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As dificuldades na Alemanha
a)
Fatores demográficos
Os imigrantes que se estabeleceram em São Martinho eram, na maioria, agricultores. Na Alemanha, muitos deles eram rendeiros ou meeiros e, como tal, não tinham terra própria; eram dependentes e submissos a um Bauer – proprietário de terra – a quem deviam entregar boa parte de sua colheita anual e a quem deviam outras obrigações e encargos. Em algumas regiões, como na Vestfália, de onde veio o principal contingente de colonos, além de rendeiros e diaristas, havia também camponeses livres, com pequena área de terra própria, mas com condições para a sobrevivência quase inviáveis, pois a terra era insuficiente para a família que, em geral, era numerosa. “Nestas regiões, onde a densidade demográfica já havia atingido um ponto que naquela época se afigurava como máximo, uma situação angustiosa agia no sentido de criar uma verdadeira febre migratória”.1 As propriedades eram de tal maneira divididas e subdivididas que, mesmo em épocas boas, não comportavam mais o número de pessoas que delas teriam que se manter. Se o direito de sucessão obrigava os pais a repartir os seus haveres entre os filhos a ponto de os entregar frequentemente à miséria, em outras regiões existia também o direito de herança no âmbito do campesinato. De acordo com este costume, a terra passava do pai para o filho mais velho ou para o mais novo, conforme a região. O filho herdeiro podia dispor livremente da terra, usufruí-la, sem nenhuma obrigação para com os irmãos que se viam na condição de trabalhar nas propriedades de outros, ou quando possível para o próprio irmão, na condição de rendeiros ou assalariados. Quando isso não ocorria, ou se na região não houvesse emprego disponível, os camponeses, sem terra, passavam à condição de proletários, e sem qualificação, obrigados a trabalhar nas piores condições em alguma fábrica da nascente indústria alemã. 1
WILLEMS, Emílio. A Aculturação dos alemães no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1980. p. 33.
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