Informativo da União Paulista de Espeleologia www.upecave.com.br
Ano 4 - Número 7 Janeiro/Julho de 2007
Grupo Bagrus Caverna Crystal Balanço de Fluidos 2 Areado - Potencial Biológico PROCAD
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Indice
Desnível 7
Comissão Editorial Ricardo Martinelli; Gabriela Slavec; Renata Shimura; Eduardo Portella & Paulo Jolkesky
Diagramação Ricardo Martinelli
Revisão Gabriela Slavec
2 Editorial 11 Gruta Crystal 19 Balanço de Fluidos 2 21 Areado III - Potencial Biológico 25 Procad
Expediente União Paulista de Espeleologia
Foto: Ricardo Martinelli
Endereço para correspondência: Rua Loefgreen 1291, Cj 61 - São Paulo - SP CEP: 04040-031 Desnível é uma publicação eletrônica semestral da União Paulista de Espeleologia (UPE). As opiniões expressas em artigos assinados são de responsabilidade dos respectivos autores. As matérias não assinadas são de responsabilidade dos editores e não refletem necessariamente a opinião da UPE. Artigos publicados no Desnível podem ser reproduzidos na íntegra desde que citados fonte, autor, URL e data de consulta na web. Reproduções parciais somente com autorização prévia dos editores. O informativo em formato PDF poderá ser repassado para outras pessoas e listas de discussão. Para enviar um artigo utilize o e-mail: desnivel@upecave.com.br As datas limite são os meses de junho e novembro. O Desnível se encontra em regularidade com as leis anti-spam. Se deseja não mais recebê-lo, favor enviar e-mail para: remover@upecave.com.br
Capa: Uma das muitas formações da Gruta Crystal no Vale do Ribeira.
Autor: Ricardo Martinelli
Cortinas na Caverna Crystal. Suas formações estão sendo destruídas pela visitação desordenada.
Veja Também
3 Memória 10 Plantão Médico 26 Lojinha da UPE 26 EspeleoPhoto 27 Espeleolog 28 Equipamentos 28 Maillon Rapid 29 Foto do Semestre
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Editorial
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Quero ser grande Texto: Ricardo Martinelli
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á faz alguns anos que critico o modo com que nosso país encara este tal de “crescimento”. Fala-se sempre que temos que melhorar, expandir nossas exportações, controlar a inflação, estimular o emprego, etc, etc...., todos aqueles números infindáveis que não param de mostrar o “desempenho” de nossa “pujante” economia. Lógico que tudo isso tem fundamento, disso depende nosso desenvolvimento e a melhora na condição de vida de muitos brasileiros que hoje vivem abaixo de linha da pobreza ou nem tanto, porém em nosso país ainda não se discutiu o principal, “Qual modelo de desenvolvimento queremos seguir? ”Queremos ser como os Estados Unidos? A Finlândia? A Austrália? A Nova Zelândia? Por outro lado, será que um modelo próprio, respeitando as caraterísticas de nosso território e de nossa população não seria mais adequado? Dados da ong WWF mostram que se todos os países do mundo fossem desenvolvidos como os Estados Unidos ou a Europa, seriam necessários sete (7) Planetas Terra para suprir a demanda por matéria prima dos mais diversos tipos, bem como elementos essenciais para a vida como a água e os alimentos por consequência. Ouvindo isso nossa preocupação aumenta pois, sabemos que nosso Brasil ainda persegue um desenvolvimento que nos moldes atuais é inviável e acaba gerando conflitos enormes entre a comunidade científica e preservacionista que não compactua com a situação de “crescer a qualquer preço”. Será que nós não temos a capacidade de definir o que queremos ser? Como queremos crescer? Os recentes acontecimentos envolvendo o IBAMA, o MMA (Ministério do Meio Ambiênte ) e o MME (Ministério da Minas e Energia), somado ao grande ímpeto de nossos governates em fazer o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) avançar, nos deixa no mínimo com a “pulga” atraz da orelha. Os licenciamentos ambientais para construção de hidroelétricas parecem estar no “olho do furacão”, vide
Contate o Autor rsmartinelli@globo.com
os licenciamentos do Rio Madeira e Tijuco Alto (em menor proporção). O que podemos observar é uma grande disputa entre o governo, que necessita de realizações importantes para melhorar seus índices de popularidade, nossos empresários que sem energia não podem levar adiante seus planos expancionistas e a sociedade civil organizada, que se preocupa com o grande impacto sócio-ambiental que tudo isso vai gerar. “Infelizmente o lado mais fraco é o nosso”. Não me interpretem mal, não quero dizer com isso que devemos desistir e deixar tudo ser destruído e inundado, devemos sim, sabendo de toda sacanagem e jogo de interesses existente, discutir a melhor forma de atuação e agir em conjunto, de forma ordenada, só assim teremos alguma chance de nos ouvirem. Agora falando de nosso informativo, nesta edição o leitor poderá viajar no tempo e conhecer a história do Grupo Bagrus de Espeleologia através da narrativa quase jornalística de Guy Collet, poderá também ler sobre os resultados alcançados com o incrível e difícil trabalho na Gruta Crystal e ver a primeira edição de seu mapa. Como prometido na sexta edição, publicamos também neste novo número a segunda parte do artigo “Balanço de Fluidos”, sempre focando na prevenção de acidentes. Outro ponto importante neste primeiro semestre foi a incrível participação da UPE durante o “novo” PROCAD, várias equipes conseguiram, em uma única investida topografar todo o longo eixo da Gruta, vale a pena conferir. Finalizando, teremos a publicação de um artigo. Trata-se de um levantamento preliminar do potencial biológico da Gruta Areado III, uma das mais extensas do estado, hoje passando de 6000 metros de desenvolvimento linear. O trabalho é de autoria do BEC (Babilônicos Espeleo Clube) e foi eleborado durante a última expedição ao complexo.
Boa Leitura!
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Memória
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História (resumida) do Grupo Espeleológico Bagrus Texto: Guy Cristian Collet - 1994 ABSTRACT ABSTRACT A resume written in 1994 by Guy Collet about the history of the speleological group BAGRUS. These friends had a very interesting way of acquaintance and used to help each other and the community from Bairro da Serra. The group used to help with Collet’s archaeological researches together with caves explorations. The first subterranean laboratory in Brazil is also part of the history of Bagrus.
Introdução
N
(por Ricardo Martinelli)
este artigo, escrito em 1994, Guy Collet nos conta parte dos acontecimentos relacionados ao Grupo Bagrus. Suas narrativas são apaixonantes, pois se misturam em grande parte com a história da espeleologia Brasileira. Guy foi uma pessoa iluminada, que documentava tudo, pois tinha a noção da velocidade implacável do tempo. Foto 1: Sede de campo da SBE no Vale do Betary em 1970.
Fotos: François Valla Lendo a narrativa, podemos nos deleitar com nomes que até então eram desconhecidos e desvendam os companheiros que circundavam nomes mais conhecidos como Lebret, Martin e o próprio Collet. O texto leva um certo tom de desabafo, uma toada que chega a incomodar e nos faz pensar sobre nossa atuação como espeleólogos e também a relação atual entre os grupos brasileiros. Boa leitura!
História do Bagrus Como praticamente todos os grupos da cidade de São Paulo, a equipe Bagrus de Espeleologia nasceu em janeiro de 1974 quando foi decidido dar à SBE (Sociedade Brasileira de Espeleologia) o seu caráter federativo, previsto nos estatutos, já que o número de elementos ativos era suficiente para ser dividido em grupos, em função das suas afinidades e origem geográfica. Pierre Martin aglutinou o pessoal do Anastácio, a U S P (Universidade de São Paulo) reuiniu os frequentadores de cavernas dentro de uma seção do CEU ( C e n t r o Excursionista Universitário) e Collet polarizou uma dúzia de elementos já um pouco mais maduros, sen-
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do poucos universitários. Os nomes mais atuantes estão a seguir relacionados, constando o seu respectivo número de associado à SBE: Guy Collet 04 François Valla 12 Claude Vidal 19 Emilè Besson 20 Carlos Silvestre 25 Philippe Gouffon 28 Luiz Bayon Torres 32 Anne Milewsky 41 Walter Schimich 44 Nelson da S. Cesar 48 Christophe Collet Estud Claude Chassant Eng Alain Sovego Eng Robert Gaillard Eng Jean Louis Bret Eng Vincent Careli Antrop
Foto 2: Vista geral da casa do Vandir em meados da década de 70.
Muitos destes nomes já frequentavam as cavernas antes da fundação do Bagrus e alguns antes mesmo da fundação da SBE. A seguir apresentamos dados sobre o início das atividades de alguns deles:
Guy Collet
Junho de 1962.
Claude Chassant Consta de saídas junto a Collet em 1965, 9 anos antes da oficialização da equipe. Alain Sovego Agosto de 1967, junto com Collet e Matin. Claude Vidal
1969
Robert Gaillard
Março de 1969
François Valla
Agosto de 1969
Philippe Gouffon Julho de 1969 Gerard Gouffon Julho de 1969 Vários destes nomes eram estrangeiros, a grande maioria franceses, engenheiros, estagiários ou professores no ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) em São José dos Campos SP, tendo feito alpinismo na Europa e, na ausência de Alpes à proximidade de São Paulo, escalaram em negativo junto a espeleólogos nas expedições arriscadas. A solidariedade, o entrosamento, a cooperação entre os membros das equipes desta época era algo muito notável. Havia muito mais altruísmo, desprendimento, vontade coletiva do que atualmente (25 anos depois). Provavelmente os tempos mudaram e a mentalidade também.
