Edição Setembro 2012

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CÉREBRO

Você já pensou em ter controle absoluto sobre seus sonhos?

POLÍTICA

Propostas e intenções de Carlinhos Almeida e Alexandre Blanco

ECONOMIA

Relações sindicais ameaçam a saída da GM de São José

Setembro 2012 • Ano 3 • Número 30 R$ 7,80

Pesquisa mostra que 75% dos joseenses consideram que têm qualidade de vida boa ou muito boa; quanto melhor o salário, maior é a satisfação pessoal

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ANA FURTADO doou seu cachê para o Criança Esperança

COLINAS SHOPPING

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GERENCIAMENTO DE OBRA

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Opinião

Palavra do editor

DIRETOR RESPONSÁVEL Ferdinando Salerno

Dinheiro traz felicidade?

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uscar a felicidade se torna mais difícil quando as contas estão atrasadas, quando a rotina do trabalho se torna um martírio e, pior, saber que onde você mora não oferece o mínimo de conforto para recuperar a energia e o ânimo para encarar o dia seguinte. E no atoleiro de problemas, pensar em ser feliz te deixa ainda mais deprimido. Mas neste cenário frustrante, onde uma vida justa parece impossível de ser alcançada, São José dos Campos seria o paraíso. É o que indica pesquisa encomendada pela revista valeparaibano que revela que três em cada quatro joseenses consideram que têm qualidade de vida “boa” ou “muito boa”. Os que moram em bairros nobres, a proporção de satisfação sobe para 9 em cada 10 pessoas. Fica a pergunta: dinheiro traz felicidade? Avaliando que uma conta bancária volumosa elimina uma série de preocupações do dia a dia e pode proporcionar uma vida de conforto recheada de momentos de lazer, se o dinheiro não garante 100% a felicidade, ao menos cria condições para que uma pessoa seja feliz. Foi o que concluíram especialistas de diferentes áreas que avaliaram a pesquisa, aplicada com base em um questionário criado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Para eles, toda essa satisfação se reflete positivamente no convívio social, na vida sexual, na aceitação da aparência física, na segurança, no trabalho, na saúde, no humor e em vários outros indicadores que tornam a vida mais prazerosa. Então, como fica a máxima “dinheiro não traz felicidade”? O autor da frase muito difundida para justificar as relações de pobreza x felicidade e de riqueza x tristeza é desconhecido, mas pensadores famosos já escreveram sobre o tema. Para Machado de Assis, o “dinheiro só não traz felicidade para quem não sabe o que fazer com ele”. Já Millôr Fernandes acreditava que “o dinheiro não traz a felicidade. Manda buscar”. Concorda com quem? Marcelo Claret editor-chefe

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DIRETORA ADMINISTRATIVA Sandra Nunes EDITOR-CHEFE Marcelo Claret mclaret@valeparaibano.com.br EDITOR-ASSISTENTE Adriano Pereira adriano@valeparaibano.com.br EDITOR DE FOTOGRAFIA Flávio Pereira flavio@valeparaibano.com.br REPÓRTERES Hernane Lélis (hernane@valeparaibano.com.br), Isabela Rosemback (isabela@valeparaibano.com.br) e

Yann Walter (yann@valeparaibano.com.br) DIAGRAMAÇÃO Daniel Fernandes daniel@valeparaibano.com.br ARTE CAPA Ana Paula Comassetto anapaula@valeparaibano.com.br COLABORADORES Cris Bedendo, Franthiesco Ballerini e Magô Pool (ilustrações) COLUNISTAS Alice Lobo, Arnaldo Jabor, Fabíola de Oliveira, Marco Antonio Vitti e Ozires Silva CARTAS À REDAÇÃO cartadoleitor@valeparaibano.com.br As cartas devem ser encaminhadas com assinatura, endereço e telefone do remetente. O valeparaibano reserva-se ao direito de selecioná-las e resumi-las.

DEPARTAMENTO DE PUBLICIDADE RM VALE DO PARAÍBA

Cristiane Abreu, Luciane Carvalho, Mellise Carrari, Tatiana Musto e Vanessa Carvalho comercial@valeparaibano.com.br (12) 3202 4000 CAPITAIS

São Paulo (11) 3670-4072 Rio de Janeiro (21) 2225-0206 | (21) 2225-6618 | (21) 2225-7851 Belo Horizonte (31) 2535-1202 | (31) 2535-2711 Recife (81) 3465-4479 | (81) 3213-1732 Salvador (71) 3017-6969 Brasília (DF) (61) 3223-3003 | (61) 3223-0103

A revista valeparaibano é uma publicação mensal da empresa Jornal O Valeparaibano Ltda. Av. São João, 1.925, Jardim Esplanada, São José dos Campos (SP) CEP: 12242-840 Tel.: (12) 3202 4000

ASSINATURA E VENDA AVULSA 0800 728 1919 Segunda a sexta-feira, das 8h às 18h relacionamento@valeparaibano.com.br www.valeparaibano.com.br PARA FALAR COM A REDAÇÃO: (12) 3909 4600 EDIÇÕES ANTERIORES: 0800 728 1919

A TIRAGEM É AUDITADA PELA BDO AUDITORES INDEPENDENTES

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MODA

Sumário

CALÇADOS DE VERÃO P70

PESQUISA

A vida do joseense Levantamento encomendado pela revista valeparaibano mostra que população de São José está satisfeita com sua qualidade de vida; quanto maior a renda mensal, maior é o índice de contentamento dos moradores

ECONOMIA MERCADO AUTOMOBILÍSTICO

CULTURA

MUNDO POLÍTICA

Uma relação conturbada P16

O teatro invade São José P74

A face norte do Mercosul P44

Divergências entre ações sindicais e General Motors causam mal estar que pode gerar desemprego e a saída da empresa da cidade POLÍTICA MUDANÇA

Zona norte ganha subprefeitura P10 Objetivo é aproximar poder público e população, mas, na prática, pouca coisa muda ENTREVISTAS

Carlinhos e Blanco explicam suas intenções P38

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Festivale traz peças de Jorge Amado e Nelson Rodrigues com programação diversificada

COMPORTAMENTO

Sem limites Controle seus sonhos e use-os como ferramenta para uma vida melhor P80

A entrada da Venezuela no bloco sul-americano traz o petróleo na mala, e também um presidente polêmico TURISMO PORTUGAL

Tradição e modernidade P60 Ensaio Fotográfico p52 Hi-Tech p68 Cinema p90 Arnaldo Jabor p98

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Política

Da Redação Justiça avalia bloqueio de bônus dado por Cury MP pede suspensão definitiva da gratificação paga aos servidores e a devolução dos valores aos cofres públicos

BRANCO & PRETO Sobre o julgamento no Supremo Tribunal Federal dos acusados de envolvimento no esquema de corrupção conhecido como Mensalão

“Condeno João Paulo Cunha por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Condeno ainda Marcos Valério, Ramon Hollerbach e Cristiano Paz”

Joaquim Barbosa Ministro do STF SUBSÍDIO Previsão é que a concessão dos benefícios gere despesa de R$ 823 mil até o final do ano

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manutenção da gratificação financeira criada pelo prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury (PSDB), aos servidores de carreira que ocupam cargos comissionados está nas mãos da Justiça. A promotoria encaminhou à 1ª Vara da Fazenda pedido de bloqueio do bônus até que seja julgada a ação civil que pede a suspensão definitiva do subsídio e a devolução aos cofres públicos dos valores pagos. O “extra” foi aprovado em maio desse ano e o primeiro pagamento ocorreu no mês seguinte, representando um acréscimo que varia entre 30% e 60%, chegando ao teto de R$ 19,3 mil na folha de pagamento de alguns funcionários –mesmo valor que é pago ao chefe do Executivo. A Promotoria acredita que o reajuste viola os princípios básicos da administração e causa prejuízo ao erário. A previsão é que a concessão gere despesa de R$ 823 mil até o final do

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ano –cerca de R$ 137 mil mensais, de acordo com estimativas publicadas no boletim oficial do município. O despacho, de 200 folhas, também cita a Câmara, uma vez que o texto foi aprovado pela Casa e o beneficio estendido aos assessores do Legislativo. O processo deve ser julgado ainda este mês. De acordo com a prefeitura, 49 servidores que ocupam cargo de chefia foram agraciados pela nova lei, desses, pelo menos cinco secretários do governo atingiram o teto dos subsídios permitidos. Antes da aplicação da normativa os funcionários de carreira lotados em funções de confiança do prefeito podiam optar entre manter os antigos vencimentos ou receber a referencia salarial da função comissionada –dependendo de qual fosse mais vantajosa. Agora, os funcionários efetivos em cargos de comissão mantêm seus salários e ainda recebem o bônus. Para aplicar a mudança, a administração usou de argumento “a valorização do funcionalismo”.

“Não precisamos fazer campanha que não seja falando a verdade. Estou animado com a campanha”

João Paulo Cunha Deputado pelo PT

“O voto do relator era esperado. Mas o julgamento só termina quando os 11 ministros proferem seus votos”

Marcelo Leonardo Advogado de Marcos Valério

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Domingo 2 Setembro de 2012

Agnaldo Timóteo, vereador pelo PR em São Paulo

“Calem a boca seus animais, seus idiotas. Não se pode condenar todo o Regime Militar pelos erros de alguns de seus agentes” Gritou para os servidores em discurso no plenário contra os trabalhos da Comissão da Verdade

Caso mensalão: Inri Cristo visita ministros no STF

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m fato inusitado roubou a cena na novela do Mensalão que, ao que tudo indica, ainda terá muitos capítulos pela frente. Inri Cristo, o catarinense que se diz a reencarnação de Jesus Cristo, esteve no Supremo Tribunal Federal, em Brasília, para se manifestar sobre o julgamento do mensalão, “na condição de eleitor e conselheiro de juristas”. Cristo distribuiu um manifesto no qual diz que Lula era “comandante” do esquema de corrupção e que ele “se faz de burro para continuar comendo milho”. “O povo brasileiro pode até eleger um ladino, um espertalhão, um falastrão [...] porém, nunca

Após fracassos, governo revê projeto do TAV

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presidente Dilma Rousseff anunciou a retomada do projeto do TAV (Trem de Alta Velocidade) entre o Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas. Com 510 quilômetros de extensão, a ferrovia de alta velocidade cortará a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, que terá pelo menos duas estações: uma em Aparecida e outra a ser definida. O primeiro passo para a retomada do Trem-Bala aconteceu com a posse da diretoria da Etav, estatal que irá cuidar do projeto. A empresa tem como presidente Bernardo Figueiredo, ex-diretor-geral da ANTT (Agên-

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elegeu um pateta”, afirma o texto. Como estava com as habituais vestes brancas, sandália e a coroa cenográfica, o líder religioso não entrou no STF. Ficou apenas na entrada do tribunal, onde terno, gravata e sapatos sociais são obrigatórios, como manda a liturgia do Supremo. Disse que foi dar sua opinião sobre o assunto, pedida há sete anos pelos internautas que acompanham seu site. “Eu estou aqui para manifestar a minha vontade e a do meu pai para que se faça Justiça”, afirmava. Que Justiça? “A de Deus, claro! A dos homens falha, sempre falha”, respondeu rindo. Ele negou que pudesse adiantar ou influenciar os votos dos ministros, mas que pediria a Deus que os “iluminasse” na votação. Por unanimidade, os ministros do STF voltaram a negar o pedido da defesa do delator do mensalão, Roberto Jefferson, para inclusão do ex-presidente Lula entre os réus do mensalão. Isso já tinha sido decidido anteriormente pelo Supremo.

cia Nacional de Transportes Terrestres), um dos condutores do projeto do TAV. O governo federal decidiu rever o modelo do processo após o fracasso dos dois leilões de concessão do Trem-Bala. Agora, a proposta é implantar a ferrovia de alta velocidade em duas fases: primeiro definir o consórcio operador, que será o responsável pelo fornecimento e transferência da tecnologia da ferrovia de alta velocidade, e depois a construção da ferrovia. A expectativa é que a obra seja iniciada em 2014, com conclusão em 2020. O primeiro leilão foi marcado para dezembro de 2010, mas acabou suspenso dias antes por falta de interessados. O outro foi agendado para julho do ano passado, na Bolsa de Valores de São Paulo. Nenhum consórcio se habilitou para a disputa do projeto. Entre as justificativas apresentadas à época estavam o custo do empreendimento, orçado em R$ 33 bilhões. Os empresários estimaram que o investimento mínimo seria bem mais elevado, em torno de R$ 50 bilhões. Novo leilão foi marcado para o dia 29 de maio de 2013.

PSDB ironiza Dilma por “programa de privatizações” “O PSDB sempre colocou os interesses dos brasileiros acima dos interesses partidários. Por isso, cumprimenta a presidente Dilma por ter aderido ao programa de privatizações, há anos desenvolvido pelo partido, como um dos caminhos para acelerar os investimentos em infraestrutura”. Com essas palavras, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, ironizou a decisão da presidente Dilma Rousseff em lançar o pacote de concessões para melhorar as rodovias do país. E mais: lamentou a demora do governo para tomar a iniciativa. “Mas sabemos que a presidente poderá ser cobrada por adotar medidas opostas às que defendeu em sua campanha eleitoral de 2010.” Em discurso, Dilma já havia rebatido as críticas ao dizer que o governo não está se desfazendo de patrimônio público. “Estamos fazendo parceria com o setor privado para beneficiar a população, para saldar uma dívida de décadas e um atraso nos investimentos, e assegurar o menor custo logístico”, afirmou. O governo federal anunciou um pacote para duplicar 5.700 kms de rodovias e construir 10 mil kms de ferrovias, passando ao setor privado concessões estimadas em R$ 133 bilhões ao longo de 30 anos. Desse total, serão R$ 42 bilhões em investimentos em rodovias e R$ 91 bilhões em ferrovias.

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Fotos: Flávio Pereira

Política

REDUTO MINEIRO Praça da Matriz, no bairro Santana, o reduto mineiro na região norte de São José

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Domingo 2 Setembro de 2012

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GOVERNO MUNICIPAL

Nova subdivisão Subprefeitura da região Norte nasce sem que estrutura administrativa prometa grandes mudanças; população aguarda início das atividades com desconfiança Isabela Rosemback São José dos Campos

bandeira de São José dos Campos permanecerá com as suas três estrelas, apesar da aprovação unânime na Câmara, em 2 de agosto, do projeto que determina a criação da Subprefeitura da região Norte da cidade. Diferentemente de São Francisco Xavier e de Eugênio de Melo, a nova subdivisão do município não é caracterizada como um distrito e, por isso, não foi incluída como mais um desses símbolos na signa que o representa. Ainda assim, o novo braço da prefeitura nasce sem que sua estrutura administrativa prometa grandes mudanças, e é defendido como um instrumento de aproximação da comunidade com o poder público. Especialista critica a falta de planejamento antes da aprovação do projeto e a população local aguarda, em parte com desconfiança, o início das atividades. A proposta, que foi organizada e apresentada ao governo por iniciativa de uma comissão formada por moradores dos bairros abrangidos, é que seja instalada uma subsede da prefeitura em um bairro da região, onde profissionais de diferentes secretarias prestem atendimentos aos moradores locais, evitando, assim, que eles se desloquem até o Paço. Caberá ao subprefeito –guardadas as obrigações burocráticas– assumir os papéis de ouvinte e de olheiro, reunindo as demandas da área de sua competência para serem apresentadas à Secretaria de Governo. Dali elas serão encaminhadas, se aprovadas como possíveis ou prioritárias, para os setores responsáveis por suas execuções. “A secretaria não vai mudar o seu regime administrativo. Não há intenção de mudar a estrutura já usada nos distritos. Diante das necessidades apresentadas, a pasta atenderá com a infraestrutura que for preciso, em ação mais rápida para trazer os anseios da região para a

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prefeitura. Mas todos os bairros da cidade serão atendidos de maneira igual. Não se pode trabalhar com privilégios”, afirma o secretário de Governo Alfredo de Freitas Almeida. Segundo ele, a princípio será possível perceber agilidade em serviços de manutenção, como são a nivelação de ruas e estradas e os de fiscalização. “Entendemos que o sistema de regionais já funciona bem, e com a subprefeitura haverá mais autonomia para resolver problemas como estes, pois será disponibilizado maquinário, além de outros como o reforço de medicamentos”, afirma. Por enquanto, porém, a definição de quantos funcionários e quais serviços deverão ser oferecidos à população depende da avaliação que será apresentada pelo subprefeito, gestor que terá de ser indicado pela prefeitura –não há nada certo sobre se deverá ser alguém do organograma municipal ou uma pessoa de fora, embora os discursos tendam ao remanejamento de funcionários públicos. A proposta da comissão é que sejam nomeados assessores e supervisores em diferentes áreas de interesse. Até a segunda quinzena de agosto, nenhum nome havia sido definido para ocupar o cargo máximo, nem uma data limite tinha sido cravada para a sua indicação. Mas um atraso para o anúncio já é esperado pela comunidade, que aponta o período eleitoral como um provável retardador da decisão. A previsão é que a estrutura comece a funcionar até o início de 2013. De qualquer forma, uma sala do prédio da regional Norte da SSM (Secretaria de Serviços Municipais), no Jardim Telespark, já foi evacuada e ganhou uma porta de vidro com acesso à rua para que o líder da divisão seja alocado. Neste primeiro momento, esse será o espaço físico reservado –e não abrigaria muito mais que o gestor da unidade. “É uma sala provisória, ainda. Mas ela não é o projeto. Mais para a frente deverá ser construída ou ocupada uma estrutura maior”, afirma Roberto Chagas, que acompanha a comissão responsável pela apresentação do projeto.

População A zona norte de São José perde apenas para a leste em extensão de terra –sua área é de 6.359 hectares. Em habitantes, porém, cai para a quarta posição entre as mais populosas do município. De acordo com os últimos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), datados de 2010, 59.800 pessoas moram no território que tem como porta de entrada o bairro Santana e tem no outro extremo o limite de São Francisco Xavier. Dessas, 13.201 têm idades até 14 anos, 16.061 têm de 15 a 29 anos, uma maioria de 24.126 adultos têm entre 30 e 59 anos e maiores de 60 anos somam-se em 6.413. Pela contagem da prefeitura, em relatório de dados lançado neste ano, já seriam 61.837 moradores na mesma região. Para fins de comparação, os dados de 2010 mostram que o município (excluindo seus distritos) chega a 542.404 habitantes. Eugênio de Melo contabiliza 68.121 –mais populoso, portanto, que a nova subprefeitura– e São Francisco Xavier abriga 3.852 pessoas. A população da zona norte está espalhada entre os seus 65 bairros regulares listados pelo IBGE e pela prefeitura, e em mais 46 loteamentos irregulares situados em suas áreas rurais. “É uma região muito espalhada e onde estão nossos mananciais. Dos 62% de área preservada da cidade, a maioria está ali. Por isso não pode mais crescer. Esse adensamento está controlado, com núcleos congelados”, afirma o secretário Alfredo de Freitas Almeida. Para o vereador Miranda Ueb (PPS), que junto com os vereadores Renata Paiva (DEM) e Tampão (PTB) acompanhou o diálogo entre a comissão e o Executivo, a regularização de bairros deve ser uma prioridade nas discussões. “O subprefeito deve olhar por loteamentos clandestinos, que não podem ligar a rede de esgoto. Também pela melhoria ao acesso à zona rural, que é maioria em território, com 400 quilômetros de estradas”, diz Ueb. Idealizador do projeto ao lado de José Amaury Delfino –que morreu pouco antes

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Política

de vê-lo aprovado–, Seneval Vieira também coloca a legalização dos bairros como prioridade, além da saúde. O comerciante Jair Varjão, 48 anos, diz que a culpa das ocupações clandestinas é uma via de mão dupla. “Estamos aqui por irresponsabilidade nossa e do poder público. Instalaram água e luz no bairro, então ele cresceu. Agora queremos regularização para podermos viver como cidadãos”. Varjão mora em um loteamento de seis travessas do bairro do Freitas, onde o esgoto é jogado diretamente em um córrego que passa por trás das casas –realidade que não difere muito da de outros bairros. Como resposta a essa questão, o secretário Almeida frisa que bairros formados em áreas de risco estão proibidos pelo Ministério Público de terem a rede ligada. “É um impedimento legal, a fim de inibir qualquer estímulo que atraia novos moradores. Legalizar esses bairros é uma questão complexa”, diz. Entre reclamações dos moradores dos bairros rurais da cidade, além desses pontos entra como prioridade um melhor atendimento de transporte público. “Aqui o ônibus só passa

Distritos de São José não têm nenhuma autonomia financeira Com perfis diferenciados, São Francisco Xavier e Eugênio de Melo foram transformados em distritos de São José dos Campos por meio de decretos estaduais e mantêm, hoje, suas subprefeituras subordinadas à sede municipal. Mais antigo entre os dois, São Francisco –que fica na zona norte– foi criado em 1892. Seus serviços, no início, eram realizados por moradores sob supervisão de um representante da prefeitura, chegando a ter serviços como abastecimento de água assumidos pelo Estado. “Hoje somos ligados diretamente ao gabinete da prefeitura e não temos autonomia financeira, jurídica ou política”, explicou Emerson Fernandes dos Santos, então interino no cargo máximo da subsede, que é de administrador distrital. “Cabe a esse líder trabalhar pela manutenção do distrito, organizando trabalhos como os de coleta de lixo, limpeza de áreas públicas e pedidos de

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em horário escolar. Se você tem uma consulta à tarde tem de sair ao meio-dia e esperar o ônibus das 19h para voltar”, afirma Ábia Mauritania Bezerra, 38 anos, moradora do Água Soca. A reclamação, mais uma vez, é comum a quem mora em bairros interligados tanto à SP-50 quanto à estrada do Bonsucesso, duas vias que ligam a parte urbana às rurais da zona Norte. Distrito X subprefeitura Ainda não muito claro para muitos moradores, a zona Norte não foi transformada em distrito. Isso significa que ela não foi desmembrada do restante da cidade, apenas recebe uma subprefeitura em um projeto justificado como uma ferramenta para descentralizar os atendimentos à população. “A subprefeitura é parecida com o distrito. A diferença, em tese, é a distância da área territorial. Os distritos foram criados no passado porque eram longe do centro e precisavam de estrutura que fosse vinculada à estrutura administrativa da sede para melhorar a assistência a esses moradores”, afirma o secretário Almeida. Criado para servir de exemplo a novas submedicamentos”, afirma. Três funcionários trabalham no setor de protocolo, que costuma receber três pedidos por semana, evitando o deslocamento do morador a São José dos Campos. Outros 32 funcionários realizam serviços de manutenção, sem contar os cerca de 320 que trabalham em serviços de Educação, Saúde e segurança patrimonial. “Essa é uma facilidade. A dificuldade consiste em fazer o uso correto da máquina, porque não há orçamento para tudo”, completa Santos. Na zona leste, Eugênio de Melo foi criado em 1934, após o crescimento da população em torno da estação ferroviária, fortalecido pela prosperidade trazida pela passagem da primeira rodovia Rio-São Paulo em seu território, a partir de 1924. “Nós somos subordinados à SSM, que nos cede uma cota mensal de material. Prestamos serviços de manutenção e estamos mais próximos da população. O problema é que o distrito cresceu e perdemos funcionários que não foram repostos”, diz Eliana de Paula Ribeiro, administradora distrital. Somado, o efetivo do distrito é de 50 funcionários.

SUBPREFEITURA REGIÃO NORTE: O QUE PENSA E QUAL É A SUA PROPOSTA?

