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VI Escolas e educação

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4 Ano Novo

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Para melhor aproveitamento dos recursos naturais, faz-se necessário utilizar racionalmente as áreas aptas para atividades agrícolas e destinar as demais como reserva fl orestal de produção de essências fl orestais que contribuam para o incremento da renda da propriedade rural.

Na década de 1990, com o apoio da administração municipal, surgiram novas alternativas de renda familiar. Diversos produtores se dedicaram à piscicultura e construíram açudes em suas propriedades. Efetivamente, o terreno acidentado, formando pequenos vales e os muitos ribeirões, afl uentes do rio Capivari, se prestam bem a tal atividade. A piscicultura é uma atividade de custos baixíssimos e, quando conduzida de forma adequada, revela-se lucrativa e se constitui em alternativa de produção e fonte de proteína animal. No entanto, como atividade complementar e sem técnicas adequadas, a maioria dos criadores teve sua qualidade e seu rendimento comprometidos. Percebe-se que faltou espírito cooperativo entre os piscicultores, o que levou esta atividade à decadência.

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Houve também, na década de 1990, a tentativa de introduzir a fruticultura, sobretudo da laranja e do pêssego. O clima e o solo se prestam favoráveis, mas, com esta atividade aconteceu o mesmo que com a piscicultura: faltou união entre os produtores e os pomares foram gradativamente sendo abandonados.

As terras do município de São Martinho são, de modo geral, muito acidentadas. Há poucas áreas próprias para a agricultura mecanizada. Além da cultura do fumo, que vem apresentando gradativo declínio, o município se caracteriza pela agricultura de subsistência, com predominância para o cultivo do milho, do feijão e da mandioca.

As belezas naturais, como cachoeiras, vales e montanhas, aliadas às características tradicionais da população de origem germânica, têm despertado o turismo, especialmente o turismo rural, como nova fonte de renda. Surgiram várias pousadas, restaurantes e pequenos estabelecimentos comerciais que vendem produtos artesanais característicos da região. Apesar da boa vontade dos empreendedores, verifi ca-se em tais atividades, muito amadorismo e falta de apoio das autoridades municipais. Mesmo assim, o turismo está sendo um dos principais ramos de geração de emprego e de fonte de renda para a população.

no sentido de coibir estes vícios gera insatisfação e antipatia da população em relação aos governantes.

Um grave problema relacionado com a economia foi, e em parte continua sendo, o êxodo da população jovem. O fenômeno, que apresentou seu auge nos anos de 1970 e 1980, chegou a tamanhas proporções que, a partir da década de 1990, o número de aposentados (idosos) era de aproximadamente 1/3 da população do município. A população jovem migrou para centros urbanos à procura de emprego e de melhores condições de vida e as atuais famílias têm número reduzido de fi lhos. Se no passado o número de fi lhos por casal era de 8 a 10 ou mais fi lhos, este número veio caindo e atualmente pode-se considerar a média de dois fi lhos por casal, o que se constitui num equilíbrio de estabilidade populacional. Por outro lado, muitos benefícios, considerados no passado como exclusivos da população urbana, tais como energia elétrica, televisão, telefone, automóvel e outros aspectos de conforto dentro do lar, fazem atualmente parte da maioria das famílias rurais. O desequilíbrio e o descompasso entre vida urbana e vida rural vêm diminuindo signifi cativamente.

VI c a e educaçã

m São Martinho, como nas outras colônias alemãs em Santa Catarina, os pioneiros imigrantes e seus descendentes, logo fundaram escolas para a educação das crianças. Eram escolas comunitárias, mantidas pelos pais, e se localizavam, geralmente, no centro do núcleo colonial. Nos primeiros anos o edifício servia como escola e local de culto dominical; às vezes era dividido em duas partes, uma destinada à sala de aula e a outra para moradia do professor. A grande importância dada à escola era uma herança da tradição alemã trazida da Europa. Lúcio Kreu , professor da Universidade do Rio dos Sinos (Unisinos), escreveu sobre as escolas comunitárias nas colônias alemãs do Rio Grande do Sul:

O início do século XIX foi marcante para a educação pública na Prússia e outras regiões alemãs. Promoveu-se a difusão geral do ensino elementar, a melhoria na formação de professores pela implantação de Escolas Normais, a renovação dos métodos e, especialmente, a formação de uma nova mística em relação à educação sob o pressuposto de que as reformas sociais e políticas deveriam surgir pela educação. Sem essas referências à tradição escolar alemã talvez seria difícil entender o empenho dos imigrantes alemães para não deixarem ninguém de suas comunidades sem escola.1

Para os colonos, isolados em seus lotes e ocupados com o trabalho diário na lavoura, a escola era tida como uma necessidade não apenas para o aprendizado intelectual dos fi lhos, como também um meio de socialização e de formação geral. A escola era o espaço onde a criança saía de seu estreito ambiente doméstico para abrir novos horizontes no convívio com outras pessoas. A passagem da vida na aldeia da Alemanha, onde havia

1 KREUTZ, Lúcio. Escolas da Imigração Alemã no Rio Grande do Sul: Perspectiva Histórica. In: Os alemães no Sul do Brasil: Cultura, etnicidade e história. Canoas: ULBRA, 1994. p. 151.

uma convivência diária com vizinhos, para o isolamento na fl oresta do Brasil, era amenizado para as novas gerações pela escola.

