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Por Wisllayne Reis
Se me perguntarem quando foi à primeira vez em que a vi, eu não vou mentir e dizer que foi ali que me apaixonei por ela. Eu reparei nela, claro. Mas não foi nada mais que isso. Ela era uma bela garota, afinal de contas, e eu um aprendiz com os hormônios em ação. Mas, Jill era muito mais do que somente a garota desconhecida que andava pelo Campus. Mason estava me contando pela enésima vez sobre como ele poderia tentar algo sério com Rose na viagem de esqui para qual iríamos. Mas eu sabia que na verdade Mason não dava a mínima para eu estar ou não prestando atenção ao que ele dizia desde que eu ocasionalmente balançasse a cabeça, apenas soltando murmúrios quando ele fazia alguma pergunta — sem realmente se interessar pela resposta. Ele só parecia criar expectativas demais, parece que se esquecendo de como Rose poderia ser. Mas eu não estava me importando com aquilo. A garota a poucos passos de nós era quem obtinha totalmente minha atenção naquele momento. Era uma caloura, eu sabia. Seu nome? Jillian Mastrano. Tinha quase 15 anos e era uma Moroi encantadora. Não havia chegado perto o bastante ainda para saber qual o tom de verde dos seus olhos, mas eu sabia que eram perfeitos. Ela toda era perfeita. Principalmente quando lutava contra seus grandes cabelos castanhos encaracolados. — Devia ir falar com ela — Mason disse, parando a minha frente e cruzando os braços. Ele parecia divertido, enquanto fazia um gesto com a cabeça em direção a ela. — O quê? De quem está falando? — perguntei, mas não funcionou. Era por isso que Mason era meu melhor amigo — Ela é Moroi e...
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— Eles vêm primeiro, eu sei. Mas não nos formamos ainda, Eddie. E lembre-se: é Natal. Coisas boas acontecem às pessoas nessa época. O velho mantra nos era repetido desde que iniciamos na academia. “Eles vêm primeiro” e nada mais importa. Natal... Hmphf! Com os recentes acontecimentos eu tinha perdido um pouco do meu espírito natalino. Levei uma mão até a nuca, puxando meus cabelos curtos e então olhei de volta para Jill que olhava timidamente para alguma coisa presa em sua saia de pregas. Havíamos nos esbarrando algumas vezes no refeitório, mas nada mais que isso. Ela nem deveria se lembrar de mim. — Vai lá, eu vou procurar a Rose e falar sobre a viagem — Mason deu um tapinha em meu ombro antes de me dar as costas e fazer o seu caminho para o lado contrário. Faltavam poucos dias para o Natal e um recente ataque de Strigois havia colocado todo o nosso mundo em alerta, e era por isso que não voltaríamos para casa naquele final de ano. Iríamos para uma estação de esqui em Idaho, que geralmente era usada apenas por Moroi da realeza que eram extremamente ricos, mas não agora, com pessoas morrendo de medo de ficarem sem segurança. Enfiando as mãos nos bolsos dos meus jeans, eu fui até o banco de pedra perto da fonte, sentindo minhas mãos tremer e isso com certeza não era causado pelo frio do inverno. Sentei-me ao lado de Jill, que nem sequer se moveu. Notei que ela traçava com a ponta de sua unha uma linha que estava solta em sua saia. Olhei para o lado contrário, vendo uma verdadeira comoção vinda de perto do prédio dos dormitórios. Todos pareciam eufóricos com a viagem. Virando-me de volta para Jill, eu abri a boca, tomando uma boa quantidade de ar antes de começar a falar. — Esquiar me parece ser uma boa ideia agora — eu disse logo em seguida me arrependendo por não ter mostrado minha presença antes.
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Jillian praticamente pulou no banco, soltando um grito abafando e levando ambas as mãos ao peito. Seus grandes olhos verdes arregalados. Eu me perguntei no que ela estivera pensando para se distrair tanto. Quer dizer, Vampiros eram muito observadores. — Oh. Meu. Deus! — disse pausadamente e alto, mas logo que notou que a atenção de algumas pessoas havia sido atraída para ela, abaixou a cabeça corando. — Desculpe por isso — falei divertido — Não — ela disse baixo dessa vez — Estava distraída. Quando ela não ergueu a cabeça novamente, eu olhei para o outro lado. Jill era mais tímida do que eu pensava saber. — E então — tentei novamente — você vai? – quis retomar o assunto da viagem. É Natal... Ela balançou a cabeça algumas vezes. — Eu, hm, não sei. Quero dizer, eu vou para a estação, mas não sei se vou para esquiar. Não sou boa com isso. Eu quase ri, mas sabia que se fizesse isso, a deixaria ainda mais incomodada. — Não é tão difícil. — Fácil para um Dhampir dizer — ela disse, mas não de um modo agressivo, era quase como se ela estivesse lamentando — Vocês conseguem fazer qualquer coisa. E então eu ri, quando percebi que ela estava realmente lamentando. Jill ergueu a cabeça, me fitando. As bochechas ainda rosadas, mas ela não parecia mais tão tímida. — Sou Eddie — estendi minha mão para ela, que arregalou um pouco os olhos antes de segurá-la. — Sei quem você é — ela disse logo que soltou minha mão e eu ergui uma sobrancelha. Se ela notou minha confusão, não demonstrou — Eu sou Jillian Mastrano, mas pode me chamar de Jill se quiser. Mordi minha língua antes que também dissesse “eu sei”.
