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b) A viagem
sanimar com as adversidades do terreno”. 17 O padre franciscano Beda Kleinschmidt confi rma esse depoimento quando escreve:
Entre l860 e 1870 emigrou para o Brasil um grande número de famílias necessitadas da Vestfália, especialmente da circunscrição de Ahaus e Coesfeld, em seus distritos de Wüllen, Wessum, O enstein, Legden e Schöppingen. Seu primeiro estabelecimento foi na Colônia Teresópolis, a quase dois dias de viagem da capital do Estado de Santa Catarina.18
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Nem todos os imigrantes que se estabeleceram em São Martinho eram da Vestfália. Algumas famílias eram originárias do sudeste da Alemanha, na fronteira com a França e com o Grão-Ducado de Luxemburgo. A região é banhada pelo rio Mosela que, por sua vez, deságua no rio Reno. As margens do Mosela são muito íngremes e cobertas de vinhedos. Os vinhos ali produzidos estão entre os melhores do mundo. Na parte alta do Mosela, conhecida como Hunsrück, as terras são parcialmente onduladas e propícias ao cultivo de cereais como trigo, aveia e centeio. A região é conhecida também por suas minas de ardósia e a maioria das casas são cobertas com pequenas chapas desse material. O dialeto em uso na região é o Hunsrück.
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São Martinho recebeu também várias famílias de imigrantes procedentes da região renana, principalmente de Solingen. Em meados do século XIX essa região já era densamente povoada e as condições de trabalho muito precárias. Muitos imigrantes eram esmerilhadores, profi ssão considerada muito insalubre.20
Radicaram-se também em São Martinho algumas famílias naturais de Schleswig-Holstein (norte da Alemanha, na fronteira com a Dinamarca)21 e outras, inclusive, da Holanda.22
17 Aus Capivary. In: Der Urwaldsbote, 10 de maio de 1902. 18 KLEINSCHMIDT, P. Beda, OFM. Auslanddeutschtum und Kirche. Münster in Westfalen, 1930, p. 192. 19 Da região do Mosela e do Hunsrück vieram as famílias: Arns, Back, Loch, Loffi , Michels, Preis, Sehnem, Heinzen, Schneider, entre outras. 20 Dentre os procedentes de Solingen estão as famílias: Stüpp, Feuser, Scho en, Engels,
Dörner, Ern, Schmi , entre outras. 21 Da região de Schleswig-Holstein procedem as famílias: Volster, Wenz, Baasch, Bünzen,
Hinselmann, Kühl, Mohr entre outras. 22 São famílias de origem holandesa: Defreyn (De Freyn), Dümes (Du Mez), Israel, Lauret,
Lemonge (Le Monjeu), De Roo e Van Roo. Na sua origem, essas famílias pertenciam a
3 Adeus
a) A partida
É fácil imaginar a cena de despedida dos emigrantes na Alemanha. Difícil, porém, é imaginar o que terá se passado na alma de um pai, de uma mãe e mesmo dos fi lhos enquanto realizavam os preparativos da partida. Os colonos imigrantes do Vale do Capivari eram alemães pobres, mas não miseráveis. Alguns tinham pequena área de terra que era preciso vender; outros, eram agregados ou rendeiros, tinham seus móveis e alguns animais que tinham que ser vendidos. Outros objetos como roupas, ferramentas e utensílios domésticos eram, na medida do possível, encaixotados e levados na mudança. A viagem até o porto, dependendo do lugar ou da região onde o emigrante morava, era feita de carroça ou de barco. As famílias de uma mesma localidade viajavam juntas, em parte para aliviar despesas, em parte para ajuda e apoio mútuo. A despedida dos pais, dos parentes e dos amigos era, sem dúvida, o momento mais doloroso.