“Conquista da população, é necessária para agilizar serviços. Proporcionarei estrutura e capacidade de decisão o com participação Carlinhos Almeida l id Candidato do PT da comunidade” “É um modelo que ajudará no o desenvolvimento da região e poderá ser usado para outras, levantando demandass que melhorem a Alexandre dre Blanco vida dos moradores” Candidato do PSDB “Não é só criar a Subprefei-tura da região Norte, mas oferecer equipamentos e funcionários. Se eleito, assumirei esse Cristiano no Ferreira Candidato do PV compromisso” “Não adianta criá-la em véspera de eleição, tem de dar infraestrutura. Pretendo descentralizar serviços, não necessariamente criando Antonio onio Alwan novas subprefeituras” Candidato do PSB “Leva desenvolvimento sócioeconômico. Queremos avançarr na expansão da rede de esgoto e coleta de lixo na região norte e assegurar a autono- Fabrício i C Correia i Candidato do PSDC mia das demais” “É importante para aproximar ar os serviços da população. Mas teríamos de fazer um estudo para ver se compensa-ria ter outras em uma Ernesto Gradella d ll cidade como a nossa” Candidato do PSTU “Descentralizar é fundamental e faremos isso garantindo autonomia. Como foi feito agora não agrega nada. Já tem a regional. Parece Gilberto Silvério Candidato do PSOL jogada eleitoreira”

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prefeituras em outras regiões da cidade, ainda que a intenção não tenha sido fixada em lei, dependerá de quem assumir o poder em 2013 decidir se estenderá ou não o modelo. “Esse projeto nasceu há um ano, quando eu e Amaury nos baseamos em brechas da lei orgânica que nos permitiam criar esse movimento. A ideia inicial era fazer um distrito. Falei com o prefeito e ele hesitou, achando que queríamos um novo reinado. Mas vimos que precisaríamos primeiro criar a subprefeitura, até para receber aprovação e mobilizar moradores. Explicamos que era um mecanismo de descentralização e ele nos apoiou. Depois que concretizarmos esse projeto, porém, queremos sim transformá-lo em distrito. Mas isso deve levar até três anos. Precisa de plebiscito”, disse Seneval Vieira, da comissão. A ideia de emancipar a região Norte não é uma bandeira levantada agora, como os moradores dela já sabem. “É uma coisa que se fala há muito tempo por aqui, e eu nem sabia que tinha sido aprovada a criação da subprefeitura. Para mim tanto faz, me parece uma forma de mais gente morder dinheiro. Sou nascido e crescido

aqui e tenho a impressão de que essa parte da cidade parou no tempo”, critica o aposentado José Eduardo Priante, 73 anos. Opinião Para Emmanuel Antônio dos Santos, especialista em Planejamento Urbano e professor da Univap (Universidade do Vale do Paraíba), a proposta é válida, embora mereça algumas observações. “São José dos Campos é muito estriada, é grande, mas com territórios distintos. E, como toda cidade que cresce, esbarra nessa ideia antiga, dos anos 1970 no Brasil, de que as capitais deveriam criar mecanismos para se aproximar da população para serviços como de fiscalização, de obras, entre outros. Mas em São Paulo, com 14 milhões de habitantes, resolveu? Melhoraram as prestações de serviço? Eu acho que não. O que aconteceu, de fato, é que pulverizou esses atendimentos”, avalia. Sua crítica baseia-se na forma como o projeto foi aprovado. “É óbvio que não funciona como um sistema autônomo, pois para isso pressupõe-se planejamento, considerando política, número de habitantes, entre outros

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fatores. Da forma como foi feito, a população que solicita essa autonomia é ludibriada por uma autonomia que não existe. O subprefeito pode ter planos, demandas e pensar em uma orçamentária, mas vai ser sempre subordinado ao prefeito. Não importa a característica da região, ela não pode ser usada como justificativa para a criação de uma subprefeitura. É preciso ter visão integral, para que não se torne um loteamento de cargos ou até criar redutos. As intenções de gestão e de governo precisam ficar mais claras”, diz, questionando o porquê de ter sido criada apenas essa subdivisão administrativa, se havia a intenção de criar novas. “Ela deveria ter sido implementada de forma que as outras já estivessem previstas em uma única lei, que estabelecesse uma ordem de inaugurações justificando prioridades. Dessa forma, feita como uma experiência, me soa como falta de visão de gestão. E se não der certo? Deixa definhar, depois de criarem recurso com dinheiro público? Se já criadas as outras, o modelo seria repensado adiante, com metas aplicadas aos poucos. Não de forma irresponsável como agora”. •

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Política

Ozires Silva

A tecnologia ajuda a aprender

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ilhões de pessoas buscam hoje o conhecimento, mas enfrentam o conservadorismo das velhas instituições. São obstáculos que acabam impedindo a realização das aspirações da multidão de seres humanos que gostaria de poder trabalhar, aprender e estudar em qualquer momento e em qualquer lugar. Neste novo mundo cada vez mais congestionado –em que os jovens devem aprender a equilibrar suas demandas de casa, trabalho, escola e família –, a vida cria um conjunto de desafios, os quais os estudantes devem estar preparados para superar. Os produtos modernos, na atualidade à disposição de todos, são progressivamente mais complexos e dispõem de atributos multi-utilitários capazes de ampliar seus usos e aplicações. São criados, projetados e fabricados por estruturas competentes compostas de pessoas criativas e inteligentes capazes de fazer chegar ao mercado produtos desejados e, mais do que isso, úteis para tornar a vida melhor, mais produtiva e competente. As pessoas precisam ser educadas e treinadas para que possam satisfazer suas necessidades do trabalho e para realizar o que as empresas e organizações precisam para produzir e entregar ao uso e aplicação tudo aquilo que crescentemente preenche as prateleiras de ofertas em todo o mundo. A pergunta que nos chega seria sobre o que fazer diante das necessidades de milhões de pessoas, jovens ou adultas, que

UNIVERSIDADE “O velho papel da academia e o modo de preparar os jovens estão mudando” querem e precisam de acesso fácil ao conhecimento e no tempo certo? As tecnologias emergentes já fazem e podem fazer futuras revoluções na universidade, na pesquisa científica e na economia dos países. A computação móvel e o conteúdo aberto já estão acontecendo, a explosão dos livros eletrônicos avança com velocidade, enfim, tudo está passando a determinar novos horizontes para métodos de ensinar e de aprender, adaptados às populações dos variados países do mundo. Nesse contexto, o mundo precisa de uma nova universidade. O velho papel da academia e o modo de preparar os jovens para a vida futura estão mudando. Ganham forma novas formas de conceber e pensar. E a humanidade está avançando com velocidade, requerendo cada vez mais especialistas em quantidade e qualidade para manter o atual e a ampliada impulsão do futuro, em processo contínuo de aceleração. Cabe à academia adaptar o ensino e as práticas de aprendizagem não apenas à satisfação das necessidades de hoje dos alunos, mas enfatizar a investigação crítica e a flexibilidade mental, para dar aos estudantes as ferramentas necessárias à execu-

ção de suas tarefas, conectá-los às questões sociais e produtivas mais amplas, mediante o engajamento competente, e encorajá-los a incluir na sua aprendizagem a solução de problemas complexos em larga escala. Novas formas educativas de programação, editoração e pesquisa continuam a emergir, mas os meios apropriados para medi-las e avaliá-las precisam ser criados. As técnicas digitais, ou seja, o conhecimento e a utilização eficaz de todos os meios e processos de comunicação e da informação, precisam ganhar foco e atenção. O mundo caminha e já enxerta essa realidade. Muito mais que uma coleção de materiais para cursos online, o conteúdo aberto transforma-se na resposta ao desejo à informação e ao conhecimento em áreas onde tal acesso é difícil. O desenvolvimento das tecnologias exigidas pelos novos sistemas possíveis ao que podemos chamar Educação Digital podem ainda estar em curso, mas nos próximos anos deverão chegar ao mercado os primeiros sinais de mudança que nos levarão a horizontes bem mais amplos do que os que temos agora. São inovações desse tipo que geram oportunidades que não podem ser perdidas. As formas de computação móvel podem, muito mais favoravelmente, permitir o aproveitamento do tempo disponível para preparar melhor os alunos, de modo a que eles consigam maiores graus de contribuição, colaboração e comunicação. Em resumo, além de tudo, o seu progresso e sucesso pessoais! •

Ozires Silva Engenheiro

ozires@valeparaibano.com.br

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Economia SETOR AUTOMOTIVO

O preço do acordo Relação entre sindicatos e montadoras norteia futuro do setor automotivo no Vale; temor de demissão e falta de projetos em São José contrasta com investimentos e contratações em Taubaté

Hernane Lélis São José dos Campos

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relação entre montadoras e sindicalistas tem pautado os rumos da indústria automotiva no Vale do Paraíba. A importância de um bom diálogo entre as partes tornou-se o principal pilar de sustentação no setor, que vive momentos distintos em dois de seus mais importantes polos na região. Impasses nas negociações ao longo dos últimos cinco anos tiraram de São José dos Campos R$ 3 bilhões em investimentos e ameaçam o emprego de 1.800 trabalhadores na General Motors. Por outro lado, acordos coletivos na categoria garantiram a Taubaté aportes financeiros nas unidades da Volkswagen e Ford, resultando em contratações e implantação de novos produtos. A manutenção dos benefícios e direitos trabalhistas dos metalúrgicos que integram o quadro de funcionários nas montadoras de veículos e a cadeia de fornecedores é de responsabilidade de duas

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centrais sindicais no Vale –CSP-Conlutas (Central Sindical Popular), em São José, e CUT (Central Única dos Trabalhadores), em Taubaté. É por meio delas que todas as reivindicações da categoria são negociadas com as empresas após uma série de debates, assembleias e paralisações. Cada entidade, ligada a diferentes partidos políticos, possui uma maneira peculiar de conduzir as tratativas na mesa de negociação, nem sempre agradando os representados. Por conta do desgaste no relacionamento com os dirigentes da Conlutas, em São José, a GM afirma ter desviado projetos importantes da unidade, como o do monovolume Spin e os sedãs Cruze e Cobalt, que foram para São Caetano do Sul. A cidade do ABC Paulista também tirou de planta joseense a produção da pick-up Montana. Além disso, a montadora desistiu da expansão da fábrica de motores e cabeçotes, levando a ideia para Joinvile (SC), onde serão abertas 350 vagas até dezembro desse ano. “Não temos nenhum novo investimento em vista para São José”, resume Luiz Moan, diretor de assuntos institucionais da montadora. Os intentos da GM levariam um aporte

de pelo menos R$ 3 bilhões à fábrica de São José e abriria cerca de 3.000 empregos diretos na unidade. O executivo atribui a falta de novos projetos e perspectivas futuras à posição radical do sindicato, que refuta suas propostas, principalmente no que diz respeito às futuras contratações. A montadora argumenta que o custo da mão-de-obra na cidade torna seus produtos pouco competitivos no mercado, por isso, precisa implantar um sistema de banco de horas e uma grade salarial mais baixa para novos

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Fotos: Flávio Pereira

MÃO-DE-OBRA

A planta de São José tem os funcionários mais caros da GM em todo Brasil

funcionários, assim como conseguiu negociar em suas outras unidades. “Temos em termos de competitividade, a fábrica de São José como a menos competitiva do grupo GM no Brasil. Isso por causa da mão-de-obra. Quando você calcula o custo da mão-de-obra sobre o preço do carro você está colocando todo o valor das peças, depreciação das máquinas, impostos, margem da concessionária, margem da GM. O parâmetro é o seguinte: Quanto custa montar um carro na fábrica

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“A”, “B” ou “C”? Esse custo em São José, face ao custo da mão-de-obra, é o mais caro que temos no Brasil, maior que Rosário, na Argentina”, explica Moan. Tensão Os próximos sessenta dias serão decisivos para a categoria. Sindicato e GM discutem uma forma de evitar a demissão de centenas de trabalhadores da planta local. A primeira iniciativa adotada no início do último mês foi suspender o contrato de 940 funcioná-

rios da linha de produção conhecida como MVA, que atualmente produz apenas o Classic. A medida, conhecida como layoff, vai durar até novembro. A montadora também abriu um PDV (Programa de Demissão Voluntária) em todo o complexo industrial, que possui 7.540 operários. Tudo para enxugar ao máximo o excedente de mão-de-obra na unidade que é de 1.840 funcionários. “Nós pedimos (ao sindicato) anteriormente uma flexibilidade no controle da jornada (de trabalho), que chamamos de

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Economia

ACORDO

Reunião entre sindicato, empresa e poder público para tentar resolver a questão

banco de horas, no mesmo formato que temos em Gravataí e em São Caetano do Sul, que acabou concentrando a produção que viria para São José. Tudo foi resultado de um belo acordo, por isso, a cidade do ABC foi agraciada pelo investimento”, diz Luis Moan. “A partir desse momento, se nós passarmos a ter uma relação mais amadurecida, menos pontiaguda, num eventual próximo projeto de automóvel que a GM tenha para produzir no Brasil, a gente concorda em negociar com o sindicato”, finaliza. Atender aos apelos da montadora para a flexibilização trabalhista na unidade representa às lideranças sindicais desastear uma bandeira defendida há anos pela entidade, que sempre lutou pela manutenção dos atuais direitos trabalhistas. A adoção do sistema de banco de horas, por exemplo, serviria para o trabalhador “guardar” períodos não trabalhados em épocas de demanda baixa, desovando essas horas quando a produção tem de ser acelerada. Cada montadora, quando acordado com o sindicato, usa o sistema de uma maneira, assim como acontece na Volkswagen e na Ford, em Taubaté. Os sindicalistas de São José são totalmente contra a medida. Luiz Carlos Prates, o Mancha, secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de São José, é um dos principais porta-vozes da ala contrária à flexibilização. Ele entende que a GM usa dos investimentos e do temor de

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cortes na unidade como armas para pressionar o sindicato e mobilizar a opinião pública contra seus dirigentes. Ainda assim, diante da atual situação, ele aceita discutir o tema para evitar que a unidade do Vale, que já chegou a ter 12 mil empregados, perca de novo investimentos para as demais plantas no país. “Vamos ter uma proposta e eles a deles. Nosso objetivo é defender os empregos. Estamos formatando o que entregaremos, mas não vamos atender a todas as imposições, quanto mais ceder é pior”, diz o sindicalista. Inicialmente Prates pretende usar o acordo firmado em 2008, que garantiu o investimento da nova S-10, como base para o processo de negociação. A proposta permitiu uma grade salarial diferenciada para novos contratos e duas horas a mais de trabalho na jornada quando tivesse demanda de produção. Tudo vinculado à garantia do emprego. “A montadora trata o emprego dos trabalhadores como moeda de troca para pressionar o sindicato. Sempre estivemos abertos a negociar, mas não vamos aceitar tudo. O problema é que para eles o que importa é manter elevada a margem de lucro à custa do trabalhador”, reclama o diretor. Outra direção Enquanto se discute em São José uma maneira de salvar empregos e agregar novos projetos à planta da GM, os executivos da Volkswagen e Ford seguem com planos de

contratação e investimentos em Taubaté. O aporte de R$ 8,7 bilhões da montadora alemã previsto para ser aplicado até 2016, sendo grande parte desse montante na unidade do Vale, vai ganhar um adicional. O valor é mantido em sigilo, mas é certo que será aplicado na revitalização da tecnologia na fábrica e no desenvolvimento e produção local de veículos, entre eles possivelmente o subcompacto UP! e um sedã médio. A ampliação dos recursos tem relação com o acordo trabalhista fechado em março com o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté. O entendimento entre as partes fez com que a Volks descartasse a construção de outra fábrica no Brasil, inicialmente programada para Pernambuco, onde os investimentos anunciados eram de US$ 2 bilhões. “Se você tem uma limitação de investimento, vai investir onde se tem menos risco, acho nosso risco menor na Anchieta (unidade São Bernardo) e em Taubaté. Foi mais inteligente investirmos em Taubaté ao invés de abrir a quinta fábrica”, diz Thomas Schmall, presidente da Volkswagen do Brasil. O executivo ressalta a importância de manter uma relação saudável com o sindicato. “Os investimentos de uma montadora são aplicados a longo prazo e o que você precisa neste caso é um ambiente planejável. Temos duas situações diferentes: os sindicatos no ABC e Taubaté, que trazem uma possibilidade de ambiente de médio e

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longo prazos planejável. E outra situação em Curitiba, que é meio instável, difícil de planejar. É importante juntar todas as coisas para avaliar uma ampliação. Nós avaliamos mais de duzentos indicadores. Hoje, existem empresas especializadas que fazem isso no mundo inteiro para as montadoras, analisam o pacote inteiro”, explica o presidente. Segundo Isaac do Carmo, presidente licenciado do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e responsável pelas últimas negociações com a Volks, o acordo negociado durante quase quatro meses contempla mecanismos de moderação no crescimento de custos de pessoal, como a definição antecipada dos valores da Participação nos Lucros e Resultados, que pode chegar a R$ 16 mil em 2016, e a reposição da inflação mais 2% de aumento real, além de medidas de flexibilidade e produtividade. Com esses e outros incentivos, a Volkswagen pretende atingir a produção de 1.900 carros por dia na planta de Taubaté, gerando mil empregos diretos, tornando a unidade a maior do grupo na América Latina em volume de produção. “Temos uma relação de respeito com as montadoras e ela com a gente. Entendemos que o diálogo é o melhor modelo de negociação para garantir a solução de problemas relacionados à demanda de mercado. Não aceitamos tudo que os executivos colocam e nem eles aceitam todas nossas condições, mas sempre procuramos discutir algo que fique bem para os dois. Acredito que a maneira de negociar é igual para todas as montadoras, como você conduz o processo junto com os trabalhadores e executivos é que faz a diferença. Não dá para debater nada usando como base discursos e condutas de 30 anos atrás”, afirma Isaac. Para Celso Salles, gerente da Ford, em Taubaté, que fabrica motores e transmissões, uma relação saudável com o sindicato é fundamental para definir investimentos na unidade. Nos últimos quatros anos, a montadora anunciou aporte de R$ 1,1 bilhão para o local, sendo R$ 600 milhões em 2008 para o início da produção dos motores Sigma, e R$ 500 milhões no ano passado para aumento da capacidade produtiva. Os recursos viabilizaram a integração de 770 pessoas ao quadro de funcionários. As contratações anunciadas antecipam as metas previstas para 2012. “Acreditamos que o diálogo é o melhor caminho para harmonizar interesses. Este é justamente o princípio que tem pautado nosso relacionamento com o sindicato dos

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LUIZ MOAN “A fábrica de São José é a menos competitiva do grupo GM do Brasil”

metalúrgicos. Ao investir no aperfeiçoamento das operações da planta, sinalizamos o nosso compromisso com a região e garantimos a continuidade da produção e a manutenção de empregos. A Ford compreende que sua presença na região agrega inúmeros benefícios, como a oferta de empregos, geração de renda, movimentação da cadeia de fornecedores e aumento do poder aquisitivo, culminando com uma melhor qualidade de vida da população”, diz Salles. Políticas A política das montadoras de reduzir despesas com a mão-de-obra para deixar seus produtos mais competitivos tornou-se comum no Brasil nesses últimos anos. De acordo com Fernando Sarti, economista da Unicamp (Universidade de Campinas) especializado no setor automotivo, os executivos veem na jornada de trabalho flexível a única ferramenta para fugir dos impactos de custos provocados pelas oscilações de demanda no mercado nacional. Ele explica que, com a jornada engessada, o setor tem que enfrentar certas inconstâncias nos custos e quantidade de produção, refletindo em demissões quando as vendas caem e, posteriormente, com a necessidade de recontratar profissionais especializados com aquecimento nas vendas.

Por isso, a preferência por direcionar investimentos em novos produtos e ampliações nas fábricas instaladas em regiões onde os sindicatos aceitam flexibilização. A GM decidiu distribuir entre as unidades de São Caetano do Sul e Gravataí (RS) a maior parte do programa de investimentos, de R$ 5,1 bilhões, entre 2008 e 2011. Somente Gravataí recebeu R$ 1,4 bilhão para lançamento de novos modelos e ampliação da produção anual de 230 mil para 380 mil veículos. A Nissan preferiu erguer uma nova fábrica em Resende (RJ), que consumirá investimento de US$ 2,6 bilhões, ao invés de ampliar a que já tem no Paraná por conta da dificuldade de negociar com o sindicato local. “Essa pressão que as empresas têm feito não é nem tanto pelo custo do produto, é para terem condições de implantar e usar o banco de horas e outras flexibilizações trabalhistas devido às oscilações de demanda. Agora, esse é um setor que tem uma rentabilidade muito elevada, que, portanto, não se justifica essa pressão na mão-de-obra. Não é o custo do trabalhador que deve ser o fator decisivo na aplicação de investimentos. Não se pode ir por aí. É um setor que conta com muitos incentivos públicos, por isso, a contrapartida tem que ser assegurar o emprego e, quando tem mão-de-obra qualificada, tem que ser bem remunerada”, pondera Sarti. •

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AGRONEGÓCIOS

Tecnologia no campo Equipamento produzido em São José dos Campos é capaz de dizer por meio de software e fotografias se a planta está doente; setor agrícola representa 23% do PIB e emprega 37% dos trabalhadores brasileiros Yann Walter São José dos Campos

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uando o assunto é tecnologia, as primeiras imagens que vêm à cabeça são naves espaciais, aviões, carros ou eletroeletrônicos. Poucas pessoas associam imediatamente a palavra à agricultura. Pois este cenário já está mudando no Brasil. Hoje, a tecnologia é a principal responsável pelo aumento da produtividade agrícola no país. De acordo com estudo da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a produção de grãos aumentou 774% no Brasil de 1960 a 2010 enquanto a área de cultivo apenas dobrou, passando de 22 para 47,5 milhões de hectares no mesmo período. “Até 1970, o aumento da produtividade dependia exclusivamente do crescimento da área cultivada. Ou seja, para produzir mais, era preciso desmatar. Esse quadro foi mudando progressivamente e hoje, a tecnologia é responsável por 70% do aumento da produtividade agrícola brasileira enquanto o crescimento da superfície de plantio responde por apenas 9%”, afirmou o pesquisador Eliseu Alves, co-fundador da Embrapa e autor do estudo. A vantagem do uso da tecnologia na agricultura –um setor que representa mais de 23% do PIB (Produto Interno Bruto) brasi-

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leiro e gera 37% dos empregos no país– é dupla: além de impulsionar a produtividade, reduz os danos ao meio ambiente. Cabe frisar que a tecnologia é um conceito amplo, que engloba desde técnicas modernas de plantio e irrigação até a utilização de instrumentos de alta precisão. É com a fabricação de tais instrumentos que trabalham duas companhias sediadas no Parque Tecnológico de São José dos Campos: a Gyrofly Innovations e a Olearys. Empresa de tecnologia voltada para o agronegócio, a Olearys desenvolveu uma plataforma de serviços formada por um hardware e um software. “O hardware é uma estação meteorológica que colhe dados climáticos como a temperatura, a umidade do solo e o molhamento foliar. O software, que é uma fabricação exclusiva da Olearys, processa esses dados e emite alertas atualizados de 15 em 15 minutos. Estes alertas avisam ao agricultor se o clima está favorável para o surgimento de doenças em suas lavouras”, explicou Adriana Moreira, gerente da empresa. O software tem funcionalidades diferentes, adaptadas a cada tipo de cultivo. A soja é o carro-chefe da empresa, mas a plataforma também pode ser utilizada em plantações de tomates, batatas, maçãs e uvas. O sistema completo é alugado aos produtores durante o período de safra, e a operação e manutenção ficam por conta da companhia. “No ano passado, instalamos 350 estações em todo o Brasil. Mas este número deve crescer nos

próximos anos: estamos desenvolvendo um novo aplicativo, que permitirá ao agricultor receber as informações processadas pelo software diretamente em seu celular, através de SMS. Isso significa que ele não precisará mais entrar no computador para visualizar os alertas”, adiantou Adriana Moreira. Vantagens Para a gerente da Olearys, a plataforma apresenta duas grandes vantagens. “O agricultor tradicional usa um calendário para determinar o momento mais propício para a aplicação de fungicida. Com nosso sistema, ele vai saber exatamente quando aplicar o

