões para a região marcaram o segundo semestre 2005.
Veja Também
3 Memória 5 Plantão Médico 28 Log de Atividades 29 Equipamentos
Autor: Marcos L. F. Lourenção - GESB
30 EspeleoPhoto 30 Maillon Rapid 31 Foto do Semestre
Editorial
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Yes ...... nós temos CNPJ!!! Texto: Ricardo Martinelli
F
inalmente, após 11 anos de existência a UPE adquiriu personalidade jurídica. Foi uma longa luta, existiam somente um estatuto e a ata de constituição registrados em cartório, em um primeiro e longo momento, tentamos resgatar esta memória, refazendo atas e tentando recontar nossa história. Infelizmente as e x i g ê n c i a s infindáveis do cartório nos desanimavam com o passar dos anos. Os integrantes do grupo não queriam abrir mão do passado e insistiam em tentar retroagir e registrar todas as atas que faltavam, e lá íamos nós correr atrás de assinaturas de pessoas que nem estavam mais entre nós. Por fim, quando as esperanças já estavam no final, resolvemos então re-fundar o grupo, com novo estatuto, nova ata de constituição e partir do zero para uma nova vida. Tivémos ainda que esperar a infindável greve da receita federal, e finalmente em meados de Dezembro de 2005, o processo de
Contate o Autor rsmartinelli@globo.com
nosso registro chegava ao fim. Parabéns a todos que se empenharam nesta tarefa, e que em 2006 possamos colher os frutos deste esforço! Temos surpresas também no Desnível, a formatação foi totalmente remodelada e estamos chegando cada vez mais perto de um formato de “revista eletrônica”. Nesta edição vocês podem reparar que tivemos a introdução de uma “capa”, os “cabeçalhos” foram remodelados, indicando agora qual o assunto referente a cada sessão do desnível, desta maneira o informativo poderá ser impresso e folheado para uma leitura mais confortável, ou até arquivado nas bibliotecas dos grupos e instituições. Outra boa notícia é que batemos um recorde, são mais de 30 páginas de pura espeleologia, com fotos, mapas e textos de altíssima qualidade, tudo trabalhado e editado para que possa ser uma fonte séria e permanente de informação.
Boa Leitura!
Memória
3 Areias de Baixo - Relatório de Exploração Texto e ilustrações: Meca - Luiz Guilherme 1966 / Clube Alpino Paulista - CAP
ABSTRACT ABSTRACT On this issue of Desnivel we’ll have another historic article from the reports from CAP - Clube Alpino Paulista - written by Meca (Luiz G. Assumpção). It tells us about one of the first speleological explorations at the Areias Cave when not much of the actual information was known. The report is rich with logistic and exploration details and was writen on a very pleasure way.
O
Grupo foi composto pelos seguintes elementos:
1. Peter Slavec (Guia Topógrafo); 2. Luiz G. Assunpção (Guia - Fotógrafo); 3. Marques; 4. Salvador; 5. Zigrds Dunce;
6. Nelson Ayres. Saída do Grupo da Sede - 13 horas do dia 09/04/66. Chegada à sede - 0 horas do dia 10/04/66. Caminhada de 1 hora até a entrada da gruta. Peter, o único que já havia estado lá, por motivos de ter sido há 5 anos sua última visita, não se lembrava exatamente da entrada e enquanto o grupo se preparava (equipamento), tentei descobrir a entrada: O rio entra na gruta em forma de “sifon” e portanto deve haver outra entrada... Metí-me em um pequeno buraco mais acima junto à uma parede calcárea que internamente era um cubículo de uns 2 m qua-
drados. Na parte inferior desse cubículo, há uma outra estreitíssima passagem por onde me enfiei com dificuldade visto que do outro lado não encontrava apoios bons para os pés. Com a lanterna pude ver que estava sobre o rio e que havia um pequeno salão sob mim. Não tive outra alternativa senão atirarme. Zigurds acompanhava meus movimentos por fora e a ele comuniquei que a saída era logo ali. Ele levou meu material (que havia deixado na entrada de cima) da passagem e chamou os outros. Começamos a penetração caminhando sempre com água pela cintura e as vezes nadando, seguimos por uma galeria sempre lar-
Memória
4 ga e com muito volume d´água. Prosseguimos com facilidade, auxiliados por esse fluxo que até nos empurrava. Os lances de natação eram “trágicos e cômicos” ao mesmo tempo - sacos pesados às costas nos puxavam para o fundo! Uma das características principais da gruta é que tudo, mas tudo mesmo, é recoberto de argila! Não há pedras limpas, nem mesmo no leito do rio (raramente as encontramos), tudo é argila, inclusive o teto. Notamos por diversas vezes a presença de folhas e ramos presos em paredes e teto, mesmo a vários metros acima do nível do rio, provando a tendência desta gruta a imundar-se nos períodos de chuva. Paramos logo após uma curva violenta do rio, onde a correnteza era muita e as águas muito profundas (uns 3 mts). Começamos então a ponderar sobre o prosseguimento ou a retirada daquele local. Os argumentos dessa ponderação eram os seguintes: A favor do prosseguimento: 1. Já que estávamos lá, devíamos continuar até o fim; 2. Tínhamos tempo! Contra o prosseguimento: 1. Já estávamos (desde o começo da exploração) com dificuldades em iluminação, apenas 2 capacetes funcionavam bem; 2. Frio - a maioria do grupo começava a reclamar do frio,
por não haver até agora praticamente saído da água; 3. Insistência de alguns elementos do grupo para retornar; 4. Falta de “beleza” e desinteresse pela gruta (excesso de lama). Como a segunda causa ganhou da primeira, me chamaram e começamos a voltar, tiramos então umas fotos e saímos. Não sei precisamente que horas eram, mas já deveriam ser cerca de 6:30 pois estava o céu indicando os últimos clarões do dia. Já lá fora precisávamos de luz para caminhar. Era noite. Areias de cima Sem parar, desde a saída da caverna das Areais de Baixo, penetramos na Gruta Areias, mas desta vez.... a de cima.
Marques, Nelson e Peter preparavam a comida, Zigurds e Salvador foram atrás de peixes. Eu resolvi ver até onde se podia caminhar “bem”, sem se molhar. Cheguei até a bifurcação da caverna, para a esquerda prosseguia uma galeria quase seca e parcialmente enfeitada à qual pensava voltar em seguida e para a direita prosseguia o rio. Voltei para o “acampamento” e juntos pudemos apreciar o suculento “amendoim-chocolate” do Marques. Mais uma vez fomos todos até perto da bifurcação a caça de peixes - Zigurds pegou um (que aliás trouxe vivo à São Paulo). Deste ponto voltamos - Porque? Ainda não sei....parece que perdemos a vontade de prosseguir. Chegamos cerca de meia noite no acampamento. Conclusão
Muita alegria da turma ao ver que ali não havia lama nem argila, e que não precisava nadar! Formidável agora era o aspecto do grupo. Todos animados. Havíamos decidido entrar nesta gruta por dois motivos: A. O Zigurds queria apanhar um espécime do famoso “Bagre Cego” que só havia aí. B. Ainda era muito cedo para voltar... todos estavam ainda em boas condições físicas. Às 8 horas aproximadamente apareceu a fome e então paramos (perto da entrada) para comer. Enquanto
Não foi feita exploração nenhuma - grupo constituído de elementos pouco interessados e muito “gozadores”, portanto a exploração ficou reduzida a uma simples incursão onde os 6 elementos se divertiram realmente muito! Tempo total (nas duas grutas) de permanência subterrânea - 10 horas. Devo ressaltar também o fato de que o material usado como: lanternas molhadas; bicos entupidos e geradores amassados não é material aproveitável para uma exploração: Nossos capace-
Memória
5
tes (com excessão de 2) não funcionaram bem.
Plantão Médico “Analgésicos”
Observação:
Por Ricardo Martinelli rsmartinelli@globo.com
Este artigo, escrito por Meca - Luiz Guilherme Assunpção, demonstra bem o exemplo de uma excursão de principiantes, quando a espeleologia começa realmente a ter importância no CAP. Estes mesmos CAPistas se tornaram em seguida ótimos espeleólogos do Clube Alpino Paulista.
