Setembro 2010 • Ano 1 • Número 6 R$ 7,80
Pedofilia
Crime silencioso Lado mais perverso do abuso sexual de menores consegue calar denúncias e fazer com que vítimas se sintam culpadass DROGAS
Vale a pena legalizar o uso de maconha? P46
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TEATRO
Festivale completa 25 anos P90
ECONOMIA
Novos desafios para General Motors P22
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Domingo 5 Setembro de 2010
Opinião
Palavra do editor
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DIRETOR RESPONSÁVEL Ferdinando Salerno
Abuso sexual infantil: crime covarde e cruel
N
esta edição, a revista va- ses ou até anos sem que ninguém que leparaibano traz à tona viva sob o mesmo teto, ao menos, desum tema que assusta e, ao confie ou não perceba uma mudança mesmo tempo, revolta a de comportamento na criança. sociedade: o abuso sexual infantil, um O Programa Nacional de Enfrencrime covarde, cruel e que a cada dia tamento da Violência Sexual contra faz novas vítimas. Crianças e Adolescentes criou em Desde o começo deste ano foram 2006 o Disk 100. Desde então, 80% noticiados pela imprensa da região ao dos municípios brasileiros denunmenos 14 casos envolvendo denúncia ciam violências contra crianças e ou prisão de suspeitos por abuso con- adolescentes. A cada dia, 77 casos são tra menores. Entretanto, na vida real, registrados. A ligação é gratuita e o o número é muito maior. denunciante não precisa se identifiSomente em São José dos Campos, car. Vamos fazer a nossa parte? a DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) registra, por dia, de 6 a 8 denúncias do tipo –um número assustador, R ER AE RAE BR MB EMB EM tão assustador quanto o número de acusados que continua nas ruas devido à dificuldade de provar o crime. É compreensível a dificuldade que as polícias, Promotoria e Justiça têm em prender o suspeito, ainda mais quando a agressão não deixa rastros, uma prova que tire o criminoso do convívio da sociedade, seja preso ou em uma clínica de tratamento. Pedofilia Então o que nos resta? Resta a coso Crime silencio ragem de denunciar e colocar atrás das grades uma pessoa que precisa de ajuda médica, uma pessoa doente, que age sem controle. Pior: uma pessoa que pode ser pai, marido, filho ou um amigo, já que a maioria dos casos ocorre dentro da casa das vítimas. Claret Difícil é acreditar que um crime tão Marcelo editor-chefe horroroso consiga perdurar por mear a ltar ollt o olt olta v vo arra volt pa a par rra ara par p epa pr se e see pre crriise cr cri a cris da ir d ir sair eeça eçça a sair meç me m om o ome cco com
DIRETORA ADMINISTRATIVA Sandra Nunes EDITOR-CHEFE Marcelo Claret mclaret@valeparaibano.com.br
EDITOR-ASSISTENTE Adriano Pereira adriano@valeparaibano.com.br
EDITOR DE FOTOGRAFIA Flávio Pereira flavio@valeparaibano.com.br
REPÓRTERES Yann Walter (yann@valeparaibano.com.br), Hernane Lélis (hernane@valeparaibano.com.br), Elaine Santos (elainesantos@valeparaibano.com.br) e Rafael Persan (estagiário) DIAGRAMAÇÃO Daniel Fernandes daniel@valeparaibano.com.br COLABORADORES Bruno Frahia, Cláudio César de Souza, Cristina Bedendo, Franthiesco Ballerini, Raquel Cunha e WR Agência de Modelos COLUNISTAS Alice Lobo, Carlos Carrasco, Fabíola de Oliveira, Marco Antonio Vitti, Marcos Meirelles, Ozires Silva e Roberto Wagner de Almeida CARTAS À REDAÇÃO cartadoleitor@valeparaibano.com.br
DEPARTAMENTO DE PUBLICIDADE Tatiana Musto tatiana@valeparaibano.com.br
(12) 3909 4646 SUCURSAL SÃO PAULO Alameda Gabriel Monteiro Silva, 2373 Jd. América (11) 3546 0356
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1 • Número 6 R$ 7,80
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TEATRO
DROGAS
Vale a pena de legalizar o uso maconha? P46
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Festivale completa 25 anos P90
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A revista valeparaibano é uma publicação mensal da empresa Jornal O Valeparaibano Ltda. Av. São João, 1.925, Jardim Esplanada, São José dos Campos (SP) CEP: 12242-840 Tel.: (12) 3202 4000
ATENDIMENTO AO ASSINANTE Segunda a sexta-feira, das 8h às 18h 0800 728 1919 relacionamento@valeparaibano.com.br
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A tiragem é auditada pela BDO
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MODA
Sumário
A PRAIA PROMETE PERSONALIDADE EM 2011 P82
ESPECIAL
Crime sem castigo Histórias cruéis e covardes de abuso sexual de menores são mais comuns do que se imagina no nosso dia-a-dia
POLÍTICA ELEIÇÕES
ECONOMIA INDÚSTRIA
Os candidatos exóticos Os desafios da General Motors P22 estão em alta P12 Tiririca, Mulher Pêra e outros que acreditam que podem exercer cargos públicos
Festivale chega aos 25 anos P90
Montadora quer evitar o desmonte da planta de São José com investimentos em novos modelos
SAÚDE DROGAS
Cientistas saem em defesa da maconha
CULTURA TEATRO
Festival quer consolidar São José como polo produtor das artes cênicas no Brasil
P46
Grupo renomado de neurocientistas brasileiros abre o debate sobre a legalização da droga
MÚSICA
O pai da guitarra
MUNDO HISTÓRIA
65 anos do fim da 2ª Guerra P52
ENTREVISTA FREDERICO CURADO
“Há esperança de crescer um pouquinho” P28
Há 40 anos, Jimi Hendirx morria de overdose e entrava para a história do rock P94
Ensaio Fotográfico p60 Cinema p100 Flashes & p108 Viva a Vida p114
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ANTIGOS MORADORES DO TORRÃO DE OURO SE MUDAM PARA O NOVO CONJUNTO RESIDENCIAL PUTIM/ SANTA LUZIA. &RP D DomR GD 3UHIHLWXUD IDPtOLDV TXH YLYLDP VHP QHQKXPD HVWUXWXUD EiVLFD QR 7RUUmR GH 2XUR HVWmR VH PXGDQGR SDUD UHVLGrQFLDV QRYDV H SUy SULDV 'DV RSo}HV RIHUHFLGDV PXLWDV IDPtOLDV HVFROKHUDP R FRQMXQWR KDELWDFLRQDO 3XWLP 6DQWD /X]LD 6mR FDVDV FRP GRUPLWyULRV VDOD FR]LQKD EDQKHLUR iUHD GH VHUYLoR DTXHFLPHQWR VRODU SDUD R FKXYHL UR VHJXUDQoD H WRGD D LQIUDHVWUXWXUD GR ORFDO UXDV DVIDOWDGDV FRPpUFLR FRQGXomR HQILP WXGR R TXH QHFHVViULR SDUD GDU XP SDGUmR GH YLGD GLJQR D HV WDV SHVVRDV
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Cartas
Cartas&e-mails AS CARTAS QUALIDADE Conteúdo Com o objetivo de facilitar a vida dos leitores e estudantes, escrevendo numa linguagem simples e acessível, o jornalista Laurentino Gomes afirma que “Ninguém precisa sofrer para estudar História”. É exatamente dessa maneira que escritores, educadores e outros profissionais de áreas semelhantes deveriam agir. Uma iniciativa tão simples e ao mesmo tempo fascinante não poderia deixar de ser divulgada (mais do que já foi) e explicada. O perfil feito com Laurentino Gomes nos instiga a conhecer a fundo toda a “nossa história”, desperta em nós a curiosidade essencial para obtermos uma considerável bagagem cultural. Parabéns pela matéria! Conseguiu transmitir, numa boa reportagem, não somente a informação, mas também estimulou de alguma forma e tornou-se inesquecível. A revista possui um ótimo conteúdo, suas matérias abordam temas de interesse nacional (em alguns casos, mundial) e principalmente regional; o que faltava no Vale do Paraíba. Gostaria de destacar também a qualidade das imagens publicadas nas matérias. Imagens que atraem nossos olhares e que possibilitam uma maior compreensão da informação; elas realmente estão conseguindo complementar a reportagem com a sensibilidade como diferencial. Ana Paula Alves Estudante de Jornalismo
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MODERNIDADE
O DESTAQUE
Pais presentes
JORNALISMO REGIONAL
Satisfação A cada edição, a revista valeparaibano tem mostrado todo o vigor e valor do bom jornalismo regional. Reportagens interessantes, bem produzidas que mostram inteligência e cuidado com os assuntos abordados. Em suas reportagens, vemos funcionar a fórmula de se ter uma visão globalizada para o contexto local, e também o contrário: perceber-se a região num sentido muito mais amplo, com um olhar global. Na última edição, encontramos uma reportagem sobre alta tecnologia médica sendo desenvolvida numa universidade da cidade. E ainda uma nova e bem-vinda tendência de nossa sociedade, que é a maior participação masculina na rotina doméstica, acontecendo aqui, ali e acolá, numa mudança de paradigma em que estamos todos envolvidos. Outra matéria excelente foi a capa da última edição, “Rota 66: a mãe de todas as estradas”. O texto leve e descontraído, nos transportou para a famosa estrada norte-americana tendo o jornalista Adriano Pereira como companhia. As fotos de Cláudio Vieira também são um espetáculo à parte. Parabéns a todos, continuem brilhando. Mario Domingos de Moraes Diretor presidente da Fundação Cultural Cassiano Ricardo NÃO
ENQUETE Você é a favor da legalização da maconha?
