Casemiro Do Vale do Paraíba para a Seleção Brasileira P40 Raupp O que a região ganha com o novo ministro P28 Marylin O retorno da loira mais famosa do cinema P90
Fevereiro 2012 • Ano 2 • Número 23 R$ 7,80
Especial
POR QUE O ÓDIO? Ciência e política tentam explicar a razão de tanta revolta popular no caso do Pinheirinho 001_capa.indd 1
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Opinião
Palavra do editor
DIRETOR RESPONSÁVEL Ferdinando Salerno
Pinheirinho: o direito à moradia
A
moradia foi reconhecida em todo o mundo como direito humano com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948. Desde então, vários tratados internacionais reafirmam que os Estados têm a obrigação de promover e proteger este direito. Apesar disso, 64 anos depois, o direito à moradia ainda é um grande desafio, por vezes ignorado pelo poder público. O exemplo mais recente envolve o caso Pinheirinho, onde milhares de casas foram derrubadas por ordem judicial em ação de reintegração de posse concedida às vésperas do maior acampamento sem-teto da América Latina completar oito anos de existência. O monstro adormecido todos esses anos pela burocracia judicial acordou e 1.600 famílias se viram, de uma hora para outra, sem moradia. A retirada das famílias da área ocupada na zona sul de São José dos Campos suscitou na população uma avalanche de declarações, ora depreciativas, ora elogiosas. Comentários xenofóbicos, racistas e raivosos ganharam corpo nas redes sociais e dominaram as rodas de conversa, tanto em defesa como contra os sem-teto. O caso conquistou tamanha repercussão que foi destaque nos principais jornais, revistas e emissoras de TV do país e sites internacionais. Mas fica a pergunta: por que tanto ódio, quando, na verdade, precisamos discutir o assunto na tentativa de encontrar soluções para o déficit habitacional? Não é correto incentivar ocupações em terrenos particulares ou públicos, mas precisamos cobrar políticas habitacionais que garantam o direito à moradia, esse mesmo direito previsto em mais de uma dezena de textos na ONU. É preciso acabar com a politicagem nas mazelas sociais, deixar o oportunismo de lado, parar de usar o povo como instrumento de interesse político e garantir à população carente um teto que proteja a família e a dignidade do cidadão. Chega de decisões partidárias, de conchavos, rivalidades e apadrinhamentos, precisamos de envolvimento humano, honesto, sem interesses escusos.
DIRETORA ADMINISTRATIVA Sandra Nunes EDITOR-CHEFE Marcelo Claret mclaret@valeparaibano.com.br EDITOR-ASSISTENTE Adriano Pereira adriano@valeparaibano.com.br EDITOR DE FOTOGRAFIA Flávio Pereira flavio@valeparaibano.com.br REPÓRTERES Hernane Lélis (hernane@valeparaibano.com.br), Isabela Rosemback (isabela@valeparaibano.com.br) e Yann Walter (yann@valeparaibano.com.br) DIAGRAMAÇÃO Daniel Fernandes daniel@valeparaibano.com.br ARTE CAPA Ana Paula Comassetto anapaula@valeparaibano.com.br COLABORADORES Cristina Bedendo, Fábio França, Franthiesco Ballerini, João Carlos de Faria, Marrey Júnior, Simone Gonçalves e Xandu Alves COLUNISTAS Alice Lobo, Arnaldo Jabor, Fabíola de Oliveira, Marco Antonio Vitti e Ozires Silva FOTO DE CAPA Flávio Pereira CARTAS À REDAÇÃO cartadoleitor@valeparaibano.com.br As cartas devem ser encaminhadas com assinatura, endereço e telefone do remetente. O valeparaibano reserva-se ao direito de selecioná-las e resumi-las.
DEPARTAMENTO DE PUBLICIDADE REGIONAL Cristiane Abreu, Mellise Carrari,
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Essencial Mídia Carla Amaral e Claudia Amaral (11) 3834 0349
A revista valeparaibano é uma publicação mensal da empresa Jornal O Valeparaibano Ltda. Av. São João, 1.925, Jardim Esplanada, São José dos Campos (SP) CEP: 12242-840 Tel.: (12) 3202 4000
ASSINATURA E VENDA AVULSA Carina Montoro 0800 728 1919 Segunda a sexta-feira, das 8h às 18h FAX: (12) 3909 4605 relacionamento@valeparaibano.com.br www.valeparaibano.com.br
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A TIRAGEM É AUDITADA PELA
Marcelo Claret editor-chefe
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BDO AUDITORES INDEPENDENTES
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MODA
Sumário
MIX & MATCH P68
POLÍTICA
A guerra do ódio Um monstro de 8 anos, 5.500 pessoas e 1,3 milhão de metros quadrados alimentados pela burocracia judicial brasileira. Acima de tudo isso um motor: o ódio. Assim aconteceu com o Pinheirinho, a maior ocupação sem-teto da América Latina.
SAÚDE MEDICINA
COMPORTAMENTO
MUNDO DROGAS
À espera do inevitável P34
Solteiros: par ideal P80
Yes, eles têm cracolândia P46
Pacientes terminais encontram na medicina paleativa uma forma de enfrentar a morte
Sexo casual, amores de verão, casamento ou só alguns beijos na balada: não importa, o que ninguém quer é ficar sozinho
ECONOMIA PESQUISA
O Vale da Ciência e Tecnologia P28 O que os institutos da região ganham com o novo ministro Marco Antônio Raupp ENTREVISTA CASEMIRO
“Esse ano é vida nova, vou voltar com tudo, dar a volta por cima” P34
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CULTURA
Notas raras Uma profissão cada vez mais difícil de ser encontrada: carregador de pianos P74
Como os países desenvolvidos lidam com seus redutos urbanos de consumo de entorpecentes? Veja alguns exemplos. TURISMO FRANÇA
Charme a toda prova P60 Ensaio Fotográfico p52 Hi-Tech p66 Cinema p90 Arnaldo Jabor p98
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Palavradoleitor A revista valeparaibano publicou reportagem sobre o descaso com as obras e legado deixados pelo escritor joseense Cassiano Ricardo
REDES SOCIAIS Sobre a reintegração de posse do Pinheirinho Isso mostra mais uma vez que o Brasil não está preparado para lidar com esse tipo de situação. Agora eu pergunto: até quando? Fabiana Meireles Tem que acabar estes movimentos criados por sindicalistas inescrupulosos, que usam estes movimentos, sustentados de uma forma ilegal com o dinheiro dos trabalhadores, para suas plataformas políticas. Esilda Alciprete Acham certo a reintegração de posse de um terreno de um picareta como Naji Nahas... Ainda tem gente que acha certo tirar famílias com crianças e idosos porque são invasores. Valéria Cordeiro
Foi ridícula a maneira como fizeram a reintegração. Eu, como joseense, sinto vergonha, pois as nossas autoridades nessas horas se escondem e deixam o circo pegar fogo. É lamentável ver isso. Lissandra Silva Tetti São José dos Campos não merecia, nem àquelas famílias não mereciam a forma com que foram executadas as operações. Toda São José está assustada. Os bairros vizinhos estão com muito medo. Um horror, lamentável. Marcelo Alves Em situações como essa, a corda arrebenta sempre do lado mais fraco. Quem precisa de amparo, quem realmente é menos favorecido, sofre as consequências. Vivian Teodoro
ENQUETE Você é a favor da desocupação do Pinheirinho?
27%
73%
Lamentável. Sem palavras para expressar tamanha falta de humanidade. Sonia Veloso Um vexame nacional para o mundo todo ver como o Brasil ainda é mal resolvido. Que vergonha para mim que sou joseense. Terezinha Nogueira de Medeiros Nós que moramos nas proximidades (do Pinheirinho), estamos vivendo um verdadeiro clima de horror. Ana Mariah
A FAVOR CONTRA
Os votos foram computados entre os dias 3 e 23 de janeiro de 2012
Enquete www.valeparaibano.com.br
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Política
Da Redação RMVale se articula para ganhar ‘corpo político’ Prioridade é resolver ‘gargalos’ que afetam cidades da região, com as integrações territorial e econômica
BRANCO & PRETO Sobre a operação da Polícia Militar na Cracolância, no centro de São Paulo, deflagrada no mês passado pelo governo do Estado
“O PSDB está há 17 anos no governo do Estado. Há sete anos na prefeitura. Tanto a cracolândia quanto o PCC são marcas do PSDB” Antonio Donato presidente do PT em São Paulo
SOLENIDADE O governador Geraldo Alckmin no lançamento da RMVale no Palácio da Boa Vista
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ancionada no último mês pelo governador do Estado, Geraldo Alckmin, a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, ganhará corpo político e administrativo daqui a 60 dias. Tempo necessário para que seja formado o Conselho de Desenvolvimento Metropolitano, onde será discutido o formato da Agência de Desenvolvimento e do Fundo de Desenvolvimento. Somente assim, ações e investimentos nas áreas de logística e mobilidade urbana, como por exemplo, a reestruturação do transporte intermunicipal, serão colocadas em prática. Caberá ao conselho, composto pelos 39 prefeitos da região, 39 representantes do Estado e dois da Assembleia Legislativa, autorizar e determinar investimentos para a RMVale. “Vou cobrar agilidade nesse processo, ficar
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em cima dos prefeitos para que eles mandem as indicações para suplentes, e do governo estadual também. Só depois disso faremos uma reunião para definir as prioridades”, disse Edson Aparecido, secretário de Desenvolvimento Metropolitano do Estado. A RMVale vai garantir, entre outras coisas, o aumento de repasses estaduais e federais para os investimentos. A prioridade é resolver gargalos que afetam o grupo de cidades que a compõe, com integrações territorial e econômica. “Vejo dois enfoques. No enfoque macro, um conjunto de prioridades: a questão de saúde, segurança, educação, saneamento básico, transporte e logística, Defesa Civil, enfim, um conjunto de trabalhos. E a outra, microrregional, na região do Vale Histórico, é recuperar rapidamente as estradas, promover o turismo, fortalecer a economia regional”, disse Alckmin.
“Não adianta dizer que a culpa é da prefeitura ou do Estado, se o governo federal não fez a lição de casa”
Ricardo Trípoli Deputado federal (PSDB)
“A operação se mostrou exclusivamente uma intervenção contra os usuários de crack e com uso apenas de forças policiais”
José Dirceu Ex- ministro no governo Lula
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Domingo 5 Fevereiro de 2012
Barack Obama, presidente dos Estados Unidos
“Queremos mostrar ao mundo e a estes dois países, com uma classe média em expansão, que a América está pronta para os negócios” Sobre a decisão do governo norte-americano em facilitar a emissão de vistos a brasileiros e chineses
Estado reajusta em 15% o salário mímino em SP
O
governo estadual reajustou em 15% o piso do salário pago em São Paulo. Assim, a primeira faixa de pagamentos, atualmente em R$ 600, será corrigida para R$ 690. As faixas superiores –R$ 610 e R$ 620– terão correção um pouco menor e vão subir para R$ 700 e R$ 710, respectivamente. A medida beneficia os trabalhadores da iniciativa privada que não possuem piso salarial definido por lei federal, convenção ou acordo coletivo de trabalho. As três faixas salariais são estabelecidas de acordo com grupos de ocupação de trabalhadores. Entre as categorias incluídas na primeira faixa
Câmara rebelada? Lei de incentivos fiscais só em 2013
A
votação sobre o projeto do novo programa de incentivos fiscais do município foi solenemente ignorada pelos vereadores de São José dos Campos. Mesmo com o pedido do presidente da Câmara de São José (a mando do governo), Juvenil Silvério (PSDB) para realizar uma sessão extraordinária no final de dezembro de 2011, os vereadores alegaram compromissos pessoais agendados anteriormente para não comparecerem ao plenário. Além da agenda atribulada no final de ano, os vereadores alegaram que o projeto chegou à Casa depois do recesso, ou seja,
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estão trabalhadores domésticos, serventes, trabalhadores agropecuários e florestais, pescadores, motoboys, entre outros. Na segunda faixa estão incluídos, entre outros, barbeiros, cabeleireiros, manicures e garçons. A terceira faixa, que passa a ter como piso o salário de R$ 710, estão incluídos os chefes de serviços de transportes e de comunicações, supervisores de compras e de vendas, agentes técnicos em vendas e representantes comerciais. De acordo com o governo, a estimativa é que o piso beneficie mais de 7,8 milhões de trabalhadores do Estado. A expectativa é que os novos pisos passem a valer em março. Até lá, trabalhadores com carteira assinada deverão receber o piso nacional (R$ 622), uma vez que não é permitido a remuneração abaixo do salário mínimo nacional, afora trabalhadores que são regidos por convenções coletivas sindicais. O governo informou ainda que até 2014 a correção do salário mínimo de São Paulo será antecipada mês a mês, até chegar a janeiro, assim como o praticado pelo governo federal. não houve tempo para a análise do texto. Cristiano Pinto Ferreira (PV) embolou ainda mais o meio de campo dizendo que para se votar um projeto desta importância é necessário que aconteça uma audiência pública e que já pretende fazer emendas. A lei oferece isenções de até 100% em impostos municipais e remissão de até 80% do ICMS, dependendo do perfil de cada empresa beneficiada. A lei também cria um fundo de fomento para financiar a instalação de indústrias, composto R$ 75 milhões em ações de contrapartida da Sabesp, além de 10% do superávit do ano. A polêmica está justamente aí. Há dúvidas sobre a proposta entre os vereadores. Se para alguns o ano eleitoral pode atrapalhar a votação em 2012 (para que a lei entre em vigor apenas em 2013), para o governo isso não é problema. A pressa em votar no ano passado era por conta da “importância do projeto”, segundo a secretária de governo Claude Mary de Moura. Enfim, muita água ainda vai rolar.
ONU aponta crescimento econômico de 2,7% no Brasil O Brasil deve crescer 2,7% neste ano, segundo estimativa divulgada em relatório da Unctad, a agência de assuntos econômicos da ONU (Organização das Nações Unidas). A previsão do governo brasileiro para 2012, no entanto, é maior. A presidente Dilma Rousseff declarou que espera crescimento de 5%. O resultado oficial do PIB (Produto Interno Bruto) nacional de 2011 será conhecido apenas em março –a estimativa era crescer 3%. No comunicado “Situação e Perspectivas da Economia Mundial”, a ONU prevê que o crescimento da América Latina será de 3,3%, enquanto as projeções para potências emergentes como China e Índia são de 8,7% e 7,7%, respectivamente. Na análise da ONU, a economia mundial está à beira de uma nova recessão devido ao crescimento “anêmico” em 2012 e 2013. Essa hipótese deve se confirmar, caso os governos não consigam parar a alta do desemprego, os riscos gerados pelo aumento do déficit público dos países e a fragilidade do sistema financeiro global. Segundo a ONU, o déficit de empregos no mundo hoje é 64 milhões, número que pode subir para 71 milhões. A previsão é de um aumento de 0,7% do PIB da União Europeia em 2012 e 1,7% em 2013. Para os Estados Unidos, a ONU prevê uma alta de 1,5% neste ano e 2%, em 2013.
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Reportagem de Capa
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RAIO-X
INVASÃO
ÁREA
PROPRIEDADE
FAMÍLIAS
V
A ocupação do terreno foi feita em 2004 por 150 famílias que ocupavam uma praça no bairro ao lado
1 milhão e 300 mil metros quadrados de terreno, uma área três vezes maior que a do Vaticano
O terreno faz parte da massa falida da empresa Selecta, que tem como sócio o megaespeculador Naji Nahas
Segundo os números da prefeitura, 5.500 pessoas viviam na área; a conta dos moradores chega a 9.000
P á m f R
• sem-teto
PINHEIRINHO
A guerrado ódio A questão envolvendo uma área invadida havia oito anos e sua reintegração de posse acirraram os ânimos da população em São José; xenofobia, preconceito, demonstrações de força, armas, mandos e desmandos judiciais e a exploração política do caso foram a tônica do início de 2012. A revista valeparaibano procurou explicações na ciência e na política para a razão de tanta comoção e revolta
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Domingo 5 Fevereiro de 2012
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Cláudio Vieira/O Vale
VALOR
ACORDO
JURÍDICO
DÉFICIT
REINTEGRAÇÃO
O governo federal tentou um acordo pacífico para desapropriar a área; foi solenemente ignorado
Uma discussão sobre a competência jurídica no caso colocou em choque os tribunais estaduais e federais
RESULTADO
Para a Selecta, a área valeria R$ 180 milhões; para a prefeitura, o valor é de R$ 84 milhões
Em 16 anos, o déficit habitacional de São José dobrou, alcançando o número de 28 mil famílias
A ação de reintegração reuniu 2.000 policiais militares e gerou uma ‘guerra’ que durou 36 horas
14 carros incendiados, 32 prisões, 18 feridos, escola destruída, cinco comércios depredados
Hernane Lélis, Isabela Rosemback e Yann Walter São José dos Campos
e um lado a xenofobia, o preconceito e o racismo. Do outro, uma vida na ausência do poder público, a falta de instrução e uma massa transformada em instrumento político. Entre esses extremos, um monstro de 8 anos, 5.500 pessoas e 1,3 milhão de metros quadrados de terreno alimentados pela burocracia judicial brasileira. Acima de tudo isso um motor: o ódio. Trinta e seis horas de “guerra urbana” se prosseguiram desde as 6h daquele domingo,
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dia 22 de janeiro, quando 2.000 policiais militares, com o reforço da tropa de Choque, deram início à operação surpresa de desocupação do terreno, minando qualquer possibilidade de retaliação por parte dos sem-teto do Pinheirinho, na região sul de São José dos Campos. O saldo oficial da “guerrilha”, que se alastrou para o entorno, foi de 14 carros incendiados, 32 prisões, 18 feridos, escola destruída, cinco comércios depredados e a expulsão de mais de 1.600 famílias às vésperas do maior acampamento sem-teto da América Latina completar oito anos de existência. A questão em torno do Pinheirinho deixou pouca gente indiferente em São José. A retirada das famílias sem-teto da área suscitou uma avalanche de declarações ora depreciativas, ora elogiosas.
Parte da população não concordou com a reintegração de posse, cercada de um imbróglio judicial que envolveu o Estado e a União, enquanto o poder público municipal brilhava por sua ausência. Mas a outra parte –a maior, segundo as enquetes publicadas pela imprensa– defendeu a retomada da área com unhas e dentes. Muitos destilaram comentários raivosos –e às vezes racistas– no confortável anonimato proporcionado por seus computadores. Assim sendo, a grande pergunta é: por que tanto ódio? A revista valeparaibano conversou com especialistas para tentar entender os motivos que levam pessoas a reagirem de forma extrema a uma ação que, diga-se de passagem, em alguns casos, não teve –nem terá– influência direta sobre a vida delas. “A ocupação irregular é condenada por gente
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Reportagem de Capa
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Depoimentos sobre o caso Pinheirinho nas redes sociais
Esses marginais são de um nível bem baixo. Devem pegar suas trouxas e voltar ao lugar de onde vieram. O Choque (da PM) vai colocar essas pessoas nos seus devidos lugares. Postado em 18 de janeiro
O que leva uma mulher de 53 anos invadir uma área? Hum... já sei. Não estudou, ficou tendo filhos, o marido era viciado, se separou e tá carente... hehehe é típico do pessoal que tá ai. Postado em 18 de janeiro
O choro é livre, aproveitem... Só não vale queimar índio hein... nem descontar a frustração nos animais!!! Postado em 18 de janeiro
Lutem por seus ideais burgueses. Vocês são tão medíocres que acham que vão virar notícia. Isso que vocês propõem é aparthaid, preconceito e ignorância. Mas façam, é direito de vocês, mas é meu direito também morrer de rir da palhaçada. Postado em 18 de janeiro
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que pensa da seguinte forma: ‘se eu consegui comprar minha moradia com o dinheiro do meu trabalho, por que essas pessoas não conseguem’? Grande parte dos joseenses que apoiou a desocupação do Pinheirinho é formada por pessoas de renda mais elevada, que moram em bairros abastados. A maioria condena a pobreza e as formas de luta que não se encaixam nas regras pré-estabelecidas pela sociedade”, arriscou Fábio Ricci, professor de Ciência Política na Unitau (Universidade de Taubaté). “Este tipo de pensamento corresponde a um perfil conservador e liberal característico da elite de São José dos Campos”, acrescentou. Para o antropólogo André Luiz da Silva, a imprensa também contribuiu significativamente na disseminação deste ódio. “É provável que a linguagem usada pela imprensa da região para se referir aos habitantes do Pinheirinho, frequentemente retratados como invasores, tenha alimentado esta clivagem entre os ‘prós’ e os ‘contras’, reforçando os argumentos dos primeiros e favorecendo a expressão de opiniões extremas do tipo ‘é tudo bandido’”, analisou. Essa visão reducionista dos que observam os desdobramentos da reintegração de posse do lado de fora do Pinheirinho, é o que o psicanalista e psiquiatra Antonio Carvalho de Ávila Jacintho, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), classifica como o “apagamento de um indivíduo”. “Freud defende em seu estudo de psicologia das massas que, quando há uma identificação coletiva sobre algo, desaparece o pensamento. Esse grupo não vê mais as
famílias isoladamente, mas as homogeneíza e tende a projetar nelas aspectos negativos que as responsabilizam por todas as suas mazelas. Surge, então, uma repetição de ideias e cada um que os observa passa a se esquivar de suas próprias limitações e problemas”, explica. Assim, esbarra no preconceito e acaba reforçando o coro de uma das partes de maneira que, esse, possa alcançar níveis de histeria. “Os discursos ficam inflamados, isso mexe com as paranoias de cada um. Inconscientemente, quem deprecia o Pinheirinho enxerga nos moradores indivíduos diferentes e descarregam sobre essa massa a raiva que sentem de drogas ou crimes. É como se as suas próprias casas tivessem sido invadidas. Aí entra o lado narcísico de cada um, com suas certezas, e a ocupação se torna ódio. Agravado pelo uso da força, o ódio acaba gerando ódio”, afirma. Esse clima de tensão provoca um efeito cascata de violência, a exemplo do cenário de guerra instaurado nos bairros vizinhos à ocupação. No mesmo domingo em que os moradores tiveram de deixar as suas casas, algumas ruas do Residencial União, Campo dos Alemães e Dom Pedro foram alvo de ataques. Espaços públicos e privados, além de veículos, foram incendiados e depredados. Polícia Militar e desalojados afirmam que muitas dessas ações foram realizadas por moradores dessas comunidades. “Nessa hora, podem agir pessoas que realmente se compadecem da causa, mas também pessoas com más intenções. Os fenômenos de fora podem se dar por gente que se abriga sob esse manto, em situações oportunistas. De
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Adriano Pereira
Chama o Bope para acabar com essas gracinhas, cambada vestida de capacete de moto e escudo de tonel plástico... fala sério... na primeira bomba de gás pimenta foge todo o mundo de lá Postado no twitter
novo, é o comportamento em massa. É como numa ‘ola’ de torcida organizada, em que o torcedor se vê levantando os braços em meio à onda formada pelos outros”, compara Jacintho. Vale lembrar que, antes da desocupação, os moradores do Pinheirinho demonstravam euforia ao empunhar armas improvisadas como ferramentas de resistência. Trabalhadores e pais de família, entre outros perfis de moradores, assumiram o papel de “soldados” ao vestirem máscaras, escudos feitos de latões e de barris de plástico, além de exibirem facões, estilingues e pedaços de pau incrementados com pregos ou outros objetos cortantes. “Nós queremos paz, mas se eles chegarem atacando, nós vamos lutar. Vamos resistir”, repetiam os moradores nos dias que antecederam a desocupação. Barricadas e estoques de gasolina foram preparados como parte da estratégia de enfrentamento a um possível ataque. “Diante das incertezas, essas pessoas assumem novos papéis, pois há uma relação de confiança quando há uma organização em comunidade, coordenada por líderes. São movidas por uma ideologia que, nesse caso, é a defesa do território em que formaram família. É algo que mexe com o que há de mais íntimo nelas e, por isso, não avaliavam o quanto custaria sair daquele lugar. Havia, ali, uma expectativa de permanência com base na realidade”, avalia Luiz Henrique de Sá Mendes Fonseca, subcoordenador da subsede do Conselho Regional de Psicologia no Vale do Paraíba e Litoral Norte, referindo-se ao fato de a ocupação ter se desenvolvido e se estruturado ao longo de oito anos .