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O exemplo da organização das grandes expedições é significativo. Todos procuravam angariar fundos, mantimentos, equipamentos, não só para seu grupo mas também os compartilhavam com os grupos de mais afinidade, citando como exemplo Bagrus e Opiliões. Mantimentos, carbureto, bebidas, tudo era posto em comum, dividido como entre irmãos. Se um ou mais elementos ficavam sem lugar nos carros do seu grupo, eram remanejados para os carros de outro grupo. Desta forma criou-se um ambiente que durante mais de 10 anos foi exemplar, mas que com o grande aumento do número de participantes, se perdeu pouco a pouco. O rancho é outro exêmplo da fraternidade que mantivemos durante bastante tempo. Le Bret, Collet, Chassant e Sovego tinham estabelecido um QG,
uma grande casa semi-abandonada 3 Km abaixo da casa do Vandir. Lá morava o velho Pedroso num estado de miséria absoluta. Arrumamos um quarto, consertamos o telhado, fechamos as paredes laterais e durante vários anos ajudamos esta família a sobreviver e a conservar o local. Posteriormente, aumentando o número de participantes nos mudamos para o Bairro da Serra. Deixamos com saudade a imensa roda d’água de madeira que alimentava em força motriz o velho engenho e também os inúmeros borrachudos que infernizavam os nossos banhos. Começamos a melhorar o novo local de pousada. Trocamos o sapé do telhado, fizemos beliches, acrescentamos banheiros e cozinha ao antigo depósito de bananas da casa do Vandir de Andrade. Ampliamos a cozinha com um puxado de telhas de alumínio e
Foto 3: Guy Collet, Michel Lebret e François Valla na entrada de Ostras da Caverna do Diabo em 1970.
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Foto 4: Guy Collet e Michel Lebret estudam mapas na sede de campo da SBE.
instalamos água encanada. O máximo do conforto. O terraço foi consolidado, foram feitos degraus com seixos rolados, cabides rústicos para os macacões molhados, um imenso varal, mesa de trabalho para preparar as lanternas, elaboração das mochilas e estudo dos mapas. Cada um trazia algo para incrementar este segundo lar, aumentando o espaço, ampliando as comodidades. Um trazia um espelho, outro um fogão, alguém uma dúzia de pregos, chaleira, frigideira...... Um dia tivemos 8 cadeiras, número já insuficiente (completamos rapidamente para 14). Podíamos até convidar gente de fora sem passar por selvagens. Um belo dia (15/08/1970 - quinze de agosto de mil novecentos e setenta) fizemos a inauguração da “Sede de Campo” da SBE, com festa, vinhos e discusos!
Nós tínhamos lampiões a gás a noite, mesas para jantar, baús para guardas provisões de mantimentos, carbureto, sabonetes, farmácia, papel higiênico... tudo isso mantido constantemente em ordem, atualizado por todos nós sem contabilidade, sem a menor obrigação, espontaneamente. Depois, outros grupos sabendo da nossa mordomia, começaram a frequentar o rancho e trazer amigos, e amigos de amigos... Fomos obrigados a fechar tudo a chave porque não havia estoque que aguentasse essas formigas. Deixavam o local imundo, em desordem, pelado. Contratamos a mulher do Vandir para limpar e conservar o rancho. Instituimos uma taxa de permanência para os sócios da SBE e uma outra para os não sócios a fim de manter o botijão de gás cheio e pagar a reposição do que se quebrava e a emprega-
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da. Não era fácil disciplinar esse pessoal jovem, sem ordem, sem grande respeito pela propriedade alheia. Criamos um regulamento tentando orientar os novos visitantes a informar quantas pessoas e quantos dias iam permanecer. Devagar tudo se ajeitou, os beliches tinham colchões individuais, tínhamos triplicado os banheiros e arrumado um local para guardar os carros mais perto do rancho. Não dominávamos a situação, mas era viável. O Grupo Bagrus, ou pelo menos grande parte dos seus filiados, colaborava nas pesquisas arqueológicas que Collet desenvolvia paralelamente e quase sempre concomitantemente às atividades espeleológicas. Aliás, é bom lembrar que a primeira visita ao Betari com Le Bret em junho de 1962 foi para Collet verificar a possibilidade da presença do homem primitivo nas entradas das cavernas da região, pretexto do Michel para inocular discretamente o vírus da espeleo no seu amigo Guy, porém, o vibrião cavernícolo não dominou totalmente a nova vítima, que com muitos esforços conseguiu prosseguir as suas pesquisas que produziram resultados satisfatórios durante muitos anos culminando com a redescoberta dos Sambaquis Fluviais perto de Itaoca-SP por Collet em julho de 1975. Esse achado foi qualificado de “Nova Estrutura Arqueológica no Estado de São Paulo”. As saídas se sucederam em ritmo extraordinário, passando de uma saída mensal às expedições a outros estados como os da Bahia, em 1971,
Goiás, 1972-73-74, pesquisas prolongadas de 5, 6 ou mais dias nos campos-escola da arqueologia, em colaboração com o Instituto de Pré-história da USP, escavações do Departamento de Arqueologia da SBE nos abrigos do rio Maximiniano (Iporanga-SP) e outros levantamentos de gravuras rupestres no estado (Analândia-SP, Abrigo do Alvo; Altinópolis-SP, Abrigo e Caverna do Itambé) além de prospecções em Itaoca na região de Pavão. Ao voltar para casa havia todo o trabalho da reconstituição dos levantamentos topográficos feitos em cavernas, dos relatórios de prospecção arqueológica com croquis, fotos, procura de bibliografia, preparação e organização das expedições interestaduais, os trabalhos para os congressos ou comunicação com outras entidades, artigos para boletim e “Espeleotema”. Certas relações familiares foram frustradas e abaladas por esta dedicação talvez excessiva à espeleologia e arqueologia. Dentro do grupo certos elementos se relacionavam e se identificavam mais com certos tipos de atividades, o que permitia um revezamento e uma escalação menos freqüente, mas os cabeças da equipe, os responsáveis eram sobrecarregados (por gostar da atividade!). A Sociedade Geográfica, a quem Collet como sócio comunicava essas atividades e resultados condecorou Pierre Martin com a Ordem do Marechal Rondon durante o VI Congresso Nacional de Espeleologia e fez Collet “Comendador” da mesma ordem pela
Certas relações familiares foram frustradas e abaladas por esta dedicação talvez excessiva à espeleologia e arqueologia.
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Memória sua dedicação pioneira à ciência da de padronização das representações espeleologia no território nacional e gráficas dos nossos levantamentos a pelas suas relevantes descobertas no fim de se equipararem aos de grupos ramo da arqueologia paulista nestes do exterior, trabalho em geral ingraúltimos anos. to, demorado, porém indispensável à O primeiro cadastro das cavida- atualização do citado cadastro, um des naturais do território nacional foi dos objetivos básicos da SBE. iniciado em 1963 por Michel Le Bret Um empreendimento do Grupo auxiliado em São José dos Campos Bagrus que teve apoio e ajuda tanto por Collet em mão-depassando ao obra como pente fino os fornecimento inúmeros e de material e gigantescos equipamentos volumes da por parte dos Enciclopédia Opiliões, foi o dos Municípios laboratório Brasileiros que subterrâneo, relatam a sua ou pelo menos história, localia tentativa de zação, produestabelecê-lo ção e sítios na caverna interessantes Ressurgência constando evide Águas dentemente se Quentes no existe presenBairro da Serça de locais ra (Iporanga históricos e SP). Collet cavernas. teve contatos Foram feitas muito interescentenas de santes com fichas com inmembros do dicações do “Laboratoire meio de acesSouterrain de so e as poucas Moulis”, na informações França, um lasobre essas boratório praticavidades. camente único Collet tem Foto 5: François e Vandir nas matas do Ribeira. no mundo aonainda nos seus de se estuarquivos um exemplar do primeiro vo- dam, no seu ambiênte, os achados lume que era completado mensalmen- biológicos e zoológicos de muitas te com as informações, precárias partes da França e do mundo. A suainda, fornecidas pelos companheiros gestão destes especialistas era de colaboradores. Foi posteriormente for- montar, mesmo que rudimentar, um mada uma comissão para centraliza- centro de pesquisa da vida ipogea no ção dos dados, os quais Martin e Vale do Betari. Eles, com o tempo, Clayton se encarregaram de organi- poderiam apoiar a nossa iniciativa zar e estruturar melhor o acervo. Nesta mandando pesquisadores e talvez época também se estudou um meio recursos.