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27,87 SIM
Enquete www.valeparaibano.com.br
Foram computados 1.403 votos entre os dias 2 e 20 de agosto
Sou assistente social e resido em Taubaté, onde estudo e trabalho. Sou casada, tenho três filhos e um marido que me ajuda muito. Essa matéria do “Novo pai do milênio” foi muito bem colocada. Hoje em dia, os filhos precisam tanto da mãe quanto do pai e é de suma importância que eles (os pais) percebam isso. Vocês estão de parabéns pela excelente matéria. Aparecida Claudia M. da Silva Assistente Social
LINGUAGEM Parabéns Quero dar os parabéns pela revista como um todo, a linguagem é fácil de ser entendida e nos informa com clareza o que acontece em nossa cidade e no mundo. Gostaria de parabenizar pelo trabalho. Jakson Nobrega Administrador de empresas
TURISMO Barcelona Interessantíssima a matéria sobre Barcelona. As imagens e a dinâ-mica da reportagem em conduzem o leitor a uma viagem ao velho mundo como se entrasse em uma pintura de Gaudi, Goya ou Dali, mostrando uma cidade banhada em cores em um mundo que está ficando cada vez mais cinza. Parabéns à senhorita Liv Taranger pelas descobertas que, com certeza, considerarei na minha viagem à Espanha. Alvaro Almanza Collao Engenheiro Aeronáutico
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Cartas Av. São João, 1925 Jd. Esplanada, CEP 12242-840
ROTA 66 Quero mais!
E-mail cartadoleitor@valeparaibano.com.br
Twitter @revistavale
OS E-MAILS
Redes www.flickr.com/revistavaleparaibano www.facebook.com/revistavaleparaibano
ADOÇÃO 2 Equívoco
A revista é realmente esplêndida, diferentes das outras, tenho todas guardadas, sou leitor assíduo!
Prezado Marco Vitti, li sua coluna na revista edição passada, refleti e tirei a minha conclusão: Meu primeiro filho está hoje com 20 anos, eu não parei de trabalhar e estudar. Era muito nova e tinha como objetivo vencer na vida. Trabalhei 10 anos numa empresa e tinha muito pouco tempo para ele. Bom, tive oportunidade de ser mãe novamente, então refleti e decidi largar o emprego, sair de São Paulo e me mudei para São Jose dos Campos. Agora sou mãe integral e do lar. Estou muito integrada ao lado de minha filha e as crianças de outras mãe que sempre frequentam minha casa. Hoje observo as mães correndo de um lado para o outro, deixando os filho na mão de empregadas, escolinhas, avós. Educar e ser mãe é muito difícil, exige muita paciência, determinação e muito amor. Hoje percebo que os pais não tem a menor paciência e não sabem criar seus filhos. Assiti ao filme “ Eu amo Paris” e refleti na parte dirigida por Walter Salles. A empregada sai de casa e deixa seu filho na creche e chega na casa de sua patroa para cuidar do filho da outra e neste ciclo ninguém cria ninguém! Estou falando tudo isso porque, indiferentemente de ser filho adotivo ou biológico, está muito difícil ter pais realmente de verdade. Questiono para vários pais que vejo fazendo coisas com a criança que eu considero erradas. Vale a pena realmente colocar filhos no mundo para deixar nas mãos de outras pessoas?
O colunista Marco Antonio Vitti “especialista em biologia molecular e genética” fala sobre comportamento humano baseado em conhecimento empírico, sai do campo da biologia e genética, que é estritamente científico, e conjectura sobre psique humana, afirmando absurdos como se esses fossem a fronteira final da verdade. Cita casos onde supostamente crianças adotadas possuem profundas e eternas feridas na sua formação emocional, como se isso nunca pudesse ter solução. Da mesma forma fala sobre casais e pessoas que adotam, jogando em uma vala comum, dizendo que mães adotivas jamais serão o arquétipo de Grande Mãe e que só o fazem para preencherem sua necessidade sociopata. Caro Vitti, somos pais de um jovem de 11 anos, filho de nosso coração. Infelizmente a natureza não cooperou, fomos buscar a oportunidade de dar amor, carinho, educação para uma criança e torna-la feliz, ajudando a cicatrizar e superar suas feridas. Lembro que recentemente tivemos casos como o de Suzane Hichtoffen, que manipulou dois irmãos e promoveu o assassinato de seus pais, lembro ainda de um jovem que metralhou dezenas de pessoas num cinema e um outro empresário que assassinou friamente seus pais biológicos, de famílias economicamente estáveis. Com este breve relato, mesmo não sendo “especialista” notamos que eventuais feridas e desvios emocionais não advêm da condição econômica ou social e sim emocional, portanto, todos nós poderemos em algum momento, em maior ou menor grau, termos a nossa ferida aberta e precisarmos de ajuda.
Gerson Vielas Alves Ortopedista
Vanessa M. Dias Jornalista
João Varollo Empresário
Foi uma delícia ler a matéria especial da Rota 66. Em setembro de 2009, percorri, juntamente com meu marido, parte da “historic route”. Apesar de não ter feito todo o trajeto de moto, a experiência foi inesquecível e parecida com a que tiveram: o deslumbramento proporcionado pelo Grand Canyon, as súbitas mudanças de paisagem e temperatura, a intimidação frente ao deserto, as cidades fantasma, a desconfiança dos navajos, a variedade da comida e a diversidade cultural. Também não posso deixar de falar das inevitáveis “perdidas” em trechos nos quais a estrada simplesmente sumia ou ocasiões em que, no meio do nada, o GPS anunciava: “você chegou ao seu destino”. E, “recalculando a rota”, com a noite chegando e sem nenhum lodge, motel ou hotel nas imediações, acabávamos por descobrir lugares extremamente interessantes e aparentemente esquecidos pelo mundo. E, naqueles momentos, o único pensamento que tinha era de agradecimento por estar em um veículo confortável e com o tanque cheio. Em síntese, foi um sonho concretizado, onde parecia que fazíamos parte de um filme antigo. As fotos, por sua vez, publicadas na revista, falam mais que as palavras e deixam aquele gostinho de “quero mais”. Sílvia Máximo Promotora de Justiça
LEITOR Diferente
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ADOÇÃO 1 Vale a pena?
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TWITTER @aninhaquiririm Muito boa a matéria “Cosmética da fome” na revista valeparaibano de agosto. Quero muito ver #400 contra 1
Sobre a Rota 66: @dehmoura Adorei a matéria sobre a Rota 66 (estrada dos EUA) do Adriano Pereira na revista valeparaibano. Coisas assim me fazem ter orgulho de ser jornalista!
@AlissonPaiva Sensacional a matéria da revista valeparaibano sobre a Rota 66, pude viajar de Chicago a Los Angeles sem sair de casa.
Sobre a revista: @lerfazbem Agora estou lendo a revista valeparaibano! Com certeza a mais regional e presente nos destaque da nossa região!
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Política
Dois Pontos
Marcos Meirelles Jornalista
Decifra-me ou não me eleja Se não houvesse a esfinge na sucessão presidencial, o eleitorado conservador cuidaria de criá-la
BRANCO & PRETO Ponto de Vista: A filosofia do marketing, nas declarações dos ‘gurus’
“A comunicação política é feita por meio de uma simbiose entre o que se diz e seu suporte de expressão, as ferramentas comunicacionais“ João Santana marketing de Dilma Rousseff
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VACINA OFICIAL Dilma Rousseff (PT), após encontro para apaziguar os temores da CNBB
íder nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência, a candidata Dilma Rousseff (PT) é uma esfinge política que espanta o eleitorado médio paulista, ávido por uma gestão de risco zero, na mesma linha que consagrou o PSDB campeão das urnas em São Paulo. O eleitor médio paulista enxerga em Dilma mais do que a roupagem moldada pelo Palácio do Planalto. Não é a falta de experiência nas urnas que a transforma em incômoda incógnita –em cidades como São José, o eleitorado já colocou nas prefeituras técnicos indicados por lideranças políticas, sem jamais questionar sua virgindade eleitoral. O que assusta em Dilma é o que não está no rótulo de candidata oficial, o temor de um esquerdismo tardio, inspirado na luta armada contra a ditadura. Quando se lança a suspeita de que a candidata será dominada pelos aloprados do PT
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e pelos aliados do ex-ministro José Dirceu, portanto, a vacina não é propriamente contra possíveis esquemas de corrupção ou aparelhamento da máquina pública. Nas redes sociais e sites de relacionamento pela internet, Dilma ressuscita até o antigo mote de Regina Duarte contra Lula –o “medo” é a palavra de ordem. Parte da oposição alimenta esta percepção, valendo-se de todas as oportunidades para associar a candidata chapa branca ao sectarismo e a ideias ultrapassadas. Para o eleitor médio paulista, a estratégia parece perfeita e reforça suas convicções. Para a biografia e o futuro político de José Serra (PSDB), é uma iniciativa de risco. Serra sempre esteve na vertente mais social-democrata de sua legenda, comprando brigas ingratas com os liberais na área econômica, defendendo avanços em liberdades individuais e direitos civis. A reboque de um discurso que não lhe pertence, o candidato tucano limita seu horizonte.