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“A estabilidade que eles tinham mudou de um momento para o outro, e não ficou muito claro o que estava acontecendo. Diante da insegurança e da sensação de injustiça, a solução foi o enfrentamento”, avalia. E, quando a situação é elevada a extremos, é o cérebro que “abastece” os ânimos daqueles que se envolvem no conflito. “Ele produz neurotransmissores para nos proteger de situações limites. Mas no caso de uma explosão de ódio, por exemplo, esse sentimento é ativado pela produção do cortisol, que é o mesmo da discórdia e do estresse”, simplifica Marco Antonio Vitti, psiquiatra e especialista em biologia molecular e genética. Quando moradores do Pinheirinho se uniram para mostrar resistência, antes que fosse cumprida a ordem de despejo, entretanto, Vitti pondera que o organismo deles deve ter fabricado outra substância. “Ali havia uma expectativa de sucesso que estimulou a produção da dopamina, um neurotransmissor que provoca o prazer de viver e a coragem”. Mas, ao serem frustrados pela ação da PM, os mesmos teriam fabricado mais noradrenalina. “Este gera medo, palpitação e até falta de ar. Em pessoas mais sensíveis, a sua alta produção pode submetê-las a desmaios ou a um estado de choque”. Redes sociais A comoção geral foi em parte física, mas também verbal. Logo que concedida a liminar que determinava a reintegração de posse da área ocupada pelos sem-teto, o debate sobre o drama que ali se iniciava foi levado a diversos grupos
A Justiça está ajoelhando-se diante desses marginais enquanto eles ficam fazendo arruaça. Pago todos os meus impostos, fico privado de ver TV a cabo porque você acha que a Net vai cabear o União com esses vândalos aí? Sem contar o toque de recolher. Quem é louco de ficar na rua depois que escurece? Fora Pinheirinho Postado em 19 de janeiro
AH como queria fazer parte do choque e invadir junto lá... ah como queria.... Iria brincar de tiro ao alvo... kkkkkk. Bem no meio da viseira Postado em 19 de janeiro
Álguem me falou que esse cara da foto é o Eduardo Cury. Faz tanto tempo que esse rato não dá as caras que agente acaba esquecendo quem é ele Postado em 19 de janeiro
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Reportagem de Capa Adriano Pereira
Marrom: ‘foi estupro social’
FUNDHAS Vândalos depredaram unidade da Fundhas no Campo dos Alemães
Como rebate críticas como a de que vocês teriam roubado a área, por isso não seriam merecedores dela? < O pobre é criminalizado em todo o mundo. Antes do Pinheirinho era o Campo dos Alemães, o D. Pedro, o Putim, a Santa Cruz. Quando roubam alguma coisa veem se é negro, se usa boné, se é pobre. É assim que funciona no Brasil, mas a gente não se preocupa com essa coisa não. Isso está impetrado no mundo todo. Mas a end ndo. o. gente sabe o que está fazendo. O que tem a dizerr sobre a postura da juíza que ordenou a reintegração? < Ela foi parcial o tempoo todo. O que a juíza fez foi estupro social também. É pegar inocente, as pessoas de bem, trabalhadoras, e fazer isso. Tenho absoluta certeza de que se fôssemos pessoas ricas ela não faria isso. Havia, de fato, a cobrança de R$ 30 dos moradores? < Nunca vi essa cobrança, nunca existiu. Se alguém cobrou tem de provar. O que tem é ajuda voluntária do movimento. Na igreja se paga o dízimo, no sindicato as pessoas pagam mensalidade, as associações são pagas, o condomínio você tem de pagar. Nós pedimos ajuda para fazer o movimento. Essa doação vai diretamente para a Associação de Moradia do Direito Social. É legítima, e registrada em todos os cartórios do Brasil. Sobre recriminarem o fato de você ter casa própria. Como se defende? <Todocidadãodebemteriaqueter casa própria. Trabalho desde os oito anos de idade. Acho que as pessoas de bem deveriam lutar do mesmo jeito que eu luto para que os outros também tenham casa própria.
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por meio da internet. Opiniões e trocas de informações de quem era solidário e de quem se opunha à causa dos sem-teto passaram a pipocar nas páginas pessoais de usuários do Facebook, do Twitter e de outras plataformas . Em pouco tempo, o caso ganhou repercussão nacional. Uma página em solidariedade aos moradores do Pinheirinho também foi criada no Twitter e, por meio dela, internautas puderam acompanhar o dia a dia dos sem-teto no terreno que ocupavam. Quando frustrada a primeira tentativa de desocupação da área, narrações ao vivo de como estava o clima no local também foram inseridas na rede. Ativistas a favor ou contrários ao movimento passaram a ser agitadores virtuais de um pensamento direcionado ao que julgavam ser justo. E, após o despejo, as “campanhas” opostas não cessaram nesses canais de debate. “As redes sociais seguem a lógica de multidão e se tornaram uma alternativa às demais mídias, como as institucionais. Nelas, há novas possibilidades de ações políticas por meio da mobilização de pessoas em causas que podem não fazer parte do cotidiano delas. Cada um tem um pedaço de informação, e pessoas que não se conhecem passam a se comunicar com base na confiança”, afirma Henrique Antoun, professor da Escola de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e membro do grupo de estudos Comunicação Distribuída e Transformação Política. Desde aquele domingo da desocupação do Pinheirinho, vídeos amadores dos conflitos travados nas ruas ao redor são compartilhados
com o intuito de denunciar supostos abusos de policiais militares e guardas municipais na ação de despejo. Do outro lado, as imagens de carros queimados e outras depredações tornaram-se instrumentos de argumentação nas mãos de quem apoia a reintegração de posse. A prefeitura, então, criou uma página no Facebook para divulgar as suas ações: Pinheirinho 2012. “Nessas redes cria-se uma nova situação em cima de uma já existente. É a mídia de ativismo, que permite que mesmo quem não faça parte do movimento tenha um mínimo de engajamento. E, por ter muita gente participando, há boatos e distorções. Mas a mentira tem pernas ainda mais curtas”, afirma Antoun. Interesse Político De pernas curtas ou longas, enquanto a PM preparava seu arsenal e os antigos moradores improvisavam ferramentas para uma tentativa de resistência à desocupação, dentro de gabinetes e escritórios, figuras políticas transformaram os sem-teto em arma a favor de interesses eleitorais e partidários. Enquanto o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados), representado pelas lideranças dentro do acampamento, fez do Pinheirinho seu palanque, a administração tucana fechou os olhos, bocas e ouvidos, sob a alegação de ser uma área particular, um caso de Justiça. O apoio dos antigos moradores do Pinheirinho às suas lideranças era inquestionável publicamente. Hoje, após a reintegração, existe um racha entre os que se consideram manipulados por interesses políticos e os que ainda se
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Jorge Uwada: ‘cuido da massa falida’ O senhor representa a Selecta há muito tempo? < Faz tempo. Todo processo de falência precisa de um administrador judicial. Quando o juiz decreta a sentença da falência de uma empresa, ele nomeia em regra um advogado para cuidar dos interesses da massa. Represento legalmente a massa falida da Selecta. CARROS Durante a ação de reintegração, 14 carros foram incendiados em bairros vizinhos
mantêm fiéis. “Eles estão lutando para que as pessoas que tinham casa de bloco recebam uma indenização. Sem esse apoio seria pior”, disse Geraldo de Oliveira, ajudante de pedreiro. Quem questiona as reais intenções das lideranças carrega o sentimento de que foi iludido ao logo dos anos. “Sempre vinham com o mesmo discurso, de que estávamos conseguindo a desapropriação, para não desistirmos de lutar”, disse Edivaldo Santana, que também trabalha como ajudante de pedreiro. “Falavam que nunca sairíamos daqui. Agora, não tem ninguém para dar uma explicação e ver se precisamos de ajuda”, lamentou-se. Segundo ele, cada morador pagava uma taxa de R$ 30 à associação. Sobre a cobrança, Marrom afirmou que a contribuição era voluntária e que o dinheiro era usado para manter o movimento. Se todas as 1.600 famílias contribuíssem para a causa, seriam arrecadados por ano R$ 576 mil. Ao longo dos oito anos, a soma chegaria a R$ 4,6 milhões. “Nem todos contribuíam. E quem contribuía, dava o valor que podia”, disse Marrom. Na oposição ao poder público , o elenco inclui vereadores e possíveis candidatos ao Legislativo nas eleições deste ano. Todos circulando entre os moradores sem oferecer qualquer tipo de solução prática para as famílias desabrigadas. Ao serem abordados por jornalistas, transformam a entrevista em um verdadeiro comício, principalmente os que fazem oposição ao governo do PSDB, apontando problemas de gestão na área de habitação e a falta de planejamento do governo para acolher as famílias retiradas do Pinheirinho.
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Jurídico Do ponto de vista jurídico, a situação atual no Pinheirinho pode ser resumida em um embate entre dois direitos constitucionais: o direito à propriedade privada e o direito à moradia. Assim sendo, o que é ilegal? A ação de um grupo de pessoas para conquistar um direito, ou a negação deste mesmo direito pelo governo? De acordo com Dircêo Torrecilas Ramos, presidente da Comissão de Direito Constitucional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a realidade é bem mais complexa. “São dois direitos distintos, que não têm o mesmo peso. O direito à propriedade privada tem que ser respeitado, inclusive pelo poder público. Trata-se de uma cláusula pétrea, ou seja, uma disposição inatingível, que não pode ser modificada nem por uma emenda constitucional. Já o direito à moradia é uma norma programática, assim como os direitos à educação e à saúde. São apenas metas a serem atingidas. O cumprimento destas metas é da responsabilidade do Executivo”, explicou o especialista. Pode-se inferir, portanto, que o direito à propriedade privada se sobrepõe ao direito à moradia e que, na prática, o sem-teto que ocupar um terreno particular nunca terá amparo legal. “Os sem-tetos têm o direito de cobrar o poder público, mas não o de invadir a propriedade alheia. O que eles podem fazer é impetrar uma ação direta de inconstitucionalidade por omissão do poder público. Porém, enquanto o mérito desta ação não for julgado, os moradores são obrigados a respeitar o princípio da propriedade privada, ou seja, a se retirarem da área ocupada”.
Porque a Selecta levou tanto tempo para pedir a desocupação da área? < Na verdade, quando há uma invasão, a pessoa prejudicada ingressa com uma ação, no caso uma reintegração de posse. Isso já foi feito há anos, mas só agora chegou à fase de execução do processo. Imaginavam que o processo causaria tanta repercussão? < Qualquer tipo de situação que envolve um lado social pode causar repercussão. Sou advogado e sei que isso existe. O senhor mantém contato com Naji Nahas? < Não mantenho nenhum contato com essa pessoa, sócia da massa falida. Nunca falei com o sócio da empresa pessoalmente. Caso a prefeitura ou qualquer outra esfera do governo decidisse comprar o terreno vocês aceitariam a proposta? < Acho que seria uma forma, dependeria dos governantes, se houvesse uma proposta nesse sentido. As partes não fariam oposição a esse tipo de negociação. Dependeria também do juiz que cuida do processo e da fiscalização do promotor público. Em quanto está avaliada a área do Pinheirinho? < A gente não tem ideia. Para fazer a valoração é preciso de um perito nomeado pela Justiça.
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Cury: ‘entrei lá uma vez, a convite’ As críticas de que a prefeitura estaria focada nos interesses econômicos da área, que é de uso industrial, são coerentes? < Não entendi que especulações são essas. A prefeitura tem um interesse ali que é o seguinte: aquela área tem uma dívida de R$ 16 milhões de IPTU, dinheiro que pertence à população de São José. Foi pensado em algo para evitar novas ocupações dos semteto na cidade? < O que temos é a lei. Se fizer, vai responder perante a lei como foi o caso agora. A gente sabe o desfecho disso: uma grande desilusão para as pessoas que foram motivadas a agir dessa forma. Não duvido que eles tentem de novo. Mas a cidade está bastante madura para rechaçar qualquer tentativa. Por que otou por se manter distante durante o processo? < Eu só fiquei distante da imprensa. Durante todo o tempo trabalhei 15 horas por dia na preparação da situação. Na verdade, além da estrutura da prefeitura ser muito grande para poder atender aos pedidos da Justiça, tinha a questão da insegurança. O senhor já visitou ou circulou no Pinheirinho? < Que eu entrei lá foi uma vez, a convite. Mas já passei dezenas de vezes do lado de fora. A longo prazo, o que a cidade ganha com esse desfecho? < É o restabelecimento de uma cidade em que a regra é para todos. Acredita que o tratamento dado aos desalojados, nos abrigos, seja o ideal? < Tenho de ir... (o prefeito já tinha um compromisso agendado)
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ORIGEM O fato das pessoas não serem de São José não lhes tira nenhum direito básico
Calos da intolerância Migrantes que já foram sinônimo de desenvolvimento em São José se transformaram em alvo de xenofobia primeiro calo nas mãos de João Roberto da Silva, 32 anos, poderia ter sido conquistado na construção de uma casa de alvenaria para abrigar sua família, mas surgiram erguendo paredes em prédios de bairros nobres de São José. Silva chegou à cidade há pouco mais de 12 anos, alugou um imóvel por R$ 300, onde ficou até 2004, quando decidiu juntar-se ao grupo de sem-teto que ocupou a área do Pinheirinho. Viu na invasão uma oportunidade de conquistar sua própria moradia. Só não contava que o fato de ser mineiro pudesse ser usado como uma das justificativas de despejo e demolição de sua casa. Mesmo sem ter acesso às declarações preconceituosas que circulam na internet e em diversas rodas de debates, o pedreiro de Maria da Fé, município ao Sul de Minas Gerais, sabe que foi vítima da intolerância de pessoas que aprovaram a iniciativa da Justiça de retirar as famílias do Pinheirinho, por acreditarem que são menos merecedores de participarem de um programa habitacional, por supostamente não possuírem vínculo com São José, ainda que tenham empregos fixos e filhos nascidos na cidade. “Morava no União (bairro vizinho ao Pi-
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nheirinho), mas fui despejado por não ter condições de pagar o aluguel. Com três filhos e esposa, o único caminho foi construir um barraco. Demorei para conseguir juntar dinheiro para comprar material e fazer uma casa de verdade, ganhei tijolos de vizinhos inclusive. Agora, não tenho para onde ir”, lamentou-se Silva, que abrigava sua família na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no bairro Campo dos Alemães, junto com outras 400 pessoas. A desocupação do Pinheirinho figurou durante dias como um dos assuntos mais comentados na internet, ganhando repercussão em sites de notícias internacionais. Em cada postagem, dezenas de comentários condenando ou parabenizando a ação ostensiva da PM e julgando o mérito da Justiça. Argumentos de que “não podemos permitir que terras de São José sejam entregues de graça a esses mineiros e nordestinos para fazerem favela” foram usados por quem é a favor da desocupação. Quem defende a permanência das famílias no terreno invadido destaca que a migração já foi sinônimo de desenvolvimento em São José. “Devemos muito aos migrantes, seja aos que trabalham nas indústrias ou na construção civil, todos contribuíram para o cres-
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REVÓLVER A Guarda Municipal não respeitou a ordem de usar apenas munições não-letais
cimento da cidade”. Para a socióloga Dulce Maria Tourinho, docente da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), as declarações levam a questão social vivenciada em São José para o lado xenofóbico, refletindo o preconceito aparentemente adormecido em uma parcela da sociedade. “A apatia de boa parte da população termina quando ela acha que seus interesses estão sendo afetados, quando levados a acreditar que terceiros, entenda neste caso como migrantes, são responsáveis pelo conflito existente no ambiente em que vivem. Podemos tentar entender esse preconceito aos moradores do Pinheirinho a partir desse ponto, mas nunca devemos aceitar que ideias como essas sejam perpetuadas. O fato de serem nordestinos, mineiros, paulistas ou de qualquer outra naturalidade não lhes tira o direito de cidadão, o direito a ter acesso a necessidades básicas, como a moradia”, explicou Dulce. Hoje, depois de consumada a reintegração de posse no Pinheirinho, restaram apenas os escombros do imóvel que João Roberto construiu para a família. “Não queria nada de graça. Quando vim para cá, a intenção era apenas de dar uma casa para minha família. O Pinheirinho foi uma solução que
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apareceu em nossas vidas. Pagaria pelas terras que estávamos ocupando, sabemos das nossas obrigações”, disse Silva. O pedreiro e sua esposa representam uma expressiva parcela da população joseense que veio recentemente de outros estados do Brasil. De acordo com estudo divulgado pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), a região administrativa de São José teve um saldo de 6.600 migrantes por ano entre 2000 e 2010 –metade do contabilizado no período entre 1991 a 2000, quando foram registrados 12,4 mil migrantes por ano. A diferença no deslocamento dessas pessoas, segundo Sônia Perillo, analista de projetos da Seade, pode ser entendida justamente devido ao déficit habitacional que a região atravessa. “As pessoas normalmente deixam suas cidades para buscarem melhores condições de trabalho e moradia. Na maioria das vezes, vão para lugares onde já possuem alguma ligação, atraídas por algum parente presente na cidade onde conquistou ascensões econômica e social. Se recebem a informação de que o município e arredores dispõem de poucas oportunidades vão para outras regiões do país”, afirmou a pesquisadora.
Quem é Naji Nahas?
Naji Robert Nahas é um investidor libanês que desembarcou no Brasil na década de 70 montando um conglomerado de empresas, entre elas a Selecta, proprietária da área do Pinheirinho. Ficou nacionalmente conhecido depois de ser acusado como responsável pela quebra da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, em 1989. Nahas tomava dinheiro emprestado de bancos e aplicava na bolsa, fazendo negócios consigo mesmo por meio de laranjas e corretores. O processo referente a este caso se arrastou por anos, terminando com o empresário absolvido das acusações. Em junho de 2008, durante a operação Satiagraha, que investigava desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro, o megaespeculador foi preso pela Polícia Federal. Na mesma ação, também foram presos o banqueiro Daniel Dantas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta. O grupo foi acusado de comandar organizações que praticavam crimes no mercado financeiro. Em maio de 2011, a Operação Satiagraha foi declarada nula, por decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça), tornando inválidas todas as provas obtidas pela PF. Hoje, Nahas comanda suas empresas e seus negócios de um escritório localizado no Jardim Europa, zona nobre de São Paulo.
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Márcia Loureiro: ‘tudo deu certo’ Juíza, a falta da perspectiva de um acordo serviu de argumento de sua decisão. O que pensa, então, sobre o fato de a prefeitura ter apresentado tão rapidamente uma solução habitacional depois da desocupação? < Durante as negociações, os representantes do Pinheirinho não aceitavam acordo que não estivesse dentro do que eles pediam. Eles queriam ficar ali. A prefeitura não demonstrou, em momento algum, eele less interesse em fazer o quee eles ue exigiam. Sem certeza de que a ordem seria cumprida,, ela não iria agir. Agora, faz o que lhe cabe, acolhendo esses moradores e antecipando a bolsa aluguel. Entende que o que foi determinado para o amparo dessas famílias, como tem sido realizado o recolhimento nos abrigos, está sendo devidamente cumprido? < Sim, dentro do que foi possível. Tenho trabalhado 12 horas por dia, então não fui lá conferir, mas tenho acompanhado o que tem sido oferecido para os desabrigados. Tenho relatos de que havia pessoas que moravam no Pinheirinho em piores condições que as do abrigo. A senhora já visitou o Pinheirinho ou falou com moradores de lá, durante o processo? < Lá dentro nunca fui. Queriam me bater, me matar! Como eu iria entrar? Existia uma animosidade que estava sendo mostrada e, além disso, o acesso ao local era restrito. Sobrevoei a área e tenho muitas filmagens do local. Eu conhecia a área por filmagens e, depois da desocupação, pelos olhos e relatos dos oficiais de justiça. Tinha estudos da prefeitura e da PM em mãos, mas nunca recebi uma lista de quem era quem ou onde moravam.
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ABRIGOS Criança dormindo em igreja que serviu de alojamento; para onde elas vão agora?
Afinal, quem venceu? epois de oito anos de imbróglio judicial, desgastes e uma “guerra urbana”, tudo foi resolvido em uma tarde de conversa que, até o dia 26 de janeiro, parecia impossível de acontecer. Durante toda a existência do Pinheirinho, a possibilidade de um acordo sempre foi questionada. Até a última semana antes da reintegração, enquanto uma enxurrada de decisões judiciais contraditórias inundavam os tribunais, uma saída pacífica ficava cada vez menos possível. Entretanto, em uma reunião entre o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito tucano Eduardo Cury, a decisão de se construir 5.000 casas –1.100 delas para os próximos 18 meses e o restante ao longo de quatro anos– foi anunciada. De acordo com a prefeitura, os ex-moradores do Pinheirinho serão contemplados seguindo os mesmos critérios estabelecidos às outras 27 mil pessoas que já aguardavam na fila da habitação. Todos passarão por triagem para verificar, por exemplo, se residem na cidade há pelo menos dois anos, se realmente não têm nenhum outro imóvel e se vivem com renda de até três salários mínimos. Até que as casas fiquem prontas, os governos estadual e municipal pagarão um aluguel social às famílias desabrigadas. O valor de R$ 500 (R$ 400 pagos pelo Estado e R$ 100 pela prefeitura) será renovável a cada seis meses. A previsão é que a primeira parcela seja paga ainda neste mês.
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“O Estado e a prefeitura não podem virar as costas às dificuldades dessas famílias, mas também não podemos desrespeitar as pessoas mais pobres que estiveram pacientemente esperando na fila da habitação. Por isso adotamos uma medida justa para todos, aumentando os esforços do poder público e contemplando tanto os desabrigados quanto os moradores mais carentes de São José”, explicou o prefeito. Para a vereadora Angela Guadagnin (PT), a solução encontrada pelo governo tucano não passa de uma manobra política para tentar apaziguar o levante popular. Em sua visão, a mesma medida poderia ter sido tomada ao longo desses oito anos de ocupação. “Quem saiu ganhando foi a massa falida. Conseguiu ter a área de volta e continuar com a especulação imobiliária em torno do terreno. A prefeitura só comprovou que sua omissão até a desocupação era por interesse privado e não público”, disse. No entendimento dos líderes do Pinheirinho, entretanto, a conquista da bolsa aluguel e das casas anunciadas pelo município em parceria com o governo estadual é fruto da resistência do movimento. “A vitória é nossa, porque o que o Alckmin está fazendo é tentar salvar a pele dele. As nossas ações resultaram nisso e quem saiu ganhando foram todas as pessoas que estão precisando de casa, hoje, em São José. Não apenas o pessoal do Pinheirinho”, afirma o líder dos semteto Valdir Martins, o Marrom.
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Batalhas judiciais
O advogado do movimento, Antonio Donizete Ferreira, reforça que a luta continua. “Vamos insistir que seja desapropriado o terreno da ocupação, que é o ideal para essas famílias que saíram de lá. Estão querendo leválas para o Altos de Santana e para o Putim, mas esses bairros são muito longe. Achamos importante o avanço das 5.000 casas anunciadas pelo Alckmin, mas ainda é pouco. Hoje há 26 mil famílias na fila por moradia na cidade. A bolsa aluguel também é um avanço, mas nós queremos que o governo permaneça unido para garantir que essas pessoas recebam o auxílio até que suas casas sejam entregues.” Espera Há cinco anos cadastrada no programa de casas populares da prefeitura, Rejani Furtado da Silva, 52 anos, agora se vê mais próxima de conseguir uma moradia digna para abrigar sua família. Ela aguarda contato da Secretaria de Habitação para receber a primeira parcela do aluguel social e deixar o apertado quarto que lhe foi emprestado por uma amiga desde que perdeu sua casa no Pinheirinho. “Os agentes da prefeitura pediram para eu aguardar. Dessa vez acho que vou conseguir minha casinha.” Rejani ainda não sabe onde vai conseguir uma casa com o valor repassado pelo poder público, e considera a quantia baixa para os altos valores cobrados de aluguel na cidade. “O lugar é o de menos, o importante é ter um teto para morar. Acredito que não vou ficar muito tempo dependendo dessa ajuda, logo a prefeitura vai terminar de construir nossas casas”, disse a doméstica, que se
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mantém com uma quantia mensal de R$ 400. A renda da família era complementada pelo salário de ajudante de pedreiro do filho David Washington Castor Furtado. O rapaz de 32 anos foi baleado no dia da desocupação e está impossibilitado de trabalhar. Desde que a ordem de reintegração de posse foi cumprida, representantes do Condep (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana) de São Paulo estiveram na cidade para levantar materiais e feridos que poderiam ser periciados ou submetidos a exames de corpo delito para averiguar denúncias de abusos de policiais militares e guardas municipais, além de boatos de mortos e desaparecidos. “Queremos evitar que este início de ano lamentável de violações dos direitos humanos pela polícia se torne uma rotina”, disse o relator do caso no conselho, Renato Simões. Polícia Militar e prefeitura abriram sindicância para apurar os casos que ganharam notoriedade nos dias seguintes à desocupação. “Nesse caso, o que deveria ter sido usado era o diálogo, não a força. As consequências da situação a que essas pessoas que perderam as suas casas foram submetidas são muitas. Elas podem se sentir inferiorizadas ou chegar ao ponto de questionarem se representam, mesmo, o mal que aqueles que a prejulgam parecem querer eliminar. Com isso, podem ter problemas emocionais, como a depressão. Há sim uma luta de classes. Nessa queda de braço todos saem perdendo, e o ser humano mostra o seu pior e mais bárbaro lado”, finaliza o psicólogo Antonio Carvalho de Ávila Jacintho.
