ANO 6 • Nº 61 • FEV/MAR 2009 • EDIÇÃO BRASILEIRA
MODA PROFISSIONAL
inverno 2009
moda à brasileira Dona Lia, 69 anos, desfila para Ronaldo Fraga
+ ESPECIAL BREAD & BUTTER MICKEY, BARBIE E HELLO KITTY LENA PESSOA CONQUISTA LV SUSANA SAULQUIN ANTIOXIDANTES
ISSN 1808-6829
R$20,00
VESTUÁRIO
CALÇADOS&BOLSAS
MALHARIA
JEANS
INFANTIL
ACESSÓRIOS
LOJISTA
CULTURA
COMPORTAMENTO
Muito mais que inspiração
A UseFashion é a mais completa fonte de informações estratégicas sobre moda. Tudo que sua empresa precisa saber para inovar a cada dia, ampliar negócios e gerar lucros. Pesquisando no portal usefashion.com e no UseFashion Journal, a inspiração ganha cor, forma e valor. www.usefashion.com
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sumário
ANO 6 • Nº 61 • FEV/MAR 2009 • EDIÇÃO BRASILEIRA
MODA PROFISSIONAL
27 VISUAL MERCHANDISING Observe os detalhes da vitrine da Max Mara em Nova York 28 LOJAS Brasileira cria conceitos de lojas para LVMH 30 RADAR INTERNACIONAL Transgressor e Clássico: o melhor dos estilos opostos 32 RADAR NACIONAL O roxo para o inverno 2009 34 COMPORTAMENTO Verdades sobre o negócio de luxo. Por Álvaro Arthur de Castro 36 PERFIL Susana Saulquin e sua dedicação à Sociologia da Moda 38 CULTURA Consumo e produção em massa x humanismo e criação 40 TEMPORADA BRASILEIRA Inverno 2009: Fashion Rio e SPFW 78 MEMÓRIA Mary Quant: a estilista da minissaia
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ao leitor A nova temporada de “caça à moda” está aberta. Fashion Rio, na sua 14ª edição, e a SPFW, na 26ª, dão sinais mais que suficientes de maturidade e profissionalismo. O Brasil já se acostumou com o importante significado de abrigar estes dois eventos de grande magnitude e abrangência nacional e internacional. O país já provou que tem fôlego e mercado para dar guarida a estas semanas de moda fundamentais para sinalizar direções e estimular a criatividade de toda a importante indústria brasileira do setor. Como conseqüência imediata, toda esta energia criativa influencia de forma direta a venda global do lifestyle brasileiro que, a cada dia, ganha mais espaço no mundo. Encerradas recentemente, as semanas de moda brasileiras deixam um rastro inconfundível de criatividade e audácia. Uma enorme quantidade de informação, disseminada por uma cobertura de mídia não equiparável em outras áreas, multiplica as idéias, os produtos, os negócios e as experiências para milhões de profissionais e consumidores de todo o hemisfério.
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USEFASHION JOURNAL
inverno 2009
moda à brasileira Dona Lia, 69 anos, desfila para Ronaldo Fraga +
ESPECIAL BREAD & BUTTER MICKEY, BARBIE E HELLO KITTY LENA PESSOA CONQUISTA LV SUSANA SAULQUIN ANTIOXIDANTES R$20,00
ISSN 1808-6829
5 DICAS DA REDAÇÃO 6 É MODA Os looks de Eliana e Paulo Borges na SPFW 8 ONLINE Megatendências de inverno 2010 em destaque no www.usefashion.com 10 VESTUÁRIO Especial Bread & Butter 14 MALHARIA Spinexpo antecipa tendências em matérias-primas 16 MASCULINO A importância dos mercados alternativos 18 CALÇADOS & BOLSAS Tressês e tramas 20 INFANTIL Barbie, Mickey e Hello Kitty: ícones eternos 22 ACESSÓRIOS O simbolismo das esferas 24 ACONTECE Couromoda e Fashion Business 26 OPINIÃO Diretores da MaxiMarket destacam o valor das marcas no mercado 26 PING-PONG Conheça o produtor cultural Marcos Boffa
VESTUÁRIO
CALÇADOS&BOLSAS
MALHARIA
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INFANTIL
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CAPA: LIA, UMA SENHOR A MUITO ELEGANTE, NO EMOCIONANTE DESFILE DE RONALDO FR AGA, A FAVOR DA VIDA E CONTR A A OBSESSÃO PEL A JUVENTUDE. FOTO: © AGÊNCIA FOTOSITE
EXPEDIENTE Diretor-Presidente Jorge Faccioni Diretora Alessandra Faccioni Diretora de RH Patrícia Santos Diretor de Redação Thomas Hartmann Diretora de Pesquisa Patrícia Rodrigues
NÚCLEO DE PESQUISA E COMUNICAÇÃO Editora-Chefe Journal Inêz Gularte (Mtb 7.775) Subeditora Portal Aline Moura (Mtb 5.717) Gerente de Inovação Daniel Bender (Mtb 11.540) Edição de Moda Eduardo Motta (consultoria) Redação Aline Ebert (Mtb 13.687), Fernanda Maciel (Mtb 13.399), Lisie Venegas (Mtb 13.688) e Tiago Fioravante (assistente) Produção de Arte Ingrid Scherdien (design gráfico), Aline Romero (tratamento de imagens), Carine Hattge (revisão de imagens), Jucéli Silva e Vanessa Machado (web design) Assessora de Planejamento Angelita Manzoni Equipe de Pesquisa Nájua Saleh (moda), Aline Kämpgen, Carlos Paredes, Eduardo Nipper, Juliana Nascimento e Lisiane Ramos(classificação vitrines), Vanessa Faccioni (visual merchandising) Consultores Angela Aronne (malharia retilínea, underwear e beachwear), Eduardo Motta (calçados e bolsas), Juliana Zanettini (jeanswear), Paula Visoná (malharia circular e vestuário masculino) e Renata Spiller (infantil) Colaborou nesta edição Arthur de Castro, Angela Araújo Santos e Paulo Ratinecas
UseFashion Journal (ISSN 1808-6829) é uma publicação mensal do Sistema UseFashion de Informações Tiragem: 10.000 exemplares Impressão: Midia Gráfica - RBS
Com uma poderosa “lente de aumento”, nossa equipe de analistas, profissionais e colaboradores, identificou os sinais e avaliou minuciosamente os detalhes que permeiam estes grandes eventos. Quais as cores, formas, peças básicas, estilos e conceitos. Tudo isso transformado em produtos para gerar negócios rentáveis, você encontrará ao longo das páginas desta edição, detalhadamente preparada para pessoas de alto conhecimento como você.
Vários dos conteúdos que abordamos nesta edição podem ser complementados no portal usefashion.com. Alguns são de acesso exclusivo para assinantes do portal. Ligue 0800 603 9000 e veja como acessar. Os textos dos colunistas e colaboradores são de responsabilidade dos mesmos e não representam necessariamente a opinião da empresa. Todos os produtos citados nesta edição são resultado de uma seleção jornalística e de consultoria especializada, sem nenhum caráter publicitário. Todas as matérias desta edição são de responsabilidade do Núcleo de Pesquisa e Comunicação da UseFashion. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, sejam quais forem os meios empregados, sem a autorização por escrito do Sistema UseFashion de Informações.
Além desse extenso conteúdo, no portal www.usefashion.com, você consegue encontrar a maior e mais completa cobertura das semanas de moda do Brasil e do mundo.
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Bons negócios.
Jorge Faccioni Diretor-Presidente
ERRATA: Na página 4, no sumário, em Calçados & Bolsas, o correto é “... estilos que marcam a temporada”. Na página 10, em Vestuário, no quinto parágrafo, a informação é “...estão naquele ponto crítico...”.
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dicas
da redação Weird Beauty: Fashion Photography Now
foto: divulgação
Fica em exposição até o dia 3 de maio, no International Center of Photography, em Nova York, a mostra “Weird Beauty: Fashion Photography Now”. Nela são apresentadas cerca de 40 imagens, dos mais inovadores fotógrafos de moda internacionais. O material foi coletado de diversas revistas de moda do mundo. Entre os fotógrafos, Mert Alas e Marcus Piggott, Juergen Teller, Steven Klein, Inez van Lamsweerde & Vinoodh Matadin, Terry Richardson, Hedi Slimane e muitos outros. Veja mais: www.icp.org
Eles vêm de Melbourne, Austrália, e são muitos. Uma banda com oito pessoas no palco cantando em coro e utilizando desde instrumentos tradicionais até os mais inusitados, como é o caso de uma furadeira. Architecture in Helsinki são os mais novos queridinhos do indie pop. Lançaram dois trabalhos, Fingers Crossed (Ber None, 2004) e o elogiado In Case We die (Bar None) desse ano. A grande sacada do Architecture in Helsinki é misturar sons eletrônicos com rock, canto e gravações caseiras em processo analógico. Escute: www.architectureinhelsinki.com ou www.myspace.com/aihmusic
Skate Louis Vuitton A marca luxuosa mais valiosa do mundo apostou no universo street e lançou uma coleção limitadíssima de skates grafitados com direito à caixa para guardá-los (US$ 8.250) e mais 70 camisetas com o tema “rose”(US$ 250), tudo inspirado no designer americano Stephen Sprouse, que faleceu em 2004. A partir do dia 2 de fevereiro a coleção estará disponível nas lojas da Louis Vuitton espalhadas pelo mundo. Mais em: www.louisvuitton.com
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foto: reprodução
foto: reprodução
Architecture in Helsinki
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Brinco agar ra orelha. Muit dinho na o bom para look casual um chic que já conta com outros acessórios.
es. Ela está m r o n e s lo u Óc mesmo que im s s a é : a t cer ser. eles devem dourada a h in t n e r r o A c pouquinho briga só um a. Nada sério. ols com a da b
o mbro só. u m e d s a Blu v aloriza r a a r p a e it Perf lsa. a alça da bo
O estilo da bolsa é Ch anel total, mas como a gen te n pode ver a etiqueta, va ão mos ao que o olh o vê: mode lo bem pequen o, alça com correntes e tira do me sm material do corpo da b o olsa.
Cada um dá o testemunho que quer: Preparada para a inevitável e esperada sessão de caça dos paparazzis, a apresentadora Eliana exibe em primeiro plano a estampa de cavalo da Chloé. 6
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A alf aiatar ia dá o tom n par te inf er a ior do lo ok .
A!
D O ulo M a É oP Sã
Sorriso de quem está muito satis feit os acontecim o com entos. Faz sentido, a s emana de moda pauli sta é mesm o um sucesso .
privilegia u e q iç o ã d Na e Borges u a lo P e , s ic as brasileir mundial: a o e n íc u m escolhe it absoluto, H a . m a O b camiseta ias vendidas c p ó e s d e õ com milh o mundo. ao redor d
O lado ind ie do empresário revelado nas tatoos.
Workaholic assumido, criador e produtor da SPFW, o incansável Paulo Borges, flagrado em raro momento estático, aposta na Obamamania e deixa claro que sua praia é a do novo e da transformação.
Jeans esc r u o e cinto larg com fivela chapada de o metal. Com plementos certos para e nfrentar o batente na a semana de m gitação da oda.
arar nas p i o f á h c a O cr não tampar a r a p s o ã m afinal de , a p m a t s e a que dá contas, é ela do look. o id t n e s o todo
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portal usefashion.com conteúdo para assinantes
NOVIDADES foto: © Agência Fotosite
foto: UseFashion
Antecipando tendências
Tendências de desfiles nacionais
foto: UseFashion
DESTAQUE
A tribo que inventou o rock
Nesta temporada, publicamos tendências das duas maiores semanas de moda nacionais, SPFW e Fashion Rio. O assinante pôde conferir o que apareceu de mais importante nos eventos que lançaram a moda nacional do inverno 2009.
Em meados do século passado, um pessoal no interior dos Estados Unidos decidiu misturar blues e country. Nas cidades, eles eram chamados de rock-a-billy, uma junção de Rock com hillbilly (caipira em inglês). Mesmo assim, este movimento criou ícones como Elvis Presley, The Beatles, James Dean e Marlon Brando.
TOP 5 DE 2008 Ranking dos links mais acessados do portal UseFashion:
1º
Notícias: praticamente a mesma equipe que elabora o material que você recebe neste Journal é responsável por atualizar diariamente o portal UseFashion com as notícias mais relevantes para os profissionais de moda. Tanta relevância explica a primeira posição no ranking de audiência.
2º
Desfiles: os desfiles das marcas nacionais no Fashion Rio e São Paulo Fashion Week, além das semanas de moda masculina de Milão e Paris, colocaram este conteúdo no segundo lugar na preferência dos internautas.
3º
Vitrines: provavelmente reflexo do verão, o conteúdo de vitrines teve menos visitação em relação a novembro e dezembro, assim fica com a terceira colocação pela primeira vez neste ranking.
4º
Feiras: a temporada de feiras começou bem agitada, e a cobertura em tempo real foi bastante atrativa para os leitores. Esses motivos garantiram um bom acesso para o conteúdo no período.
5º
Reports: entre os destaques dos reports de janeiro está o de Moda na Novela, que tratou do figurino das principais personagens de “Caminho das Índias” uma semana antes da estreia.