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Flávio Pereira

DO ALTO

Gustavo Penedo, da Gyrofly, mostra uma das primeiras versões do Gyro500

produto. Ou seja, só vai pulverizá-lo na hora certa, quando realmente precisar. Além de evitar o desperdício (e, assim, reduzir os gastos), terá alimentos mais saudáveis, com menos agrotóxicos”, argumentou. Segundo Adriana Moreira, o uso da plataforma de serviços da empresa proporciona ao cultivador de soja um aumento de produtividade de cinco sacas por hectare –cada saca equivale a 60 kg de grãos. Assim, o agricultor tem a possibilidade de produzir mais, de uma forma menos agressiva para o meio ambiente. A recuperação de dados climáticos pode ser feita de diversas formas. Fundada em

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2007 na Incubaero, a Gyrofly Innovations, empresa especializada no desenvolvimento de mini Veículos Aéreos Não Tripulados (VANT) para observação e coleta de dados, decidiu recentemente aplicar na agricultura seu know-how em tecnologia de ponta. “Nosso projeto principal é o Gyro, um mini VANT multimotor de asas rotativas que pode ser pilotado manualmente ou programado para voos autônomos. Já temos o Gyro200, e vamos lançar o Gyro500 no fim deste ano. De estrutura mais complexa, ele é todo feito de fibra de carbono e pode operar debaixo de chuva leve. Tem autonomia de 30 minutos. Depois, basta

pousar o aparelho e trocar a bateria para realizar outro voo”, detalhou Gustavo Penedo, sócio fundador da Gyrofly. Inicialmente, o Gyro foi desenvolvido para efetuar missões de segurança para a Polícia ou as Forças Armadas. Mas Penedo vislumbrou recentemente o forte potencial do aparelho no setor agrícola. O Gyro é equipado com câmeras que podem ser fotográficas, térmicas ou multiespectrais. Esta última capta imagens verdes, vermelhas e infravermelhas que, processadas por softwares específicos, conseguem determinar se os cultivos estão saudáveis ou não. “Normalmente, a planta reflete o infravermelho. Mas quando ela está doente, passa a absorvê-lo”, explicou, destacando que a câmera térmica, por sua vez, permite identificar excessos de calor ou de frio nas plantações. Aerolevantamento De acordo com Penedo, o Gyro tem capacidade para efetuar um monitoramento aéreo de toda a superfície cultivada, e identificar problemas localizados. “Com o Gyro, o agricultor pode avaliar com precisão a produtividade de sua plantação e visualizar possíveis desperdícios, identificar eventuais irregularidades na irrigação dos cultivos –áreas onde falta água e outras onde tem água em excesso– e também fazer um mosaico, um aerolevantamento de sua lavoura, com fotos de altíssima resolução”, detalhou o sócio fundador da Gyrofly, destacando que sua empresa é a primeira do país a desenvolver mini VANT multimotores com asas rotativas. “O Gyro é uma alternativa interessante às imagens de satélite. Os satélites somente podem ser utilizados em períodos sazonais propícios, pois as nuvens inviabilizam as imagens. Já os mini VANT não têm esse problema, pois voam em baixa altitude. Além disso, a câmeras embarcadas no Gyro trazem imagens muito mais precisas”, ressaltou. Na opinião do pesquisador Ricardo Inamasu, coordenador da Rede de Agricultura de Precisão da Embrapa, empresas como Olearys e Gyrofly Innovations têm um papel muito importante a desempenhar no cenário atual da agricultura brasileira. Afinal, como lembrou Eliseu Alves, o Brasil já é o segundo maior exportador de alimentos do mundo. “A informação é fundamental para que o produtor possa fazer um planejamento estratégico. O clima é um elemento preponderante para a lavoura expressar seu potencial. As informações sobre clima trazem elementos que definem a estratégia de produção”, sintetizou Inamasu. •

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Ciência e Tecnologia Artigo

Fabíola de Oliveira

Descompassos e desalinhos no país dos eternos contrastes

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m julho passado estive por alguns dias em São Luís, no Maranhão, onde participei da reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, realizada na Universidade Federal do Maranhão. As reuniões da SBPC atraem, há mais de 50 anos, um grande público estudantil e acadêmico, que vai em busca das últimas novidades de ciência e tecnologia, além de protagonizar ou assistir a manifestações de toda sorte, como reivindicações pela melhoria da educação, por mais verbas para a ciência e a tecnologia, pela autonomia das universidades, e por aí vai. Como contraste à elite pensante que tomou conta do centro da cidade histórica, Patrimônio Cultural da Humanidade, escancarada estava a capital do Maranhão, Estado mais pobre do Brasil, e que de forma alguma consegue isto esconder, sequer disfarçar. Não conhecia a cidade e fui com a esperança de me encantar com os famosos casarões do centro histórico, dos azulejos portugueses possivelmente preservados aqui e acolá. Olhando o casario colonial a partir da orla, o que se vê é um amontoado de telhados velhos e mal tratados, pinturas descascadas e, de perto, uma triste impressão de abandono e desleixo. De um pequeno cais no centro

DARCY RIBEIRO ‘Fracassei em tudo o que tentei. Mas os fracassos são minhas vitórias’

histórico partem barcos que levam à cidadezinha de Alcântara, onde não tive a oportunidade de ir. Felizmente, quem sabe. Lá, me dizem, dois mundos, dois descompassos, dois desalinhos. A vila de casarões históricos que não mais padecem de abandono, pois já tornaram-se ruínas. As comunidades de quilombolas há décadas procuram localizar-se, entender-se com a base de lançamentos de foguetes, o Centro de Lançamentos de Alcântara. Há ações afirmativas, de educação, moradia e saúde, dizem os oficiais do governo. Há abandono, descaso, desrespeito, dizem os defensores dos quilombolas. Eu não sei. Quem me lê aqui sabe, sou a favor do desenvolvimento científico e tecnológico, acredito piamente na educação de qualidade como única saída para os descompassos e desalinhos de nosso país. Mas quando ao olhar o centro his-

tórico de São Luís de outro ângulo, e lá ao longe perceber a existência de um único e soberbo casarão lindamente restaurado, como uma flor de lótus no meio do pântano, pergunto ao motorista do táxi o que é, e ele responde: “É o Convento das Mercês, que agora é a Fundação José Sarney”. Aí meus amigos, eu não entendo. Ao sair do táxi e chegar à universidade, salva-me do desconsolo a frase que vejo em um cartaz, de autoria de Darcy Ribeiro. Vejam: “Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”. •

Fabíola de Oliveira Jornalista fabiola@valeparaibano.com.br

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Especial

SOCIEDADE

Sim, dinheiro traz felicidade Pesquisa encomendada pela revista valeparaibano revela que 75% dos joseenses consideram que têm qualidade de vida “boa” ou “muito boa”; quanto maior o salário, maior é o índice de satisfação dos moradores

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Fotos: Flávio Pereira

REGIÃO OESTE Praça Ulisses Guimarães, a área verde usada para lazer e esportes no Jardim Aquarius, em São José

Hernane Lélis e Yann Walter São José dos Campos

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ocê provavelmente já ouviu diversas vezes o velho ditado segundo o qual “dinheiro não traz felicidade”. Pode concordar ou não, mas o fato é que traz conforto, comodidade e segurança, além de eliminar um monte de preocupações que, se não impedem completamente a felicidade, com certeza não contribuem para ela. Três em cada quatro pessoas que moram em São José dos Campos consideram que têm uma qualidade de vida “boa” ou “muito boa”, mas entre as que possuem uma volumosa conta bancária a proporção sobe para nove

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em cada dez. Por isso, o mais certo seria dizer que embora não garanta a felicidade, um bolso cheio traz alegrias que influenciam diretamente na qualidade do sono, vida sexual, aceitação física e amizades. Pelo menos é o que aponta pesquisa realizada com exclusividade para a revista valeparaibano, com base nos parâmetros usados pela OMS (Organização Mundial da Saúde). De acordo com o estudo, aplicado pela Mind Pesquisas entre os dias 3 e 5 de julho, 75,1% dos joseenses estão satisfeitos com sua qualidade de vida, enquanto apenas 2,8% se declaram insatisfeitos. Entre os que ganham mais de cinco salários mínimos, o percentual de satisfação sobe para 89,4%. “A qualidade de vida é diretamente ligada à renda, pois ela é que determina o acesso que as pessoas têm aos bens e serviços”,

afirmou Paulo Grangeiro, especialista em psicologia social. A renda, por sua vez, tem vínculo direto com a escolaridade: 88,4% das pessoas que completaram o ensino superior estão felizes com sua qualidade de vida em São José, enquanto que 65,1% das que não passaram da primeira fase do ensino fundamental fazem a mesma avaliação. “Em todo caso, foram registrados números superiores a 50% em todos os níveis de escolaridade, e isso é muito positivo para a cidade”, opinou Vera Molina, professora de sociologia na Unesp (Universidade Estadual Paulista) em São José dos Campos. Na maioria das vezes, a renda também determina o bairro de residência. Assim, segundo o estudo, 86,2% dos moradores da região oeste –a mais rica da cidade– estão satisfeitos com sua qualidade de vida. Na

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Especial

zona sudeste, o número cai para 72,8% –e para 73,5% na região sul. “A região sul é bem urbanizada. Tem boa infraestrutura, bom acesso a serviços. Já a zona oeste é apenas um aglomerado de imóveis, com péssima infra de saneamento básico”, contestou Eliana Amorim, professora de sociologia na Univap (Universidade do Vale do Paraíba). “A insatisfação dos moradores das zonas sul e sudeste vêm da comparação com o nível de vida dos habitantes da região oeste, tradicionalmente mais abastados. Sempre achamos que a grama do vizinho é mais verde que a nossa”, avaliou Letícia de Oliveira, especialista em psicoterapia comportamental. “No caso da região sul, a violência também pode ser um agravante”, ressaltou Grangeiro, lembrando que a área é considerada a mais perigosa da cidade. A pesquisa ainda apontou que de um modo geral, os homens avaliam sua qualidade de vida mais positivamente que as mulheres: são 79% de satisfeitos, contra 72,5% de satisfeitas. “A mulher tem uma percepção mais aguçada, mais crítica que o homem. Ela é mais exigente, se queixa mais, e sempre está indo atrás do que não está bem para melhorar”, afirmou Letícia. “As mulheres são mais detalhistas, enquanto os homens são mais racionais. Veem as coisas de forma mais superficial”, concordou Eliana Amorim. “Outro motivo é que as mulheres têm uma carga de trabalho superior à dos homens”, sugeriu Paulo Grangeiro. Uma das características do dinheiro é que não importa o quanto ganhamos, sempre queremos mais. Indagados sobre se têm o suficiente para satisfazer suas necessidades, 27% dos sondados responderam pela negativa, e somente 21% disseram que sim –50,7% ficaram em cima do muro. A pesquisa apontou que os mais satisfeitos são os mais jovens (16 a 24 anos), enquanto que as pessoas de 35 a 44 anos são as que mais reclamam. “Muitos jovens moram com os pais e não têm contas para pagar. Depois crescem, saem de casa e as necessidades aumentam”, disse Letícia de Oliveira. “As pessoas que chegaram aos 40 sentem uma urgência de realizarem seus objetivos. Acham que o tempo que sobra para elas é pouco. Já não têm mais a vida inteira pela frente”, acrescentou a socióloga Vera Molina. “A maior parte dos homens e mulheres de 35 a 44 anos tem filhos. Logo, as necessidades financeiras são maiores”, destacou Paulo Grangeiro. O psicólogo ainda insistiu na importância da influência dos padrões

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REGIÃO SUL Avenida Cidade Jardim, no trecho do Bosque dos Eucaliptos, região mais populosa de São José

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Especial

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de consumo impostos pela mídia. “A sociedade diz que você tem que ter um carrão, uma TV de última geração... E a imprensa reproduz isso”. “Hoje em dia, a pessoa é definida pelo que tem, e não pelo que é”, lamentou Vera Molina. Sentimentos Já que beleza não se discute, a pesquisa tratou de avaliar o quanto os moradores de São José são capazes de aceitar a própria aparência. O estudo constatou que 81% da população está, “modestamente”, satisfeita com a imagem que enxerga ao se olhar no espelho, seja ela boa ou ruim. Quem reside em áreas nobres da cidade, como Jardim Aquarius e Urbanova, na zona oeste, e recebe mensalmente mais que cinco salários mínimos, têm a autoestima mais elevada. Neste último caso, 87,8% das pessoas que participaram do levantamento se dizem muito e completamente consentidos com o visual.

Os menos receptivos com a aparência são os que permaneceram menor tempo dentro das salas de aulas e os que vivem com até três salários. Para os psicólogos consultados pela reportagem, isso acontece porque a falta de escolaridade deixa o indivíduo sem perspectivas e explicação dos valores pessoais. “É o tipo de pessoa que tem menos acesso ao que vê na mídia sobre moda, tratamentos estéticos e outros tipos de itens relacionados à beleza. São produtos caros, que a pessoa não tem condições de comprar e, por isso, acaba se sentindo inferiorizada”, explicou Letícia. A boa aceitação da população com a própria aparência reflete diretamente em outro fator importante quando se fala em qualidade de vida: as relações pessoais. A maioria dos joseenses (81%) considera-se satisfeito e muito satisfeito com o círculo de amizade que possui. Os adultos de 45 a 59 anos são os que se sentem mais realizados com seus laços fraternos, enquanto os idosos são

os mais insatisfeitos. “No Brasil, muitos dos mais de 60 anos são mulheres viúvas –a esperança de vida do homem é menor que a da mulher. São pessoas que acabam ficando mais solitárias. Já os adultos têm menos pressão, estão estabelecidos financeiramente e com amizades consolidadas, diferente do que acontece com muitos jovens”, destacou Paulo Grangeiro. Se dinheiro garante qualidade de vida, ele também pode ser responsável pela criação de amizades. O problema é que nem sempre a qualidade da relação pode ser considerada saudável pelos envolvidos. Os moradores da zona oeste e central de São José são os que mais reclamam do convívio entre amigos, com 72,4% e 79,3% de insatisfação, respectivamente. Já quem vive na região sudeste, do bairro Putim, afirma estar feliz com os amigos e familiares. A explicação para o fato, na avaliação do psicólogo, diz respeito à facilidade de convivência e costu-

PESQUISA QUALIDADE DE VIDA Comov ocêa valiariasua q ualidaded evi da? 2,3% 0,5% 13,2% Cidade

Data de realização

São José dos Campos

3a5

Entrevistados

Idade de Corte

Instituto

16

Mind Pesquisas

600

de Julho

Quão satisfeito (a) você está com o seu acesso aos serviços de saúde?

anos

Quão satisfeito (a) está com as condições onde mora?

1,8% 2,2%

62,5%

Quão satisfeito (a) você está com sua saúde? 1,3% 10,7% 10,3% 11,5%

9% 13% 66,2%

61% 19,8%

36,5%

Quão satisfeito (a) você está consigo mesmo?

19,5%

Quão satisfeito (a) você está com seu sono?

6,3%

3,7% 13,8%

64,3%

11,7% 5,7% 1,5%

16,8%

20,7%

3% 12,8%

Quão satisfeito (a) você está com sua vida sexual? 1,3% 5% 7,7% 9,5% 19,3%

12,7% 0,5%

Muito Insatisfeito

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Quão satisfeito (a) você está com o seu meio de transporte?

58%

2,2% 67%

Quão satisfeito (a) você está com suas relações pessoais?

15,2%

3,7% 8,8%

1,0%

Muito ruim Ruim Indiferente Boa Muito boa

1,8%

16,3%

23,3%

21,5%

48,3%

Insatisfeito

18%

Indiferente

57,2% Satisfeto

Muito satisfeito

NS/NR

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Domingo 2 Setembro de 2012

mes de cada ponto geográfico do município. “A maioria das pessoas mora em prédios e condomínios fechados, se isolando, sem preservar um convívio diário com os vizinhos do entorno. Não existe aquela coisa de que todos se conhecem como existe num bairro, numa determinada rua. A rotatividade dos moradores é maior, dificultando a criação de laços de amizade”, disse Grangeiro. Além do dinheiro, idade e região geográfica, a pesquisa identificou um dos poucos aspectos em que a religião influencia nos resultados. Quem costuma frequentar templos evangélicos afirma ser mais satisfeito em seu círculo de amizades que os católicos, com 84,5% contra 79,3%. “Isso tem uma forte influência das igrejas evangélicas. Os membros convivem realmente entre si, se tratam como irmãos. Quem se diz católico não vai necessariamente à igreja. Os que se declaram evangélicos são frequentadores assíduos, convivem com o meio”, ponderou Eliana.

Sexo Há quem pense que a mentalidade evangélica sobre a prática do sexo seja recatada, um tabu para seus seguidores. No entanto, o estudo revela que 81,3% dos evangélicos de São José garantem desfrutar bem da prática sexual, contra 76,3% para os católicos. Vale ressaltar que segundo dados do censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o grupo católico é bem maior que o de evangélicos (67,1% e 22,6%). “Acho que pesa a questão ideológica. Os evangélicos podem se cobrar menos na hora do sexo, por isso, se satisfazerem mais. Iniciarem mais tarde sua vida sexual”, disse a socióloga. A cultura de que o homem é mais satisfeito que a mulher na vida sexual foi novamente comprovada pela pesquisa. Separando os números por gênero, foi possível constatar que 83,4% dos que responderam o estudo garantiram estar contentes e muito contentes com os resultados obtidos entre quatro paredes.

0,3%

0,5%

O problema é que nem todos deixam o lençol com o mesmo sorriso estampado no rosto, já que 30% das mulheres se dizem muito insatisfeitas, insatisfeitas ou ainda, nem uma coisa e nem outra. Saem da cama com o mesmo sentimento de quem acabou de assistir uma peça de teatro em que o roteiro era ótimo, mas o protagonista não sabia interpretá-lo corretamente. Único representante do sexo masculino consultado pela reportagem para avaliar os resultados da pesquisa, Paulo ponderou que pode haver falta de sinceridade nas respostas por parte dos homens. “Dificilmente o homem vai dizer que não está bem sexualmente”. Letícia, a mais jovem entre os profissionais, foi além no comentário. “O homem se satisfaz de outra maneira. A saciedade é apenas física, não depende de um conjunto de fatores, como é o caso da mulher”. Eliana Amorim apontou ainda a questão da infidelidade. “De um modo geral, a promiscuidade é mais permitida, tolerada, para os homens do que para as mulheres”.

Quão seguro (a) você se sente em sua vida diária? 1% 3,3% 6,2% 17,8%

Em que medida você acha que a sua vida tem sentido?

Em que medida você tem oportunidade de atividade de lazer? 0,3% 6,3% 7,8%

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Quão satisfeito (a) você está com o apoio que recebe dos amigos? 0,2% 1,2% 7,3% 13,3%

26,3%

54,3%

25,8%

34,8%

33,3%

2,5%

16%

43,2%

7,5%

62%

28,5%

Você tem dinheiro suficiente para satisfazer suas necessidades? 50,8%

Você é capaz de aceitar a sua aparência fisica?

O quanto você aproveita a vida?

44,7% 36,3%

1,2%

11% 21,3%

0,3% 22,5%

Quão satisfeito (a) você está com sua capacidade para o trabalho? 1,7% 5% 10,7%

53,3% 16,3% 4,7% 0,5% %

5,2%

15,2%

70,2%

2,5% 0,7%

ísico Quão saudável é o seu ambiente físico (clima, barulho, poluição,atrativos? 41,5% 36,7%

12,8%

0,7%

0,8%

tr O quanto você precisa de tratamento médico para levar sua vida diária? 1,2% 0,7%

13,3%

52,3%

3% 0,7%

4,2%

18,0% Nada

Com que frequência tem sentimentos negativos como mal humor, desespero, ansiedade e depressão? 3,8% 0,3% 2,3 % 26,7% 7,7%

14,5%

14%

11,7%

Muito pouco

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médio

Bastante B

59,2% extremamente

NS / NR

Nunca As vezes médio Muito Completamente NS/NR

Pesquisa com respostas estimuladas - Respostas únicas

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Especial

EQUIPE DE COMPETIÇÃO

DAHER TENNIS FORMANDO CAMPEÕES.

A Equipe de Competição da Daher é composta por três treinadores, dois coordenadores, um preparador físico e um fisioterapeuta. A Daher Tennis tem o intuito de contribuir com a formação de excelentes jogadores e, mais do que isso, educare preparar verdadeiros campeões na vida.

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Sono Está cientificamente comprovado que, modo geral, a pessoa que dorme bem vive melhor. Ou seja, o sono repercute diretamente na qualidade de vida. E mais uma vez, o dinheiro aparece como um fator determinante. Segundo a pesquisa, 73,3% dos joseenses que ganham mais de cinco salários mínimos se dizem satisfeitos com seu sono. O número cai para 67,3% entre os que recebem até três salários. “As pessoas endinheiradas têm mais sossego e tranquilidade, pois não estão preocupadas com as contas a pagar”, disse Letícia de Oliveira. Segundo a pesquisa, os moradores da zona sul são os que têm o pior sono: 20,8% se declararam “insatisfeitos” ou “muito insatisfeitos”, enquanto que nas outras regiões os percentuais oscilam entre 11% e 14%. “Já foi dito que a zona sul é a área mais violenta da cidade. Qualquer barulho de madrugada assusta os moradores, ainda mais se eles têm um conhecido na rua naquela hora. Por isso o sono deles fica perturbado”, opinou a socióloga Eliana Amorim. No geral, mais de 70% dos joseenses está satisfeita com o próprio sono. O dado é positivo, mas deve ser analisado com cuidado. Afinal, a pesquisa não quantifica o número de pessoas que tomam remédios para dormir. Como disse a psicóloga Letícia de Oliveira, “todos meus pacientes dormem bem, mas muitos tomam calmantes”. Mau humor Uma das perguntas da pesquisa foi: “com que frequência você tem sentimentos negativos como mau humor, ansiedade ou depressão”. A grande maioria dos entrevistados (85,2%) deu como resposta “nunca” ou “algumas vezes”. Mas vale ressaltar que as mulheres (16,1% contra 11,3% para os homens) e os católicos (14,4% contra 10,9% para os evangélicos) são maioria entre os que experimentam muito este tipo de emoções. “A mulher é condicionada para ser mãe. Quando os filhos crescem e saem de casa, ela sofre com o que a psicologia chama de ‘síndrome do ninho vazio’ e se pergunta qual é sua função. Esta incerteza sobre o que ela realmente é pode, em alguns casos, alimentar sentimentos negativos”, explicou Eliana Amorim. “A maioria das igrejas evangélicas prega que basta ter fé em Deus para estar bem, então muitos fieis dizem que nunca são tomados por esses sentimentos para serem coerentes com a crença deles”, sugeriu Letícia de Oliveira.