Aprovada em julho de 2011 e protelada diversas vezes, a ordem de reintegração de posse foi expedida na 1ª semana de janeiro pela juíza Márcia Loureiro, da 6ª Vara Cível de São José. No dia 17, quando a PM cumpriria a ordem, Roberta Monza Chiari, juíza substituta da 3ª Vara Federal, concedeu liminar suspendendo a reintegração. A liminar foi revogada horas depois pelo juiz titular Carlos Alberto Antônio Júnior. A Associação Democrática por Moradia e Direitos Sociais em São José interpôs agravo no Tribunal Regional Federal da 3ª Região e o desembargador Antônio Cedenho decidiu pelo restabelecimento da liminar. Apesar disso, a reintegração ocorreu na manhã do dia 22. Às 10h15, quando a operação já havia começado, o comando da PM recebeu ofício do juiz federal plantonista Samuel de Castro Barbosa Melo exigindo o fim imediato da desocupação. A PM prosseguiu com a ação. “A Justiça Federal não tem competência para cassar uma decisão da Justiça Estadual. Somente o Supremo Tribunal de Justiça poderia reverter a decisão do TJ-SP”, disse Rodrigo Capez, juiz assessor da Presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante, considerou a ação ilegal e denunciou uma “quebra do pacto federativo”. “Há conflito de competências, e isso só pode ser resolvido pelo STJ.” Capez classificou a declaração de “absurdo jurídico”. Em todo caso, o TJ recebeu, dia 22, aval do ministro Ari Pargendler, presidente do STJ, que decretou que a União não era parte da ação de reintegração, confirmando assim a incompetência da Justiça Federal no caso. O presidente do STF, Cézar Peluso, também não reconheceu a competência da Justiça Federal no caso. •
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MEIO AMBIENTE
Código da discórdia O novo texto do Código Florestal se arrasta numa discussão interminável sobre sua viabilidade. De um lado os pequenos produtores, do outro os grandes e no meio disso tudo os ambientalistas que questionam as duas pontas desse cabo de guerra João Carlos de Faria Taubaté
Vale do Paraíba e as encostas das serras do Mar e da Mantiqueira são regiões onde predominam pequenas propriedades rurais. Estudos da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, por meio do Lupa (Levantamento de Unidades de Produção Agropecuária) do Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo e da Cati (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral), apontam que havia na região na última década 12.700 propriedades rurais, das quais 10.600 tinham área menor que 80 hectares, podendo ser classificadas no segmento da agricultura familiar. A região também tem peculiaridades quanto à questão ambiental, o que a coloca numa situação diferenciada das demais no Estado de São Paulo –com alguma semelhança com o Vale do Ribeira–, pois resguarda significativa parcela da Mata Atlântica e tem um ecossistema, que limita a produção rural, cuja maior parte é destinada à subsistência. Em menor escala se produz para o abastecimento regional. O município de Cunha é um exemplo. Localizado nas encostas da Serra do Mar, tem o território pontilhado de nascentes e cursos d’água; abriga a nascente do rio Paraibuna, um dos formadores do rio Paraíba do Sul, a cidade tem 2.556 propriedades rurais, sendo 2.294 consideradas pequenas, com área me-
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nor que dois módulos rurais ou 80 hectares. Essa caracterização coloca o Vale do Paraíba numa discussão que já começou bem antes de maio de 2011, quando o deputado Aldo Rebelo (PC do B) apresentou seu relatório para votação do projeto de lei 1876/1999, que revoga a lei 4.771, de 1965, e altera a lei 9.605, de 1998, a nova e polêmica versão do Código Florestal, aprovado na primeira semana de dezembro no Senado. Os pontos mais polêmicos do novo código são os parâmetros das APPs (Áreas de Proteção Ambiental) e a desobrigação das Reservas Legais para propriedades com menos de quatro módulos fiscais. Um dos destaques aprovados no Senado determina que áreas desmatadas irregularmente até 2008, em geral, não podem ser consideradas consolidadas, como previa o texto original, aprovado na Câmara. Isso quer dizer quem desmatou até 2008, não será anistiado, devendo recuperar as áreas de preservação desmatadas. O mesmo vale para os responsáveis por áreas que foram alvos de queimadas. “O deputado Aldo Rebelo viajou o país e promoveu o debate na medida do que foi possível. Após 46 anos da Lei 4771/65, sobre a qual não houve debate algum, esta pelo menos passou pelo Congresso Nacional, onde estão deputados e senadores de todo o Brasil. Eu diria que se não é o melhor, pelo menos é o possível”, afirma o engenheiro agrônomo Juarez Domingues de Vasconcelos, especializado em licenciamento ambiental, ex-coordenador do Programa de Microbacias Hidrográficas na região de Igaratá, onde
também foi secretário do Meio Ambiente. Para o pecuarista e presidente da Comevap (Cooperativa de Laticínios do Médio Vale do Paraíba), José Francisco Rodrigues Gomes, no entanto, o projeto original do novo Código Florestal refletiria negativamente para os pequenos proprietários, maioria na região, que teriam que se desfazer de parte de suas lavouras para recompor a reserva legal. “Se forem mantidas a versão original, a situação fica desfavorável e propicia mais êxodo rural”, disse. Para ele, o código vai favorecer os produtores, com a liberação de novas áreas para
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Fotos: Flávio Pereira
PEQUENOS No Vale do Paraíba a grande maioria das propriedades pode ser classificada como áreas de agricultura familiar
plantio e exploração econômica, trazendo benefícios econômicos e sociais, com mais lucratividade e aumento da produção de alimentos, mas vai também viabilizar legalmente a destruição de áreas verdes, podendo causar um forte desequilíbrio ecológico. O engenheiro agrônomo José Luiz Hungria, atual coordenador do escritório da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), em Taubaté, se contrapõe. “Avanço zero”, diz Hungria, e exemplifica fazendo cálculos: em Pindamonhangaba quatro módulos fiscais somam 64 hectares, área de mais de 70%
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das propriedades locais. “Desse jeito não haverá recomposição florestal no Vale, o que significa prejuízo para a produção, avanço da erosão e assoreamento das nascentes devido à inexistência de reservas e áreas de proteção. Será catastrófico para a paisagem da região”, destaca. Outra consequência é o incentivo ao fracionamento das propriedades. Uma fazenda com 160 hectares, segundo ele, teria que recuperar 32 hectares, ou 20% exigidos, ao custo de R$ 192 mil. Se essa fazenda for dividida em três, na hipótese de o proprietário ter esse número de herdeiros, caberá a cada um 53 hectares,
com “zero” de reserva cada uma. “O respeito às áreas de preservação permanente e à reserva legal são fundamentais, mas há outros fatores a se observar, como a proximidade com uma unidade de conservação, o planejamento de estradas, uso racional de defensivos e insumos agrícolas, práticas de conservação do solo. O cumprimento da lei não pode e não deve ser confundido com gestão ambiental e muito menos sustentabilidade”, diz a engenheira florestal e consultora Maria José Brito Zakia, colocando a legislação apenas como uma parte importante da gestão
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Política
ambiental, mas não como o todo. Ela acredita nos avanços que podem ser trazidos pela nova lei, pois mantém as funções das APPs e da Reserva Legal e diferencia obrigações de pequenos proprietários que formam a grande maioria no Vale, embora não representem a maior parte das terras. Quanto à permissão para a continuidade das atividades nos topos de morro e áreas acidentadas, Maria José é taxativa: “Sou contra a continuidade da pecuária praticada sem a conservação de solo e sem respeito às APPs, como acontece no Vale do Paraíba, na grande maioria dos casos”. O produtor Toda essa discussão coloca frente a frente o produtor e segmentos urbanos da população, que muitas vezes consideram esses primeiros, como os vilões da história, que destroem o meio ambiente sem qualquer escrúpulo. Baseada na sua experiência no meio acadêmico e no meio empresarial Maria José diz, no entanto, que não acha incompatível a conservação ambiental com a produção florestal ou agropecuária, pois a floresta pode conservar e ajudar no ordenamento da propriedade e a propriedade conservar a floresta e ajudar no ordenamento territorial. “Portanto, rotular segmentos da sociedade como ambientalistas e ruralistas é, em minha opinião, uma forma simplista e inadequada de ver a discussão”, resume. O agrônomo Juarez Vasconcelos defende uma compensação para o produtor, que deveria receber pelo trabalho de cuidar da natureza, da água e da mata, binômio que dá qualidade de vida ao planeta. “Os setores secundário e terciário devem devolver para o setor primário, em forma de recursos financeiros tudo o que retirou nos últimos 80 anos”, afirma. Na região, isso começa a ser realidade no município de Guaratinguetá, que neste final de ano deve fazer os primeiros pagamentos por serviços ambientais, no âmbito do programa “Produtor de Água”, instituído pela prefeitura há cerca de um ano. O caminho, segundo José Luiz Hungria, é investir forte na assistência técnica e na extensão rural para aumentar a produção e a renda. Em Pindamonhangaba, com um pequeno investimento nesse sentido, segundo ele, houve um aumento de 30% na produção de leite. Na sequência é preciso focar programas de pagamento por serviços ambientais e regularização fundiária. Hungria, que é ex-secretário de Agricultura de Pindamonhangaba e também participou da elaboração do Plano Diretor do município, também acha fundamental a elaboração de um plano diretor participativo para a zona
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FAVORECIMENTO Alguns envolvidos acreditam que o novo Código pode favorecer grandes produtores
APP (Área de Preservação Permanente) Lei de 1965: proíbe a retirada e extração de qualquer vegetação, numa distancia mínima de 30 metros para rios com menos de 10 metros. A proporção vai aumentando até chegar a 500 metros para rios com mais de 600 metros de largura. Nova proposta: preserva as medidas, com exceção para rios com menos de 10 metros onde a APP é reduzida para 15 metros de largura. Delega aos estados a legislação para o plantio de algumas espécies na APP. Topo de morro lei de 1965: proíbe mexer, alterar e explorar as encostas, topos de morros, e qualquer tipo de vegetação a mais de 1.800 metros. Nova proposta: permite cultivo de algumas espécies nos topos de morros (café de Minas Gerais, maçã de Santa Catarina, pasto das montanhas do Vale do Paraíba) e permite cultivo de pastagem em áreas a mais de 1800 metros. RFL (Reserva Florestal Legal) Lei de 1965: obriga a Reserva Legal Bioma Amazônico com 80% de RFL, bioma cerrado com 35% de RFL e o 20% para o restante dos biomas (sul, sudeste). Nova proposta: Mantém os mesmos percentuais, porém altera o cálculo com a soma da APP para compor a RFL da propriedade. Recuperação da RFL na lei de 1965: recuperação total da RFL de acordo com o bioma (80%, 35% e 20%). Nova proposta: propriedades com até quatro módulos fiscais ficam isentas de recuperação. As demais abatem até o limite de quatro módulos.
rural, para ordenar as propriedades rurais à realidade. “Isso não custaria caro e com certeza teria o apoio dos ambientalistas”. “Considero que a preservação ambiental ainda é encarada como um ônus enquanto deveria ser vista como uma necessidade. Hoje o produtor rural é exigido nesse sentido sem qualquer auxílio ou incentivo; no meio urbano é deficitária a estrutura do Estado em suas responsabilidade ambientais, especialmente no saneamento; ao passo que os ambientalistas pleiteiam situações por vezes, sócio-economicamente inviáveis”, diz o pecuarista e líder rural José Francisco Rodrigues Gomes. A palavra-chave para conciliar necessidades e interesses, segundo ele, é investir em sustentabilidade: sistemas auto-suficientes aptos a aumentar a capacidade agrícola sem comprometer os recursos naturais, mecanismos de absorção dos excessos do meio urbano e preservação do meio ambiente e ecossistemas. “O problema é cumprir a lei. O antigo código não foi cumprido e esse não levará a nada se também não for cumprido”, afirma José Luiz Hungria, reiterando sua opinião contrária ao novo Código. “É um grande retrocesso para o país, que fica parecendo um dinossauro no que diz respeito às questões ambientais”, finaliza. •
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Política
Ozires Silva
O poder de transformação que só a educação pode permitir mile Durkheim, nascido em Lorraine na França, considerado um dos pais da sociologia moderna, escreveu no início do século 20 que uma sociedade, composta de um número infinito de indivíduos não-organizados –que o Estado se esforça para oprimir e conter–, pode ser considerada uma monstruosidade sociológica. Ele entendia que o Estado é uma entidade remota e distante dos indivíduos e mantém com eles relações muito superficiais. Durkheim defendia que uma nação somente poderia ser mantida se houver interposta toda uma série de grupos secundários, suficientemente próximas dos indivíduos para atraí-los para a corrente da vida social. Ele tinha razão!
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Cem anos após, agora, vencida a primeira década do século 21, vemos que as proféticas palavras de Durkheim ainda ressoam em nossas cabeças. O mundo de hoje mergulhou numa notável convergência das instituições políticas e econômicas. Já no final dos anos 1900, começaram a ficar para trás as profundas diferenças ideológicas que dividiam as sociedades. Um novo mundo foi criado, enquanto países enveredaram por divergentes caminhos econômicos, com mais ou menos predominância de um ou outro, como protecionismo, corporativismo, mercado livre ou planejamento centralizado. Já se nota uma, não
CULTURA “As diferenças culturais se avultarão daqui para o futuro” mais tendência, mas quase uma certeza da importância de se adotar instituições políticas liberal-democráticas. A enorme prosperidade gerada pelo capitalismo, propelida pelo conhecimento, materializado pela ciência e pela tecnologia, parece servir de incubadora de regimes liberais e igualdade de direitos. Neste contexto, aparece ressaltada ao extremo a importância da educação, da sua qualidade e competência, para produzir cidadãos, como unidades econômicas de produção de resultados, capazes de enfrentar o futuro com visões inovadoras, tentando todos satisfazer uma claramente destacada intenção das massas de participar intensamente dos bolos da riqueza mundial. Uma estrutura familiar vigorosa e estável, como ferramenta de instituições sociais duráveis, não pode ganhar estabilidade e durabilidade da mesma maneira que um governo pode criar uma repartição pública qualquer. Uma sociedade civil próspera depende de hábitos, costumes e princípios éticos. E quando todos puderem ser alimentados por meio de uma conscientização e respeito crescentes pela cultura da sociedade em que vivem, certamente os conflitos tenderão a se minimizar.
Na atualidade, para além das fronteiras nacionais, o conceito da cultura vem se apoiando nos domínios da economia global e da moderna ordem internacional, com crescente poder de se impor. Aumentou a consciência das pessoas que hoje em dia e cada vez mais está determinando as diferenças que separam os diferentes grupos. Tais diferenças, claro, por vezes provocam atritos que se expandem para níveis nacionais, em razão de grupos de pessoas capazes de se projetar nas sociedades. E modificá-las! Mas, entre outros, um fato é claro. A cultura ganha significativa importância na ordem geral o que, já se mostra em inúmeras regiões, aonde os conflitos não mais são de ordem ideológica, mas por ações de grupos diferentes. Algo parece ser certo. As diferenças culturais se avultarão daqui para o futuro e mais atenção deverá ser dada à cultura, no seu mais amplo conteúdo. E a cultura, somente pode ser construída através dos instrumentos educacionais, pela educação de alto nível, pela competência individual e coletiva de pertencer a este ou àquele grupo, de aceitar a viver ou conviver em regiões diferentes das de suas origens para encontrar a paz de consciência que todos procuram. Dessa forma, a educação surge como instrumento poderoso de transformação para toda uma sociedade e vemos resultados, com os exemplos de hoje, a emergência da Coréia do Sul, da Índia e da China. Enfim, exemplos que diretamente nos atingem. •
Ozires Silva Engenheiro
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Economia INOVAÇÃO
Em nova órbita Marco Antônio Raupp, ex-diretor do Inpe, assume Ministério da Ciência e Tecnologia com a missão de acelerar o Programa Espacial Brasileiro Hernane Lélis São José dos Campos
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novo ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp, promete acelerar os principais projetos em desenvolvimento para o setor aeroespacial entre 2012 e 2015. Para isso, o físico pretende aumentar o contingente de cientistas e pesquisadores por meio de concurso público e reforçar o orçamento para os institutos ligados ao ministério, entre eles, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e o DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial), ambos instalados em São José dos Campos. Outra estratégia é estreitar a relação entre os setores público e privado na área. Ex-diretor do Parque Tecnológico de São José, Raupp foi a escolha da presidente Dilma Rousseff para assumir o MCTI após a saída do então ministro Aloísio Mercadante, que foi para o Ministério da Educação. Defensor da integração entre empresas de base tecnológica com o meio científico, o físico de 73 anos ganhou espaço no governo petista, desbancado conhecidos nomes do partido, como a sena-
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dora Marta Suplicy, justamente por não ser filiado a nenhuma sigla. O perfil desejado pelo Planalto era de alguém com experiência em gestão e estritamente técnico. O cientista ganhou a confiança da presidente Dilma depois de aceitar a difícil tarefa de reorganizar o Programa Espacial Brasileiro, como presidente da AEB (Agência Espacial Brasileira), se dedicando aos três pilares do programa: o projeto Cyclone, para o lançamento de um foguete ucraniano da base de Alcântara (MA), o desenvolvimento do satélite geoestacionário de comunicações e a correção de rota para a concepção de um foguete brasileiro, o VLS (Veículo Lançador de Satélite). “É preciso criar estruturas específicas para que seja cumprido o papel econômico e social da ciência brasileira”, disse Raupp. Dentro desse escopo, o ministro preencherá ainda esse ano parte do déficit de funcionários dentro dos institutos de pesquisa do país. A ideia é contratar por meio de concurso 800 profissionais –desses ao menos 120 seriam designados ao Inpe, dirigido por ele na década de 80. É dele também a tarefa de anunciar o novo diretor do Inpe e seu sucessor na Agência Espacial Brasileira. Outra prioridade é garantir o cumprimento dos prazos de dois projetos ligados à região.
