![](https://static.isu.pub/fe/default-story-images/news.jpg?width=720&quality=85%2C50)
5 minute read
3 As colônias alemãs em Santa Catarina
tigos constitucionais mais importantes para o imigrante eram: A religião católica permanecia como religião ofi cial, não obstante ser permitida a prática de todos os demais credos, sendo seus ofícios divinos realizados em residências ou em local para tal fi m destinado especifi camente, desde que tais lugares não apresentassem o aspecto externo de igreja (torre, por exemplo)3, era assegurada ao cidadão a intangibilidade de seus direitos civis e políticos, especialmente o direito de expressar pensamentos, oralmente ou por escrito, sem estar sujeito à censura, o que garantia aos imigrantes a manutenção do uso da língua materna.
Concedia-se também às províncias a faculdade de promover a fundação de colônias4 e, graças a essa lei, iníciou-se a imigração alemã para o Sul do Brasil com a fundação das colônias de São Leopoldo (RS) em 1824, São Pedro de Alcântara (SC) em 1829 e Santa Isabel (SC) em 1847, entre outras.
Advertisement
b) A Lei de Terras
Como estas leis não eram sufi cientes para atrair imigrantes europeus para ocupar os imensos espaços considerados vazios, para trabalhar na lavoura e na incipiente indústria, outras medidas foram adotadas. Em 1850 o governo imperial baixou a “Lei de Terras”5 que dispunha sobre as terras devolutas e determinava sua medição, demarcação e utilização para colonização. Esta lei, regulamentada por vários decretos complementares, todos em favor da imigração, abriu efetivamente o caminho da grande imigração alemã para o Brasil. É difícil estabelecer números exatos porque nem sempre os documentos foram conservados, porém, entre 1829, data da fundação de São Pedro de Alcântara, e 1863, data da chegada dos primeiros colonos no Capivari, entraram em Santa Catarina alguns milhares de imigrantes distribuídos nas colônias de São Pedro de Alcântara, Santa Isabel, Blumenau, Joinville, Brusque e Teresópolis.
3 Efetivamente, as primeiras igrejas evangélicas no Vale do Capivari não apresentavam torres, que foram permitidas com a proclamaçao de República. 4 Cf. FOUQUET, Carlos. O imigrante alemão e seus descendentes no Brasil. São Paulo: Instituto Hans Staden, 1974. p. 98-99. 5 Lei de Terras: lei nº 601 de 18 de setembro de 1850. Esta lei estabelecia a compra como a única forma de acesso à terra e abolia, em defi nitivo, o regime de sesmarias.
c) A substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre
A imigração europeia foi estimulada para resolver o problema da mão de obra. Pressionado pela Inglaterra, o governo brasileiro proibiu a importação de escravos negros da África. Com isso, começou a faltar mão de obra, principalmente nas grandes lavouras de café. O sistema de parceria então implantado, não deu certo, pois o latifundiário dispensava quase sempre ao imigrante tratamento semelhante ao dos escravos.6 Percebeu-se também que o trabalho livre em pequenas propriedades era mais produtivo que o latifúndio à base de trabalho escravo. A vinda do imigrante europeu resolvia, portanto, três problemas: a superpopulação da Europa, a falta de mão de obra no Brasil e a expectativa dos imigrantes por dias melhores.
2 Por que em Santa Catarina?
Quando se iniciou a imigração alemã para Santa Catarina a partir de 1829, a Província era ainda muito pouco habitada. A faixa litorânea, desde São Francisco do Sul até Laguna, fora povoada, em meados do século XVIII, por açorianos. Estes viviam em pequenas propriedades e tinham como principal atividade econômica a pesca costeira e a pequena agricultura, como a da mandioca usada na produção da farinha. Os campos de Lages foram povoados por paulistas, e sua principal economia era a criação e o comércio de gado.
Entre o litoral e o planalto existia uma imensa região de férteis vales, colinas e montanhas cobertas pela exuberante fl oresta da mata atlântica. A terra aí estava, mas não havia gente para trabalhá-la e fazê-la produzir. Além do mais, o desbravamento não era fácil com os precários instrumentos da época: machado, foice e facão. Os índios, únicos habitantes da região, eram ignorados pelo governo e temidos pelos brancos colonizadores.
Nos planos da política nacional, a terra devia ser ocupada e explorada pois, de acordo com um antigo princípio jurídico, é dono do território aquele que o ocupa. E o governo imperial preocupou-se em ocupar esta terra para não perdê-la.
6 WAGNER, Reinhardt W. Deutsche als Ersa für Sklaven. Arbeitsmigranten aus Deutschland in der brasilianischen Provinz São Paulo 1847-1914. Frankfurt AM Main: Vervuert Verlag, 1995.
Não apenas esta área do Brasil era carente de população. O governo poderia ter direcionado os imigrantes disponíveis na Europa para outras regiões. Santa Catarina, porém, apresentava condições climáticas mais favoráveis para a instalação de colonos principalmente os originários das regiões mais frias do norte da Europa.
O litoral de Santa Catarina era conhecido no Velho Mundo como uma terra paradisíaca por suas belezas naturais, pela fertilidade do solo, pela exuberância da vegetação e pelo clima ameno e saudável. Viajantes, que por aqui passaram nos séculos XVIII e XIX, deixaram registrado as mais laudatórias e positivas impressões. Santa Catarina era vista por esses viajantes como sendo a terra da fartura e da promissão. “O estado brasileiro de Santa Catarina, pela abundância de belezas naturais, pela extraordinária fertilidade do solo e, não menos, por sua grande e natural riqueza e clima maravilhoso, é chamado paraíso brasileiro”.7
3 As colônias alemãs em Santa Catarina
a) São Pedro de Alcântara
São Pedro de Alcântara é a mais antiga colônia alemã em Santa Catarina. Foi fundada em março de 1829 e nela foram instalados 635 imigrantes que haviam aportado em Desterro no fi nal de 1828. A localização da colônia estava relacionada com o primitivo traçado da estrada que ligava Desterro a Lages, passando por Angelina. Ao longo do trajeto eram necessários núcleos de colonos trabalhadores para abastecer os transeuntes e afugentar, com sua presença, os índios da região. Os colonos, dispostos a realizar seu sonho de um futuro melhor em terras brasileiras, puseram mãos à obra na derrubada da mata e no amaino da terra. Mas seus esforços foram parcialmente frustrados. A terra era muito acidentada e fraca, e a estrada Desterro-Lages teve seu trajeto deslocado para o vale do rio Cubatão. Ademais, o governo imperial baixara uma lei proibindo despesas com a colonização estrangeira. Entregues à própria sorte, muitos abandonaram a colônia indo para o vale do Itajaí,
7 Zeitschrift für Süd-und Mi elamerika. In: Das Reich des Herzens Jesu. Si ard (Holanda), ano VIII (1908), p. 132.