Agora que já sabemos qual tipo de anti-inflamatório devemos ter em nosso kit de primeiros socorros, chegou a hora dos analgésicos. Quando falamos neste assunto sempre vem aquela idéia de “dor-de-cabeça”, infelizmente não é tão simples assim, quando estamos em locais muito isolados temos que ter a disposição algo que tenha uma eficácia um pouco maior e para isso devemos conhecer alguns tipos de drogas. Analgésicos não narcóticos são usados para dores de leves à moderadas. Eles agem no sítio da dor, não causam dependência e não alteram a percepção individual como os narcóticos podem fazer. O velho parâmetro no controle da dor é a aspirina que faz parte de nossa cesta de medicamentos há cerca de 100 anos, esse medicamento (também conhecido pelo nome técnico de ácido acetilsalicílico ou AAS) age em prostaglandinas, substância envolvida nas reações inflamatórias. Existem certas restrições ao uso da aspirina como úlceras e outras complicações. Um bom substituto é o Paracetamol que não tem certos incovenientes apesar de também possuir algumas restrições quanto a dosagem. Este tipo de medicamento pode ser usado para aquela
“dor-de-cabeça”, dor no corpo após um dia de muito esforço físico na caverna ou alguma pancada. Uma alternativa um pouco mais potente é o Ibuprofeno sódico. Analgésicos narcóticos agem no sistema nervoso central e alteram a percepção do indivíduo.Os narcóticos estão divididos em duas classes: Opióides e opiáceos. Os opiáceos são substâncias que naturalmente ocorrem no ópio (morfina, codeína, etc.), enquanto os opióides podem ser sintéticos, mas com propriedades farmacológicas semelhantes aos naturais. O opiáceo padrão é a morfina. Além de aliviar a dor, os opiáceos também reduzem o medo e a ansiedade. Outros exemplos de opiáceos e opióides são a codeína, meperidina (Demerol), heroína e metadona. Derivados da codeína muitas vezes são combinados com paracetamol ou aspirina. Dentre estes medicamentos o viável de ser ter em um kit de primeiros socorros seria o “Tylex” que é uma codeína, ou o “Tramal” cujo princípio ativo é um derivado da morfina, porém é controlado com receita “azul”. São bons no controle da dor grave como aquelas envolvidas em fraturas, rompimentos ligamentares, cortes extensos ou queimaduras profundas.
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Técnica
Levantamento preliminar das técnicas utilizadas para mapeamento de cavernas no Brasil Autores: Martinelli, R. S.; Geribello, F. K. & Slavec G. B.
ABSTRACT An analysis of 17 questions about surveying caves and processing information to develop a topographic cave map shows the actual situation of cave surveying in Brazil. In the surveying process the main changes in the last years are the using of plumb bob for surveying and the telemeter for measuring the high of cave entrances. The development of specific softwares allowed the cavers to process data easier and quicker and to analyze the precision of collected data. The main used programs are Survex, CorelDraw and AutoCad. Besides all the data collected on techniques and cave survey methodology in use in Brazil this work shows the intention of getting better precision on data survey and consequently the precision of the final version of the map what indicates a continuous development on the national Speleology.
processo de mapeamento de cavernas no Brasil está apenas em seus capítulos iniciais e que existe a chance de discutir como se pode melhorar tal processo, afim de que sejam confeccionados mapas em maior quantidade e sempre com boa qualidade.
Proposição O objetivo deste trabalho foi a análise, mediante a aplicação de questionários, de como são feitos os levantamentos topográficos nas cavernas brasileiras e quais são as técnicas, instrumentos e softwares
mais utilizados atualmente para a confecção do mapa final.
Material e Métodos Para aquisição das informações foi confeccio-nado um questionário (Figs. 1 e 2) contendo 17 perguntas, divididas em “levantamento de campo”, “tratamento de dados” e “digitalização”. A distribui-ção foi exclusivamente feita por meios de comunicação eletrônicos, por e-mail e listas de discussão sobre Espeleologia. Ao todo, mais de 1000 pessoas tiveram acesso ao
Introdução No Brasil, um país de dimensões continentais, é comum e natural que existam várias metodologias sendo aplicadas aos levantamentos topográficos subterrâneos. Diante da grande quantidade de cavidades que são descobertas a cada ano, o espeleólogo lança mão das mais diversas técnicas para coletar dados, processá-los e transformá-los em um mapa que possa servir de auxílio a pesquisadores das mais diversas áreas correlatas. Segundo dados dos cadastros hoje existentes, apenas 1/3 das cavernas já descobertas no país possui um mapa topográfico, sem falar na projeção que se faz para as cavernas que ainda estão por se descobrir. Seguindo esta linha de raciocínio, pode-se dizer que o
Fig 1: Primeira parte do questionário - Levantamento de Campo
7
Técnica
Que metodologia você utiliza para posicionamento das bases topográficas?
34%
52%
3% 11%
Flutuantes
Fixas
Prumo
Fixa / Flut
Fig 2: Segunda parte do questionário - Tratamento de Dados e Digitalização
questionário, estando estas ligadas de alguma forma à exploração, mapeamento, conservação, documentação, preservação e/ou pesquisa de cavidades subterrâneas. Uma grande tabela foi montada a partir das respostas recebidas e a porcentagem de cada uma foi calculada.
Que tipo de instrumentos você utiliza para o levantamento?
6%
79%
B C /AL/Trena
Resultados Foram recebidos 27 questionários respondidos e os resultados podem ser vistos nos gráficos a seguir:
3% 0 %
6%
6%
B V /C LV/Trena
B V /C LV/Trena Laser
Teodolito
Antes de entrar no mérito da pesquisa, se faz necessária
Telêm etro Leika
A bússola que você utiliza está calibrada para o Hemisfério Sul? 4%
7%
Sim Não
Discussão
Outros
Não sei
89%
8
Técnica Como é feita a medição das laterais de cada base? 6% 23%
51%
20%
Estimado Trena
Estimado ap/da vis Trena a Laser
Como é calculada a altura dos salões? 60,00%
59,45%
50,00% 40,00% 32,43%
30,00% 20,00% 10,00%
5,40%
0,00% Estimado
S1 Triangulação
Trena Laser
Você acha importante o fechamento de poligonais durante o levantamento? 100% 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%
0%
Sim
Não
Não sei
0%
uma séria observação: para um universo de 1000 pessoas, foram obtidas apenas 27 respostas. Este número é muito baixo, sendo praticamente insignificante quando são considerados os espeleólogos necessários para explorar e mapear as cavernas brasileiras. Acredita-se que algumas das pessoas que receberam o questionário estão aptas somente a responder a primeira parte da pesquisa, sobre o levantamento de campo, e por este motivo não se sentiram a vontade para participar, ou simplesmente não se interessaram pelo mérito do trabalho. Este fato nos faz pensar se a maneira com que o conhecimento é transmitido está correta e se não se torna necessária a melhoria dos métodos utilizados atualmente para a formação de novos espeleólogos. O modo com que foi veiculado o questionário também vale uma ressalva: a maneira com que hoje estão estruturados e distribuídos os grupos de Espeleologia brasileiros levou a uma discussão sobre a melhor metodologia a ser aplicada, se seria feita uma seleção de indivíduos representando cada grupo e/ou região, se seria indicada uma pessoa para responder o questionário, se seriam considerados somente os grupos e não os indivíduos ou se a pesquisa seria aberta para qualquer interessado. Foi escolhida a última alternativa, pois o objetivo da pesquisa foi analisar o conhecimento geral das pessoas que costumam realizar levantamentos e mapas topográficos no Brasil, independente do grupo ao qual
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Técnica participa ou da região que reside ou que trabalha. Como primeiro resultado importante, verificou-se que a opção por bases fixas em detrimento das flutuantes é uma das mudanças significativas nos mapeamentos realizados desde o início dos anos 90, valendo uma ressalva para o grande crescimento do uso do fio-deprumo, indicando um anseio por melhorar a precisão dos dados levantados em campo. Ainda em relação à precisão e detalhamento, foi constatado que a grande maioria dos entrevistados faz seus croquis em escala, sendo isto uma evolução muito significativa, tornando a representação gráfica da caverna ainda mais próxima da realidade. Infelizmente o trabalho mostra que a altura das cavernas brasileiras é uma incógnita, pois praticamente 60% dos entrevistados respondeu que estima tal medida. São conhecidas as dificuldades de obter este valor corretamente e do tempo que isso pode levar, mas observa-se neste item a necessidade de se desenvolver uma metodologia possível, de utilização rápida, prática e com precisão. O uso de telêmetro, introduzido pelo Grupo Bambuí, de Minas Gerais, parece ser algo mais viável e preciso, porém é um equipamento caro e frágil, o que limita um pouco sua utilização. O fechamento de poligonais foi considerado importante por todos os entrevistados, o que mostra a preocupação com a melhoria da precisão da linha de trena. Outro dado importante sobre o assunto “precisão” é o tempo despendido para passar a
Como são feitos os croquis?
0%
23%
77%
Memória
Croqui de referência
Croqui sem escala
Croqui em escala
Na sua concepção, qual a equipe ideal para um levantamento topográfico?