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Fotos: divulgação
TECNOLOGIA O LIT (Laboratório de Integração e Testes) do Inpe, em São José, onde são testados os satélites Cbers-3
O primeiro é o Cbers-3, quarta geração do satélite desenvolvido em parceria com o governo chinês que deveria ter sido lançado ao espaço há cinco anos, mas adiamentos ocorreram por questões orçamentárias. A previsão é que entre em órbita em novembro. O VLS também deve ganhar novas frentes de trabalho. Amargando sucessivas falhas de lançamento –a última que culminou no incêndio que matou 21 técnicos e engenheiros e destruiu a torre de Alcântara– o projeto terá aporte financeiro reforçado e um cronograma para entrar em funcionamento. As ambiciosas, porém necessárias, ações serão colocadas em prática com a ajuda do governo federal, garantindo orçamento adequado às necessidades do Programa Espacial Brasileiro. Já neste ano o MCTI ganhou R$ 1 bilhão a mais para investir no setor, passando dos R$ 2,7 bilhões em 2011 para os atuais R$ 3,7 bilhões. “Para dar cumprimento a essa missão, espero contar com a participação ativa das comunidades científica, tecnológica e empresarial, e com o apoio das equipes que compõem o Ministério. O desafio da inovação ganhou novo patamar. Inovação não é opção, é imperativo. O futuro do país depende desse esforço criativo. Meu maior desafio no MCTI é aumentar a base com
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Economia
POSSE O novo ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp, que assumiu o cargo antes ocupado por Aloísio Mercadante
PROJETOS DO MINISTÉRIO
Cargos SERVIDORES Objetivo é abrir concurso público para preencher 800 vagas em instituições do país. Somente o Inpe deve ficar com 120 vagas
Bolsas ESTUDO Até 2015, a meta é disponibilizar 100 mil bolsas para promover a troca de tecnologia entre países
Verba ORÇAMENTO O Ministério da Ciência e Tecnologia terá R$ 3,7 bilhões em recursos neste ano, R$ 1 bilhão a mais que o orçamento disponibilizado em 2011
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pesquisadores e fazer a ciência chegar às empresas” ressaltou. Parceria Marco Antônio Raupp quer aumentar a colaboração entre a geração de conhecimento no meio científico e o desenvolvimento de pesquisa nas empresas privadas. Em seu discurso de posse de 18 páginas, o ministro dedicou boa parte para esse tema, defendido por ele há anos. No ano passado, quando ainda presidia a Agência Espacial Brasileira, elaborou uma política espacial contando com a parceria da Embraer e Telebras para construção do SGB (Satélite Geoestacionário Brasileiro). A criação dessas parcerias é estratégica para Raupp. Apesar de ocupar a 13ª colocação entre os países com maior produção científica (ranking baseado na produção de artigos científicos publicados em revistas especializadas), o Brasil está na 47º posição em inovação, pesquisa e desenvolvimento. Além disso, em comparação aos países que mais desenvolvem tecnologia, tem a menor participação empresarial nos investimentos para a geração de processos e equipamentos inovadores. “Uma das necessidades que se impõem é a construção de um modelo que faça a aliança entre o conhecimento científico e a economia”, disse. O vice-presidente do SidCT (Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais
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na Área de Ciência e Tecnologia), Fernando Morais, vê com pessimismo a aproximação do setor público com o privado dentro dos projetos espaciais da maneira como é conduzida essa aproximação. “O governo brasileiro precisa olhar a área espacial como estratégica, transformar a área em política de estado para que alguma coisa seja realmente feita. Muda-se o diretor de algum instituto ou o próprio ministro do MCT, muda-se tudo. É preciso ter regras como para qualquer setor”, disse. Morais teme que sem isso seja delegado à iniciativa privada conteúdo científico de competência do Inpe, por exemplo. “Esse tipo de coisa precisa estar sob o controle do Inpe ou da AEB, eles passariam as necessidades para as empresas. Só assim teremos garantia de que todo o conhecimento científico do instituto não seja jogado no lixo, que simplesmente não estaríamos comprando um satélite ao invés de fazermos um”, explicou o vicepresidente do sindicato. •
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PESQUISA Parque Tecnológico de São José, um dos principais centros de inovação do país
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Ciência & Tecnologia
Fabíola de Oliveira
Prevenção e uso de tecnologias diminuem flagelo das enchentes
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hega o verão e a história se repete. Chuvas, deslizamentos de morros e encostas, casas soterradas, pessoas desabrigadas, feridas. E alguns milhares de mortes registradas nos últimos anos devido às consequências de enchentes no Brasil. É como se a cada ano nada de necessário e relevante tenha sido feito para minimizar os efeitos desses eventos climáticos, já tão conhecidos e esperados por todos nós. Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, São Paulo, Piauí, Bahia e Rio Grande do Sul são os sete estados que mais sofreram de 2000 a 2010. Mesmo com esse histórico de tragédias, o país não investe em prevenção, como mostra matéria publicada no jornal O Globo do dia 11 de janeiro. A reportagem relata que a Comissão Especial de Medidas Preventivas e Saneadoras de Catástrofes Climáticas da Câmara dos Deputados concluiu relatório onde aponta que pouco se fez para evitar a ação da natureza. Conforme o relatório, “entre os anos de 2000 e 2010, pelo menos duas mil pessoas morreram em acidentes climáticos. Somente em 2010 foram comunicados à Secretaria Nacional de Defesa Civil ocorrências em 883 municípios. Somado ao número de mortos registrado na enxurrada de 2011 que devastou áreas de municípios da região serrana do Rio, o total de ví-
MORTES Entre 2000 e 2010, ao menos 2.000 pessoas morreram em acidentes climáticos
timas fatais sobe para quase três mil.” Ainda de acordo com a reportagem, “a falta de investimentos em prevenção citada no relatório da comissão é ratificada por estudo divulgado pela CNM (Confederação Nacional dos Municípios). A pesquisa mostra uma disparidade entre as verbas aplicadas no socorro às cidades e as usadas na prevenção. Segundo a CNM, de 2006 a 2011 o governo federal gastou R$ 745 milhões para prevenir acidentes, contra R$ 6,3 bilhões no socorro.” Os investimentos em prevenção requerem, como condição para sua eficácia, o conhecimento especializado sobre todas as áreas de risco no território brasileiro. Por isto, ainda que tardiamente, o governo federal resolveu criar um grupo de trabalho com 50 geólogos e hidrólogos como uma das medidas mais importantes do plano anunciado em janeiro para mapear as áreas de risco. Essas informações deverão ser
repassadas aos estados e municípios que por sua vez deverão acionar a Defesa Civil para planejar e implantar as ações de prevenção. Dá para imaginar quanto tempo isto pode demorar? A quantas tragédias ainda teremos que assistir ou, o pior, delas participar? A prevenção com o uso de conhecimento científico e de tecnologias específicas são um dos parâmetros que persistem em nos distanciar dos países desenvolvidos. Porque obviamente as tragédias climáticas não escolhem países ou territórios para acontecerem, mas a maneira de recebê-las depende do grau de desenvolvimento sócio-econômico e político de cada nação. Ao invés de assistirmos perplexos à repetição anual das enchentes, deveríamos cobrar e exigir cada vez mais que os investimentos se voltem para a prevenção e o preparo prévio das populações que possam ser atingidas. •
Fabíola de Oliveira Jornalista fabiola@valeparaibano.com.br
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Saúde
MEDICINA
Esperando o inevitável Pacientes terminais encontram na medicina paliativa uma forma de enfrentar a morte certa com mais dignidade
Xandu Alves são josé dos campos
magreza, a rouquidão e os movimentos lentos denunciam as marcas da luta pela vida. Round a round, a policial civil Ana Nilce Moreno, 60 anos, peleja desde 2007 contra um câncer no intestino que avançou para o pulmão. É o pior bandido que ela enfrenta em 25 anos atuando como policial. Ela já perdeu um rim, fez uma colostomia (exteriorização do intestino e da bexiga) e sente dores fortes nas pernas. A cama do hospital tornou-se companhia constante. Ana Nilce tem uma doença grave, em estado avançado e incurável, que aos poucos vai lhe tomando as energias. Internada na ala de cuidados paliativos do Hospital do Servidor Público Estadual, na capital, ela espera serenamente o momento em que, como ela mesma diz, terá terminado seu “prazo de validade”. “Eu creio que todos tenhamos um prazo de validade. Quando o meu estiver expirado, vou”, afirma. O bom humor não é à toa. A policial não faz mais tratamento para combater o câncer, seja quimioterapia ou radioterapia. Não significa que tenha desistido de viver. Ela sabe que o tumor não regredirá e que sua vida depende muito mais da qualidade em que viverá seus últimos momentos do que uma tentativa infrutífera de se curar. Diante do dilema, ela preferiu a dignidade de aguardar a morte com lucidez, com o mí-
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nimo de dor e rodeada por seus familiares, do que sofrer com um tratamento invasivo e desgastante. Desistiu de pensar na morte e se apegou à vida. A policial teve a primeira consulta no setor de cuidados paliativos do Hospital do Servidor em janeiro deste ano. Após começar o tratamento, precisou ser internada em novembro. O estado de saúde piorou e foi necessário um tratamento mais intensivo. Porém, o contato com a equipe surtiu efeito positivo na vida de Ana Nilce. “Uma médica me deu um abraço tão grande, tão bom e acolhedor, algo místico, que me senti muito bem. Resolvi começar de novo. Ver a vida de outro aspecto. Achava que cuidados paliativos era apenas para ‘enganar’ o paciente, um comprimido de açúcar que você vai tomando enquanto a morte não vem. Não é nada disso”, conta. Morte A única certeza da vida é também a menos desejada. Todos sabem que vão morrer, mas ninguém quer morrer. Somos imortais até que se prove o contrário. E a vida se encarrega disso. Não se pensa na morte como parte da vida. Várias doenças ou um conjunto delas levam o paciente a um quadro terminal em que não há volta. É morrer ou morrer, só não se sabe quando. A principal e mais polêmica discussão em torno da morte é a qualidade com que se quer chegar até ela, para aqueles que enfrentam moléstias incuráveis, e que autonomia tem o paciente e seus familiares para fazer essa es-
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Fotos: Flávio Pereira
TRATAMENTO Ala de cuidados paliativos do Hospital do Servidor Público Estadual, em São Paulo
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Saúde
colha. É preferível continuar num tratamento doloroso e desgastante ou viver com dignidade e autonomia os últimos momentos da vida? Muitos pacientes escolhem a segunda opção e decidem passar seus dias finais em casa, assistidos por serviços de cuidados paliativos, ainda escassos no Vale do Paraíba. A perspectiva deve mudar a partir deste ano, tanto no serviço público de saúde quanto na esfera privada. “Quando a cura não é mais possível”, explica o médico Fernando de Marco, diretor clínico do Hospital viValle, de São José, “as atenções à saúde devem se voltar para o controle de sintomas e manutenção da qualidade de vida do paciente. Os cuidados paliativos envolvem todas as ações que têm essa finalidade”, disse. O hospital pretende criar uma área de cuidados paliativos que atenda todos os pacientes da região. Atualmente, segundo Marco, a unidade possui um projeto junto ao centro de oncologia, no qual uma equipe multidisciplinar acompanha e identifica os candidatos a cuidados paliativos. Então, os pacientes passam a ser avaliados sistematicamente quanto à presença e evolução de sintomas e sinais mais comuns nessa fase de doença, tais como depressão, falta de ar e dores intensas. “O trabalho visa fundamentalmente à prevenção e estabilização clínica”, completa o médico. Polêmica Mas o que parece o melhor dos mundos (tirar a dor de um paciente terminal) ainda é envolvido em muita polêmica. Há confusão entre eutanásia (abreviar a vida apressando a morte) e medicina paliativa, reconhecida como “área de atuação médica”, e não especialidade, pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) em agosto deste ano. Os cuidados paliativos foram associados às especialidades de clínica médica, cancerologia, geriatria e gerontologia, medicina de família e comunidade, pediatria e anestesiologia. Superintendente do Hospital Municipal de São José dos Campos, o médico Carlos Maganha estuda com uma equipe de profissionais a implantação de um serviço de cuidados paliativos na unidade no segundo semestre de 2012. O primeiro desafio será convencer o próprio corpo clínico do hospital do tratamento. Ele quer discutir e humanizar a morte. “Terminalidade e cuidados paliativos não são assuntos abordados nas faculdades de Medicina”, pondera, justificando a necessidade de sensibilizar as equipes do hospital e a po-
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ANA NILCE MORENO Policial civil desde 2007 está na batalha contra um câncer no intestino que avançou para o pulmão
pulação em geral. “Será preciso desmistificar o tema, tirar a ligação errada com eutanásia, muito confundida, e abordar a questão mais importante que é a humanização.” A morte não é um assunto fácil de será abordado, nem mesmo dentro de um hospital em que ela está presente no dia a dia. Maganha admite que os médicos estão pouco afeitos a encarar a morte com naturalidade. “Estamos aqui, enquanto profissionais de saúde, para salvar vidas. Mecanicamente, a gente salva vidas. E salvamos muitas vidas. Mas quando estamos de frente com a questão da morte inevitável, temos uma dificuldade de trabalhar isso daí”, afirma. Para ele, trata-se de um problema cultural, que leva as pessoas, naturalmente, a protelar a ideia da morte o maior tempo possível, mesmo que ela seja inevitável. Nos primeiros meses do próximo ano, a direção do HM irá criar um comitê de terminalidade que debaterá a melhor maneira de oferecer o serviço de cuidados paliativos à população, principalmente os pacientes terminais e seus familiares. Demanda existe. Susana Miyahira, anestesista e especialista em dor, que integrará o comitê no HM, explica que 5 dos 50 leitos para adultos no hospital abrigam pacientes em con-
dição terminal. Há problemas relacionados ao câncer, traumas graves, doenças cardiológicas e pulmonares crônicas e, o principal deles, vítimas de AVC (Acidente Vascular Cerebral), popularmente chamado de derrame. Além disso, dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) indicam que 65% dos portadores de doenças crônicas que ameaçam a vida necessitam de cuidados paliativos. “Tem que ficar claro que cuidado paliativo não é sinônimo de deixar de tratar o paciente. O ensinamento está na palavra, de origem inglesa, que pegou o radical do latim. É definir os cuidados que vão acompanhar a pessoa na sua última jornada, na última etapa da vida, a da morte”, diz a médica. Em resumo, significa não deixar o paciente sentir dores, garantir o conforto e a qualidade de vida enquanto ele estiver vivo. Manter a alimentação adequada para as condições do paciente e preservar a autonomia dele, junto dos seus entes queridos e num ambiente que lhe é familiar, até o fim. “Hospital é um ambiente frio, impessoal. Por isso, o ideal é que o paciente seja atendido em sua própria casa, rodeado dos seus familiares, para fazer essa última jornada com dignidade”, afirma Susana.
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Saúde
Despedida Vera (*) acomodava a mãe na cama do quarto a cada duas horas. Aos 76 anos, a mulher não conseguia mais se comunicar com os seis filhos. Um tumor cerebral descoberto em 2009 devastou as capacidades motoras dela. Apenas os olhos se abriam algumas vezes ao dia, ainda assim de forma involuntária. Os filhos decidiram tirar a mãe do hospital, onde estava internada desde julho do ano passado, e levá-la para casa com a supervisão de um serviço de medicina a domicílio. Custa caro, Vera admite, mas era a melhor forma de vivenciar os últimos dias de vida da mãe. “Prefiro o conforto de casa, com cuidados paliativos, do que os equipamentos do hospital mantendo minha mãe como um vegetal, num ambiente distante da nossa vida”, justifica. O melhor prognóstico médico era que a mãe de Vera não viveria até a metade de 2012. O câncer avançou e tomou conta de todo o seu corpo. A decisão de que ela morresse em casa foi tomada por todos os filhos, depois de consultar médicos e juristas. A mulher recebeu o melhor acompanhamento que o plano de saúde de Vera garantiu –enfermeiras à disposição 24 horas por dia e uma ambulância para socorrê-la, se necessário. Vera acredita que a mãe estaria contente com a decisão se pudesse conversar com os filhos. “Ela sempre disse que detestaria ficar numa cama de hospital esperando a morte. Se fosse para morrer, queria estar na sua casa, onde viveu mais de 50 anos”, diz. Confortavelmente instalada numa chácara na divisa entre São José e Caçapava, a ex-professora descansou no leito que já lhe deu tanto conforto em vida. A mãe de Vera morreu na primeira semana de 2012 em casa, rodeada por seus filhos e parentes mais próximos. Morreu sem dor. Fronteira Serenidade é a palavra chave para entender a mecânica da medicina paliativa. Um tratamento contra o câncer, por exemplo, muitas vezes requer a colocação de sondas, tubos e equipamentos que trazem desconforto ao paciente, embora sejam necessários ao tratamento. Trocar isso tudo pelo cuidado paliativo, muito menos invasivo e desconfortável, é uma decisão difícil de ser tomada, mas que traz resultados significativos. Uma das principais referências no assunto em todo o Brasil, a médica Maria Goretti Maciel, diretora do Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, ressalta que a prática é revestida
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de rigor científico, responsabilidade e ética. “A medicina paliativa foi reconhecida no Reino Unido em 1987. A assistência e os estudos da área avançaram muito desde então. Processo análogo deve ocorrer aqui”, afirma a médica, que é membro da câmara técnica sobre terminalidade da vida e cuidados paliativos do CFM e foi a primeira presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Maria Goretti é uma apaixonada pela medicina paliativa. Pequena de estatura, mas grande de compaixão, ela faz questão de visitar todos os 10 internados que o setor de cuidados paliativos do Hospital do Servidor pode atender em suas dependências. Além deles, há outros 200 doentes acompanhados em casa. Ela entra nos quartos abrindo um largo sorriso. Abraça os pacientes, conversa com eles como se estivesse os encontrando numa praça cheia de flores. Ela estimula, inclusive, que os familiares
tragam crianças ao hospital para visitar os parentes. Não há distância entre ela e os doentes. O relacionamento profissional abre espaço para a convivência fraterna. A atitude irradia para toda a equipe de 40 profissionais e faz a diferença na vida dos pacientes, encurtada pela doença devastadora. “Nosso trabalho respeita os limites e a autonomia de cada paciente, sem exageros. Não ‘enganamos’ os doentes até que a morte chegue. Nós protegemos a vida”, afirma. Ela acredita que o grande desafio humano é saber lidar com a finitude da vida. “Não forçamos que as pessoas aceitem a morte de qualquer maneira. Mas promovemos o melhor acolhimento possível”, explica Maria Goretti, acostumada a lidar com pessoas que não aceitam a morte. “Com os sintomas físicos controlados, o paciente pode se despedir de seus familiares com paz e tranquilidade, sem dor ou desconforto.”
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Simone surpreendeu-se com a qualidade do serviço prestado no hospital. Casada com um holandês, ela presenciou a eutanásia do avô do marido. Na Bélgica, a morte consentida é permitida por lei. “Foi em casa, com acompanhamento médico, com todos os parentes por perto. E ele tinha 86 anos e estava lúcido. Morreu após um câncer de próstata.” O desejo dela era conseguir que todos os familiares estivessem perto do pai quando chegasse a hora da morte. Conta que a equipe do hospital fez a diferença no tratamento do pai, que exigia cuidados intensos. “São humanos, carinhosos e competentes”, diz. Sem se comunicar com os filhos, Aguiar permanecia o dia todo deitado na cama do setor de cuidados paliativos. Conforto é o único tratamento possível. A situação fez Simone rever seus conceitos sobre a morte. “Nunca achamos que vai acontecer com a gente”, define. “Tem que proporcionar maior conforto nessa hora. Faz a diferença. Só o que levaremos dessa vida é o amor. É o amor que você sente.” O aposentado Mário Oliveira Aguiar morreu na ala de cuidados paliativos do Hospital do Servidor Público Estadual, sem dor e acompanhado por seus familiares, em 12 de novembro do ano passado, uma semana depois que a reportagem conversou com a filha dele e a equipe médica.
Eutanásia Um aperto tímido de mãos e um olhar de esguelha foram o que sobrou para Mário Oliveira Aguiar, 68 anos, que consertava máquinas de escrever, conseguir se comunicar com a família. Do homem alegre, bem disposto e falante sobrou um corpo deitado na cama, inerte, silencioso, à espera da morte. No ano passado, sofrendo com rouquidão constante, Aguiar foi diagnosticado com câncer na laringe, o mesmo que acometeu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O tumor do mecanógrafo atacou o pulmão e chegou ao cérebro. Aguiar foi perdendo aos poucos a autonomia e ficando restrito ao silêncio de uma cama de hospital. Em outubro de 2011, ele foi internado no Hospital do Servidor. Passava os dias na companhia de um dos quatro filhos e da exmulher. Seu caso era irreversível. O mais
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dolorido para os familiares era não conseguir mais conversar com o pai, que amava cozinhar para eles e contar histórias. O que fica são as lembranças de um relacionamento que não é mais possível. A filha Simone Koolen, 39 anos, veio da Bélgica, onde mora com o marido e dois filhos, para passar os últimos dias com o pai. Ela conta que, no dia 3 de novembro, foi a última vez em que ele conseguiu falar algumas palavras, como num sussurro. Disse “feliz aniversário” à filha. “Acabou comigo. Chorei muito”, diz Simone. Ela passava horas ao lado do pai e da filha Saskia, que tem um ano e sete meses. Ao contrário da maioria dos hospitais, o Servidor Estadual permite que crianças acompanhem seus familiares na ala de cuidados paliativos. Isso transforma e traz alegria ao ambiente normalmente lúgubre de um setor para doentes terminais.
Amor “Humanizar é individualizar”, define a médica Maria Goretti. Cada paciente que decide trocar a busca inútil pela cura de uma doença incurável pela manutenção da sua dignidade humana, até que a morte esteja consumada, cerca-se de todos os cuidados que a medicina paliativa pode lhe conceder. Morrer em casa é melhor do que no hospital. O doente e seus familiares são preparados para enfrentar o luto, inevitável na vida de cada um, e mais ainda de uma pessoa acometida de doença em fase terminal. Deixando um pouco de lado a prática médica, o que mais importa, diz Maria Goretti, é a quantidade de amor que essa pessoa recebeu e compartilhou ao longo da vida. Para manter pulsante a paixão pela vida, ela costuma repetir uma frase pelos corredores do hospital: “Dor, depressão e desamor matam mais do que qualquer tumor”. A vida começa e termina, sem sombra de dúvida. Por isso, aceitar a morte como parte da vida faz toda a diferença. Quem acolhe a morte, no seu momento mais dramático, está abraçando a vida de alguém que a viveu plenamente. • (*) nome fictício
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Entrevista
Dois Pontos >Casemiro, volante do São Paulo, tem como meta voltar para a Seleção Brasileira, disputar as Olimpíadas em Londres e a Copa do Mundo em 2014
“Esse ano é vida nova, vou voltar com tudo, dar a volta por cima” Hernane Lélis São José dos Campos
Q
uando recebeu nossa reportagem no apartamento onde mora com a família em São José dos Campos, o volante Casemiro, do São Paulo, estava rodeado de amigos jogando vídeo-game em sua confortável sala-de-estar. Imediatamente, interrompeu a animada brincadeira para tratar de um assunto sério para ele: o futebol. Mesmo ainda sendo um menino, Carlinhos, como é chamado pelos mais íntimos, no auge dos seus 20 anos –a serem completados nos próximos dias– já fala em “vida nova” ao se referir sobre a carreira no esporte. Depois de terminar 2011 sendo alvo de críticas devido à queda de rendimento dentro de campo, o camisa 28 promete driblar a má fase e reencontrar as belas exibições que garantiram a titularidade na equipe paulista e, consequentemente, uma vaga na Seleção Brasileira. “Críticas vou receber ao longo de toda a minha carreira, de qualquer maneira. Levantei a cabeça e agora quero voltar a receber os elogios de antes”. Nascido e criado na zona norte de São José, Casemiro é hoje o principal atleta em atividade da cidade. No entanto, não quer ser o único. No ano passado promoveu a ‘Copa Casemiro’, evento que promete realizar novamente nesse primeiro semestre, com o objetivo de arrecadar fundos para entidades sociais do município e descobrir novos talentos para deslanchar no futebol. “A molecada não pode abaixar a cabeça, acho que quem
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trabalha com escolinha está de parabéns. Tenho certeza que daqui sairão grandes profissionais”. Em sua primeira entrevista exclusiva no ano, Casemiro também falou sobre as propostas que recebeu do exterior, a chance de ser novamente convocado para a Seleção Brasileira e as dificuldades que enfrentou na infância antes de partir para as categorias de base do São Paulo, aos 11 anos. “Minha mãe tinha um problema no punho e, com o trabalho pesado, chegava em casa reclamando de dor, isso me deixava muito triste. Sempre foi meu sonho um dia comprar uma casa para ela”. O futebol brasileiro iniciou mais uma temporada, sua terceira como jogador profissional. Qual sua expectativa para esse ano dentro dos campos? < Acho que começa tudo do zero. Apesar de não ter acabado o ano passado tão bem como titular, fiz um Paulistão, uma Copa do Brasil, e um início de Campeonato Brasileiro extraordinário, que rendeu até a convocação para a Seleção Brasileira. Para esse ano quero voltar a ser esse Casemiro, sei todo meu potencial e todo o mundo que acompanha o futebol também. Todo jogador tem altos e baixos. Como trabalhou as críticas que recebeu devido à queda de desempenho no final do ano passado? Considera que elas foram injustas? < Acho, sim, mas é passado. Ninguém gosta de receber críticas, todo mundo quer só elogios. Mas é complicado. Considero que a crítica poder ser boa para você avaliar o que fez de errado. Tive apoio da minha família, do meu empresário, dos meus amigos, amigos
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C M P
Flávio Pereira
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PERFIL NOME: Carlos Henrique Casemiro IDADE: 20 anos NATURALIDADE: São José dos Campos CLUBE: São Paulo
CARREIRA “NINGUÉM GOSTA DE RECEBER CRÍTICAS, TODO MUNDO QUER SÓ ELOGIOS. É COMPLICADO. MAS A CRÍTICA PODER SER BOA PARA VOCÊ AVALIAR O QUE FEZ DE ERRADO”
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POSIÇÃO: Volante PRINCIPAIS TÍTULOS:
Mundial e Sulamericano Sub-20, ambos em 2011
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Entrevista Fotos: Vipcomm
SELEÇÃO Casemiro comemora o primeiro gol do Brasil contra Equador no Sul-Americano Sub-20
TRICOLOR Voltante renovou o contrato com o São Paulo por mais cinco anos
SÃO PAULO “SOU MUITO FELIZ NO CLUBE. ATÉ TEVE UMA VEZ QUE UM EMPRESÁRIO ME OFERECEU DINHEIRO PARA DEIXAR O SÃO PAULO, MAS NÃO ACEITEI.” de verdade, que sempre me fortaleceram para superar isso. Esse ano é vida nova, vou voltar com tudo, dar a volta por cima, pensar nas Olimpíadas e na minha condição de titular no São Paulo. Neste período, mesmo com críticas, vieram algumas propostas da Europa. Pensou em aproveitar a oportunidade e deixar o São Paulo? < Não, pelo contrário. Apesar de ter ficado feliz com os interesses, tentei me fortalecer com as críticas para mostrar que não é tudo aquilo que estavam falando de mim. Críticas eu vou receber ao longo de toda a minha carreira, de qualquer maneira. Sair do São Paulo, não. Levantei a cabeça e agora quero voltar a receber os elogios de antes, os mesmos de quando subi para o profissional, de quando ganhei o Sul Americano e a Copa do Mundo na base da seleção e cheguei à seleção principal. Você é conhecido por sua personalidade forte. Inclusive, nas coletivas, foge um pouco dos discursos prontos. Acredita que isso te prejudica?
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< Cada um tem uma característica, felizmente tenho isso, de saber o que quero na minha carreira. Sou muito verdadeiro dentro e fora de campo. O Juvenal Juvêncio, presidente do São Paulo, é fã do seu futebol. Como é sua relação com a diretoria e demais membros do clube? < É mais que perfeito. Sou muito feliz no clube. Até teve uma vez que um empresário me ofereceu dinheiro para deixar o São Paulo, mas não aceitei. O ambiente é muito bom, todos me tratam bem. Nunca dei problema fora de campo e pretendo continuar assim para seguir com a confiança de todos. Você considera mais difícil chegar à Seleção Brasileira ou se manter na Seleção Brasileira? < Olha, a pergunta é difícil. Se você chega numa Seleção Brasileira, passa a ser valorizado, ainda mais em um país onde existem vários jogadores de alto nível. Mas tenho certeza que é muito difícil se manter, justamente por causa desses altos e baixos. Mas se você chegou uma vez já pode se sentir honrado, pois é o sonho de qualquer jo-
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ÍDOLO “NO BRASIL É O NEYMAR. ELE ESTÁ NUMA FASE EXTRAORDINÁRIA. O LUCAS TAMBÉM ESTÁ EM UMA ÓTIMA FASE. FORA DAQUI É O MESSI, SEM DÚVIDA” gador. Tenho planos de títulos com a seleção, ganhar uma Copa do Mundo e as Olimpíadas, são metas na minha vida. Acredita que será convocado para o próximo amistoso da Seleção Brasileira, contra a Bósnia? < Não sei, é difícil falar. Estou voltando para tentar retomar o meu espaço. O próprio Mano [Menezes] e o Ney Franco, que é da base, conhecem o meu trabalho, tem o Carlinhos [preparador físico da seleção] que também me conhece. Eles sabem do meu potencial e o que posso oferecer para a equipe. Se não for agora pode ser daqui a um mês, dois meses... Meu pensamento mesmo é chegar às Olimpíadas. Considera o Neymar o melhor jogador em atividade no futebol brasileiro? < No Brasil é o Neymar. Ele está numa fase extraordinária. O Lucas também está em uma ótima fase, temos vários jogadores de qualidade. Fora daqui é o Messi, sem dúvida. No ano passado você promoveu em São José a ‘Copa Casemiro’, um torneio amador que tinha como objetivo buscar talentos e ajudar instituições de caridade da cidade. Vai promover o evento esse ano? < Pretendo. Foi a primeira vez no ano passado e se Deus quiser vou fazer todos os anos. Fui à escolinha que joguei aqui em São José para ver se poderia usar meu nome nesse torneio. Fiz alguns kits esportivos para presentear os campeões, minhas chuteiras, camisas, bolas... Pedi para o Rogério Ceni também me ajudar com algum kit dele. Os outros jogadores também ajudaram com autógrafos em camisas. Foi bem legal, vou fazer outra vez e no final do ano pretendo organizar um jogo beneficente, no estilo amigos de Casemiro contra alguma outra equipe.
ressadas no futebol. A molecada não pode baixar a cabeça, acho que quem trabalha com escolinha está de parabéns. Tenho certeza que daqui sairão grandes profissionais. Temos da minha escolinha o Sérgio Mota, que estava no São Paulo, o Juninho que jogava nos Estados Unidos e assinou como São Paulo. Se fizerem um trabalho sério podem revelar jogadores. O Moreira mesmo tem mais de 30 jogadores que pelo menos passaram por grandes clubes. Você acompanha o futebol do São José, que tenta mais uma vez o acesso para a primeira divisão do Campeonato Paulista? < Tento acompanhar. Na internet eu sempre posto no twitter algo relacionado ao time, falando que dessa vez vai subir. Tento divulgar e dar uma força, uma moral para cidade. Todo ano bate na trave, vamos ver se esse ano vai dar certo. Quando está em São José procura ficar longe da bola ou sempre tenta arrumar um tempo para jogar um futebol com os amigos? < Não... Tento ficar bem longe da bola mesmo. Quero ficar com a minha mãe, com a minha família. Viajar com eles, ir à praia com eles. Fazer tudo com a minha família. Minha mãe é a coisa mais importante da minha vida, o sofrimento que passamos na minha infância só nós sabemos. Mas às vezes vou andar de kart, ao shopping, solto pipa. Ligo para meus amigos para comer uma pizza em casa. Sair para noite é difícil, somente alguns eventos. E como foi a sua infância em São José?