“São Paulo sempre é uma eleição complicada. É um lugar com opinião pública forte, gente informada, urbanizada, antenada” Luiz Gonzalez marketing de José Serra
“Serra e Dilma apostarão no modelo do ‘fez e fará’. É uma prestação de contas e promessas. Marina não. Ela irá na linha do ‘continuísmo sem continuidade’” Paulo de Tarso Santos marketing de Marina Silva
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Domingo 5 Setembro de 2010
José Serra Canditado à Presidência pelo PSDB
O importante é não perder feio
A
possível vitória de Geraldo Alckmin (PSDB) no primeiro turno tira o sono dos petistas mais azedos, inconformados com a possibilidade de o PSDB somar duas décadas à frente do Estado mais rico e populoso do país. Os mais revoltados acusam o PT de esmorecer no trabalho de oposição aos tucanos, deixando o partido no poder no Palácio dos Bandeirantes livre para estabelecer um rodízio entre suas lideranças. O barulho da oposição na Assembleia Legislativa é, de fato, imperceptível, mas o principal partido de oposição ao PSDB em São Paulo padece de males maiores. O maior deles é a falta de renovação política: Aloizio Mercadante é um candidato pouco à vontade com a missão que lhe foi
Educação, o deserto do PSDB A proposta de oferecer um incentivo financeiro para os estudantes que precisam de reforço em matemática é um tributo que o governo do PSDB em São Paulo pretendia prestar à mediocridade. O secretário de Educação, Paulo Renato de Souza, determinou a suspensão da medida por se tratar de algo meio cru, mas o estrago já estava feito. Na educação paulista, as soluções mágicas, planejadas na solidão dos gabinetes, continuam tendo mais importância que o trabalho persistente para melhorar a qualidade do ensino público. Os governadores do PSDB se sucedem trocando secretários, prometendo mudanças radicais na concepção do ensino público e, por fim, rendendo-se às evidências
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“Boa parte ou alguns dos blogs sujos mais importantes são mantidos com recursos desta TV Brasil, feita não para ter audiência, mas para criar empregos na área” confiada pelo presidente Lula e seu bigode “mexicano” perdeu qualquer vestígio de charme para o eleitorado após a desastrosa operação dos aloprados, na sua última campanha ao governo Estado. Hoje, a antipatia de Mercadante ecoa até dentro do PT. E qual seria a alternativa petista a Mercadante? Marta Suplicy, Antonio Palocci?! Na bancada do PT paulista na Câmara dos Deputados predominam os parlamentares que, nos oito anos de governo Lula, se dedicaram a consolidar seus redutos eleitorais, adotando uma postura bastante pragmática de utilização das máquinas partidária e pública para projetar seus mandatos. A renovação não está no PT e muito menos no PP de Paulo Maluf e Celso Russomano. Os demais candidatos podem adotar um discurso diferenciado, mas sua viabilidade eleitoral é quase nula. Com este quadro, só mesmo uma maré petista capitaneada por Lula e Dilma Rousseff pode tirar de Alckmin a vitória no primeiro turno –algo bastante improvável se considerarmos os resultados das últimas eleições na capital e no Estado de São Paulo.
de um desempenho medíocre. Com o favoritismo consolidado, Alckmin precisa esclarecer que modelo pretende adotar na educação e que medidas pretende manter entre aquelas projetadas por Serra. Não basta desfiar números fantasiosos. É preciso admitir, publicamente, que as escolas precisam de um salto de qualidade e que é impossível pensar no futuro de São Paulo sem um investimento maciço na melhoria do ensino público. No Vale, o Enem revelou um abismo entre as escolas públicas do Estado, indicando que há um problema de gestão no setor. Com sua estrutura verticalizada, a Secretaria de Educação trata da mesma maneira escolas com realidades diferentes e o bom desempenho das unidades depende do esforço de diretores ou professores. No mínimo, é preciso criar mecanismos para que os moradores possam avaliar e cobrar o trabalho das diretorias de ensino. Se Alckmin vencer, convocará, novamente, seu amigo Gabriel Chalita?
PINGUE & PONGUE José Vicente da Silva Filho Coronel aposentado da PM e exsecretário nacional de Segurança Pública
Como o sr. avalia a questão do combate às drogas na campanha política? O mais importante seria discutir uma uma política mais eficiente de combate às drogas na fronteira e até o tratamento aos dependentes. O trabalho que é feito hoje pelo governo é extremamente deficiente. O Brasil é o segundo maior consumidor de cocaína do mundo, são 50 mil quilos todos o anos. Nós não temos centro, rede de unidades de tratamento. A prevenção ao uso das drogas entre os mais jovens é precária. Até hoje, a Secretaria Nacional Antidrogas está subordinada ao gabinete militar da Presidência. Então, não tem sentido, na bica da eleição, lançar um programa só para o crack. Não dá para pegar um determinado segmento e achar que é o mais problemático. O que o sr. acha que precisa ser feito nesta área? O tráfico e o consumo de drogas são problemas de dimensões nacionais. Não adianta uma ação pontual no Rio de Janeiro. O Itamaraty precisa melhorar os acordos bilaterais com o Paraguai e a Bolívia, que são os países que enviam drogas para o Brasil. É preciso reforçar a segurança nas fronteiras. A rede SUS deveria ter um programa de atendimento aos drogados.
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Política ELEIÇÕES 2010
Na carona da fama Artistas e ex-jogadores de futebol tentam conquistar o eleitor e ingressar na carreira política; Vale do Paraíba também terá seus famosos nas urnas do pleito de 3 de outubro Hernane Lélis São José dos Campos
esmo sem qualquer traquejo para a vida política, dezenas de celebridades já ensaiam seus discursos para transformar fama em votos nas eleições do dia 3 de outubro. São ex-jogadores de futebol, cantores, atores, humoristas e mulheres frutas contanto com a popularidade para conseguir uma cadeira na Câmara Federal ou Assembleia Legislativa. Seus projetos, quando eles existem, vão desde abertura de cassinos à exigência de inclusão de jovens sem experiência no mercado de trabalho. No folclore eleitoral, essas personalidades representam apenas uma equação matemática, onde os partidos convidam os famosos para lançarem suas candidaturas com a intenção de “puxar” votos para a sigla, aumentando assim o quociente eleitoral da legenda e, consequentemente, o tamanho das suas bancadas parlamentares. Entre os famosos, ou quase famosos, que
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buscam sucesso nas urnas pelo Estado de São Paulo aparecem representantes do Vale do Paraíba, como Suéllem Aline Mendes Silva, mais conhecida como Mulher Pêra. Aos 23 anos, a dançarina e cantora de funk considera Guaratinguetá, sua terra natal, o principal reduto eleitoral para conquistar uma vaga como deputada federal pelo PTN (Partido Trabalhista Nacional). Suéllem diz que entrou na disputa a convite de José de Abreu, presidente nacional do PTN, para atrair o público jovem. Sobre seus projetos, ela garante ter uma equipe de assessores trabalhando neles. “Tenho vários projetos em mente para os jovens e para as crianças. Como sou uma fruta, tenho projetos para a preservação do meio ambiente, como não poluir rios e não jogar lixo nas ruas”, disse a dançarina. Nas urnas eletrônicas, Suéllem adotou seu nome artístico. Para ela, o rótulo de Mulher Pêra tende ajudá-la a conquistar votos. “Tenho vários fãs pelo Brasil por causa dos meus shows. Sou conhecida como Mulher Pêra, por isso, não acredito que serei prejudicada. Fui convidada a disputar as eleições e aceitei com o objetivo de ganhar, não é um jogo de partido. Também pretendo criar uma lei
FRUTA Suéllem Aline Mendes Silva, 23 anos, a Mulher Pêra, que tenta vaga na Câmara dos Deputados pelo PTN
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Flávio Pereira
que obrigue os empresários a contratarem jovens sem experiência”, explicou. Em seu site oficial, ela se descreve como inteligente, perspicaz e com “enorme bagagem cultural”. No registro de candidatura divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral, o grau de instrução indicado é “lê e escreve”, ou seja, sem nenhuma formação escolar concluída. Seu único bem declarado à Justiça Eleitoral foi um veículo da marca Mercedes, no valor de R$ 20 mil. Alfinetadas Tentando pela primeira vez ingressar na carreira política, o estilista Ronaldo Ésper, 66 anos, é outra celebridade com raízes na região que pretende ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados. Ésper nasceu em Jacareí, mas passou a adolescência em Taubaté, onde ainda mantém vínculos familiares. Filiado ao PTC (Partido Trabalhista Cristão) –ex-partido de Clodovil Hernandes (morto em 2009)–, o candidato reconhece que foi convidado pela sigla somente para ser um “puxador de votos”, como ele mesmo diz. No entanto, depois de alguns acontecimentos em sua vida, como a acusação de roubar um par de vasos de um cemitério da capital, decidiu encarar com maior seriedade a candidatura e se preparar para uma carreira política. “Puxador de votos eu sou mesmo, como tem outros por ai, isso é uma técnica política. O episódio do vaso, do qual já fui inocentado, foi uma coisa arbitraria, fui preso sem estar com nada nas mãos. Cemitério é um problema que precisa ser visto no Brasil, onde existe comércio de corpos, necrófilos, roubos. Quero saber o que acontece nesses lugares”, disse o estilista, que pretende colocar em prática um projeto de intervenção a cemitérios. De olho nos eleitores do Vale do Paraíba, o candidato destaca dois projetos que são formulados para serem tratados com maior foco na região. Se eleito, ele pretende legislar a favor do turismo histórico e da formação profissional no setor de moda. “O Vale do Paraíba é um grande polo cultural e histórico, acho que isso pode ser explorado politicamente já que turismo também gera lucro” disse Esper. Na área da moda, a ideia é implantar centros profissionalizantes para atender o mercado externo. “Estou falando de alta qualidade, formação de alfaiates, costureiras e outros profissionais que vão conseguir colocar o Brasil dentro de um circuito internacional. Numa primeira visão, muitos podem achar isso uma frescura, mas hoje não temos como manter uma indústria da