43,33%
50,00% 40,00% 30,00%
13,33%
20,00%
23,33% 16,66% 3,33%
10,00% 0,00% 1
P/I/CR
P/I/CR/An
P/I/CR/Expl
P/I/CR/An/Expl
P/I/An e 3 croquistas
Quanto tempo você demora em passar a limpo o trabalho de campo? Uma semana
Um Mês
Até 6 meses
Até 1 ano
Mais de 1 ano
Depende
3,84% 0% 3,84%
7,69%
34,61% 50%
10
Técnica Como é gerada a linha de trena?
13,79%
Compass/Transf Software
86,20%
Se utiliza software, qual?
7,69%
Auto cad map
3,84%
Arc Map
Geomag
Toporobot
CAPS
Tunnel
WinKarst
0%
0%
0%
0%
0%
15,38%
On Station
Walls
0%
limpo o trabalho realizado em campo. Naturalmente, em trabalhos mais complexos a versão final de um mapa pode levar até anos para ser realizada, porém o questionamento foi relacionado a segmentos ou trechos topografados dentro de uma caverna, ou de cavidades que são topografadas em uma única expedição. Sabemos que isso influencia diretamente o tratamento dos dados, principalmente da linha de trena, em cavidades muito complexas e que necessita de vários fechamentos de poligonais. Durante o mapeamento, muitas vezes ocorrem erros chamados “grosseiros”, de anotação ou até de desatenção da equipe como um todo, que podem ser facilmente corrigidos quando o trabalho ainda está “fresco” na memória. Outra medida importante é que o próprio croquista passe a limpo seu trabalho e que assim possa corrigir alguma discrepância. Nesta pesquisa, 50% dos entrevistados passa o trabalho a limpo em até 1 mês e 30% em até 6 meses depois do levantamento em campo, tempo este que se acredita ser limítrofe para esta finalidade. Outra grande mudança ocorreu pelo acesso que hoje se tem ao computador, pois se pode dizer que as técnicas de tratamento de dados e confecção final dos mapas topográficos evoluíram com uma velocidade incrivelmente superior àquelas empregadas em campo, e isso se
50%
Survex
23,07%
Compass
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
40,00%
45,00%
50,00%
11
Técnica deve quase integralmente à introdução da informática na Espeleologia. Na pesquisa realizada, mais de 85% dos entrevistados responderam que utilizam algum tipo de software para gerar suas linhas de trena. O Survex, software desenvolvidos por ingleses, é o mais utilizado entre os entrevistados, não por sua “interface” que ainda não é tão amigável, mas sim por possibilitar uma ampla visualização dos erros nas poligonais. Isso se torna ainda mais importante ao passo que quase metade dos entrevistados confia a precisão da linha de trena à informação fornecida pelo software. Um dado alarmante é que quase 30% das pessoas creditam esta precisão a uma simples comparação com o croqui, ignorando as possíveis distorções causadas por um mau fechamento de loop. Mesmo com todas as deficiências que o parâmetro possa conter, o sistema BCRA é o mais utilizado no Brasil, tanto pela grande utilização que possui mundialmente, quanto por ser mais fácil de ser assimilado para poder se classificar uma topografia. Durante a análise dos resultados, duas perguntas sobre assuntos similares nos mostraram a coerência dos dados coletados: mais da metade dos espeleólogos respondeu que utiliza um processo totalmente digital para produzir o mapa final de suas cavernas, enquanto que na pergunta sobre como é o processo de digitalização, 18% respondeu que importa a linha de trena e digitaliza o croqui e 37% respondeu que importa a linha de trena e desenha olhando o croqui. Acredita-se
De que maneira você analisa a precisão da linha de trena? 48,71%
Não se preocupa Comp. Croqui Conf. Instrum.
28,20%
Inf. Sftw are
2,56% 5,12%
Desv Padrão Outros
10,25% 5,12%
Qual sistema você mais utiliza?
Outro
3,57%
ASF
0%
UIS
0%
BCRA
0,00%
96,42%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
100,00%
120,00%
Qual o processo que você utiliza para produzir o mapa final? 4% Manual Plot + Des manual Digital
58%
38%
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Técnica Costuma passar a limpo o croqui antes de digitalizá-lo?
52,00%
Sim
Não
51,00% 50,00%
51,85%
49,00% 48,00%
48,15%
47,00% 46,00%
Durante a fase final você:
44,44%
18,51% 37,03%
Importa a linha de trena e desenha o mapa olhando o croqui Importa a linha de trena e digitaliza o croqui Importa a linha de trena, passa a limpo o croqui e digitaliza o desenho utilizando-o de base
que estes dois métodos são totalmente digitais, pois não utilizam em nenhum momento um desenho a mão para passar a limpo o croquis. Entretanto, entrando no mérito da questão, não achamos esta a melhor forma, e sim que exista uma plotagem da linha de trena em papel “vegetal” para que o croquista possa
sobrepor seu desenho de campo e passar a limpo todo o trabalho, assim poderá definir melhor as paredes e posições de espeleotemas mais importantes, agilizando o trabalho no computador. A única discrepância observada na coleta dos dados foi observada também no tópico
sobre processo de produção dos mapas, sendo que mais de 50% dos entrevistados respondeu que passa a limpo o croqui antes de digitalizá-lo, contrastando com os dados acima. Este resultado pode ser atribuído a uma má formulação das perguntas, que devem ser corrigidas para o segmento do trabalho. Finalizando a discus-são, uma das maiores surpresas desta pesquisa, que diz respeito a qual tipo de software é utilizado para a confecção final do desenho. Conforme esperado, o CorelDraw ainda continua sendo o programa mais utilizado, seja por sua facilidade de aprendizado ou por possibilitar uma maior “expressão” gráfica e artística por parte do espeleólogo. Em segundo lugar, porém, foi citado o AutoCad, que é um programa altamente técnico usado por engenheiros e arquitetos. Traçando um paralelo, os dois softwares trabalham com vetorização e com desenhos em escala, sendo que a diferença é que o AutoCad sempre está em escala real (1:1) e no CorelDraw, esta é pré- determinada. O AutoCad possui uma facilidade muito maior para trabalhar com softwares de georeferenciamento, porém sabe-se que se o desenho está em escala ele pode facilmente ser transformado para “dxf” e “lido” pelo AutoCad, resolvendo o problema. O CorelDraw, entretanto, é muito mais amigável e fácil de se utilizar, podendo ser difundido de uma forma muito mais fácil, possibilitando inclusive a introdução de imagens. O fato é que os dois programas, bem como os demais citados, se prestam perfeitamente para a
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Técnica Qual software vetorial você utiliza para confecção do mapa?
Arc Gis9
3,03%
Turbo cad
3,03% 6,06%
Micro Station Arc Map
3,03% 30,30%
Autocad
18,18%
Adobe Ilustrator Corel Draw
36,36% confecção do mapa final de uma caverna, produzindo um resultado preciso e que pode ser repassado e facilmente armazenado em mapotecas digitais. Conclusões A partir dos resultados obtidos neste trabalho, conclui-se que no Brasil, ainda poucas pessoas têm o conhecimento para produzir mapas topográficos de cavernas, existindo a necessidade de se avaliar a maneira com que este conhecimento está sendo transmitido. Pouco está sendo feito para otimizar o trabalho de campo, sem perda de precisão, sendo que as maiores inovações nos trabalhos de campo têm sido a utilização do fio-de-prumo e do telêmetro. Devido aos rápidos avanços da computação,
atualmente a confecção dos mapas topográficos está totalmente dependente da utilização de softwares e hardwares específicos, facilitando os trabalhos e melhorando a precisão e apresentação dos mapas finais. Os programas mais utilizados são o Survex, para o processamento dos dados, e o CorelDraw e AutoCad, para a produção final dos mapas. Uma das lacunas principais no processo de topografia utilizado atualmente é a determinação da altura da entrada e dos salões das cavernas, pois ainda não está sendo utilizada uma metodologia com resultados práticos e precisos. Finalizando, além de todos os dados levantados sobre as técnicas e metodologias de topografia em cavernas que estão sendo adotadas no Brasil, este
trabalho mostra que há uma preocupação em melhorar-se a precisão dos dados adquiridos e, consequentemente, dos mapas finais confeccionados, indicando um desenvolvimento contínuo da Espeleologia nacional.
Referências 1- Slavec, G. B. & Geribello, F. K. - Alguns conceitos sobre topografia Desnível Eletrônico,Jan/Julh 2004, acessado em:http://www.upecave.com.br na data de 15/12/2005.
2- Rubioli, E. & Moura, V. - Mapeamento de Cavernas - Guia Prático, RedespeleoBrasil, 93pg. - 2005.