Em todo caso, o estudo confirmou que a maioria dos joseenses está de bem com a vida. Mais de 66% afirmaram aproveitar “bastante” ou “extremamente” a vida, contra 12,2% que disseram o contrário. A repartição geográfica revelou novamente algumas disparidades: os moradores das zonas sudeste e leste são os mais insatisfeitos (15,9% e 15,3%, respectivamente), enquanto que na região oeste, o percentual de insatisfação cai para 3,4%. “São áreas mais carentes de maneira geral. Mas a zona leste é uma região em consolidação, existe ainda muita coisa para se fazer por lá”, disse Pedro Ribeiro Moreira Neto, especialista em

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REGIÃO LESTE Avenida Juscelino kubitschek, na Vila Industrial, que fica na região onde os moradores dizem aproveitar menos a vida

planejamento urbano regional. Surpreendentemente, os habitantes da região central parecem aproveitar menos a vida que os da zona norte (13,4% e 7,9% de insatisfeitos, respectivamente). Além disso, 75% dos habitantes da região norte se dizem satisfeitos com as condições do lugar onde moram, contra 69,5% no centro. Porém, à pergunta “quão saudável é seu ambiente físico”, que levou em conta parâmetros como clima, barulho, poluição e atrativos, 51,2% dos moradores da região central deram resposta positiva, contra 45,3% dos da zona norte. Os números parecem mostrar que um ambiente físico saudável não é garantia de

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maior satisfação. Aliás, segundo o estudo, os habitantes da região norte são os mais críticos com relação à falta de oportunidades de lazer: 45,3% estão insatisfeitos, contra apenas 14,6% dos moradores da zona central. “Em qualquer área da cidade, mais da metade dos joseenses considera que aproveita bastante a vida. Não é uma unanimidade, mas é um dado positivo para São José dos Campos”, avaliou a socióloga Eliana Amorim. Saúde As palavras “saúde” e “qualidade de vida” frequentemente são usadas em uma mesma frase e dentro de um mesmo contexto. Os termos abrangem diversos fatores, tanto positivos quanto negativos, mas nem sempre quem tem saúde garante ter qualidade de vida e quem tem qualidade de vida, tem saúde. Em São José, mais da metade da população (52,8%) se diz insatisfeita e muito insatisfeita com acesso que possuem aos serviços básicos de saúde nas redes públicas e privadas. O apontamento foi o único da pesquisa onde a taxa de rejeição foi maior que aprovação. No entanto, em nada, ou quase nada, o fator impactou de forma significativa na avaliação geral de qualidade de vida. Dessa vez nem mesmo o dinheiro refletiu nos resultados, pelo contrário, a maior insatisfação está entre as famílias que ganham acima de cinco salários mínimos –que supostamente são contempladas pelo atendimento de convênios médicos privados. Somente este grupo apresentou 55% de descontentamento com os serviços prestados. Depois aparecem os que ganham de três a cinco salários (54,6%) e os que sobrevivem com até três salários mínimos, representando 50,7% da amostragem do estudo. “As pessoas do SUS acreditam que por ser de graça não podem cobrar por um atendimento de qualidade e, no convênio, se esperam cinco minutos no consultório reclamam. A insatisfação tem a ver com diferentes expectativas. Mas é fato que os convênios enfrentam uma série de problemas”, analisou Paula Carnevale Vianna, médica sanitarista especialista em saúde pública e planejamento urbano regional. Separando por região geográfica, as maiores queixas são dos moradores da zona leste (58%) e sudeste (56,4%). Já quem mora na zona norte reclama menos do acesso aos serviços prestados (37,5%). “A região norte recebe um tratamento diferenciado, é o único lugar da cidade onde o programa Saúde da Família está implantado. Esse

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Especial

projeto muda completamente o jeito com que as pessoas se relacionam com a unidade de saúde. No programa, a equipe cadastra todas as pessoas, vai à casa delas, pede exames, leva resultados. O atendimento é completamente diferente”, explicou Paula. Além da saúde, muitos joseenses também apresentam insatisfação com os meios de transporte, principalmente os que utilizam o serviço coletivo oferecido pela prefeitura. O percentual de reprovação é de 27%, sendo os residentes na zona norte, leste e sudeste os que mais reprovam o sistema. “Se a gente olhar o mapa da cidade vai ver que essas regiões são as mais distantes. Existem algumas linhas que vão de sul a leste, passando pela norte e pelo centro. Os trajetos são muito longos. Quem está nos extremos sofre mais com isso. A falta de investimento e planejamento no transporte acaba gerando essa insatisfação”, disse Pedro Ribeiro. A aprovação sobre o meio de transporte é de 51,3%, sendo os moradores do lado oeste de São José (55,1%) os mais satisfeitos, uma vez que a grande maioria se desloca de carro. “As queixas são mais voltadas para a malha viária, congestionamentos, radares e planejamento de vias”, afirmou Pedro. Nem sempre a qualidade de vida foi atrelada ao dinheiro. Em 1964, quando a expressão foi utilizada pela primeira vez, o então presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson afirmou que os objetivos da economia não podiam ser medidos através do balanço dos bancos, mas através da qualidade de vida que proporcionam às pessoas. Mais tarde, em 1976, o conceituado escritor Angus Campbell disse que a qualidade de vida é “uma vaga e etérea entidade, algo sobre a qual muita gente fala, mas que ninguém sabe claramente o que é”. •

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REGIÃO OESTE Índice de satisfação com a qualidade de vida é de nove em dez moradores, o mais alto de São José

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TRANSPORTES

Na contramão dos direitos Motoristas que se envolvem em acidentes ignoram indenização do DPVAT; apenas 12% recorrem ao auxílio financeiro do seguro obrigatório no Vale do Paraíba

Hernane Lélis São José dos Campos

P

ara dirigir seu veículo tranquilamente dentro do que rege os caminhos da lei é preciso, entre outras coisas, pagar o DPVAT (Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre), conhecido como seguro obrigatório. O objetivo da taxa é amparar financeiramente familiares e vítimas de acidentes de trânsito em caso de morte, invalidez e despesas hospitalares. Mesmo com o benefício garantido, a falta de conhecimento sobre o assunto e o receio de enfrentar processos burocráticos afastam os contribuintes do acesso à indenização. No primeiro semestre desse ano, apenas

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12% dos motoristas que se envolveram em colisões recorreram ao auxílio na RMVale. Somente nos seis primeiros meses do ano, 3.774 pessoas foram vítimas de acidentes de trânsito em vias urbanas e estradas que cortam a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte. As ocorrências deixaram saldo de 180 mortes, o equivalente a quase um óbito por dia, segundo balanço divulgado pela Secretaria Estadual de Segurança Pública. Tem direito ao seguro obrigatório todos os envolvidos no acidente, seja o pedestre, o passageiro ou o motorista, desde que comprovadas as despesas hospitalares. Nos casos de vítimas fatais, a família tem direito a receber R$ 13,5 mil. O mesmo valor é usado como teto nas ocorrências de invalidez, variando conforme a gravidade do problema. Para quem comprovar des-

pesas médicas e hospitalares a indenização pode chegar a R$ 2.700. O pagamento é feito inclusive para os que possuem convênio médico, não podendo haver sobreposição. Por exemplo, se o convênio não cobre determinado remédio ou exame, o DPVAT pode ser usado para ressarcir essas despesas, dentro do limite estabelecido. Não há cobertura para prejuízos materiais (furto, roubo ou incêndio). A indenização pode ser solicitada em até três anos a contar da data do acidente. No caso de invalidez, para pessoas ainda em tratamento, é levada em conta a data de laudo do Instituto Médico Legal. É preciso encaminhar o pedido ao Sincor (Sindicato dos Corretores) ou para uma seguradora conveniada. Não é cobrado nada por esse serviço prestado. “Após a entrega da documentação o pagamento é feito em até 15

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Flávio Pereira

dias. Não é necessário procurar essas agências que prometem ajudar no processo. Muitas delas cobram até 30% da indenização pelos serviços prestados”, explica Luiz Roberto Pereira, diretor regional do Sincor, em São José dos Campos. A cobrança pelos trabalhos de assessoria jurídica não é crime, mas por causa da facilidade com que é possível acionar o seguro, frequentemente vira instrumento de fraude. Há quadrilhas que falsificam boletim de ocorrência e até laudos do IML (Instituto Médico Legal). Outra modalidade são pessoas que aparecem no hospital, na funerária e até mesmo em cemitérios se fazendo passar por alguém apto a facilitar a resolução do problema pedindo que se assine uma procuração ou um documento qualquer, aproveitando-se do momento de fragilidade dos familiares.

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Cobertura A regional do Sincor de São José, que cobre nove municípios, atendeu de janeiro a julho desse ano 181 pessoas que procuraram a unidade para acionar o seguro obrigatório –90 casos de invalidez, 57 mortes e 34 despesas hospitalares. Em Taubaté, o órgão registrou dentro do mesmo período 287 processos, sendo 159 deles por invalidez, 58 mortes e 70 despesas hospitalares. Assim como nos acidentes, nem todos os pedidos são passíveis de indenização. No entanto, se o contribuinte entender que realmente tem direito ao seguro, pode pedir revisão do processo ou acionar o Ministério Público para tentar reverter a impugnação. “A quantidade de acidentes é muito grande e, por isso, o número de sinistros tende a aumentar. Além disso, trabalhamos para que as pessoas tenham mais in-

formações a respeito do assunto por meio de campanhas. Quando a indenização não é solicitada o dinheiro arredado fica parado nos cofres públicos” diz Francisco Sérgio, diretor do Sincor, em Taubaté. A dona-de-casa Isabel Cristina, 51 anos, perdeu o marido em um acidente de trânsito na serra de Caraguatatuba. Somente após quatro meses, alertada por um vizinho, procurou acionar o DPVAT para receber a indenização. “É um dinheiro bom, pois a gente não espera. Não é como um seguro de vida, mas é um alento”, afirma. Como o próprio nome sugere, quem não paga o seguro obrigatório fica impedido de recorrer à cobertura oferecida. Além disso, o carro será considerado não licenciado, o que é infração gravíssima (multa de R$ 191,54, sete pontos na carteira e apreensão do veículo). •

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Entrevista

Dois Pontos >Carlinhos Almeida, candidato do PT à Prefeitura de São José, adota o discurso da mudança alegando que, após 16 anos de governo tucano, a cidade não precisa de um prefeito que repita aquilo que já foi feito

“Vou montar o governo com as melhores cabeças de São José” >Alexandre Blanco, candidato do PSDB à Prefeitura de São José, defende o velho chavão esportivo “em time que está ganhando não se mexe” para justificar a permanência do governo tucano na cidade

“Estou na mesma situação que Eduardo Cury em 2004” 38-43_Entrevista_candidatos.indd 38

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Fotos: Flávio Pereira

PERFIL

EMPREGO “SÃO JOSÉ TEM QUE ADENSAR E FORTALECER AS CADEIAS PRODUTIVAS DE SEUS PRINCIPAIS SETORES, ENTRE ELES, O AUTOMOBILÍSTICO E O AERONÁUTICO”

EMPREGO “A CIDADE PRECISA INCENTIVAR A CRIAÇÃO DE POLOS INDUSTRIAIS DE ALTO VALOR AGREGADO PARA DEPENDER MENOS DAS EMPREGADORAS TRADICIONAIS”

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NOME: Carlinhos Almeida IDADE: 49 anos NATURALIDADE: Santa Rita do Jacutinga (MG) ESTADO CIVIL: Casado FORMAÇÃO: História e Geografia

PERFIL NOME: Alexandre Blanco IDADE: 38 anos NATURALIDADE: São José dos Campos ESTADO CIVIL: Casado FORMAÇÃO: Direito

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Entrevista

Hernane Lélis São José dos Campos

C

arlinhos Almeida ocupou pela primeira vez um cargo eletivo há 25 anos, quando assumiu uma vaga no Legislativo de São José dos Campos. Após três mandatos como vereador, foi eleito deputado estadual por três vezes e, em seguida, federal. Apesar dos votos que pavimentaram sua trajetória política, nunca conseguiu atingir o objetivo de ser prefeito. Uma situação que pode ser revertida no próximo pleito, dia 7 de outubro. Apontado como favorito nas pesquisas eleitorais, o petista explica em entrevista exclusiva à valeparaibano que seu projeto é tornar o município “mais forte”. “Acho que São José, nesse momento, não precisa de um prefeito que repita aquilo que já foi feito”, resume.

Qual a proposta para reduzir a fila de espera por consultas, cirurgias e exames em São José? < Primeiro temos que estruturar bem a rede básica, com o PSF (Programa de Saúde da Família) e com um novo conceito de Unidade Básica de Saúde, que implica em melhorar os equipamentos, contratar médicos e criar programas de prevenção. Com a saúde preventiva evitamos que pessoas doentes entrem na fila. De imediato vamos precisar fazer um mutirão para atender essa fila. A ideia é fazer

Yann Walter São José dos Campos

A

lexandre Blanco é a aposta do PSDB para estender por mais quatro anos um reinado político que começou em 1996, com a primeira eleição de seu padrasto, Emanuel Fernandes, à Prefeitura de São José dos Campos. Com pouca experiência política, o ex-secretário da Juventude insiste na importância de perenizar o legado “político, administrativo e ético” deixado por Emanuel e o atual prefeito, Eduardo Cury. Em entrevista exclusiva a revista valeparaibano, o segundo colocado das pesquisas, bem atrás de Carlinhos Almeida, tratou de se colocar como uma garantia de continuidade do sistema atual, defendendo o velho chavão esportivo de que “em time que está ganhando não se mexe”.

Qual a proposta para reduzir a fila de espera por consultas, cirurgias e exames em São José? < Nosso governo já tem uma estratégia, baseada na contratação de entidades filantrópicas como o ProVisão, o Hospital Antonino da Rocha Marmo e o Pio 12 para realizar exames, consultas e cirurgias. Além disso, estamos contratando médicos: há 16 anos, no início da nossa gestão, eram 300 médicos da prefeitura. Hoje, são 1.200. Criamos 13 novas unidades, entre UBS, UPA e três hospitais municipais.

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isso usando parcerias com instituições, como o Hospital Antoninho da Rocha Marmo, Pio 12 e Santa Casa. Contrataríamos esses serviços para zerar a fila e, a partir daí, atender a demanda gradativamente com serviço próprio. A SPDM consome grande parte do orçamento da saúde. Mas sua administração é criticada por usuários. Pretende manter a terceirização? < Primeiro, vamos garantir o emprego de todas as pessoas que estão hoje contratadas, seja pela SPDM, seja pelo Provisão. Segundo, a garantia do respeito aos contratos, não só na saúde, mas em outras áreas. Terceiro, dá mesma forma que os contratos serão respeitados, vamos exigir qualidade no atendimento dessas instituições. O Hospital Municipal, por exemplo, não conseguiu sequer ser certificado pela ONA (Organização Nacional de Acreditação), que é uma instituição que avaliou o Hospital Regional de Taubaté e deu à unidade nível dois. São três níveis. O de São José, administrado pela SPDM, nem o nível um conseguiu. O comando, a gestão e o poder da prefeitura de fiscalizar e exigir será exercido na plenitude. Na área de habitação, a fila de espera por casa reúne 19.500 pessoas. Outras 1.600 moram em áreas de alto risco. Qual a solução para esse déficit? < Primeira coisa é dar o respeito que não tem sido dado às pessoas que fizeram o seu cadastro. Elas receberam um pedaço de papel, que alguns guardam há mais de dez anos.

E ainda vamos ter um hospital do Estado em São José. Estamos na fase inicial, de escolha do terreno. O hospital será inaugurado no próximo mandato, e permitirá desafogar a fila de espera para cirurgias. Além disso, precisamos pensar na prevenção, que é uma parte fundamental da saúde. A SPDM consome grande parte do orçamento da saúde. Mas sua administração é criticada por usuários. Pretende manter a terceirização? < Vou manter a SPDM porque não concordo com essa avaliação. O número de profissionais da saúde foi elevado em 50%, sem acréscimo orçamentário. O número de consultas, cirurgias e exames cresceu. Ou seja, todos os indicadores aumentaram, com o mesmo dinheiro. A qualidade do atendimento no Hospital Municipal, que atende a todos e realiza procedimentos de alta complexidade, é uma referência no setor, tanto que recebe milhares de pessoas do Vale do Paraíba e do sul de Minas. Enquanto os números comprovarem que estamos aumentando a eficiência do atendimento gastando o mesmo dinheiro, vamos manter esse sistema. Na área de habitação, a fila de espera por casa reúne 19.500 pessoas. Outras 1.600 moram em áreas de alto risco. Qual a solução para esse déficit? < A fila da habitação tem critério social. Os primeiros a receber casa são os que mais precisam, ou seja, os que ganham até três salários mínimos. E esses são 12 mil, e não 20 mil. Eles é que têm a prioridade. Além do critério social, temos

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O principal critério para habitação tem que ser o respeito à fila. A gente tem que produzir habitação em parceria com o CDHU, mas sobretudo com o governo federal através do “Minha Casa, Minha Vida”, que fez muitas casas em São José na faixa que não depende da prefeitura, acima de três salários mínimos. Faltou a prefeitura fazer a parte dela. A nova Lei de Zoneamento engessou o mercado da construção civil, afetando diretamente os empregos do setor e a economia. Quais os pontos do texto que precisam ser alterados? < A Lei de Zoneamento, assim como o Plano Diretor, são legislações complexas e que precisam ser construídas através de uma negociação com todos os segmentos. Essa negociação tem que produzir um pacto que deve ser norteado por princípios. O primeiro é o da sustentabilidade ambiental e o segundo, da sustentabilidade econômica. Ele tem que ser construído de forma participativa e buscando um equilíbrio que permita a cidade crescer, se desenvolver e ampliar os empregos da construção civil, além de preservar a qualidade de vida. A Lei de Zoneamento atual ceifou 1.800 empregos na cidade, desde a sua vigência. Vou propor que a cidade faça uma revisão da lei. Isso não pode ser uma imposição da prefeitura, não pode ser uma imposição da Câmara, ambos têm que chamar a sociedade para dizer qual a cidade que queremos e qual o futuro vamos preparar para São José. As indústrias estão com dificuldade para garantir

o critério de risco, que é outra prioridade. Mas as duas prioridades acabam sendo uma só, pois na maioria das vezes quem mora em área de risco é porque não tem condições de morar em outro lugar. Construímos mais de 6.000 mil casas nos últimos anos, e outras 5.000 serão entregues no próximo mandato. Além disso, é preciso destacar que mais de 15 núcleos de favelas foram fechados no nosso governo, e a realocação dos moradores foi, também, considerada prioritária. Hoje, São José está praticamente livre de favelas. A última tentativa de loteamento irregular foi o Pinheirinho, que felizmente não avançou. Os ex-moradores de lá que estão na fila por moradia estão submetidos às mesmas condições, aos mesmos critérios de renda que os demais. A nova Lei de Zoneamento engessou o mercado da construção civil, afetando diretamente os empregos do setor e a economia. Quais os pontos do texto que precisam ser alterados? < Não é verdade que o emprego caiu por causa da Lei de Zoneamento. O número de funcionários do setor da construção civil passou de 6.000 a 16 mil nos últimos cinco anos. O número de empreendimentos na cidade pulou de 70 para 140. Foram criadas mais de mil empresas da construção civil e mais de 140 agências imobiliárias nos últimos oito anos. Isso mostra o salto gigantesco que deu o mercado imobiliário durante nossa gestão. O mercado estava superaquecido, e só agora estabilizou. Essa lei foi elaborada por técnicos, e aprovada pela Câmara. Não estou

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investimentos e assegurar empregos. Como o município pode intervir para evitar casos como o da GM? < São José tem que adensar e fortalecer as cadeias produtivas de seus principais setores, entre eles, o automobilístico e o aeronáutico. No caso da GM, a prefeitura tem que se colocar como parte do problema e não apenas como intermediadora. Você não pode assumir a bandeira da direção da empresa e nem do sindicato. Tem que se colocar equidistante e facilitar o diálogo. Temos que fazer um distrito industrial para viabilizar investimentos. Além de fortalecer e adensar a cadeia produtiva, é preciso diversificar a economia. O setor de serviço hoje cresce no Brasil e no mundo inteiro. São José não tem, por exemplo, uma política para turismo, para incentivar serviços ligados a entretenimento e ao esporte. O próprio comércio tem amarras para o seu desenvolvimento, os procedimentos são burocráticos. Abrir uma empresa em São José é difícil e demorado. Vamos tirar as amarras que existem hoje para o desenvolvimento da cidade. Dados do MEC apontam que uma a cada três crianças não tem acesso à creche em São José. Como pretende resolver esse problema? < Precisamos criar em torno de 6.000 vagas. Com o recurso que a prefeitura tem e com os programas que o governo federal está criando, como o Proinfância, temos condição de atender essas crianças que hoje batem na porta da prefeitura e não têm atendimento.

dizendo que nada vai mudar. Estamos abertos a discussões, mas desde que seja uma solicitação da cidade toda, ou ao menos de parte dela, e não de apenas um segmento. As indústrias estão com dificuldade para garantir investimentos e assegurar empregos. Como o município pode intervir para evitar casos como o da GM? < No caso da GM, a prefeitura fez o seu papel de mediador entre a empresa e o sindicato. É o único papel que lhe cabe. Mas o que podemos fazer, e que já estamos fazendo, para a cidade de um modo geral é incentivar a criação de polos industriais de alto valor agregado no Parque Tecnológico para depender menos das empregadoras tradicionais como a GM e a Embraer. No próximo mandato, vamos lançar o loteamento para o distrito industrial do Parque Tecnológico. Nos últimos quatro anos, o número de empresas abertas na cidade saltou de 2.000 para 6.000 por ano. Aliás, estamos estudando uma lei de incentivo fiscal que, além do ISS e IPTU, vai incentivar também a devolução do ICMS em parceria com o governo do Estado. São José tem um nível altíssimo de empregabilidade. Aqui, 32% da população tem emprego. São 200 mil pessoas trabalhando. Jacareí, por exemplo, emprega apenas 17% de sua população. Dados do MEC apontam que uma a cada três crianças não tem acesso à creche em São José. Como pretende resolver esse problema? < Estamos muito à frente das metas nacionais em termos

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Entrevista

O transporte público é fortemente criticado pelos usuários e enfrenta problemas internos entre funcionários e concessionárias que administram o sistema. Qual a solução para essas questões? < Precisamos replanejar todo o sistema para priorizar o transporte público, desde questões simples com localização dos pontos, itinerários, tamanho de ônibus, até o uso de tecnologia. Todo o mundo tem que ter o direito de usar seu carro, mas tem também que ter opção para usar um ônibus. São José está entre as cidades mais violentas do Estado. Como pretende reduzir a criminalidade? < Essa é uma responsabilidade sobre tudo do governo estadual, mas o município pode e deve ajudar muito. O primeiro passo é levar o monitoramento de câmera para todos os principais eixos comerciais. Outro ponto é fortalecer a Guarda Municipal sempre com uma visão integrada com as polícias Civil e Militar. Em alguns bairros precisamos instalar bases da Guarda Municipal. O ideal seria que essas bases fossem da PM, mas ela não tem aceitado montar bases fixas. Temos que dialogar para que ela possa rever essa posição. São José não tem amplo programa de tratamento voltado aos usuários de drogas. O que pode ser feito? < No tratamento temos que trabalhar com parcerias. Hoje a prefeitura tem uma política de fechar instituições, principalmente as religiosas, que realizam trabalho de recuperação de dependentes. Temos que ter ou-

ELEIÇÃO “QUERO DAR O EXEMPLO DO PRESIDENTE LULA, QUE CHAMOU PARA O BANCO CENTRAL UM DEPUTADO DO PSDB”

de educação, tanto fundamental quanto infantil. No fundamental, já atingimos a meta de 100% há muito tempo. Sobre as creches, também avançamos muito, tanto na quantidade como na qualidade. A meta brasileira é suprir 50% da demanda em cinco anos. Nós já estamos em 75% e vamos avançar mais ainda, sem descuidar da qualidade. O transporte público é fortemente criticado pelos usuários e enfrenta problemas internos entre funcionários e concessionárias que administram o sistema. Qual a solução para essas questões? < Demos um salto com a licitação, que abriu o sistema para três empresas. Isso permitiu um aumento do número de linhas e de veículos. Criamos um mecanismo de concorrência. Como o novo sistema, o número de usuários aumentou em 50%. Sabemos, porém, que algumas linhas precisam ser melhoradas. Já identificamos problemas pontuais no Aquarius e na zona leste, e vamos solucioná-los através da abertura de corredores de ônibus e da disponibilização de veículos articulados, para 180 a 200 pessoas, nos locais de maior movimento nos horários de pico. São José está entre as cidades mais violentas do Estado. Como pretende reduzir a criminalidade? < O grande responsável pela segurança é o Estado, com a PM e a Polícia Civil. Mas temos a Guarda Municipal, que conta com frota de veículos novos. Temos o COI, que pode receber qualquer tipo de ocorrência. E as câmeras de vigi-