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Política
moda com qualidade”, explicou. Ronaldo Ésper também trabalha com ideias polêmicas, como a liberação de cassinos no Brasil e a regulamentação da prostituição. “Muita gente ficou contra esse projeto, mas é uma hipocrisia. É bom dizer que eu não jogo nada, nem dominó. Agora, sobre a prostituição é difícil pensar em uma profissionalização da atividade, mas também tive essa ideia”, disse o postulante, que declarou ao TSE pouco mais de R$ 347 mil em bens. Campo fértil A cúpula do PSB (Partido Socialista Brasileiro) aposta no ex-jogador de futebol Marcelinho Carioca para garantir uma bancada expressiva na Câmara dos Deputados em 2011. Depois de fazer fama com a camisa do Corinthians, Marcelinho quer fazer política em território paulista, disputando o pleito 2010 por São Paulo. Com um jingle em ritmo de samba, o ex-atleta promete trabalhar em um projeto suprapartidário na área de educação. Ao final da música, ele pergunta: “quem vem comigo?”. A resposta sairá das urnas, mas ele espera contar com o apoio dos torcedores corintia-
nos e com a imparcialidade das torcidas rivais para conseguir pendurar as chuteiras em Brasília. “Ganhei destaquei no Corinthians, mas sou plural, sou o Marcelinho do povo. Todo mundo sabe da minha história. Tenho certeza que terei voto de todas as torcidas, não estou levantando a bandeira de um time”, disse. Marcelinho não possui nenhuma ligação com o Vale do Paraíba. Mas desde o início de sua campanha visitou a região duas vezes, a primeira em julho participando da Semana da Saúde promovida pela Embraer, em São José, e a segunda no último mês, percorrendo as ruas da cidade. O candidato considera o Vale um de seus principais redutos eleitoral. “Estive algumas vezes na região, tenho amigos em São José, Monteiro Lobato, São Luís do Paraitinga. Sou sempre muito bem acolhido na região. Gosto de ter contato com as pessoas, ouvir suas opiniões e suas críticas, ver de perto suas necessidades locais”, explicou o “Pé de Anjo”, como ficou conhecido quando vestia a camisa sete do Corinthians. O plantel de ex-jogadores que vão disputar as eleições no dia 3 de outubro pelo Estado de São Paulo conta ainda com a pre-
sença dos também ex-corintianos Vampeta e Dinei. O primeiro almeja uma vaga para deputado federal pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), já Dinei pretende ocupar uma cadeira na Câmara Estadual pelo PDT (Partido Democrático Trabalhista). A proibição da contratação de shows em atividades políticas não foi suficiente para afastar os artistas da campanha eleitoral. Muitos desceram do palco e decidiram buscar votos para se elegerem. É o caso de Francisco Everardo Oliveira Silva. Pelo
Partidos convidam e lançam candidaturas de famosos com a intenção de “puxar” votos para aumentar o quociente eleitoral da legenda
Fotos: Divulgação
JOGOS Ronaldo Ésper defende liberação de cassinos
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IDEAL Simony quer lutar pelos direitos das mulheres
FUTEBOL Vampeta tenta vaga
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nome de batismo, ele seria apenas mais um entre os 1.275 candidatos a deputado federal, por isso, está no pleito como Tiririca. O humorista e cantor, filiado ao PR (Partido da República), usa o personagem para conquistar a preferência do eleitor. Aos 45 anos, Tiririca garante que sua candidatura não é uma piada pronta e que pretende trabalhar, caso eleito, em projetos voltados para área da saúde e educação. “Na Câmara, serei um pouco Francisco e um pouco Tiririca. Falta felicidade naquele lugar”, disse o candidato, que
estampa em seu site de campanha a seguinte frase: “Vote em Tiririca, pior que tá não fica”. Tiririca fez sua primeira visita ao Vale do Paraíba no último mês. Acompanhado de seus assessores, ele circulou pela região central de São José pedindo votos. “Quero ganhar essa eleição. Se conseguir puxar votos para o partido também está bom, mas meu objetivo é vencer. Mamãe me disse para ajudar o pessoal que veio de baixo, assim como eu, e pretendo fazer isso agora”, afirmou o candidato, que não soube especificar seus projetos.
Proibição da contratação de shows não afastou os artistas da campanha eleitoral. Eles deixaram o palco e decidiram buscar votos para se elegerem
Irmãos A convite do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab DEM (Democratas), os músicos da banda KLB, Kiko e Leandro, também entraram na disputa –Kiko como deputado federal e Leandro como deputado estadual. Eles negam que a intenção seja apenas aproveitar da popularidade para conquistar mandatos ou votos para o partido. Ambos pretendem trabalhar no combate à pedofilia e no resgate dos valores familiares. “As pessoas estão começando a se mobilizar para tudo, estão começando a perce-
ta vaga em Brasília pelo PTB
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SLOGAN “Vote em Tiririca, pior que tá não fica”
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ber as coisas. Uma frase que costumo usar muito é: ‘para que o mal se sobressaia, basta que o bem não faça nada’. De fato, o bem está muito omisso, ou submisso, ao mal. Por isso, eu só vou deixar de lutar a favor da família no dia em que achar que alguma coisa possa ser mais importante do que isso, ou seja, nunca”, disse Kiko. Ex-integrante da banda-mirim Balão Mágico, Simony Benelli Galasso, sentiu o gosto da fama ainda criança. Hoje, aos 34 anos, já não consegue tanta repercussão com a carreira de cantora. No entanto, a popularidade conquistada quando menina será usada nas urnas para tentar garantir uma vaga como deputada estadual. Filiada ao PP (Partido Progressista) de São Paulo, ela pretende lutar pelos direitos das mulheres e combater à violência. Simony acredita que o fato de ter sua vida exposta desde a infância é um ponto a favor para a sua candidatura e que se o objetivo do partido for apenas puxar votos para sigla, o importante será o fato de estar ajudando pessoas “decentes” e com bons projetos. “Não é que a gente (artista) quer virar po-
PLATAFORMA Músico Kiko quer combater pedofilia
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Política Flávio Pereira
lítico, mas muitos conhecem bem o sofrimento das pessoas. Na rua, quando encontram a gente, elas pedem para conseguirmos uma vaga em creche, um emprego, entre outras coisas. Minha boa vontade é muito grande. Sendo deputada será mais fácil ajudar a conseguirem alguma coisa. Não sou política, estou nessa de coração”, disse Simony. E a lista dos famosos que aproveitam o nome para tentar vaga como deputado é grande. Da televisão, surgem ainda o ex-BBB Kleber Bambam, vencedor da primeira edição do reality show, candidato a deputado estadual pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), o ator Ivanildo Gomes Nogueira, o Batoré, do humorístico “A Praça é Nossa”, que concorre vaga na Câmara dos Deputados pelo PP (Partido Progressita), além do múciso Juca Chaves, o polular “Menestrel do Brasil”, que pretende se eleger deputado federal filiado ao PR (Partido da República). Essa é a segunda vez que Juca tenta uma carreira política. Em 2006, ele disputou o Senado da Bahia. Também são candidatos por São Paulo o forrozeiro Frank Aguiar (PTB), que tenta pela segunda vez uma vaga como deputado federal, e o cantor Agnaldo Timóteo (PR), pleiteando pela terceira vez a Câmara Federal. Voto Consciente Para especialistas em direito eleitoral e cientistas políticos, os eleitores votam nas celebridades porque acreditam que farão diferença na esfera governamental ou legislativa por estarem desvinculadas da figura do político comum. Por exemplo, alia a imagem do jogador de futebol ao esporte e não à política. Eles apontam ainda outras duas explicações para que se vote nesse segmento. A primeira é o desconhecimento das habilidades necessárias para o cargo pleiteado pelo candidato. Já a segunda diz respeito a certo descontentamento com o cenário político atual, usando do voto como “arma” de protesto. Para os especialistas, quanto mais se elege pessoas que não têm condições de exercer o cargo, maior fica o espaço para políticos corruptos praticarem atos ilícitos. “Antes de escolher o candidato é preciso pesquisar quais são suas propostas. Pensar se ele tem preparação para o cargo pretendido, pois política não é parodia, apesar de muitos fazerem isso dela”, disse Thales de Andrade, cientista político e social da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos). Rui Tavares Maluf, professor de sociologia e política da Fundação Escola de Sociologia de São Paulo, é categórico sobre a questão.