CALENDÁRIO Malha feita com base em garrafas PET recicladas e tingidas
FEVEREIRO 1 a 3 – London Edge
MARÇO 4 a 7 - Micam/Mipel
Ao mesmo tempo em que começavam os desfiles do inverno 2009 do Fashion Rio, a UseFashion antecipou as tendências do inverno 2010. Tanto o processo de pesquisa quanto o conteúdo de Megatendências foi alterado. Ao invés de publicar um documento longo, completo e integral, para cada um dos gêneros, uma vez por temporada e baseado em desfiles e comportamento de consumo, decidimos separar os resultados das pesquisas em três etapas.
3 a 6 – Milano Unica
5 a 12 - Semana de Moda de Paris
8 a 10 – Margin
8 a 10 – Children´s Club
12 a 14 – Première Vision
24 a 27 - FIMEC
Na primeira publicação, o Preview, foram tratadas com profundidade as tendências para o período com suas raízes artísticas e sociais. Grande parte do material veio das nossas pesquisas de feiras internacionais de matéria-prima. Para o Inverno 2010, identificamos três Megatendências: Mobilidade, Encadeamento e Extraordinário. Na segunda publicação, realizada no início de fevereiro, analisamos as tendências do ponto de vista do comportamento, trazendo croquis, desenhos técnicos e imagens icônicas. As Megatendências, aqui, emergiram de nossos estudos sobre a moda de rua. A última publicação, em março, trará como estas Megatendências foram apresentadas nas principais semanas de moda do mundo.
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13 a 20 – Semana de Moda de NY 20 a 25 – Semana de Moda de Londres 25/02 a 4/03 - Semana de Moda de Milão
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vestuário
fotos: UseFashion
especial Bread & Butter
Desfile G-Star
Feira despede-se de Barcelona EM CONSTANTE EVOLUÇÃO, BBB CONFIRMA SUA ORIGEM ITINERANTE Por Fernanda Maciel Consultoria: Juliana Zanettini e Paula Visoná
Ela é referência em inovação, moda alternativa e streetwear. Estamos falando da feira Bread & Butter, que movimentou a cidade de Barcelona, na Espanha, entre os dias 21 e 23 de janeiro, não apenas pelas novidades em vestuário para o outono-inverno 2010, mas pela vasta programação cultural promovida pelo evento a fim de conquistar o seu público-alvo.
da namorada antiga não se fala sobre a namorada nova”, brincou o diretor. Müller ressaltou que não houve nenhum conflito com a organização da feira em Barcelona e que o potencial fashion da cidade ainda está por ser explorado. “Don’t cry, Barcelona. É melhor ir quando a festa está no auge do que ficar para ver como acaba”, declarou.
Nesta 16ª edição, o diretor da Bread & Butter, Karl Heinz-Müller, anunciou a mudança do evento para outra cidade. Mesmo sem a confirmação oficial do novo destino ter sido anunciada até o fechamento dessa edição, há rumores de que a feira retorne para Berlim, local onde tudo começou. “Na casa
Intitulada de United Brands of Bread and Butter e com um dos lemas “Fun & Profit” (Diversão & Lucro), a 16ª edição, além de apresentar foco no vintage original como referência das matérias-primas das coleções de inverno 2010, dividiu o espaço da feira
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em quatro grandes áreas temáticas. A área Denim Base foi destinada às marcas internacionais apresentarem suas criações em índigo. Lá estavam presentes grifes de todos os estilos, da mais clássica e clean, como a Dr. Denim, às mais fashionables como a Replay e a Pepe Jeans. No espaço Fashion Now foram destacadas as novidades para o vestuário feminino, masculino, além de acessórios. Ali se concentraram as marcas mais experimentais como Fly London, Pssy e Vive Maria. No Sport & Street, o foco eram os produtos criados a partir de tendências originadas no universo do skate, do surf e outros esportes. O espaço foi o mais visitado
Exposição Denim Skirt
Pepe Jeans London
Mavi
da Bread & Butter. Já na área Urban Superior se localizam as grifes que se identificam com os estilos lançados nas ruas das principais cidades do mundo. Os visitantes encontram por lá as marcas Camper, Custo Barcelona, Karl Lagarfeld e Melissa. NA PASSARELA A cada ano, a G-Star e a Christian Audiger/Ed Hardy apresentam um preview das suas coleções durante a Bread & Butter, por meio de shows bastante concorridos, realizados várias vezes ao dia. O desfile da G-Star mostrou quatro coleções da linha Functional para o público masculino e feminino. No jeans, a grande aposta da marca está nas calças tridimensionais que, casualmente coincide com o 10º aniversário da Levi’s Engeneered Jeans, com uma proposta similar. As lavagens são as mais variadas possíveis e vão do bleached ao bruto até encerado com aspecto de couro. A Bronco é a co-
Mavi
leção robusta da G-Star, com tecidos em peso 12oz e cortes e detalhes inspirados nas roupas militares. Costuras reforçadas, bolsos duplos, detalhes em couro e botões estilo marinheiro marcam o design das calças. Como complementos estão abrigos de lã e algodão em ponto rústico, e a cartela de cores destaca a combinação de bordô e azul. A coleção também traz peças em couro, como calças e saias para elas e jaquetas para eles. A segunda coleção da linha Functional é a Correct, que aposta no estilo minimal artwork e camisas de colarinho largo, e o preto e o cinza, com toques de bordô como os protagonistas na cartela. A linha Basic Jacket traz jaquetas em lavagens que variam do índigo mais puro ao used, mas sem abusar. O corte é o mais tradicional possível, com inspiração nas jaquetas dos anos 30. Já a linha Organic Denim apresenta a típica ellwood da G-Star em corte tridimensional. De inspiração vintage, a coleção possui peças em selvedge denim confeccionadas à mão e
G-Star
detalhadas ao estilo navy. No feminino, inclui saias, e no masculino, uma jaqueta também em design 3D, além de camisas oxford, camisetas e suéteres confeccionados com matéria-prima orgânica. A Ed Hardy é provavelmente a marca mais celebrity da BBB, pois conta com mais famosos no seu catálogo: 5 mil entre músicos, artistas e atletas. A marca surgiu há mais de 15 anos, quando Christian Audiger licenciou as imagens do tatuador Don Ed Hardy, já famoso nos anos 70 pelos seus dragões e tigres hiperrealistas, bem como pela sua clientela de famosos e afins. Com esta visão de marketing, hoje Christian Audiger possui 70 licenças de artistas e designers e 17 marcas diferentes. O desfile mostrou looks que partem de uma inspiração comum, o western americano, mas com um toque de John Galliano, devido ao exagero nos detalhes e nas estampas. Além do jeans com muitas tachas e serigrafias nos bolsos, a Christian Audiger apresentou uma coleção ampla de swimwear.
Tecidos com fibras sintéticas e artificiais, 100% Poliamida, Poliester e Viscose, para os mais diversos segmentos da moda, além de tecidos com acabamentos especiais para aplicações técnicas e industriais. Produtos diferenciados para uniformes escolares. Isso tudo em uma empressa 100% brasileira. FEVEREIRO/MARÇO 2009
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vestuário
especial Bread & Butter
Desfile G-Star
NATUREZA COMO TEMA As influências que permeiam o universo social, rapidamente traduzidas para o estilo streetwear, foram representadas na Bread & Butter através de estampas, silks e outros tipos de decoração de superfície. Por outro lado, os shapes, propostos para a malha na feira, não apresentaram grandes variações, sendo que as clássicas T-shirts e os práticos hoodies ainda figuram como as peças mais importantes para o ambiente street. As temáticas que abordam questões ecológicas apareceram de modo distinto nos estandes da feira. A marca Cross Jeans, por exemplo, trabalhou estes aspectos tanto nos silks como na proposta de materiais. Em termos de silk sreen, a abordagem buscou demonstrar a importância da organicidade na composição dos desenhos. Os silks foram realizados com tinta à base de água, mais especificamente, em técnica conhecida como tinta-sem-toque, que utiliza pouco pigmento nas áreas de transferência das telas. Em se tratando de materiais, a marca utilizou malhas compostas por algodão orgânico. O mesmo aspecto de organicidade norteou o tra-
balho de outras grifes participantes da feira, como a Komodo, que demonstrou este fator através da elaboração de bordados rústicos. Já a Orion London utilizou florais e borboletas em suas peças, outra forma de explorar a temática. Neste caso, destaque para as cores vivas utilizadas para constituir os silks e as estampas concebidas para decorar as peças. A Traffic People também ressaltou o tema, porém, em estampas em que a abstração é o destaque. A marca apresentou peças com forte apelo nostálgico – caracterizado por modelagens carregadas de romantismo – utilizando tule de malha para melhor materializar este conceito. Esta mesma nostalgia também pode ser observada nas criações da Silvian Heach, com seus vestidos precisos, em que o moletom assume formas muito próximas às modelagens típicas dos anos 40. Por outro lado, a Pepe Jeans Andy Warhol apresentou silks grandes, em T-shirts tradicionais, explorando motivos típicos da cultura urbana – aspecto determinante na Pop Art, da qual o artista Andy Warhol é o maior representante. Cross Jeans
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fotos: UseFashion
TECIDOS DO FUTURO O seminário de tendências “Fabrics of the Future”, realizado durante a Bread & Butter, apresentou as apostas em tecidos para primavera-verão 2010 (2011 para o hemisfério sul). A tendência predominante é o Natural, que prevê o emprego crescente de materiais livres de processos químicos, como algodão orgânico, fibra de bambu, seda, couro e sarja. Plástico e borracha são os materiais da vez entre os sintéticos, acompanhados da tendência “Recycled”, que pode ser vista entre os estandes da Bread & Butter, como, por exemplo, na marca Kuyichi que desenvolveu jaquetas de poliéster feitas com o tecido de garrafas plásticas recicladas. A tendência “Ethereal” sugeriu o uso de transparências, destacando o chiffon e crepe, enquanto “Raw Sensuality” apostou nos rústicos tweed, algodão e jérsei. “Tribal” enfatizou estampas, emblemas e cores de diferentes povos, como Paquistão, Índia, África, Rússia, Japão e América Latina. Entre as tendências em estrutura, destaque para os drapejados manuais, no estilo origami japonês, nas pregas e técnicas 3D, em movimentos circulares, abstratos e geométricos, além das perfurações e laser cutting utilizados para criar o efeito puído ou de tela. Acompanhe a cobertura completa da Bread & Butter no portal www.usefashion.com. Acesse o link Feiras e boa pesquisa.
Pepe Jeans Andy Warhol
Cross Jeans
Evisu
Freddy The Clube
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malharia retilínea verão 2011
Luxo, qualidade e ecologia SPINEXPO ANTECIPA TENDÊNCIAS EM MATÉRIAS-PRIMAS Por Inêz Gularte Consultoria: Angela Aronne A 13º Spinexpo acontece em Shangai, entre 24 e 26 de fevereiro. A feira apresenta seu Fórum de Tendências em meio à turbulência econômica e de mudança de comportamento de consumo. Não dá para negar que os gigantes dos países ocidentais vêm perdendo terreno para os orientais em constante ascensão.
destino dos investimentos no setor é uma caixinha de surpresas. A qualidade, o luxo e os produtos com o selo ecológico continuam como foco central nos investimentos das fiações. A criação visa cada vez mais a perfeição e o investimento em pesquisas de materiais raros e exclusivos.
Os rumos da moda ainda aparecem nebulosos e o
São quatro os temas propostos pelo Fórum de
DANCING Tons pastel e desbotados. As miniestruturas, fios muito finos e de toque suave devem ser trabalhados em malhas regulares. Detalhes delicados como rendas e fitas ganham importância nesse tema.
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Tendências da Spinexpo: Dancing, Climbing, Riding e Flying. Entenda cada um deles e veja como devem ser as matérias-primas para o verão 2011.
fotos: Patrice Galimand / Divulgação Spinexpo
CLIMBING Tonalidades mistas que se prestam para o feminino e o masculino. O volume é destaque em três dimensões com fios de toque suave em contraponto a aspectos rústicos. Misturas do acrílico com materiais naturais estão valendo. Matérias-primas como o papel e o cânhamo dão estrutura aos fios.
RIDING Tons naturais indicam pesquisas em corantes vegetais. O azul, o ferrugem e o bronze aparecem em algodão orgânico e em lãs finas e térmicas. O look vintage se compõe através dos materiais reciclados. A proposta se ajusta perfeitamente ao segmento masculino esportivo, tendo como inspiração a ambientação vaqueiro australiana.
FLYING Tonalidades que sugerem criações dinâmicas e arrojadas envolvendo muita tecnologia e técnicas avançadas. Combinações multicoloridas são apostas nas listras, nos geométricos e nos fios com aspectos brilhantes. FEVEREIRO/MARÇO 2009
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Cena alternativa
fotos: divulgação
masculino
ESTILOS E MERCADOS DIFERENCIADOS Por Fernanda Maciel Consultoria: Paula Visoná
Como uma nova forma de comércio, os mercados alternativos ampliaram os produtos oferecidos ao público jovem com algo além das tradicionais peças do guarda-roupa masculino. O estilista Alexandre Herchcovitch foi um dos pioneiros a enxergar essa lacuna na moda. Ele iniciou sua trajetória nestes mercados alternativos e hoje desfila em Nova York, junto com os principais nomes da moda mundial, sem perder o foco na autenticidade. Para a antropóloga, professora da UFRJ e autora de Nu & Vestido (Ed. Record) e O corpo como capital (Estação das Letras e Cores), Mirian Goldenberg, o homem contemporâneo procura esses mercados diferenciados porque está em busca de originalidade. “É um homem que não aguenta mais as roupas caretas das marcas mais tradicionais. Ele quer mais alternativas de cores, de estampas, de formas, ele quer construir o próprio estilo e não ser apenas mais um homem vestindo uma roupa padrão que é quase um uniforme. Ele quer também transgredir um pouco e usar cores e formas que não são vistas como masculinas. Enfim, ele quer ser único e não um homem padrão”, enfatiza. O estilista da Complexo B, Beto Neves, diz que “assim como todo e qualquer mortal, os homens também querem se diferenciar, serem exclusivos. As feiras e eventos acabam se tornando quase que a única opção para estes consumidores”, destaca. O estilista diz ainda que as mulheres permanecem como as grandes consumidoras deste novo figurino masculino, já que o homem ainda depende da opinião delas e também dos amigos para ousar.