Expedições
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Areado 2005 Texto: Marcelo Gonçalves; Ricardo Martinelli & Ronald Welzel Fotos: Ricardo Martinelli
ABSTRACT There were three trips during 2005 to the system of caves known as Areado Grande. The main work was concentrated at Areado III with big progress. But there is still a lot to come because there are many huge galleries and saloons being discovered while the survey goes on. In 2006 we expect to finish the survey of Areado III and keep surveying the next caves of this system as Areado IV and V.
E
m continuação aos trabalhos já iniciados em 2004 na região denominada Areado Grande, 2005 foi palco de grandes avanços, tanto em relação à topografia das cavernas da região quanto em novas descobertas. O que veremos a seguir é o relato de três investidas, o que aconteceu e o que conseguimos em termos de resultados. Primeira Expedição Nos meses de julho, setembro e novembro foram realizadas novas expedições à Gruta Areado III. Mais uma vez a caverna nos impressionou, tanto por sua beleza quanto pela quantidade de condutos e locais ainda por serem explorados, a cada momento surge um novo detalhe, salões e passagens, os quais estão sendo minuciosamente exploradas, reafirmando vossa imponência. Bem, segue agora um relato com os detalhes da primeira expedição, que iniciouse na sexta dia 08 de julho;
partimos em direção ao PETAR, núcleo Caboclos chegando ao parque pela madrugada às 3:00 da manhã. Dormimos para recuperar as forças pois uma longa trilha nos esperava no dia seguinte. Acordamos relativamente cedo e iniciamos as arrumações. Todos estavam bastante animados e após muito custo partimos para a casa do Gastão, o qual nos aguardava para ajudar a carregar uma das mochilas de equipamentos até nosso destino. Saímos cerca de 13:00 horas, no início a trilha estava seca e fácil para caminhar, porém devido a alguns membros serem mais lentos, já que não estavam acostumados a caminhar com tanto peso nas costas, o grupo foi dividido e uma parte do pessoal tomou a frente a fim de montar parte do acampamento. Já ao anoitecer e após 6 horas de descida chegamos ao local do acampamento, banhamo-nos nas águas do córrego Areado, sob a lua maravilhosa em meio a mata,
Contate os Autores: mgoncalves@craft.com.br rsmartinelli@globo.com ronald.welzel@schuler.com.br
jantamos e dormimos. Levantamos um pouco tarde, o usual, arrumamos as tralhas e partimos para encontrar novamente a Gruta Areado III, já que o Gastão só havia limpado uma parte da trilha, assim após cerca de 1 hora encontramos novamente a entrada da gruta que estava totalmente fechada, voltamos a constatar o grande poder de regeneração da mata atlântica. Adentramos a gruta para iniciar a topografia de onde havíamos parado no ano anterior, chegamos ao ponto onde estava a base fixa e iniciamos a topografia que durou longas e geladas horas, terminando os trabalhos por volta da meia-noite, assim retornamos ao acampamento para descansar, pois ainda teríamos uma semana um tanto cheia. No dia seguinte parte dos integrantes da expedição estava abatida pelo cansaço da trilha,
Foto 1: Tudo pronto para enfrentar mais uma árdua caminhada até a região do Córrego Areado Grande. ( Autor: Ilo Lima )
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4 15 tendo, além de bolhas nos pés, canelas roxas e dores. Sendo assim optamos por ir a caverna não com o intuito de topografála, mas sim para explorar a famosa Areado V,pois apenas dois integrantes estavam aptos. Partiram então ainda com os outros companheiros dormindo, o interessante é que já era meiodia, assim mesmo fomos sem saber quanto tempo levaria.
conosco e pegamos o ponto com muita precisão, aproximadamente 9 satélites nos vigiavam, partimos logo após atravessarmos a gruta. Segundo as descrições de nossos amigos a mesma era pequena e simples de atravessar, apenas com alguns trechos complicados, porém notamos que a gruta deve ser bem maior do que imaginávamos, pois existem diversos salões fósseis dentro do
Foto 2: Ráio de sol penetrando na primeira Clarabóia da Gruta Areado III.
Chegamos à gruta Areado IV rapidamente, cerca de 25 minutos, arrumamos rapidamente as coisas e adentramos com o único intuito de atravessá-la, o fizemos após alguns trechos mais perigosos em cerca de 2:35h, então saímos pela estreita boca em meio a densa mata o que na região é muito peculiar, paramos a tentar estabelecer a localização por GPS daquele ponto, já que em outra ocasião isso não fora possível, porém desta vez os deuses das cavernas estavam
que fora possível localizar, após alguns minutos sem saber o rumo certo rastejamos um trecho e o rio abriu novamente, entramos no mesmo e seguimos pulando as pedras e corredeiras até o final da gruta. Verifiquei diversos salões laterais ao rio, o que significa que temos muito trabalho a fazer por ali, cerca de uma hora depois estávamos na saída da Areado IV, em um trecho calmo e com um casal de beija-flores a nos dar as boas vindas. O rio neste trecho não possui pedras,
é praticamente uma laje de calcário com um pouco de areia por cima, bem fácil de caminhar, era só segui-lo e encontraríamos a lendária Areado V. Lendária, pois até o presente momento ninguém havia adentrado a gruta, até houve uma tentativa de fazêlo, mas sem sucesso. Após um show dos beija-flores, iniciamos a caminhada rio adentro, notei que havia uma plantação de bananas ao lado do rio, subimos para verificar e notamos que estava abandonada a séculos, irrigamos um pouco a região e voltamos ao rio, fizemos o tracklog de todo o trecho já que os deuses do GPS nos ajudavam naquele dia e finalmente marcamos as coordenadas da boca de entrada, preparativos básicos e muita emoção, e enfim adentramos a mesma. Logo no começo tomamos um grande susto, pois como é uma entrada toda desmoronada, ao olharmos imaginamos que aquilo não fosse a gruta e sim somente uma passagem em meio a algumas pedras no meio do rio, porém seguimos em frente e para a nossa felicidade ela não acabava ali e sim afundava em um grande salão desmoronado, sendo necessário descer uma parede para entrar. Logo depois encontramos um trecho em que não havia muita opção de escolha no caminho, ou o duto cheio de água ou outra parede um tanto alta para um tombo, assim entramos na água, passando em meio a pequena queda d’água. Finalmente estávamos dentro da Areado V, o rio sumia abaixo das pedras e um salão abriu sobre nossas cabeças. Continuamos a caminhar e escalar as pedras até que achamos o rio novamente, porém em um trecho no qual não
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16 sabíamos para onde ir, então subindo o mesmo conseguimos localizar a ressurgência do sifão. Seguindo as boas regras da exploração, seguimos rio abaixo, após algum tempo e mais alguns salões o rio ficava bem abaixo de nós, cerca de uns 10 metros, estávamos em um enorme salão de argila. Continuando a exploração, o rio sai deste trecho argiloso no qual as águas são quase paradas e turvas, para um trecho de águas fortes e cristalinas, então a argila desaparece e a caverna toma feições bem parecidas com as da
gruta Cabana, com muita água, calcário liso sem formações, a água cortando a rocha formando paredes altas. O barulho nos assustava um pouco, porém era somente uma pequena queda d’água que cortava uma parede formando um pequeno corredor com um poço bem fundo, nos entalamos pela parede e prosseguimos chegando então a outro trecho semelhante. Descemos novamente, andamos mais um pouco e encontramos outro trecho, porém tinha uma pedra entalada com cerca de 1,80m de altura e uma grande
Foto 3: Conduto dos chuveiros; muita água caindo do teto entre fendas e formações.