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CORPO A CORPO Marcelinho Carioca distribui autógrafos na escolinha Chute Inicial Corinthians, em visita a São José
Para especialistas, os eleitores votam em celebridades porque acreditam que o seu candidato fará alguma diferença na política
“Geralmente quem vota nessas pessoas são os menos politizados. São os mais vulneráveis a essas figuras que lançaram suas candidaturas. É um voto pouco politizado”, disse o docente. Ele acredita que aos poucos o sistema eleitoral brasileiro vai limitar de alguma forma a candidatura de determinados candidatos. “Isso vai acontecer naturalmente. Estamos em uma democracia, não dá para impedir ninguém a se candidatar por falta de alguma graduação, por exemplo. Mas acho as pessoas vão evitar se expor diante do grau de instrução de alguns candidatos”, explicou Maluf. •
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DEMOCRACIA
Jovens, idosos e a cidadania Eles não são obrigados a votar, mas fazem questão de ir às urnas para eleger o futuro governante do país no dia 3 de outubro Cláudio César de Souza são josé dos campos
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pesar dos escândalos e episódios constantes de corrupção que têm arranhado a imagem da classe política junto à sociedade e provocado desilusão generalizada entre os adultos, os jovens de 16 e 17 anos das 39 cidades do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira que tiraram recentemente seus títulos estão ansiosos para comparecer às urnas pela primeira vez e exercer sua cidadania. Este ano, 15.277 adolescentes eleitores poderão participar do pleito. Apesar de poucos em relação ao total de votantes da região (representam 0,92% do universo de 1.642.744 eleitores), eles acreditam que podem fazer a diferença. Para isso, procuram acompanhar atentamente o noticiário político para conhecer as propostas dos candidatos a deputado estadual e federal, senador, governador e presidente da República. Quais as expectativas, anseios e motivações de quem vai votar pela primeira vez no pleito do mês que vem? Para descobrir, a
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revista valeparaibano ouviu jovens de 16 e 17 anos de São José dos Campos, a maior cidade do Vale e onde moram 3.414 dos 15.277 eleitores menores de idade da região. “Apesar do voto ser facultativo para algumas pessoas, todos deveriam votar. Ao ir às urnas, acredito que estou colaborando para melhorar o Brasil. É muito importante se preocupar com a política desde muito jovem. Estou convicto de que a minha geração ajudará cada vez mais a decidir os rumos do país”, destaca Ciro Alvarenga, 17 anos, aluno do 3º ano do ensino médio do Colégio Anglo Cassiano Ricardo. A escola, que tem cerca de 750 alunos, já virou uma referência na cidade em relação à conscientização política da juventude. Nas eleições municipais, o colégio sempre promove debates entre os candidatos a prefeito com o objetivo de mobilizar seus estudantes a participarem ativamente da democracia. “Desde o 1º ano do ensino médio, nossos alunos têm aulas de sociologia e filosofia para que seja despertado neles o interesse pela cidadania. É importantíssimo o voto nesta idade, já que é o voto consciente. São pessoas que não precisariam ir às urnas, mas fazem questão de participar ativamente para ajudar a melhorar a comunidade em que moram”, pondera a coordenadora pe-
PRIMEIRO VOTO Os estudantes Fábio Ferreira, 16 anos, e Ciro Alvarenga, 17 anos, com seu título de eleitor
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ELEITORADO NA REGIÃO
1,642 MILHÃO É o número de eleitores nas 39 cidades do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira, segundo dados do TSE
5.123 ADOLESCENTES Com 16 anos tiraram o título de eleitor na região para participar do pleito que elegerá o próximo governante do Brasil
10.154 JOVENS Com 17 anos estão aptos a votar na região nesta eleição, de acordo com levantamento do Tribunal Superior Eleitoral
99.658 IDOSOS Com mais de 70 anos de idade, faixa etária que é dispensada da obrigatoriedade do voto, moram nas 39 cidades da região
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país através da escolha de bons governantes. Não adianta as pessoas dizerem que o meu é apenas mais um voto. Quero ser ativo e tenho consciência de que meu voto é importante para o país.” Terceira Idade Mas não são somente os jovens de 16 e 17 anos que fazem questão de votar. A revista valeparaibano ouviu também o depoimento de pessoas que têm mais de 70 anos e, apesar de estarem dispensadas de comparecer às urnas, demonstram disposição para continuar exercendo a cidadania. Nesta faixa etária, estão aptos a votar 99.658 pessoas nas 39 cidades da região. “Gosto desta brincadeira”, brinca o aposentado Joaquim Vieira dos Santos, 71 anos, morador do Jardim Paulista, na região central de São José dos Campos. “Agora, falando sério, faço questão de participar e votar. Quanto vou às urnas, me sinto mais cidadão.” A opinião foi compartilhada pelos aposentados Israel Bernardes da Silva, 78 anos, e Laércio Porto, 82 anos, que também moram em São José. “Sempre gostei de votar e continuo animado para ir às urnas. Acho importante exercer minha cidadania através do voto, até para depois cobrar dos eleitos. Enquanto tiver saúde, vou votar”, destaca Silva. “Voto porque me sinto importante ao participar da democracia e da cidadania. Acompanho atentamente o noticiário para conhecer os candidatos e suas propostas e já escolhi meus candidatos. Enquanto estiver andando e tiver saúde, faço questão de ir votar”, salienta Porto.
VOTO CONSCIENTE Acima, as amigas Maria Clara Santos Bittencourt, Renata Evora e Amanda Ovando, todas com 17 anos, que votam pela primeira vez neste ano; ao lado, Laércio Porto, 82 anos: “enquanto tiver saúde, vou votar”
dagógica do Anglo Cassiano Ricardo, Ana Maria Natal Duarte. Também aluna da escola da zona oeste de São José, Amanda Ovando, 17 anos, tem consciência da importância de seu voto e fez questão de tirar o título de eleitor para participar do pleito deste ano. “Querendo ou não, o jovem tem que arcar com as consequências de seus atos e não pode fugir da política. Vivemos em sociedade e temos que participar da democracia. Estou convicta de que meu voto pode fazer diferença para o meu Estado e o meu país.” Empolgação Alunas do 3º ano do ensino médio, as jovens Renata Evora e Maria Clara Santos Bittencourt, ambas com 17 anos, também não escondem a empolgação com a possibilidade
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de votar pela primeira vez. “No ano passado, ao completar 16 anos, fiz questão de tirar meu título, mas não tinha eleição. Mas em outubro vou votar pela primeira vez e estou muito feliz com essa oportunidade. Se os jovens começarem a se preocupar cada vez mais cedo com a política, terão mais chance de ajudar a mudar e melhorar o país”, ressalta Renata. “É fácil criticar e dizer que o país está ruim, mas o difícil é ir lá votar. Quem vota, depois tem direito de cobrar dos candidatos eleitos os compromissos assumidos durante a campanha”, explica Maria Clara. Apesar de jovem, Fábio Ferreira, 16 anos, resume o pensamento que move os novos eleitores da região. “Não é porque somos jovens que não temos interesse em ajudar a renovar a política brasileira, melhorando o
Democracia Apesar de o número de jovens de 16 e 17 anos e de pessoas de mais de 70 anos ser pequeno em relação ao total do eleitorado, a professora de Ciências Políticas da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) Maria do Socorro Sousa Braga considera que o voto deles é fundamental para a consolidação da democracia e da cidadania. “Quanto maior a participação dos jovens e idosos na política, maior a chance de mudanças e melhoria do país. Se não participarem da cidadania através do voto, estarão contribuindo para a manutenção do status quo.” Jovem ou idoso, o importante é participar. Até porque para melhorar o país o fator mais relevante não é a idade, mas a vontade de ajudar. Portanto, no próximo dia 3 de outubro, segundo os especialistas, o lugar de quem quer fazer diferença é nas urnas. •
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Ozires Silva
Precisamos de um Plano Nacional para sairmos da inércia que estamos
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ue o mundo mudou, todos sabemos, ou pensamos saber! Ainda há pouco era mantido o grande domínio mercadológico conquistado pelos Estados Unidos, Europa e Japão, produzindo uma quantidade e impressionante variedade de produtos de serviços. Conseguiram gerar riquezas, via comportamentos, culturas e planos, construindo empreendimentos notáveis que atuando fortemente nos campos da inovação, conquistaram vantagens competitivas, criativas e qualitativas, oferecendo ao mercado global produtos e serviços superiores ao que se produzia no passado.