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O Bagrus se entusiasmou com a idéia e, numa caverna com razoáveis condições de viabilidade, iniciou dispositivos para receber a vida animal aquática. Como era carente de especialistas, recorreu à USP fazendo um apelo para obter um plano de trabalho e orientação prática para instalações hidraulicas adequadas à manutenção da vida sem trauma desses animais tão delicados e frágeis. O acolhimento foi frio, quase hostil, com recomendações de não mexer em bioespeleologia sem ordem de graduados no assunto. A xenofobia diminava o tema. Após instalar algumas caixas de 1000 litros e outras de 500 litros, 2 aquários, todos alimentados por canos de PVC rígidos, torneiras de inox e posto uns vinte e poucos termômetros a intervalos regulares para estudo meteorológico, o grupo deixou de investir no projeto, porém consciente que particulares se interessariam em investir e manter o empreendimento se o plano fosse dirigido por especialistas competentes. Infelizmente não se achava pessoal neste ramo disposto a assumir a idéia, mesmo sem custo algum para a universidade e nós não estávamos prontos. É pena, porque hoje, 20 anos depois (em 1994), poderíamos dispor de um empreendimento ímpar no continente, ter contatos e intercâmbio com biólogos de muitas partes do mundo, visto a nossa fauna subterrânea ser rica e ainda praticamente intocada, desconhecida. Talvez os nossos netos... (Documentação à res-
peito nos arquivos Collet). Também a paleontologia em cavernas não foi muito além de algumas descobertas esporádicas e poucas identificações, apesar de haver pessoal interessado em desenvolver o assunto. Collet, ajudado pela documentação de vários colegas, reuniu um grande número de informações a respeito dos primeiros exploradores de grutas, tanto em São Paulo como em Minas Gerais e outros estados e publicou o “Quem é quem na Espeleologia Brasileira”, fazendo de maneira sucinta e evidentemente provisória (até 1975) uma pequena resenha dos aficcionados da espeleo. Sentindo a necessidade de todo mundo falar a mesma língua e utilizar a mesma palavra para definir a mesma coisa ou fenômeno, coletou os termos mais usuais praticados pelos exploradores e pesquisadores em cavernas e publicou o “Glossário Espeleológico”, englobando também termos de geomorfologia, fenômenos cársticos, definição de equipamentos, formação de espeleotemas, etc... Pequena contribuição para a formação dos grupos novos e melhor definição nas publicações dos mesmos. Esta publicação está sujeita à ampliação e revisão com o decorrer do tempo, a evolução da tecnologia, a aquisição de novos conhecimentos. Há 8 anos o Bagrus se dissolveu devido a vários fatores: a volta dos franceses para a Europa, o casamento de Walter Schimich e a mudança de Collet para o litoral, porém parte
O acolhimento foi frio, quase hostil, com recomendações de não mexer em bioespeleologia sem ordem de graduados no assunto. A xenofobia dominava o tema.
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do acervo do grupo se encontra preservado e de posse de Collet e deve ser integrado ao acervo da SBE caso o mesmo venha a se mudar ou falecer. O tempo passa, os homens amadurecem, se dispersam, a maioria dos acontecimentos dos primeiros anos de atuação dos espeleólogos, dos grupos ou da SBE está ameaçada. Não são todos que têm a paixão de documentar as suas atividades, demandar datas e acontecimentos juntando fotos e croquis, mapas e comentários. Temos exemplos lamentáveis de arquivos d e s t r u í d o s involuntariamente após o falecimento de seu dono, ou retidos por familiares que não fazem nada deles e nem os cedem para o acervo da SBE, não se sabe por que motivo (referindo-se a Pierre Martin). Por favor, quem possuir elementos valiosos para a história dos primórdios da nossa entidade que nos comunique. Se não quiserem se desfazer do original, façam fotocópias antes que isto seja disperso, aniquilado pelas traças ou cupins. Colaborem, a SBE está hoje apta a receber, conservar, estudar, classificar, analisar arquivos particulares ou de grupos que abandonaram a atividade de exploração mas que dispõe ainda de documentos relativos aos seus trabalhos. A memória da espeleo agradece. GUY C. COLLET
Plantão Médico “Corpo Estranho nos Olhos” Responsável: Ricardo Martinelli rsmartinelli@globo.com Um cisco, serragem, areia ou sujeira podem entrar nos olhos causando principalmente irritação e dor.
isto não funcionar, experimente jogar água sobre a partícula enquanto sustém a pálpebra para fora.
Primeiros Socorros Faça com que o acidentado incline a cabeça para frente e tente tirar os fragmentos que estejam na pele, assoprando sobre as pálpebras fechadas. Jogue água sobre as pálpebras e rosto para retirar todo o resto dos fragmentos. Cubra os olhos com uma toalha de banho molhada e procure um médico imediatamente. Não se deve esfregar os olhos.
4. Tratamento para o caso de existir uma partícula sob a pálpebra superior
Cuidados em Casa no Caso de Corpos Estranhos nos Olhos 1. Tratamento quando as partículas nos olhos são numerosas Se existem muitas partículas nos olhos (tais como pó ou areia), limpe primeiro ao redor dos olhos com uma toalha molhada. A seguir, faça com que o acidentado tente abrir e fechar os olhos repetidamente, enquanto você submerge este lado do rosto em um recipiente com água. Se a pessoa não esta conseguindo colaborar, segure seu rosto para cima sob um fluxo suave de água corrente morna e lembrese que as pálpebras devem ser mantidas abertas durante o processo. 2. Tratamento para o caso de existir uma partícula no canto do olho Se a partícula está no canto do olho, retire-a com a ponta de um pano limpo ou com um cotonete umedecido. 3. Tratamento para o caso de existir uma partícula sob a pálpebra inferior Se a partícula estiver sob a pálpebra inferior, puxe-a para fora apertando a bochecha e toque a partícula com um cotonete de algodão úmido. Se
Se não conseguir ver a partícula, é provável que esteja sob a pálpebra superior (o lugar onde ela freqüentemente está quando não pode ser vista). Faça com que o acidentado abra e feche os olhos repetidamente enquanto mantém a face submersa em um recipiente (por exemplo, forma de torta ou outro semelhante). Se isto não funcionar, puxe a pálpebra superior para fora e a coloque sobre a pálpebra inferior. Isto às vezes desaloja a partícula. Procure o médico imediatamente se: - Existir alguma partícula aderida ao globo ocular. - O objeto golpeou o olho em alta velocidade (como por exemplo, um fragmento produzido por impacto de metal contra metal ou metal contra pedra). - Estes procedimentos não eliminarem todo o material estranho que esteja no olho (quer dizer, continua a “sensação de areia nos olhos” ou dor). - A visão não retorna à normalidade após descansar os olhos por uma hora. - O objeto estranho foi extraído, mas o lacrimejamento e as piscadelas persistem por mais de 2 horas. - Tiver outras perguntas. PRIMEIROS SOCORROS: Até conseguir auxílio médico, cubra os olhos com uma toalha molhada ou gaze para aliviar o desconforto. Extraído do Site www.portaldaretina.com.br em 07 de maio de 2007 LinK: http://www.portaldaretina.com.br/ home/dicas.asp?cod=18
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Topografia
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Gruta Crystal Texto: Elvira Maria & Marcelo Gonçalves
Contate os Autores: queenofcaves@gmail.com marcelo.brasil@navicon.org renata@shimura.eng.br
ABSTRACT The Crystal cave located in Iporanga is been explored by UPE for almost two years. A new conduct was discovered inside the cave connecting the touristic part to the river. The survey was thought to be finished at the third time the group has been there but the new part is taken a lot more time to achieve their aim. A very rare fungus was also found in the new conducts and the end of the cave remains a mystery.
Introdução
A
Gruta Crystal se encontra nas terras da Fazenda Caraíba, que localiza-se na beira da estrada que leva ao Núcleo Casa de Pedra, uma estrada próxima à cidade de Iporanga, às margens do rio de mesmo nome. Suas terras estão em uma região limite ao PETAR – Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira. Essa gruta foi descoberta pelo Joílson, espeleólogo e ajudante da Fazenda Caraíba. A história de seu descobrimento é um tanto curiosa, pois ao andar pela região decidiu se sentar para um breve descanso. Nisto sentiu uma corrente de ar saindo por entre as rochas calcárias, e assim começou a cavar e a remover alguns blocos, forçando uma pequena
fenda, até que a entrada se revelou. Já fazia tempo que a UPE se interessava pela região, devido ao relato de alguns integrantes do grupo que afirmavam ter visitado essa caverna; então no ano de 2004 foi feita uma uma primeira visita técnica ao local, para se constatar o potencial espeleológico da região. Naquela época, fomos informados de que a Gruta Crystal estava fechada à visitação, porém conseguimos um contato com o Sr. Humberto (responsável pela propriedade) e o mesmo nos informou da sua intenção de realizar um plano de manejo das cavidades exitentes nas sua s terras. A Crystal é uma gruta de fácil acesso por trilha completamente plana e possui um portão com cadeado (Foto 1). Em julho de 2005 a UPE iniciou os trabalhos de re-topografia da Gruta Crystal, visto que já existia uma mapa preliminar em papel vegetal; então foram contatados os autores da topografia na esperança de
analisar a massa de dados para tentar aproveitar parte do trabalho já feito, diminuindo assim o impacto a ser causado pelo remapeamento da gruta. Apesar da boa vontade dos autores, infelizmente não foi possível obter os dados originais e assim ficou difícil saber qual o grau de precisão alcançado e a vetorização pura e simples do que já existia tornava-se insuficiente para representar a morfologia da cavidade, o que é de suma importância para qualquer estudo que venha a ser feito. No mapa original da Gruta Crystal a caverna tinha 450 metros e nem imaginávamos que ela iria nos surpreender tanto com relação a novos trechos não mapeados. Nesta época também foram iniciados os trabalhos em outras três cavidades existentes na fazenda; seus mapas podem ser conferidos nos Foto: Elvira Maria
Mapa: Renata Shimura
Foto 1: Entrada da Gruta Crystal, com grade e cadeado
Topografia
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informativos de número 3 e 5, acessados via site da UPE.