pedra atravessada no chão que após um leve toque, se mexeu. Nos afastamos rapidamente, pois prender ou quebrar um pé ali não seria nada agradável. Deixamos as mochilas e fomos explorar a grande fenda. Atravessamos o trecho que acalmava no final, porém o trecho seguinte era semelhante a fenda anterior, novamente entalamos os corpos e descemos. Creio que neste trecho temos um desnível de pelo menos uns 15 metros e não mais do que 30 metros de extensão. Após descermos tivemos uma surpresa, a nossa frente surgiu um lago bastante profundo e com cerca de 7 metros de diâmetro. Teríamos que atravessá-lo nadando, como estávamos sem roupa de neoprene, a várias horas do local de acampamento, somente em duas pessoas, o que não era nada aconselhável em caso de um acidente, visto que um resgate nessas condições seria inviável, optamos por abortar a missão naquele ponto e retornar. A volta fora tranqüila, bem como ainda foram verificados possíveis salões em diversos pontos. Marcamos a caverna com fitas a fim de não haver dúvida nas próximas investidas, refizemos assim o trecho de volta em cerca de 5:30 horas até o acampamento, perfazendo assim um total de 10 horas ininterruptas de atividades. No dia seguinte acordamos com nosso amigos Heros e Silmara já no acampamento, pois haviam chegado na noite anterior, tomamos um delicioso café e fomos a caverna continuar a topografia, agora com mais dois ajudantes, Heros (instrumentista), Silmara (ponta de trena). Conti-
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17 nuamos a topografia calmamente naquele dia até a cachoeira das clarabóias, já que dali pra frente o pessoal estava um tanto cansado para continuar, assim decidimos voltar, chegamos ao acampamento cedo, eram cerca de 23:00h e efetuamos o mesmo ritual de todos os dias: banho gelado e comida. Contamos algumas histórias e fomos dormir, já que no dia seguinte uma parte da equipe deixaria o acampamento. Após a devida arrumação o primeiro grupo que deixaria o acampamento, partindo para caboclos, a equipe de topografia reuniu as tralhas e foi para a caverna novamente para mais um
dia de trabalho. Chegando a caverna, após algum tempo andando percebemos que um dos integrantes não se sentia muito bem, paramos para ver como ele estava e o mesmo disse para prosseguirmos, porém quando já estávamos em um ponto bem a frente do “acampamento”, parei novamente para verificar seu estado e notamos que ele demonstrava extremo cansaço, então tomamos a decisão mais acertada para o momento e voltamos deixando a topografia para um outro dia. Na volta paramos em uma base fixa P5, a qual em frente temos um salão branco, e resolvemos subir, para minha grande surpresa ela
apresenta uma nova boca que sai no “estádio”, igual a boca anterior a ela, porém descendo pelo desmoronamento é possível transpassar o rio saindo em uma galeria superior. Caminhei alguns metros a passos largos, mas resolvemos voltar já que nosso amigo não estava se sentindo muito bem. Retornamos assim ao acampamento e para minha surpresa em um dos escorregões na trilha de ida a caverna, encontramos marcas de pata de nossa amiga felina que anda pela região, as marcas seguiam até o acampamento, claro sendo somente possível vê-las quando o chão estava mais molhado, assim chegamos ao
Linha de trena da Areado III. A complexa malha de visadas mostra a dificuldade de se fazer um trabalho de grande precisão nesta distante cavidade.
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18 acampamento e executamos o procedimento padrão, já que no dia seguinte voltaríamos a casa de pesquisa. A expedição foi proveitosa e creio que alguns pontos cruciais foram resolvidos, dentre eles o principal foi que finalmente adentramos a Gruta Areado V, a qual só espero uma nova oportunidade para explorá-la por completo.
acampamento, que se encontra longe do pórtico de entrada. Mesmo um pouco cansados, resolvemos trabalhar, para nossa sorte tínhamos a opção de topografar um local próximo ao acampamento, em salões superiores, e que já estava prédeterminado em nossas planilhas. Esta pendência sai da galeria do rio a esquerda de quem se dirige a ressurgência e rapidamente atinge certa altura, a jornada durou aproximadamente umas 5 horas e então resolvemos retornar
agora era explorar outra pendência lateral deixada pela expedição de julho e formar uma opinião do que seria mais proveitoso, continuar em salões superiores ou avançar na linha do rio, decidimos pela segunda opção.. Chegamos ao salão das clarabóias, local onde havia terminado os trabalhos da expedição de julho com grande facilidade e após algumas fotos iniciamos a topo, neste ponto a Segunda Expedição caverna apresenta teto Em meados de setembro extremamente alto, estima-se mais foi feita uma de 50 metros n o v a e uma longa, intervenção na p o r é m região, os estreita fenda objetivos eram que se abre estritamente ao exterior, voltados para a logo a frente continuação da o u t r a topografia da clarabóia e a gruta Areado direita o rio III, já que em cai em uma julho as grutas cachoeira de Areado IV e V uns 2 metros, f o r a m realmente devidamente esta caverna exploradas. A é de uma fim de otimizar beleza cênica nosso tempo de incomparável! Foto 4: Local de acampamento (bivaque) dentro da Areado III. trabalho, Continuando Facilidade de trabalhar em locais distantes da caverna. decidimos chegamos a m o n t a r um salão acampamento dentro da gruta, em e continuar outro dia pois o enorme, de volume gigantesco um local já demarcado por uma conduto não tinha fim, com onde foram explorados alguns expedição anterior, a qual paredes de mais de 20 metros de pontos, logo após chegamos a encontrou um local ótimo para altura e imensa largura. No um conduto muito curioso, onde este fim. Contaríamos somente segundo dia continuamos do várias fendas e formações com uma equipe trabalhando, mesmo ponto e após 150 metros despejam uma quantidade portanto deveríamos aproveitar encontramos um grande razoável de água, formando ao máximo nossa estada no escorrimento com desnível interessantes e sucessivos distante bairro do areado grande. negativo de uns 10 metros, para chuveiros. Logo após em um A trilha foi transposta de nossa sorte conseguimos pequeno salão interrompemos a forma tranqüila, lógico que muito desescalar lateralmente e topografia pois já era tarde da cansativa, mesmo porque ainda ironicamente avistamos o noite e todos estavam cansados. tivemos que adentrar à gruta com acampamento, colocamos uma Os resultados de mais cargueiras até o ponto do fixa e voltamos ao rio, o objetivo esta intervenção espeleológica à
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19 gruta Areado III foram modestas, pois contávamos com apenas uma equipe trabalhando, porém tudo saiu com o planejado e os erros de fechamentos de poligonais ficaram dentro esperado.
Terceira Expedição A terceira e última saída para a região foi entre os dias 12 e 15 do mês de novembro. Como na expedição anterior, a quantidade de integrantes da equipe era bastante modesta. Partimos de SP no sábado dia 12 de novembro em direção ao núcleo Caboclos. A equipe neste dia era de apenas duas pessoas. O restante chegaria no dia seguinte. Adentramos a trilha do Gastão próximo das 12:30hs. A trilha apresentava uma mata densa e várias árvores novas tombadas pelo caminho. A cami-nhada foi, no entanto, sossegada, con-tando logicamente com a ajuda do Gastão. Após aproxima-damente 6 horas chegamos à boca da caverna. Nos deslocamos até o local do acampamento, cerca de 30 minutos caminhando com as mochilas cargueiras. Montamos o acampamento e jantamos. Decidimos por dormir cedo, pois estávamos apenas em dois e uma topografia seria, após a longa caminhada, pouco proveitosa. No dia seguinte esperávamos os outros dois integrantes chegarem, mas devido à alguns problemas de logística eles chegaram às 13:30hs. À essa altura nós havíamos deixado o acampamento e estávamos no leito do rio.
Para quem se desloca no se desenvolve ao lado esquerdo rio após a ressurgência e após do rio. Esta parte é muito aprox. 15 minutos de caminhada, especial. O chão próximo ao rio encontra-se uma boca numa é arenoso e possui um grande subida com pedras e lama ao escorrimento formando um rio de lado esquerdo. A mesma foi calcita. Simplesmente divino. topografada na última expedição Iniciamos as primeiras visadas na de 2004. Como não tínhamos o parte inferior onde o solo é GPS naquela expedição e bastante arenoso. Feito este estávamos apenas em duas trecho começamos a subir os pessoas, decidimos por sair e captar as coordenadas. A parte externa possui uma mata muito densa e é cercada por paredes de calcário. Após muito esforço procurando pelo local ideal conseguimos apenas 3 satélites. Foi o suficiente para nos apontar os dados de localização. Iniciamos a topo de superfície para ligar a mesma numa base deixada na topografia de 2004. Quando estávamos Foto 5: Um dos locais mais bonitos da Gruta Areado III. Ao lado uma finalizando os linda cachoeira, acima uma fenda de 50 metros que se abre ao trabalhos, exterior, e a frente uma clarabóia fantástica. encontramos nossos dois novos integrantes que haviam grandes blocos abatidos. Nesta chegado. altura tivemos um grande susto. Voltamos para o leito do Um dos integrantes escorregou rio e fomos até a base fixa P5 que quando tentava subir um dos fica um pouco antes de um grande blocos e caiu de costas. Por sorte desmoronamento. A pendência não teve grandes conseqüências
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20 além das pontas dos dedos raladas. Paramos a topografia por volta das 18:00hs e guardamos energia para o dia seguinte, pois os integrantes que chegaram neste dia estavam exaustos após a longa caminhada. No dia seguinte retomamos a topografia do ponto onde havíamos parado. Subimos um conduto que surge como sendo um buraco escavado na parede. Finalizado este conduto prosseguimos subindo os grandes blocos abatidos e chegamos a um grande salão com uma nova boca. Subimos para a parte exterior da caverna e reconhecemos o local que estávamos no dia anterior para pegar as coordenadas com o GPS. Neste ponto pudemos notar que o salão passa por cima do rio, pois a boca está do lado oposto ao da boca explorada anteriormente. Fizemos uma nova topo de superfície e ligamos na mesma base da topo de 2004 fechando um grande loop. Retornamos ao salão dos blocos abatidos. Começamos a exploração e decidimos por iniciar pelas pendências
encontradas na parte inferior. Em duas fendas estreitas caímos novamente no rio e fechamos os loops na base P5. Devido ao horário já avançado decidimos por interromper a topografia perto das 22:30hs. Fixamos uma base próxima à boca (P81). Para a próxima investida deve ser dada atenção para uma fenda estreita que desce logo ao lado da base e que possui o esqueleto de um animal na entrada da mesma. Além desta fenda deve-se topografar o salão na parte oposta ao da boca. Numa rápida exploração, notamos um corredor com argila razoavelmente largo. Ao chegar ao final do corredor encontramos mais fendas para serem exploradas acima de nossas cabeças e também abaixo, dando até a impressão de que uma das fendas inferiores tenha ligação com a fenda citada anteriormente onde foi encontrada uma ossada. Como já citado, esta caverna nos surpreende cada vez mais pela sua complexidade e beleza. Retornamos ao acampamento e iniciamos o ritual
Foto 6: Dádiva da natureza ou desequilíbrio ecológico? Ao saírmos pelo sumidouro da Areado III nos deparamos com uma profusão de borboletas, todas da mesma espécie, podíam ser observadas mais de 300 indivíuos.