O progresso das comunicações universais e instantâneas tornou o consumidor mundial. A inovação ganha na competição, ampliando espaços mercadológicos sobre o tradicional. Novos paradigmas vieram para ficar. Se os Estados Unidos, Europa e Japão provocaram revoluções, hoje enfrentam concorrências trazidas pela Ásia, inicialmente com os “Tigres” e, mais recentemente, pela China, Coreia do Sul e Índia. Os novos participantes do bolo da produção mundial tomaram a iniciativa e estabeleceram estratégias e parcerias eficazes entre governos e os setores produtivos, envolvendo investidores nacionais ou internacionais. Compreenderam que os produtos de maior valor, intensos em componentes e equipa-
GLOBALIZAÇÃO “Será que não seremos capazes de romper com um passado que, claramente, não funcionou? ” mentos, não precisam ser unicamente fabricados com insumos nacionais. Conceberam diferentes infraestruturas humana e material, modificaram o passado via criativas legislações e regulamentos. Enfim, geraram novas posturas políticas, praticaram ações de mudança necessárias para trilhar caminhos do sucesso, criando horizontes de confiança no futuro. Novas formas de cooperação e de conexões empresariais conseguiram chegar mais perto das necessidades dos consumidores mundiais. Passaram a funcionar eficazes mecanismos de comércio que puderam fugir do rigor das fronteiras políticas dos países estabelecidas logo após a 2ª Guerra Mundial. Os resultados de tais modificações já se mostram. As maiores e tradicionais economias do passado vêm apresentando um declínio relativo, em face das novas nações que aceleradamente abandonam o rejeitado grupo dos “subdesenvolvidos” . Tornaram-se países que, por suas características de tamanho, de população, de mercado, etc., podem postular posições de liderança no novo cenário mundial da riqueza atingível. O Brasil
seria um deles! Todavia, limitado por políticas internas ultrapassadas e claramente ineficazes acabou colocado a reboque neste novo mundo que já nasceu e cresce aceleradamente. Neste momento, vem a pergunta, infelizmente ainda sem resposta! Por que não fazemos o mesmo? As fórmulas são conhecidas! Análises e diagnósticos estão sendo publicados e divulgados. Será que não conseguiremos desenvolver a vontade nacional de nos superarmos ? Será que não seremos capazes de romper com um passado que, claramente, não funcionou? Será que não podemos conceber ideias e planos que nos tirem da vocação de país pobre? Será que nossos políticos, intelectuais e planejadores não podem conceber novas regras que levem cada brasileiro ao enriquecimento? Sim! Tudo isto é possível. Muitos compatriotas lideraram iniciativas que conseguiram sucesso. Não há impedimentos para se ampliar e generalizar bons resultados! Basta querer e não temos dúvida que o bom e generoso povo brasileiro, chamado, estará presente, dando seu apoio! •
Ozires Silva Engenheiro
ozires@valeparaibano.com.br
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Economia MERCADO AUTOMOTIVO
Desafios e metas da GM Montadora quer fortalecer laços com Sindicato dos Metalúrgicos para viabilizar novos investimentos e evitar desmonte da fábrica quando os modelos produzidos em São José forem retirados do mercado Hernane Lélis São José dos Campos
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General Motors do Brasil está de olho no crescimento do setor automotivo brasileiro. A empresa, que passa por uma fase de transição de executivos, tem como principal objetivo alcançar neste ano um novo recorde histórico de vendas. Para isso, pretende fortalecer os laços com os sindicatos dos metalúrgicos, em especial a base de São José dos Campos, onde constantemente há embates ao negociar investimentos e flexibilização de jornada. A planta de São José é considerada uma das menos produtivas da marca Chevrolet, levando os executivos a questionarem sua competitividade em relação às demais fábricas da montadora no país. Por isso, a GM procura viabilizar investimentos na unidade, instalando novas linhas de produção para evitar um processo gradativo de desmonte devido à retirada de alguns modelos do mercado que são produzidos no local. A última tentativa de investimento fracas-
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sou por falta de acordo com o sindicato –R$ 700 milhões eram negociados para a implantação de novas linhas em São José. O projeto foi transferido para a sede em São Caetano do Sul. O principal articulador da empresa nas negociações foi José Carlos Pinheiro Neto, que deixa o cargo de vice-presidente da GM do Brasil no final deste ano. Para ele, a maior preocupação dos executivos é tornar a fábrica joseense mais competitiva. “Hoje, há um questionamento nesse sentido [se a planta de São José é competitiva]. E você tem que torná-la competitiva para a sua sobrevivência, a verdade é essa. Não é uma opção ser competitivo, é uma necessidade absoluta. Você não tem mais a condição de escolha, não é competitivo por opção, você é competitivo por necessidade. Tudo vai desaguar no preço do seu produto. O consumidor cada vez mais tem condições e mais alternativas além do seu produto”, disse Pinheiro Neto. Na fábrica de São José, são produzidos 18 carros/hora na linha da S10 e 35 na linha do Corsa, por exemplo. Já a planta de São Caetano saltou, há dois anos, de 43 veículos/ hora para 53 –é considerada a fábrica mais produtiva da GM. Na comparação com Gravataí (RS), São José também perde. A
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Sindicato aponta produtividade
PRODUÇÃO Linha de montagem na fábrica da GM, em São José, onde foram produzidos 150 mil carros no ano passado
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Representando 8.839 trabalhadores na unidade da General Motors de São José dos Campos, Vivaldo Moreira Araújo, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, é radicalmente contra a flexibilização de jornada de trabalho e redução de salários na categoria. A luta contra a medida é uma das principais bandeiras da entidade, que coloca em dúvida o questionamento da empresa sobre a improdutividade da planta e sua competitividade. Para ele, é difícil comparar a produção da GM de São José com as demais empresas, uma vez que na unidade existe uma série de materiais fabricados. “A diferença é que nós não somos apenas uma montadora, nos fabricamos produtos. Desde motores e transmissões até peças de plástico e estamparias. São produtos de grande valor agregado, por isso, não temos a mesma visão que a GM”, disse Araújo. De acordo com estudo realizado pelo sindicato, em 2009 cada trabalhador da GM em São José gerou um lucro de R$ 1,1 milhão e custou para a empresa R$ 88 mil. “Tivemos que contratar um grupo especializado para fazer esse estudo”, explicou o sindicalista, apontando os números como argumento para evidenciar a produtividade da planta local. “Hoje, o ritmo de produção está alto na fábrica. Se a GM insiste em questionar a competitividade da unidade, ela poderia contratar mais funcionários, investir na valorização da mãode-obra. Se você trabalha com satisfação, vai produzir mais. Investimento é necessário, mas para produzir novos veículos não tem necessidade de grandes investimentos, além disso, o sindicato não tem que discutir investimentos”, afirmou Araújo.
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diferença entre os complexos industriais brasileiros se reflete na equação capacidade instalada e produção efetivamente realizada. São José pode montar hoje até 230 mil veículos ao ano, mas fechou 2009 com pouco mais de 150 mil. Em São José, atualmente, é produzida grande parte da linha de veículos Chevrolet, incluindo o Corsa hatchback e sedã, os monovolumes Meriva e Zafira, a picape Montana, a picape média S10 cabines simples e dupla, além do utilitário esportivo Blazer. A montadora oferece ao todo 19 modelos no mercado brasileiro e a maior parte da linha será trocada. Pelo menos oito veículos novos serão lançados até 2012, projeto que exigiu aplicação de R$ 5 bilhões nas unidades da empresa no país. Destes modelos, dois serão produzidos em São José. Aposentadoria Antes de se aposentar da GM, Pinheiro Neto pretende conquistar mais um recorde de vendas. A meta é fechar o ano com pelo menos 650 mil unidades vendidas –o melhor número obtido até agora foi de
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EM EQUIPE Os executivos Marcos Munhoz, José Carlos Pinheiro Neto, Denise Johnson e Jaime Ardila
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595.536 veículos no ano passado. A receita para chegar a esse objetivo é investir em seu portfólio de produtos, sempre pautado na política da competitividade –fator que até agora vem prejudicando os planos da montadora em São José. “São José para nós sempre foi uma excepcional fábrica. Ela está pronta, ela está montada, quer dizer, tem todos os fatores para progredir. Mas uma das condições é a necessidade de ser competitiva”, explicou Pinheiro Neto. Marcos Munhoz, 55 anos, atual diretorgeral de comunicações, relações públicas e governamentais da General Motors do Brasil, é o principal nome para assumir a vaga deixada por Pinheiro Neto. A sintonia de ideias entre os executivos, além da vasta experiência de Munhoz, são os motivos evidenciados por Jaime Ardila, presidente da recém-criada General Motors da América do Sul, para escolhê-lo como novo vicepresidente da GM no Brasil. “Estava tudo planejado para que o Marcos fosse preparado para essa posição. É uma área que você precisa de muita estabilidade e de muito conhecimento, pois é uma área abra-
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çada nos contatos pessoais. Algo que você só consegue ao longo de muitos anos. Por último, felizmente, conseguimos que José Carlos ficasse até o fim do ano. O que dá seis meses para fazer uma transição boa”, disse Ardila. Acordos e Investimentos Munhoz tem 37 anos de trabalho dedicados à montadora e está em transição de cargo desde 1º de junho. “Na verdade, esse cargo em primeiro lugar me orgulha muito porque na história da GM só houve dois executivos que o ocuparam, o André Beer e, logo depois, o Pinheiro Neto. Ambos por muitos anos”, disse o executivo, que mostra realmente estar em sintonia com as opiniões de Pinheiro Neto, especialmente quando o assunto é a planta de São José e acordos sindicais. “A competitividade tem vários aspectos e um deles é a mão-de-obra, pois obviamente ela é importante num veículo. Então, acho que a minha visão é muito simples. Tudo se negocia e tudo se conversa com o seguinte princípio: se nós não formos competitivos no mercado, faremos um excelente acordo, mas ninguém compra o seu produto. Por tanto, ele vira um
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péssimo acordo”, explicou Munhoz. Sobre os investimentos que estariam programados para São José, o executivo reitera a importância em deixar a unidade competitiva. “Tem um investimento que já foi anunciado e está em São José [US$ 441 milhões anunciados em agosto de 2008]. Eu acho que é preciso ter essa visão clara de que se você não é competitivo, não adianta fazer nenhum acordo que fique feliz hoje e triste amanhã porque não vende o seu produto”, disse.
