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Fundação da colônia
berlinenses, uma colônia agrícola para cultivar hortaliças. Mas meu plano foi rejeitado.”6 A resposta negativa do ministro alemão não o fez desanimar. Nova esperança se acendeu para a concretização de seu ideal quando o bispo Wienken, representante da Associação Caritas em Berlim, o convidou a passar alguns anos no Brasil como capelão dos teuto-russos no Oeste de Santa Catarina. Mas, como vimos no primeiro capítulo, por motivos alheios à sua vontade, a assistência aos teuto-russos não teve longa duração. Padre Beil foi, então, a Porto Alegre, onde trabalhou no acolhimento de imigrantes alemães. Durante esse período, envolveu-se também no “Projeto Torres”, com a incumbência de dar assistência a imigrantes alemães que deveriam ser assentados ao longo da ferrovia a ser construída entre Torres e Porto Alegre. Como o projeto não se concretizasse, Padre Beil decidiu, então, fundar uma colônia por conta própria, com a qual vinha sonhando há tanto tempo.
Fundação da colônia
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Na autobiografi a, Padre Beil nos coloca a par de suas ideias relativas à colonização, bem como dos aspectos específi cos do modelo que ele pretendia adotar na colônia para os jovens imigrantes. “Durante o breve período em que me encontrava no Brasil, já fi cara claro que uma colônia na fl oresta devia ser previamente preparada. Como preparação, não bastava construir apenas estradas e abrigos; mais importante me parecia instruir os próprios imigrantes sobre suas novas tarefas. Assim como não se levam mulheres para a guerra, também me parecia im-
6 BEIL, Johannes. Op. cit. p. 9.
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possível levar mulheres para a fl oresta. Na Alemanha, alguém também se preocupava com tais problemas: o Dr. Konrad Theiss, da Associação Caritas Alemã de Freiburg, um velho amigo meu. Havíamos feito juntos, quando estudantes, uma viagem pelo Oriente. Ele estava disposto a reunir jovens interessados e, na medida do possível, prepará-los para a dureza da nova vida. Quando o ‘Projeto Torres’ foi abandonado, pedi-lhe para começar com os preparativos na Alemanha.”7 Numa correspondência com data de 21 de julho de 1931, Padre Beil expõe a Konrad Theiss as ideias básicas que ele deveria tomar em consideração na seleção e preparação dos jovens dispostos a participar do projeto colonial bem como da quantia necessária para o fi nanciamento do projeto. Apresenta, também na mesma correspondência, os princípios básicos que deveriam nortear a elaboração dos estatutos. “Nesse meio tempo – escreve Beil – eu precisava preocupar-me com a escolha de um lugar adequado para a colônia. E nisso se encontravam as difi culdades. Dr. Theiss escreveu-me que cada um poderia contribuir, no máximo, com 1.000 marcos para a colônia comunitária, o que correspondia, naquela época, em dinheiro brasileiro, a 3.000 cruzeiros. Era o preço de uma colônia de terra da Companhia Territorial Sul Brasil, na qual naturalmente pensei primeiro. Entrei em contato com a companhia, que se mostrou propensa a dar um desconto de dez por cento, em se tratando de muitos colonos; mas isso era naturalmente muito pouco. Eu não podia, de modo algum, gastar todo o dinheiro disponível só na compra da terra. Era necessário prover nossa manutenção até a primeira colheita e ter recursos para o pagamento do transporte do porto até a colônia. Em instalações, nem pensar! Informei-me ainda junto
7 BEIL, Johannes. Op. cit. p. 21.
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a outras companhias colonizadoras, mas não obtive nenhuma proposta viável para nós.” “Naqueles dias – continua Beil – a Volksverein8 realizou um de seus congressos católicos em Selbach para o qual fui convidado como palestrante. Lá conheci o franciscano Frei Estanislau Schä e, OFM,9 que chamou minha atenção para Blumenau. Ele garantiu-me que, não muito longe do centro de Blumenau, seria possível comprar terra por um preço bem mais barato do que às margens do rio Uruguai. Além do mais, as terras se localizavam numa região provida de melhores meios de comunicação. Decidi, então, mandar alguém para lá. O sr. Gustav Frank,10 um professor que se encontrava comigo na casa de acolhida dos imigrantes, entusiasmou-se e se dispôs a
8 A Volksverein (Associação Popular) era uma associação organizada pelos padres Jesuítas do Rio Grande do Sul e tinha como objetivo dar assistência aos colonos católicos. A Volksverein adquiriu no oeste de Santa Catarina uma grande área, onde fundou a colônia Porto Novo, mais tarde denominada Itapiranga.
A região da antiga colônia Porto Novo corresponde aos atuais municípios de Itapiranga, São João do Oeste e Tunápolis. 9 OFM é a sigla formada pelas letras iniciais de Ordo Fratrum Minorum, que signifi ca Ordem dos Frades Menores ou, simplesmente, Ordem dos Franciscanos. 10 Gustav Frank, depois de ter negociado a compra do terreno para a instalação da colônia Heimat-Timbó, preparou a infraestrutura da colônia para receber os jovens e continuou trabalhando ali até o dia 1º de dezembro de 1933. Em seguida casouse com Wanda Kaspereit, fi lha de uma pobre família de colonos de Benedito Novo. No início de janeiro de 1934, ele comprou, em Florianópolis, o Hotel Metropol por 40 contos, dando 25 contos de entrada. O jornal Der Urwaldsbote noticia com certa ironia esses fatos, questionando, inclusive, a origem duvidosa do dinheiro para a compra do hotel. Documentos produzidos naquela época creditam o fracasso da colônia a Gustav Frank pela má escolha do lugar.
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