< Foi difícil, minha mãe sempre foi sozinha comigo e
Você levou algumas crianças desse torneio para o Centro de Treinamento do São Paulo para fazer testes. Qual foi o resultado? < O Moreira, que é o professor da escolinha, tem um bom relacionamento no São Paulo. Conversamos com a diretoria da base e o melhor jogador ia fazer um teste lá. Hoje, ele ainda leva o garoto, por ser muito novo não pode alojar ainda. Vai lá, faz um teste de três dias e depois volta. Fica por um tempo assim. É um menino que está em um bom caminho.
com meus irmãos em uma casa pequenininha, de dois quartos, alugada. Era diarista, trabalhou muito para sustentar a gente. Por isso, converso muito com ela sobre minha vida, minhas decisões, sobre o meu dinheiro. Todo o meu planejamento é feito com minha família. Sou eu o pai de todos hoje, sinto essa responsabilidade. Lembro que minha mãe tinha um problema no punho e, com o trabalho pesado, chegava em casa reclamando de dor. Isso me deixava muito triste. Sempre foi meu sonho um dia comprar uma casa e um carro para ela. Hoje, ela cuida das minhas coisas. Tenho meu empresário, mas a primeira palavra é dela.
Acredita que as escolinhas de futebol de São José têm potencial para formar novos Casemiros? < Sem dúvida. Ainda mais São José que é uma cidade grande, com muitas indústrias e pessoas inte-
Então se algum clube quiser levar você para Europa tem que ter a permissão da sua mãe? < Com certeza (risos)... Tem que ter. Tem que negociar com ela. •
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Vale, Brasil & o Mundo
Frases “Vou comentar o que sobre lixo? Lixo é lixo” Do ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB), sobre o livro “Privataria Tucana”, de Amaury Ribeiro Júnior. Na obra, o jornalista fala de um suposto esquema de corrupção no governo FHC que envolveria Serra, que ocupou a pasta do Planejamento
REMÉDIOS
TJ bloqueia bens de casal Peixoto por suspeita de fraude em Taubaté
“Acho que Ivanisevic e Safin estão no topo [de quem quebra mais raquetes]“ Do tenista Novak Djokovic sobre o ataque de fúria de Marcos Baghdatis, do Chipre, que quebrou 4 raquetes em 1 minuto ao perder para o suíço Stanislas Wawrinka
O Tribunal de Justiça de São Paulo determinou o bloqueio de bens e a quebra dos sigilos bancário e fiscal de 18 pessoas e empresas acusadas de envolvimento em fraudes de compras de remédios para a Prefeitura de Taubaté. O prefeito Roberto Peixoto (PMDB), a primeira-dama Luciana Peixoto e o secretário municipal de Saúde, Pedro Henrique Silveira, estão entre os suspeitos. Os bloqueios e quebra de sigilos foram pedidos pelo Ministério Público, que denunciou o caso em maio do ano passado. À época, as solicitações foram negadas pela Justiça de Taubaté. A Promotoria recorreu ao TJ, que acolheu parcialmente os pedidos –foram negados o afastamento de Peixoto e do secretário de Saúde e a quebra do sigilo fiscal de parentes do prefeito. As fraudes teriam começado em 2005 com a empresa Home Care, responsável pela compra e distribuição de remédios na rede pública de 2003 a 2008. Pela denúncia, o casal Peixoto cobraria 10% de propina da empresa em troca de superfaturamento nos contratos. Eles teriam angariado R$ 5 milhões. O suposto esquema fraudulento teria prosseguido com a Acert Serviços Administrativos Ltda, contratada posteriormente para realizar a distribuição de medicamentos. Segundo o MP, a empresa teria sido criada pelo ex-gerente de Compras da prefeitura, Carlos Anderson dos Santos, e registrada em nome de laranjas. A Acert recebeu R$ 1,6 milhão da administração por seis meses de serviços prestados. As três empresas, seus responsáveis e o ex-gerente de Compras também tiveram a quebra de sigilo e o bloqueio de bens decretados. O processo segue em segredo de Justiça.
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“Não fico chateado quando você me cobre de merda o dia inteiro, mas você fica chateado” Do primeiro-ministro russo, Vladimir Putin ao redator-chefe da rádio Echo de Moscou, Alexeï Venediktov PESQUISA
INDENIZAÇÃO
Brasileiro gasta mais com saúde que o governo federal
Justiça condena Rafinha Bastos
Apesar de o Brasil contar com o SUS (Sistema Único de Saúde), que tem como princípio prestar atendimento gratuito e universal, as famílias brasileiras responderam por mais da metade dos gastos com saúde no país entre 2007 e 2009. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as despesas das famílias com bens e serviços de saúde, como planos, consultas, internações e medicamentos, chegaram a 56,3% do total do país nesse período. Em 2009, o gasto público médio com saúde foi de R$ 645,27 por pessoa. Já as despesas privadas foram de R$ 835,65 per capita em média.
A Justiça de São Paulo decidiu que Rafinha Bastos deverá indenizar Wanessa Camargo e o marido dela, Marcus Buaiz. O juiz da 18ª Vara Cível, Luiz Beethoven Giffoni Ferreira, julgou “procedente” o pedido de indenização. O valor exigido é de R$ 100 mil. Cabe recurso à decisão. No ano passado, o comediante fez uma brincadeira de mau gosto no programa “CQC”, da Band. Depois de o colega Marcelo Tas comentar sobre a gravidez da cantora, e que ela estava graciosa na gestação, Rafinha disse que “comeria ela e o bebê”.
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SUSTENTABILIDADE
HONESTIDADE
ONU estabelece metas em energia
População dá nota 2,9 para políticos de SP
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, lançou uma iniciativa que designa 2012 como o “Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos”, com o objetivo de alcançar suas metas até 2030. Durante a Cúpula Energia Mundial do Futuro, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, ele convocou governos, setor privado e sociedade civil para apoiar ativamente a ideia. O plano tem três metas: garantir acesso universal a serviços de energia moderna, dobrar a taxa de implementação da eficiência energética, dobrar a proporção de energia renovável na matriz energética global. Ban disse ter designado um “grupo de alto nível de [representantes] de negócios, finanças, governo e sociedade civil para liderar as ações da iniciativa”. “Não é nem justo, nem sustentável que uma em cada cinco pessoas ainda não tenha acesso à eletricidade moderna. Não é aceitável que três bilhões de pessoas ainda precisem de madeira, carvão, carvão vegetal ou dejetos animais para cozimento e aquecimento”, afirmou.
A população de São Paulo deu nota baixa (2,9) para a honestidade dos políticos da cidade, segundo pesquisa Ibope divulgada pela Rede Nossa São Paulo. Das 25 áreas avaliadas, 19 receberam notas abaixo da média, que é 5,5. As piores notas foram para as áreas “Transparência e Participação Política” (3,5), “Acessibilidade para Pessoas com Deficiência” (3,9) e “Desigualdade Social” (4). Os setores mais bem avaliados foram “Relações Humanas” (6,8) e “Religião e Espiritualidade” (6,4). Segundo a pesquisa, 30% consideram a atual administração municipal ruim ou péssima, contra 21% em 2010.
Descoberto o menor vertebrado do mundo Uma espécie de rã recém descoberta na ilha de Nova Guiné, na Oceania, passou a ocupar lugar de destaque em guias de biologia: é o menor vertebrado do mundo, com 7,7 milímetros, desbancando um peixe indonésio de 8 milímetros. A nova espécie foi encontrada por uma equipe de pesquisadores do Museu de Ciência Natural da Universidade do Estado de Louisiana (EUA) durante uma expedição. A ciência já catalogou cerca de 60 mil vertebrados. O maior é a baleia azul, que tem mais de 25 metros de comprimento.
CASO ELOÁ
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HOMOFOBIA
Lindemberg enfrenta júri popular no dia 13
Projeto recebe mais sugestões na web do Senado
A Justiça de Santo André marcou para as 9h do dia 13 de fevereiro o início do julgamento de Lindemberg Fernandes, 25 anos, acusado de matar a tiros sua ex-namorada Eloá Pimentel em outubro de 2008. O assassinato ocorreu depois de o acusado manter por cinco dias Eloá e a amiga dela Nayara Rodrigues em cárcere privado no apartamento da família da adolescente. Nayara também foi baleada, mas sobreviveu. O caso Eloá foi o mais longo cárcere privado da história policial do Estado de São Paulo. Lindemberg está preso na Penitenciária César Augusto Salgado, a P-2 de Tremembé. Além da acusação de assassinato, ele responde pela tentativa de homicídio de Nayara e do sargento Atos Valeriano e pelo sequestro e cárcere privado de dois outros menores de 18 anos, que foram liberados nas primeiras horas da ação. Eloá morreu com um tiro na cabeça e outro na virilha. Ao longo do cárcere, ela foi agredida, ameaçada e humilhada a ponto de, ao final, cansada, pedir para ser morta.
Exatamente 309.320 brasileiros manifestaram sua opinião, pela página do Senado na internet e pelo serviço telefônico gratuito 0800-612-211, sobre o projeto que torna crime manifestações de preconceito relacionadas à orientação sexual. O coordenador do Data-Senado, Valter Rosa, vê este número expressivo com naturalidade, devido ao grau de polêmica do projeto, que mobiliza grupos sociais com opiniões definidas sobre a matéria. O segundo projeto mais comentado foi o do senador Pedro Taques (PDT-MT), que torna a corrupção um crime hediondo, avaliado por 88.458 pessoas. Em terceiro ficou o de Cristovam Buarque (PDT-DF), que cria o 14º salário para os professores da Rede Pública, com mais de 49.000 manifestações.
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Mundo DROGAS
Yes, eles têm cracolândias Como os países desenvolvidos lidam com seus redutos urbanos de consumo de entorpecentes? Ninguém tem a receita certa, mas alguns exemplos podem servir para nós Yann Walter São José dos Campos
operação conduzida pela polícia para varrer o crack do centro de São Paulo reacendeu o debate sobre o surgimento de grandes áreas de consumo e venda de drogas pesadas em centros urbanos. De fato, a capital paulista é apenas mais uma cidade do mundo onde moradores se deparam diariamente com hordas de zumbis esquálidos obcecados pela busca do prazer imediato. De Nova York a Paris, de Zurique a Medellín e de Nápoles ao Rio de Janeiro: quase todas as grandes metrópoles do planeta têm –ou tiveram– suas próprias ‘cracolândias’. Em suas tentativas para erradicar estas zonas de desolação, algumas obtiveram resultados através de medidas de prevenção e saúde pública. Outras privilegiaram a repressão, às vezes em detrimento dos direitos humanos. Ainda há as que lidam com o problema há décadas e não conseguem mudar a situação, seja por incompetência, seja por falta de vontade política. A cidade de São Paulo pode se inspirar de todos estes exemplos, reproduzindo os acertos e aprendendo com os erros. Uma certeza, porém: a solução definitiva para o problema ainda não foi encontrada. Zurique, 1994. Na maior cidade da Suíça,
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elogiada mundo afora por sua limpeza, sua organização e sua qualidade de vida de um modo geral, os moradores do Kreis 5, um bairro operário de maioria estrangeira localizado a menos de um quilômetro do centro, dividem espaço com até 4.000 dependentes de heroína. Todo dia, no caminho da escola, as crianças do bairro assistem a cenas que parecem tiradas de um filme de terror. No local conhecido como Letten, centenas de viciados magérrimos, com os braços cheios de abscessos e furúnculos, injetam nos pés, no pescoço, ou em qualquer outro lugar que ainda tenha uma veia pulsando. Esta ‘heroinolândia’, onde o consumo e a venda da droga são tolerados, foi criada pelas autoridades para conter o avanço do HIV entre os usuários de drogas injetáveis. Outro argumento usado à época é que seria mais fácil controlar os dependentes se eles fossem todos reunidos no mesmo lugar. O primeiro objetivo foi atingido, mas a ideia acabou se voltando contra seus autores. O Letten ganhou fama mundial e atraiu viciados de toda a Suíça, da França, da Itália e da Alemanha. A criminalidade aumentou, culminando com vários assassinatos. Cansados da crescente insegurança e do convívio diário com usuários e traficantes, os moradores exigiram, e acabaram obtendo, o fim da ‘heroinolândia’. O Letten foi definitivamente fechado em 1995, deixando, ao menos, um legado positivo: traumatizadas pelas cenas que presenciaram, as crianças do bairro ficaram longe das drogas.
Planejamento É claro que o fechamento não ocorreu de um dia para o outro. Assim como a operação na cracolândia, deflagrada no início de janeiro, o plano foi dividido em várias fases. Na primeira, o que está transcorrendo atualmente no centro de São Paulo: pressão policial 24 horas por dia para impedir a formação de grupos e obrigar os usuários a procurar ajuda. Vale frisar que as autoridades de Zurique haviam planejado uma ampla estrutura de apoio para os viciados, com a abertura de dezenas de novos centros de tratamento e a distribuição em massa de diversas substâncias, como a metadona, para substituir a heroína. Em paralelo, todos os dependentes não-residentes
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Nilton Fukuda/ AE
SÃO PAULO A região central da capital paulista foi alvo de uma ação truculenta da Polícia Militar
na cidade foram expulsos, um arsenal de leis muito mais repressivas contra os traficantes foi aprovado em um tempo recorde, e duas novas penitenciárias foram construídas. Porém, de acordo com Leandro Piquet, professor do Instituto de Relações Internacionais e pesquisador do Núcleo de Pesquisas de Políticas Públicas da USP (Universidade de São Paulo), as situações em Zurique e São Paulo são bem distintas. “Zurique tem apenas 370 mil habitantes, a qualidade de vida está entre as mais altas do mundo e o nível de violência é baixíssimo. Os recursos institucionais e orçamentários que a cidade tem para lidar com os problemas causados pelos usuários de drogas são consideráveis, en-
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quanto aqui o governo trabalha sob restrições de todo tipo. O contexto criminal também é diferente. Em Zurique não há traficantes armados circulando pelas ruas”, assinalou. Segundo Piquet, aceitar a formação de ‘cracolândias’ para tentar controlá-las não é a solução. “A cracolândia mostra que concentrar os usuários e os serviços públicos de atenção aos dependentes de drogas em uma única área não produz resultados positivos para a cidade. Pesquisas e experiências de políticas públicas conduzidas em vários lugares do mundo comprovaram a conexão entre desordem social, decadência física e crime. Traficantes e criminosos preferem agir em áreas com sinais visíveis de desor-
dem porque ninguém parece se importar com o que acontece aí, e suas atividades não são imediatamente notadas. A cracolândia foi colonizada pelo crime e quem não está envolvido com o uso de drogas deixou a área; moradores e comerciantes foram embora e deixaram uma área economicamente morta e sem uso pela população”, explicou. Em declarações à revista valeparaibano, Eloisa de Sousa Arruda, secretária de Justiça do Estado de São Paulo, destacou que a operação na cracolândia está apenas no início e não tem prazo para acabar. “A intensificação da ação policial tem como objetivo quebrar a logística do tráfico. Em paralelo, já demos início à segunda fase, que é a abordagem dos
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Mundo Fotos: divulgação
agentes de saúde e a assistência social aos dependentes. A terceira fase, que ainda não começou, será a reintegração à sociedade das pessoas internadas. É o que chamamos de porta de saída”, detalhou a secretária, frisando que até o dia 17 de janeiro, a operação havia permitido a prisão em flagrante de mais de 100 traficantes, a detenção de 40 foragidos de Justiça que se escondiam na cracolândia e a internação de 80 dependentes. Repressão Outras metrópoles, como Nova York, apostaram na repressão total e também obtiveram resultados. Contudo, o custo humano foi alto com muitas mortes e detenções arbitrárias, inclusive de inocentes, especialmente nas comunidades afro-americana e hispânica. Por mais de duas décadas, entre os anos 70 e o início dos anos 90, o bairro de South Bronx, ao norte de Manhattan, esteve no ‘Top 5’ das localidades mais perigosas do mundo. Nos anos 80, quando o crack apareceu pela primeira vez, o bairro assumiu de vez o título pouco invejável de capital do crime dos Estados Unidos. Em um cenário apocalíptico feito de prédios calcinados, montanhas de entulho e terrenos baldios, parecido ao de uma cidade europeia abandonada após um bombardeio durante a Segunda Guerra Mundial, estupros e assassinatos proliferaram até se tornarem rotina. Desesperados, os proprietários de imóveis contratavam gangues locais para incendiar seus próprios prédios, com o intuito de recuperar algum dinheiro do seguro. Com uma economia completamente estagnada e uma das taxas de desemprego mais elevadas do país, o bairro de South Bronx acabou se tornando uma terra sem lei, tomada por prostitutas, mendigos, traficantes e viciados. Em 1993, o republicano Rudolph Giuliani foi eleito à Prefeitura de Nova York com a promessa de estancar a onda de criminalidade que assolava a cidade. Com uma política brutal baseada na repressão extrema e na ‘tolerância zero’, em virtude da qual qualquer delito, mesmo menor, era severamente punido, Giuliani alcançou resultados concretos: em cinco anos, o número de assassinatos foi dividido por três, e o de delitos menores desabou. No South Bronx, o consumo e a venda de crack perduram, mas de forma muito mais discreta. Admitindo a necessidade da ação repressiva, a secretária de Justiça de São Paulo garantiu que eventuais abusos cometidos pelos policiais durante a operação na cra-
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colândia serão punidos. “Pregamos firmeza contra os traficantes, mas também respeito nas abordagens”, ressaltou. A repressão deu resultados, mas o elemento decisivo para a reabilitação do South Bronx foram os fortes investimentos consentidos pelo poder público, que deram nova cara ao bairro. “O que mudou a cidade foram ações integradas de revitalização urbana e combate à desordem combinadas ao uso de novas ferramentas de gestão pela polícia”, resumiu Piquet. Revitalização O exemplo da Comuna 13, uma favela de Medellín, na Colômbia, mostra que a revitalização é uma das chaves do sucesso. A Comuna 13 foi durante muito tempo o bairro mais perigoso de Medellín. Vale frisar que
a segunda maior cidade da Colômbia, cujo cidadão mais ‘ilustre’ é até hoje o traficante de cocaína internacional Pablo Escobar, morto em 1993, era então considerada a mais perigosa do mundo, com uma assustadora taxa de homicídios de 381 para 100 mil habitantes. Para efeitos de comparação, a atual cidade mais violenta do planeta –San Pedro Sula, em Honduras– apresenta uma taxa de 159 para 100 mil habitantes. O panorama começou a mudar em 2003, com a eleição do carismático Sergio Fajardo à prefeitura. Para acabar com a permanente sensação de insegurança, Fajardo decidiu apostar não apenas na repressão, mas também no urbanismo e na cultura. A Comuna 13 e as outras favelas foram beneficiadas com uma audaciosa política de in-
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EXEMPLOS Scampia, na ItĂĄlia, a droga mais barata da Europa; ao lado, parque em Zurique; abaixo, o South Bronx dos anos 80 e nos dias de hoje
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vestimentos pĂşblicos, baseada em â&#x20AC;&#x2DC;planos urbanos integraisâ&#x20AC;&#x2122;. Pouco mais de 40% do orçamento total da Prefeitura de MedellĂn foi dedicado a açþes de desenvolvimento da educação e da cultura. Em paralelo, a rede de transporte pĂşblico foi ampliada para integrar as favelas Ă cidade. O telefĂŠrico instalado na Comuna 13 em 2008 deu ideias ao governador do Rio, SĂŠrgio Cabral, que decidiu fazer o mesmo no Complexo do AlemĂŁo. A obra foi inaugurada em julho do ano passado pela presidente Dilma RousseďŹ&#x20AC;. As açþes de reabilitação e reintegração dos bairros outrora dominados pelos traficantes de cocaĂna nĂŁo foram em vĂŁo: de 381 para 100 mil habitantes em 1991, a taxa de homicĂdios em MedellĂn despencou para 26 em 2007. â&#x20AC;&#x153;As polĂticas de revitalização urbana desarticulam o nicho fĂsico onde hĂĄ o consumo de drogas. Quando a prefeitura ilumina, limpa, fecha terrenos baldios, constrĂłi praças e equipamentos urbanos, contribui para que o ambiente seja menos propĂcio para o consumo de drogasâ&#x20AC;?, afirmou o professor Leandro Piquet. Eloisa de Sousa Arruda garantiu que a cracolândia tambĂŠm serĂĄ alvo de esforços de reabilitação. Sem entrar em detalhes sobre projetos e investimentos do poder pĂşblico, ela disse apenas que diversas obras de revitalização estĂŁo previstas no setor. â&#x20AC;&#x153;HaverĂĄ vĂĄrios espaços de cultura e lazerâ&#x20AC;?, afirmou. Ao contrĂĄrio de Zurique, Nova York ou MedellĂn, muitas metrĂłpoles do planeta continuam corroĂdas por suas â&#x20AC;&#x2DC;cracolân-
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diasâ&#x20AC;&#x2122;. Ă&#x2030; o caso, por exemplo, de NĂĄpoles, no sul da ItĂĄlia. Na terra da Camorra, a organização mafiosa mais poderosa do mundo, existe um bairro chamado Scampia, conhecido por ser o maior supermercado de venda de drogas a cĂŠu aberto da Europa. Nas sinistras â&#x20AC;&#x2DC;veleâ&#x20AC;&#x2122;, os edifĂcios em forma de vela retratados no filme â&#x20AC;&#x153;Gomorraâ&#x20AC;?, inspirado do livro homĂ´nimo de Roberto Saviano, pode-se comprar cocaĂna, heroĂna, crack, maconha, haxixe e drogas sintĂŠticas das 7h Ă s 2h da manhĂŁ, sete dias por semana. Como a Camorra compra enormes quantidades diretamente nas zonas de produção, ela pode vender os entorpecentes pelos preços mais baixos de toda a Europa. O trĂĄfico denunciado por Saviano existe hĂĄ dĂŠcadas. As autoridades sabem quem sĂŁo os traficantes, e onde ficam os pontos de venda. Mas quem quer combater uma organização que tem tentĂĄculos em todas as esferas do poder e da sociedade em geral e fatura, somente com a venda de drogas em Scampia, meio milhĂŁo de euros por dia? O fato ĂŠ que hoje, com seus 65 bilhĂľes de euros de liquidez, a mĂĄfia ĂŠ o maior banco da ItĂĄlia. Erradicar o consumo de drogas ĂŠ impossĂvel, mas o que se pode fazer ĂŠ tornĂĄ-lo menos visĂvel impedindo a formação de â&#x20AC;&#x2DC;cracolândiasâ&#x20AC;&#x2122;. â&#x20AC;&#x153;Com investimentos pĂşblicos consistentes em revitalização urbana e segurança pĂşblica, e apostando na integração com o sistema de saĂşde e de assistĂŞncia social, ĂŠ possĂvel fazer uma grande diferença no curto prazoâ&#x20AC;?, concluiu Piquet. â&#x20AC;˘
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Ensaio
PERIGO Na praia de Paúba, na costa sul de São Sebastião, o surfista Caveira desafia as ondas
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Ensaio fotográfico
Jorge Mesquita fotógrafo
Tubo de imagens Nascido em São Paulo e criado em Ubatuba, o surfe já fazia parte da vida do fotógrafo Jorge Mesquita desde bem cedo. Daí a registrar as ondas perfeitas do Litoral Norte foi algo tão natural quanto o mar
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Ensaio
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TUBO Gabriel Medina, grande talento do surfe mundial, entubando em Maresias
BELEZA Não é só a natureza da praia de Maresias que encanta, a frequência na areia também pode ser bem agradável
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Ensaio
PESCA Alguns caiçaras ainda resistem com suas tradições na meca do surfe
THRILLER O surfista Carlos Bahia ‘tira onda’ e homenageia o rei do pop com habilidade
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PEIXE Final de tarde, muito trabalho e nem sempre há fartura no mar
EM PÉ Muitas mulheres aderiram ao stand-up, uma febre nesse verão
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Coisa & Taltigo
Marco Antonio Vitti
Mudança para quê? O mundo acaba em dezembro de 2012!