Além de pequenas feiras e exposições temporárias, são poucos os nichos de desfiles para novos talentos em torno das grandes semanas de moda. Na capital carioca, acontecem simultaneamente ao Fashion Rio e, em São Paulo, principalmente na Casa de Criadores. A iniciativa de incentivar a criatividade de jovens designers, por meio destes eventos paralelos, tem uma responsabilidade muito grande na inovação da moda masculina atual. Estes designers, geralmente, buscam dialogar com públicos menores, orientados para mercados em que a linguagem coletiva, que é a forma de representação do grupo, está voltada para a diferenciação.
Spirito Santo
Buscar referenciais nas ruas dos grandes centros urbanos é uma intenção visível nas coleções de Alisson Rodrigues e R. Groove, bem como nas marcas Ausländer e Complexo B. E é uma premissa na orientação das coleções voltadas ao público masculino. O crescimento deste mercado está associado à investigação de novas linguagens, visto que as gerações atuais possuem senso crítico apurado, o que determina também um nível maior de liberdade de experimentação.
Spirito Santo
foto: www.flickr.com/photos/mundomix / reprodução
Em 1994, em São Paulo, acontecia o Mercado Mundo Mix, com 11 expositores, recebendo cerca de 500 visitantes na primeira edição. No ano seguinte, o público passou para 30 mil e, a partir daí, outros eventos desse estilo foram se espalhando pelo Brasil, conquistando públicos diversos.
A grife Spirito Santo, especialista em alfaiataria masculina, embora seguindo uma linha de peças tradicionais e comercializando em lojas próprias, inova nos cortes, oferecendo uma concepção diferenciada para rapazes. Na coleção de inverno 2009, por exemplo, há um modelo de blazer, em que a gola aplicada, de moletom com capuz, pode ser retirada. “Nossa marca tem um lifestyle novo para um mercado totalmente conservador”, acreditam os sócios Andreas e Frederico Renner. Segundo eles, o mundo é feito de tribos e as tribos ditam moda entre os seus. “O público masculino está mais interessado e, consequentemente, há sim mais espaços para marcas que chegam com uma proposta diferente, seja no produto em si, na apresentação, no layout da loja ou nas campanhas. Acreditamos que os alternativos, neste caso, são os que ousam mostrar algo diferente sem perder o DNA de cada marca”, reforçam.
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Mercado Mundo Mix
fotos: © Agência Fotosite
Alexandre Herchcovitch
Ausländer
R.Groove
Complexo B
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calçados & bolsas
Bottega Veneta
Tressês e tramas O BRASIL ADERE E A ITÁLIA SOFRE COM ESCASSEZ DE MÃO-DE-OBRA Por Inêz Gularte O tressê, técnica antiga e artesanal de tramar o couro, é uma das raras unanimidades nas coleções do verão 2010. Armani, Lanvin, Missoni, VBH e Bottega Veneta, esta última consagrada exatamente pelo domínio do tressê, são algumas das grifes que apostaram na estética das tramas. Que a técnica é complexa, que os preços tendem a subir quando ela entra em cena, nós já sabemos. Mas como o tressê já marca presença também por aqui, fomos ao mercado ver como alguns profissionais brasileiros estão lidando com a tendência. Conversamos essencialmente sobre esta técnica, mas vale ressaltar que, além dela, outras formas de tramar materiais como couros, sintéticos e tecidos, estão em alta. Para Cláudia Narciso, diretora criativa da Arezzo, o tressê enriquece o produto com uma textura única e também permite misturas de materiais e tonalidades. Ela comenta que o Brasil domina a técnica e tem mão-de-obra farta, o que facilita a produção. “Já fizemos modelos aplicando o metalizado ouro com fundo bege”, cita ela como uma das experiências que funcionaram.
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Para Clarissa Lehnen, do desenvolvimento de produto da marca Jorge Bischoff, essa forma de trabalhar o couro vem ao encontro do desejo da consumidora pelos trabalhos manuais e representa bem a excelência artesanal da cultura brasileira. “Além disso, o tressê revela uma busca pelo natural, entrando no contexto dos huaraches (calçados típicos mexicanos) escovados”, comenta. Para Lehnen, os produtos confeccionados em tressê podem ser renovados pelos acabamentos e pela interferência de materiais diferentes, entrando no nicho da moda. “As combinações de cores também fazem a diferença”. Ela cita ainda a aplicação de metais e pedrarias em meio à trama. Se no Brasil a demanda do mercado pelo tressê encontra resposta na produção, na Europa, a italiana Bottega Veneta, sofre com a escassez de mão-de-obra especializada, principalmente na região do Vêneto. A crise é tão aguda que a marca decidiu fundar, em parceria com a La Scuola della Pelleteria, em Vicenza, uma escola de formação de profissionais do tressê e de outras técnicas em couro em processo de extinção.
De acordo com Tomas Maier, diretor criativo da marca, “este é um investimento no futuro”. Com todos os custos por conta da grife, o curso tem duração de três anos e ensina técnicas complexas de manufatura em couro, com aulas ministradas por artesãos da Bottega Veneta. Para uma grife que, segundo seu diretor criativo, tem como pilares o “artesanato extraordinário” aliado à “funcionalidade contemporânea” e ao “design atemporal”, não é de se estranhar a busca pela manutenção da tradição. A questão é que o tressê é essencialmente manual. De acordo com Raul R. Robinson, diretor da Di Fatto, indústria de calçados de Estância Velha, que desenvolve a técnica, o trançado até pode ser feito à máquina, mas produz apenas um tipo de efeito e resulta em uma manta linear de aproximadamente um metro de largura. Manualmente, ele é tramado em cima de um gabarito já com as dimensões exatas do cabedal. “Isso exige uma habilidade manual apurada e permite diferentes efeitos, como grega e escama”, enfatiza Raul.
Bottega Veneta
fotos: © Agência Fotosite
Giorgio Armani
VBH
Bottega Veneta
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foto: Gustavo Scatena/divulgação
infantil
Lelê Nakao e sua coleção de Hello Kitty
Hello Kitty
Ícones eternos MICKEY MOUSE, BARBIE E HELLO KITTY: DÉCADAS DE SUCESSO Por Fernanda Maciel Consultoria: Renata Spiller
Eles têm 80, 50 e 34 anos, mas com vitalidade e aparência juvenis. Há décadas marcam presença na infância de gerações. Seja um camundongo, uma meiga gatinha branca, ou até mesmo uma alusão a uma jovem mulher, esses personagens são ícones que despertam curiosidade, fascínio e até pesquisas acadêmicas. Mickey Mouse, Barbie e Hello Kitty são cases mundiais. Afinal, quem nunca ouviu falar deles? Mais que personagens infantis, atravessam o tempo conquistando gerações e virando paixão de consumo também entre os adultos. São os chamados kidults, pessoas que viveram a infância e adolescência na década de 80 e cultuam, até hoje, referências que marcaram essa época, caracterizando um estilo de vida (saiba mais sobre kidult no portal www.usefashion.com em Tribos Urbanas).
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MOUSEMANIA De luvas brancas, calção vermelho e sapatos amarelos, Mickey Mouse é o rato mais famoso do mundo. Um dos ícones da cultura norte-americana, ele representa a imagem de uma das maiores potências do cinema mundial com direito a ser o primeiro personagem animado a ganhar uma estrela na Calçada da Fama, em Hollywood, quando completou 50 anos. Ele apareceu pela primeira vez no dia 18 de novembro de 1928, em um cinema em Nova York, onde foi exibido o curta-metragem Steamboat Willie. Mickey, confinado em um barco a vapor, era obrigado a descascar batatas sob o comando do malvado capitão João Bafo-de-Onça, que descobre o gosto do rato pela música. A criação de Mickey foi uma casualidade. O primeiro personagem da Disney deveria ser o coelho Oswald, porém, por questões legais, acabou se transformando em rato. Walt Disney, junto com o animador Ub Iwerks, desenvolveu a ideia que deu origem ao roedor. De lá pra cá, suas formas sofreram modificações, principalmente, nos olhos e nas orelhas.
Além de filmes e curtas-metragens, o ratinho estampa os mais variados objetos, assim como peças do vestuário. A Cativa Têxtil é a fabricante oficial das roupas Disney para o Brasil e já está lançando ao mercado a coleção 2009 elaborada com os personagens Mickey e Sua Turma. CINQUENTONA FASHION Ela acaba de completar 50 anos e continua esbanjando jovialidade, além de despertar desejos e intrigas. A história da Barbie é marcada por polêmicas, principalmente por suas medidas – almejadas por muitas mulheres reais. Estimativas apontam que a cada dois segundos uma Barbie é vendida no mundo, sendo que o Brasil é o quarto colocado no consumo mundial (mais de 1 bilhão foi comercializado por aqui). A Barbie foi inspirada em uma boneca alemã chamada Bild Lilli, vendida junto com um jornal direcionado ao público masculino. Ela reproduzia a personagem central de uma tirinha chamada “Lilli”, que contava a história
de uma jovem atrevida e oportunista, que fazia de tudo para arrumar um marido rico. Ruth Handler, esposa de Elliot Handler, fundador da empresa Mattel, teve a ideia de fabricar a Barbie, lançada oficialmente na Feira Anual de Brinquedos de Nova York, em 9 de março, de 1959. A primeira boneca vestia maiô listrado em preto e branco – seguindo tendências de moda da época. O nome Barbie veio do apelido da filha caçula do casal Handler, Barbara. A ideia deu certo e a nova boneca foi agregando itens de desejo, sempre a fim de acompanhar o universo feminino em ligação direta com a moda. Vestindo looks assinados por estilistas como Diane Von Furstenberg e Anna Sui, ela passou a ter sua imagem associada a produtos de moda para garotas descoladas.
A Grendene lançou recentemente, na Couromoda, sandálias e botas que levam o nome da boneca, como a Barbie Flash, Barbie Gloss, Barbie Colore e a Barbie Apache. Nem tão infantil assim, a Primícia lançou a linha de viagem Barbie Vintage composta por 12 itens, desenvolvidos em jacquard exclusivo que exibe a silhueta e a assinatura Barbie Vintage. As malas, sacolas, frasqueiras e outros acessórios têm detalhes como os puxadores niquelados e personalizados com o “B” Vintage. GATINHA INSPIRADORA Criada no Japão em 1º de novembro de 1974 pela designer Yuko Shimizu, a meiga gatinha Hello Kitty se tornou mania mundial. O primeiro produto inspirado
nela foi um porta-moedas. Desde então, praticamente qualquer coisa, desde celulares, eletrodomésticos até maquiagens são inspirados na gatinha. “Adoro o fato dela não ter boca.... fala com o coração”. O ar angelical da personagem conquistou a stylist Lelê Nakao, quando criança. Porém, só depois que ganhou a primeira peça com a estampa da Hello Kitty, é que se encantou pela gatinha. “Me apaixonei porque ela é muito parecida com minha cachorrinha Björk”, revela. Segundo a stylist da grife Jum Nakao, sua coleção tem aproximadamente 600 itens, entre eles tv, rádio, telefone, geladeira, latas, bonecas, utensílios de cozinha, de banheiro, de carro... “Mas a peça que eu mais gosto é uma gueixa de gesso que comprei em Nova York”, acrescenta.
Linha Barbie Flash - Grendene
Mickey
MOTIVOS PARA O SUCESSO
fotos: divulgação
Para a pedagoga, especialista em Piaget, Mestre em Psicologia Educacional e professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenadora do Programa de Extensão Universitária “Quem quer brincar?”, Tânia Ramos Fortuna, há pelo menos três razões para o motivo de sucesso da Barbie. “Ela propõe uma imagem exaltante, traduzindo um desejo; ela muda com o passar do tempo, mas sem perder a identidade e, ainda, desperta para a independência; posso ser médica ou surfista que terei sucesso”, explica a professora. Em relação às críticas de muitos educadores e feministas diante da Barbie, Tânia ressalta: “Ela é uma boneca de 29 centímetros, que tem uma cintura fina para dar caimento ao tecido. É pura física”, enfatiza e reforça “a Barbie tem uma alusão à sexualidade, mas na verdade seu busto não mostra mamilos ou pelos. Alude, sem explicitar”. Para ela, a consagração de bonecas tem uma história que começa muito antes da Barbie, relacionada a rituais africanos de fertilidade. No caso do Mickey e da Hello Kitty, a professora reforça a questão dos dois combinarem características humanas e animais, sem ser uma coisa, nem outra. “São brinquedos parecidos com gente e com bichos, liberados para viver em mundo dos sonhos”, conclui.