PROJETO Denise Johnson, a nova presidente da GM no Brasil; é a primeira mulher a ocupar cargo de presidente de uma multinacional no país
Nova Presidente A americana Denise Johnson, nova presidente da GM no Brasil, também aposta no diálogo para garantir maior lucratividade e sustentabilidade na filial brasileira da montadora. Apresentada oficialmente à imprensa no último mês, ela está disposta a negociar com os sindicatos para conseguir acordos trabalhistas competitivos e que permitam à empresa ter produtos que conquistem maior parcela do mercado. “Queremos agregar mais contratações nas unidades e isso só acontece com custos reduzidos. É muito importante que possamos chegar a um acordo para não termos que, por exemplo, levar a produção para outros lugares”, afirmou Denise, primeira mulher a ocupar o cargo de presidente de uma multinacional no Brasil e ex-vice-presidente de Relações Trabalhistas da GM América do Norte. Denise nasceu em Lansing, no Estado de Michigan (EUA), e começou sua carreira na montadora em 1989. Ela é católica, casada e tem três filhas cursando a faculdade. Mercado Neste ano, a General Motors do Brasil ocupa a terceira posição em vendas de carros de passeio e utilitários, com uma participação de mercado de 20,04% no total vendido no país de janeiro a julho. Denise Johnson garante que a meta do grupo é sempre buscar a primeira colocação, mas faz questão de ressaltar que se sente orgulhosa de ter o Brasil como terceiro principal mercado em vendas globais da GM. “Queremos crescer nos próximos anos e para isso estamos renovando nosso portfólio de veículos leves para conseguir evoluir ainda mais no mercado”, afirmou. De acordo com previsão do presidente Jaime Ardila, pela primeira vez, as vendas de automóveis na América do Sul devem somar 5 milhões de unidades. Deste total, a estimativa é que pelo menos 3,3 milhões –equivalentes a 66%– serão vendidos no Brasil.
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Montadora ocupa terceira posição em vendas de carros de passeio e de utilitários, com participação de mercado de 20,04% no total vendido no Brasil
Apesar de expressiva, a projeção de Ardila é inferior à previsão feita pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) para 2010, de 3,4 milhões de unidades. “Pensar em um número um pouco acima de 3,3 milhões é possível e realista. Se a indústria for forte, e espero que aconteça, estaremos preparados”, argumentou Jaime Ardila. “Não tenho dúvida que nós alcançaremos um novo recorde. Que é uma forma muito boa de você homenagear uma nova presidente”, concluiu José Carlos Pinheiro Neto. •
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Fabíola de Oliveira
Investimentos em educação, ciência e tecnologia ainda geram pouca riqueza
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ma frase interessante chamou-me a atenção outro dia citada em uma reportagem sobre inovação no Brasil. O autor Geoff Nicholson, ex-vice-presidente da 3M e criador do Post-it (aqueles papéizinhos adesivos que todo o mundo usa) disse: “Pesquisa é a transformação de dinheiro em conhecimento; inovação é a transformação de conhecimento em dinheiro”. Muito bom, na mosca. Mas tudo indica que aqui no Brasil estamos ainda na fase de investir muito, e nem sempre certo, para gerar conhecimento. O país aparece como o 17º maior produtor de trabalhos científicos do mundo, o primeiro emergente da lista encabeçada pelos Estados Unidos, e muito acima de nossos vizinhos Argentina e Chile (34º e 43º, respectivamente) no ranking publicado pelo respeitado sistema de análise científica Scimago, sediado na Espanha. Nada mal, não é? Vamos ver alguns ângulos desta história. Temos hoje um sistema robusto e bem estruturado na área de ciência e tecnologia, que nas últimas duas décadas foi capaz de aglutinar as instituições de ensino superior, pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico, além de empresas tecnológicas, em instâncias governamentais federal, estaduais e até municipais. O sistema inclui
PAÍS “Tudo indica que aqui no Brasil estamos ainda na fase de investir muito para gerar conhecimento” órgãos de fomento à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico, como o CNPq, as fundações de amparo à pesquisa em quase todos os estados brasileiros, arrebatando recursos previstos em lei dos cofres públicos, de modo que hoje investese 1,5% do PIB brasileiro em ciência e tecnologia. É mais do que em qualquer outro país da América Latina, mais ainda distante do que se investe nos países mais ricos. O atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, o matemático Marco Antonio Raupp, que também é diretor do Parque Tecnológico de São José dos Campos, afirma que o sistema atingiu um patamar elevado, com grandes programas de incentivo ao desenvolvimento tecnológico, mas que é necessário ter cautela e atentar para algumas ameaças e fragilidades do sistema. Houve e ainda há, por exemplo, um enorme esforço para a formação de graduados,
mestres e doutores, o que certamente reflete-se no bom posicionamento no ranking mundial da produção científica mencionado no início deste artigo. No entanto, sabemos que a educação nos níveis fundamental e médio ainda deixa muito a desejar, e este é um fato grave. O que precisamos saber é se estamos gerando riqueza, conforto, facilidades, e melhor qualidade de vida para a sociedade brasileira, se estamos transformando “conhecimento em dinheiro”. Para Raupp já existe entre governantes, empresários e uma parcela da classe política a consciência de que é preciso trabalhar para que as empresas, o setor produtivo, passem a investir mais em tecnologia e inovação. Já existem exemplos com bons resultados, alguns em empresas localizadas em São José dos Campos, mas ainda é muito pouco. O assunto é rico e instigante. Voltaremos a ele. •
Fabíola de Oliveira Jornalista fabiola@valeparaibano.com.br
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Entrevista >Frederico Fleury Curado viu o mercado financeiro mundial desabar e atingir a Embraer em cheio. Hoje, depois da tempestade, o executivo consegue enxergar um pedaço azul no céu ainda nublado
“Estamos estabilizados e com uma pequena esperança de crescer um pouquinho” Hernane Lélis São José dos Campos
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uando assumiu a presidência da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica), em 2007, o engenheiro Frederico Fleury Curado recebeu a missão de manter a companhia na rota do sucesso. O que parecia uma tarefa fácil, já que o ano foi de recorde de vendas para a empresa, se tornou um dos maiores desafios para o executivo de 48 anos. Do alto da torre de comando, Curado viu o mercado financeiro mundial se desestabilizar um ano após sua indicação como diretorpresidente. Foi obrigado a cortar despesas comerciais, adiar investimentos e reduzir em 20% a mão-de-obra da companhia. Hoje, a retomada começa a se desenhar. Em meio às dificuldades em assinar novos contratos, Curado ainda precisa observar o mercado para tomar decisões que podem delinear novos rumos a Embraer, como a remodelagem das aeronaves de 70 a 120 assentos ou o desenvolvimento de um novo jato na aviação comercial. Em entrevista exclusiva, o executivo fala ainda sobre mercado, contratações e o programa F-X2.