A
travessamos, no momento, uma grande e fantástica transformação em nosso mundo. É tempo de uma nova virada na consciência mundial. Vivemos um grande individualismo, egoísta e narcisista, que uma profissão, seu futuro, ter uma família, filhos, são projetos que arrepiam a maioria dos homens, o que causa nas mulheres um sentimento de insegurança. Para elas, ter um namorado, um noivo, casar, ter filhos, ainda é um sonho que a maioria gostaria de realizar. Muitas pacientes me perguntam: “Doutor, o que está acontecendo com os homens?”. Respondo, perguntando: “Acontecendo o quê?”. Elas, me olhando com um olhar inquisidor, exclamam: “Os homens não estão nem aí com as mulheres! Não querem nada sério, pensam somente em ficar e utilizar a mulher como troféu ou como escudo!”. Os homens, por seu lado morrem de medo de relacionamentos que denominam de “sérios” –ou seja, ele teria de deixar de ser adolescente eterno e assumir uma relação mais adulta, madura, comprometer-se. As mulheres, que no mercado de trabalho estão ganhando dos homens de goleada, tanto em cargos como em salários, no amor, sentem-se colocadas de lado, e questionam: “É triste! Estamos perdendo homens lindos para ou-
SÉCULO 21 “Vivemos um início de década em que a ética já foi praticamente substituída pela estética” tros homens!” Realmente, os relacionamentos mudaram muito. Na internet, em sites de relacionamento, pessoas expõem-se de forma deplorável, expondo principalmente suas fraquezas. Não pensem que exibicionismo, narcisismo, oportunismo, falsos perfis, falsos diálogos, são emoções positivas. Alguns desses comportamentos até podem se tornar delitos ou até crimes, como invasão de privacidade, calúnias, discussões estéreis que não constroem nada –são emoções geralmente destrutivas. Vivemos um início de década, já no décimo segundo ano do século 21, quando a ética é praticamente substituída pela estética. Em quase todos os setores da sociedade, a falta de ética é um comportamento que se tornou usual, como se fosse normal trocar a ética por uma estética egoísta, individualista, deixando um cheiro de ranço no ar. Além de toda essa estética sem ética desgraçadamente sem graça, ainda dizem que o mundo vai acabar dia 21 de dezembro de 2012. Até que seria bom se acabasse mesmo, pois, como diz Jung em seus trabalhos so-
bre os opostos, tudo o que está na consciência, o oposto está no inconsciente, ou seja: “O medo que o mundo acabe, na verdade é desejo que ele acabe mesmo!” Depressivos de carteirinha estão até com cronômetros marcando o tempo que falta para o mundo acabar. Como não sou como estes obsessivos, comunico que hoje, quando estou escrevendo o artigo, faltam 347 dias e 3 horas e 30 minutos para o mundo acabar. Seria legal todo mundo morrer no mesmo dia, na mesma hora, e irmos todos de mãos dadas para o além. Imaginem o apuro de São Pedro quando enxergar aquela multidão chegando para o julgamento. Satanás então vai ter um ataque cristão de tão terrível que vai ser conseguir Etanol para alimentar as fornalhas do inferno. É! É com etanol brasileiro que o inferno queima suas labaredas. As usinas não estão dando conta de tanto pedido, por isso o preço pela hora da morte. Bem, pelo menos teremos 347 dias, 3 horas e 24 minutos e para o mundo acabar... agora já são 347 dias, 3 horas e 15 minutos. Enquanto isso, a gente não pensa no IPTU, no IPVA, no imposto de renda e os governantes brasileiros corruptos por natureza que fiquem com essa batata quente assada no inferno! Feliz Fim do Mundo. Faltam somente 347 dias e 3... 2... Ih! Pirei. Quem vai chorar por nós? Falta uma... •
Marco Antonio Vitti Especialista em biologia molecular e genética vitti@valeparaibano.com.br
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EUROPA
Charme a toda prova A capital francesa continua batendo recorde de visitantes do mundo todo; museus, cultura, gastronomia e história fazem de Paris a cidade mais charmosa do planeta Marrey Júnior Paris (França)
E
la é uma das cidades mais visitadas do mundo. Uma pesquisa por um órgão especialista em turismo na França revelou que Paris recebeu 28,2 milhões de turistas em 2010, muito mais que dez vezes a população parisiense de pouco mais de 2,2 milhões de habitantes. Mas o que tem esse lugar que tanto atrai gente de todas as partes do mundo? Um adjetivo que se encaixa perfeitamente a Paris é um charme que não é encon-
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trado em qualquer outra parte do globo. Paris é efervescente e também dita quais serão as tendências em todo o mundo. A cidade, que desde o século 10 foi presenteada com a construção de imponentes palácios, igrejas e prédios históricos, ainda é um dos principais centros para o ensino e para as artes e se mantém como um dos destinos preferidos entre os turistas que buscam cultura, lazer e lições de história. Não é a toa que a capital do país localizada no norte da França tenha essa fama. Paris abriga mais de 130 museus, tem cerca de 100 exposições temporárias em cartaz por mês, 900 galerias de arte e possui catalogados 1.800 prédios de grande importância arqui-
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Foto: divulgação
MONUMENTO Era para ser temporária, mas a Torre Eiffel agradou tanto que virou símbolo
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Turismo
RECORDISTA A catedral de Notre Dame é o ponto mais visitado pelos turistas em Paris; ao lado, um passeio pelo Rio Sena
tetônica. Além disso, 463 parques e jardins dão um colorido às construções monocromáticas dos bairros mais antigos. O principal símbolo da cidade pode ser visto de todos os cantos. A Torre Eiffel, de 324 metros de altura, encanta de longe. Durante a noite, ela muda de cor, fica dourada quando recebe a iluminação de 336 refletores de luz. Nos primeiros 5 minutos de cada hora, 20 mil lâmpadas piscam e se parecem estrelas. A cena enche de magia os olhos dos visitantes. Do topo da torre é possível ter uma dimensão da beleza de Paris. Ela oferece uma visão do alto de 360 graus de toda a cidade. O monumento mais famoso do mundo foi construído em 1889 por Gustave Eiffel para a exposição em comemoração aos 100 anos da Revolução Francesa. Ela seria desmontada após 20 anos, mas devido seu enorme sucesso se incorporou à cidade. A torre é aberta aos turistas às 9h e as visitas se encerram entre 23h45 e 0h45 se for horário de verão. Às vezes, subir até o topo é um exercício de paciência. A fila para a compra de ingressos é tão grande quanto a torre, principalmente na alta temporada. A espera pode ultrapassar mais de um perí-
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odo do dia. Uma dica para quem não quer perder tempo é fazer a reserva do bilhete pela internet. Mas é preciso comprar com antecedência e já ter em mente o horário em que se deseja fazer a visita. Recorde Apesar de ser o mais famoso monumento parisiense, engana-se quem pensa que a Torre Eiffel é o ponto turístico mais visitado de Paris. De acordo com uma pesquisa feita pela Office du Tourisme et des Congrès, ela é o quarto destino mais frequentado. A Catedral de Notre Dame ocupa a primeira colocação. Em média, mais de 13 milhões de pessoas visitam essa igreja anualmente. Construída em estilo gótico no início do século 11, esse templo dedicado à Nossa Senhora fica às margens do Rio Sena, na pequena Île de la Cité. Durante o período do romantismo, a igreja foi fonte de inspiração para Victor Hugo escrever o romance “Notre-Dame de Paris”, que conta a famosa história do corcunda que vive na igreja e se apaixona pela cigana Esmeralda na Paris do século 15. Chamam a atenção na catedral os vitrais e as esculturas que adornam a igreja.
De acordo com a mesma pesquisa, outra igreja é o segundo local que recebe o maior número de turistas: a Basílica de Sacré Coeur. Ela tem uma fusão dos estilos arquitetônicos romano e bizantino. Esse templo tem quatro cúpulas, a maior delas com 80 metros de altura. Construída entre o fim do século 19 e o início do século 20, ela é toda coberta de mármore travertino, que proporciona a cor branca da igreja. A basílica ganha ainda mais imponência porque fica no cume do bairro mais alto de Paris, Montmartre. A partir da igreja, outra vista espetacular de capital da França. A visita não é completa sem um passeio pela região onde está a basílica. Acredita-se que Montmartre tem esse nome porque foi nele que muitos mártires cristãos morreram por volta do ano 250. O bairro parece com uma cidadezinha do interior da Europa. A praça, os cafés, os bistrôs, os pequenos mercados e as galerias ainda confirmam a fama de bairro boêmio de animada vida noturna. Desde o passado, Montmartre concentra artistas e intelectuais de Paris. Entre os famosos frequentadores do bairro estavam Van Gogh, Degas, Monet, Renoir, Toulouse-
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Lautrec, entre outros. Recentemente, há pouco menos de 10 anos, várias ruas do bairro serviram de cenário para o filme “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain”, do diretor Jean-Pierre Jeunet. Colina abaixo também está outro local que torna famosa a noite parisiense: Pigalle. Nesse período do dia, quando as luzes de neon iluminam as vias centrais do bairro, elas criam um cenário de decadência formado pelas danceterias, sex shops e casas de strip-tease. Berço onde surgiu a mais famosa dança francesa, o “can can”, o bairro ainda abriga uma das mais famosas casas noturnas do mundo, o Moulin Rouge. Hoje diversos ônibus despejam dezenas de turistas que querem reviver um pouco da Paris da Belle Époque, dos renomados cabarés. Construído em 1889, a luxuosa decoração da casa noturna ainda remete os visitantes para essa época, onde a capital francesa era o local das mais badaladas noites do mundo. Além dos tradicionais shows de dança com bailarinas em minúsculas fantasias, no
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Moulin Rouge já se apresentaram artistas como a famosa vedete Mistintguett, Edith Piaf e até Frank Sinatra. No Moulin Rouge, os espetáculos sempre são brindados com a mais famosa bebida francesa, o champanhe. Um jantar completo, com o show incluso e meia garrafa de vinho ou champanhe, custa a partir de 175 euros. Casa da Monalisa O local que ocupa a terceira colocação entre os espaços mais frequentados pelos turistas em Paris é o Museu do Louvre. Originalmente criado para ser um castelo e depois um palácio, a transformação do prédio em museu começou em 1692. Hoje o Louvre recebe cerca de 8,8 milhões de pessoas por ano. É o mais visitado e maior museu do mundo. Entre as mais famosas das obras expostas nele está “La Gioconda” ou a “Monalisa”. Os turistas se aglomeram para ver de perto a obra de Leonardo da Vinci pintada entre 1503 e 1506 durante o Renascimento italiano. Chegar bem próximo é uma disputa de pe-
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Turismo
Nesses jardins, os parisienses costumam gastar o tempo deles para o lazer, para degustar um lanche na baguete com uma taça de vinho. Para as crianças, há shows de marionetes e tanque com barcos de brinquedo. Se numa extremidade desses jardins está o Museu do Louvre, na outra está a Avenida Champs-Élysées, o bulevar mais chique e caro de Paris. É também o local com um dos preços do metro quadrado mais altos da Europa. Nessa avenida estão as mais famosas lojas de grife. A elegância das roupas que combinam com o charme dessa via de quase dois quilômetros cercada por imensos corredores de árvores. Esse endereço parisiense fica ainda mais charmoso com a visão do Arco do Triunfo ao fundo. Ele está na outra ponta da avenida e foi erguido por Napoleão em 1806 para celebrar as vitórias dos Exércitos dele. Com cerca de 50 metros, no topo há uma sala de exposição com fotos e gravuras que contam a história desse símbolo do patriotismo francês.
ARTE Mesmo depois de um dia inteiro andando no Louvre, a sensação é de que não se viu tudo o que está no museu
didos de licença, de muitos entraves entre máquinas fotográficas e até de pequenos esbarrões. Todos lutam pelo melhor ângulo para contemplar o famoso quadro. A “Monalisa” não é a única “celebridade” desse museu. É lá também onde está a estátua grega de Afrodite, também conhecida como Vênus de Milo, a peça do código de Hammurabi, da civilização da Mesopotâmia, obras de Michelangelo, Rembrandt, Goya entre outros gênios das artes. O museu abriga mais de 400 mil obras das quais cerca de 35 mil ficam em exposição. Durante uma visita ao museu é possível
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conhecer artes e antiguidades egípcias, asiáticas, gregas, romanas, islâmicas, obras da Idade Média, do Renascimento, entre tantas outras. A sensação é de que um dia é insuficiente para visitar todo o Louvre. Em frente ao museu um local ideal para uma pausa durante o passeio, o Jardim das Tulherias, que foi projetado em 1664 por André Le Nôtre, o mesmo paisagista que idealizou o entorno de Versalhes. O local também abrigou um palácio, que foi derrubado durante a Revolução Francesa. O gramado é convidativo para um piquenique ou para minutos de alívio para as pernas.
Outro ângulo Paris é uma cidade muito fácil de andar a pé, quase todos os pontos turísticos ficam muito próximos uns aos outros. Também não é difícil se locomover pelos bairros através do metrô. Há estações em todos os cantos. Mas um jeito de ver a cidade sob um ângulo diferente é fazer um passeio de barco pelo Rio Sena. Ele funciona como aqueles ônibus de dois andares, em que o passageiro pode descer ou embarcar em qualquer píer ao longo do trajeto. O barco passa próximo a 13 pontos turísticos da capital francesa, que ficam às margens do rio entre a Torre Eiffel e a Ilha de São Luís, um pequeno e romântico pedaço de terra no meio do rio com construções erguidas entre os séculos 16 e 18. O melhor visual durante esse tour é ao fim do dia, quando o sol se põe e as luzes da cidade começam a iluminar Paris. Mas vale sempre lembrar que a capital francesa não se restringe apenas às dezenas de pontos turísticos. Paris tem muita informação, hoje fruto do multiculturalismo que forma a cidade. A visita se torna mais completa na tentativa de se viver um pouco como os parisienses. Seja na leitura de um livro à sombra de uma árvore, na compra das frutas que colorem a quitanda da esquina, nos passeios pelas centenas de bulevares arborizados, nas tentativas gastronômicas dos estrelados restaurantes e dos simples bistrôs ou até mesmo no café sem pressa com croissant. Tudo é mágico na “Cidade Luz”. •
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Hi-Tech NOVIDADES
Os melhores da CES 2012 A feira que acontece anualmente em Las Vegas, nos EUA, é famosa por apresentar as ‘febres tecnológicas’ do ano; separamos os principais destaques do evento Yann Walter São José dos Campos
A
CES (Consumer Eletronic Show), a maior feira de eletrônicos do mundo, aconteceu de 10 a 13 de janeiro em Las Vegas. Mais de 3.000 expositores, entre eles gigantes do setor como LG, HP, Panasonic, Samsung, Toshiba, Nokia, Asus ou Lenovo, aproveitaram a oportunidade para apresentar suas principais novidades ao público. A impressão dos milhares de visitantes que passaram por lá é que o futuro será muito similar ao filme “Matrix”, onde o virtual estará em todas as partes da nossa vida. Alguns dos produtos, como a TV de tela transparente, nem chegam ao mercado, são protótipos de um futuro ainda não palpável. Como nos anos anteriores, os televisores estiveram entre as estrelas da feira de Las Vegas, com telas ainda mais finas, sincronização com a internet e melhor qualidade de imagem e de cor. Outro destaque foi o lançamento de diversos concorrentes do iPad, entre eles o Asus 370T, que junto com outros produtos selecionados pela revista valeparaibano está nessas páginas para você conferir.
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Tablet Celular O smartphone Lumia 900, da finlandesa Nokia, deve chegar às lojas norte-americanas nos próximos meses. Equipado com o sistema operacional móvel Windows Phone 7, da Microsoft, o aparelho tem câmera frontal, tela de 4,3 polegadas de alta resolução, conectividade 4G e LTE (o Lumia 900 é, inclusive, o primeiro dispositivo equipado com Windows Phone com conexão LTE) e bateria de longa duração.
Entre os tablets, a grande estrela da CES 2012 foi o Memo 370T, da Asus, que reúne alta performance e baixo custo. Equipado com o sistema operacional Android, do Google, o dispositivo é o primeiro de 7 polegadas do mundo a contar com o Tegra 3, o processador quad-core móvel da Nvidia. O Memo tem câmera de 8 megapixels, tela IPS de 1280x800 pixels, 1GB de memória RAM e pelo menos 16 GB de armazenamento, além de portas Micro-USB, MicroHDMI e leitor de cartão MicroSD. O produto chegará ao mercado nos próximos meses reço de US$ 249. pelo preço
Televisão A 55EM9800, da sul-coreana sul-co eana LG, é ultrafina (4 milímetros apenas) ape s) e combina em um grande formato (a tela t a tem 55 polegadas) as tecnologias OLED OL (cristais orgânicos eletroluminescentes) eletroluminesce e 3D. As telas OLED não precisam de luz de fundo ou lateral –o que permite q que a TV seja extremamente fina– e têm melhor m contraste de cores que as telas LED padrão. O aparelho que, por sinal, foi eleito eleit o melhor da CES 2012, pesa 7,5 quilos e deve custar cerca de US$ 5 mil. A previsã previsão é que chegue ao mercado no segundo semestre s deste ano. Entre as TVs, a maior inovação ficou por conta do modelo tran transparente lançado pela chinesa Haier. Co Comparado com um aquário, o aparelho de 22 polegadas e tela OLED permite a visualização visuali das imagens de ambos os lados. N Não deve ser disponibilizada tão cedo p para o consumidor comum, pois foi pens pensado para ser uma ferramenta de publicid publicidade.
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Ultrabook Desenhados para serem os computadores portáteis do futuro –são mais finos, mais leves e mais potentes que os notebooks graças principalmente aos últimos processadores Intel Core– e quebrar a dominação dos MacBooks da Apple, os ultrabooks foram as verdadeiras estrelas da CES 2012. Pesos pesados do setor como Acer, Asus, HP, Lenovo e Samsung já lançaram os seus, mas um deles seduziu a todos: o Envy 14 Spectre, da HP. Com design arrojado, o Spectre tem tampa de vidro, tela de alta definição de 14 polegadas e espessura de apenas 20 milímetros. Pesa 1,8 quilos. Além do Intel Core i5, o ultra da HP conta com teclado retroiluminado (uma lâmpada LED para cada tecla), bateria de longa duração (9 horas) e até a tecnologia Cool Sense, que ajusta o cooler interno para evitar o superaquecimento do aparelho. O preço? US$ 1.662.
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Moda&estilo ALTA TEMPORADA
Mix & Match A mistura de estampas tem vida longa: é um dos hits do verão que continua na temporada de inverno que vem por aí Cristina Bedendo São José dos Campos
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isturar estampas ou texturas pode tornar seus looks mais divertidos e exclusivos. Fazer coordenações ousadas, respeitando a harmonia entre as peças, é quase uma arte e você pode ir se aperfeiçoando a cada dia, na prática. No entanto, é preciso ter alguns cuidados para que as misturas sejam bem-sucedidas. A maneira mais fácil é, sem dúvida, combinar uma estampa com outra peça lisa em cores compatíveis. Mas se a ideia é coordenar duas estampas diferentes, o primeiro passo é eleger uma estampa dominante. Ou seja, uma delas deve chamar mais atenção no look, seja pela cor, vibração ou contraste. E como ela é dominante, o ideal é que esteja na região do corpo que você deseja ressaltar. Se você deseja camuflar a região do quadril, por exemplo, use a estampa dominante na parte superior e vice-versa. Outro ponto importante antes de coordenar as estampas do seu guarda-roupa é ter duas ou mais cores em comum entre as duas peças. Para equilibrar o visual, vale acrescentar uma peça lisa, como uma camiseta ou regata, por exemplo. Outra combinação interessante é coordenar estampas diferentes com as mesmas cores, como poás ou listras. Além das cores, as escalas das estampas precisam ser harmoniosas. Evite duas estampas com o mesmo tamanho e espaçamento ou desenhos que contrastam demais, como uma camisa de poás gigante com um floral bem miúdo. Para a mistura de texturas, vale o mesmo: é preciso ter harmonia entre os pesos dos materiais. Uma das coordenações que vale tanto no verão quanto no inverno é a de couro e renda, sempre em proporções equilibradas. Para o próximo inverno, anote a novidade: tricô levinho com paetês ou glitter. Para reinventar o closet! •
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DICA Para a mistura de texturas, vale o mesmo: é preciso ter harmonia entre os pesos dos materiais. Uma das coordenações que vale tanto no verão quanto no inverno é a de couro e renda
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Tempos ModernosArtigo
Alice Lobo
Lixo compactado: menos gasto, menos emissão, mais limpeza e mais saúde
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oro, num pais tropical, abençoado por Deus, e bonito por natureza. Mas que beleza! Em fevereiro, tem Carnaval, tem Carnaval... Quem nunca dançou ao som da música de Jorge Ben Jor e teve orgulho de ter nascido no Brasil e de promover a maior festa do mundo? Apesar de ter esta sensação, confesso que existe um senão que me incomoda muito: o lixo gerado nas ruas, avenidas, parques, praças, e sambódromos. E todo ano, depois da Quarta-feira de Cinzas, matérias em jornais e TVs mostram o “estrago” da folia. Por isso, resolvi abordar na coluna deste mês uma solução inovadora que conheci em Chicago e em Nova York no ano passado e vejo que está cada vez mais sendo adotada por cidades de New Jersey, onde estou morando. Destinada a locais abertos com alto número de transeuntes, está sendo instalada em espaços públicos dos Estados Unidos e de mais 30 países. O Big Belly Solar é um recipiente coletor de lixo com compactador interno de resíduos que usa somente a energia do sol para o seu funcionamento. Ou seja, ele amassa os detritos e é capaz de abrigar cinco mais vezes lixo no mesmo cesto. Existe a versão para lixo orgânico e para lixo reciclável. Entendeu a magnitude desta invenção? Num primeiro momento pode parecer simples e bobo, mas vamos pensar em tudo que
LIXO compactado com a energia solar
está por trás disso. A coleta de lixo nas ruas, parques, praias, instalações e outros locais públicos é uma atividade extremamente cara e poluente, pois precisa de veículos trafegando diariamente que emitem gases. Contudo, cada vez mais a população quer –e com razão– que este serviço tenha um nível satisfatório, sem gastar muito dinheiro dos impostos que pagamos e, de preferência, usando práticas mais sustentáveis. Afinal, quem não sonha com uma cidade limpa e despoluída? Pois bem, seguindo o raciocínio, o primeiro ponto positivo deste compactador de lixo é que ele reduz drasticamente a frequência da coleta de resíduos gerando uma economia de 70% a mais de 80%. Isso sem falar no benefício ambiental. A cidade da Filadélfia, na Pensilvânia, economiza US$ 900 mil por ano após a substituição de 700 cestos convencionais pela versão com compactador solar, uma previsão de
US$ 13 milhões em dez anos. Em 2009, o município coletava 17 vezes por semana o lixo em três turnos de trabalho. Um alto custo e uma alta emissão de gases. Em 2011, depois de adotar o produto, o resíduo é recolhido em media 2,5 vezes por semana em somente um turno. Além da economia financeira e ambiental, o design deste “cesto de “lixo” propicia que todo e qualquer resíduo fique hermeticamente fechado, evitando odores e prevenindo que pombos, ratos e outros animais tenham acesso ao mesmo, o que pode acarretar na geração de alto nível de E.Coli e outras doenças. Ou seja, evita um problema de saúde pública ao manter a área limpa. Pensando nisso, a cidade de Chicago, em Ilinóis, adotou o compactador solar nas suas “praias” ao redor do lago Michigan, o que evita que as mesmas sejam fechadas devido aos problemas de pestes causados por aves que se alimentam dos resíduos no verão. Assim como as pequenas atitudes geram grandes mudanças, as pequenas invenções são capazes de fazer uma enorme diferença a favor do planeta, do bem-estar e do bolso. Já que o Brasil importa tantas ideias internacionais, por que não adotar mais esta? Não sei se resolveria o problema do lixo do Carnaval, mas com certeza seria minimizado. E deixaria locais públicos limpinhos o resto do ano. Afinal, nosso país é bonito por natureza, mas temos que mantê-lo, não? •
Alice Lobo Jornalista alice@valeparaibano.com.br
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Notas & fatos Top Carol Trentini revela detalhes da sua cerimônia de casamento
Sean Penn é agora embaixador do Haiti
Nos bastidores do Fashion Rio, a top Carol Trentini falou sobre os preparativos de seu casamento com o fotógrafo Fábio Bartelt. Com a união marcada para 3 de março, a top contou que e ela mesma cuida de tudo. “Sou quase uma bridezilla! Noiva godzilla! Não quero que nada seja feito sem passar por mim!, brincou Carol. A cerimônia será realizada em Itajaí, cidade natal do noivo. O vestido será assinado por Olivier Theyskens, estilista e amigo da top. “O modelo será totalmente elaborado por ele, mas tenho certeza que ficará lindo!, explicou a noiva top, que terá que se dividir entre Nova York, cidade onde mora, e São Paulo onde o marido fotógrafo criou sua base. Neste início o casal morará na casa de Bartelt, em Higienópolis, mas os planos do casal podem mudar em breve, já que Carol não esconde o desejo de ser mãe.
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O ator e diretor Sean Penn, que vem dando muito apoio à recuperação do Haiti, atingido por um terremoto há dois anos, recebeu o “cargo” de embaixador-geral do país durante o evento Cinema for Peace, realizado em Los Angeles, Estados Unidos. Ao receber o prêmio humanitário do ministro das Relações Exteriores do Haiti, Laurent Lamothe, por suas ações
diante do povo haitiano, Sean declarou que aceitou o “título” com muito orgulho e ainda acrescentou que seria muito emocionante ser chamado de “Sr. Embaixador”. O evento arrecadou cerca de US$ 5 milhões, quantia que será enviada ao Haiti. O músico irlandês Damien Rice arrecadou uma guitarra doada por Bono Vox , do U2, pelo valor de US$ 475 mil.