de banho e janta. Quando eram aprox. 01:00h fomos todos dormir. Acordamos às 05:00hs e iniciamos a arrumação. Partimos na trilha e percorremos o percurso sem grandes problemas em 4,5hs. A terceira expedição do ano, embora modesta e curta, apresentou resultados importantes. Foram ligadas duas bocas pelo lado externo e localizadas no GPS. Descobrimos novas fendas, fechamos alguns loops e desenvolvemos aprox. 400 metros em meio a blocos abatidos. De maneira geral o ano de 2005 foi bastante proveitoso, a topografia atingiu a marca de 4127 metros de desenvolvimento linear, com 529 bases posicionadas e 44 loops, todos dentro dos parâmetros BCRA 5. Consideramos este fato como sendo muito positivo, primeiro por se tratar de uma região tão longe e depois por que as topografias foram feitas por equipes distintas, mostrando que a formação de nossos topógrafos esta no caminho certo. Em 2006 os trabalhos vão continuar em rítimo acelerado e esperamos mostrar mais resultados nas edições seguintes do desnível.
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Explorações e descobertas no planalto da bodoquena Autores: Silmara ZAGO* & Heros Augusto Santos LOBO**
* União Paulista de Espeleologia - UPE ** Grupo de Espeleologia Serra da Bodoquena - GESB
ABSTRACT The Bodoquena Plateau is one of the most important karstic areas in Brazil but poorly explored speleologically. Many expeditions were organized to that region involving different speleological groups, institutions and governmental organs and all the material produced will be used to develop the Management Guide for the Park. As a preliminary result there are 60 caves identified and registered; 16 caves surveyed; 5 final maps ready; 2 caves has being surveyed for the second time and 5 caves has its registers updated. For 2006 there will be some other expeditions to that area and there is a big expectative for new discovers!
O
Planalto da Bodoquena está localizado no Estado de Mato Grosso do Sul, compreendendo quatro municípios: Bodoquena, Bonito, Jardim e Porto Murtinho. A região faz parte de uma das mais importantes províncias espeleológicas carbonáticas brasileiras, sendo formada pelas rochas do Grupo Corumbá. As feições cársticas mais comuns e interessantes na região são as grutas, tufas calcárias, cones cársticos e inúmeros lapiás a céu aberto, chamados pelos moradores locais de “dentes de cão”, entre muitas outras formas de relevo. O clima regional é classificado como Subtropical Úmido, com médias anuais variando, conforme consta em Mato Grosso do Sul (2002, p. 05), entre 22° e 26° C, e temperaturas máximas e mínimas atingindo 42° e 4° C, respectivamente. Sobre a vegetação, a região encontra-se numa faixa de transição, onde se observam florestas estacionais deciduais e semideciduais,
Contate os Autores: silmara_zago@ig.com.br / heros@uems.br
gradientes de cerrado e influências da vegetação pantaneira. Embora a região seja conhecida como “Serra da Bodoquena”, na verdade é um planalto, apresentando desenvolvimento alongado no sentido Norte-Sul, com aproximadamente 200km de comprimento, e uma largura que varia entre 10km e 70km. A inclinação do planalto se dá no sentido Leste, com escarpas da ordem de 200m de desnível a Oeste, voltadas para o Pantanal (BOGGIANI et al., 1994, p. 40-50). Todas estas características conferem à região um alto potencial turístico. Nesse sentido, algumas grutas da região já recebem turistas de diversas localidades do mundo, como a Gruta do Lago Azul, a Gruta de São Miguel e o Abismo Anhumas (Bonito) e o Buraco das Araras (Jardim).
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22 12 O início das expedições As mais recentes explorações no Planalto da Bodoquena se deram a partir de janeiro de 2005. Na ocasião, a SBE estava organizando uma expedição para explorar a região de Dianópolis, TO. Durante a preparação da expedição Dianópolis, um grupo de espeleólogos, em uma conversa informal, decidiu ir fazer uma exploração no Planalto, no período do Carnaval. Essa primeira expedição contou com a participação da Linda (GESCAMP) e uma amiga sua, Cibele, da Silmara (UPE) e do Heros, que no momento ainda não era filiado a nenhum grupo. Ao perceber a oportunidade de alavancar a espeleologia regional por meio da expedição, o Heros convidou seus amigos Gemerson, Danielly e Jorge, todos de Jardim, a participar das saídas de campo e das topografias. Juntos, eles acabaram por formar o Grupo de Espeleologia Serra da Bodoquena. De um modo geral, esta expedição se concentrou em retopografar algumas grutas e coletar dados sobre outras, cujos mapas e cadastros no CNC estavam desatualizados e/ou incompletos.A partir desse pontapé inicial, o GESB, recebendo o suporte da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, iniciou um projeto de pesquisa relacionado à prospecção e identificação de potencialidades espeleoturísticas no Planalto da Bodoquena. Para tanto, foi feito contato com o IBAMA/CECAV-MS, na pessoa de sua coordenadora, Benilva Souza. Foi quando se
Silmara (UPE) fazendo croqui durante a 2ª Expedição. Gruta Vale do Campina. - Foto: Robson Zampaolo
descobriu que o CECAV já possuía um trabalho consistente na região, sobretudo no Vale do Córrego Campina, em Bodoquena. Desse contato, surgiu uma parceria que perdura até hoje. Com o apoio do CECAV, foi definido que a 2ª expedição seria realizada no Córrego Campina, no sentido de topografar algumas cavidades já descobertas na região. A 2ª expedição foi realizada em Abril, durante a Páscoa, e contou com o apoio da SBE na articulação dos participantes. Ao todo, 36 pessoas se fizeram presentes, muitas do próprio Estado. Além disso, a parceria com o IBAMA/ CECAV-MS rendeu outros excelentes frutos. Destes, destacam-se a efetiva e constante colaboração e participação Wanderlei (CECAV-MS), na ponta de trena durante a 2ª Expedição. nas atividades de campo, por meio Gruta Santa Luzia - Foto: Heros Lobo de infra-estrutura de apoio, equipamentos, e da sempre constante presença de seu funcionário Wanderlei Souza, profundo conhecedor das grutas da região. Um outro destaque foi o convite para que as expedições passassem a contribuir para o Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra da Bodoquena. Esta se revelou ser uma nova e importante fase do trabalho. Em Setembro, tivemos a oportunidade de nos juntar a outros nove espeleólogos, para a execução da 1ª Avaliação Ecológica Rápida (AER) na área temática de espeleologia
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Expedições
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24 dentro do Parque. A 1ª AER ocorreu entre os dias 18 e 29 de setembro, sob coordenação geral do CECAV, sendo realizada em dois núcleos distintos: Assentamento Canaã (Bodoquena) e Fazenda Boqueirão (Bonito/Porto Murtinho). Os resultados foram positivos e promissores: em 09 dias de atividades de campo, 36 cavidades naturais foram identificadas e catalogadas. Destas, algumas relevantes, tanto sob o ponto de vista do uso público do Parque, quanto da representatividade espeleológica. De todas, destacamos o Abismo Dente de Cão Localizada nos limites do Parque, na região do Assentamento Canaã, a cavidade se mostrou promissora desde o princípio das explorações. Tendo sido indicada por um morador local, o Sr. Bié, a Dente de Cão é uma seqüência labiríntica de dutos com grande inclinação, com alguns abismos internos. No dia de sua “descoberta”, um dos membros da equipe, Willian Sallun Filho, identificou formações provavelmente de gipsita num de seus pequenos salões (ver foto). Mas na ocasião, decidiuse por não iniciarmos a topografia do Abismo Dente de Cão, ficando esse trabalho para uma outra oportunidade. Em outubro, um grupo de cinco espeleólogos do GESB voltou ao local, e iniciou-se a identificação e exploração dos dutos e galerias inferiores da cavidade. A expectativa era grande, pois aquela poderia ser uma das maiores grutas do Estado. Então, optou-se por desenvolver uma
Acampamento na Fazenda Boqueirão durante a 1ª AER. Ao fundo, cones cársticos, típicos na região. Foto: Heros Lobo
Formações em gipsita, no Abismo Dente de Cão. Foto: Marcos L. F. Lourenção
Gruta do Cateto: Retopografia realizada durante a primeira expedição
Expedições
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Gruta do Curê: Retopografia realizada durante a primeira expedição. Em breve uma nova incursão deverá ser realizada para desenho de seu perfil.