Coleção Inverno Cativa Textil
Barbie, 1959
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acessórios
Cenário do desfile da Dries Van Noten - Verão 2010
Da ciência para a moda ESFERAS SE FORTALECEM COMO SÍMBOLO DE MARCAS E ÉPOCAS Por Lisie Venegas Antigamente, no Egito, as esferas e os globos eram símbolos de um deus eterno e supremo, representando regularidade e sabedoria. Nas ciências, como a matemática, por exemplo, o termo se refere a um sólido geométrico formado por uma superfície curva contínua cujos pontos estão equidistantes de um outro fixo e interior chamado centro. Já na física, é um objeto capaz de colidir ou chocar-se com outros que ocupam espaço. Essas são apenas algumas das muitas maneiras de defini-las. Na moda, elas são amplamente utilizadas em todas as temporadas e, mais do que sua forma pura e simples, o status de símbolo é fortalecido ano após ano. Basta olhar as campanhas publicitárias que utilizam esferas na criação de um logotipo na elucidação de uma ideia. O “Colar da Vitória”, desenvolvido por Susan Komen com o intuito de simbolizar a luta das mulheres contra o câncer de mama, é um caso. Na peça, as contas fazem referência à variação do tamanho real dos nódulos quando identificados na mama. Seu design e significado fez com que o acessório, além de sinal de alerta, virasse item fashion. Um dos nomes internacionais que investiu pesado na tendência, chegando a um resultado que, apesar de tamanhos maxi, apropriou-se da simplicidade estética das esferas, foi Dries Van Noten. Em sua última coleção, para o verão 2010, o estilista aliviou no étnico, exatamente quando muita gente aderiu e, a começar
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pelo cenário, ousou ao colocar enormes bolas de metal na passarela. Estas funcionaram como extensão da coleção, onde colares de inspiração africana com grandes esferas laterais tiveram destaque. Na mesma temporada, Marc Jacobs também não deixou por menos na Louis Vuitton. Étnico, futurista e retrô, ele mesclou materiais e referências de culturas, como a africana e a japonesa, e períodos distintos. Nos acessórios, isso se refletiu em grandes colares e brincos, principalmente em argolas decoradas com esferas de madeira ou resina. Segundo a designer de joias da Amsterdam Sauer, Claudia Neves Matados, não é de se espantar que as esferas sejam umas das formas que mais estão presentes em criações de estilistas nacionais e internacionais. “Sejam de pedras, metais ou pérolas, elas são um clássico na joalheria, assim como o tecido de bolinhas (petit pois) na moda”. Contudo, ela diz que a lapidação de gemas leva em conta tanto fatores estéticos, como a maneira que esse formato influenciará no valor final do produto. “Conseguir a forma esférica na lapidação de uma gema resulta em perda maior de material. Por essa razão, os quartzos, que são os mais adequados a este tipo de lapidação, têm tanta ênfase nesse formato”, aponta. Para Alberto Sabino, designer de joias e bijuterias de sua grife homônima, a partir de uma curta definição geométrica sobre as esferas, pode-se viajar na fan-
tasia, nos simbolismos e nos movimentos. “Para nós, designers, é a perfeição da simetria”, diz. Sabino, que também está produzindo peças com design oriental para a novela da Rede Globo, “Caminho das Índias”, afirma que a essência das esferas e círculos é atemporal. O que muda, em sua opinião, são os efeitos, novos materiais e novos pontos de vista. “Chiara, personagem da atriz Vera Fischer na trama, usa joias com ouro 14k e bijoux turquesas em formatos ovais e esféricos, mas sou eclético”, revela. Possíveis fontes de pesquisa sobre o universo das esferas dentro da moda, são a Megatendência Austeridade, para o inverno 2009, e a Tecno Déco, para o verão 2010, que podem ser acessadas pelo portal www.usefashion.com. Na primeira, em que tudo converge para um padrão de elegância incontestável, porém adequadamente discreto, a dica é fazer o muito passar por quase nada ao olhar despreparado. Nesse sentido, apesar de clássicas, as esferas se justificam por si só, uma ou várias, grandes ou pequenas, elas carregam o sentido dessa tendência em sua essência. Em Tecno Déco, a composição do futuro busca formas do passado para que, logo à primeira vista, haja a percepção de algo familiar em meio à estranheza do novo. Os anos 20, estendendo-se até a década de 40, época em que a pérola se consagrou como maior ícone esférico da moda, são temas em voga para as próximas temporadas.
fotos: © Agência Fotosite
Dries Van Noten - Verão 2010
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acontece
Couthe - várias tendências em uma só - trançado, pelo e nada de bolsos aparentes
Balanço positivo COUROMODA – INVERNO 2009 A Couromoda 2009, ocorrida entre 12 e 15 de janeiro, em São Paulo, registrou 65 mil visitas em quatro dias, 10% menos do que em 2008. Mesmo assim, o volume de negócios se manteve, com compradores do Brasil e da América Latina garantindo as vendas. “Registramos uma visitação muito qualificada, com a presença de visitantes com poder de decidir compras, o que resultou em um volume de vendas fechadas e encaminhadas para os próximos 100 dias, da ordem de R$ 6 bilhões”, destacou Francisco Santos, Presidente da Couromoda.
tecnologicamente atualizada, saudável economicamente e empenhada em desenvolver calçados que atendam aos desejos de moda e às necessidades de consumo da população”.
O fator negativo foi a menor presença de americanos e europeus, preocupando o quesito exportação. Mesmo assim, Santos refuta: “O período crítico para o setor de calçados já passou. Nossa indústria está
Há marcas estreantes, algumas antigas se relançando, outras apostando em novos públicos ou segmentos. Selecionamos, nesta edição, um resumo de lançamentos que marcaram presença na feira.
Território Nacional - casual com cara de esportivo
O mesmo otimismo apareceu nos lançamentos de calçados e bolsas vistos nos estandes. Mesmo que muitos especialistas digam que a época não é para inovações, o que mais se viu foram empresas tentando se diferenciar em um momento em que a concorrência, principalmente pelo mercado nacional, anda tão acirrada.
Cavage - toque artesanal
AZ - salto trabalhado
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MagiaTeen - foco em pré-adolescentes
Paralepypedo - conceito em nova marca
fotos: divulgação
Luz da Lua - cor primária
Edu Bolsas - maleabilidade permanece
Democrata - costuras viram protagonistas
Ortopé - clássico revisitado
Cordez por Ana Hickmann - tipo sacola
Cospirato - clássico modernizado
Via Uno - montaria ganha salto
Converse All Star - versão para Ozzy Osbourne
França desfila no Rio FASHION BUSINESS – INVERNO 2009
Durante o evento, o presidente do Sistema Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira ao lado do presidente da Federação Francesa do Prêt-à-Porter Feminino, Jean-Pierre Mocho, assinaram a parceria de cooperação entre o Fashion Rio/Fashion Business e o Salão Prêt-à-Porter através de ações de interesse comum. Na ocasião, as marcas Alessa, Filhas de Gaya e Homem de Barro (as duas últimas compõem o desfile de Novos Estilistas), foram convidadas por Mocho a participarem do Salão Prêt-à-Porter, que aconteceu de 30 de janeiro a 2 de fevereiro em Porte de Versailles. Para Jean-Pierre, as marcas selecionadas representam a criatividade e diversidade brasileira.
Após a cerimônia de assinatura, as grifes francesas desfilaram na passarela do Fashion Business. A marca Valentina Vox prestou uma homenagem ao Brasil apresentando seu beachwear comportado. Já Margareth & Moi e Lefranc Ferrant destacaram vestidos coloridos e esvoaçantes.
foto: Danilo Apoena/divulgação
A inserção do Brasil no mercado internacional foi o foco dos organizadores da 13º edição do Fashion Business realizado entre os dias 11 e 16 de janeiro, paralelamente ao Fashion Rio, na Marina da Glória no Rio de Janeiro.
Ainda buscando ampliar a inserção internacional, a 13º edição do Fashion Business criou o Espaço Internacional, uma vitrine de grandes de marcas brasileiras, que contaram com a presença da FedEX, gigante mundial de entrega de mercadoria e também novo patrocinador do evento. Outra novidade desta edição foi o aumento da capacidade do Salão Multiuso, um espaço que serviu de palco para desfiles e palestras durante o Fashion Business. Entre as seis marcas expositoras que desfilaram no espaço, esteve a L´etage. A marca se inspirou em uma viagem cultural ao Leste Europeu e no estilo hippie chic dos anos 70 para elaborar seus looks.
L´etage
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opinião ANGELA ARAÚJO SANTOS E PAULO RATINECAS*
GESTÃO DO RECONHECIMENTO O VALOR DA MARCA
Os concorrentes, na luta por diferenciais, se embatem em uma acirrada disputa pela percepção de valor. Para ser bem avaliado pelos diferentes públicos é preciso ressaltar a legitimidade dos produtos e serviços, mas também das realizações. Capacitações como essas destacam a organização e agregam valor à marca. Ao optar pela implementação de um programa de gestão de reconhecimento, a empresa se distingue e atesta maior desempenho em relação aos seus players. Ao privilegiar o reconhecimento, a organização direciona o foco para as vantagens, os pontos de excelência, e, até mesmo, os pontos fracos, o que favorece o dimensionamento dos riscos existentes no seu posicionamento mercadológico. A gestão de reconhecimento valida a marca. E essa, quando fortalecida, expande fronteiras, incrementa vendas, aumenta resultados e gera novas oportunidades para o empreendimento. Esforços constantes, focados, cujo maior investimento é o talento dos profissionais incluídos. Um processo em que é fundamental alinhar as formas de comunicação da empresa com o target, uma tarefa que demanda planejamento, visão estratégica e o claro posicionamento do bem oferecido. Isso porque uma marca não se constrói com um bom logotipo e uma eficiente campanha de comunicação. Ações permanentes e eficientes são fundamentais para uma percepção positiva. Estruturar um produto ou serviço de qualidade, transformá-lo, torná-lo conhecido e elevá-lo ao patamar de grife, construindo a imagem de marca por meio do relacionamento com todos os públicos afetos: clientes, mercado, fornecedores. Esse é o grande diferencial para alavancar os negócios da empresa e cativar a fidelidade dos consumidores, atuais e futuros.
Obter e manter clientes com produtos e serviços constantemente superiores – oportunizando a qualidade, a inovação, a compreensão de valor e sendo uma organização socialmente válida – é essencial para a construção da imagem da marca e para a consolidação do(s) share(s) de mercado.
Quanto mais lauréis a empresa, a marca, o bem ofertado tem, maior é a certeza da qualidade dos profissionais e a eficiência das políticas de comunicação empresarial. Os resultados financeiros são ultrapassados, pois também são considerados os bons resultados da gestão mercadológica.
O caminho apropriado na solidificação do posicionamento da marca percorre as premiações e reconhecimentos de gestão, marketing, recursos humanos, responsabilidade social. Os certames e avaliações, sejam de âmbito regional, nacional ou internacional, ocasionam a análise retrospectiva da empresa, do bem ofertado, distinguindo o valor da marca, e confirmando os diferenciais não só do cliente, mas principalmente os seus.
A gestão de reconhecimento concede não apenas a confirmação de cases campeões como estimula que um produto ou serviço seja aprimorado. E mais que isso: que todos cresçam junto com o processo! Inclusive a marca! Com isso, as aspirações dos consumidores são superadas e as táticas frente à concorrência antecipadas - e as vitórias decorrentes da capacitação, sensibilidade estratégica e pela busca da excelência permanecerão sendo ratificadas. E comemoradas.
A apresentação de um documento escrito, um relatório, uma história empresarial oportuniza a constatação do quanto já foi perseguido e o quanto já foi conquistado, bem como a importância de preludiar à luta por soluções, por ideias singulares, pelo planejamento e implantação das realizações.
foto: divulgação
Não basta ser excelente. O desempenho positivo, por já ser esperado, se torna invisível. Quanto melhor for a qualidade do bem ofertado, mais o aprimoramento vai se dissipando - o nível de exigência também se apura!
Relatar histórias vencedoras na forma de cases, muitas vezes costurando as estratégias implementadas em áreas diversas, propicia comprovar a criatividade e o empenho, além de evidenciar o compromisso e a dedicação dos talentos humanos da organização. Mas as chances de case empresarial ser um sucesso passa por algumas questões. São elas: Como a empresa é percebida no mercado? Existe alguma estratégia para ser reconhecida profissionalmente? Quais são os indicadores de sucesso? A empresa tem atingido maior receita e maior número de Clientes? A empresa e a equipe estão crescendo em uma ascensão constante? A competição diária incrementa a necessidade de singularidades que agreguem valores aos posicionamentos mercadológicos. Para revelar publicamente as táticas vencedoras é preciso identificar, ao lado dos profissionais comprometidos com a gestão de reconhecimento, os principais objetivos das premiações almejadas.
* Ângela Araújo Santos e Paulo Ratinecas são sócios-diretores da MaxiMarket Gestão do Reconhecimento. Ângela é formada em Publicidade e Propaganda pela PUC/RS, realizou cursos e treinamento na Espanha. Foi coordenadora e gerente executiva no setor de Marketing Corporativo do Grupo RBS no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. * Paulo Ratinecas é especialista em Marketing, graduado em Administração de Empresas, ambos pela UFRGS, e mestrando em Gestão Empresarial pela FGV/EBAPE. Atua como consultor de empresas e professor Universitário da FGV. Foi executivo de marketing no Grupo RBS (Gerente de Marketing RBS Jornal, Gerente de Desenvolvimento, Gerente de Marketing Corporativo), por 15 anos. Já realizou trabalhos, cursos e treinamentos nos Estados Unidos, Espanha, Israel, México, França, entre outros países.
ping-pong foto: Lira Yuri/divulgação
Marcos Boffa é um dos responsáveis pelos maiores eventos de música
eletrônica no país. Produtor cultural e especialista em Políticas Culturais Públicas pela Universidade de Bourgogne da França, ele foi diretor artístico do Sonar Sound São Paulo (2004), do Nokia Trends (2005), do Festival Motomix (2006) e, desde 1999, está à frente do Eletronika – Festival de Novas Tendências Musicais. Já foi membro do júri do Transmediale – Festival Internacional de Cultura Digital de Berlim em 2006, e, atualmente, trabalha como coordenador executivo do Vivo Artemov – festival internacional de arte em mídias móveis, em Belo Horizonte. Além disso, é produtor convidado do projeto Incubator (plataforma de música do British Council para América Latina).