HOMENAGEM
Beyoncé vira nome de mosca Uma rara mosca australiana foi batizada em homenagem à diva do pop Beyoncé pela semelhança do tom dourado do inseto com a roupa usada pela cantora no videoclipe “Bootylicious”. Esta cor brilhante faz com que a Scaptia (Plinthina) beyoncea se torne “a diva das moscas de todos os tempos”, disse Bryan Lessard, entomologista da Organização para a Pesquisa Industrial e Científica da Austrália. Não é a primeira vez que um inseto é batizado em referência a um artista, Neil Young e a banda Ramones, entre outros, já tiveram essa honra.
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Quem falou o quê?
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Carey Mull CONFISSÃO
Carey Mulligan diz que teve vergonha de Sissy Na pele da desinibida Sissy em “Shame”, a atriz Carey Mulligan disse que encontrou dificuldades para desempenhar o papel pois, diferente dela, a personagem é uma exibicionista, muito extrovertida, e chega a aparecer nua em uma das cenas. “Tive que trabalhar sem inibições. Sou do tipo que não usa biquíni na praia e que anda pela casa de pijamas. Fiquei dez anos sem me ver nua no espelho. Sou muito pudica”, admitiu a atriz, de 26 anos. Questionada se sua família não costuma andar nua pela casa, a atriz foi enfática: “Não, não, não, não, não, não”.
No dia 18 de fevereiro, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Fernando Meirelles e Maria Gadú vão ser alguns dos foliões ilustres do desfile da Àguia de Ouro, no sambódromo do Anhembi. O motivo das presenças ilustres é que a escola virá com o samba “A Tropicália da Paz e do Amor”, uma homenagem aos músicos.
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SUCESSO
Michel Teló compra fazenda ‘humilde’
”Ela achou uma honra a Luana ter me beijado. Ficou até com inveja” Marcelo Adnet, ator e humorista, sobre a reação de sua mulher ao saber dos beijos no filme “As Aventuras de Agamenon”
”Eu enxergo como uma coisa bem assustadora” Sandy, prestes a completar 29 anos, diz que a proximidade dos 30 a deixa apavorada
”Não sou uma pessoa que abaixa a cabeça. Se tenho de discutir, discuto, e principalmente por justiça”
Carnaval de peso
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Lilia Cabral comparando a sua personagem Griselda consigo na vida real
”Você sabe que não engulo sapos. Nem frangos!” Narcisa Tamborindeguy, socialite, dirigindo-se a Val Marchiori, mulher do empresário Evaldo Ulinski, proprietário do frigorífico Big Frango
A música de Michel Teló já alcançou os quatro cantos do mundo. Ele é sucesso em países que jamais imaginou que poderia estar, mas chegou. Foi recebido como astro no Real Madrid por todos os jogadores que não se cansam de comemorar os gols nos passinhos de “Ai, se eu te pego”. E, segundo o jornal “O Globo”, Michel Teló vem gastando tudo e mais um pouco. Na realidade, ele está investindo. Dessa vez, Michel teria comprado uma fazenda no Pantanal, na cidade de Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Isso seria a coisa mais normal do mundo, afinal outros sertanejos também investem em propriedades rurais. O que acontece é que a fazendinha que Teló comprou não é muito humilde. São mais de 140 milhões de metros quadrados ou, 14 mil hectares. Para você ter uma ideia, essa foi o tamanho da tragédia na Patagônia que foi devastada por um incêndio. Nem o governo Lula conseguiu desapropriar tamanha área para reassentamento durante os últimos anos de governo.
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ValeViver CULTURA
Notas raras Sim, existem profissionais especializados em carregar e restaurar pianos; profissão, que é passada de geração para geração, está cada vez mais escassa no mundo Isabela Rosemback São José dos Campos
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s mais de 45 anos de experiência já pesam sobre a coluna de Paulo Henrique Canelhas, 59 anos, que hoje conta com a ajuda de dois filhos para levar adiante o seu ofício de transportar, reformar e afinar pianos em São José dos Campos. Uma profissão rara e que chega à terceira geração da família com uma demanda de serviço ainda surpreendente se considerado que, nas últimas décadas, a tradição de ter o instrumento na sala de casa para pais e filhos tocarem tem sido sobreposta por outros costumes da vida moderna. Na oficina montada ao fundo de sua casa, na zona leste da cidade, Canelhas dedica-se ao conserto e à manutenção de pianos com a devoção de quem, desde criança, aprendeu a respeitar cada peça do instrumento para mantê-lo impecável aos olhos, dedos e ouvidos de quem o toca. Um restauro, dependendo do modelo, pode consumir até 90 dias de trabalho até que volte afinado para o seu dono. “Antigamente, as famílias tinham de ter piano em casa, mas isso mudou com os anos. Passamos pela febre dos teclados eletrônicos e esse costume foi sendo abandonado. Só que sempre vai ter gente para tocá-lo. Quem gosta do instrumento não o substitui. Tenho um cliente de 15 anos que é apaixonado pelo dele. Isso é lindo, é divino. Há poucos assim, mas ainda existem”, comemora Canelhas.
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Hoje, ele afirma que os que procuram a sua empresa são principalmente mulheres que estudaram música quando criança. Em grande parte, são pessoas que se casam e que fazem questão de levar o instrumento para a nova casa. Mas os casos não se esgotam: vão desde pianos herdados em imóveis, e dos quais a família quer se desfazer, até clientes que querem trocar de equipamento ou recuperá-los depois de danificados. Em todos os casos, Canelhas e seu time estão preparados para atuar. “Não tem nada que a gente não faça em um piano”, orgulha-se o especialista, que recebeu a reportagem do valeparaibano em seu ateliê. “Mas demora anos para você aprender tudo, não é fácil”, conta. O fato de trabalhar com os filhos é um alento para outra preocupação de Canelhas, que não só o desgaste físico. “Eles se tornaram minha equipe, porque não existe mão-de-obra especializada. Hoje eles já sabem afinar o instrumento, além de puxar as cordas na hora do transporte. Mesmo assim, ainda não consigo deixá-los sozinhos na afinação”, confessa. Segundo ele, o deslocamento do piano é uma tarefa delicada, por vezes exaustiva, e se faz necessário ser posta em prática pelas mãos de pessoas gabaritadas. Assim, evitam-se danos ao som e à própria estrutura do instrumento. Além disso, o despreparo no deslocamento pode colocar em risco a vida de quem assume o desafio em casos mais complexos de mudanças. “Dependendo do modelo, ele pode pesar de 300 a 500 quilos. Se uma correia se rompe em uma escada, por exemplo, pode prensar a pessoa contra a parede”, justifica.
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Flávio Pereira
EXPERIÊNCIA
Paulo Henrique Canelhas, um dos poucos restauradores e afinadores de piano que ainda exercem a profissão no Vale do Paraíba
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Afinação Canelhas conta que, ao contrário do que se possa pensar, o piano não desafina tanto na hora em que está sendo transportado por um carreto, mas sim na hora em que é deslocado manualmente da casa do dono. “No carro, hoje, há amortecedor. O cuidado está no manuseio. Se não souber pegar com jeito é pior. Da nossa maneira desafina pouco. O negócio é não batê-lo nesse processo”, resume, explicando que o som também pode ser alterado pela ação da umidade e do calor, entre outros fatores, sobre a madeira. Para dar uma dimensão da fragilidade com que lida, Canelhas compara o piano a uma criança. “É uma peça melindrosa, que exige muito cuidado. Não pode sair batendo por aí. Tem de levá-la no colo, embalá-la todinha, entre correias. Fazemos o que eu chamo de ‘canga’, passando essas tiras pelo ombro”. Na garagem de Canelhas, no mês passado, havia dois pianos velhos embalados. Eram de famílias que desistiram de mantê-los em casa. “A mecânica deles, que é o que os faz tocar, precisa de revisão. Uma reforma neles, e eles ficam bons”, conta. Em muitos casos como estes que chegam à oficina, os instrumentos são reformados para serem vendidos ali mesmo, cabendo aos donos receberem a sua porcentagem. “Houve um caso de um morador de Juiz de Fora (MG) que contratou um caminhãozinho para trazer o piano para cá, mas ele chegou destruído. Quando me consultou para o restauro, disse que não tinha dinheiro para pagar. Por isso foi posto à venda”, conta. Para se aprimorar na função ao longo de todos esses anos, Canelhas ampliou os conhecimentos adquiridos ainda pequeno, com o pai, fazendo estágios nas fábricas de piano que existiam no Brasil –as extintas F. Essenfelder (Curitiba) e M.Schwartzmann (Mogi das Cruzes), e a Pianofatura Paulista, responsável pela fabricação da marca Fritz Dobbert. “Cumpria horas acompanhando os profissionais da área nessas empresas, observando a montagem e fazendo perguntas. Eles não me ensinavam a trabalhar, mas respondiam às minhas dúvidas e me davam dicas e materiais didáticos. Conheci técnicos que me ensinaram muito nesses lugares”, conta. Esse interesse todo por pianos começou em Lambari, cidade mineira em que o seu pai – Jeser, que hoje mora no centro de São José dos Campos– deu início à atividade que se tornou um ofício de família. “Meu pai toca muito, era regente de coral de igreja. Ele aprendeu a tocar
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TĂ&#x160;NIS PARA
O CORPO E A MENTE
Ronny Santos
O tĂŞnis ĂŠ um dos esportes mais completos, pois alĂŠm de trabalhar todos os grupos musculares, ajuda a perder peso e auxilia no bem estar fĂsico e mental. - Aulas individuais - Dupla ou grupo - Daher Kids - Locaçþes - Ranking Daher Tennis - Equipe de treinamento
- Sala de lsioterapia pilates - Nutricionista - Lanchonete - Restaurante - Loja esportiva
CUIDADO
Bater o instrumento durante o transporte ĂŠ a pior coisa que pode acontecer
ainda em Minas, com um senhor que o ensinou o que sabia sobre conserto. Naquela ĂŠpoca nĂŁo havia tĂŠcnicos nas capitais. Assim, passou a fazer bicos de piano enquanto trabalhava com rede elĂŠtrica. Quando se tornou contĂnuo de banco, veio trabalhar em SĂŁo JosĂŠ, por volta de 1969, e aqui se aposentouâ&#x20AC;?, conta. Atividade Na segunda metade da dĂŠcada de 1970, Jeser voltou a se dedicar com mais exclusividade a essa atividade, que ele nunca havia abandonado. Na dĂŠcada de 1980, entĂŁo, pai e filho criaram a oficina que hoje ĂŠ tocada por Paulo Henrique Canelhas. â&#x20AC;&#x153;Essa, hoje, ĂŠ uma profissĂŁo em extinçãoâ&#x20AC;?, defende ele, que, para reformar um piano, o desmancha inteiro. As cordas sĂŁo separadas cuidadosamente em eixos feitos de arame, na ordem em que estavam no instrumento, para apĂłs o restauro voltarem para suas posiçþes de origem. â&#x20AC;&#x153;A parte mecânica ĂŠ a mais difĂcil, sĂŁo muitos eixos. Cada um tem quase 300 peças. Fico mais com a parte de acabamento e com o transporteâ&#x20AC;?, conta um dos filhos, VinĂcius Maciel Canelhas, 31 anos.
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Um dos Ăşltimos desafios da famĂlia foi o transporte de um piano por oito andares de um prĂŠdio, apĂłs trazĂŞ-lo de Belo Horizonte (MG). â&#x20AC;&#x153;Mas o nosso carro-chefe, mesmo, ĂŠ a reforma e a afinação do instrumentoâ&#x20AC;?, afirma Paulo Henrique Canelhas. No currĂculo do especialista, que tambĂŠm fez aulas de piano e toca teclado em bailes e estabelecimentos da regiĂŁo, estĂĄ a afinação de pianos em apresentaçþes como as de Raul Gil, Ray ConiďŹ&#x20AC;, Pedrinho Mattar e Cesar Camargo Mariano â&#x20AC;&#x201C;todos em shows realizados aqui na regiĂŁo. â&#x20AC;&#x153;Mas temos bons pianistas por aqui. TambĂŠm fazemos manutençþes fixas de pianos em igrejas. Nessa ĂŠpoca, a demanda ĂŠ menor por causa das fĂŠrias, mas ainda fazemos serviços em pianos de escolas. JĂĄ ao longo do ano, chegamos a ter semanas com a agenda cheia. Ă&#x2030; inconstanteâ&#x20AC;?, afirma Canelhas, que tambĂŠm jĂĄ tocou saxofone na noite valeparaibana . E quando perguntado o que gosta de fazer nas horas vagas, a resposta nĂŁo surpreende: â&#x20AC;&#x153;Eu ouço mĂşsica e fico fazendo arranjos ou playbacks para as minhas apresentaçþes. Gosto de todos os tipos de mĂşsica. Eu vivo e respiro isso e toco atĂŠ sertanejo no pianoâ&#x20AC;?, diverte-se. â&#x20AC;˘
Agende uma aula experimental *Verifique horĂĄrios disponĂveis na secretaria da academia. Av. Lineu de Moura, 1735 - Urbanova, SĂŁo JosĂŠ dos Campos - SP Tel.: 12 3949-2228 / 7813-1616 www.dahertennis.com.br
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O futuro de São José não é uma promessa, mas
criar novo acesso ao Urbanova e agilizar os
uma realidade que se consolida dia após dia.
deslocamentos a pé, de bicicleta, de carro
A Via Banhado, Via Urbanova e o prolongamento
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e, principalmente, de quem usa o transporte
da Via Oeste significam cerca de 10 quilômetros
público. E com isso, aumentar a fluidez viária
de soluções para a cidade, ligando diversas
para toda a cidade, desafogar o trânsito do
regiões e facilitando o acesso à Dutra e Tamoios.
centro e melhorar a mobilidade de todos.
Esta estrutura também formará um cinturão
Esta é a São José que estamos fazendo hoje,
que vai proteger ainda mais o nosso Banhado,
construindo o amanhã.
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OS PROJETOS DA VIA BANHADO, VIA URBANOVA E PROLONGAMENTO DA VIA OESTE JÁ ESTÃO EM ANDAMENTO.
SÃO JOSÉ: FUTURO EM CONSTRUÇÃO.
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COMPORTAMENTO
A eterna busca dos solteiros Sexo casual, relacionamentos sérios, amores de verão, casamento ou só alguns beijos na balada: não importa, o que ninguém quer é ficar sozinho
Fábio França São José dos Campos
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ma noite comum no final de semana. Cenário: a frente de uma casa noturna. A fila é majoritariamente composta de solteiros querendo terminar bem a noite. Em uma quase-gíria, isso significa estar em boa companhia. As maquiagens carregadas e o cheiro de Kaiak (um dos per-
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fumes masculinos mais vendidos no Brasil e cheiro certo em qualquer balada), dividem espaço com flertes vorazes. Já as ações impressionáveis –compostas essencialmente de posturas impecavelmente eretas e jogadas de cabelo que denunciam o interesse– têm seu propósito dissolvido na lógica de pressa do mundo dos smartphones, que confere aos relacionamentos um status de jogo: aperte o play esta noite e na manhã seguinte, esteja pronto para outros jogos. Logo em seguida ao interesse em co-
nhecer o outro, mesmo que por alguns minutos, roubam a cena as teorias que apontam o consumo desenfreado tomando conta das relações, construindo um ambiente onde as coisas são amadas e as pessoas usadas. O resultado nas próximas noites, ou nos próximos cinco minutos, é que se alguém soltar um “oi” ao reencontrar a pessoa que estava beijando, já um grande sinal de intimidade. Todas as críticas ou advertências feitas a este comportamento, no entanto, não livra os solteiros de viverem esta re-
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alidade. E dentro deste universo, ainda existem diversas subdivisões de relacionamentos fugazes. Para o empresário Rafael Morais, 29 anos, solteiro há dez meses, existem alguns fatores que acabam dificultando uma interação sem superficialidades. “Tem a falta de interesses em comum e um pouco de perda de valores, tanto da parte masculina quanto feminina. A necessidade da independência também prejudica muito”, avalia ele, que busca relacionamento sério, mas aponta que
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poucas candidatas estão dispostas a levar um envolvimento real adiante. A estudante de marketing Melissa Prado Pires, 22 anos, não namora há pelo menos um ano e acha que o processo tem que fluir naturalmente e longe da regra que diz “na balada, nunca aprofunde o papo”. “Confesso que mesmo na balada gosto de um bom papo, uma conversa inteligente e estimulante. Acho que nesse ambiente existem todos os tipo de papos, desde uma xavecada horrorosa a um papo mais descontraído. Vai do interesse de cada um saber
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com quem vai querer conversar, mas não é fácil achar tudo em uma única pessoa”. Para ela, a dificuldade para que um relacionamento real aconteça está em ambos os sexos. “Cada dia que passa é mais difícil se relacionar e isso serve para as mulheres e para os homens. O homem criou o hábito de generalizar a mulher. Há muitas por aí que se entregam muito fácil por qualquer homem, sem ao menos conhecêlo. E quando ele conhece uma mulher que se preserva, vai tratá-la da mesma forma, como se fosse normal”, conta.
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Off e Online Se no olho no olho o jogo da conquista começa e acaba na maioria das vezes restrito ao objetivo de ficar assumidamente por pouco tempo, o mundo virtual parece ser um local seguro para assumir as necessidades emocionais. “O que percebemos dos nossos usuários é que as pessoas trabalham cada vez mais e têm menos tempo para namorar e é justamente por essa razão que os sites de relacionamento vêm crescendo tanto. Outro ponto é que entram no mercado de trabalho mais cedo e começam a se relacionar mais tarde. O círculo de amigos também acaba muito rápido. No mundo todo percebemos essa mudança de comportamento”, comenta Claudio Gandelman, presidente do site ParPerfeito, maior site de relacionamentos do país. Com 30 milhões de usuários, Gandelman considera que o site, específico de relacionamentos, seja mais eficaz que as redes sociais para por um fim à eterna busca dos solteiros. “Sem dúvida os sites de relacionamento são mais uma ferramenta, talvez a mais eficiente, para ajudar nessa busca. As redes sociais, como Orkut e Facebook, não considero tão eficazes porque ninguém coloca lá que está à procura de um namorado e quer alguém assim e assado. Não pega bem”. Engana-se quem pensa que a opção é majoritariamente das mulheres: 51% dos usuários são homens. A faixa etária predominante é entre 18 a 24 anos, que corresponde a 32% dos usuários. Entre 25 a 35 anos ocupa o segundo posto (23%), seguido de 36 a 45 anos (30%) e acima de 46 anos (15%). Os usuários são de maioria com nível superior (que une completo e incompleto), com 38% dos usuários; 33 % apontam como nível técnico; 8% mestrado e 6% PHD ou doutorado. No perfil comum da maioria dos usuários está o relacionamento sério como escolha principal, correspondendo a 70%. Já 15% informam buscar relação casual, 14% sexo e 1% amizade. Perfis S/A Aproveitando da zona de conforto que os usuários estão (sob a condição de anônimos), a direção do site organizou uma pesquisa extensa sobre aspirações em uma relação e também nos possíveis candidatos e candidatas. Uma das principais surpresas veio com o padrão físico: as mulheres mais cheinhas são mais desejadas do que as que malham. O tipo também
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TREINO
Maurício Cabral, couch amoroso na empresa Full Mind, em São José
Mulheres cheinhas fazem mais sucesso nos sites de relacionamento do que as que vão para a academia para manter o corpo magro e malhado
vale para os homens já que os com quilinhos extras foram preferidos. Outros itens revelados na lista estão a frequência com que cada um sai. Entre os homens, de todas as faixas etárias, 31% sai duas vezes por semana. Já entre as mulheres há uma diferença mínima, com 28% saindo uma vez na semana e 27% duas vezes por semana. Apesar das diferenças no comportamento durante a busca, ambos se identificam com valores familiares, sendo 58% deles e 51% afirmando que querem ter filhos.
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Encarando o espelho De acordo com a psicóloga Fernanda Guimarães, tanto nos casos online quanto nos offline, a questão-chave está ligada ao embate ser versus ter. “Não vale mais a pena conhecer alguém profundamente, em um relacionamento sério e duradouro, porque esse traz consigo aspectos difíceis e trabalhosos, característicos das relações humanas. Assim, o que importa hoje é a possibilidade de poder deletar certa pessoa de sua vida, como se faz nas redes sociais quando se cansa de determinado amigo e passar para outra mais interessante”. A solução para a situação, segundo ela, deve ser encarada de forma simples, mas com firmeza no questionamento sobre as próprias vontades. “As pessoas precisam ter em mente qual é o objetivo delas, o que elas realmente querem e até onde estão dispostas a ir. Querem um relacionamento duradouro ou um passatempo por uma noite? Querem conhecer alguém mais profundamente ou querem um relacionamento mais superficial? As pessoas precisam se conhecer melhor, para assim poderem escolher o que querem para suas vidas”.
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MAURÍCIO CABRAL Couch amoroso, na empresa Full Mind, de São José dos Campos Qual seria o problema dos solteiros atualmente, com essa busca que aparentemente não termina nunca? É a falta de foco. De saber, de me conhecer para saber o que se quer realmente. Por exemplo: nós vivemos em um tempo em que o padrão de beleza é a Gisele Bundchen. Se não tiver aquele cabelo, aquele corpo e aquele padrão, eu não quero. Porque esta é a influência que eu recebi. Mas se a pessoa tenta se conhecer melhor, ela pode descobrir que não quer necessariamente um avião, mas um avião que tenha pneus. O que impede uma relação de dar certo? É sempre a insegurança. As pessoas acham que têm que ter o outro o tempo todo com elas para que dê certo e para que não se sintam ameaçadas.
Como você aconselha que seja trabalhada a questão fidelidade versus lealdade? As pessoas devem se perguntar o que é a fidelidade para elas. Muitas vezes, o conceito de fidelidade acaba implicando em ter que castrar a outra pessoa. É preciso compreender mais os desejos de cada um e entender os anseios de cada um. Devem estabelecer regras para a relação. E qual seria o principal problema para as relações que não dão certo? A comunicação é o principal problema. Apesar de estarmos o tempo todo ligados em celulares, desaprendemos a conversar e a nos expor. Em vez de a namorada dizer que está se sentindo insegura porque ele vai jogar bola nas quartas à noite, ela opta por guardar, até que uma hora, toda a tensão acumulada explode. As pessoas devem expor mais o que pensam. •
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Formar pessoas competentes na vida acadêmica, no mundo do trabalho e na vida social são objetivos de toda escola. Fazer a diferença é o nosso desafio! Comece escolhendo uma ótima escola.
Alunos bem formados, com visão de futuro, focados na sustentabilidade pessoal e do planeta, são indivíduos prontos para formar um mundo melhor.
MATRÍCULAS ABERTAS
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Formando um mundo melhor.
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ARQUEOLOGIA
Ossos da história Em Redenção da Serra, série de ossadas de escravos e fazendeiros que viveram ali entre os séculos 17 e 19 ‘brota’ da terra; não há preservação e um pedaço da trajetória do Vale some a cada dia Simone Gonçalves Redenção da Serra
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m mistério que envolve história, lendas e polêmica começa a ser desvendado em Redenção da Serra. O alvo da curiosidade é um terreno no bairro do Carabepa, às margens da rodovia Oswaldo Cruz (que liga Taubaté a Ubatuba), que abriga um cemitério bicentenário, do qual não há informações precisas sobre a data de criação e sobre as pessoas enterradas ali. A partir do cruzamento de dados históricos e relatos da comunidade, pesquisadores acreditam tratarse de uma área onde foram sepultados escravos e antigos fazendeiros da região. O cemitério está situado em uma antiga fazenda cafeeira, numa parte do terreno que fica próximo à antiga senzala da propriedade. Atualmente, não há vestígios da senzala. O terreno em declive é tomado por vegetação e fica próximo a um posto de saúde da prefeitura e uma igreja em devoção à Nossa Senhora da Piedade, na altura do km 29 da rodovia. Todo o espaço pertence à Diocese de Taubaté. “O que se fala é que estão enterrados escravos, não sabemos ao certo, mas o lugar era uma grande fazenda e nesse pedaço ficava a senzala”, disse o aposentado José Benedito dos Santos, 70 anos, que mora na comunidade.