expedição com a finalidade de iniciar a sua topografia. Entre os dias 12 e 15 de novembro, foi então realizada a 3ª Expedição Bodoquena, com apoio mais uma vez do IBAMA/CECAV-MS, da UEMS, da SBE, da direção do Parque na pessoa de seu diretor, Dr. Adílio Miranda, e de grupos de espeleologia. Em dois dias de trabalho, somandose os resultados das duas equipes de topografia, quase mil metros já foram mapeados. E isso, ao que se viu, é só o começo, pois muitas pendências
já foram identificadas.Para fechar o ano espeleológico das explorações no Planalto da Bodoquena, a 2ª AER foi realizada, em dezembro. A coordenação se deu pelo pessoal do IBAMA/ DIREC, com a composição de várias equipes de pesquisadores, divididos por áreas temáticas. Como dizia a nossa excelente cozinheira, Patrícia, havia o pessoal dos mamíferos, dos répteis, dos pássaros, e obviamente, “os cavernas” (éramos os “xodós” da Patrícia... Ela sempre nos recebia ao fim do dia
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26 com maravilhosas e saborosas surpresas, antes do jantar...). A estrutura, montada pelo exército, era impecável e semelhante ao que se vê em filmes, naquelas expedições para turistas na África. Havia dormitórios, refeitório, banheiros, chuveiros, cozinha, além de uma considerável equipe de pessoas dando todo o apoio logístico, para que as pesquisas pudessem ser tranqüilamente efetivadas. Nessa ocasião, a equipe de espeleologia contava com sete participantes, que ao todo, identificaram e cadastraram 24 cavidades.
Resumo geral dos resultados obtidos em 2005 De um modo geral, as expedições realizadas em 2005 no Planalto da Bodoquena obtiveram alguns resultados significativos, que podem ser observados parcialmente na tabela e nas imagens que se seguem. As perspectivas para o ano de 2006 são boas para a região. Novas expedições devem ser organizadas, tanto para ampliar o número de cavidades identificadas na região, como para topografia de outras já descobertas. Os trabalhos
Gruta do Gaucho: Nova cavidade, explorada e mapeada durante uma das expedições.
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27 Tabela geral dos resultados das expedições – 2005 DATA Fev./05
EVENTO 1ª Expedição Bodoquena
08, sendo (01) Upe; (04)
Retopografia de 02 grutas e atualização de
Gesb; (01) Gescamp e 01
dados cadastrais do CNC de 5 grutas, em
avulso. Abr./05
2ª Expedição Bodoquena
PRINCIPAIS RESULTADOS
PARTICIPANTES
36, sendo (05) Gesb; (01)
Jardim, MS. Topografia de 09 grutas. Vale do Córrego
Cecav; (02) Upe; (04) Egric; Campina, Bodoquena, MS. A Gruta Alex 2 (01) Gesmar; (01) Gescamp; foi uma das mais expressivas em projeção (01) Trupe Vertical e 21
horizontal (216,74m). A Gruta Santa Luzia é
avulsos.
uma das poucas conhecidas com Flores de Aragonita na região.
Set./05
1ª Avaliação Ecológica Rápida – AER
11, sendo (04) Cecav; (01) Atividades para o Plano de Manejo do
IBAMA/CECAV – MS
Gesb; (01) Upe; (01) Pref.
Parque Nacional da Serra da Bodoquena.
Municipal de Bonito; (01)
Cadastradas 36 cavidades, das quais 02
Instituto de Geociências/
foram topografadas. “Descoberta” do
SP e 03 avulsos.
Abismo Dente de Cão. Fazenda Boqueirão (Bonito/Porto Murtinho, MS) e Assentamento Canaã (Bodoquena, MS).
Nov./05
3ª Expedição Bodoquena
20, sendo (13) Gesb; (01)
Início da topografia do Abismo Dente de
Cecav; (04) Egric; (01)
Cão e descoberta de outras 03 novas
Gescamp; e 01 avulso.
cavidades. Assentamento Canaã, Bodoquena, MS.
Dez/05
2ª Avaliação Ecológica Rápida – ERA
09, sendo (03) Cecav; (02) Atividades para o Plano de Manejo do
IBAMA/CECAV – MS
Gesb; (01) Upe; (01) Grego; Parque Nacional da Serra da Bodoquena. (01) Pref. Municipal de Bonito e 01 avulso.
Cadastradas 24 cavidades, das quais 04 foram topografadas. Fazendas Harmonia e Campo Verde (Bonito, MS) e Assentamento Canaã (Bodoquena, MS).
RESULTADOS GERAIS
60 cavidades identificadas/cadastradas; 16 cavidades topografadas (01 em andamento); 05 mapas finais prontos; 02 cavidades retopografadas; 05 cavidades com dados atualizados.
de gabinete também são uma meta para o ano, pois muitos mapas feitos em campo ainda não foram completamente digitalizados ou finalizados. De um modo geral, podemos concluir que o Planalto da Bodoquena ainda há de oferecer gratas e profundas surpresas, e um vasto campo para pesquisas nas mais diversas áreas da espeleologia.
Referências bibliográficas BOGGIANI, Paulo. et al. Estudo de Impacto Ambiental da Visitação Turística do Monumento Natural Gruta do Lago Azul – Bonito, MS. 2.ed. Campo Grande: UFMS, 1994. 153 f. MATO GROSSO DO SUL. Iplan. Fapems. Uems. Coredes. Plano regional de desenvolvimento sustentável da região Sudoeste. Campo Grande: SEPLANCT, 2002. 72 p.