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punk - Vampire Weekend. Seu estilo? Low profile. Um livro? Faking It - The question for authenticity in popular music - Hugh Baker e Yuval Taylor. Uma frase? A experiência é um farol que ilumina para trás (Pedro Nava) Um filme? Plano Perfeito - Spike Lee. Um lugar? Barcelona.
Ícone de moda? Issey Miyake.
Não usaria? Sapato mocassin.
Uma comida? Arroz, feijão, bife acebolado e batata-frita
Indispensável no guarda-roupa? Camiseta branca Hering. Sonho de consumo? Uma ilha.
Um presente marcante? Meu filho Gabriel que acaba de completar 1 ano e meio.
O Brasil hoje? No meio do caminho existem várias pedras (sobretudo aquelas no Planalto Central).
A melhor compra? Em dias cinzentos e tristonhos.
Um aroma? Todos aromas do mundo desde que não sejam adocicados.
Uma mania? Internet.
A pior compra? Na véspera do Natal.
Música do momento para você? A
Uma dica? Viaje sempre com pouco peso.
foto: UseFashion
visual merchandising Na primeira impressão, a vitrine da Max Mara, em Nova York, pode causar estranhamento por conta dos enormes lustres de tecido pendurados em meio aos manequins. Mas este estranhamento inicial é bem-vindo, pois acaba chamando mais atenção ainda para os produtos. Por serem peças bastante neutras, os três abajures propõem uma elegante composição em tom sobre tom bege e não atrapalham em nada os looks expostos. Na verdade, o bege entra como contraponto ideal às peças pretas, configurando uma belíssima vitrine.
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lojas
Na loja Pucci, em Milão, o DNA da marca está em cada detalhe. O Projeto propõe espaço luminoso, arredondado, sem ângulos retos.
Da vitrine à criação da loja BRASILEIRA CONQUISTA A LOUIS VUITTON E ESTÁ À FRENTE DE PROJETOS DE VISUAL MERCHANDISING DE GRANDES GRIFES Por Inêz Gularte Lena Pessoa conversou com a UseFashion em uma das suas passagens pelo Brasil, no dia que voltaria para sua agência em Paris. Em meio à preparação para a viagem, ela gentilmente atendeu à nossa reportagem. Mineira, criada em Belo Horizonte e no interior de São Paulo, morou por sete anos no Rio de Janeiro, antes de mudar-se definitivamente para Paris. Estava em Minas quando conversamos. Com voz firme e a rapidez típica de quem tem muito a dizer, contou sobre sua experiência profissional à frente de projetos de conceitos de lojas e de visual merchandising para algumas das grifes mais importantes do mundo.
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A moda sempre esteve presente na vida dessa designer, diretora criativa e especialista em visual merchandising. Autodidata, Lena Pessoa criou calçados, roupas e acessórios no Brasil e no exterior. Até que se cansou do ritmo frenético das coleções. “Eu decidi que precisava parar”. Foi em 2000, após o período que denominou de “sabático”, que enviou para a Louis Vuitton a carta que mudaria sua vida. Nela, dizia que as vitrines da marca poderiam ser muito melhores e que tinha ideias para isso. O teor do texto chamou a atenção da grife, que convidou Lena para uma conversa. Munida de maquetes, ela surpreendeu os executivos da marca mostrando, com a ajuda de um sistema de imãs, como iluminação e movimento poderiam qualificar o visual merchandising. Resultado? Suas ideias revolucionárias foram parar nas lojas da Louis Vuitton mundo afora. O contato lhe rendeu ainda a oportunidade de desenvolver a arquitetura de interiores da primeira butique da nova marca do grupo LVMH, a Pucci. Hoje sua empresa, a Deux L, em Paris, cria projetos para marcas como Jimmy Choo, Givenchy, Tod’s, Moschino, Roger Vivier, entre outras. Emplacando seu nome no cenário mundial.
Mesmo sem ter especialização acadêmica na área, o talento nato e a experiência com o meio da moda lhe renderam reconhecimento internacional. Fazendo um paralelo entre o trabalho como estilista, do início de sua carreira, e o que desenvolve hoje com os ambientes das lojas, Lena diz que deixou de trabalhar com a arquitetura do corpo, fazendo roupas, e passou a criar os lugares para abrigá-las. Explicando que não executa o projeto, mas cria o conceito, ela faz questão de citar os profissionais que trabalham ao seu lado. O escritório Vudafieri Partners, em Milão, planeja e desenvolve, junto com a Deux L, suas criações de interiores. Stephan Haroutunian, especialista em visual merchandising, trabalha ao seu lado nas vitrines, concretizando as ideias de suas maquetes. Além deles, sua equipe interna conta ainda com arquitetos que trabalham em contato direto com Lena. Mas quem imagina que o trabalho acaba quando a loja está pronta, se engana. Lena especializou-se em comunicar a imagem da grife através de cada detalhe dentro da loja. Desde a arrumação das araras, a disposição das peças por cores, as flores, a organização de cada item, a limpeza, o treinamento dos
fotos: Santi Caleca
foto: Kai Juenemann
Pucci em Londres
Cabides transparentes e suspensos reforçam foco no produto
funcionários, a maquiagem, o cabelo, a organização da festa de inauguração, a recepção dos convidados, tudo é planejado por ela. Cadernos explicativos mostram em textos e fotos como proceder em cada detalhe: como rechear uma bolsa, como amarrar um lenço, como arranjar as flores... Um dos projetos que ela cita como mais desafiadores é o que realizou para reposicionamento da Tod’s. “O briefing pedia que mudássemos, mas sem que o cliente percebesse. Era preciso mudar tudo, sem alterar quase nada”. Lena conta que precisou ser detalhista ao máximo. Por exemplo, o mocassim tradicional da marca, a peça mais procurada da grife, foi posicionado no último andar, fazendo com que o cliente compreendesse todo o percurso dentro da loja. Para Lena, a palavra que define suas criações é experiência. “Não adianta só pensar em vender, é preciso fazer com que o cliente vivencie, sinta, experimente uma emoção ao ver a loja”. Seu trabalho começa por um briefing detalhado sobre o que a grife deseja. “Trabalho normalmente com marcas que têm um DNA muito forte, é preciso manter essa identidade, mas de maneira a renová-la”. Talvez por causa dessa
premissa, a presença de Lena seja praticamente invisível em seus trabalhos. Ela oculta sua personalidade para impor a identidade visual da marca. MANEQUINS DE PÉSSIMA QUALIDADE Sobre as tendências atuais na organização das lojas, ressalta que a fase minimalista acabou, que hoje as vitrines estão mais calorosas, com mais itens compondo a ambientação, mas de forma organizada, sem confusão. “É como se fosse uma volta ao passado, mas com uma releitura moderna”. Os manequins estão mais realistas. Os modelos com cabeça estão em voga. E por falar neles, no que diz respeito ao visual merchandising nacional, Lena diz que o que mais a incomoda por aqui são os manequins. “Eles são de péssima qualidade”, avalia. Além dos projetos que envolvem as lojas, essa mineira, que ganhou o mundo, está trabalhando também com a criação do interior de um iate, de apartamentos em Paris e Villa Ibiza, e também de um carro para uma marca francesa ainda mantida em sigilo.
Lena Pessoa em sua agência em Paris
De novas lojas, Lena conta que está desenvolvendo para a marca LK Bennet, com 90 lojas na Inglaterra, uma em Paris e com previsão de inauguração em diversas capitais. PROJETO PUCCI Quer entender como nas lojas Emilio Pucci as roupas e acessórios parecem estar flutuando? O projeto desenvolvido por Lena levou em conta a história da marca. Ela buscou inspiração na gruta de Capri que deu origem às estampas de cores vivas e formas curvilíneas, características da grife. A luz e a transparência das águas cristalinas de Capri inspiraram os suportes em acrílico. Eles somem no ar, transferindo todo foco de atenção para os produtos expostos. Os anos 60, que também ajudaram a criar a identidade da marca, resultaram no espaço interno fluido, luminoso e arredondado, sem ângulos retos. Cada loja da Pucci foi planejada com uma cor dominante, com cartela que remete ao ponto de partida: a luminosidade e a transparência da gruta de Capri. Nos tons de verde-água, lilás, lavanda, amarelo-limão e laranja.
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radar internacional verão 2010
TRANSGRESSOR
Viktor&Rolf | Paris
Se você não é de perder tempo e gosta de clareza na hora de emitir sinais, é este o arsenal de produtos para alcançar os seus objetivos. A assimetria, o impacto visual e uma boa forçada nos limites do gosto rendem estas formas particulares, que não se confundem com nenhuma outra. Combina com excessos.
Giambattista Valli | Paris
Tom Binns | Paris
Marni | Milão
Jil Sander | Milão
Pierre Hardy | Paris
Barbara Bui | Paris
Dries Van Noten | Paris
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Alexander McQueen | Paris
Giambattista Valli | Paris
fotos: © Agência Fotosite
CLÁSSICO Em tempos de muitos estilos, melhor resolver bem o seu e dar contornos definidos a cada opção. Já disseram que elegância é a capacidade de ser notado sem exatamente chamar a atenção. É para este tipo de mulher que se destinam estes produtos, que perseguem o máximo de feminilidade com o máximo de discrição.
Roger Vivier | Paris
Sonia Rykiel | Paris
Nina Ricci | Paris
Chanel | Paris
VBH | Paris
Bottega Veneta | Milão
Christian Louboutin | Paris
Cacharel | Paris
Valentino | Paris
Alexandra Neel | Paris
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radar nacional inverno 2009
ROXOS DE FRIO A cor tinge pedras preciosas e flores e é associada a um lado mais melancólico da paixão. Antes de tudo é particular, misteriosa e acompanha perfeitamente bem uma cartela básica de inverno. A diversidade de tons, que aparece nas coleções brasileiras, é de comover até os mais resistentes e insensíveis. Melhor render-se de uma vez.
Elle Cinq
Elle Cinq
Rafitthy
Cordez por Ana Hickmann
Cantão
Antonielle
Carmen Steffens
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Carmen Steffens
Beira Rio
Laboratório de Arte
Laboratório de Arte
Laboratório de Arte
Mitty - Dakota
foto: DBOX Studio John Arlington
Chenson
Via Uno
Cravo & Canela
Miucha por Luciana Gimenez
fotos: © Agência Fotosite, UseFashion e divulgação
TNG
Spot Shoes
Tabita FEVEREIRO/MARÇO 2009
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comportamento
por Álvaro Arthur de Castro*
Uma nova chance ao talento A primeira delas diz respeito ao mercado, cujo tamanho vem sendo superestimado há uns cinco anos. Importa dizer de saída que luxo é sub-nicho. O que alguns chamam de mercado não passa de uma parcela do montante do consumo de massa. Por isto, este suposto bilionário mercado de que falam não engloba produtos e serviços de luxo, apesar de incorporar diversas marcas tradicionais que, após serem assimiladas e recuperadas da falência eminente, foram forte e rapidamente popularizadas. Conclusão: tem gente chutando o que não sabe e nem pode saber, assim como tem mais gente ainda comprando coisas ordinárias pelo preço de produto único e superior, pagando por elas somas impensáveis. É impossível estimar proximamente o volume destes negócios, pois nossa economia informal é muitíssimo superior à formal. Contamos com um sistema tributário canhestro, embalado por uma legislação repleta de brechas, o que dá aos mais ricos inúmeros instrumentos para “esconderem” suas fortunas. Ademais, empresas de luxo não divulgam seus verdadeiros faturamentos, tampouco seus verdadeiros clientes. Mais importante ainda: os 0,5% mais ricos da população brasileira têm amplo acesso a tudo, de sorte que não podem ser chamados de consumidores locais. Ao contrário, são consumidores globais que compram o que querem, quando querem, onde querem e de quem querem. E um leque ainda maior de brasileiros viaja com alguma regularidade ao exterior, onde encontra verdadeiras ofertas. Com a desvalorização do real, tornou-se muitíssimo mais vantajoso gastar no exterior do que no país, onde os preços estão bem mais altos não apenas em itens exclusivos, mas também naqueles básicos de consumo diário. Na verdade, está mais barato, mais cômodo e mais interessante comprar tudo lá fora. Por isto, se você está às voltas com alguns desses ditos “negócios de luxo”, convém pensar com muita seriedade no que está fazendo, pois o momento é importante e o que esta onda de crise fará é filtrar competidores por todo o mundo. Quero dizer que o que vem pela frente não serão tempos de horror, mas de expurgo. Se seu negócio for realmente de luxo, terá seus melhores anos daqui para frente; crises costumam ser generosas com produtos de luxo! Doravante testemunharemos o expurgo dos amadores, dos mentirosos, dos falsificadores, dos sacoleiros institucionalizados e dos metidos a besta. Aos próximos tempos sobreviverão os que se profissionalizaram pra valer, os que sabem o que fazem e o fazem como ninguém e os que compreendem que uma história de sucesso não se faz com golpes de sorte nem de má-fé, mas levam vidas de trabalho árduo, esmerado e diligente. A corrida do produto de luxo toma o tempo de gerações, a arte somada de inúmeros grandes criadores e artesãos e um fôlego só encontrado nas paixões eternas. Caso conclua que está realmente num negócio de luxo, a primeira coisa que precisa ter em mente é que seus clientes são consumidores globais. Compram pelo mundo afora e não apenas dos seus vizinhos de shopping – provavelmente seus clientes nem gostam de shoppings!!! Portanto, não existe negócio no mundo, menos ainda de luxo, que não tenha concorrentes. Todo negócio tem concorrentes e a maioria deles é
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de outros setores; os maiores concorrentes dos produtos de luxo são substitutos impensáveis à primeira vista. Isto é tão verdadeiro aqui quanto em qualquer outro local do globo! Esteja pronto para saber de tudo que há em todo lugar. Mas se, por ventura, a tarefa lhe parecer grande demais e inviável, fuja o quanto antes para o mercado de massa, pois todos precisamos sobreviver!!! Em sendo de luxo seu negócio, não tenha pressa, ao contrário do que todos dizem. Seja paciente e diligente. Procure primeiro sua estabilidade e sua sobrevivência. Cresça devagar e consistentemente, dando um passo de cada vez. Mantenha o nível artesanal ao máximo, contentando-se em viver com o que pode fazer e ganhar. Evite automatizar a produção e, sobretudo, o serviço. A automação é um veneno, pois reduz o capricho e torna a interação pessoal fria e desumanizada. Lembre-se sempre de atender pessoas e não clientes ou compradores. Um negócio de luxo verdadeiro não pode perder o toque humano jamais. Mais importante que automação é investir em gente, já que máquinas não sabem lidar com pessoas. Seu negócio precisa cheirar talento e cheirar forte! Substitua as pessoas sem talento, os funcionários comuns que contratou pensando em economizar. Contrate pessoas de talento em todas as etapas do serviço. Até mesmo a moça do cafezinho tem que ter um talento para fazê-lo e para servi-lo que salte aos olhos. Para tanto, gaste o que puder, pague regiamente. Mais importante ainda: troque o luxo excessivo e a opulência na ambientação pelo bom gosto moderado. Racionalize seus investimentos, optando por garantir valor real para seus clientes, ao invés de mera “percepção”. A era da “percepção de valor” acabou com a derrocada dos estelionatários de “Wild Street”. Vá contra a maré – invista em serviços superiores, que dependem essencialmente de gente e não de máquinas, ou suas tecnologias vazias e desumanizadas. Garanto que, em pouco tempo, seu retorno será maior em números absolutos do que este que vem tendo. Afinal, o luxo nunca está num produto, mas no serviço superior em todos os âmbitos, um serviço que poucos podem prestar.