No Brasil, na maioria das cidades e localidades de colonização alemã, as Igrejas, a Católica e a Evangélica Luterana, assumiram a questão escolar como seu principal ponto de apoio para a ação continuada e estruturada nas comunidades. Em contrapartida, as sanções para quem não se comprometesse com a escolarização dos fi lhos e a manutenção da escola e do professor também eram religiosas. Os infratores poderiam ser excluídos da solene cerimônia da Primeira Eucaristia (católicos) ou da Confi rmação (evangélicos), celebrações densas de simbolismo, equivalentes aos ritos de iniciação.2

No Vale do Capivari, as escolas comunitárias tiveram origem na iniciativa dos pais e, como tal, não eram confessionais, salvo poucas exceções. Não se pode esquecer o incentivo e apoio dos padres e dos pastores, que tinham no professor um auxiliar importante na catequese das crianças. Isso não signifi ca que não tenha havido confl itos confessionais em torno da escola. Como o professor – católico ou evangélico-luterano – era não só o mestre-escola, mas também catequista e líder na comunidade, ele acabava naturalmente privilegiando os alunos e, por extensão, os pais e toda a comunidade do seu credo em detrimento dos que professavam outro credo.

Na região de São Martinho havia, até 1910, duas escolas comunitárias confessionais. A escola de Rio Sete (Nova Isabel) era evangélica luterana, porque a população era evangélica e a de Vargem do Cedro, onde os habitantes eram católicos, a escola era católica. Nas demais comunidades, as escolas eram consideradas não confessionais porque a população, embora de maioria católica, contava também com muitos evangélicos. Em 1910, o Padre Schwirling iniciou um processo de transformação de algumas destas escolas comunitárias em escolas católicas, o que provocou veementes protestos dos evangélicos e desentendimentos entre as lideranças das duas igrejas que até então viviam em harmonia.3 O impasse foi superado

2 Idem. p. 153. 3 Padre Augusto Schwirling, que durante muitos anos atendeu as comunidades católicas do Vale do Capivari, adotou uma estratégia bastante perversa. Segundo ele, onde a maioria dos alunos era católica, a escola deveria ser católica, isto é, professor católico com aula de religião católica. Onde a maioria era evangélica, a escola seria evangélica com professor e aula de região evangélica. As comunidades mais prejudicadas com essas medidas foram as de Rio São João e Rio Gabiroba.

durante a Primeira Guerra Mundial quando as escolas comunitárias, que eram consideradas alemãs, foram transformadas em escolas públicas e, como tal, aconfessionais.

As escolas comunitárias, conhecidas como Gemeindeschulen, tinham diretorias (presidente, secretário e tesoureiro) que zelavam pelo seu bom funcionamento.4

A partir da década de 1920, quando o Estado assumiu as escolas, não existiam – salvo raras exceções – analfabetos em São Martinho. Havia um generalizado interesse pela leitura, e os principais livros que os colonos tinham à mão em casa eram a Bíblia, o hinário, o catecismo, livros de orações e algum livro de história.

Até a Primeira Guerra Mundial, o governo brasileiro dispensou pouca atenção às escolas nas áreas de imigração. No entanto, graças a uma sólida tradição trazida da Europa, não se admitia que alguém da família deixasse de frequentar a escola, e quando isso acontecia por força de circunstâncias, era lamentado. Por isso, os colonos construíam o edifício escolar e contratavam alguém da comunidade que melhor pudesse servir de mestre-escola. Tal solução do professor-colono era emergencial, pois a maioria das escolas pôde contar com professor de melhor qualifi cação. Era notório que nesta época – início do século XX até a Primeira Guerra Mundial – muitos jovens alemães recém-formados emigraram para o Brasil à procura de serviço e o emprego com maior carência era o de mestre-escola, embora a maioria deles não tivesse curso de magistério, mas especialização em algum curso técnico.

Os evangélicos, por motivo de leitura da Bíblia, necessitavam de uma formação escolar mais aprimorada e, por isso, convidavam alguém, geralmente da Alemanha, com formação mais aprimorada para o magistério. Assim, nas comunidades onde havia muitas famílias evangélicas, como Rio Sete, Rio São João e Baixo Rio Gabiroba, o professor era evangélico e com bom preparo para o ensino.

Até o início da década de 1920 a remuneração do professor era feita com os recursos provenientes da mensalidade que os pais pagavam pelos fi lhos matriculados. Quanto maior o número de alunos, melhor o salário

4 Em 1915, a diretoria da escola de Rio Gabiroba era composta pelos senhores Adam

Defreyn (presidente), Friedrich Laureth (secretário) e Heinrich Eyng (tesoureiro). Naquele ano a escola recebeu 150 marcos do governo alemão, importante contribuição para a época.

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