Grupo de Rio Claro), foram montadas duas equipes de topografia e toda a parte turística da gruta foi reFormações e toprografada. Somando-se Biologia aos pontos já isolados da A gruta possui parte turística foram inúmeras e lindas formações, colocadas mais fitas beleza ímpar e zebrada a fim de guiar os ornamentações raras como topógrafos e evitar um “flores de aragonita”, “chão possível dano às formações de estrelas” e “dentes de (Foto 2). cão”, por isso não é permitido Em janeiro de 2006, a o uso de carbureteira na UPE retornou à caverna mesma para não escurecer para finalizar a reas formações com a fuligem. topografia, Seguindo a rota pois faltava turística, chegaapenas um se num salão pequeno superior com trecho não g r a n d e turístico que quantidade de inclui um espeleotemas, conduto de e ali teto baixo de encontramos 13 metros escorrimentos, d e cortinas, comprimento colunas e ainda seguido de diversas “flores uma fenda de aragonita”. de 8 metros Nesse mesmo de altura por salão foi 30 metros descoberta e uma mandíbula Foto 2: Espeleotemas isolados durante os trabalhos de d comprimento. incrustada na topografia Mas para rocha, num n o s s a trecho de teto baixo. Estudos realizados em 2003 pelo profundidade e após a fenda surpresa justamente na BEC (Babilônicos Espeleo temos a presença de um grilo última visada no finalzinho Clube) revelaram se tratar do coberto por pequenos da fenda, descobriu-se um uma “pálato superior” de um porco basídios de fungos do grupo “buraquinho”, do mato. Atualmente, devido Agaricales, de coloração passagem em quebraà constante visitação de branca, medindo cerca de 0.5 corpo “S”, e decidiu-se turistas, certas formações a 0.8 mm de comprimento por verificar o que tinha do outro lado. Apenas os menores muito delicadas conhecidas 0,3 mm de diâmetro. integrantes do grupo como “algodão”, que também passaram, no caso foram A Topografia identificamos na primeira as meninas e uns poucos incursão à gruta, Da primeira saída meninos, sendo assim essa s i m p l e s m e n t e desapareceram das participaram integrantes da passagem foi chamada de paredes, pois somente a UPE e do EGRIC (Espeleo conduto luluzinha, e os Foto: Elvira Maria
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corrente de ar causada pela passagem de um grande número de pessoas pode desprender a formação. Ainda no trecho turístico encontra-se sambaquis cristalizados sob chão de estrelas, assim como num local de teto baixo, um conglomerado de seixos. No Salão das Flores foi encontrado um esqueleto completo de Bothropis jararaca, em uma cova de cerca de 3 metros de
Topografia
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Foto: Elvira Maria
demais amigos do grupo, os maiores, tentaram ao máximo passar, porém não conseguiram. Depois da passagem abre-se um salãozinho, a direita seguese um conduto que termina depois de 20 metros. A
Foto 3: Conduto da Luluzinha, somente os menores tem acesso ao conduto do rio esquerda segue outro conduto que termina numa fenda bem profunda, não se consegue ver seu fundo e o mais surpreendente é que ouve-se barulho de água vindo lá de baixo. Porém as paredes dessa fenda são totalmente instáveis e ao menor toque das mãos elas se soltam ou então se desmancham. Nesse ponto foi colocada uma base fixa para que retornássemos em breve, munidos de uma corda de apoio. Voltamos e comunicamos a todos o que havíamos encontrado, todos
ficaram perplexos e entusiasmados em saber que a caverna continuava. Questionamos as pessoas que conheciam a gruta para ver se sabiam da existência de água dentro dela, pois nem mesmo no mapa original isso era demonstrado. Nesse mesmo local vimos um claro exemplo sobre a cadeia alimentar: foi encontrado um morcego em estado de decomposição e uma aranha sobre ele, se alimentando. Nas cavernas, a cadeia alimentar tem início com os detritos. Nos locais onde a matéria orgânica é acumulada, as bactérias, fungos e insetos a utilizam como alimento. Esses organismos por sua vez, irão servir de alimento para aranhas, besouros e outros predadores. E por acontecerem num meio hipógeo (fatores ambientais mais constantes, maior dificuldade para decomposição, impacto maior das interferências) esses ciclos podem ser f a c i l m e n t e interrompidos e/ou alterados pela presença humana dentro das cavernas. Por isso, com o aumento da visitação de turistas todo cuidado é exigido! Na terceira incursão utilizamos uma corda como apoio para descer a primeira fenda e uma escadinha de alumínio
(equipamento cedido por Peter Slavec, da década de 70) para chegarmos ao rio. O Marcelo (Lagosta) foi o primeiro a descer, pois havia deixado cair a caderneta de anotações dentro do rio, mas conseguiu salvá-la e iniciamos então a exploração do novo trecho. Ali, seguindo a esquerda chega-se num pequeno salão com belas formações, como uma coluna sendo metade branca e a outra metade marrom, muitas elictites, além de um chão de estrelas logo à frente. Mas nesse salão o que mais chamou nossa atenção foi a existência de hifas de um fungo em um banco de argila, o Hipochinicium punctulatum Hook (Foto 4). Os estudos desse fungo em cavernas são escassos existindo registro da ocorrência
Foto: Renata Shimura
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Foto 4: Fungo Hipochinicium punctulatum Hook, encontrado dentro da Caverna Crystal
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Topografia
Desnível 7
apenas no Brasil. Segundo Pedro, 2005: “as espécies do gênero Hipochinicium, são sem duvida os basidiomicetos mais adaptados às condições do ambiente cavernícola, pois colonizam a zona fótica e afótica de quatro cavernas da mesma formação geológica, a Gruta Crystal, a Caverna da Paçoca, a Caverna do Couto e a Caverna Laje Branca. As hifas deste fungo com formato aracnóideo, se expandem pela argila e rochas até encontrar um banco de sedimentos vegetais onde colonizam e frutificam sob a presença de luz, podendo então esta espécie servir como bioindicador de impacto.” De volta ao leito do rio, uma “pequena praia” escondia algo mais que areia fina, uma série de cortinas e
estalactites brancas ao fundo chamaram a nossa atenção. Logo ao lado, encontramos o sifão de onde surge o rio, água forte e constante, então voltamos e iniciamos a topografia desde a descida, adentramos ao sifão até onde fora possível, cerca de 20 metros em um lugar não muito aprazível, sem apoio aos pés e quase sem a possibilidade de passar sem capacete, onde mapeamos o trecho e saímos de lá congelando, finalizando um grande “looping”. Assim continuamos a mapear rio abaixo, até o momento em que percebemos um curioso detalhe: o rio que estávamos descendo, passou a correr contra nós, ou seja no meio do caminho existe um lago que é um sifão por onde toda a água desaparece, porém ao passar por ele não se percebe. Chegamos em um
ponto onde seria necessária a intervenção mecânica na rocha dentro do rio, pois a argila se fixou na parede e estreitou demais a passagem, mas nada que um martelo e talhadeira não resolvessem, mas isso ficaria para uma outra investida. Na quarta ida a gruta continuamos a topografia do conduto do rio que inicia-se com um teto baixo, e assim seguimos o tempo todo dentro d´água e em alguns trechos mais fundos é necessário atravessar nadando. O uso de roupa de neoprene por baixo do macacão é indispensável, pois o risco do corpo ficar com hipotermia é bem grande. Outra vez ao ataque, agora com neoprene, talhadeira e martelo, bem como os equipamentos de praxe,
Foto: Marcelo Gonçalves
Foto 5: A Gruta Crystal cobra caro cada metro explorado, seja pelo frio de suas águas gélidas, seja pelos condutos estreitos e quebra corpos que comumente rasgam os macacões mais resistentes.
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Fotos: Ricardo Martinelli(1 e 2); Paulo Jolkesky(5); Marcelo Gonรงalves(3) e Elvira Maria(4)
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Denominação: Gruta Cristal SBE - SP531 / Codex - SP XX
?
Iporanga - SP Escala original: 1:500 Litologia: Calcário Localização: Fazenda Caraíba UTM 22J E 743648,901 N 7285524,913 Latitude: S 24º 31´ 29,94” Longitude: W 48º 35´ 42,38” Datum: WGS 84 Altitude:160 m (snm) Topografia Grau 5C - BCRA PH: 1430 m (descontinuidade) DL: 1960 m Desnível total: 36,69 m Extensão Norte-Sul: 487,63 m Extensão Leste-Oeste: 724,15 m
Legenda
?