* Álvaro Arthur de Castro é Arquiteto e Urbanista, Mestre em Ciências Sociais e tem MBA em Marketing. Possui mais de 16 anos de experiência em produtos e serviços de luxo e estilo de vida, tendo atuado profissionalmente no Brasil, Europa e EUA. Especialista no planejamento de negócios de luxo-start-ups e revitalizações - foi um dos criadores do curso de pós-graduação em Marketing de Luxo (Premium) da ESPM-SP. Atualmente, dirige a Oficina do Sentido, empresa especializada em treinamentos profissionais personalizados.
foto:divulgação
Posta a crise mundial, talvez seja o momento de recuperar algumas verdades sobre os negócios de luxo há muito negligenciadas.
foto: reprodução
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perfil
Susana Saulquin foto: divulgação
QUATRO DÉCADAS DEDICADAS AO ESTUDO DA SOCIOLOGIA DA MODA Por Inêz Gularte
Desde muito cedo, ela se interessava em observar o comportamento das pessoas nos grupos sociais. A forma como os outros se vestiam, as escolhas por esta ou aquela roupa, também lhe chamavam a atenção. Mas, a paixão pela moda, na década de 60, não combinava com o interesse pelo comportamento social. Era como se os dois temas pertencessem a mundos distintos e contraditórios: moda era coisa fútil, que definitivamente não poderia fazer parte do mundo intelectual. Esse foi o dilema vivido pela socióloga argentina Susana Saulquin no início de sua carreira. Hoje, no entanto, ela é uma autoridade em Sociologia da Moda e, além de ministrar aulas sobre o tema, é pesquisadora, consultora, têm livros publicados e estudos acadêmicos. Veja na entrevista a seguir, como ela conseguiu unir os dois mundos considerados excludentes e ganhar destaque em sua área.
UseFashion: Como o seu trabalho com sociologia encontrou a moda?
de informação virtual influenciam a moda? Podemos falar em uma virtualização da moda?
Susana Saulquin: Quando estudava sociologia, em uma aula de ciência política, um colega me disse que eu não estava em condições de opinar “pois estava muito bem vestida”. Estas palavras de discriminação me fizeram pensar na importância da imagem e das roupas que escolhemos, demonstrando a escala de valores de cada pessoa e da cultura a que ela pertence. Isso aconteceu há quatro décadas, desde então, me dediquei a este estudo.
SS: O trânsito para uma sociedade com tecnologia digital impacta no coração da moda e dos seus fundamentos, pois não se baseia mais na disciplina das imagens, mas sim, na importância da individualidade. O autoritarismo em massa se transforma na liberdade de escolha e na importância das diferenças. A possibilidade de virtualização da moda é um dos mecanismos que permite aos indivíduos se expressarem e se comunicarem livremente.
UF: O sistema da moda frequentemente é acusado de promover o consumo desenfreado. No livro “O reino do amanhã”, o inglês J.G. Ballard associa consumismo com uma nova forma de fascismo. Como a senhora lida com este lado B da moda? Que papéis positivos e negativos ela pode exercer na vida dos indivíduos e das sociedades?
UF: Em seu trabalho, dados históricos ocupam um papel determinante. A senhora, inclusive, escreveu um livro sobre a história da moda na Argentina. Sabemos que a bibliografia sobre moda no continente é escassa. Como foi essa pesquisa? Quais foram as maiores dificuldades?
SS: A essência da moda é a mudança imposta aos grandes grupos populacionais. A característica de ser massiva é uma das condições primordiais. Evidentemente, para atingir o objetivo de impor a muitas pessoas a mesma estética é necessário levar à risca a lógica de autoritarismo e disciplina. Acontece que esse “autoritarismo” é produzido por mecanismos de sedução que conduzem seus seguidores a estarem felizes por sentirem-se integrados na estética do momento. A ação positiva da moda reside na possibilidade em oferecer às pessoas uma ficção de mudança permanente, o que produz alívio, já que “muda sem que nada mude”. O lado negativo é o rigor imposto pelos seus seguidores, de modo que ficar “fora de seus mandatos” pode causar desconforto. UF: No seu livro, La Moda Despuès, a senhora identifica e analisa o impacto da entrada da sociedade industrial em uma era de informação e tecnologia digital e situa a moda dentro desta mesma conjuntura. Em que medida os trânsitos
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SS: Como a moda resulta da união entre um processo diacrônico, ou seja, histórico/cíclico, e um sincrônico (a relação com o ambiente da época), para compreender o pensamento sociológico é necessário conhecer o passado e sua evolução. Como não existia literatura sobre o assunto, comecei uma investigação que durou cinco anos. Pesquisei por todos os arquivos históricos que resultaram em documentos. Visitei museus, li jornais e revistas de diferentes épocas, analisei pinturas e desenhos que poderiam ser impostos e comercializados nos mercados globais, além de relatos de viajantes. Também entrevistei 200 pessoas que haviam participado de diferentes etapas. Algumas delas, não só recordaram histórias interessantes, mas anedotas de trabalhos do passado. O livro, além de ser um registro pontual do acontecido, é uma homenagem aos protagonistas da história da moda Argentina, no período entre 1776 até 2005. UF: Existem semelhanças no processo histórico da moda no Brasil e na Argentina? SS: Na verdade, o processo da história da moda no continente americano foi semelhante até três
UF: No que diferem as duas produções atualmente? SS: Diferem principalmente no tamanho dos seus mercados e isto determina e condiciona a produção. O desenvolvimento têxtil com tecnologia incorporada resulta em uma grande vantagem para o Brasil. O apoio à indústria e a todos os participantes da cadeia de valor têxtil ganha poder político e econômico, sem esquecer a imprensa. A Argentina conta com uma vantagem comparativa que é a de ter um desenho independente das tendências (desenho autoral). Em 2005, por ter a maior quantidade de alunos matriculados em todos os ramos do design, Bueno Aires foi nomeada pela Unesco “capital do desenho” ao lado de Berlim e de Barcelona. A produção argentina baseia-se principalmente em seus designers independentes e em uma característica peculiar: as marcas com capital argentino utilizam tendências globais e adaptam às suas produções determinadas pelos gostos do mercado argentino. UF: Como a senhora analisa a produção criativa argentina frente à moda sul-americana e mundial?
SS: A produção criativa é baseada na grande produção, como disse anteriormente, com seus designers independentes. Eles têm uma característica em seu individualismo e uma interessante liberdade para combinar, acima de tudo, texturas. O argentino é individualista e tem como característica sua diversidade, fruto e consequência da sua formação como país receptor de grandes massas de imigrantes, principalmente a partir de 1860 até 1950. Esta diversidade de culturas é refletida por uma identidade baseada na diversidade e acompanha o processo atual mundial de triunfo das individualidades. UF: Qual é o papel da cópia na produção destes dois países? SS: Até o surgimento das tendências de moda, em 1980, a cópia foi um mecanismo geral para se apropriar dos modismos da época. Logo, mais que falar sobre cópia, deve-se falar de maior ou menor utilização das tendências de massa que aparecem nos centros produtores de moda e, principalmente, nas empresas assessoras de tendências mais conhecidas. UF: A ideia de que a moda argentina é mais clássica que a brasileira procede? SS: Cada país impõe suas características culturais. A alegria da música, das cores e da geografia do Brasil não é semelhante à nostalgia do tango ou às cores dos pampas argentinos. No entanto, não podemos falar no caso clássico da Argentina, mas de um estilo internacional, consequência das suas misturas culturais.
UF: Quais são as possíveis implicações nos hábitos de consumo e no gosto em decorrência da atual crise econômica? SS: A grande crise econômica e global impõe atualmente mudanças nos processos de produção. Na Argentina, os designers estão desenvolvendo coleções com cores mais neutras, linhas mais amplas e simplificações nos cortes. Sem dúvida, a crise atual potencializa e acelera a passagem de um consumo máximo e massivo para uma compra mais pensada e seletiva. UF: Fale sobre a moda como registro histórico: SS: A moda é um barômetro sensível e um registro do que acontece em cada época. Estudando e analisando a moda e o desenho na sua evolução histórica pode-se compreender a evolução social. UF: Comente a moda como entretenimento: SS: Como um processo de sedução, a moda serve para aliviar as tensões cotidianas e, neste sentido, cumpre a mesma missão dos entretenimentos. UF: E o papel das macrotendências na definição de estratégias industriais? SS: É interessante considerar o papel das projeções sociais em prospectiva (na atualidade, estou trabalhando em 2009/2012) para poder realizar planificações que ajudem com base para definir as políticas a serem seguidas não só para a moda e o desenho, mas para todo o sistema produtivo.
foto: divulgação
décadas atrás. A hegemonia e o autoritarismo da moda nasceu principalmente na Europa, com Paris, Milão e Londres para a moda masculina. A fragmentação pós-moderna permitiu centros alternativos de criatividade, que começaram a impor seus códigos. Assim, Tóquio, Nova York, São Paulo, Londres, Milão, Barcelona e Buenos Aires mostraram a importância das localizações em uma globalização que impõe códigos homogêneos, mas capazes de serem comercializadas nos mercados globais.
Alguns livros da autora Susana Saulquin
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cultura
por Eduardo Motta*
Coleção Ma Ke
Ma Ke em seu estúdio na cena do filme "Inútil"
ANTIOXIDANTES CINEMA, MODA, ENVELHECIMENTO, APOCALIPSE E REDENÇÃO No filme “Inútil”, em cartaz em São Paulo, a câmara se move lentamente dentro de uma fábrica de roupas. Na mira dela, estão homens e mulheres, recortados pelos objetos do primeiro plano. Poucos deles emergem da sequência monótona de processos para encarar o olho mecânico que capta com acuidade cirúrgica cada detalhe e movimento. São personagens anônimos, que aceitam passivamente a presença estranha. O operário adormecido, as máquinas de costura, o ventilador, a tesoura e as marmitas empilhadas contam uma mesma história e pouco diferem uns dos outros.
O filme é estruturado em três blocos que se interpenetram. No início, a ação concentra-se no ambiente precário da fábrica. Na última parte, documenta com sensibilidade microscópica os efeitos colaterais da escalada da oferta da roupa pronta e barata na vida de uma pequena vila no interior da China. Sem trabalho, os alfaiates abandonam a profissão para se tornarem mineiros, e as costureiras realizam pequenos serviços, cada vez mais raros. No centro da narrativa, o coração do filme bate junto com o da estilista Ma Ke em sua busca comovente por conferir sentidos aos objetos de moda que ela produz.
O diretor Jia Zhang-Ke conduz seu documentário sobre o impacto da indústria da moda na China contemporânea, em planos aproximados, usa muito pouco a narração e apoia-se em imagens banais tornadas grandiosas pela excelente fotografia. Da cena de abertura à final, ele procura nos tornar parceiros dessa busca desacelerada, mas nem por isso menos dramática, de alguma conciliação entre a criação e a produção em massa.