Alguns choravam amargas lágrimas quando se despediam de seus parentes mais próximos e dos seus amigos, estendendo-lhes a mão pela última vez e dizendo-lhes o eterno adeus. Quando chegamos a uma pequena elevação, pouco adiante da aldeia e até onde os habitantes nos haviam acompanhado, também eu, pela última vez, olhei para a minha terra natal com os olhos marejados de lágrimas. Por pouco não voltei sobre os meus passos e só não o fi z porque muitos dos meus camaradas, que comigo seguiam, puseram-me ânimo, encorajando-me com a segurança de que só no Brasil nos sorriria a felicidade. E assim, de repente, tristezas e dores me deixaram e, assobiando e cantando, pulei para a carroça que ia carregada de baús e pacotes e onde outros companheiros já haviam tomado lugar e lá seguimos, tão lentos como o cavalo podia trotar, estrada afora em direção ao Reno.23
alguma Igreja Reformada, talvez calvinista. No Brasil, em Teresópolis e Santa Isabel, se associaram à Igreja Evangélica Luterana. 23 SCHAUFFLER, Heinrich. (organizador). Crônica do imigrante Mathias Schmi . In: Blumenau em Cadernos, Tomo VII, nº 12, p. 227-130. HEINRICH SCHAUFFLER (*1866 – †21.4.1900 Teresópolis) era fi lho de Heinrich Adolf Schauffl er e de Maria Ziegler. Foi professor em Loeff elscheid/Santa Isabel e em Teresópolis. Organizou, para a publicação, em alemão, no “Calendário para os Alemães no Brasil – Ano 1899”, editado por
O transporte era feito por terra até o rio Reno. De lá em diante, até o porto de Antuérpia, o trajeto era feito via fl uvial ou de trem ou a pé. A maioria dos casais emigrantes era bastante jovem, entre 25 e 35 anos, com alguns fi lhos menores. Em muitos casos a mulher estava grávida e, às vezes, os partos aconteciam no navio, em alto mar.24
b) A viagem
Os imigrantes do Vale do Capivari procedentes da Vestfália, do Hunsrück, de Solingen e da Holanda tiveram como local de embarque o porto de Antuérpia, na Bélgica. Às vezes os emigrantes tinham que aguardar alguns dias, quando não algumas semanas, até o navio levantar âncoras e partir. Os dias de espera no porto se constituíam, frequentemente, em perigo para os emigrantes. Além de gastar com hospedagem e alimentação, eram assediados por todo o tipo de pessoas que procuravam extorquir algum dinheiro dos que aguardavam o embarque. Para combater esse tipo de abuso, foi fundada em Antuérpia em 1846 a “Sociedade para a proteção e transporte de emigrantes”. Essa sociedade tinha como fi m amenizar a situação dos emigrantes à espera de embarque para a viagem transatlântica, de protegê-los e de assisti-los para que a viagem se tornasse menos onerosa e menos sofrida. Providenciava alojamento aos emigrantes enquanto aguardavam o embarque bem como a alimentação durante o tempo de espera e para a travessia. Encarregava-se também da troca de dinheiro (câmbio) e do repasse de dinheiro para o país de destino.
A viagem era feita em navio à vela e os emigrantes viajavam geralmente na parte inferior do navio. A travessia do Atlântico duravam em torno de 50 a 60 dias dependendo das condições do tempo. No Rio de Janeiro era feita a notifi cação de chegada. Os passageiros eram encaminhados à Hospedaria dos Imigrantes localizada na ilha das Flores, onde fi cavam de quarentena.
W. Rotermund, de São Leopoldo/RS, o relato extraído do diário de Ma hias Schmi .
Casou com Catarina Schmidt (*30.8.1869), fi lha de Peter Schmidt e de Helene Franz. 24 Antone e Mönster, fi lha de Hermann Mönster e futura esposa de Hermann Dirksen, nasceu em alto mar. Carolina Haverkamp, esposa de Johann Bernard Dirksen, estava grávida de seis meses quando o casal desembarcou em Desterro (Florianópolis).