Ossada Helectite Escorrimento Escorrimento (Bolo de noiva) Estalagmite Estalactite Sg
Sm
Coluna Flores Cortinas Guano Ninho de Pérolas Travertinos Coluna Chão de Estrelas Blocos
Nm
Ng
Escala 0
9º 37´ Declinaçao magnética 2006
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Topografia
Desnível 7
abrimos a passagem e uma grossa camada de dentro d’água, resolvemos continuamos até o local onde argila, o que nos impedia de deixar para a próxima saída. seria novamente necessária continuar. Então, munidos de Na última investida, a intervenção mecânica, uma espátula iniciamos o em fevereiro deste ano, o porém os braços já não trabalho de raspar a parede objetivo era seguir pelo respondiam muito bem e após quase uma hora de conduto do rio e tentar devido ao frio e as últimas trabalho, nos revezando encontrar o final da caverna. investidas, assim iniciamos nessa função, foi conseguida Desta forma, entramos na o caverna em mapeamento duas equipes, invertido e uma que iria após 16 horas terminar de de trabalhos topografar dentro d’água a l g u m a s conectamos pendências e a a s outra que topografias, tentaria avançar junto a do e transpor mais outro grupo um ponto de que havia afunilamento do e n t r a d o rio. A equipe de conosco. exploração logo Então, não foi chegou ao dessa vez. primeiro poço S e r i a onde existe um necessário pequeno trecho mais uma de natação, investida para notamos que o tentar finalizar nível da água a topografia. havia subido, N a pois ao passar quinta e sexta pelo teto baixo, investidas à foi necessário gruta foram estar com o nariz descobertos dentro d´água. uns salões Como se abria superiores ao um salão logo conduto do em seguida, rio, sendo que optamos por ir dentro de um Foto 6: Espeleotemas de rara beleza decoram gran- até o trecho deles existe de parte da Gruta Crystal. Infelizmente, pela visitação conhecido e um enorme desordenada, muitos deles já foram depredados. verificar a travertino com possibilidade de a água totalmente cristalina. a transposição, com muita continuar. Mas como Mas a idéia ainda era seguir dificuldade. Porém, após estávamos indo contra o fluxo o conduto do rio e tentar trinta metros do rio, a cada metro que encontrar seu fim, porém este aproximadamente, o conduto avançávamos a correnteza continuava a estreitar até se estreitou novamente, e ficava mais forte e a que chegamos em um ponto então, cansados pelas dificuldade em prosseguir onde as paredes possuíam inúmeras horas de trabalho era imensa pois nesse Foto: Ricardo Martinelli
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Topografia
Desnível 7
conduto não dá pé e as paredes são bem estreitas, o que nos obriga a andar de lado, com o peito numa parede e as costas na outra, sem nenhuma agarra visto que as paredes tem uma grossa camada de argila. Quanto mais o tempo passava maiores eram as dificuldades em avançar e o nível da água preocupava, e assim pensando na segurança de todos, decidimos voltar.
Conclusões A caverna é muito maior do que os 450 metros iniciais. A UPE ainda esta trabalhando em seu mapeamento, existem atualmente algumas frentes em aberto, principalmente no conduto do rio. O final da gruta continua um mistério, pelo menos até o momento. Novas investidas serão necessárias para finalizar os trechos superiores e averiguar a possibilidade de continuação do conduto do rio, que a cada saída se mostra mais complicado e apertado. Hoje a Gruta Crystal possui 1960 metros de desenvolvimento linear e 1430 metros de projeção horizontal, com 36 metros de desnível. Já a algum tempo a Crystal entrou definitivamente para o roteiro turístico de cavernas. Basta que se pergunte para qualquer monitor local sobre a Crystal que ele leva até a caverna, bastando pagar um valor, para que logo a chave
seja liberada. Com o aumento constante da visitação turística, muitos espeleotemas estão sendo danificados e o ecossistema da caverna pode ser facilmente alterado. Alerta-se para o fato de que sua localização, fora dos limites do parque “não” possibilita nem autoriza sua utilização comercial. Por sua importância tanto do ponto de vista biológico como geológico, sua visitação deve ser interrompida, até que estudos de impacto e manejo sejam realizados.
Conservação e a Abordagem Ecológica Homem x Cavernas. UNISO, Sorocaba/SP, 2002. (Não Publicado) 2- Pedro, E.G.; Bononi, V.L.R..Fungos Cavernícolas da área de visitação da cavernas turísticas do núcleo Santana e caverna Laje Branca-PETAR-SP, Instituto de Botânica, 57pg. 2003. 3- Pedro, E.G., Fungos Cavernícolas do PETAR, Espeleo 2005, Redespeleo, 2005 (Não Publicado).
Referências 1- Branco, E. M. A., Ambientes Cavernícolas – Algumas Considerações Geológicas, o Patrimônio do PETAR como Unidade de Foto: Paulo Jolkesky
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Foto 7: Espeleotemas importantes e raros como o algodão, praticamente desapareceram. As causas ainda não foram totalmente elucidadas, mas especula-se que a abertura da cavidade tenha aumentado a corrente de ar dentro da caverna, fazendo com que sua destruição fosse apenas questão de tempo; outra possibilidade é que a visitação desordenada a qual a caverna esta sendo submetida faz com que a simples passagem de pessoas pelo corredor onde estão os raros espeleotemas provoque movimentação da massa de ar local, ocasioando movimentação freqüente e conseqüentemente sua destruição
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Prevenção
Desnível 7
CALOR E BALANÇO DE FLUIDOS Segunda parte do artigo sobre as enfermidades relacionadas ao calor Autor: Eduardo Portella
ABSTRACT The second part of the article about infirmities related to heat explains about cramps, faints and hyperthermia and points some directions on how to treat them.
Enfermidades relacionadas ao calor Estas enfermidades são o resultado da temperatura corporal elevada, devido a uma inabilidade de dissipar o calor corporal e/ou uma diminuição do nível de fluidos. Lembre-se sempre que uma enfermidade moderada, se não for tratada corretamente, pode se transformar em uma enfermidade severa com risco de vida. Cãibras de Calor Cãibras de Calor são uma forma de cãibra muscular provocadas por esforço e pela baixa concentração de sais. Ocorrem espasmos musculares, seguindo-se uma redução de cloreto de sódio no sangue, de modo a atingir concentrações inferiores a um certo nível crítico. A alta perda de cloreto é facilitada pela sudorese profusa e pela falta de aclimatização. Tratamento das Cãibras de Calor Reponha sais e fluidos e alongue a musculatura. Treinamento apropriado e uma correta hidratação e alimentação irão ajudar a prevenir as Cãibras de Calor.
Síncope de Calor A Síncope de Calor (desmaio) é uma forma moderada de enfermidade relacionada ao calor, que resulta do exercício físico em um ambiente quente. No esforço para aumentar a Perda de Calor, os vasos sangüíneos periféricos dilatam de tal maneira que o fluxo de sangue para o cérebro diminui, resultando em sintomas de desmaio, tontura, dor de cabeça, taquicardia, inquietude, náusea e vômito, podendo levar à inconsciência. Reposição inadequada de fluidos (que leva a uma desidratação) contribui de forma significativa para este problema. Tratamento da Síncope de Calor A Síncope de Calor deve ser tratada como um desmaio. A vítima deve permanecer deitada ou sentada, de preferência, na sombra ou em local fresco. Os pés devem ser elevados e a vitima deve ser hidratada com fluidos de hidratação (que contenham sais). A vítima não deve fazer atividade física, pelo menos até o fim do dia. Exaustão do Calor Ocorre quando a perda de fluidos por transpiração e respiração é maior do que a reserva interna de líquidos. (diminuição de volume). A Exaustão do Calor é uma forma de choque hipovolêmico. A falta de fluidos faz com que o organismo promova uma vasoconstricção periférica (dos braços e pernas, principalmente). Uma baixa
Contate o Autor: eduportella@ajato.com.br
pressão arterial é o evento crítico resultante, devido, em parte, a uma inadequada saída de sangue do coração e, em parte, a uma vasodilatação que abrange uma extensa área do corpo. Os sintomas da Exaustão do Calor são a sudorese; pele pálida e mole (devido à vasoconstricção periférica); pulso acelerado; respiração acelerada; temperatura normal ou ligeiramente elevada; eliminação de urina diminuída; sensação de fraqueza, tontura, sede e ansiedade; náusea e vômitos (devido ao decréscimo de circulação no estômago). Tratamento da Exaustão do Calor A vítima deve ser hidratada e deve ser muito cuidadosa ao reiniciar a atividade física (é melhor consultar um médico antes). O tratamento é o mesmo utilizado na Síncope de Calor, mas deve-se ser mais cauteloso quanto a voltar aos exercícios. O organismo precisa de algum tempo para se restabelecer. Os pés devem ser elevados e a vitima deve ser hidratada com fluidos de hidratação (que contenham sais). A vítima deve beber lentamente, pois beber rápido, ou em grande quantidade, pode causar náuseas e vômito. A Exaustão por Calor pode se tornar um Golpe de Calor, se não for tratada corretamente. A vítima de Exaustão do Calor deve ser monitorada de perto para termos certeza de que a temperatura do corpo não ultrapasse os 39ºC. Caso isto ocorra, tratar a vítima como Golpe de Calor.
