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O jovem sacerdote
Heimat-Timbó. Embora não informe explicitamente, pode-se deduzir que ela voltou com ele para a Alemanha em junho de 1933, pois pretendia encarregá-la da preparação das noivas dos jovens imigrantes antes que estas partissem para o Brasil. Fala também, sem citar o nome, de uma irmã cujo marido o operou enquanto se encontrava na Alemanha.
O jovem sacerdote
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Já no tempo de estudante, Johannes Beil se interessava por movimentos da juventude católica, especialmente o Bund Normannsteiner, ao qual chegou a filiar-se como membro. Essa associação, conhecida também como Schar der Normannsteiner, foi fundada em 1924, no castelo de Normannstein, na Turíngia. Era um movimento da juventude católica alemã, dissidente da “União de Jovens por uma Nova Alemanha” (Bund Neudeutschland). Nesse envolvimento com a juventude alemã, ele pôde perceber as angústias e os anseios dos jovens sem grandes perspectivas de emprego. Em 22 de janeiro de 1928, foi ordenado sacerdote pelo cardeal Adolf Bertram, na cidade de Breslau3. Pertencia ao clero da diocese de Breslau e, em 5 de março
Padre Johannes Beil.
3 Breslau, hoje chamada Wroclaw, situada no atual território polonês, fazia parte, naquela época, do território da Prússia.
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de 1928, foi nomeado coadjutor da paróquia São Miguel, em Berlim, que naquela época pertencia, em termos de jurisdição eclesiástica, à diocese de Breslau. Com a criação da diocese de Berlim em 1929, Johannes Beil incardinou-se ao clero desta em 1930. Enquanto isso, exerceu também, em 1929, o cargo de diretor espiritual do assentamento agrícola “Neue Heimat”, em Schwanebeck-Gehrenberge, nas imediações de Bernau, cerca de 30 quilômetros distante de Berlim. Vendo tanta gente sem trabalho, nem perspectiva de futuro, Padre Beil teve a ideia de fundar uma colônia agrícola para jovens. Apresentou esse projeto a Wilhelm Marx, 4 um político de grande infl uência junto ao governo, mas seu plano não foi aceito. Na sequência ele registrou em sua autobiografi a: “Pouco tempo depois, recebi um telefonema do prelado Wienken5, mais tarde bispo de Meissen. Ele era então o representante da Associação Caritas Alemã de Freiburg, em Berlim. Perguntou-me em poucas palavras: ‘Diga-me, caro coadjutor, está disposto a passar alguns anos no Brasil’? Vi nessa proposta um sinal da vontade de Deus e, imediatamente, veio-me a ideia de fundar lá uma colônia para nossa juventude. Por isso, respondi sem refl etir: “Por que não”? ‘Então, por favor, venha até aqui’”.6
4 Wilhelm Marx (*15.01.1863 em Köln; †5.08.1946 em Bonn). Jurista e político alemão do Partido do Centro, foi duas vezes primeiroministro durante a República de Weimar, de 1923 a 1925, e novamente de 1926 a 1928. 5 Heinrich Wienken foi bispo de Meissen de 9 de março de 1951 a 19 de agosto de 1957. 6 BEIL, Johannes. In Urwald und Großstadt Brasiliens. Ein Menschenleben im Dienste der Seelsorge und der sozialen Entwicklung.
Süddeutscher Zeitungdienst, Druckrei- und Verlagsgesellschaft mbH, Aalen/Wür . 1967. p. 9.
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O prelado Wienken contou-lhe, então, o drama dos teuto-russos que outrora haviam sido prósperos agricultores na Ucrânia, nas margens do Volga. Em duzentos anos, haviam transformado aquela região em celeiro de trigo da Rússia e gozavam de grandes privilégios como, por exemplo, a manutenção do idioma alemão. Tudo mudou com a revolução comunista. Foram espoliados de seus bens e suas terras foram coletivizadas. A maioria deslocou-se para Moscou, permanecendo, durante muito tempo, acampada na entrada da cidade, passando fome e miséria. Por intermediação de algumas embaixadas, muitos conseguiram alcançar o território alemão e foram recolhidos no campo de refugiados de Hammerstein. Como, naquela época, a Alemanha sequer tinha trabalho para os próprios cidadãos, o governo dirigiu-se então a outros países de além-mar dispostos a acolher esses refugiados. O Brasil aceitou a oferta e se dispôs a receber certo número de famílias. Como o sul do país já era colonizado por alemães e como o clima dessa região era mais parecido com o europeu, negociou-se a transferência de algumas centenas de famílias para essa parte do país. O cônsul alemão de Porto Alegre encarregou-se de conseguir um local para os imigrantes. A Companhia Territorial Sul Brasil então colonizava grandes áreas do oeste de Santa Catarina, e em terras dessa empresa os imigrantes teuto-russos foram estabelecidos. A primeira leva de imigrantes era de mais de 500 pessoas. Desembarcaram em Porto Alegre e, de lá, foram encaminhados para o oeste de Santa Catarina, ainda, em grande parte, coberto de fl oresta virgem. O choque dos recém-chegados foi sem precedentes. Estavam acostumados, na Rússia, a trabalhar e plantar trigo em planuras a perder de vista. Aqui tinham pela frente espessa fl oresta e terras montanhosas, onde tinham que plantar milho. Entrementes, outros grupos haviam chegado.
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A insatisfação e a revolta foi total. Em pouco tempo, muitos foram embora e se estabeleceram nas terras planas do país vizinho, o Uruguai. Finalmente as autoridades deram-se conta de que essa gente tinha também uma religião. Por isso, para amenizar a situação, achou-se por bem conseguir um assistente religioso. O cônsul de Porto Alegre, Dr. Walbeck, dirigiu-se ao Ministério das Relações Exteriores em Berlim e solicitou um jovem sacerdote para dar assistência aos imigrantes às margens do rio Uruguai. O Ministério das Relações Exteriores, por sua vez, dirigiu-se ao bispo Heinrich Wienken que, como vimos acima, chamou o padre Johannes Beil para uma conversa a fi m de propor-lhe a ida para o Brasil com a fi nalidade de prestar assistência aos teuto-russos. A resposta foi afi rmativa e, em 16 de janeiro de 1931, saiu a nomeação de Padre Johannes Beil como capelão dos teuto-russos no oeste de Santa Catarina.7 E Padre Johannes Beil continua sua narrativa: “Um coadjutor não pode, sem mais nem menos, emigrar para o Brasil. O prelado teve uma conversa com meu Bispo e, em seguida, fui liberado por três anos. Meu pároco, mais tarde cônego Piossek, fi cou estarrecido. Não podia entender como era possível trocar Berlim pela fl oresta brasileira. Ganhei licença para fazer uma série de pregações (pregações de esmola) para pedir ajuda em benefício de minha futura capelania. Quando minha decisão se tornou conhecida, imediatamente um grupo de jovens se apresentou, querendo acompanhar-me a qualquer custo. Os próprios pais vieram pedir que os levasse comigo. Como eu mesmo viajava para o desconhecido, levei apenas três: Willy, Gerhard e Kurt.”8
7 O assentamento dos teuto-russos localizava-se no interior do atual município de São Carlos. 8 Trata-se de Willy Nowak, Gerhard Tie e e Kurt Willumeit. Em sua autobiografi a, Beil afi rma que “Willy voltou mais tarde para
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