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Log de atividades
Log de Atividades Tudo o que a UPE fez ou participou no segundo semestre de 2005 Coordenação: Leandro Valentim (lvalentim@craft.com.br)
Data: 03/08 a 08/08 Estado: SP Municipio: Apiaí Região: Petar - Núcleo Caboclos - Cabana Participantes: 1. Mauro Zackiewicz 2. Rafael Petroni Atividade: Exploração Objetivos: Encontrar a clarabóia grande da Cabana através de sistema de rádio. Horas de Trabalho: 80 horas Data: 27/08 Estado: SP Município: Iporanga Participação em saída do Grupo GPME Caverna: Gruta das Areias I Participantes: 1. Allan Calux (GPME) 2. Carlos G. (Guâno) (GPME) 3. Dennys (GPME) 4. Dilson Bortolacci 5. Karen P. Ramos (GPME) 6. Marcos Silverio (GPME) 7. Raquel Cristina (GPME) 8. Renata Andrade (GPME) 9. Renata Shimura (UPE) 10. Roberto Brandi (Bambuí) 11. Toni Cavalheiro (GPME) Atividades: Continuação da Re-topografia da Gruta das Areias I. Horas de Trabalho: 90 horas Data: 07/09 a 11/09 Estado: SP Município: Apiai Região: Petar - Núcleo Caboclos - Areado e Cabana Participantes: 1. Eduardo Portella 2. Ilo Lima Pereira 3. Ricardo Martinelli 4. Leandro Valentim 5. Marcelo Gonçalves Atividade: Exploração e Topografia Objetivos: Topografia da linha de rio e exploração de novos condutos. Horas de Trabalho: 64 horas
Data: 18/09 a 22/09 Estado: MS Municipios: Bodoquena, Bonito e Jardim. Região: Serra da Bodoquena, Bonito e Porto Murtinho Cavernas: Paiadão I,II e III Abismo do lote 214 Gruta do Carlinhos I e II Gruta do Córrego Santa Maria I e II Abismo dente de cão Gruta Boqueirão I e II Abismo Boqueirão II Abismo Rev. Moon I e II Gruta Pica-pau Participantes: 1. Benilva (CECAV) 2. Flávio – Bio (IBAMA/MG) 3. Heros Lobo (UEMS/GESB) 4. Márcia (CECAV) 5. Edmundo – Biólogo (Secr.M. do M. A. de Bonito) 6. Silmara Zago (UPE) 7. Vanderlei (CECAV) 8. Willian (IG/SP) Convidados: Regina (Bióloga), Filó (Mateiro), Rárá (Mateiro), Bié (Mateiro) e Natal (Proprietário rural). Horas de Trabalho: Não informado Atividade: Topografia Objetivos: Topografia de novas grutas Data: 29/10 Estado: PR Município: Curitiba Local: Sede do GEEPAçungui Atividade: 5º Assembléia Geral da Redespeleo Brasil Participantes: 1. Alexandre Lobo (GBPE) 2. Augusto S. Auler (GBPE) 3. Carolina (GEEP-Açungui) 4. Elvira Maria Branco (UPE) 5. Flavia (GEEP-Açungui) 6. João G.(GEEP-Açungui) 7. Leda A. Zogbi (GPME) 8. Luís R. (GEEP-Açungui) 9. Maristela (GEEP-Açungui) 10. Renata Shimura (UPE)
Data: 11/11 a 15/11 Estado: SP Município: Apiaí Região: Petar - Núcleo Caboclos - Areado Participantes: 1. Leandro Valentim 2. Ronald Welzel 3. Silmara Zago Convidada: Alessandra Cristiane Guimarães Atividade: Topografia Objetivos: Topografia da pendência P5 Horas de Trabalho: 30 horas Data: 12/11 a 15/11 Estado: SP Municipio: Eldorado Paulista Região: Parque Estadual de Jacupiranga Cavernas: Gruta Fria (SP 079) Gruta do Rolado I (SP 324) Gruta do Rolado II (SP 325) Participantes:
1. Daniel Menin (GPME) 2. Ericson C. Igual (GPME) 3. Flávia (GEEP – Açungui) 4. Francisco (GEEP – Açungui) 5. Leda Zogbi (GPME) 6. Luis Rocha (GEEP – Açungui) 7. Maristela (GEEP – Açungui) 8. Renata Shimura (UPE) 9. Roberto Brandi (GBPE) Convidados: Evandro Fortes, Gian Piero Alves Brandi e Sandrine Girardin Atividade: Exploração, Plotagem e Topografia Atividade: Exploração, Plotagem e Topografia Horas de Trabalho: 12 horas
Data: 19 e 20/11 Estado: MG Municipio: Belo Horizonte Participantes: 1. Renata Shimura 2. Ricardo Martinelli Atividade: Workshop de Cadastro e Mapeamento de Cavernas da Redespeleo Brasil.
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Log de atividades
Data: 10/06 à 19/06 Estado: SP Municipio: Apiaí Região: Petar - Núcleo Caboclos - Areado Participantes: 1. Eduardo Portella 2. Elvira Maria Branco 3. Heros Lobo (GESB) 4. Josef Herman Poker 5. Marcelo Gonçalves 6. Silmara Zago Convidada: Rosana Gaona. Horas de Trabalho: 60 horas Atividade: “Areado Alive” Exploração e Mapeamento Objetivos: Mapear a linha do Rio Areado III, explorar Areado V. Data: 03 e 04/12 Estado: SP Município: Apiaí Região: PETAR - Caboclos – Temimina Participantes: Claudia de Caiado Castro (UPE) Iniciantes: Ângelo, Bia, Fabio, Gisele, Márcia, Mônica e Telma. Atividade: Introdução à Espeleologia.
Data: 27/12 a 29/12 Estado: BA Municípios: Central e Itaguaçu Região: Pau d’Arco e Santo Eusébio Cavernas: Gruta Guambira ou Catedral Gruta do Trono Gruta do Relógio Participantes: 1. Carlos G. (Guâno) (GPME) 2. Josef Poker (Urso) (UPE) 3. KarenRamos (GPME) 4. Maria Cristina (GPME) 5. Renata Shimura (UPE) 6. Toni Cavalheiro (GPME) Convidados: João de Dira, Paulo Cordel e Sidclei Pereira da Silva, todos moradores locais. Atividade: Exploração, Plotagem e Topografia Horas de Trabalho: 144
Data: 14 a 17/12 Estado: SP Municipio: Iporanga Participantes da UPE: 1. Claudia Caiado de Castro 2. Elvira Maria Branco 3. Gisele Catarino 4. Ilo Lima Pereira Atividade: Cursos da Federação Espanhola de Espeleologia.
Seja mais um sócio da
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EQUIPAMENTOS Mochilas Por Eduardo Portella eduportella@ajato.com.br
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arece fácil mas não é, escolher uma mochila para a prática espeleológica requer um pouco de conhecimento. Normalmente aquela pessoa que esta entrando em contato pela primeira vez com a espeleologia pensa em conforto, e recorre àquela mochila de trekking já um pouco surrada que estava no armário. Durante a trilha tudo OK, mas quando se entra na caverna começam os problemas; em condutos apertados as alças, peitorais e barrigueiras “engancham” em qualquer saliência e/ ou formação, ai vem o rio, a mochila entra toda dentro d´agua e como é de tecido fica encharcada. Com vocês puderam ver , na espeleologia precisamos de equipamento específico. Uma boa mochila deve ter o mínimo de “fitas” possíveis, porém deve conter uma alça que servirá para ser “içada” ou pendurada na cadeirinha no momento do Rappel ou ascensão, e outra lateral para ser carregada em locais de teto baixo ou quabra-corpo. Deve ser de material impermeável e altamente resistente e conter uma abertura na parte inferior para a água escorrer quando entra. A mochila em si não deve ser “estanque”, estes sacos devem ser pequenos e estar acomodados e protegidos dentro da própria mochila. Pronto, agora você já sabe escolher sua primeira mochila, coloque-a nas costas e vamos cavernar!
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Maillon Rapid Notícias curtas sobre a UPE e a espeleologia nacional
ESPELEOPHOTO
SBE tem nova diretoria
Fotofilosofia
Para o biênio 2006-07 foi eleita a seguinte diretoria:
Por Paulo Jolkesky jolk@uol.com.br
Nivaldo Colzato (Presidente) Carmem Viana (Vice-Presidente) Glauce C. Rumin (1ª Secretária ) Ricardo Perez (2º Secretário) Rogério Magalhães (tesoureiro) FEE no Brasil Pela segunda vez um grupo de instrutores da FEE veio ao Brasil. As visitas fazem parte de um acordo de intercâmbio firmado entre a SBE e a Federação Espanhola de Espeleologia. Desta vez foram ministrados cursos sobre técnicas de autosocorro e organização de expedições. Pela UPE tivemos a participação dos sócios Eduardo Portella, Elvira Maria, Gisele Catarino, Claudia Caiado e Ilo Lima. Casa em Iporanga A UPE vem utilizando esporadicamente uma casa em Iporanga quando trabalha na região da casa de pedra, fazenda caraíba e até bairro da serra. Esta habitação esta sob responsabilidade do sócio Ricardo Terzian (Jerry) e que gentilmente a coloca disponível ao grupo. No entanto vários são os gastos gerados com sua manutenção, o que nos fez chegar a decisão de cobrar uma pequena taxa. Os valores são: R$ 3,00/dia para sócios da UPE e R$ 5,00/dia para não sócios.
SBE Notícias A SBE (Sociedade Brasileira de Espeleologia) lançou o primeiro número de seu boletim eletrônico que se chamará SBE Notícias. Conterá notícias curtas sobre a entidade, seus sócios e a espeleologia de um modo geral. Para ter acesso é só entrar em: http://www.sbe.com.br/sbenoticias.asp
O
mundo de hoje parece existir para ser fotografado. Por vezes tem-se impressão que algo passa a existir apenas ao ser clicado. No caso das cavernas essa afirmação pode ser bem oportuna; a experiência do explorador e a beleza do subterrâneo são reveladas para a maioria através dos olhos e da sensibilidade do fotógrafo. Aquele simples buraco no chão passa a ter importância vital para a comunidade após a visão do que há por trás da escuridão, dos mitos, das lendas e causos; por trás da beleza que registros geológicos, geográficos ou mineralógicos não são capazes de mostrar. O Homem é seduzido pela beleza cênica até então oculta, e somente assim passa a dar importância ecológica, e econômica, como não, àquele frágil sistema. Revele-se ao mundo um cenário fantástico e toda a atenção lhe será dispensada, seja para preservá-lo, seja para destruí-lo com turismo não planejado. Este é o tamanho da responsabilidade de uma descoberta, da exposição de um lugar, de um simples clique.
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Foto do Semestre
Cortinas na Gruta Crystal
Foto : Ricardo Martinelli Dados TĂŠcnicos: velocidade 1/160s; abertura F 32; ISO 200; flash; dist focal 55 mm; cabo se sincronismo. MĂĄquina - Nikon D70, lente Nikkor 55 micro