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Prevenção
Desnível 7
Golpe de Calor - Hipertermia O Golpe de Calor é uma das poucas ameaças à vida em enfermidades relacionadas ao calor. A vítima pode morrer em questão de minutos se não for tratada de forma adequada. A Hipertermia ocorre quando a temperatura do núcleo do corpo é tal, que põe em risco algum tecido vital que permanece em contínuo funcionamento. Temperatura interna acima de 41 ºC pode levar à morte. Esta enfermidade se dá por um distúrbio no m e c a n i s m o termoregulador, que fica impossibilitado de manter um equilíbrio térmico adequado entre o indivíduo e o meio. Existem dois tipos de Golpe de Calor - por diminuição de fluidos (início lento) e com o nível de fluido intacto (início rápido).
nível de fluidos suficiente. Exemplo: Escalada longa em um dia com temperatura acima de 40 °C. Sintomas do Golpe de Calor A chave para indicar o Golpe de Calor é a pele quente. Algumas vítimas podem apresentar pele quente e seca, outras, pele úmida e quente. Isto porque a vítima pode ter acabado de
Nível de Fluido Diminuído (início lento) - A vítima apresenta Exaustão do Calor devido à perda de fluidos por transpiração e/ou i n a d e q u a d a reposição de fluidos, mas continua a Foto: Ricardo Martinelli “funcionar” em uma situação de Ganho de Calor. Finalmente, a falta de passar de uma Exaustão do fluidos minimiza a capacidade Calor para uma Hipertermia. de perda ativa de calor do Vasoconstricção periférica (a organismo a um nível que a pele fica pálida) temperatura do núcleo do corpo Pulso - aumentado começa a se elevar. Exemplo: Respiração - aumentada Escalar em um dia quente com Nível Urina - diminuído pouca água. Temperatura - aumentada Nível Fluido Intacto (início (pode estar acima de 41 °C) rápido) - A vítima está sob uma Pele - seca ou úmida situação extrema de Ganho de AVDI (Alerta, Verbal, Dor, Calor. O Ganho de Calor Inconsciência) - Mudanças ultrapassa o mecanismo de severas no estado mental e perda ativa de calor do motor/sensorial organismo, mesmo com um
Pupilas - podem estar dilatadas e não responderem à luz Tratamento do Golpe de Calor A temperatura do corpo deve ser abaixada imediatamente! Mova a vítima para a sombra ou para um local mais fresco. Remova o excesso de roupas. Derrame água nas extremidades e abane a pessoa, para aumentar a circulação de ar e a evaporação. Se possível, coloque a vítima em água fresca (Gelada NÃO). M a s s a g e i e vigorosamente as extremidades que estão sendo refrescadas, para que o sangue resfriado possa voltar para o núcleo do corpo. Após a temperatura ser reduzida a 39ºC, diminua o resfriamento ativo, para evitar hipotermia (tremores produzem mais calor). A vítima deve ser monitorada para evitar que a temperatura suba de novo. Reposição de fluidos - a vítima irá precisar de fluidos, independente do tipo de início da Hipertermia. Ressuscitarão Cardio-Pulmonar se necessário. A vítima pode apresentar várias complicações sérias. Preparese para evacuar a vítima.
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Artigo Científico
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LEVANTAMENTO PRELIMINAR DA FAUNA CAVERNÍCOLA E DO POTENCIAL BIOESPELEOLÓGICO DA CAVERNA AREADO GRANDE III – SP – BRASIL. Autores: Emerson Gomes PEDRO*; Alécio PEREIRA JUNIOR*; Paulo Valsecchi do AMARAL*.
RESUMO Este trabalho apresenta um levantamento preliminar da fauna cavernícola da caverna do Areado III. Os trabalhos foram realizados durante expedição da União Paulista de Espeleologia-UPE em Maio de 2007. A amostragem da fauna cavernícola foi realizada de forma qualitativa, através de observação direta dos espécimes em campo, não foram realizadas coletas, desta forma, a identificação de muitos animais restringiu-se aos níveis taxonômicos mais elevados. Foram identificados também registros indiretos de animais que utilizam o ambiente cavernícola. Nota-se a necessidade de levantamentos posteriores para a identificação das demais espécies ocorrentes no local. Palavras-chaves: Fauna cavernícola, bioespeleologia, Expedição Areado.
ABSTRACT This work presents a preliminary survey of the cave fauna of some regions of cave Areado III. The works had been carried through during the expedition carried through for Union Paulista of Espeleology - UPE - in the State of São Paulo. The sampling of the cave fauna was carried through of qualitative form, through direct comment of specimens in field, had not been carried through collections, of this form, the identification of many animals restricted it more the raised taxons levels. Indirect registers of animals had been identified also that use the cave environment. It is noticed necessity of posterior surveys for the identification of the too much species in the place.
keysworks: Cave fauna, bioespeleology, Areado Expedition.
* Babilônicos Espeleo Clube – BEC-
babilônicos_espeleo_bec@yahoo.com.br 1 - Introdução
A
ausência de luz nos ambientes cavernícolas é fator determinante para a existência de vida, uma vez que a produção primária de nutrientes é impedida de ser realizada na ausência de luz. A exceção refere-se que algumas bactérias. O meio subterrâneo é muito mais pobre em energia e suas fontes são inconstantes, podendo vir de material trazido por cursos d’água ou adições de matéria provenientes de fendas, abismos e por morcegos (Culver, 1982). Desta forma o aporte de energia necessário para a existência de vida nestes ambientes ocorre do meio hipógeo para o epígeo. No Brasil os levantamentos bioespelelógicos são realizados esporádica e irregularmente desde 1971, por ocasião e levantamento topográfico de cavernas (Dessen, et al, 1980). Posteriormente diversos trabalhos fazem referências acerca da composição da fauna cavernícola brasileira (Sánchez (1986); Trajano (1986), (1987); Trajano & GnaspiniNeto (1991); Gnaspini & Trajano (1994); Pinto-da-Rocha (1995), entre outros). Até 1994, eram conhecidos 537 espécies de invertebrados e 76 espécies de vertebrados que habitavam as cavernas brasileiras. (Pinto-da-Rocha, 1995). Este trabalho é resultado da Expedição Areado, realizado no período entre 28
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Artigo Científico
Desnível 7
a 4 de maio de 2007 no Município Apiaí – SP, onde um de seus objetivos era realizar um levantamento preliminar da fauna cavernícola brasileira. Esta região está situada numa faixa calcária bastante extensa ao sul da cidade de Guapiara, indo até o Rio Temimina, na direção sul/oeste, e até o rio Pilões, ao leste. Pertence ao município de Iporanga, Estado de São Paulo (altitude 710 m) (Desnível, 2004). Este levantamento visa contribuir para o aumento do conhecimento da fauna cavernícola brasileira, e em especial do Município de Iporanga-SP. 2 - Objetivos Realizar o levantamento preliminar da fauna cavernícola durante a Expedição Areado. 3 - Metodologia Até o presente momento não haviam dados referentes as cavernas do sistema Areado, inclusive sobre a composição de sua fauna cavernícola. Para a realização deste levantamento preliminar os trabalhos em campo acompanharam o andamento dos trabalhos da Expedição. A amostragem da fauna cavernícola foi realizada de forma qualitativa, através de observação direta dos espécimes em campo, não foram realizadas coletas, desta forma, a identificação de muitos animais restringiu-se aos níveis taxonômicos mais elevados. Foram identificados também registros indiretos como rastros, fezes, ossadas (Becker & Dalponte, 1999 e Borges e Tomás, 2004) ninhos e ovos de animais que utilizam o ambiente cavernícola.
A amostragem do material biológico foi feita em todos os habitats potenciais, incluindo substrato rochoso (paredes e teto) e blocos abatidos, bancos de sedimentos e acúmulos de guano de morcegos e de detritos vegetais, poças e cursos d´água, e meio aéreo (Trajano & Gnaspini-Neto, 1991). 4 - Resultados As espécies descritas a seguir foram registradas após a Expedição Areado. SP 510 – Gruta Areado III Reino Metazoa Filo Chordata: Classe Mammalia: Ordem Chiroptera. Ordem: Rodentia. Classe Amphibia: Ordem Anura – presença de girinos. Filo Arthropoda: Classe Crustácea : Ordem Decapoda, Família Aeglidae Classe Hexapoda: Ordem Coleoptera; Ordem Díptera; Ordem Hymenoptera – Família Formicidae. Ordem Hemíptera – Família Reduvidae. Ordem Orthoptera – Família Gryllidae. Classe Arachnida: Ordem Araneae, Espécie: Platos sp, Ordem Opiliones; Classe: Diplopoda. Filo Mollusca: Classe Gastropoda – conchas. Reino Fungi Constatou-se apenas a presença de micélio esterilha sobre depósitos de sedimento de origem vegetal, nas áreas de condutos de rio e desmoronamentos, em zona afótica e fótica sob clarabóias.
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Desnível 7
Reino Metaphyta Presença de plântulas em guano que indicam a existência de morcegos frugívoros. Potêncial paleontológico
Artigo Científico completas provavelmente de lontras e ossos de pássaros, que indicam que este salão pode ter sido usado para abrigo e alimentação desta espécie da fauna, pois devido a conservação destes ossos, não possuindo partes quebradas ou fraturadas, fato que descarta a possibilidade de queda acidental. Uma das ossadas apresentava em seu ventre um esqueleto em formação, trata-se de uma fêmea que estava em gestação quando morreu.