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ELEIÇÃO “VAMOS MOSTRAR O LEGADO ADMINISTRATIVO, POLÍTICO E ÉTICO QUE EMANUEL E CURY DEIXARAM À CIDADE”

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tra postura. Se a instituição não possui profissionais em quantidade adequada, se tem dificuldades estruturais, temos que ajudá-la a sanar suas dificuldades para ela funcionar regularmente. Não notificar e fechar. O modelo de gestão de cultura é criticado pela classe artística. Existe possibilidade de extinguir a FCCR e implantar uma Secretaria de Cultura? < A Fundação Cultural é uma conquista. Temos que mantê-la, fortalecê-la e democratizá-la. É preciso criar o Fundo Municipal de Cultura, uma reivindicação do segmento. Também é preciso apoiar os produtores. Os artistas precisam de espaço para desenvolver, aperfeiçoar e se apresentar. Para isso, é preciso um teatro, um que não seja invertido. Precisamos aperfeiçoar a LIF (Lei de Incentivo Fiscal). Como pretende manter a vantagem apontada pelas pesquisas eleitorais para evitar um segundo turno? < Eleição é como programa do Chacrinha, só acaba quando termina. Tenho falado que quero fazer uma campanha olhando o para-brisa e não o retrovisor. São José nesse momento não precisa de um prefeito que repita aquilo que já foi feito, mas de um prefeito que tem a visão de saber que de tudo que foi feito existem coisas positivas, que temos que aproveitar, e erros que foram cometidos que temos que aprender com eles para evitá-los. Pretendo manter a boa acolhida que temos, o bom apoio, sendo franco e sincero sobre meu projeto. É um

lância. Teremos 500 até o final do ano, seremos a cidade do Brasil com o maior número de câmeras. Vamos dar continuidade a essa política de contratação de guardas, aquisição de equipamentos e instalação de câmeras. Além disso, vamos estabelecer parceria com o Estado, para que a Prefeitura possa contratar PMs em seus horários de folga. São José não tem amplo programa de tratamento voltado aos usuários de drogas. O que pode ser feito? < Há três frentes no combate às drogas: prevenção, fiscalização e repressão, e tratamento. Duas secretarias trabalham nesta última frente: Saúde e Desenvolvimento Social. Temos as ferramentas necessárias para atender a todos. Vamos continuar trabalhando nesta área, pela qual, como ex-secretário da Juventude e coordenador do programa municipal de prevenção às drogas, tenho grande carinho. O modelo de gestão de cultura é criticado pela classe artística. Existe possibilidade de extinguir a FCCR e implantar uma Secretaria de Cultura? < A ideia é priorizar a economia criativa, e a FCCR tem ajudado bastante neste aspecto. Não acho que a mudança de nome (Fundação ou Secretaria) seja prioridade. É possível estender a lei de incentivo fiscal, muito bem usada pelo esporte. Somos ativos em nossa política de empreendedorismo cultural. Avançamos na realização de grandes eventos como Festivale, Festidança, Semana Literária de São Francisco ou Revelando São Paulo. Vamos entregar o Cen-

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projeto de preparar São José para o futuro e alicerçar São José no tripé desenvolvimento econômico, qualidade de vida e inovação nos serviços públicos. O PT é estigmatizado por trazer pessoas de fora da cidade para ocupar cargos nas secretarias. Como pretende formar sua equipe no primeiro escalão? < Vou montar uma administração com as melhores cabeças de São José. Vou governar com os partidos que nos apoiam, com os partidos que vierem nos apoiar, mas também com capacidade técnica e conhecimento da cidade que serão aproveitados mesmo que não tenham ligação com o partido. Quero dar exemplo do presidente Lula que quando foi eleito chamou para o Banco Central um deputado eleito pelo PSDB. Acho que se tivermos quadros de outros partidos que não nos apóiam, ou pessoas que não têm vínculo partidária, mas podem contribuir, não vou hesitar em ter. Identifico até na atual gestão, para pensar alto, pessoas do primeiro escalão que aproveitaria sem menor problema. Não vou citar nomes. Não faltam talentos na cidade. Quais pontos positivos você enxerga em seu principal adversário político, Alexandre Blanco? < Acho que ele tem uma história partidária. Tem uma ligação partidária. Acho que a gente sempre deve respeitar os adversários e eu sempre respeito. Lamento que muitas vezes opostos não ocorra, mas vou seguir minha campanha sempre com serenidade e tranquilidade. Esse é o caminho. •

tro da Juventude, que será um grande polo cultural, além de esportivo e educacional. Minha prioridade no setor da cultura será a conclusão do Teatro Municipal, assim que a oposição deixar de inventar ações para impedir o processo. As últimas pesquisas de opinião apontam uma vantagem de 35 pontos percentuais em favor do candidato do PT. Como pretende reverter esse quadro e levar a disputa para o segundo turno? < Fazendo exatamente o que estou fazendo. Ir para a rua todos os dias. Conversar com a população. Além disso, a campanha na televisão começou. Vamos mostrar o legado político, administrativo e ético que Emanuel e Cury deixaram para a cidade. A população poderá comparar as propostas e escolher o que é melhor para São José. O resultado das pesquisas era esperado. Temos um candidato novo, que nunca disputou eleição, e outro com 25 anos de política. Estou na mesma situação que o Eduardo Cury em 2004. Se você for eleito, vai manter os secretários do governo Cury? < Ainda não discutimos isso. Só depois da eleição é que conversaremos sobre este assunto. Quais pontos positivos você enxerga no seu principal adversário político, Carlinhos Almeida? < (longa pausa) Ele demonstra ser um político calmo. Isso é uma qualidade. •

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PETRÓLEO

A face norte do Mercosul Entrada da Venezuela no bloco dos países sul-americanos gera divergências. Por um lado, o petróleo é muito bem-vindo, por outro, Hugo Chávez é uma pedra no sapato

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Yann Walter São José dos Campos

o dia 31 de julho, a Venezuela se tornou oficialmente o quinto membro do Mercosul, uma organização que já reúne Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Trata-se da primeira ampliação do bloco desde sua criação, em 1991. O ingresso da nação de Hugo Chávez no bloco sul-americano levanta diversos questionamentos, ainda mais porque se deu em meio a um contexto político conturbado. O Paraguai, único país cujo Congresso não havia aprovado a entrada da Venezuela no Mercosul, está suspenso desde o impeachment do presidente Fernando Lugo, em junho passado. Ou seja, a adesão venezuelana ao bloco só foi possível porque um de seus membros fundadores não pôde exercer seu direito de veto. Para avaliar se a chegada do vizinho do norte é vantajosa ou não para o Brasil, a revista valeparaibano conversou com diversos especialistas das áreas de economia e política. Os benefícios comerciais decorrentes do ingresso da maior potência petro-

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lífera da América Latina foram destacados, com algumas ressalvas. Já a parte política inspirou mais reservas. Afinal, Chávez, que pleiteia um terceiro mandato de seis anos nas eleições presidenciais de outubro, privilegia alianças com países como Cuba e Irã em vez de estreitar relações com algumas das maiores potências econômicas mundiais, como os Estados Unidos e a Europa. “A adesão da Venezuela beneficia o Mercosul e o Brasil do ponto de vista econômico e comercial. A desvantagem é política, por duas razões: o fato de o Paraguai estar suspenso e, apesar de membro pleno, não ter participado da decisão, e a desconfiança que isso pode criar para outros parceiros do bloco”, resumiu Janina Onuki, professora da USP (Universidade de São Paulo) e especialista em política externa brasileira. No âmbito econômico, o ingresso da Venezuela no Mercosul traz vantagens inegáveis. Membro da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o país é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, com reservas superiores às da Arábia Saudita. Assim, a chegada de Caracas ao bloco dará uma segurança energética à região. O PIB (Produto Interno Bruto) da Venezuela, hoje em US$ 315 bilhões, é o quarto

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Mundo Wilson Dias/ Divulgação/ABr

maior da América do Sul. Com a entrada dos venezuelanos, o Mercosul ficará com um PIB de US$ 3,3 trilhões, tornando-se a quinta maior economia do mundo. “O Mercosul já é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo. Agora, com a chegada da Venezuela, passa a ser também um ator de primeiro plano no setor energético”, sintetizou o economista Luiz Carlos Laureano da Rosa, pesquisador do Nupes (Núcleo de Pesquisas Econômico-Sociais) da Universidade de Taubaté. Comércio Hoje, a Venezuela importa cerca de 70% do que consome, de alimentos a bens de alta tecnologia. Com o Brasil, o comércio bilateral consiste basicamente na exportação de derivados de petróleo e na importação de carnes, commodities agrícolas e alguns produtos industrializados, como autopeças. No ano passado, as importações brasileiras em procedência da Venezuela totalizaram US$ 1,27 bilhão, enquanto as exportações do Brasil para o vizinho do norte somaram US$ 4,6 bilhões. Isso significa um resultado positivo de US$ 3,2 bilhões. Deste ponto de vista, é claro que o país tem muito a ganhar com a adesão de Caracas ao bloco. Uma ressalva, porém: a redução das tarifas alfandegárias entre a Venezuela e o Mercosul não vai acontecer da noite para o dia. Alguns bens de produção sensíveis que não sobreviveriam à abertura total do mercado– como, justamente, as autopeças– levarão vários anos para terem seus tributos reduzidos. “Tudo vai depender dos próximos passos que forem dados no cumprimento dos acordos do Mercosul. Será longo o caminho da Venezuela para se adequar à Tarifa Externa Comum existente entre os membros do bloco”, avisou o professor Laureano. “Ainda é cedo para prever em que medida a adesão ao bloco vai impulsionar o comércio intra-regional, porque a Venezuela vai passar por um período de adaptação”, concordou Paulo Vítor Sanches Lira, superintendente da Câmara de Comércio Brasil-Venezuela. De qualquer modo, vale lembrar que as relações comerciais entre os próprios membros do Mercosul são travadas pelo protecionismo. A Argentina, por exemplo, tem atualmente 113 medidas restritivas contra bens produzidos pelos demais integrantes do bloco, sendo 66 contra o Brasil. No último ranking de abertura comercial elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, o

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ACORDO A presidente Dilma Rousseff e Hugo Chávez selando a entrada da Venezuela

Brasil aparece na 80ª colocação –de um total de 132 países. A Argentina ocupa o 96º lugar, o Paraguai o 101º. Já o mais novo aderente do bloco aparece na antepenúltima posição. Além dos bens de consumo, o ingresso da Venezuela no Mercosul deverá impulsionar também a exportação de bens e serviços de infraestrutura, sobretudo os relacionados à indústria do petróleo. Afinal, como lembraram os especialistas, o país não tem um parque industrial expressivo. “Espera-se que a maior aproximação comercial entre os países alavanque os investimentos sob a forma de parcerias entre empresas brasileiras e venezuelanas. Um exemplo de investimento conjunto é a refinaria Abreu e Lima, no Pernambuco, que reuniu PDVSA (Petróleos de Venezuela S.A.) e Petrobras”, citou o pesquisador da Unitau. Projetos Outros investimentos possíveis no setor de infraestrutura seriam a retomada do projeto Grande Gasoduto do Sul, atualmente paralisado, hidrovias para unir as bacias do Orinoco e do Amazonas, ou até uma ferrovia entre Belém (PA) e Caracas. Aprovado em 2006 por Hugo Chávez e os então presidentes da Argentina, Nestor Kirchner, e do

Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o projeto consistia na construção de um gigantesco gasoduto entre os três países por um custo total avaliado em cerca de US$ 20 bilhões. Vale lembrar que com a entrada da Venezuela, o Mercosul amplia sua área de atuação até o extremo norte da América do Sul, o que pode facilitar o comércio com a América Central e o Caribe. Especialistas aventaram, inclusive, a possibilidade de empresas brasileiras utilizarem a Venezuela como plataforma logística para exportar para o Caribe e os Estados Unidos. Uma questão preocupa empresários interessados em investir na Venezuela: a possibilidade de nacionalizações arbitrárias. Sabe-se que os dois maiores aliados de Hugo Chávez no continente, o boliviano Evo Morales e a argentina Cristina Kirchner, são adeptos do procedimento. Em 2006, Morales determinou a estatização de todo o setor de petróleo e gás na Bolívia, causando graves prejuízos à Petrobras. Em abril deste ano, Kirchner aprovou a nacionalização da petrolífera YPF, cujo capital pertencia em 51% à espanhola Repsol. No entanto, segundo especialistas, a entrada da Venezuela no Mercosul vai trazer mais segurança neste sentido. “O ingresso da Venezuela no bloco impli-

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Mundo Divulgação

PIB Com a entrada da Venezuela no Mercosul, o bloco passa a ter um PIB de US$ 3,3 trilhões

cará o estabelecimento de compromissos com estabilidade e segurança jurídica, o que certamente ajudará a criar melhores condições para os investimentos. É bom lembrar que foi justamente o apoio do empresariado brasileiro que levou a oposição ao governo Lula a aprovar o tratado de adesão da Venezuela ao Mercosul”, recordou o professor de Direito Internacional Pedro Dallari, do Instituto de Relações Internacionais da USP. “Os acordos do bloco dão mais segurança aos empresários brasileiros. Caso o Mercosul venha a ter a importância que se espera para a economia venezuelana, isso se tornará um constrangimento para futuras nacionalizações, com o receio de que o país possa ser retirado do bloco”, concordou o professor Laureano, da Unitau. Em todo caso, o economista se disse certo de que a adesão da Venezuela ao Mercosul será benéfica para a economia do Brasil e, inclusive, para o Vale do Paraíba.

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“Os investimentos venezuelanos no setor petrolífero estão começando a ser direcionados para a Petrobras. Embora não sejam diretamente ligados à refinaria da região, certamente haverá um reflexo. Além disso, as indústrias automobilísticas do Vale também serão beneficiadas se os itens relacionados a automóveis entrarem nos acordos preferenciais do Mercosul, passando a competir diretamente com os produtos procedentes do México”, avaliou. Política No âmbito político, a adesão venezuelana ao Mercosul gera mais controvérsias, principalmente por causa da personalidade volátil de Hugo Chávez. Muitos temem que o bloco, originalmente pautado por objetivos econômicos, acabe adquirindo contornos políticos e ideológicos. As posições radicais de Chávez, que não perde uma oportunidade de fustigar o “imperialismo ianque”, podem

se tornar um empecilho para a consolidação das relações comerciais do Mercosul com os Estados Unidos. “As relações podem ficar estremecidas se os EUA decidirem aplicar sanções econômicas fortes contra o Irã e a Venezuela optar por manter seus vínculos com o governo de Mahmud Ahmadinejad. No mínimo, haverá um constrangimento político”, mencionou o professor Laureano. Entretanto, há quem acredite que a influência política possa se exercer também no sentido inverso. “O ingresso em um bloco permite ao novo membro influenciar seus parceiros, mas, por outro lado, impõe ao ingressante um alinhamento com as posições majoritárias no grupo. No atual contexto, penso que a Venezuela tenderá a acompanhar a postura brasileira, de maior equilíbrio e ponderação nas relações exteriores”, analisou o professor de Direito Internacional Pedro Dallari. “É importante ressaltar que o Mercosul não tem uma política externa comum. Há divergências entre os países do bloco que muitas vezes se refletem nas votações dos países nos organismos internacionais. A Argentina, por exemplo, sempre se mostrou desfavorável à aspiração brasileira de obter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). O Itamaraty tem uma atuação expressiva e independente, e acho difícil que sua orientação mude com a entrada da Venezuela no Mercosul”, ponderou Laureano da Rosa. É claro que as preocupações políticas referentes à entrada da Venezuela no bloco estão centralizadas na figura de Hugo Chávez. Mas tudo pode mudar no dia 7 de outubro, quando acontecem as eleições presidenciais naquele país. Para muitos, o jovem líder opositor Henrique Capriles, 40 anos, representa a chance mais séria de tirar Chávez do poder após 13 anos. O atual presidente leva vantagem na maioria das pesquisas de opinião. Mas se, por ventura, Capriles for eleito, a Venezuela entrará em uma nova era, marcada por profundas mudanças políticas e econômicas. O candidato da oposição já disse que o ingresso no Mercosul somente passará a ser uma oportunidade para os venezuelanos quando houver uma modificação radical do modelo produtivo do país. “Hoje importamos praticamente tudo, e mais de 95% de nossas exportações estão ligadas ao petróleo”, recordou, dizendo que nestas condições, a adesão da Venezuela beneficia apenas os outros integrantes do bloco. •

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Ensaio

Ensaio fotográfico

Jarbas Mattos fotógrafo

Voos coloridos Apaixonado por aves, o biólogo Jarbas Mattos se aventura na mata antes do raiar do dia para registrar imagens curiosas sobre o comportamento desses pequenos animais na natureza

BRIGÃO Beija-flor-tesoura tem comportamento abusado: é um dos mais briguentos das espécies de beija-flor

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Turismo

VERMELHO Sanhaรงu-de-fogo machoq uando mais novo tem plumagem mista verde e laranja

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BICO-FINO Com 13 centímentros de comprimento, o Saí-azul também é conhecido como saí-bico-fino

SULAMERICANO Além do Brasil, o Viuvinha-de-óculos pode ser encontrado na Argentina, Bolívia, Paraguai, Peru e Chile REI Do tamanho de um pardal, o Tico-ticorei tem um topete vermelho com uma faixa branca

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Ensaio

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ARARA A arara-vermelhagrande tem cerca de 90 centímetros de comprimento e pesa até 1,5 quilo

CORES Quando fêmea, o saí-azul tem a plumagem verde;ao lado, o saíra-ferrugem

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TESOURA Tesoura-do-brejo tem 42 centímetros, da cabeça até o rabo, e também é chamado de galito

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Coisa & Taltigo

Marco Antonio Vitti

Um sonho de criança repleto de notas musicais

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esde os meus anos de consciência, aos oito de idade, já sabia o que eu seria na vida. Arrogância de minha parte? Eu lhes garanto que não. Uma das minhas maiores alegrias sempre foi nunca ter desobedecido meus pais. Gostava de estudar e como sempre trabalhei com os meus pais, eles reconheciam esse esforço. Em um Natal pedi-lhes de presente um violão. Bem,se eu sempre obedeci meus pais, eles também sempre reconheceram meu esforço. Então, além do violão, ganhei aulas com o melhor violonista de Poços de Caldas, Harum Al Rachid. Colocava meu método de solfejo, minhas partituras em uma sacola de fazer compra no mercado, e com o violão nas costas, com sol ou chuva, todos os sábados fazia um percurso de mais ou menos oito quilômetros para ter a minha tão sonhada aula. Com a música, meu violão tornou-se meu passaporte para a minha socialização e também para me tornar um líder universitário, quando minha música inscrita no 1º Festival de Música Universitária foi proibida pela ditadura. Somente através da união de todos os diretórios acadêmicos daquela época conseguimos o alvará para apresentá-la e Deus me concedeu ganhar o festival com os prêmios de melhor música, letra e interpretação. Com essa música, “Século XX”, tornei-me um líder estudantil e até

hoje a música é minha grande paixão. Para minha enorme alegria meu filho resolveu fazer a Faculdade de Música na Unicamp, e após ele sofrer a primeira crise de Esclerose Múltipla em 1994, meu querido e amado filho Leonardo, hoje conhecido no meio musical como Leo Vitti, passou no vestibular sem cursinho e foi aprovado na prova de aptidão com a nota 9,5. Foi a superação. Só de lembrar meu coração se enche de alegria e meus olhos de lágrimas de ter um filho heroico, que até hoje não tem nenhuma sequela –que acredito ser devido à música. Meu filho hoje é professor de música, arranjador para cantores que vão participar do Festival Credicard de Música, além de ter tido o privilégio de fazer parte da banda na qual a grande cantora Ana Cañas se lançou na MPB em um show maravilhoso no Teatro da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Mas, porque estou falando disto tudo? Porque recebi um telefonema de um grande amigo e professor de música com o qual fiz um curso anunciando-me que o MEC aprovou a primeira Faculdade de Música no Vale do Paraíba, aqui em São José dos Campos. Estou falando de Acácio Mauricio Oliveira Jr., músico e violonista de fama internacional, professor e dono

da Escola de Música Villa Lobos. Acácio revelou-me que suas influências musicais foram o Rock, MPB e, principalmente, o erudito Heitor Villa-Lobos, do qual se tornou um dos maiores intérpretes. Acácio revelou que antes de colocar o nome de Villa-Lobos em sua escola foi falar com a viúva de Heitor Villa-Lobos quando ela esteve em São José dos Campos para inaugurar a Av. Heitor Villa Lobos. Dona Arminda Villa Lobos, mais conhecida pelos amigos como Dona Mindinha, ouviu Acácio e disse-lhe que precisava conversar com a família e que lhe responderia. Um belo e maravilhoso dia ela escreveu-lhe que podia colocar o nome do marido em sua escola desde que ele mantivesse o nome do grande maestro com respeito. Acácio fez mais que isso, tocou em 2011 em um concerto internacional na República da Sérvia, o Concerto para Violão e Orquestra Filarmônica de Volgrad, além disso, recebeu do governo federal a autorização para a Faculdade de Música Villa Lobos do Cone Leste Paulista – FAV – COLESP, a primeira faculdade de música de nossa região. Obrigado Acácio por realizar o teu, o meu, o sonho de criança de todos nós. Obrigado, de coração. •

Marco Antonio Vitti Especialista em biologia molecular e genética vitti@valeparaibano.com.br

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Turismo EUROPA

Lisboa: tradição e modernidade Capital portuguesa tem conquistado cada vez mais os brasileiros em roteiros turísticos que conjugam o passado e o presente com harmonia

MODERNO Parque das Nações, a parte oriental de Lisboa, que abriga o complexo turístico

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Fotos: Turismo de Lisboa

Domingo 2 Setembro de 2012

Marcelo Claret Lisboa (Portugal)

A

pegada às suas tradições, mas cosmopolita. Assim é Lisboa, a capital portuguesa que tem conquistado turistas de todo o mundo. Mais que museus, mosteiros e palácios, a cidade lusitana abriga complexos turísticos inovadores e imponentes construções do novo século. Conjuga o passado e o presente com harmonia, tornando-se um caso singular que oferta a modernidade em mais de dois mil anos de história. Divulgar essa característica única é um dos desafios do Turismo de Lisboa, que não mede esforços para atrair, principalmente, os turistas brasileiros, seu novo público alvo. E os resultados já começaram. Em 2011 a procura de brasileiros bateu recorde, com 595.648 pernoites, a segunda maior taxa de ocupação nos hotéis –perdeu apenas para os espanhóis. No primeiro trimestre deste ano já são 118.676 dormidas, liderando o ranking. E na estratégia de difundir a modernidade, o ponto turístico mais simbólico desta temática contemporânea fica no bairro Parque das Nações, a parte oriental da capital. Nele, um complexo construído para a Exposição Mundial de 1998, concentra o Pavilhão do Conhecimento – Ciência Viva, com diversas exposições nas áreas de ciência e física, o Teatro Camões, o Shopping Vasco da Gama, e o Casino de Lisboa. Mas as principais atrações locais são o Oceanário de Lisboa e o Teleférico. O oceanário, um dos maiores aquários do mundo, com mais de cinco milhões de litros de água