Depois de fundar a marca comercial Exception, Ma Ke partiu para uma linha que batizou de Inútil e antepôs aos métodos despersonalizados de produção uma roupa construída em tempo e técnicas ancestrais, destinada a tocar a sensibilidade. A estilista chinesa apresentou-se em Paris, no verão de 2007, com grande impacto. Mostrou uma coleção construída em teares primitivos e deixada sob a terra por um tempo para incorporar alguma força telúrica perdida
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pelo mundo moderno. É um belo trabalho. O filme, que tem grandes qualidades, ressente-se da falta de ideias em tomadas inteiras, o que não impede que ele já possa ser considerado um clássico do cinema que investiga o universo da moda. Com o fim da exibição, e fora da sala do cinema, dei-me conta de que estava em São Paulo, para acompanhar a São Paulo Fashion Week e também para uma participação como mediador em um evento chamado Ziguezague. Era para lá que eu me dirigia na manhã seguinte, com as imagens da desolada província chinesa e de um casaco desproporcionalmente grande desenhado pela Ma Ke, ainda rondando a minha cabeça. O Ziguezague viabiliza situações em que questões entre a moda e arte, ficam expostas ao escrutínio de convidados. É uma promoção do Museu de Arte Moderna, curado pela Cristiane Mesquita e pela Taís Gracioti. Como um Davi, ele olha para o sistema comercial da moda sob outra perspectiva, que não a do marketing de consumo.
fotos: © Agência Fotosite e reprodução
Chuva de papel picado e bolas coloridas no encerramento da SPFW
Coleção Ma Ke
Neste ponto, vou transferir a ação para uma enorme sala da Fashion Week, no prédio da Bienal repleta de pessoas e tensa de expectativa pelo início do desfile do Ronaldo Fraga. Para surpresa geral, alguns senhores e senhoras, em torno dos 70 anos, com todas as rugas e cabelos brancos que a vida lhes deu, é que exibiam as roupas. Com eles, Ronaldo desfilava também a ideia de que o tempo, que traz a reboque o inexorável envelhecimento, não os tornara inúteis ou feios. Ainda que eles fiquem de fora das imagens idealizadas vendidas pela moda. O eixo dos acontecimentos que me levara a São Paulo era a semana de desfiles. Dentro e fora dela, entretanto, pipocavam discussões e escritos que punham em cheque a infalibilidade de um modo de vida baseado no consumo e abordavam a desumanização de seus processos e objetivos. Embora o gosto por roupas não tenha cacife para interpretar o vilão da história, é fato que o sistema comercial da moda está no olho deste furacão. Como também é verdade que apenas os sistemas amadurecidos
Panfleto do evento Ziguezague
abrem espaço para as críticas e dúvidas, comemorei tantas investidas contra os tabus do mundo fashion pondo ainda mais lenha na fogueira. Até agora narrei a experiência com o filme “Inútil”, com o Ziguezague e o desfile do Ronaldo. O passo seguinte foi comprar o novo livro do J.G. Ballard, O Reino do Amanhã. Trata-se de uma distopia semiparanóica sobre uma sociedade regulada por shoppings centers e entregue ao consumo e à violência gratuita. O autor trafega nesta linha apocalíptica desde sempre e, atualmente, suas visões ganham amparo nas ideias de sociólogos como o Zygmunt Bauman, de Vidas para o Consumo. “Algo muito perigoso está acontecendo aqui”, é o que dizem todo o tempo os personagens do livro pessimista de Ballard. Exatamente para que estas previsões sombrias não desabem sobre nossas cabeças, como ameaça fazer o teto do shopping vilão no romance, é que é saudável pensar e repensar o assunto e seus valores. Cutucar aqui e ali, pôr em xeque e expor a ferida, se houver. Por isso vou finalizar fazendo três pedi-
dos para o ano novo: em primeiro lugar, que tenha espaço no mundo para os velhinhos (nós todos, uma hora dessas). Em segundo, que o desejo de ter não consuma nossas humanidades. Por último, que possamos nos vestir com gosto sem ter de pensar em tanta coisa! foto: Pedro David/divulgação
Capa do livro de J.G. Ballard
* Eduardo Motta é designer, consultor de moda da UseFashion, com formação em Artes Plásticas e autor do livro "O Calçado e a Moda no Brasil - Um Olhar histórico".
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TEMPORADA BRASILEIRA inverno 2009
Edição de Moda: Eduardo Motta fotos desfiles: © Agência Fotosite
Cantão | Fashion Rio
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USEFASHION JOURNAL
temporada brasileira
inverno 2009
FASHION RIO + SPFW O Brasil já se acostumou com suas duas semanas de moda, a Fashion Rio e a São Paulo Fashion Week. O país se agita em torno delas, e em meio a muitos metros de tecido, celebridades de todo porte e de grandes e pequenas intrigas, a moda faz a roda da fortuna girar. Se o país têm fôlego para produzir e absorver ambas, ótimo. Se, além disso, é possível vender para o mundo o lifestyle brasileiro, melhor ainda. Encerradas recentemente, mais uma vez elas deixaram um rastro que se vê de longe. Uma enorme quantidade de propostas, disseminadas por uma cobertura de mídia pouco equiparável, multiplicada em ideias, produtos, negócios e experiências para milhões de consumidores. Este é o balanço do UseFashion Journal sobre as melhores propostas dos dois eventos. Confira.
Huis Clos | SPFW
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ESTILOS
DRAMA
AUSTERIDADE
Colcci | SPFW
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USEFASHION JOURNAL
temporada brasileira
inverno 2009
ETNIA
Maria Bonita | SPFW
Cantão | Fashion Rio
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ALFAIATARIA
Maria Bonita | SPFW
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USEFASHION JOURNAL
Maria Bonita Extra | Fashion Rio
Huis Clos | SPFW
temporada brasileira
inverno 2009
Cori | SPFW
Priscila Darolt | SPFW
Walter Rodrigues | Fashion Rio
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PEÇAS / CALÇAS
SAROUEL
Francisca | Fashion Rio
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USEFASHION JOURNAL
BOYFRIEND CURTA
AMPLA
Huis Clos | SPFW
Maria Bonita Extra | Fashion Rio
temporada brasileira
inverno 2009
CLOCHARD CINTURA ALTA
Cantão | Fashion Rio
JUSTA CINTURA ALTA
JUSTA
Reinaldo Lourenço | SPFW
Colcci | SPFW
FEVEREIRO/MARÇO 2009
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PEÇAS / VESTIDOS
SHIRTDRESS
COCKTAIL
Alexandre Herchcovitch | SPFW
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USEFASHION JOURNAL
Cori | SPFW
temporada brasileira
inverno 2009
UM OMBRO SÓ
Huis Clos | SPFW
Cantão | Fashion Rio
Printing | Fashion Rio
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PEÇAS
SAIA CINTURA ALTA
Cavalera | SPFW
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COLETE
Isabela Capeto | SPFW
temporada brasileira
inverno 2009
SHORT
MACACÃO
Redley | Fashion Rio
Ellus | SPFW
Ronaldo Fraga | SPFW
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CONJUNTOS
VESTIDO SECO + JAQUETA OU CASACO LONGO
Animale | SPFW
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USEFASHION JOURNAL
Alexandre Herchcovitch | SPFW
2nd Floor | SPFW
temporada brasileira
inverno 2009
CAMISARIA COM SAIA
Juliana Jabour | Fashion Rio
2nd Floor | SPFW
Priscila Darolt | SPFW
FEVEREIRO/MARÇO 2009
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MODELAGEM
VOLUMES
Santa Ephigênia | Fashion Rio
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USEFASHION JOURNAL
ASSIMETRIA
Espaço Fashion | Fashion Rio
Alexandre Herchcovitch | SPFW
Maria Bonita | SPFW
temporada brasileira
inverno 2009
DRAPPING
Animale | SPFW
DOBRADURA
OESTUDIO | SPFW
Coven | Fashion Rio
Giulia Borges | Fashion Rio
FEVEREIRO/MARÇO 2009
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JEANS
Cant達o | Fashion Rio
Cant達o | Fashion Rio
Juliana Jabour | Fashion Rio
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USEFASHION JOURNAL
Colcci | SPFW
temporada brasileira
inverno 2009
Cavalera | SPFW
Colcci | SPFW
Ellus | SPFW
Cavalera | SPFW
Ellus | SPFW
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TRICÔ GRAÚDO
Animale | SPFW
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Espaço Fashion | Fashion Rio
temporada brasileira
inverno 2009
Giulia Borges | Fashion Rio
Osklen | SPFW
Homem de Barro | Fashion Rio
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ASPECTOS E MATERIAIS
DESTROYED
VELUDO
COURO
Cavendish | Fashion Rio
CETIM
Espaรงo Fashion | Fashion Rio
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Neon | SPFW
temporada brasileira
inverno 2009
TRANSPARÊNCIA
RENDA
Lino Villaventura | SPFW
NYLON
Cori | SPFW
Colcci | SPFW
Printing | Fashion Rio
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DETALHES
ZÍPERES
Priscila Darolt | SPFW
Animale | SPFW
Animale | SPFW
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Osklen | SPFW
temporada brasileira
inverno 2009
PEDRARIA E PAETÊ
Neon | SPFW
Printing | Fashion Rio
Alexandre Herchcovitch | SPFW
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CORES
PRETO
CINZA
BORDÔ
Osklen | SPFW
MARROM
AZUL
Alexandre Herchcovitch | SPFW
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Jefferson Kulig | SPFW
temporada brasileira
inverno 2009
VERDE MUSGO
Gloria Coelho | SPFW
P&B
Mara Mac | Fashion Rio
NATURAL
Coven | Fashion Rio
Maria Bonita | SPFW
Iódice | SPFW
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PALCO DE IDEIAS
SPFW Boteco fake, frases de para-choque de caminhão, e Carmem Miranda estão entre os brasileirismos levados ao prédio da Bienal para animar a última edição da SPFW. Cerca de 40 desfiles depois e com direito a encerramento carnavalesco, a semana de moda paulista deixa um volume impressionante de propostas, mais que suficiente para alimentar o apetite fashion e matar a fome de bons negócios. O preto, que tingiu boa parte das coleções, e causou espanto na imprensa internacional, é apenas uma, entre as referências que tomaram corpo em meio à enorme diversidade. Entre elas, as alças de gancho baixo, os jeans folgados, a saia de cintura alta, os tricôs graúdos, a alfaiataria e o vermelho, todos na mira da estação. A semana teve ainda instantes de total arrebatamento, com o Ronaldo Fraga elevando a temperatura no desfile-manifesto a favor da vida e contra a obsessão pela juventude. Na passarela, senhores e senhoras com mais de 70 anos e muita disposição. Emocionante como a performance da ex-modelo e designer, Christine Yufon. Acumulando experiência, a SPFW encarna o amadurecimento da moda brasileira e transforma-se em um palco de ideias, cortejando a cultura popular, cultuando mitos e, sobretudo, lançando moda.
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temporada brasileira
MELHORES COLEÇÕES
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Osklen Com sofisticação e doses maciças de despojamento cool, a Osklen mais uma vez colocou seu repertório em sintonia fina. Desta vez, em cartela restrita tingida do cinza ao preto e esbanjando estilo em tricôs, e peças generosas montadas em grandes cortes de material. A coleção assentase sobre o empenho real da marca em operar no sinal verde da correção ecológica. As experimentações com o moletom elevaram o status do material e do sportwear às alturas.
Huis Clos A voltagem sexy dessa Huis Clos que usa luvas pretas e estola e deixa áreas generosas de ombros e pernas expostos, bateu em picos onde ela normalmente não chega. A novidade foi dosada inteligentemente, para não arranhar a blindagem minimal da grife, dona de um estilo coerente como poucos no país. Apesar do novo approach forte, estão lá a habilidade incomparável de extrair belos vestidos de pouquíssimos recursos, a modelagem certeira e a cartela sutil.
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MELHORES COLEÇÕES SPFW
Alexandre Herchcovitch
Animale
Fica tudo como está, no que diz respeito à matriz punk, fetichista, e à alma artsy do Alexandre Herchcovitch. A entrada que ele faz no luxo, ainda que com peles fakes e linhas agressivas é notória, mas a coleção permaneçe essencialmente jovem, moderna e sobretudo urbana. O que fala mais alto, entretanto, é a diversidade do repertório. O estilista lida com a fragmentação não apenas oscilando entre estilos. Ele dá forma à inquietação habitual também nas tumultuadas superfícies em camadas e nas assimetrias, dificuldades técnicas e visuais que ele propõe e resolve com maestria.
Não é que o atual trabalho da Priscila Darolt à frente da Animale se distancie da cliente habitual da marca, mas, com certeza, vai obrigá-la a dar um passo adiante no entendimento de estilo. As jaquetas não são menos que estonteantes, concebidas em recortes orgânicos com relevos moldados a vácuo sobre a lã, e proporções diferentes de tudo que foi mostrado nas duas semanas de moda. A coleção reúne os hits das tendências mundiais sob um tratamento técnico particular e encaixado em uma linha coerente de trabalho. É provável que venda horrores, sem arredar o pé da condição de trabalho autoral.
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temporada brasileira
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Reinaldo Lourenço
Gloria Coelho
No verão, o Reinaldo Lourenço esbanjou competência com uma roupa delicada, rica em técnicas que miravam na alta-costura. Neste inverno, ele recupera a pegada hard que o acompanha desde o início de carreira, mas preserva a costura impecável. Une uma coisa e outra com tramados grandes; peças inteiras construídas em tomas navalhadas, indescritivelmente complexas, e modelagem geométrico-cubista de excelente concepção e execução. Acerta também na cor com um belo bordô, preto e metalizados variados e reforça o gosto pelos imbatíveis vestidos secos.