Foto 1 : Aracnídeo no salão do acampamento
Foto 3: Ossadas de Lutra cf longicaulis 6 - Conclusões
Foto 2 : Animal não identificado, provável girino, apresentando características peculiares e troglomorfismos, presente em um travertino a 1,5 metros de altura com fluxo de água no conduto do rio (espécie em descrição). A caverna do Areado possuí um salão denominado Salão dos Ossos onde podemos encontrar ossadas em perfeito estado de conservação de pelo menos 3 espécies de animais, crânios de porco do mato calcificados com formações de coraloides, ossadas
Conforme observado anteriormente, as identificações restringiram-se aos níveis taxonômicos mais elevados devido à inexistência de coletas neste levantamento. Os espécimes observados em campo apresentam troglomorfismos (Trajano & Bichuette, 2006) aparentes, o provável girino possuí despigmentação e olhos de coloração negra. A caverna do Areado III apresenta um potencial espeleológico a ser explorado, inclusive em levantamentos detalhados quanto a
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Artigo Científico
Desnível 7
estiveram presentes durante esta expedição. 7 - Referências Bibliográficas Becker, M. & Dalponte, J.C.,. Rastros de Mamíferos Silvestres Brasileiros. Brasília, 2a ed. Brasília. Ed. UNB; Ed. IBAMA, 1999. CULVER, D.C., Cave life: Evolution and ecology. Harvard University Press, Cambridge, MA (USA), 1982. Dessen, E.M. B., White, W. B., Silva, M. S., Temperini-Beck, M. T., & Trajano, E. Levantamento preliminar da fauna de cavernas de algumas regiões do Brasil. Ciência & Cultura, 1980, 32(6):714-25.
Fotos 4 a 10 : Ossadas completas, crânio e maxila de lutra longicaulis cf.; foto 11: Maxilar superior de porco do mato completamente calcificada com formações de coraloides em meio as ossadas de Lontra.
sua fauna, tanto qualitativos quanto quantitativos não restringindo-se apenas ao ambiente epígeo, mas também em toda a área de abrangência dos sistemas carsticos em questão. Nota-se a necessidade de levantamentos posteriores para a identificação das espécies ocorrentes no local. Agradecimentos SAUDAÇÔES BABILÔNICAS a todos os companheiros que contribuíram para a realização deste trabalho e que
Gnaspini, P. & Trajano, E.,. Brazilian cave invertebrates, with a checklist of troglomorphic taxa. Revista Brasileira de Entomologia, 1994, 38(3/ 4):549-584. Pinto-da-Rocha, R.,. Sinopse da Fauna Cavernícola do Brasil (1907-1994). Papéis avulsos de Zoologia, 1995, 39(6):61-173. Trajano, E.. Fauna cavernícola brasileira: composição e caracterização preliminar. Revista Brasileira de Zoologia. 1987, 3(8)-533561. Trajano, E. & Gnaspini-Netto. Composição da fauna cavernícola brasileira com uma análise preliminar da distribuição dos táxons. Revista Brasileira de Zoologia. 1991, 7(3):383407
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Desnível 7
PROCAD 2007
Autor: Fabio “Coringa” Kok Geribello Várias pontos foram levantados e analisados, para que a decisão de retopografar a Caverna do Diabo fosse tomada. Abaixo estão citados os mais importantes e também um relato do como foi o trabalho de ligação das bases fixas. Por que retopografar a Caverna do Diabo? 1. No início do ano, a SBE possuia apenas um mapa não referenciado da Caverna do Diabo (CD) e não havia uma base de dados confiáveis das topografias já executadas, pois a maioria dos croquis e anotações gerados perderam-se com o decorrer dos anos. 2. A linha de trena existente foi digitalizada em um software que armazena as distâncias em pés; ao fazer a conversão para metros no próprio software, acontece um arredondamento, distorcendo os dados de distância. Portanto, hoje não podemos realizar ajustes e correções na topografia existente e nem inserir topografias de novas áreas ou áreas que necessitam ser retopografadas, por inconsistência ou erros encontrados. 3. A linha de trena existente possui vários erros que deveriam ser corrigidos no decorrer do tempo para que, a cada expedição o mapa, por sua importância e relevância, fique cada vez mais preciso e detalhado. Além disso a linha de trena não se encontra dentro dos parâmetros da BCRA (British Cave Research Association) informados no mapa impresso.
Topografia
realizada uma reunião para discussão do planejamento e acomodação das equipes, formadas da seguinte forma: Equipe1: Coringa (I=Instrumentista), Araújo (T=Trena), Leandro Periquito (A=Anotador), Alessandra (Ap=Apoio); Equipe2: Ronny (I), Jacques (T), Renata Shimura (A); Equipe3: Portella (I), Mauro (T), Francisco “Wilber” (A), Terzian (Ap); Equipe4: Ricardo Cortez (ECA), Claudia Caiado (UPE/CEU). Os trabalhos foram assim divididos: As Equipes 1, 2 e 4 entrariam pela Boca da Tapagem até o local de acampamento (próximo à base D10, no salão da Pata do Mamute) e de lá se dividiriam sendo que a Equipe 1 ficaria com o encargo do levantamento da linha de trena desde a base D10 até o sumidouro da Caverna, na área turística, a Equipe 2 topografaria a partir da D10 se dirigindo rio abaixo e entrando nos grandes salões até o “T” na D30 e a Equipe 4 facilitaria a topografia dos grandes salões encontrando todas as bases e deixando, em lugar visível, um dispositivo luminoso que seria posteriormente recolhido pela equipe de topografia. Enquanto isto a Equipe 3 se dirigiria para a ressurgência do rio, na Boca de Ostras e após a aquisição de uma coordenada através de GPS iniciaria a topografia até a base D30. Caso sobrasse tempo a equipe 2 ou 3 topografaria o trecho entre as D17 e D19. Estava também previsto que as Equipes 2 e 4 fizessem um pernoite na caverna enquanto as Equipes 1 e 3 voltariam para dormir nos chalés. Os preparativos terminaram às 11:00 h da manhã e as Equipes 1, 2 e 4 entraram na caverna às 12h. Após o traslado à área do acampamento (2 horas) iniciaram as atividades por volta das 15:00h. A Equipe 3, que teve bastante dificuldade na trilha que vai do núcleo à boca de Ostras, devido à vegetação crescida, iniciou os trabalhos às 14:45h. Todas as equipes cumpriram o seu objetivo de forma surpreendente, inclusive com a topografia do trecho extra não previsto. O dispositivo luminoso que destacava a localização das bases nos salões se mostrou bastante eficaz e as equipes não tiveram que perder tempo tentando encontrar cada base. Às 16:00h do dia 07, todas as equipes já haviam saído da caverna com os trabalhos executados. Na seqüência, os dados foram digitalizados e compilados:
A proposta atual
Equipe 1: 1.500m de topografia em 11h50;
Conferir a linha de trena entre as bases fixas (deltas) já existentes, o que permitirá gerar uma base de dados mais confiável para anexar futuras topografias, corrigir desvios que ainda existem no mapa atual e permitir que os trabalhos de exploração e mapeamento da maior caverna do Estado de São Paulo estejam fundamentados em uma topografia correta.
Equipe 2: 490m (trecho de muita dificuldade) em 14h00;
Todo o levantamento será executado sem croquis, uma vez que o mapa já existe e desejamos, neste momento garantir a integridade dos levantamentos outrora executados. Estima-se um total de 3000 metros de topografia, o que representa todo o longo eixo da caverna. Execução e Resultados Com os objetivos citados acima em mente, foi realizada uma saída da UPE à Caverna do Diabo. Na manhã do dia 06/04 foi
Equipe 3: 1.014m de topografia em aproximadamente 12h00. Além das equipes de topografia da UPE, outros sócios da SBE realizaram atividades de prospecção e também de levantamento biológico, inclusive com a participação de nossa sócia Elvira Maria. Após o jantar, o sócio honorário da UPE, o americano Chris Nicola da NSCC apresentou uma palestra relatando como descobriu e confirmou a história de 5 familias judias (38 pessoas) que se refugiaram, por quase um ano (344 dias) durante a 2º Grande Guerra, dentro de uma das maiores cavernas do mundo onde hoje é a Ucrânia.
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Lojinha da UPE
Desnível 7
Macacões de Espeleo da UPE Testado e aprovado nas piores condições possíveis
Fabricação própria Disponível nos tamanhos PP, P, M e G.