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salgada, reúne mais de cem espécies marinhas em um tanque central de mil metros quadrados. Tubarões, raias, peixes multicoloridos, pinguins, lontras e outra infinidade de graciosos animais são diversão garantida, principalmente para as crianças. Funciona das 10h às 20h. Crianças de até 12 anos e idosos com mais de 65 anos pagam 9 euros, de 13 aos 64 anos (13 euros) e pacotes familiares custam 34 euros. Outro agradável passeio familiar é o Teleférico, que atravessa todo o complexo. Do alto do percurso de 15 minutos (ida e volta) avista-se o grande Rio Tejo, talvez o responsável pelo agradável clima de Lisboa. Mesmo com as altas temperaturas da temporada de verão, uma brisa refrescante ameniza a sensação térmica do calor de 30 a 35 graus. A telecabine, como chamam, funciona das 10h30 às 20h todos os dias da semana. Crianças pagam 3,35 euros e adultos 5,90 euros pelo trajeto completo. Mas Lisboa também é tradição. E é caminhando pelas vielas de paralelepípedos, entre bondes antigos, praças centenárias e monumentos dedicados a antigos reis, descobridores e poetas que conhecemos o centro histórico da cidade. Três bairros –Alto, Alfama e Chiado– são visitas obrigatórias no roteiro. Com as construções mais características da capital portuguesa, essa região abriga casarões de três ou quatro andares repletos de amplas janelas retangulares nas fachadas de azulejo ou pintadas em tons terrosos. O Bairro Alto é o mais boêmio. Habitado por idosos, de dia se observa os vestígios da intensa vida noturna –as garrafas de bebidas e as pontas de cigarro espalhadas pelas inúmeras rue-

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Turismo

las denunciam o agito da noite anterior. No bairro frequentado por muitos jovens, que lotam as estreitas e íngremes ruas e escadarias, os bares fecham às 2h. Já o Alfama é conhecido por abrigar as mais típicas e famosas casas de fado, gênero musical carregado de sentimento, que fala de amor, principalmente o não correspondido. Patrimônio Imaterial da Humanidade, o fado narra a saudade, o lamento, a tristeza. E quando as fadistas cantam, a sala escurece e faz-se silêncio para apreciar um dos maiores orgulhos nacionais. Chiado é o mais descolado do centro. Foi totalmente reconstruído após o terremoto de 1755. Reúne as lojas de grifes internacionais e as casas de café mais famosas, entre elas, A Brasileira, aberta em 1905 e a preferida do poeta Fernando Pessoa. O café na conhecida casa custa 1,50 euro. Em Chiado também vale conhecer A Vida Portuguesa, uma loja que comercializa produtos de higiene, alimentícios e de uso doméstico como eram fabricados e vendidos antigamente –uma viagem ao passado. Calçadão Da praça Dom Pedro 4º, mais conhecida por o Rossio, o coração de Lisboa, seguimos para o calçadão da Rua Augusta, repleta de lojas do comércio local, sorveterias e lanchonetes. Neste endereço também está o Mude (Museu de Design e da Moda), que reúne mobílias e roupas de famosos designers e estilistas do século 20. A entrada é gratuita. Ao final das quadras desse movimentado calçadão está o Terreiro do Paço, a Praça do Comércio. Este imenso vão livre, novo ponto de encontro da cidade, é cercado de restaurantes, cafés, um clube noturno e espaços para animação cultural e eventos institucionais. Em setembro será inaugurado o Lisboa Story Center – Memórias da Cidade, um centro dedicado a divulgar as

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HISTÓRIA Torre de Belém, de onde partiram as caravelas que descobriram o Brasil

histórias da capital portuguesa por meios de equipamentos repletos de efeitos especiais. E é do Terreiro do Paço de onde parte o bonde elétrico que leva turistas para os bairros históricos do centro. O passeio dura uma hora e vinte minutos. Nesse circuito turístico se conhece os bairros Alfama, Mouraria, Chiado e Lapa. Os bondes partem de 20 em 20 minutos e o ingresso custa 18 euros para adultos e 9 euros para crianças. Com um fone de ouvido escuta-se uma gravação, disponível em diversos idiomas, dos pontos turísticos do percurso. Outro passeio espetacular é uma visita à Fundação José Saramago, onde estão expostas as 46 obras do escritor português que foram traduzidas em 54

línguas. O acervo conta ainda com cartas, fotografias, objetos pessoais e a medalha do Nobel de 1988. Em frente ao casarão foi plantada uma oliveira, cuja muda foi trazida de Azinhaga, a aldeia onde nasceu Saramago. Nas raízes desta resistente árvore repousam as cinzas do escritor. A entrada custa 3 euros. Belém Ir a Lisboa e não provar os pasteis de Belém é como ir ao Vaticano e não ver o papa. Essa famosa guloseima portuguesa é feita artesanalmente desde 1837 seguindo a receita do Convento dos Jerônimos. Na casa Pastéis de Belém, a única que fabrica o doce original, a antiga receita é conhecida apenas por quatro pessoas. São vendidas 20

mil unidades por dia. A famosa iguaria custa 1,05 euro. Outros dois pontos turísticos obrigatórios para quem visita Belém são o Mosteiro dos Jerônimos e a Torre de Belém, de onde saíram as caravelas que chegaram ao Brasil. A construção do mosteiro foi ordenada por Dom Manuel 1º e demorou cem anos para ser concluída (de 1501 a 1601). Nos estilos barroco, gótico tardio e renascentista, abrigava cem monges que viviam em clausura e passavam o dia a rezar pelo rei, rainha e navegadores. No mosteiro estão os restos mortais do poeta Fernando Pessoa, do escritor Alexandre Herculano e do navegador e explorador Vasco da Gama. Na capela-mór do mosteiro estão os túmulos do rei Dom Manuel 1º

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e de sua mulher Dona Maria de Castela e do filho do casal, Dom João 3º, e a mulher dele, Catarina da Áustria, e seus descendentes. O ingresso para visitar o mosteiro e a torre custa 10 euros. Sintra Paisagem Cultural do Patrimônio da Humanidade, a bela Vila de Sintra, região serrana de Lisboa, abriga igrejas, quintas senhoriais, castelos e palácios que conferem à Capital do Romantismo um cenário de contos de fadas. Com pouco mais de 370 mil habitantes, tem clima ameno e topografia característica das cidades de montanha. De carro, fica a pouco menos de meia-hora de Lisboa. O trajeto também pode ser feito de trem, que parte da Estação de Rossio, ao custo de 1,55 euro. Em Sintra, o Palácio Nacional da Pena é o mais visitado pelos turistas. Construído no início do século 19 por Dom Fernando 2º para Maria 2ª, filha de Dom Pedro 1º, serviu de Residência de Verão da Família Real. Mas a rainha brasileira pouco aproveitou a casa de veraneio –morreu durante seu 11º parto, logo após a conclusão do palácio. O palácio foi erguido aproveitando a construção do antigo Mosteiro Nossa Senhora da Pena, do século 16. De estilo romântico, com forte influência moura, é uma das sete maravilhas de Portugal. Com dois pavimentos, serviu de moradia para Dona Amélia, a última rainha de Portugal, até 1951, quando a monarca morreu aos 86 anos. Fica a 500 metros de altitude em relação ao nível do mar. As visitas são feitas das 9h45 às 19h30. Adultos pagam 13,50 euros e crianças, 11 euros. Também vale um passeio pelo centro histórico de Sintra, que concentra bares, restaurantes, lojas e cafés. Repleto de construções antigas, no centro se conhece as comidas típicas. As mais procuradas são as queijadas e o travesseiro, um folheado com recheio de creme de ovos –

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PATRIMÔNIO Sentido horário, Mosteiro dos Jerônimos (no alto), Arco do Triunfo no calçadão da Rua Augusta, bonde elétrico, vista do Palácio da Pena, Praça do Comércio e viela em Alfama, o bairro das casas de fado de Lisboa

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La Lionne, porque voc锚 merece encontrar tudo em um s贸 lugar!

Rua Euclides da Cunha, 139. Vila Ema - (12) 3207.4763

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uma delícia. Outro ponto turístico da Capital do Romantismo é o Cabo da Roca, o ponto mais ocidental do continente europeu. Trata-se de um imenso mirante de onde se observa a imensidão azul do Atlântico. Litoral Vila badalada de Lisboa, Cascais é reduto preferido dos imigrantes brasileiros. Essa região do litoral português, é procurada para a prática de esportes –os mais comuns são o surfe, kitesurfe e windsurfe. Repleto de casas de alto padrão, condomínios e hotéis luxuosos, abriga casas de veraneio de artistas. Também é em Cascais onde fica o Palácio Estorial Hotel Golf e SPA, que serviu de cenário para o filme Casablanca. Fica a meia-hora de Lisboa. Poucos lugares no mundo têm tanta personalidade como Lisboa.

Turismo

Gastronomia

Lisboa também é conhecida pela rica gastronomia. Na capital portuguesa, encontramos vasta variedade de iguarias que fazem jus à boa fama. Uma dica é saborear o bacalhau, que é bem diferente do que encontramos por aqui no Brasil. Esse peixe conhecido por seu gosto acentuado e carne fibrosa, em Portugal parece fresco –com postas muito brancas e de textura macia.

Mas a culinária portuguesa não para por aí. O que não faltam são opções de outras espécies de peixe, carnes vermelhas e de aves. Destaque para o elaborado cardápio dos restaurantes A Travessa (www. travessa.com), Bica do Sapato (www.bicadosapato.com), Fortaleza do Guincho (www.guinchotel.pt), Pap’açorda, Populi Caffé & Restaurant (www.populi.pt) e Zambeze (www.zambezerestaurante.pt) repleto de deliciosas entradas, pratos principais e sobremesas. E por falar em doces, os tradicionais são atração à parte. Normalmente feitos com ovos, são deliciosos, principalmente se acompanhados de um café –outro costume dos portugueses. Além dos famosos pasteis de Belém, existem as farófias, a queijada e o travesseiro.

A capital lusitana, com 600 mil habitantes, deixou há muito de ser apenas o celeiro das grandes navegações, tornando-se um centro de cultura, história e entretenimento. Seria um engano não incluí-la no roteiro de viagem à Europa, preterindo a cidade portuguesa por lugares famosos do Velho Continente, como Barcelona, Roma e Paris. Da receita centenária dos pasteis de Belém aos sofisticados pratos elaborados por renomados chefs, dos antigos casarões do século 18 aos luxuosos prédios contemporâneos, vemos na capital portuguesa muito mais que tradição e modernidade. Encontramos um povo dedicado em receber bem os turistas brasileiros, que hoje se tornaram uma importante fonte de renda para Portugal enfrentar a crise europeia. • O jornalista viajou a convite do Turismo de Lisboa

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Hi-Tech

•Viber sem custo • SSMS e ligações exããoo • dependde dde cone

LANÇAMENTO

Apps gratuitos

Viber Permite que você faça ligações e mande mensagens sem custo. É necessário que o destinatário também tenha o aplicativo instalado no smartphone. Uma conexão 3G ou Wi-Fi é evidentemente fundamental, uma vez que ele nada mais é do que um serviço de voz por IP. Apesar da praticidade, a ligação cai dependendo da instabilidade da internet.

Hernane Lélis São José dos Campos

H

á quem diga que a vida é aquilo que se passa enquanto você olha o celular. A verdade é que, ainda que tente resistir, quase tudo que se vive e faz passa pelo celular. Começou quando ele ainda era robusto e servia para fazer e receber chamadas, enviar mensagens e, como entretenimento, oferecia o famoso “jogo da cobrinha”. Agora, com a popularização dos smartphones, a vida é literalmente guiada pelo aparelho e seus apps. São aplicativos que permitem dizer onde está e com quem, achar aquele endereço desconhecido, registrar em imagens os lugares que visitou, as pessoas que encontrou e, até mesmo, passar o tempo quando não se tem o que fazer. A cada seis meses surgem cerca de 200 mil apps no mundo. Diante dessa imensidão de opções, a revista valeparaibano selecionou e testou alguns aplicativos que podem facilitar de alguma forma o seu dia a dia. Confira nossas sugestões gratuitas para os sistemas Android e IOS.

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Battery HD Já que estamos falando de apps, é preciso saber que cada aplicativo tem um consumo diferenciado de bateria. Inclusive esse. Ele mostra quanto tempo a bateria do seu smartphone vai durar de acordo com o app que você pretende usar. Planejar se aquele jogo viciante vai ou não consumir toda a energia do aparelho antes de você fazer aquelas fotos que pretende é uma das utilidades.

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REDES SOCIAIS Todas as redes socias também têm versões específicas para celulares, mas alguns não têm todas funções

200 mil

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PRODUÇÃO

LAZER

Esse é o número de aplicativos que surgem a cada seis meses no mundo para as plataformas existentes

Campeão de downloads, o Angry Birds pode ser a melhor forma para começar a brincar com o smartphone

Retro Camera Entre tantos aplicativos de fotografia disponíveis após o sucesso do Instagram fica difícil decidir por algum complementar que garanta bons efeitos. O interessante é a simulação de modelos de câmeras antigas, seguindo os detalhes de seis máquinas do passado. A imagem pode ser compartilhada na sua rede social de preferência ou salva no seu álbum de fotos. Na versão gratuita, possui algumas propagandas que podem incomodar quem gosta de um visual mais clean. Infraero Voos Esse aplicativo fornece informações sobre voos em aeroportos de todo o país, inclusive o de São José dos Campos. É possível conferir os horários de chegada e partida, se há ou não atrasos e cancelamentos, além da previsão do tempo. Alguns usuários reclamam de lentidão no sistema e consideram os botões pequenos, mas vale a pena conferir e tirar suas conclusões. Waze Muito conhecido entre os usuários mais antigos de smartphone, o Waze funciona como um GPS, porém com mais recursos de interatividade. O aplicativo mostra o que há no caminho, como postos de gasolina, hospitais e restaurantes. É possível postar qualquer tipo de informação referente ao trânsito local, como pontos de engarrafamento e acidentes.

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XE Currency Para quem vai viajar para o exterior este app é essencial. Com ele você pode fazer a conversão de mais de 180 moedas com a cotação atualizada. A grande vantagem, entre tantos outros aplicativos similares, é que o XE Currency permite armazenar os últimos dados consultados para uso offline, o que é de grande valia.

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Moda&estilo NOVA TEMPORADA

Sapatos do Verão Cris Bedendo São José dos Campos

Queridinhos entre as mulheres, os sapatos têm o poder de atualizar as peças que você já tem no guarda-roupa e conseguem transformar o estilo de um look. E as opções presentes nas coleções que já chegaram às lojas se adequam a todos os estilos: romântico, étnico, contemporâneo ou clássico. Selecionamos as principais tendências das coleções de calçados para a temporada de verão: dos tons pastel ao neon e do clássico ao tribal. Difícil vai ser escolher poucos pares.

Tons pastel São os queridinhos da temporada para as mais românticas. E rendem ótimas coordenações com roupas em cores claras, como branco, off white, beges e cáquis. Vale também combinar os acessórios em tons pastel com blazers ou peças mais estruturadas, em alfaiataria, para deixar os looks de trabalho com um clima mais leve.

Metalizados Eles foram hit do inverno e continuam em alta em versões espelhadas, tanto com salto alto quanto em rasteiras. Assim como os neons ou cores vibrantes, os sapatos metalizados pedem menos estampas nas roupas e são ótimas companhias para os tons neutros ou até mesmo os tons pastel, como blazers e calças.

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Captoes Sapatilhas e scarpins ganham biqueiras metalizadas ou em cor contrastante com o resto do sapato. Há as opções com detalhes em neon, que garantem um toque de cor ao look, ou as combinações mais clássicas, de preto e branco ou em cobre, dourado ou prata. Todos os metais são válidos para a temporada.

Tropical As estampas tropicais, com folhagens e flores são a cara do verão brasileiro e são aplicadas também aos calçados. Scarpins e anabelas ganham estampas super coloridas, que são ótimas companhias para peças básicas, em cores neutras ou pastel.

Tribal/Étnico As estampas tribais nos solados dos calçados –principalmente das anabelas– garantem um toque criativo aos looks e valem tanto para quem gosta de estampas e também para as mais discretas, que preferem padronagens localizadas nos detalhes do look. Para o verão, há modelos coloridos e também em preto e branco com um ponto de cor.

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Off white Os sapatos em off white, especialmente scarpins ou sandálias, são a principal novidade para as mais clássicas. Combine-os com peças estampadas, bem no estilo tropical ou floral, ou até mesmo com peças neutras e mais estruturadas, para os looks de trabalho.

Art Déco Desenhos geométricos e a mistura de preto e branco são as principais referências. Alguns modelos de sapatos também ganham saltos arquitetônicos e diferenciados, que são ótimas opções para looks com um estilo mais dramático e contemporâneo.

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Tempos ModernosArtigo

Alice Lobo

Restaurante orgânico desembarca em São Paulo

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m dos restaurantes que mais gosto de ir em Nova York acaba de chegar ao Brasil. Não que seja algo chique e rebuscado para ocasiões especiais. É um espaço muito charmoso para o dia a dia. O café da manhã de lá é uma delícia. O cappuccino, só de pensar dá água na boca. Apesar de frequentar as filiais norte-americanas –minha favorita fica no meio do Central Park–, conheci o Le Pain Quotidien em Londres. De cara, me apaixonei. Além de ter um ambiente agradável no estilo “lá em casa”, seu cardápio é conhecido por usar ingredientes orgânicos e locais sempre que possível. Tudo é fresquinho. Os pães e os doces são feitos no dia. As hortaliças vêm de agricultores orgânicos parceiros. Isso, somado à decoração de madeira recuperada que inclui mesa comunitária, faz com que o espaço pareça uma casa de fazenda. Ótimo lugar para ler um bom livro, para trabalhar acompanhada da dupla café e croissant ou mesmo fazer uma reunião informal. Presente em 18 países, essa rede belga também vende produtos próprios. Gostou do pão, do café, das geleias, do azeite, da pasta de chocolate, da granola? É só levar para casa. A primeira cidade brasileira escolhida para abrigar o Le Pain, como é carinhosamente chamado por seus clientes, foi São Paulo. Já

são três lojas. Uma no Shopping Cidade Jardim, uma na Vila Madalena e outra no Itaim. Como a cultura e a gastronomia local são valorizadas pela marca, estas filiais trazem no seu cardápio pão de queijo e vitamina com mamão, banana e frutas vermelhas. Mas, em linha geral, o menu traz as mesmas receitas apresentadas mundo afora. Poderia ficar escrevendo horas sobre meus pratos favoritos (que inclui a salada de quinoa, o quiche

vegetariano e a torta de framboesa) ou ainda sobre como a filosofia de trazer alimentos orgânicos e saudáveis me encanta. Mas o que mais me agrada com a chegada do Le Pain no Brasil é a entrada de grandes redes “livre de pesticidas” no país. Minha esperança é que, como elas têm mais fôlego financeiro, elas consigam exercer um papel de conscientização da importância dos orgânicos. Que venham Whole Foods, Chipotle e muitos outros. •

Alice Lobo Jornalista alice@valeparaibano.com.br

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ValeViver

CIRCO ‘Esperando Gordô’ coloca a plateia como cúmplice das trapalhadas dos personagens

ARTES CÊNICAS

A vez do teatro Festivale dedica parte da programação a peças de Jorge Amado e Nelson Rodrigues; são mais de 50 opções de espetáculos até o dia 16 deste mês Isabela Rosemback São José dos Campos

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o ano em que são celebrados os centenários de nascimento dos escritores Jorge Amado e Nelson Rodrigues, a 27ª edição do Festivale (Festival Nacional de Teatro do Vale do Paraíba) dedica parte de sua programação a peças em homenagem aos dois, além de incluir três espetáculos internacionais na grade que integra a maratona dramatúrgica e gratuita que tem início no dia 6 e se encerra no dia 16 deste mês. Ainda em clima de festa, os 60 anos do Cine Santana serão brindados com opções diversas também para o público infantil, enquanto os bairros Dom Pedro 1º e 2º estarão no entorno de outra série de apresentações voltadas para todo o público. As oficinas para artistas da cidade permanecem no cronograma do festival. “Neste ano focamos muito no teatro de palco. E continuaremos mantendo o diálogo entre o público, os grupos e a crítica, promovendo debates sobre as peças depois de elas serem apresentadas. As críticas es-

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pecializadas de cada uma serão disponibilizadas posteriormente por meio do site”, introduz Wangy Alves, coordenador do Festivale, evento que é organizado pela FCCR (Fundação Cultural Cassiano Ricardo). Serão mais de 50 opções de espetáculos para o público, entre selecionados e convidados. “Neste ano, recebemos cerca de 160 inscrições de grupos para as apresentações previstas em edital. Dessas, selecionamos 20 para as apresentações”, afirma. A abertura do evento será feita pelo grupo convidado Casa Laboratório para as Artes de Teatro, com o espetáculo “umnenhumcemmil”, que coloca em xeque as máscaras sociais usadas pelo homem em sua busca por uma identidade diante da consciência de vida e morte. Também é convidado especial desta edição o aplaudido Grupo Galpão, de Belo Horizonte, que completa 30 anos e fará duas apresentações durante o evento. A primeira, no dia 9, é uma releitura de “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare, que aproxima o tema à cultura popular brasileira e usa técnicas de circo para completar a montagem. A segunda, no dia 11, será “Tio Vânia (Aos que Vierem Depois de Nós)”, peça de Anton Tchekhov. As apresentações em homenagem a Nel-

son Rodrigues (1912-1980) acontecerão entre os dias 12 e 16 no Centro de Estudos Teatrais, na Oficina Cultural Regional Altino Bondesan e no teatro Dom Pedro –que fica no Espaço Cultural Flávio Craveiro, na zona sul. “São espetáculos dele, que é fundamental para o teatro. Suas peças não deixam de ser encenadas”, reforça Alves. A série recebe o nome de Mostra Nelson Alternativo. A peça “A Serpente”, que conta a história de duas irmãs que dividem um mesmo apartamento com seus respectivos maridos, o que acaba resultando em um triângulo amoroso a partir da desilusão amorosa de uma delas, será encenada duas vezes, uma pelo grupo Gattu, de São Paulo, e outra pelo grupo Mênades e Sátiros Companhia de Teatro, de Presidente Prudente. Este último, convidado do projeto Ademar Guerra, criado em 1997 pela Secretaria de Estado da Cultura como instrumento de fomento para a cena

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artística em São Paulo e seu interior, também apresentará “Até que a Morte nos Separe”. Na programação geral, cerca de nove companhias convidadas pelo projeto se apresentam em São José, concentrando as atrações no teatro Dom Pedro. “São grupos de diferentes cidades e que fizeram parte do programa. Já fizemos parcerias com o Ademar Guerra em outras edições, mas antes era mais voltado à formação”, diz Wangy. Outra parceria estabelecida pelo Festivale nesta edição foi feita com o Sesi (Serviço Social da Indústria), que disponibilizará o palco de seu teatro para a encenação da peça “Amadiano”, que homenageia o centenário de Jorge Amado (1912-2001). A fábula baiana conta a história de Moleque, que momentos antes de nascer é levado por uma gangue de Erês para conhecer o seu futuro, passando pelas várias etapas que o aguardam em vida e fundindo-se com o histórico do autor.