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Antes que eu pudesse pensar em algo inteligente para dizer, um grupo de Moroi passou por nós. Eles falavam sobre a mais recente discussão do mundo Vampiro: Moroi devem ou não aprender a se defender? — Acho isso uma completa estupidez — Jill disse, em um tom raivoso e eu a olhei. No instante seguinte ela havia corado, como se tivesse dito algo errado — Não, eu... — Imagino — eu a interrompi, acenando um pouco com a cabeça — Você não é a única Moroi que pensa assim. Quer dizer, é para isso que eu e os outros estamos treinando, para que vocês não tenham que se arriscar. Eu tinha certeza de que, mesmo com meu esforço, ela havia captado o tom de desagrado. Não que eu esperasse outro pensamento de Jill, mas eu só estava me irritando com como eles tratavam aquilo como se fosse algo impossível de se acontecer, enquanto Dhampirs eram colocados a linha de frente e sendo substituídos à medida que caíam. Até os melhores poderiam cair. Foi o que houve com Arthur. Eu esperei pelo momento em que Jill se levantaria, provavelmente após se sentir ofendida, mas me surpreendi com a forma como ela se virou para mim, decidida. Os olhos verdes faiscavam em determinação. E eu finalmente pude ver qual era o seu tom: um verde claro e profundo, com algumas rajadas mais escuras. Eram maravilhosos. — Eu não disse o que achava estupidez. Quero dizer, essa discussão toda é. Não vai levar a nada a não ser que os Moroi que querem aprender a se defender realmente tentem algo. Como que firmando o que disse, Jill se levantou e ergueu em um gesto gracioso a mão esquerda, fazendo com que um pouco da água que saísse da fonte se levantasse e começasse a girar em pequenos espirais. Água, eu percebi, esse era o seu elemento. E ela parecia estonteante a manipulando daquela forma. — Posso estar errado, mas eu acho que água não será muito eficiente contra um Strigoi, Mastrano — falei provocando e ela deixou os espirais voltarem a seguir o curso da fonte de forma brusca. Logo que percebi o que havia dito e vi seus olhos levemente
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assustados, tentei concertar — Não que você vá encontrar um Strigoi quando estiver sem seu guardião. — Você vê? — ela perguntou, sentando-se novamente — Eu não quero depender de alguém para viver E, você sabe — seu tom abaixou consideravelmente, enquanto ela se inclinava para mais perto. Seus cabelos caindo sobre um lado de seu rosto — eu provavelmente nem ao menos vou ter um guardião. Eles vão apenas para um Moroi realmente importante. “... Não nos formamos ainda, Eddie”. Foram as palavras de Mason que ficaram rondando a minha mente enquanto eu a olhava. Jill era alguém importante. Com certeza não para a Elite Moroi, mas eu sabia como ela podia ser quando deixava a timidez de lado. Ela tinha um lado determinado dela, e era esse lado que eu enxergava durante todo o tempo que passei a observando. — Eu estava pensando — comecei, desviando de seus olhos — Talvez, quando chegarmos a Idaho, podemos ir patinar os esquiar juntos. Novamente a coloração rosada estava em suas bochechas quando ela entendeu o que eu estava propondo. Sentindo-me desconfortável, eu olhei para alguns Dhampirs que jogavam bolas de neve um no outro. A academia não tinha muito da decoração natalina, apenas algumas guirlandas nos prédios principais — mas os professores ficavam atentos para saber se nenhum de nós iria querer “beijos de boa sorte ao casal”. — Eu não sei — murmurou e eu senti algo em eu murchar. Jill colocou um bocado de seu cabelo atrás da orelha, mas o vento frio o bagunçou novamente — Quer dizer, você é um aprendiz e eu ainda sou uma caloura e você tem seus amigos, não sei se iria realmente querer patinar comigo. Eu não sei se sou boa com isso e... Coloquei um dedo sobre seus lábios, a silenciando e a deixando ainda mais vermelha. Jill poderia ser uma tagarela quando nervosa. Era isso que eu gostava nela. Podia ser perfeita de qualquer forma.
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— É Natal, Jillian — eu disse, tirando meu dedo de seus lábios e controlando a vontade que eu senti de me aproximar ainda mais — É só dizer sim ou não. Saber o que era certo e errado não seria o suficiente para me manter quieto ali. E eu não sabia o que estava acontecendo, só sabia o que eu queria naquele instante. E ali, naquele momento, eu queria saber até onde eu poderia ir. Mesmo que as conseqüências não fossem das mais agradáveis. Jill sorriu daquele jeito que me mostrava tantas promessas que eu sentia vontade de sorrir junto. Eu só esperava que promessas de Natal tivessem mais chances de serem cumpridas. Mesmo que fosse um tabu, eu queria tentar. Não haveria nada a perder. E talvez, em Idaho, eu pudesse finalmente ter um beijo de boa sorte no Natal em baixo de uma guirlanda. Mas naquele momento, eu só desejei uma coisa: Que aquilo não fosse apenas algo pelo Natal. Jill era alguém que eu não me importaria de dar a minha vida pela dela.