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Além do interesse histórico nos segredos abrigados no cemitério, a existência de ossos humanos no espaço é alvo de uma polêmica que envolve o poder público, igreja, moradores e motoristas que trafegam pelo local. Nos últimos meses, duas ossadas ficaram visíveis no barranco que margeia a rodovia, causando espanto nas pessoas que cruzavam o local. Motoristas foram até a Polícia Civil, que abriu investigação e pediu providências à prefeitura. Representantes da administração municipal visitaram a área e acionaram a Diocese. A igreja afirma que fará o levantamento arqueológico e que pretende construir um memorial no terreno em alusão aos sepultados. Os corpos aparentes às margens da Oswaldo Cruz foram removidos e novamente enterrados –desta vez distante do barranco. Ao contrário do espanto de ‘visitantes’, para a comunidade do bairro a existência do cemitério não é novidade. “Sabemos que é um cemitério muito antigo da cidade, não é uma coisa estranha. Chama a atenção dos outros quando aparece algum osso, como já aconteceu”, disse Maria José da Silva Santos, 44 anos, moradora do Carapeba. O “aparecimento”das ossadas seria motivado especialmente por chuvas, que causam erosões no terreno e a consequentemente a exposição dos ossos. Devido à fama local, o espaço recebe pessoas para orações, além de contar com fieis que depositam flores e velas no solo. Alguns
Há quem acredita que o cemitério escravo contém forte energia que pode potencializar pedidos de graças divinas. Outros temem assombrações
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Flávio Pereira
ENTERRO
Maria José encontra ossos e faz por conta própria um ‘enterro digno’ no terreno próximo de sua casa
acreditam que a área contém forte energia, que pode potencializar pedidos de graças divinas. O cemitério não tem portão de acesso ou cercas, o que permite o livre ingresso e permanência de pessoas no espaço. “Em dia de almas as pessoas visitam o cemitério, deixam flores, coroas, acreditam que é um lugar especial”, disse Maria José. Há também quem também acredite que o espaço abriga assombrações e maldições. Uma das lendas mais comuns envolve uma suposta família de moradores de São Paulo que teria cruzado a Oswaldo Cruz com
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sentido a Ubatuba. À noite, ao passar em frente ao cemitério, o carro teria quebrado repentinamente. Os visitantes teriam avistado uma espécie de luz azul em formato circular. A “bola” teria percorrido o terreno e depois desaparecido. Imediatamente, o veículo teria voltado a funcionar. Há também histórias de aparições, como vultos e silhuetas que percorreriam o terreno. Para Maria José Vieira dos Santos, 86 anos, uma das moradoras antigas do bairro, as histórias não passam de lendas. “Só tenho medo dos vivos, pelos mortos tenho
respeito”, afirmou ela, cuja rotina diária de atividades confirma as palavras. Maria José mora há poucos metros do cemitério e há décadas ‘adotou’ o espaço, seguindo uma tradição que vinha da família do marido, Tarcísio dos Santos, 85 anos. O pai de Santos tinha o costume de capinar e manter arrumado o terreno do cemitério. A tarefa passou para ele e agora é desempenhada por Maria José. É ela quem recolhe ossos que “brotam” do chão, como as duas estruturas encontradas em 2010. “Tirei e enterrei de novo em um lugar mais para cima, não importa quem seja, acho que nenhuma pessoa merece ficar desta forma”, disse. De maneira totalmente caseira e sem cerimônias, ela recolhe os ossos e acha um novo espaço para eles. Ao enterrá-los, Maria José tem o cuidado de fazer uma pequena cruz de madeira, com pedaços do material e gravetos localizados no terreno. Ela acredita já ter feito mais de 20 mudanças durante os anos como guardiã do cemitério e estima ainda haverem mais de 80 ossadas. “Não tenho um número certo, sei que havia um livro de óbitos e se falava em 80, acho que é por aí.” Na área central do terreno há um cruzeiro, construído há ao menos dez anos por Tarcísio. Maria José faz questão de manter flores no local. “Acho que muitos destes escravos que trabalharam foram enterrados de qualquer jeito, sem nenhum agradecimento pelo que fizeram a vida inteira”, disse.
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Histórico A preocupação de Maria José não é infundada, segundo historiadores. Eles afirmam que há a existência de cemitérios unicamente de escravos, mas que o sepultamento displicente dos trabalhadores forçados também ocorria. “Muitos escravos foram apresentados à fé católica e batizados. Estes, como cristãos, deveriam ter os mesmos cuidados no sepultamento do que as outras pessoas”, disse a historiadora e professora da Unitau (Universidade de Taubaté), Rachel Abdala. Segundo a professora, o Vale do Paraíba abrigou seu maior contingente de escravos no século 19. A atividade teria começado no final do século 17 e percorrido todo o século 18. Os negros trabalhavam especialmente no cultivo do café. Curiosamente, a história da libertação da escravatura converge com a de Redenção da Serra. O município foi pioneiro na abolição, decretando-a três meses antes do feito no país. O histórico do cemitério também se entrelaça com a trajetória de desenvolvimento da região e seus acontecimentos mais recentes.
A construção da rodovia Oswaldo Cruz, na década de 60, foi responsável pela mudança no traçado da área. A estrada “cortou” o cemitério. “A rodovia passou pelo bairro e pelo cemitério, dividindo a área”, disse a secretária de Turismo, Rita de Cássia Camargo. Ela acredita que o cemitério pode se tornar um ponto de visitação turística da região, com foco na valorização do aspecto histórico do espaço. Contudo, afirma que é necessário um trabalho de resgate e estruturação do local. “Além da importância como patrimônio histórico e cultural, são ossadas humanas, não podem ficar de forma aleatória lá”, disse a secretária, que cobra da diocese a realização de ações necessárias no espaço, em especial o trabalho arqueológico.“Nos oferecemos para tentar localizar um profissional que possa fazer este trabalho, tem que ser realizado um levantamento das ossadas que estão no cemitério”, disse. Rita afirmou já ter sido procurada por famílias de agricultores da cidade que dizem ter parentes enterrados no local. “É um cemitério da época dos escravos, mas também há famílias de fazendeiros da região e moradores
do bairro lá”, afirmou. O cuidado também seria uma forma de disciplinar o uso do terreno, garantindo seu desuso atual. A historiadora da Mitra Diocesana, Olga Rodrigues Nunes de Souza, deverá fazer uma vistoria no terreno. Segundo Olga, será feito o levantamento histórico do espaço. “Vamos tentar recolher informações sobre este lugar, tanto com a comunidade quanto nos arquivos da igreja”, disse. A historiadora também acredita que as ossadas possam pertencer a escravos, mas aponta que o local deve ter sido utilizado por toda a comunidade do bairro em décadas passadas. “A princípio tudo é possível e será verificado. Parece ter sido uma área de uso comum da comunidade daquela região”, disse. Uma das fontes para a pesquisa serão livros de óbitos arquivados pela diocese. “Ainda não sabemos se há registros dos sepultamentos feitos neste local”, afirmou. A partir do histórico produzido, a diocese planeja construir no local um marco ou um memorial em homenagem aos enterrados e estuda outras ações como a realização do levantamento arqueológico no espaço. •
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SEMELHANÇA
Michelle Williams pode não ser uma ‘sósia’ de Marilyn, mas sua atuação surpreende no filme
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CINEMA
Uma semana platinada ‘Sete Dias com Marilyn’ tranforma as anotações do escritor Colin Clark em um filme que traz Michelle Williams interpretando a loira mais famosa de Hollywood Franthiesco Ballerini São Paulo
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la ajudou a popularizar o estereótipo da “loira burra” graças aos seus adoráveis papéis de tolinha em Hollywood, embora ela mesma não fosse loira de verdade. Marilyn Monroe, a atriz mais famosa do mundo até hoje, e uma das poucas em que se pode realmente chamar de estrela, não era nada burra na vida real, construindo uma carreira que ajudou a sustentar, quase que sozinha, a Fox nos seus tempos mais difíceis. No próximo dia 10, chega às telas “Sete Dias com Marilyn”, produção que já levou o Globo de Ouro, de Melhor Atriz para Michelle Williams, no papel principal. Dirigido pelo estreante em longas Simon Curtis, é baseado na história real da semana em que o escritor britânico Colin Clark foi assistente de Marilyn em 1956, durante as filmagens de “O Príncipe Encantado”, na Inglaterra, contracenando com ninguém menos do que Laurence Olivier. Detalhe, Marilyn estava na Inglaterra também por conta de sua lua de mel com o escritor Arthur Miller, que fora embora trabalhar, deixando ao colega Clark a missão de apresentar o Reino Unido a ela. Tudo que Clark e Marilyn fizeram fora registrado em um diário escrito por ele, lançado em dois livros em 1995 e 2000. Quem vive Olivier é o ator Kenneth Branagh e Miller é interpretado por Dougray Schott. A ex-Harry Potter Emma Watson e Judi Dench também fazem parte do elenco.
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O filme já fora exibido em alguns festivais e também já estreou nos EUA. Fora bem recebido pela crítica, especialmente a atuação de Michelle Williams, que apesar de estar longe de ter a sensualidade de Marilyn, ao menos cumpriu bem o papel de interpretar um mito cinematográfico, a ponto de alguns críticos dizerem que Williams desaparece no filme, deixando apenas a presença de Marilyn. Agradável de se ver, mostra uma história de amor altamente improvável entre a diva do cinema e o terceiro assistente de direção do filme de Olivier, aspirante a alguém na vida. Enquanto o departamento de maquiagem e figurino deixou Williams muito próxima de Marilyn, com o bocão, os seios pontudos e os cabelos, foi Williams quem devorou os filmes e
bastidores da diva para fazer a voz e os maneirismos dela. O mais difícil, porém, foi mostrar Marilyn longe das câmeras, sozinha ou com pessoas que nunca registraram o que ela falou e como ela agiu. Há muito pouco gravado de making of de Marilyn na história, no entanto, Michelle Williams passa com segurança a sensação de que tudo aquilo realmente aconteceu. A história mostra, por exemplo, a frustração de Laurence Olivier, um ator absolutamente metódico, com Marilyn, que diz não acreditar na motivação da personagem que interpreta, criando atrasos e caos na produção. Branagh também está ótimo como Olivier, que embora seja um papel secundário, ganha vida intensa no filme. Ele ajuda a mostrar a dualidade entre Norma Jeane Baker, a mulher frágil e inseFotos: divulgação
ANOTAÇÕES
Eddie Redmayne vive o escritor Colin Clark, que escreveu em seu diário as aventuras com a loira
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SENSUALIDADE
Filme retrata momento bastante picante da vida pessoal da atriz
gura, e Marilyn Monroe, a diva a qual Norma se transformou. Não há nenhum segredo ou novidade sobre a vida de Monroe que pipoca no filme e surpreende o mundo. Tudo ali já é de conhecimento de décadas da imprensa mundial. No entanto, o roteiro faz um recorte interessante na vida da diva. Em vez de querer abraçar o mundo –contando a saga de Marilyn do nascer ao morrer, o que acaba gerando filmes superficiais e óbvios– a trama foca um momento particularmente picante da vida da musa, quase tão fervoroso quanto suas relações com o então presidente John F. Kennedy. Como teria ficado a personagem se Scarlett Johansson tivesse aceitado o papel, visto que ela era a atriz mais desejada pela produção para encarar a missão? Impossível saber, mas certamente a atuação chamaria mais atenção, especialmente após a divulgação das fotos em que Johansson aparece nua, no ano passado. No final das contas, o filme é todo sobre percepção e manipulação. A percepção que o público e os colegas tinham de Marilyn e como eles manipulavam-na, bem como ela manipulava quem estava ao seu redor. “Eu cresci com um pôster dela em cima de minha cama, e sempre fui mais interessada em conhecer a Marilyn privada e resguardada das câmeras, a Marilyn antes da Marilyn”, comentou Michelle Williams no lançamento do filme nos EUA. O filme foi rodado em Los Angeles e no Reino Unido, inclusive na Parkside House, casa onde Marilyn se hospedou enquanto filmava o longa. Com um ar ao mesmo tempo moderno e retrô, “Sete Dias com Marilyn” é uma boa opção de entretenimento, descompromissado e, ao mesmo tempo, com boas atuações. A ascensão do mito Nascida Norma Jeane Baker em 1º de junho de 1926, Marilyn passou a infância em casas de pais adotivos, começou como modelo e só entrou para o cinema aos 20 anos. Sua persona “loira burra” foi criada no filme “Os Homens Preferem as Loiras” (1953), clássico de Howard Hawks, usado ao longo de toda a carreira posteriormente. Tendo sofrido abusos sexuais na infância, carregou distúrbios de sono e abuso de substâncias químicas ao longo de toda a vida. O nome Marilyn Monroe foi sugerido por Ben Lyon, executivo da Fox, que o achava sexy e poderoso. Mas antes de se tornar uma atriz, fez até fotos nuas para sobreviver, ganhando pouquíssimo dinheiro. Também estudou literatura e arte na Uni-
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versidade da Califórnia, no início dos anos 1950. Com 1,67 metro de altura, 94 cm de busto, 61 cm de cintura e 89 cm de quadril, em pouquíssimo tempo se tornou símbolo sexual do cinema. Seus filmes mais famosos são “O Inventor da Mocidade”, “Niagara”, “Almas Desesperadas”, “Como Agarrar um Milionário”, “Nunca Fui Santa” e “Quanto Mais Quente Melhor”. Seu primeiro marido foi o jogador de beisebol Joe DiMaggio. Na lua de mel, em Tóquio, Marilyn aproveitou para cantar e dançar para as tropas americanas, num passeio pela Coréia, deixando o marido irritadíssimo, o que ajudou o casamento a desabar apenas nove meses depois. Mudando-se para Nova York para estudar atuação e se tornar uma atriz séria, abriu sua própria produtora, responsável por alguns de seus filmes, como “O Príncipe Encantado”. Se casou em 1956 com Arthur Miller e o casamento acabou exatamente no dia 20 de janeiro de 1961, escolhido propositadamente pois era a posse do presidente John F. Kennedy, numa tentativa de tirar a separação das manchetes. Mas isso não funcionou, especialmente porque Marilyn já era amante de Kennedy
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há muito tempo, ou mais, uma obsessão do presidente. O caso começou logo depois do divórcio com di Maggio. O caso entre os dois foi alvo inclusive de chantagem de John Edgar Hoover (outro personagem que ganha às telas neste ano), pois ele grampeou uma conversa entre o casal e chantageou Kennedy, que queria demiti-lo do FBI. Por manter a gravação em segredo, Hoover continuou no cargo. No auge da fama, em 5 de agosto de 1962, com apenas 36 anos, Marilyn Monroe supostamente cometeu suicídio em sua casa em Brentwood, na Califórnia, por overdose de barbitúricos. A morte segue um mistério, pois os telefonemas e outras evidências da morte sumiram, a autópsia perdida e todos os amigos dela que tentaram investigar o caso foram ameaçados de morte. Suspeita-se que ela tenha sido sufocada até a morte pela máfia ligada a Kennedy, pois Marilyn talvez saberia detalhes da ligação do presidente com estes mafiosos e poderia denunciar à polícia. Trata-se de uma das teorias (talvez conspiratórias) sobre a morte da mulher que não nasceu loira, mas se tornou a musa platinada mais famosa da história. •
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NO SET
Kenneth Branagh interpreta Lawrence Oliver, o ator frustado com a atuação de Marilyn
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STAND-UP
Humor improvisado “Cia Os Terezinhas” aproveita as sugestões da plateia para criar espetáculo em tempo real; situações inusitadas criam mais dinâmica São José dos Campos
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azer uma cena sobre a relação entre a comida e o dente pode soar impossível para a maioria dos comediantes, menos para o pessoal da “Cia Os Terezinhas”, que nos dias 17, 18 e 19 estará no Teatro Colinas com o espetáculo “Do Improviso ao Riso”. O mais interessante nisso tudo é que se você já assistiu uma vez, nunca mais vai ver a mesma apresentação de novo, afinal, quem cria o roteiro é a própria plateia,
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dando sugestões e guiando a apresentação. Baseado em programas da linha de “Who’s Line is it Anyway” e seu irmão brasileiro, o “Quinta Categoria”, da MTV, o espetáculo tem início com um texto de stand-up comedy por cerca de 15 minutos e em seguida os jogos de improvisação coordenados por um “Mestre de Cerimônia” sobem ao palco. A “Cia Os Terezinhas”, formada em 2008, é composta por três atores: Evandro Brandão, Sérgio Salles e Wesley Borges. Mas muitas das apresentações contam com convidados para completar um elenco de pelo menos quatro atores no tablado.
Como o espetáculo é único, já que é comandado pelas sugestões do público, daí a importância e o envolvimento de quem assiste. Não são peças que colocam o espectador no foco de um holofote, ao contrário, é ele quem comanda as luzes. As sugestões não são apresentadas aos atores antes, ou seja, tudo é criado na hora. No caso da comida e do dente, imaginem a piada com um fio dental. Mas todo tipo de situação corriqueira serve de inspiração. As apresentações acontecem sexta-feira e sábado, às 21h , e aos domingos, às 19h. Nas sextas os ingressos vão de R$ 10 a R$ 30 e aos finais de semana custam entre R$ 15 e R$ 40.
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Música&mais
As pedras rolam de novo A edição de luxo do álbum ‘Some Girls’ serve como um ícone da imortalidade dos Stones Adriano Pereira São José dos Campos
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álbum “Some Girls” retratou os Stones em um momento delicado. Gravado à sombra de uma acusação que ameaçou botar Keith Richards em cana, por porte de heroína, o disco reafirmou a virilidade da banda perante o comodismo da fama. Em outras palavras, a pergunta era: como fazer música de alta voltagem quando não há mais nada a provar?
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Em sua autobiografia, Keith Richards responde: “Havia uma certa sensação de renovação. Tinha muito a ver com os punks, porque eles não sabiam tocar e nós sabíamos. Eles só sabiam ser punks. Esses Johnny Rottens da vida. Eu adoro bandas novas, mas quando eles só sabem cuspir nas pessoas, sinto que dá para fazermos algo melhor”. O disco, que acaba de ser relançado em edição de luxo, com 12 novas faixas, foi gravado em outubro de 1977, época em que o Sex Pistols incendiava a Inglaterra com o movimento punk. Acompanhou também o auge da disco music, rendendo
influências palpáveis, que sintetizam a forma milagrosa com que os Stones sempre estiveram no topo sem perder a essência. Uma aula de minimalismo punk vinha em “Shattered”. O apelo pop da disco ecoava no clássico “Miss You”. A alma da banda reluzia em “Beast of Burden”. Em suma, se os céticos perguntavam o que seria das rolantes pedras jurássicas do rock, “Some Girls” respondia mais uma vez, anunciando a imortalidade. A edição de luxo reúne faixas que figuram em discos piratas dos Stones há anos. Há boas canções românticas, partes do cancioneiro country dos Sto-
nes. Entre os destaques está “No Spare Parts”, com suplicante guitarra havaiana de Ron Wood, que acabara de se juntar à banda. A solidão country é quebrada com “Tallahassee Lassie” e “I Love You Too Much”, uma espécie de protótipo para “Start Me Up”, que seria gravada na mesma sessão, mas, por insatisfação de Keith, veria a luz do dia somente três anos depois, em “Tattoo You”. Há blues e shuffles para todos os gostos. Mas o que impressiona mesmo é a sonoridade quente e cristalina, concebida pelo craque das mesas de som, Chris Kimsey, em sua estreia com a banda.
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CHORO
SOLTA O PAUSE
PEARL JAM
Um perfil biográfico desse músico que se tornou um dos mais notáveis mestres da cultura nacional
Acompanhe as notícias do mundo da música por meio do blog http://soltaopause.com.br
O documentário dirigido por Cameron Crowe sobre os 20 anos da banda agora está em DVD
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Fotos: Divulgação
INDÚSTRIA
CD’S & MAIS
EMI processa o Grooveshark
VALE DESTAQUE PAUL MCCARTNEY “Kisses on the Bottom” Disco de covers do ex-beatle com parcerias bastante especiais como Eric Clapton e Stevie Wonder
AIR “Le Voyage Dans La Lune” A dupla francesa que faz uma boa mistura de sons eletrônicos volta com disco novo
THE LEMONHEADS “Hotel Sessions” 14 canções gravadas ao vivo, numa noite de domingo nos anos 90, num quarto de hotel australiano
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O serviço de música on-line Grooveshark foi processado pela gravadora EMI Group, que acusa a empresa de não pagar royalties desde que fechou um acordo de licenciamento para transmitir música em formato stream, quase três anos atrás. A EMI apresentou queixa contra a Escape Media, a controladora do Grooveshark, a um tribunal estadual de Nova York. A queixa surge um mês depois que três outras grandes gravadoras –a Universal Music, da Vivendi; a Sony; e a Warner Music Group– abriram processo federal contra o Grooveshark por violação de direitos autorais sobre milhares de canções. Kristin Harris, porta-voz do Grooveshark, afirmou via e-mail que “se trata de uma disputa contratual que esperamos resolver”. Na queixa, a EMI informou que o Grooveshark havia admitido por escrito e verbalmente que era devedor de royalties, mas que não havia realizado qualquer pagamento ou fornecido informações contábeis.
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Ponto Final
Arnaldo Jabor
A música segundo Tom Jobim
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ui ver o ótimo filme do Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim e me lembrei da frase do Nelson Rodrigues: “Nada mais antigo que o passado recente”. Perfeito; dá para ver a espantosa mudança da vida social e cultural dos últimos 20 anos. As canções, as plateias, os olhos e ouvidos ligados nos shows, o desejo de transmitir a beleza de uma reflexão sobre nossas emoções, um ritmo de vida celebrando a inocência e a delicadeza, o tema do amor sempre presente... em suma, tudo que não é manipulação, barulheira fácil e boçal, nessa proliferação de irrelevâncias nas redes. O filme é a emocionante montagem de grandes momentos de nossa música como um discurso sem palavras. Saí do cinema como de um spa mental, no meio da poluição sonora e visual de São Paulo. Um filme terapêutico. O documentário de Nelson e Dora me tocou muito. Sempre preferi ver fotos amareladas, filmes precários, antigos, que nos dão a sensação de nebulosas vidas mortas. As personagens do preto-e-branco, do trêmulo filme mudo, nos consolam com sua vetustez. No filme moderno, o passado recente, em cores, nos mobiliza porque vira um presente implacável, embora impalpável. Vemos a alegria de festas sem som, sorrisos mudos, a juventude perdida dos rostos, as gargalhadas que não ecoam em lugar algum, as mulheres tão moças e lindas e nós mesmos, nossa saúde, nossos humores, tudo visível. Mais emocionante que a tristeza de um passado é sua alegria perdida.
CINEMA “O filme parece uma viagem no tempo recente” Lembrei-me que num dia feliz, sentado no piano, Tom tocou para mim uma música nova –era “Chansong”, a obraprima com a letra anglo-francesa: “I´ve never been in Paris for the summer, I never drank a scotch with this bouquet”. Fui das primeiras pessoas a ouvir a musica –tenho esse orgulho. Henri Bergson, o filosofo, declarou, quando viu os filmes de Lumiere: “O cinema é importante para vemos como se moviam os antigos”. Sempre me emociono com esse milagre do cinema, em que as pessoas ressuscitam na tela e ficam ali, falando, como se nada tivesse acontecido. Isso me dói porque um dia serei também protagonista de um flashback de mim mesmo. Assusto-me se estou num bar e, de repente, minha saudosa comadre Nara Leão começa a cantar baixinho, como, aliás, canta no filme, nos lembrando sua imensa importância. Já sentira isso na obra-prima do Miguel Faria Jr, “Vinicius”, quando escrevi: “O tempo era outro, e me refiro a tempo como ritmo, “timing”. Movíamo-nos de outro modo, em paisagens claras, com perspectiva, distâncias nítidas, andávamos “pela praia até o Leblon”. O mundo estava em foco e não era esse sumidouro de hoje. Esses filmes mostram um passado que poderia ser nosso presente. Ipanema era uma ilha de felicidade num país injusto, foi um momento raro em que o desejo e o projeto se en-
contraram, na praia, no bar, nas ruas com amendoeiras, nos amores mais livres, na música e literatura, antes da massificação. O tempo se acelerou brutalmente nos últimos dez anos. A cada dia, os blackberries, i-pads, i-phones aumentam de potência, e o tempo vai se comprimindo. Até onde? Esta correria seria ótima se fôssemos chegar a alguma coisa, a uma estação, a um terminal qualquer; mas, aonde chegaremos? As coisas estão “in charge”, no comando da vida. Que diria Tom sobre isso? Bem, em conversas, nas suas falas sobre a natureza e em seus gestos já dava para ver a melancolia disfarçada de ceticismo sábio, víamos que ele já sabia que a barra ia pesar ali em Ipanema e em toda parte. Talvez ele dissesse: “Você sabe, não é Jabor, você que é um árabe, um beduíno sem deserto, você sabe que a música existe no tempo. Se acelerar muito, a música vai junto, mas, depois de certo ponto, a arte perde o fôlego... Nós estamos querendo acabar com o tempo”. Isso me remete a um filme antigo, cult, o “Planeta Proibido”, de Fred Willcox, com George Sanders e Anne Francis, um planeta vazio onde todas as informações de um mundo morto estavam guardadas num imenso subterrâneo, uma gigantesca máquina, um super Google. Toda a vida do planeta, tudo que se descobriu e construiu estava ali, arquivado para a eternidade. Só não havia mais vida em volta –a raça tecnológica dos “Krells” tinha sido extinta. Mas Tom não ia prestar atenção nesse papo-cabeça. Ele gostava de ver o que era vivo ainda. Ele diria: “Deixa pra lá... Olha... lá no alto, os urubus caçadores estão dormindo na perna do vento...” •
Arnaldo Jabor Jornalista e cineasta
jabor@valeparaibano.com.br
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