Como inspiração para sua coleção, Gloria Coelho cita o ferro Eletrolux, a Ufologia, o motocross e a Arquitetura, entre mais uma dezena de irreverências. Contudo, a assinatura da estilista é mesmo definida pelo acento futurista que ela imprime à galeria de tipos medievais que povoam seu imaginário. Esta conjunção de passado e futuro reaparece na forma tipo cocoon, aplicada em excelentes casacos e vestidos com mangas de cortes inventivos. Pérolas, veludos, cristais e fitas de cetim acentuam o tom precioso do conjunto, valorizado ainda pela riqueza da pesquisa têxtil. FEVEREIRO/MARÇO 2009
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MELHORES COLEÇÕES SPFW
Maria Bonita
Iódice
A Maria Bonita apresentou coleção inspirada em circos e na interpretação particular do tema. Lona, trapézio e picadeiro foram reduzidos a fragmentos geométricos em composições sóbrias e poéticas. A coleção assenta-se sobre uma alfaiataria lânguida, com paletós enormes e calças largas cropped. A alusão sem dúvida é à roupa maior-que-o-dono do palhaço. Mas, assim como todas as outras informações referenciais, também esta é transmitida de forma sutil. O efeito geral é de uma modelagem desconstruída e folheada, com assimetrias e sobreposições em áreas verticais.
A musa Sean Young, do filme Blade Runner, paira como uma entidade reguladora sobre as silhuetas anos 80 da Iódice. A moda da década tem aquele tipo de desenho marcante que se presta bem à caricatura, coisa que a marca explorou bem. Estão lá, os vestidos pretos poderosos, os trânsitos do masculino business com o feminino ultrassexy e, sobretudo, estão lá as ombreiras, imensas como gostava Thierry Muegler. A alfaiataria coordena parte da edição e a sobriedade é amenizada por decotes frontais do tipo abismal.
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temporada brasileira
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Forum Tufi Duek
Isabela Capeto
Estampas de cavalos, ponchos gaúchos, botas muito altas, preto em praticamente toda a edição, metais com jeitão de arreios e inspiração declarada na veterana roqueira americana Patti Smith serviram como pano de fundo para a coleção arrasa quarteirão da Forum Tufi Duek. A marca trabalha com mulheres fortes, alivia uma vez ou outra com vestidos leves, branco e boas composições em seda, mas deixa de lado a alma rocker para se concentrar (e acertar) no haras sexy, chic e imponente que ela sabe fazer muito bem.
Estilistas como Isabela Capeto, que deliciam nosso olhar com minucioso décor na superfície dos tecidos, nem sempre dominam bem o tridimensional e ficam em débito na construção da silhueta. A estilista deixou este perigo para trás em apresentação com melhor noção de volumes e bom corte. Além dos habituais bordados e vestidões, calças bem resolvidas, comprimentos acertados, conjuntos de bermuda de cintura alta e blusa e excessos decorativos controlados pela sobriedade do preto.
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CALEIDOSCÓPIO FASHION RIO Escolado na singularidade de sempre, o Rio de Janeiro cria seus próprios modismos e mitos e desafia a compreensão com fenômenos consistentes, como a Espaço Fashion, e hits instantâneos, como a Ausländer. Esta ainda frágil, mas ovacionada como as veteranas Cantão e Redley. O evento também consegue que os desfiles de acesso ao primeiro grupo se transformem em uma caixa de boas surpresas com sucessiva leva de novos talentos. A preocupação comercial exacerbada e a mistura de etnias são os pontos mais visíveis no grande caleidoscópio de propostas da maratona de moda carioca, que abriu o leque para questões de estilo. É que a variedade de opções não facilita a identificação do que é ou não tendência e devolve a cada um a responsabilidade na hora da escolha. A semana trouxe alguns rebatimentos da moda internacional: além dos exotismos étnicos, a austeridade na cor e no corte, algum drama em preto, sensualidade contida, em geral, com pouca pele à mostra. Quanto a este último item, com certeza as coisas se ajeitam no mercado.
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temporada brasileira
MELHORES COLEÇÕES
inverno 2009
Redley
Cantão
A floresta da Tijuca serviu de cenário e amenizou a temperatura do verão carioca para que a Redley apresentasse uma celebração à natureza. O cuidado para que a cartela e o aspecto das matérias-primas mimetizassem a floresta criou um belo efeito de conjunto em tons de verde e terra. As fibras naturais, que elevam o discurso ecológico acima da estética, serviram para criar peças de combate, casacos, bermudas, tricôs fartos, botas e meiões, tudo em modelagem folgada e no melhor espírito adventure. Boas estampas e imagens fortes garantiram o desfile.
Salada étnica temperada com exotismos variados e amenizada pelos shapes comerciais. Dá para falar assim da coleção da Cantão, e, dito dessa forma, fica claro que não se tratava de uma receita nova. O que não dava era para prever o sabor da mistura. E a roupa da festejada marca carioca é deliciosa. Entre tantas misturas teoricamente indigestas, prevaleceu a inteligência de reservar a alegoria para o styling, enfeitando a modelagem solta com coloridos tribais, e afinar um belo trabalho com o jeans em looks muito bem editados. FEVEREIRO/MARÇO 2009
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MELHORES COLEÇÕES FASHION RIO
Espaço Fashion
Coven
Com uma coleção menos lânguida que a do verão, e ainda girando em torno de uma estética de apelo natural, a Espaço Fashion pisa firme e mantém o território conquistado. Os volumes e os efeitos inacabados são para a construção de uma musa guerreira, aliando tops vaporosos a saias em camadas de tecido encorpado e/ou calças largas em camurça. Apesar das referências fortes e da imersão na artesanal e no rústico, a cartela é de suaves azuis, beges e brancos maculados. A roupa, sempre urbana, é muito feminina.
Tudo muito bem dosado e em dia com seu tempo na espertíssima coleção da Coven. São ótimas as proporções bem resolvidas tanto nos looks ajustados quanto nos folgados. O já excelente trabalho com os tricôs e as malhas, ganhou texturas ainda mais ricas. Citados como temas e devidamente representados, a montaria, o esporte e o novo luxo nortearam a coleção da marca mineira, valorizada por uma cartela de base sóbria aquecida pelo calor do laranja e do vermelho.
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temporada brasileira
inverno 2009
Melk Zda
Mara Mac
O MelK Zda é ainda um talento em construção. Na verdade, ninguém fica pronto e acabado, mas, no caso desse estilista, é a própria inquietação criativa, somada ao impulso de definir, que transmite esta saudável impressão. Pensamos assim: “este cara pode nos surpreender”. E ele não decepciona. Nem decepcionou agora, mostrando controle sobre um ótimo repertório de soluções tradicionais de costura que ele une à artesania fina nordestina para compor looks curtíssimos em superfícies texturizadas e silhueta pra lá de contemporânea.
No cenário inspirado em um campo de chá no oriente, Mara Mac fez um desfile de modelagem desestruturada, mimetizando materiais desgastados e incorporando o inacabado. Malha, tricô graúdo e algodão deram o caimento solto e despretensioso que a estilista perseguia e que praticamente adotou em toda a coleção. As estampas fluidas e abstratas, somadas às sobreposições à japonesa, fizeram bem a passagem da referência camponesa para o contexto urbano. Calças de gancho baixo e a oposição entre looks ajustados e folgados deram o tom do desfile.
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MELHORES COLEÇÕES FASHION RIO
Maria Bonita Extra
Santa Ephigênia
Filha mais nova da marca Maria Bonita, a Maria Bonita Extra opera, a essa altura, com o mesmo grau de maturidade. Embora trabalhe com um estilo destinado ao gosto jovem, a grife encontrou uma zona equilibrada de atuação. Não há o menor sinal vacilante nessa coleção, que bebe do guarda-roupa masculino em calças, bermudas e spencers, e ainda ressalta vestidos graciosamente comportados, que irão fazer, sem dúvida, a alegria de muitas garotas por aí.
Luciano Canale, da Santa Ephigênia, gosta da elegância e a persegue sempre. Desta vez, a busca o levou a uma missão francesa na África, de onde ele tira, sem obviedades e com certo humor, ecos do guarda-roupa de uma colonizadora refinada. A coleção reúne alusões abstratas a animal prints, adereços africanos, volumes exagerados nas golas e, de acordo com o estilista, apóia-se em um desenho de silhueta em Y. O melhor fica na concepção elegante de looks de proporções controladas, com boas superposições e materiais sedutores.
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temporada brasileira
inverno 2009
Printing
Graça Ottoni
Estreando nesta temporada, a Printing deu o que falar. E com razão. Os looks são bem editados, os materiais e cores escolhidos corretamente e a roupa tem esta força indescritível que vem da capacidade de aliar modernidade com sofisticação sem afetação. Trata-se de uma ótima estreia. Dito isso, também é pertinente identificar que ainda há um excesso de referências (e reverência) no estilo da marca ao estilo de muitos outras. Há ecos da Lanvin, Jacobs, Van Noten, e por aí vai. Mas o propósito de ir além é fato e o resultado é bom.
Graça Ottoni é uma estilista sensível, que trabalha no detalhe e na qualidade. Não embarca em estilos agressivos e apega-se a um romantismo inteligentemente depurado. É dessa forma que ela se mantém afinada com o contemporâneo. Nesta coleção de beges suaves, cinza, preto e estampa de folhagens, ela acerta a mão em conjuntos de saia curta e blusa, construídos com leveza e bom tino comercial. Não abre mão dos comprimentos longos, mas, nestes casos, limpa a modelagem e cria boas associações com casacos curtos, girando em torno do próprio repertório.
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A estilista na festa dos 150 anos do Victoria and Albert Museum (Junho de 2007)
foto: livro “The Fashion Book” - Ed.Phaidon /reprodução
foto: image.net / divulgação
foto: livro “A Moda do Século” - Ed. Cosac Naify / reprodução
memória
Suas criações ajudaram a libertar o guarda-roupas feminino
Mary Quant: 75 anos de inconformismo ESTILISTA DA MINISSAIA SEGUE FAZENDO HISTÓRIA Em fevereiro desse ano, a estilista britânica que ficou mundialmente conhecida por ser a criadora da minissaia, está completando 75 anos. Mesmo que alguns creditem a autoria da peça ao francês André Courrèges, é impossível falar em Mary Quant sem relacioná-la à criação que virou ícone do vestuário feminino. Quando ela era estudante de Belas Artes, no Goldsmith’s College, achava a moda “terrivelmente feia”, por isso decidiu desenhar suas próprias roupas. Na época, ninguém poderia imaginar que, anos depois, ela entraria para a história da moda. O cenário era o clima efervescente de Londres, nos anos 50, propício ao movimento que surgiu com a música pop inglesa. O “Swimming London” fez os jovens adotarem novas regras no vestuário. Eles procuravam roupas diferentes, provocantes e abusadas. Tudo para se enquadrar ao clima contestador da época. As moças não queriam mais vestir roupas parecidas com as de suas mães. Estava dada a partida. Quant captou os anseios desses jovens contestadores, e, em 1955, inaugurou na King’s Road, uma das principais ruas da cidade (que mais tarde seria associada ao movimento Punk), uma loja chamada Bazaar. Não satisfeita com as roupas oferecidas aos estoques de sua loja, decidiu fazer seus próprios modelos. Foi assim que a Bazaar virou sinônimo de vanguarda, comercializando desde trajes de banho a peças íntimas. A estilista buscava inspiração nas ruas de Londres. As estampas faziam referência à Op e à Pop Art. Os vestidos de malha canelada, que marcavam a silhueta, eram combinados com cintos largos sobre os quadris, e botas de cano alto. Eles podiam ser
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usados tanto de dia como de noite, derrubando a barreira entre moda formal e informal. No início, os comprimentos iam até abaixo do joelho, mas em 1960, eles subiram, dando origem à minissaia. A rainha da “Swimming London” em pouco tempo ganhou destaque internacional. Da pequena loja na King’s Road chegou a ter 150 filiais na Inglaterra, 320 nos Estados Unidos e milhares de pontos de venda ao redor do mundo. Entre os produtos comercializados estavam acessórios e linhas de cosméticos. Em 1966, mesmo ano em que lançou sua autobiografia, “Quant by Quant”, a rainha Elizabeth II a condecorou com a Ordem do Império Britânico, prêmio que foi recebido no Palácio de Buckingham. A estilista compareceu vestindo a peça que marcou sua carreira: a minissaia. Nos anos 70, com o nascimento de seu filho (fruto do casamento com Alexander Plunkett Greene, um de seus sócios na Bazaar), Quant deixou a moda de lado e passou a se dedicar ao design de interiores e a uma linha de cosméticos. Recentemente, foi homenageada pelo Correio Real Britânico com um selo que integra de uma série que relembra os itens clássicos do design contemporâneo. Como não poderia deixar de ser, o item em questão é a minissaia, que figura ao lado do ônibus de dois andares e do quiosque vermelho de telefones públicos de Londres. Hoje, Quant assina uma marca de cosméticos e mantém o visual que lhe deu notoriedade. Ainda usa o cabelo geométrico, inspirado nos Beatles e criado pelo famoso cabelereiro Vidal Sassoon, nos anos 60.
A modelo Grace Codington veste um minivestido de Mary Quant em 1967
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