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c) Difi culdades econômicas
1 As difi culdades na Alemanha
a) Fatores demográfi cos
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Os imigrantes que se estabeleceram em São Martinho eram, na maioria, agricultores. Na Alemanha, muitos deles eram rendeiros ou meeiros e, como tal, não tinham terra própria; eram dependentes e submissos a um Bauer – proprietário de terra – a quem deviam entregar boa parte de sua colheita anual e a quem deviam outras obrigações e encargos. Em algumas regiões, como na Vestfália, de onde veio o principal contingente de colonos, além de rendeiros e diaristas, havia também camponeses livres, com pequena área de terra própria, mas com condições para a sobrevivência quase inviáveis, pois a terra era insufi ciente para a família que, em geral, era numerosa. “Nestas regiões, onde a densidade demográfi ca já havia atingido um ponto que naquela época se afi gurava como máximo, uma situação angustiosa agia no sentido de criar uma verdadeira febre migratória”.1 As propriedades eram de tal maneira divididas e subdivididas que, mesmo em épocas boas, não comportavam mais o número de pessoas que delas teriam que se manter. Se o direito de sucessão obrigava os pais a repartir os seus haveres entre os fi lhos a ponto de os entregar frequentemente à miséria, em outras regiões existia também o direito de herança no âmbito do campesinato. De acordo com este costume, a terra passava do pai para o fi lho mais velho ou para o mais novo, conforme a região. O fi lho herdeiro podia dispor livremente da terra, usufruí-la, sem nenhuma obrigação para com os irmãos que se viam na condição de trabalhar nas propriedades de outros, ou quando possível para o próprio irmão, na condição de rendeiros ou assalariados. Quando isso não ocorria, ou se na região não houvesse emprego disponível, os camponeses, sem terra, passavam à condição de proletários, e sem qualifi cação, obrigados a trabalhar nas piores condições em alguma fábrica da nascente indústria alemã.
1 WILLEMS, Emílio. A Aculturação dos alemães no Brasil. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1980. p. 33.
b) Problemas políticos
Até a unifi cação, em 1871, “a Alemanha estava dividida em inúmeros pequenos Estados sob um regime monárquico-reacionário inspirado pela orientação política da Restauração. Nestes minúsculos Estados ou principados, muitas vezes dominados por alguma poderosa família nobre, os impostos eram escorchantes, forçando a população ao êxodo ou, antes, à fuga, porque a emigração era, quase sempre, proibida. Assim, era comum famílias, individualmente ou em grupo, de um mesmo distrito abandonarem suas propriedades fugindo à perseguição das autoridades fi scais e policiais, para embarcarem em portos dos Países Baixos (Bélgica e Holanda) à procura de uma nova existência na América”.2 A legislação de então proibia a emigração e, se alguém partisse, perdia o direito pátrio, isto é, deixava de ser alemão e passava à condição de estrangeiro o que nos leva a compreender porque a maioria dos imigrantes que se estabeleceu em São Martinho embarcou em Antuérpia, na Bélgica, e sem passaporte.3
O século XIX marcou a Europa com muitas guerras e revoluções. Começou com as guerras napoleônicas, trazendo funestas consequências que duraram dezenas de anos.4 Depoimentos de imigrantes informam que Napoleão, após a fracassada campanha contra a Rússia em 1812, distribuiu entre famílias na Alemanha os soldados sobreviventes e estropiados para se recuperarem. Cada família recebia de um a três “hóspedes” de acordo com as condições econômicas, e o tratamento devia ser do bom e do melhor possível, durante meses ou até anos.
Depois sobreveio a Revolução de 1848 que provocou um clima de instabilidade e insegurança. Muitos emigraram em busca de paz e sos-
2 Idem, ibidem. p. 34. 3 O jornal Oeff entlicher Anzeiger, Beilage zum Amtsbla der Königlichen Regierung zu Münster publicou, no dia 11 de novembro de 1865, o seguinte anúncio ofi cial: “o sapateiro Johann Bernard Dirksen, o comerciante Heinrich Gerhard Becker, o padeiro Franz
Joseph Althoff , o tecelão e agricultor Bernard Heinrich Eierhoff são acusados de não terem prestado o serviço militar e terem emigrado sem autorização.” Os cidadãos acima mencionados emigraram para o Brasil e dois deles, o sapateiro Johann Bernard
Dirksen e o tecelão e agricultor Bernard Heinrich Eierhoff , se estabeleceram no Vale do
Capivari. 4 Jacob Arns refere que seu bisavô, Nikolaus, acompanhou, sob Napoleão, a marcha russa até Moscou e foi um dos poucos que voltou com saúde. Era admirador de Napoleão e nada o incomodava mais do que ouvir alguém cantar a canção “Napoleão, tu és aprendiz de sapateiro”. Cf. ARNS, Jacob. Crônica, p. 1.