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O espetáculo convidado “Mulheres Líquidas” também promete bons momentos, considerando que é baseado em contos de escritoras densas e intensas como são Clarice Lispector, Hilda Hilst e Lygia Fagundes Telles. A curiosidade está no fato de que essas reflexões que elas promovem sobre o universo feminino são expostas por meio da história narrada por três homens. Clarice Lispector volta a ser destacada nas montagens “Clarice Matou os Peixes” e “A Hora da Estrela”, que se baseiam em sua literatura. Da casa A memória da autora também sobe aos palcos no dia 11, quando será apresentada a peça “O Halo”, encenada pelo grupo Companhia na Boca, de Jacareí, por meio do Mapa Cultural Paulista. Inspirada na obra “Uma Aprendizagem – O Livro dos Prazeres”, de Clarice, a montagem conta a história de uma personagem

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que, reclusa em sua casa, mergulha ao que há de mais íntimo em si à espera de que um evento externo dê novo rumo à sua vida. Além do grupo, outros cinco da região do Vale do Paraíba e Litoral Norte participam da programação do festival, tendo sido todos eles selecionados por meio do edital. O grupo Tecelagem, também de Jacareí, volta a apresentar ao público o seu espetáculo “Monóculo”, que nos últimos meses tem percorrido espaços culturais de São José dos Campos e arredores. A peça tem como protagonistas um casal que não se comunica até que a descoberta de uma luneta de um só vidro o liberta daquela rotina que o aprisiona. Três dos demais grupos são de São José dos Campos. Entre elas, a Companhia Robson Jacqué parte de um poema de Augusto de Campos (“O Rei Menos o Reino”) para contar a história de um monarca que, em cárcere, faz suas últimas e conflitantes reflexões sobre a vida e

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PROGRAMAÇÃO 27º FESTIVALE DIA 6 quinta Abertura: “umnenhumcemmil” (16 anos) 21h - Teatro Municipal

DIA 7 sexta “Como a Gente Gosta” (livre) 11h e 15h - Anfiteatro Parque da Cidade “Esperando Gordô” (livre) 15h - Espaço Cultural Cine Santana “Cidadão de Papel” (12 anos) 18h - Teatro Municipal “Cinza” (14 anos) 20h - Teatro do SESI “COEDIPVS REX” (16 anos) 22h - Centro de Estudos Teatrais

DIA 8 sábado “Esconderijo” (Livre) 10h e 15h - Espaço Cultural Cine Santana “Om Co Tô? Quem Co Sô? Prom co Vô?” (Livre) 16h - Praça Cônego Manzi (S.Fº Xavier) “A Bola da Vez: Plínio Marcos” (12 anos) 18h - Teatro Dom Pedro “Amadiano” (14 anos) 20h - Teatro do SESI “Vincent , Van e Gogh” (12 anos) 22h - Teatro Municipal

DIA 9 domingo “Meu Sonho Era...” (Livre) 11h - Anfiteatro do Parque da Cidade “Clarice Matou os Peixes” (Livre) 15h - Espaço Cultural Cine Santana “Romeu e Julieta” (Livre) 17h - Parque da Cidade “Outro Lado” (12 anos) 19h – Centro de Estudos Teatrais “Mulheres Líquidas” (14 anos) 20h - Teatro do SESI “Monóculo” (14 anos) 21h - Teatro Municipal

DIA 10 segunda “Circo de Borracha” (Livre) 10h e 15h - Espaço Cultural Chico Triste “Tristeza do Jeca” (Livre) Filme 14h e 19h - Espaço Cultural Cine Santana “Um de Nós Sobreviverá” (Livre) 18h - Parque Vicentina Aranha “Um Estudo para Maria Peregrina” (12 anos) 20h - Teatro Dom Pedro “ Agora e na Hora de Nossa Hora” (14 anos) 20h - Centro de Estudos Teatrais

DIA 11 terça “Circo de Borracha” (Livre) 10h e 15h - Espaço Cultural Cine Santana “Um de Nós Sobreviverá” (Livre) 18h - Parque Vicentina Aranha “O Halo” (16 anos) 19h e 21h – Centro de Estudos Teatrais “Lugar Incomum” (16 anos) 20h - Teatro Dom Pedro “Rosa de Cabriúna” (16 anos) 20h - Teatro do SESI “Tio Vânia (Aos que Vierem Depois de Nós)” (12 anos) 21h – Teatro Municipal

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DIA 12 quarta “Circo de Borracha” (livre) 10h e 15h - Espaço Cultural Eugênia da Silva “Cordel do Amor Sem Fim” (Livre) 19h - Espaço Cultural Cine Santana “A Casa Encantada” (12 anos) 20h - Teatro do SESI “Aquela que Sonhava Ter Sido...” (14 anos) 20h - Teatro Dom Pedro “Valsa nº 6” (12 anos) 21h - Centro de Estudos Teatrais

DIA 13 quinta “Circo de Borracha” (livre) 10h e 15h - Espaço Cultural Tim Lopes “Pinochio – Olhos de Madeira” (Livre) 15h - Espaço Cultural Cine Santana “Sonho de Palhaço - Carambas e Carambolas” (Livre) 17h - Praça Afonso Pena “Cinzas Sobre as Mãos” (14 anos) 19h30 - Teatro Municipal “Aquela que Sonhava Ter Sido...” (14 anos) 20h - Teatro Dom Pedro “Apolo, Sir Gaia, Chuvisco e Agora Madame Popô” (Livre) 20h - Teatro Dom Pedro “A Serpente” (16 anos) 21h - Centro de Estudos Teatrais

DIA 14 sexta “Apareceu a Margarida” (14 anos) 19h - Centro de Estudos Teatrais “Quando as Máquinas Param” (16 anos) 20h - Teatro Dom Pedro “Discurso ao Polvo – Último Ato” (16 anos) 21h - Espaço Cultural Cine Santana

DIA 15 sábado “Bonecos , Ritmos e Músicas” (Livre) 11h - Praça Ambrósio Molina (Eugênio de Melo) “Os Olhos de Madame” (16 anos) 15h - Teatro Dom Pedro “A Fabulosa Caravana de Seu Malaquias” (Livre) 15h - Anfiteatro do Parque da Cidade “Sessenta Minutos para o Fim” 18h - Teatro Municipal “Nós de Nós Mesmos” (18 anos) 20h - Teatro Dom Pedro “Lavadeiras da Memória” (Livre) 20h - Espaço Cultural Cine Santana “A Serpente” (16 anos) 22h – Centro de Estudos Teatrais “A Falecida” (16 anos) 0h - Oficina Cultural Regional Altino Bondesan

DIA 16 domingo “A Barca do Inferno” (Livre) 11h - Anfiteatro do Parque da Cidade “Sonho de Palhaço – Carambas e Carambolas” (Livre) 11h - Praça 1º de Maio “A Fabulosa Caravana de Seu Malaquias” (Livre) 15h - Anfiteatro do Parque da Cidade “Pequeno Grande Circo Brasil” (Livre) 15h - Espaço Cultural Cine Santana “A Hora da Estrela” (14 anos) 15h - Teatro Dom Pedro “Até que a Morte nos Separe” (14 anos) 19h - Teatro Dom Pedro “Brincando com Fogo” (16 anos) 21h - Teatro Municipal

sobre aqueles que sempre o cercaram na peça “Discurso ao Polvo – Último Ato”. O teatro de mamulengo estará representado pelo espetáculo “A Fabulosa Caravana de Seu Malaquias”, universo lúdico criado por figuras exóticas, como nos circos antigos, pelo grupo Boneco Vivo. A companhia dos Homens de Palha, também de São José, e o grupo Circo Navegador, de São Sebastião, investem nos palhaços para garantir a diversão do público por meio de histórias ambientadas no universo circense. Respectivamente, elas atuam em “Sonho de Palhaço – Carambas e Carambolas” e “Om co Tô? Quem co Sô? Prom co Vô?”. O diferencial da primeira é que a encenação conta com a participação especial da banda de rock joseense Evolua. Intercâmbio Apesar de ser um festival nacional, neste ano um dos destaques da programação é a inclusão de três peças internacionais: duas da África e uma vinda da Europa, especificamente de Portugal. A iniciativa é uma união de forças com o projeto Circuito de Teatro em Português, idealizado há sete anos por Creusa Borges, do grupo Dragão 7, de São Paulo. “Organizo anualmente uma mostra que é o resultado da colaboração de países que falam a Língua Portuguesa. Hoje são oito oficiais: Brasil, Portugal, Timor Leste, Cabo Verde, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Acabo levando esses espetáculos para algumas cidades, que se tornam palco das notícias dessas nações. A ideia é promover debates e a cultura de intercâmbios”, explica Creusa. Pela primeira vez na história do Festivale, a ponte com o projeto é estabelecida por meio dos espetáculos “Vincent, Van e Gogh”, do grupo Peripécia Teatro, de Angola; “A Casa Encantada”, do grupo Constantino Nery, de Portugal; e “Cinzas Sobre as Mãos”, do grupo Lareira de Teatro, de Moçambique. O primeiro amplia em três personagens o nome do pintor conhecido por ter se suicidado após ser acometido por problemas mentais, e constrói um jogo cênico em que a obra e vida de Van Gogh é poeticamente revisitada com pitadas de desconcerto e humor. “A Casa Encantada” também aposta na valorização de personalidades artísticas de outros tempos –como Frida Kahlo, Salvador Dali e Florbela Espanca– para mexer com as emoções do público. Durante o espetáculo, a plateia passeia e interage com espaços surrealistas criados para provocar reflexões sobre

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a vida, a morte e outros sentimentos tão comuns aos seres humanos, sejam eles ícones ou não. Por fim, “Cinzas Sobre as Mãos” consegue mostrar humor em um denso enredo contemporâneo em que mortos são queimados em tempos de guerra e uma sobrevivente busca humanidade ao ser obrigada a fazer o serviço de incineração. “Foram espetáculos que escolhemos, entre as opções que o projeto nos apresentou, por estarem alinhados com o tema do universo do trabalho e com o experimentalismo. Já havíamos recebido espetáculos do projeto em São José, mas esta é a primeira vez no festival”, afirma o coordenador Wangy Alves. Essa parceria foi possível, principalmente, pelo cruzamento de datas do Festivale e do circuito organizado por Creusa, neste ano, entre os dias 7 e 21 de setembro. “Desta vez calhou de ser na mesma época, então conversei na Fundação Cultural para estabelecermos essa relação. Estamos muito felizes com a parceria”, afirma Creusa. Todos os ingressos serão gratuitos e deverão ser retirados com uma hora de antecedência nos locais das apresentações.•

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FANTASIA Inspirado na obra de Clarice Lispector, ‘Clarice Matou os Peixes’ é uma das atrações do Festivale

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Ilustrações: Magô Pool

CÉREBRO

Mundo sem limites É possível conduzir os seus sonhos a seu favor; já pensou em ter a liberdade de voar ou de realizar suas fantasias mais secretas sonhando, mas consciente? Isabela Rosemback São José dos Campos

magine que você pudesse ter acesso frequente a uma espécie de Matrix que te levasse diretamente a um universo paralelo, guardado por seu próprio inconsciente. Um mundo fantástico, em que as leis da física não se aplicassem e em que os eventos pudessem ser facilmente conduzidos pelas vontades manifestadas em pensamento, apresentando-lhe uma infinidade de possibilidades. Parece inviável, mas é uma situação possível para aqueles que desenvolvem técnicas para recobrar a consciência em pleno sonho. Para estudiosos da área, adquirir o controle daquilo que se sonha é questão de treino e pode ser um bom exercício para o autoconhecimento, para a criatividade e para a própria qualidade de vida de quem está dormindo, ainda que psicólogos façam

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ressalvas quanto ao uso dessa ferramenta, conhecida como sonhos lúcidos. O grande fascínio pelo tema está no fato de que, nesse mundo onírico em que imergimos quando deixamos de estar acordados, praticamente tudo é permitido. E, se bem conduzida, essa fonte irrestrita de experimentações pode tornar-se um canal direto para aventuras libertadoras, proporcionando até mesmo percepções sensoriais das mais vívidas. Seriam elas resultantes de fatores físicos e psíquicos que ocorrem entre o estágio de vigília (entre o estar acordado e o sono) e determinada fase de quando estamos adormecidos. Considerando que um terço do dia costuma ser “gasto” dormindo, essa prática também é defendida por seus pesquisadores como um prolongamento das vivências diárias, uma vez que em sonho é possível transcender sem que haja o desgaste do corpo físico, que permanece em repouso até que haja um despertar efetivo do estado de sono. Identificar conflitos internos, enfrentar medos, voar ou ter

um encontro com o seu maior ídolo ou com um amor impossível tornam-se, portanto, atividades palpáveis e pouco exaustivas. “Ter esse controle é muito interessante, porque você acorda outro, bem feliz. Não importa se você teve um pesadelo, se enfrentou uma luta ou se teve uma experiência celeste, a sensação ao despertar é de revigor. Por isso acredito que ampliar a consciência desta forma é bom, mesmo que você acabe enfrentando alguns aspectos ruins”, defende o músico compositor Marco Antônio Crispim Machado, 29 anos, que narra diferentes experiências em que esteve lúcido durante sonhos. Entre as principais conquistas do músico, que mora em São José dos Campos, estão três composições transpostas de partituras que ele pôde ler em sonhos lúcidos. “Corria os olhos sobre elas e pensava ‘Vai ser fácil fazer isso’. Eram músicas boas, interessantes e que me deixaram emocionalmente envolvido. Ao acordar eu praticamente as transcrevi. Muitas ideias surgem nessa

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hora, e o estar consciente te permite trazê-las para o mundo real”, afirma. Não à toa, publicações dedicadas ao fenômeno atribuem grandes invenções, bem como fórmulas químicas, obras de arte e textos literários a experiências de seus autores quando estavam sonhando. Exemplos seriam de pintores como William Blake e Paul Klee e o escritor Robert Louis Stevenson, que teria declarado que grande parte do que escreveu em “O Estranho Caso do Dr. Jekyll e do Dr. Hyde” devia aos seus sonhos. Também atribuem “A Hora do Lobo”, de Ingmar Bergman, a inspirações tiradas de sonhos do cineasta. Exercício Para Machado, porém, recuperar essa consciência no sonho nunca foi algo espontâneo ou mesmo um golpe de sorte, ainda que isso possa ocorrer. Exigiu treino, como é comum à maioria dos adeptos à modalidade antes de embarcarem em suas aventuras construídas. O “adestramento” mental se faz necessário, a começar, pelo princípio básico de que quando estamos sonhando tendemos a encarar situações, imagens e personagens das mais absurdas como se fossem completamente normais. Nessas horas, portanto, alcançar a lucidez requer habilidade para reconhecer essas anomalias e, a partir da desconfiança, criar mecanismos que convençam que aquilo é um sonho. E acredite: é muito fácil ser ludibriado pela própria mente, que nessas horas está empenhada em nos enviar mensagens por meio da simbologia criada em nosso inconsciente. “Levei de duas a três semanas para ter a minha primeira experiência, não demorou. Mas para isso fiz alguns cursos específicos em São Paulo, entre 2003 e 2004, e exercícios diários, porque sempre me interessei por assuntos desse tipo, só nunca havia tido uma experiência inata”, conta Machado. As técnicas para verificar o realismo da vivência da qual se desconfia não seguem um passo-a-passo engessado. Mas fique certo de que pedir para alguém te beliscar está longe de ser uma tática eficaz, uma vez que a experiência do sonho lúcido costuma ser altamente sensorial (em relatos de voluntários em pesquisas específicas são frequentes as descrições de percepções táteis, emocionais e orgásticas de maneira tão ou mais intensa que na vida real). Voar ou tentar ler um trecho de livro duas vezes seguidas pode render melhores resultados, mas para que esses conceitos sejam melhor absorvidos é preciso, antes, compreender o que acontece no nosso organismo quando estamos dormindo.

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Conceitos Referência na pesquisa desses fenômenos, o neurofisiologista Stephen Laberge avalia em seu livro “Sonhos Lúcidos” que o ser humano tende a focalizar a sua atenção apenas nas metas que estabelece, tendendo a ser menos consciente do que deveria. Por isso, complementa, esse controle flexível do que ele sonha facilitaria o acesso a “uma série de possibilidades incalculáveis, desde nos entregar às mais ousadas fantasias até satisfazer as mais elevadas aspirações espirituais”. Ainda seguindo a literatura científica a respeito, a lucidez em um sonho se concretiza quando o sonhador se dá conta de que está em um ambiente irreal e o manipula de acordo com os seus interesses –seja para a resolução de problemas, para a satisfação de desejos íntimos ou mesmo para o aperfeiçoamento de habilidades treinadas na vida real. É uma espécie de despertar virtual enquanto o corpo permanece dormindo. No filme “A Origem” (2010), esse conceito é bem explorado –ainda que a trama extrapole em sua composição ficcional– principalmente nas cenas em que é feita a introdução da arquiteta Ariadne (Ellen Page) à ambiência onírica em que o grupo de Cobb (Leonardo DiCaprio) imerge ao dormir de maneira induzida e nos conflitos pessoais encarados pelo próprio líder. Os espaços surreais projetados pela mente, as teorias e os reencontros com alguém que já morreu fazem parte dessa atmosfera de sonho, que funciona como um arquivo que consultamos todas as noites. “Sonhar é vital para a manutenção da nossa saúde psíquica e física. Na visão de Carl Gustav Jung, é a comunicação com o que há de mais íntimo no nosso ser. É algo bem maior do que a nossa pequena parcela de ego, que é a consciência, e nos revela elementos interiorizados que ampliam o nosso autoconhecimento. Para isso, utiliza-se de memórias, às vezes transformadas, e imagens criadas em nosso inconsciente para serem conflitadas e processadas em uma linguagem diferente quando voltamos ao leito noturno”, resume Marion Rauscher Gallbach, coordenadora do núcleo de sonhos da SBPA (Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica) e autora do livro “Aprendendo com os Sonhos”. Quando dormimos O sonhar consciente apresenta-se como a interação de um observador ou um corpo de sonho (que achamos sermos nós representados) com esse cenário imaginário. “Pois o sonho é um dos quatro estágios do sono. O primeiro é o da

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vigília relaxada, em que acordamos facilmente. O segundo é o sono já propriamente dito. Depois vem o estágio mais profundo, quando é mais difícil acordar. Ele está associado à grande secreção do hormônio do crescimento, numa espécie de reestruturação celular. Enfim, chega o estágio REM. Estudiosos da década de 1960 o apontaram como sendo um outro nível da consciência, em que algumas áreas do cérebro estariam desativadas e conseguiríamos sentir determinadas emoções e realizar desejos”, diz o médico Alberto Jorge Remesar, especialista em sono e proprietário do CTD (Centro de Tratamento de Distúrbios do Sono) em São José dos Campos. Quando fala em REM (Rapid Eyes Moviment ou Movimento Rápido dos Olhos), o doutor refere-se à fase em que nossos músculos do corpo estão relaxados, exceto os oculares. “Após o primeiro terço do sono, o REM torna-se gradativamente mais longo que outros estágios do ciclo, que reduzem”, completa. Essa agitação dos olhos foi o que permitiu ao pesquisador Stephen Laberge, com a ajuda de eletrodos, estudar voluntários que passavam por um sonho lúcido. Eles mexiam os olhos para a direita e para a esquerda por quatro vezes consecutivas para sinalizar que estavam em estado de consciência durante o sono e, a partir disso, eram avaliadas as suas ondas cerebrais e a contração de seu tônus

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muscular para entender o que favorecia o acesso a esse fenômeno. Hoje já é provado que todos sonhamos em média seis vezes por noite, diariamente, durante o sono REM –mesmo que ao acordar talvez não nos lembremos de todas elas. E a brecha para que a lucidez possa ser alcançada pelo sonhador é associada por pesquisadores a uma alteração no nível de consciência, que é ativada pelo aumento da frequência da atividade elétrica das células cerebrais. “Quando estamos acordados e de olhos fechados, nosso cérebro entra em estado de sincronização global numa oscilação próxima a 10 ciclos por segundo (10Hz). É o ritmo alfa, que está associado à meditação. Durante o sonho normal, essa potência do ritmo alfa fica muito baixa (em uma escala de 0 a 10, seria igual a 1), enquanto no lúcido ela sobe (para 5). A mesma escala atinge o seu grau máximo quando acordamos. Assim, o sonho lúcido seria um estado intermediário entre o REM e a vigília. Ou seja, apesar de ser um sonho, o cérebro está bem próximo de acordar, o que explica porque para a maioria das pessoas essa experiência dura pouco”, explica o doutor Sérgio Arthuro Rolim, pesquisador da área no Instituto do Cérebro do Rio Grande do Norte. Pesquisas científicas específicas sugerem que quando a consciência é recobrada em um

sonho há uma ativação da região frontal do cérebro. “Essa região estaria relacionada com a autoconsciência e a formação da imagem corporal. Faz todo o sentido, pois o sonho lúcido é caracterizado pela consciência de estar sonhando durante o sonho”, conclui Rolim. Estratégias Uma experiência como essa pode até acontecer aleatoriamente, mas a tendência nesse caso é que as emoções suscitadas pela constatação desse quadro conduzam o sonhador ao despertar físico. Por isso, algumas técnicas foram desenvolvidas para que o tempo de consciência possa ser prolongado por quem quer usufruir do recurso para criar situações que atendam aos seus interesses. “O que acontece é que, se você fica muito eufórico ou com muito medo na hora em que está conduzindo o seu sonho, acaba provocando reações físicas que te induzem a sair dessa condição. Eu me divertia muito voando e isso me atrapalhava, dava cambalhotas e acordava. Uma noite, comecei a virar e pensei que deveria fazer algo de útil. Passei a conduzir o meu voo, mas acabei caindo diante de uma tarefa difícil”, conta o músico Marco Antônio Crispim Machado, que, entre outras táticas, se treinou para identificar o momento exato em que pegava no sono para, assim, se condicionar à

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lucidez. “Qualquer exercício para relaxar o corpo completamente, e pode ser um mantra, já ajuda. Mas nenhum teste é infalível. O fato é que quando você consegue, pode ir para qualquer lugar em segundo. Costumo dizer que nossa mente é um arquivo digital, onde não existe distância e sim dados com acessos mais ou menos protegidos. Já o nosso corpo é analógico”, compara. Uma tática bem utilizada por sonhadores lúcidos é a de se certificarem, ao longo do dia, se estão sonhando ou não. Desta forma, quando a pergunta surge no sonho a verificação torna-se automática. Geralmente, tentar voar é um caminho mais fácil para ter certeza de que se trata de uma situação fantasiosa. Mas o próprio Laberge já declarou que para ele isso funciona pouco. Sua tática é tentar ler um livro na hora da comprovação, pois afirma não ser possível em duas leituras seguidas de um único trecho ter acesso ao mesmo texto. Além disso, as letras tendem a embaralharem-se. O escritor Chico Anes, que durante a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) deste ano lançou “O Sonho de Eva” – thriller em que escreve sobre um mistério envolvendo uma empresa de games para sonhos lúcidos–, tem experiência em ambientes oníricos e baseou-se nela para narrar a sua ficção. “Você vira um diretor de um filme rodado no seu próprio sonho. Para isso, a primeira coisa que você precisa fazer é lembrar de seus sonhos. Ajuda muito ter um diário para escrevê-los assim que acordar. Outra técnica é ensaiar imediatamente o que foi sonhado e, naquela noite, colocar o despertador para as 4h. Acordado, pense nessa história, mas mudando as coisas como queira. Provavelmente você atingirá a lucidez quando voltar a dormir”, explica ele, que esquiva-se ao ser questionado sobre uma vivência lúcida: “Se eu contasse minhas experiências, seria como estar em um confessionário! Mas posso dizer que a primeira vez que voei foi incrível”. A técnica da incubação do sonho –quando ficamos mentalizando o que queremos sonhar naquela noite– também pode ser utilizada, mas o doutor Alberto Jorge Remesar adverte que o sono pode ser prejudicado. “Pensar muito antes de dormir pode atrapalhar no relaxamento mental, porque a atividade cerebral não para. Da mesma forma, acordar no meio da noite para escrever sobre o que sonhou não é aconselhável, ainda que a melhor maneira de não esquecer um sonho seja manter os olhos fechados ao despertar e, assim, registrá-lo”, diz.