ESPELEOPHOTO Abertura e tempo de Exposição
Para se tirar uma fotografia é preciso definir a quantidade de luz que se deixa passar para o filme e o tempo durante o qual essa luz passa. Estas são as duas variáveis que determinam a exposição e designam-se abertura do diafragma e tempo de exposição. A abertura refere-se à quantidade de luz que passa num dado instante para o filme, o tempo de exposição expressa o tempo durante o qual o filme recebe essa quantidade de luz. Podemos obter a mesma exposição com diferentes combinações de abertura e tempo de exposição: usando uma abertura maior pode-se expor durante menos tempo e vice-versa. Tanto a abertura quanto o tempo de exposição são expressas em escalas logarítmicas, nas quais cada ponto da escala deixa passar metade da luz do que o seguinte. O tempo de exposição é expressa em segundos e fracções de segundo que correspondem ao tempo durante o qual o obturador abre para deixar passar a luz para o filme. A maior parte das máquinas fotográficas permite utilizar os seguintes tempos de exposição: 1 segundo, 1/2, 1/4, 1/8, 1/16, 1/30, 1/60, 1/125, 1/250, 1/500 e 1/1000 de segundo. Estes tempos de exposição são usualmente apresentadas de forma abreviada, mostrando apenas o denominador da fração (1, 2, 4, 8, 16, 30, 60, 125, 250, 500 e 1000). A abertura é expressa pela relação entre a distância focal da objectiva e o diâmetro da abertura do diafragma que deixa entrar a luz. Assim, uma objetiva de 50mm que deixe passar a luz por uma abertura de 25mm de diâmetro tem um abertura igual à distância focal (f) a dividir por 2, ou seja f /2. Frequentemente, representa-se a abertura apenas pelo denominador desta fração, apresentando-se neste caso o número 2 para se referir a esta abertura. Compreende-se assim facilmente que, quanto menor for o número da abertura, mais luz passa através da objectiva. É comum encontrar escalas de abertura com os seguintes valores: 2, 2.8, 4, 5.6, 8, 11, 16 e 22. Também nesta escala cada valor deixa passar metade da luz do que o precedente, pelo que se pode fazer uma tabela de conjugações de abertura e tempo de exposição para se obter exatamente a mesma exposição. Tempo de Exposição 1/2 1/4 1/8 1/16 1/30 1/60 1/125 1/250 1/500 1/1000
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Abertura 32
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Fonte: Texto e fotografias © 1997-2001 Rui Grilo www.ruigrilo.net ou www.ruigrilo.net/fotografia
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Desnível 7
Log de Atividades
EspeleoLog
Tudo o que a UPE fez ou participou no primeiro semestre de 2007 Coordenação: Elvira Branco (queenofcaves@gmail.com)
Data: 20 e 21 Janeiro Município: Iporanga - SP Local: PETAR - Gruta do Farto, Núcleo Caboclos. Participantes: Ricardo Martinelli, Michel Frate, Eduardo Portella, Ricardo Terzian, Marcelo Gonçalves Objetivo: Iniciar a topografia da Gruta do Farto. Horas de Trabalho: 90 h X H
Data: 18 Fevereiro Município: Iporanga - SP Local: XVI EPELEO – Encontro Paulista de Espeleologia, CIEM – Centro Integrado de Estudos Multidisciplinares, Apiaí. Participantes: Marcelo Gonçalves, Elvira Branco, Mauro Zackiewickz e Rosana Gaona Objetivo: Ministrar mini-curso sobre Topografia de Cavernas. Horas de Trabalho: 32 hX H
Data: 24 e 25 Março Município: Iporanga - SP Local: Gruta do Fartinho – Núcleo Caboclos, PETAR. Participantes: Ricardo Martinelli, Michel Frate, Marcelo Gonçalves, Leandro Valentim, Francisco Gabas e Danila. Objetivo: Prosseguir com a topografia da caverna Fartinho. Horas de Trabalho: 84 h X H
Pórtico de entrada da Gruta do Farto Foto: Ricardo Martinelli
Data: 24 a 26 Janeiro Município: Apiaí - SP Local: PETAR - Gruta Cabana, Núcleo Caboclos. Participantes: Ricardo Terzian e Mauro Zackiewicz. Objetivo: Localizar a clarabóia grande da Gruta da Cabana e os abismos próximos ao Núcleo Caboclos, fazer track-log das trilhas e localizar área de camping. Horas de Trabalho: 58 h X H Data: 10 e 11 Fevereiro Município: Iporanga - SP Local: Gruta Crystal, Fazenda Caraíba – Iporanga Participantes: Marcelo Gonçalves, Renata Shimura, Igor , Rodrigo Ximenes, Paula Tavares e Elvira Branco Objetivo: Topografar as pendências e verificar a continuidade da caverna. Horas de Trabalho: 54 h X H
Gruta Crystal Foto: Ricardo Martinelli
Areado III
Foto: Ricardo Martinelli
Data: 28 a 01 Maio Município: Apiaí - SP Local: Areado Grande, Caverna Areado III – Núcleo Caboclos, PETAR Participantes: Ricardo Martinelli, Paulo Jolkesky, Marcelo Gonçalves, Ronald Welzel, Mauro Zackiewickz, Rodrigo Ximenes, Elvira Maria Branco, Émerson Gomes Pedro (BEC) e Alécio Pereira Junior (BEC). Objetivo: Continuar a topografia da caverna Horas de Trabalho: 432 h X H Data: 19 e 20 Maio Município: Iporanga - SP Local: Gruta do Fartinho – Núcleo Caboclos, PETAR Participantes: Marcelo Gonçalves, Mauro Zackiewicz, Michel Frates e Eduardo Portella. Objetivo: Prosseguir com a topografia da caverna Fartinho. Horas de Trabalho: 60 h X H
Equipe da UPE reunida durante o PROCAD.
Data: 06 a 08 Abril Local: PEJ – Caverna do Diabo, Procad Município: Eldorado - SP Participantes: Fabio “Coringa” Geribello, Jacques Lepine, Eduardo Portella, Mauro Zackiewicz, Ronald Welzel, Ricardo Araújo, Cláudia Caiado Castro, Francisco Gabas, Ricardo Terzian, Leandro Valentim, Elvira Maria Branco, Renata Shimura, Christos Nicola, Alessandra, Ricardo Cortez (ECA). Objetivo: Levantamento e interligação de todas as bases fixas da Caverna do Diabo. Horas de Trabalho: 180 h X H
Uma das cachoeiras da Gruta fartinho Foto: Ricardo Martinelli
Data: 07 e 10 Junho Município: Ouro Preto - MG Local: 29º Congresso da SBE Participantes: Elvira Maria Branco. Data: 26 de Junho Município: Campinas - SP Local: Sede da SBE Participantes: Elvira Maria Branco; Rodrigo Ximenes. Evento: Palestra sobre aranha Marron. SBE de portas abertas.
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Desnível 7
Notícias curtas sobre a UPE e a espeleologia nacional UPE tem nova diretoria Realizou-se no mês de fevereiro eleições para o Biênio 2007-2008 da União paulista de Espeleologia. Foram eleitos: -Eduardo Portella - Presidente -Mauro Zackiewicz - Vice-Presidente -Elvira Maria - Tesoureira -Renata Shimura - Secretária -Josef Poker - Segundo Secretário -Ronald Welzel - Almoxarife Nosso sinceros votos de uma ótima gestão!!!
A SBE também! Foi eleita nova diretoria da Sociedade Brasileira de Espeleologia para o Biênio 2007-2008. A Eleição ocorreu durante o 29º Congresso Brasileiro de Espeleologia, com 118 dos 120 votos, e sua formação ficou: -Émersom Gomes Pedro (BEC) - Presidente -Luis Afonso (GESMAR) - Vice-Presidente -Paulo Valsechi (BEC) - 1º Secretário -Silmar Onofre (SEE) - 2º Secretário -Elvira Maria Branco (UPE) - Tesoureira Boa sorte aos nosso amigos!
Novo Local de Reuniões A UPE passará a realizar suas reuniões no Instituto de Engenharia de São Paulo. O Local é mais apropriado e tranquilo, dispondo de restaurante e mesas reservadas. A idéia veio da possibilidade da UPE poder utilizar um espaço sedido pela ANABE Associação Nacional de Arquitetura Bio-Ecológica que será construído em breve dentro do IE. Neste espaço, a UPE poderá montar sua biblioteca permanente e utilizar toda a infraestrutura para suas atividades e reuniões. Aguardem novidades!
Maillon Rapid
EQUIPAMENTOS Batedores Por Eduardo Portella eduportella@ajato.com.br
O batedor é um equipamento utilizado para fazer a perfuração na rocha, onde será colocado os spits, pinos em P ou parabolts. Ele funciona manualmente, onde se fixa o spit ou uma broca em uma das ponta do batedor e na outra se bate com um martelo, fazendo assim movimentos de rotação a cada batida. Este equipamento tem a vantagem de não precisar de eletricidade podendo ser transportado para qualquer lugar, mas tem as desvantagem de ser um processo árduo e demorado, levando-se em média 20 minutos para fazer uma perfuração e bater um spit, pino ou parabolt. Os spits e parabolts são equipamentos fabricados em aço. Eles são usados em locais onde não é possível realizar uma ancoragem natural, possibilitando assim a fixação de chapeletas, e são encontrados no mercado em três tamanho: 8mm, 10mm e 12mm. Os spits e parabolts de 8mm, atualmente são difíceis de serem encontradas no mercado, pois está havendo uma padronização no uso de spits e parabolts de 10mm, por apresentar uma maior resistência e ainda sim, a mesma facilidade para serem fixados como um de 8mm. Durante o processo de ancoragem fixa o espeleólogo encotra-se ou já dentro do lance a ser vencido ou na borda do mesmo, por este motivo é importante que exista uma pequena bolsa pendurada no cinto de segurança e também é impressindível que o batedor e o martelo possuam cordins amarrados, assim se acontecer qualquer descuido e o equipamento cair, é só puxar de volta. Outra dúvida comum é em relação ao tipo de batedor, existem aqueles emborrachados e com proteção contra batidas na mão, porém, aconselhamos o modelo mais simples onde a noção do ângulo de inserção na rocha fica mais evidente e também com o tempo a borracha do modelo mais sofisticado passa a “rodar” em falso, dificultando a roração do batedor no momento da perfuração. Realizar uma ancoragem fixa parece fácil, porém envolve grande número de variáveis, sem contar que é neste ponto que você confiará sua vida, portanto é aconselhável que procure cursos ou aprender com os mais experiêntes antes de se aventurar por ai.
Boas Explorações!!
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Desnível 7
Foto do Semestre
Salões superiores da Gruta Areado III
Foto : Paulo Jolkesky Dados Técnicos: velocidade 1/32s; abertura F 4.9; ISO 50; flash; distância focal 6 mm; Máquina - Nikon D200