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Cautela A fala de um dos personagens animados do filme “Waking Life”(2001), em que o protagonista se vê aprisionado no mundo dos sonhos, sempre recobrando a consciência, se propõe a simplificar todo esse cenário ao afirmar que muitos desses exploradores do mundo onírico “só estão mapeando a relação mente-corpo dos sonhos” e que “os sonhos só são reais enquanto duram”, como a própria vida. No mundo real, porém, o problema pode surgir quando essas expedições viram uma constante. Apesar de essa técnica ser apontada por seus defensores como uma ferramenta de imersão na busca por autoconhecimento, diversão, e desenvolvimento de habilidades e criatividade, o uso frequente desse recurso é questionado pela psicóloga Marion Rauscher Gallbach. “Na terapia essa técnica pode ser usada em casos como os pós-traumáticos ou em que haja pesadelos recorrentes, pois funciona como um estímulo à pessoa para enfrentar aquela situação que a persegue e que deve ser um recado de seu inconsciente ao ego, que não quer recebê-lo. Mas essa não deve ser uma prática frequente e, sim, pontual, à qual se recorre para a resolução de um problema específico”, pondera a pesquisadora, que desenvolveu um método para que a compreensão dos sonhos se faça por meio de uma observação em detalhes dele, sem interpretações –o que já configuraria uma indução de ideias. Seu posicionamento reticente sobre os sonhos lúcidos está ligado ao que defendeu ser um sonho, anteriormente. “É um processo de cura, pois nele estão todos os diagnósticos de todas as nossas problemáticas, por isso deve haver respeito à natureza do que está lá, e não a sua manipulação. Já somos tão manipulados pelo nosso ego, que nos bloqueia de nossas vontades mais profundas quando acordados, que usá-lo para interferir nas mensagens que recebemos de nosso cérebro é condenável. Isso não é saudável para a mente nem para o corpo. É tentar controlar o incontrolável”, critica. Marion lembra que estamos sempre sujeitos a mudanças e que os sonhos podem interferir nos caminhos que seguimos. “Estamos sempre morrendo e nascendo. O sonho lúcido seria uma cesariana, com intervenções de bisturis, enquanto um sonho comum seria o parto normal, com tempo para ser processado até que se transforme e se consolide na mente de quem sonha”. •

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ENTREVISTA

Voz da bossa

O maestro Severino Filho, fundador de Os Cariocas, conta um pouco de uma trajetória que se mistura com a história da música popular brasileira Isabela Rosemback São José dos Campos

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maestro e arranjador Severino Filho chegou cansado a São José dos Campos, no dia 12 de agosto, e precisou descansar. A entrevista marcada para as 15h, com a valeparaibano, foi adiada a momentos antes do show que ele faria no Teatro Municipal, naquela noite, com a décima formação de seu respeitado conjunto vocal Os Cariocas, fundado em 1942. O repouso é louvável. Neste ano do 84º aniversário do maestro, completam-se exatas cinco décadas desde o show em que, ao lado de Vinicius de Moraes, Tom Jobim e João Gilberto, ele apresentou pela primeira vez ao público a música “Garota de Ipanema”. A incessante trajetória na música brasileira, com a polifonia característica do conjunto, estende-se a muitos outros sucessos. “Eu era neném e meu pai já me colocava em um bebê conforto em cima do piano. Por isso, hoje acho insuportável ouvir rádio. Aprendi a ter ouvido apurado”, desabafa a atriz Lúcia Veríssimo, que nos bastidores checava a medicação do maestro, de quem é filha. Gentil, Severino abriu a conversa falando

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de sua relação com a cidade: “Tenho conhecidos, aqui, onde há 30 anos abri uma empresa que ainda existe. Mas três anos depois eu desisti da sociedade”, diz, reforçando que a sua vocação sempre foi a música.

Martinho da Vila e lancei aquela maluquete, a Maria Alcina. Só não faço arranjo de tango.

No último CD há a participação de João Donato, Badeco, Marcos Valle e de sua irmã Hortensia. Em Os Cariocas Abraçam São Paulo, que deve virar CD e DVD, haverá convidados? <Talvez, mas não tantos. São músicas de compositores paulistas e de cariocas que se erradicaram em São Paulo, como Johnny Alf. Tem música do violonista Garoto, tem Adoniran Barbosa, que não poderia faltar... Devem ser gravadas 12 canções.

Mas houve um tempo que vocês tocaram muito bolero... <Antes da Bossa Nova predominava o samba-exaltação, os boleros e o samba-canção, que por qualquer coisinha se transformava em bolero. Mas a transição foi facílima porque meu irmão Ismael Netto [co-fundador do conjunto] já tinha tendência futurista. Quando a Bossa Nova chegou, foi só pegar a batida. Carlos Lyra, Menescal, Tom Jobim... Todos nos procuravam, porque eles verdadeiramente não eram cantores, eram compositores. Tanto foi que, entre 62 e 67, tivemos seis LPs.

Como é ter vivido aquele momento de tantos conjuntos vocais e ter chegado até aqui, quando quase não vemos mais esse trabalho? <Praticamente perdemos mais um, com a morte do Magro do MPB4. Naquele tempo havia muitos! Mas a mídia não dá tanto apoio. Poderiam tocar músicas comerciais, mas não nos esquecer. É brincadeira! O Boca Livre é maravilhoso e se apresenta pouco. Mas tem aparecido trabalho. Como maestro e arranjador faço outras coisas. Fiz cinco CDs com

Você falou do Ismael. Quando ele morreu vocês ainda estavam no início, e chegaram a especular que o conjunto poderia acabar. Isso te preocupou? <Eu fiquei preocupado foi com a morte dele, aos 30. Mas eu estudava música com Koellreutter, um alemão muito bom, e já fazia arranjos. A gente fazia música. Hoje os eletrônicos tentam imitar os sons dos instrumentos, e quem sofre são os músicos. Depois foram morrendo outros integrantes, mas é a vida. Quer dizer, é a morte (risos).

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Ronny Santos/divulgação

Havia entre os grandes conjuntos vocais da época muita competitividade? <Não. Cada um queria fazer o melhor, lógico. Lembro-me que na rádio Tupi havia um conjunto muito bom, o Garotos da Lua. A gente acabava o programa e ia com eles à Cinelândia, trocava ideias. Pergunto porque Ruy Castro escreveu, em “Chega de Saudade”, sobre uma crítica de Ronaldo Bôscoli, que propunha uma fusão a Os Cariocas. A ideia teria sido abortada. <Ah, sim. É que o Tamba Trio tinha mais músicos do que vocalistas, e Os Cariocas eram mais vocalistas do que músicos. Mas para arrumar trabalho para um ou dois já é difícil, imagina para oito pessoas! Vocês realmente começaram com a ideia de serem modernistas? Em que sentido? <Namorados da Lua, Garotos da Lua, Demônios da Garoa e outros grupos eram ótimos e tinham estilo próprio, personalidade. Eram mais arrojados e avançados no tempo. Em Os Cariocas o diferencial estava nos arranjos e no vocal. Comecei a usar a minha voz em falsete. Vocês apresentaram “Garota de Ipanema” ao público, há 50 anos, no show

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“O Encontro”... <Fomos os primeiros a cantá-la e houve uma aceitação maravilhosa de imediato. Tom e João Gilberto faziam a introdução. Mas o primeiro a gravá-la foi Pery Ribeiro. Nesse show do Au Bon Gourmet, em 1962 lá no Rio, Tom e Vinícius fizeram uma porção de composições. Ficou 45 dias em cartaz. O Rio era mais tranquilo, o Brasil tinha menos população... [canta descontraído “Pra Frente Brasil”, hino brasileiro na Copa de 1970]. É verdade que vocês teriam recusado “A Banda” de Chico? Se arrepende? <Não, nós iríamos gravar essa música também. Mas como a Nara [Leão] gravou, logicamente houve preferência à gravação dela. Mas depois gravamos. Não há arrependimento porque não é bem esse o nosso estilo. É como João Gilberto, que fazia na Bossa Nova muita coisa que não era Bossa Nova. “O Pato”, por exemplo. Isso faz parte da criatividade do artista. Que posição adotou quando houve oposição ao Tropicalismo? <Do lado da Bossa Nova. Não que tivesse raiva, mas para mim aquilo era muito barulho. Havia reservas porque era um ritmo estrangeiro, né? Rock. Mas depois Caetano

gravou com João... Em que momento você sentiu que a Bossa Nova estava perdendo espaço? <67, 68, devido à entrada da Tropicália e do Iê-iê-iê. Você sabe que Roberto Carlos começou cantando Bossa Nova, mas saiu? Bom para ele! Antes nós gravávamos com grande orquestra. Para “Minha Namorada” gravamos com dois violinos e quatro violas. Quatro celos, cinco trombones. Hoje você pede dois ritmistas e eles já dizem: “Tudo isso?!”. Como era na rádio Nacional? A função das rádios naquela época era bem diferente... <Muito. A rádio Nacional era bem melhor que a TV Globo é hoje. Foi uma escola. Tinha uma grande orquestra que dava muito valor a quem estava começando. Eles escreviam um arranjo e passavam para a gente ler. Para mim foi muito bom. Hoje rádio é CD, é alto-falante. Poderia ser alto-falhante. O que importa é o sucesso rápido, mas que não continua. A única coisa que eu gosto em “Ai, se Eu te Pego” é que essa música entrou em vários países como Espanha e Estados Unidos. (risos) Não é recalque, mas naquele tempo tínhamos a Bossa Nova, o Iê-iê-iê e a Tropicália. Hoje não há nada de novo. •

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CINEMA

Animações em alta De relançamentos em 3D a novas tramas e continuações de franquias, as animações irão inundar as salas de cinemas. Fizemos uma seleção do que deve chegar para o público Franthiesco Ballerini São Paulo

A

s salas de cinema brasileiras estão se preparando para receber uma enxurrada de novas animações a partir deste mês. Um dos filões mais lucrativos da atualidade, as animações se tornaram uma mina de ouro a partir de 1995, quando a Pixar lançou “Toy Story”, com o intuito de atingir o público infantil, com o visual lúdico e os personagens fofos, mas também o público adulto, com piadas e referências a outros clássicos do cinema com potencial para extrair o riso de quem está pagando o ingresso dos pequenos. Parece uma ideia banal mas até “Toy Story”

as animações eram pensadas para agradar apenas o público infanto-juvenil, sendo o adulto mero acompanhante que nem sempre se divertia com o que pagava. A mudança veio inspirada no Japão, cujos animês (animações japonesas) são produzidos tanto para adultos quanto para crianças desde que surgiram, nos anos 1950, fazendo sucesso em diversas plataformas (mangás, TV, cinema e teatro). O Brasil também está entrando neste lucrativo mercado, com a especialização cada vez maior de produtoras e animadores que ainda não foram capturados por Hollywood, ao contrário de talentos como Carlos Saldanha (“A Era do Gelo”), que só produz nos EUA. A revista valeparaibano fez uma seleção das melhores animações com previsão de estreia no Brasil a partir deste mês. Confira!

Mesma história, uma dimensão a mais Não se trata de uma novidade, mas tendo em vista que se trata de um ganhador do Oscar com outros 35 prêmios, a Pixar achou melhor relançar, neste Dia das Crianças, “Procurando Nemo”, agora em versão 3D. Para quem não viu a trama nos cinemas, em 2003, trata-se de uma boa pedida para o feriado, uma vez que a história é encantadora para todas as idades e os efeitos na terceira dimensão dão um upgrade generoso ao filme. “O público do mundo inteiro exige o retorno das grandes animações com a tecnologia 3D”, comentou Robert Newman, que converteu “A Bela e a Fera”. “Ajuda o fato de que o valor da conversão caiu drasticamente nos últimos anos, passando de US$ 100 mil por minuto para US$ 25 mil.” Por conta disso, haverá um ‘vale a pena ver de novo’ também de outros filmes em breve, como “Monstros S.A.”, previsto para estrear em 3D em 18 de janeiro, e “A Pequena Sereia”, mais para o final do ano que vem. E “Ratatouille” será o próximo da lista.

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Menino anormal Chegando às salas no feriado de 7 de setembro, “ParaNorman” é a nova aposta da Universal para competir com a Dreamworks e a Pixar. Dirigido por Chris Butler (“A Noiva Cadáver”), conta a história de Norman, um menino que fala com os mortos e, para salvar sua cidade de uma maldição secular, se torna líder de zumbis, bruxas e fantasmas. Com vozes de Casey Affleck e John Goodman, chega em opção de 3D. O filme foi considerado um pouco mórbido demais para crianças muito pequenas, mas fez um grande sucesso entre os mais velhos, especialmente pela fotografia caprichada de um mundo assustador e os diálogos bem-humorados, focando nas esquisitices naturais de crianças e adultos, nem sempre mais espertos que os pequenos.

Ex- Sininho Por alguma estratégia estranha do departamento de marketing da Disney, aquela que durante todo o século 20 chamamos de Sininho agora só pode ser chamada de Tinker Bell, seu nome original em inglês, apesar de bem menos cativante que o nome brasileiro. A ex-Sininho está de volta aos cinemas com “Tinker Bell: O Segredo das Fadas” –ou melhor, em parte dos cinemas do mundo a partir deste mês, uma vez que a Disney ainda não achou janela de exibição no Brasil, o que poderá levar o filme direto para DVD e Blu-ray. Trata-se da quarta produção da franquia Disney Fadas, com vozes de Anjelica Huston, Lucy Liu e Timothy Dalton. Recomendável para os pequenos (especialmente as pequenas) mas não muito divertido para os adultos, uma vez que este braço da Disney aposta no lúdico infantil, ao contrário das piadas mais adultas da Pixar, seu outro braço.

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O primeiro brasileiro Inspirado em um curta homônimo de 15 minutos, vencedor do prêmio do Júri infantil do AnimaMundi 2006, “Minhocas – O Filme” é considerado o primeiro longa-metragem brasileiro totalmente filmado com técnicas de stop-motion. Com direção de Arthur Nunes e Paolo Conti, trata-se da história de Júnior, um menino-minhoca de 11 anos tentando se enturmar onde vive, mas é escavado sem querer para fora da terra, começando uma série de aventuras nas mãos de um vilão. Produzido pela Animaking, um dos maiores estúdios de stop-motion do Brasil, o filme está previsto para chegar aos cinemas a partir de outubro. “É difícil você conseguir concretizar uma produção deste tamanho no Brasil, só quem fez longas de animação, e são poucos no Brasil, pode dizer o quão difícil o é. Que este filme seja a inspiração para fazer grandes trabalhos e trazer outras empresas para este nicho”, diz Paolo Conti, um dos diretores. A grande vantagem de “Minhocas” é justamente seguir a linha de pensamento das animações da Pixar e Dreamworks, ou seja, pensar em piadas também para os adultos se divertirem, algo ainda raro no universo de animações do Brasil, onde a regra são filmes como Brasil Animado, primeira animação em 3D do país cuja história é tão simples e tão didática que parece um longa publicitário do Ministério do Turismo, absolutamente enfadonho para os adultos.

Espere sentado A expectativa é alta, mas a espera também é longa. Os próximos projetos da Pixar e da Dreamworks são preparados em segredos, mas com estreias previstas a partir do ano que vem. Uma delas é a animação sobre dinossauros que conseguiram sobreviver ao asteroide que dizimou quase toda a vida na Terra e evoluíram para uma espécie misteriosa, que a Pixar só vai revelar no início de 2013, quando o filme chega às telas. Já o diretor Peter Docter (“Monstros S.A.” e “Up – Altas Aventuras”) está preparando uma animação que vai mergulhar dentro do cérebro humano, uma espécie de Viagem Insólita versão animação. Já a concorrente Dreamworks vai apostar na continuação do seu cardápio já conhecido, como “Kung Fu Panda 3”, reunindo Jack Black, Angelina Jolie e Dustin Hoffman na franquia que se tornou uma das mais bem-sucedidas da empresa. A continuação deve estrear em 2014. Mais longe está a sequência de “Madagascar”, com o mesmo elenco encabeçando o filme, mas só para as férias de 2015. A ordem nos estúdios, no entanto, é acelerar a produção para tentar adiantar as estreias e faturar com elas o quanto antes. •

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Música&mais

Gênio incansável Maior ícone vivo do blues, B.B. King chega em outubro para três shows imperdíveis em São Paulo Adriano Pereira São José dos Campos

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ma imagem é clara quando se fala de blues: um senhor gordo, bonachão, com uma guitarra preta no colo, um sorriso largo e várias cartas na manga. Pois é isso que vamos ver nos dias 5 e 6 no Via Funchal e dia 7 no Bourbon Street, em São Paulo. B.B. King vem com a banda de oito integrantes e a inseparável Lucille, a guitarra que seus bends e vibratos fazem chorar e gemer. Um show de B.B. King vai muito além da música. Para os fãs, vê-lo no palco é quase um ato de devoção, a personificação do blues. “B.B. King não é mais apenas um artista, passou a outro patamar, é um ídolo. As pessoas vão aos shows não só para ouvi-lo, mas para vê-lo. Quando ele entra no palco, parece que entra uma aura junto, que envolve o público. Ele faz rir e chorar, e fica um sublime silêncio quando está cantando”, define o diretor do Bourbon Street e responsável pela vinda do artista

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ao Brasil, Edgard Radesca. Consciente de que é uma lenda viva, Riley B. King recheia os shows de histórias curiosas sobre sua carreira e brincadeiras com a plateia, esbanjando simpatia –qualidade que é uma de suas marcas registradas. Em 2004, por exemplo, do palco do Bourbon ele tentou puxar conversa com uma mulher que estava em uma das primeiras filas. Percebendo a dificuldade dela em compreender o que dizia, desculpou-se como um lorde: “Meu inglês não é muito bom...” E abriu um daqueles largos sorrisos que estampam suas fotos. B.B. King é o nome mais popular em toda a história do blues, além de um dos maiores mestres do gênero. Como aconteceu em suas últimas vindas ao país, ele será recebido como pop star. A seu pedido, dois ônibus foram adaptados para fazer o percurso entre as três cidades (é assim que ele sempre viaja pelos Estados Unidos). Os veículos, de dois andares, têm um quarto para ele, com cama e tudo, e uma sala de estar e jogos. Não vai faltar nem seu mordomo particular. Os ingressos vão de R$ 250 a R$ 1.300.

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MALUCO

SOLTA O PAUSE

LIVRO

Passagem super rápida pelos cinemas da região. Então, se você perdeu, agora tem o DVD

Acompanhe as notícias do mundo da música por meio do blog http://soltaopause.com.br

Um dos artistas mais controversos do rock nacional ganha biografia por Mauro Beting e Alexandre Petillo

WEB

Fotos: divulgação

TURNÊ

CD’S & MAIS

Um clássico alemão

VALE DESTAQUE BOB DYLAN “Tempest” Este é o 35º disco da carreira desse gênio e marca o 50º aniversário do seu primeiro álbum. Dizem que tem sonoridades mexicanas

TWO DOOR CINEMA CLUB “Beacon” O segundo disco promete manter o ritmo acelerado que cativou crítica e público no mundo

CAT POWER “Sun” Produzido pela cantora, o disco foi finalizado na França e Cat diz estar feliz com o resultado

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Se você tem mais de 30 anos já dançou agarradinho numa festinha ao som de “Still Loving You” ou fez air guitar na parte do solo. É inevitável. Talvez a banda alemã de maior sucesso no mundo, o Scorpions desembarca para três shows no Brasil. Dia 10 em Belo Horizonte e dias 20 (ingressos esgotados) e 21 em São Paulo no Credicard Hall. Com 100 milhões de álbuns vendidos ao redor do planeta em mais de 40 anos de carreira, o grupo mantém sua popularidade entre o público roqueiro no país. Álbuns clássicos como “Blackout” e “Love At First Sting”, e os hits “No Pain, No Gain”, “Wind of Change”, “Still Loving You” e “Rock You Like a Hurricane” não só lançaram o grupo ao sucesso mundial, como fizeram a história do rock alemão. Seu engajamento político também é uma característica. “Wind of Changes”, por exemplo, é o hino da Alemanha unificada. Os ingressos podem ser adquiridos nas bilheterias oficiais das casas de show, pela internet (www. ticketsforfun.com.br) e pelo telefone (11) 4003-5588.

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Ponto Final

Arnaldo Jabor

A política anda por linhas tortas

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á começou o circo da propaganda eleitoral , o desfile de horrores da política brasileira. Será um trem fantasma de caras e bocas e bochechas que traçam um quadro sinistro do Brasil, fragmentado em mil pedaços –o despreparo, a comédia das frases, dos gestos, da juras de amor ao povo, da ostentação de dignidades mancas. A política brasileira anda por sustos. Meu primeiro susto foi em 54. Estou do lado do rádio e ouço o “Repórter Esso”: “O presidente Vargas acaba de se suicidar com um tiro no peito!”. O mundo quebrou com o peito de Getúlio sangrando, as empregadas correndo e chorando. Estou no estribo de um bonde, em 61. “O Janio Quadros renunciou!”, grita um sujeito. Gelou-me a alma. Eu já sentira arrepios quando ele proibiu biquínis nas praias. Tínhamos posto um louco no Planalto –e não seria o único... Em 64, dias antes do golpe militar - o comício da Central do Brasil. Serra estava lá, falando, de presidente da UNE. Clima de vitória do ‘socialismo’ que Jango nos daria (até para fazer ‘revolução’ precisamos do Governo). Tochas dos bravos operários da Petrobras, hinos, Jango discursando, êxtase político: seríamos a pátria do socialismo carnavalesco. Volto para casa, eufórico. No ônibus, passando no Flamengo, vejo uma vela acesa em cada janela da classe média, em sinal de luto pelo comício de ‘esquerda’. Na noite ‘socialista’, cada janela era uma estrelinha de direita.

FUTURO “Vivemos no suspense e nos sustos pelo país” “Não vai dar certo essa porra...” –pensei, assustado. Não deu. Ainda em 64, festa do ‘socialismo’ no teatro da UNE. 31 de março, 23h. Elza Soares, Nora Ney, Grande Otelo comemoram o show da vitória. No dia seguinte, a UNE pegava fogo, apedrejada por meus coleguinhas fascistas da PUC. Na capa da revista “O Cruzeiro”, um baixinho feio, vestido de verde-oliva me olha. É o novo presidente, Castelo Branco. Corre-me o arrepio na alma: minha vida adulta foi determinada por aquele dia. O sonho virou um pesadelo de 20 anos. Depois, vem o Costa e Silva, sua cara de burro triste. Aí, começaram as passeatas contra a ditadura. Costa e Silva tinha alguns traços populistas e resolveu dialogar com os líderes do movimento democrático. Uma comissão vai conversar com o presidente. Aí, outro absurdo - os membros da comissão se recusam a vestir paletó e gravata na entrada do palácio: “Não usamos gravatas burguesas!” e o encontro fracassa. Tancredo entrou no hospital e arrepiou-me o sorriso deslumbrado dos médicos de Brasília no “Fantástico”, amparando o presidente como um boneco de ventríloquo. Gelei ao ver o Sarney, homem da ditadura, posando de “oligarca esclarecido” na transição democrática. Assustei-me com a moratória de 87, aterrorizou-me a inflação de 80% ao mês.

E, depois, vejo a foto do Collor na capa da “Veja” - com todo mundo dizendo: “Ele é jovem, bonito, macho...”, revirando os olhos numa veadagem ideológica. Foi um período tragicômico, com a nação olhando pela fechadura da “Casa da Dinda” para saber do seu destino. Depois o período do “impeachment”, dos caras-pintadas. Durante Itamar, a letargia jeca-tatu, só quebrada pela mudança na economia com o plano Real que FHC fez (que depois foi roubado pelo Lula, claro). Aí, 1994, o ano da esperança, Brasil tetra na Copa e um intelectual da verdadeira esquerda subindo ao poder. Mas, meu medo histórico logo voltou, quando vi que a Academia em peso odiava FHC por inveja e rancor, criando chavões como “neoliberalismo”, “alianças espúrias” (infantis, comparadas com a era Lula). Durante o mandato, o próprio governo FHC cometeu seu erro máximo que até hoje repercute - não explicou didaticamente para a população a revolução estrutural que realizava: estabilização da economia, lei de responsabilidade fiscal, privatizações essenciais, consolidação da divida interna, saneamento bancário que nos salvou da crise de hoje, telefonia, tudo aquilo de que, depois, Lula surrupiou como obra sua. Foi arrepiante ver a mentira com 80 por cento de Ibope. Hoje o que me dá medo é ver que a tentativa de Dilma governar é sabotada por aqueles que achavam que ela seria apenas uma ‘cover’ do Lula. Hoje estamos vendo a cara verdadeira dos donos peronistas da CUT e dos funcionários mais bem remunerados, os ‘amigos do povo’ que roubam em seu nome. •

Arnaldo Jabor Jornalista e cineasta

jabor@valeparaibano.com.br

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