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Como classifica a atual situação comercial e financeira da Embraer em relação ao período antes da crise econômica? < O ano de 2009 foi muito difícil, ajustamos a empresa reduzindo suas despesas comerciais, financeiras, os investimentos passíveis de serem adiados, nós adiamos. Preservamos o investimento em produtos, ou seja, mãode-obra de engenharia. E 2010 está sendo um ano de estabilidade, nossa receita deve ser um pouco menor que a de 2009 (US$ 5,5 bilhões), mas um pouco menor dentro da mesma ordem de grandeza, não chega a ser um degrau adicional. Estamos estabilizados com uma pequena esperança de crescer um pouquinho em 2011. A retomada ocorreu antes do esperado? < Acho que sim, apesar de que honestamente poucas pessoas tinham uma visão clara de até aonde ia a crise. Acho que o Brasil atravessou muito bem esse período, de maneira geral a intervenção do governo na economia criou uma base de sustentação que não deixou a coisa desabar de uma vez. Quais lições foram aprendidas pela Embraer com a crise? < Infelizmente nossa indústria é uma indústria cíclica. A Embraer passou algumas vezes por altos e baixos. Tivemos no final da década
PERFIL NOME: Frederico Fleury Curado IDADE: 48 anos PROFISSÃO: Diretor-presidente da Embraer FORMAÇÃO: Carioca, formado pelo ITA, em 1983, ingressou na Embraer em 1984. Antes de tornar-se diretor-presidente ocupou o cargo de vice-presidente executivo para o mercado de aviação comercial
RETOMADA“ES DO QUE ENTRA COM CONDIÇÕE
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de 80 um crescimento muito forte e, no final da década de 80 e 90, um baque grande. Voltou a crescer ainda em 90, mas teve o atentado terrorista e veio a reduzir por dois anos e agora outra vez com a crise internacional. Isso mostra, mas já sabíamos, que a indústria de transporte aéreo tem uma dependência muito forte da atividade econômica, por isso, toda vez que há uma recessão um pouco mais forte, a nível mundial, afeta a indústria de maneira direta. Então, temos até procurado expandir o mercado de Defesa, que é um mercado mais estável, não é tão cíclico assim. Até para contrabalancear um pouco esses efeitos. Diria que aprendizado mesmo não deixou, mas acho que o mais importante é fazer o que nós fizemos. Nos atemos aos valores principais da companhia, quer dizer, preservamos uma relação boa com os clientes, a união interna das pessoas, a motivação, os valores, preservamos a capacidade da empresa de competir. Estamos saindo da crise. Eu diria menores do que entramos nela, mas não acho que mais fracos, com condições de competir e avançar. A Embraer aumentou a estimativa de receita de 2010 para US$ 5,25 bilhões. Já é possível prever crescimento para 2011? < Sim, mas só vamos divulgar a visão para 2011 mais para o final do ano. Qualitativamente diria numa estabilidade ou talvez um pequeno crescimento, mas ainda precisamos avançar um pouquinho mais nesses dois ou três meses .
A“ESTAMOS SAINDO DA CRISE. EU DIRIA MENORES TRAMOS NELA, MAS NÃO ACHO QUE MAIS FRACOS, DIÇÕES DE COMPETIR E AVANÇAR”
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Para manter a cadência atual de produção em 2011 a Embraer precisa fechar mais contratos. Existe alguma expectativa a curto prazo sobre essa questão? < Esse é nosso grande desafio comercial, transformar as cartas de intenções em contratos firmes, e estamos trabalhando para isso. Se temos uma receita entre US$ 5 bilhões e US$ 5,5 bilhões, temos que vender, no mínimo, isso por ano ou mais para poder crescer. Isso se reflete no nível da carteira de pedidos e ela ainda vem caindo, ou seja, ainda estamos entregando mais aquilo que vendemos no passado do que vendas novas. Agora, isso em 2008 e 2009 foi dramático, praticamente o que entregamos foi consumido da carteira. Na verdade, houve vendas e cancelamentos, mas é como
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Entrevista Divulgação
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ANIVERSÁRIO À esquerda, Curado durante as comemorações dos 40 anos de fundação da Embraer. Acima, o Legacy 650, lançado oficialmente em agosto; aeronave é a única da categoria que consegue fazer São Paulo-Miami sem escalas
se nós não tivéssemos vendido nada em 2009, tudo o que fizemos foi reduzido da carteira. Hoje, os valores já começam a estar mais próximos, mas ainda estamos mais entregando do que vendendo. Não está essa maravilha toda que, de maneira simplista, pode parecer. O que falta para decidir sobre uma remodelagem da família de aviões de 70 a 120 assentos ou o desenvolvimento de um jato novo na aviação comercial? < Existem vários movimentos importantes acontecendo. Temos novos concorrentes no mercado, um avião chinês, um avião russo, um avião japonês. Concorrentes antigos com novos produtos também. A Bombardier, em particular, lançou um avião um pouco maior que os nossos E-Jets, com motores mais modernos, que consomem menos combustíveis. É um desafio para a gente. Estamos recebendo competição da Bombardier reforçada e de novos concorrentes que não tínhamos antes. Além disso, Boeing e Airbus também falam em algum tipo de decisão de mudança de produtos ou remotorização dos produtos atuais para motores mais econômicos ou até aviões novos. Fazer uma evolução dos atuais produtos é a grande decisão que temos que ter. É preciso aperfeiçoar os produtos atuais num movimento de defesa ou tentar avançar um pouco em novos mercados, de aviões um pouco maiores do que fazemos hoje. Essas coisas não são simples, passam por volume de investimento muito grande. Buscar um mercado onde Boeing e Airbus estão presentes hoje traz um risco que a gente não pode desconsiderar. Por trás disso tudo tem o cliente, ele é quem
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vai basicamente nos dizer qual é o caminho, a tendência. Estamos em conversas intensas com os clientes para ver se a gente consegue olhar de um lado o movimento competitivo e do outro os requisitos de mercado para tomar uma decisão. Elas não são alternativas uma para a outra, pode ocorrer inclusive as duas coisas, não exatamente no mesmo tempo, mas podemos perfeitamente fazer as duas coisas. Em julho, a Embraer anunciou a venda de 25 jatos comerciais para a Flybe. Quando esses contratos serão sentidos na empresa e cadeia de fornecedores? < Contratos firmes assinamos, ao todo, para 37 aviões e tem potencial para mais 34 aeronaves. A empresa reduziu um pouco seu estoque, mas ainda temos que reduzir mais. Não prevejo um movimento forte de compras a curto prazo. Temos desafios, a produção de 2011 não está toda vendida, que dizer, temos que completar essas vendas. No ano passado tínhamos excesso de estoque, reduzíamos bastante, cerca de US$ 500 milhões de um total de US$ 3 a 2,5 milhões. Agora, está mais ou menos estabilizado, diria que acompanha o nosso fluxo normal. O fluxo que estamos comprando vai continuar, não vai ter um aumento. Há previsão de novas contratações para o próximo ano? < Nosso efetivo está estabilizado. A medida em que as pessoas saem por aposentadoria ou iniciativa própria, tentamos contratar, sempre priorizando as pessoas que nos deixaram no começo do ano passado. Qualquer movimento de contratação em maior
volume passa pelo crescimento da empresa. Como está o processo sobre a permanecia da Embraer na China e a instalação das duas unidades em Portugal? < No caso da China, apresentamos um projeto de continuidade da fábrica. O 145 hoje é um avião cujo tamanho já não tem mais demanda. Então nossa visão foi levar para lá a montagem do 190, levar não, abrir uma segunda fonte. Fabricar no Brasil e também ter uma segunda linha na China, assim como fizemos com o 145. Isso está em processo com o governo chinês e depende da aprovação dele. Esperamos que isso aconteça nos próximos dois meses. Do ponto de vista de Portugal, está indo bem, os projetos das fábricas estão praticamente prontos e deve começar a fazer fundação a partir de novembro. Essas duas fábricas, uma de materiais metálicos e outra de materiais compostos, vão fundamentalmente fornecer componentes para a linha de montagem aqui no Brasil. Então, os primeiros conjuntos exportados para o Brasil devem acontecer no primeiro semestre de 2012. Estamos dentro do cronograma, está tudo caminhando bem. A imprensa portuguesa tem noticiado que essas unidades seriam responsáveis pela produção do KC-390. Existe algo programado neste sentido? < Isso não está definido 100%. É uma possibilidade, são fábricas da Embraer, vamos colocar lá o que for mais adequado do ponto de vista tecnológico e cadência. É certo dizer que se quisermos fazer lá as máquinas e os tanques de tratamento, a infraestrutura é compatível
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PORTUGAL O modelo KC-390 (ao lado) pode ter sua produção concentrada nas novas unidades portuguesas da Embraer
com isso. A montagem do avião será feita, provavelmente, em Gavião Peixoto, onde estamos focalizando nossa atuação na área militar. O governo do Distrito Federal quer convencer a NG Aircraft a instalar um complexo industrial em Brasília para recriar o Fokker 100. A aeronave chega com a promessa de competir com a Embraer. Como o senhor vê essa situação? < Vi essa notícia na imprensa, não tenho nenhuma informação. Não vejo no Brasil nenhum problema de excesso de demanda e falta de oferta, quer dizer, no mercado brasileiro, a Embraer tem um market share [participação de mercado] pequeno. Vejo numa posição de Estado, que é muito mais importante você proteger e apoiar uma empresa âncora como é a Embraer na cadeia aeronáutica brasileira do que dividir um suporte com uma outra empresa. Outra coisa, imposto de importação de avião é zero, quer dizer, não temos nenhuma proteção contra a importação. A Embraer desde a época de estatal é submetida a uma competição direta, nossa competitividade interna é uma questão de sobrevivência. Com proximidade da eleição fica cada vez mais longe a chance do resultado do programa F-X2 sair neste ano. O que isso muda nos planos da Embraer? < Não muda muita coisa. A Embraer tomou uma decisão estratégica de não se colocar como uma concorrente no F-X2, mas sim como uma parceira do governo na recepção de tecnologia e fabricação daquilo que o governo decidir fabricar no Brasil. Nesse sentido, não há
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impacto direto. É um programa importantíssimo para a FAB, a Força Aérea precisa de um caça da nova geração. Tem tecnologia que teoricamente virá com o programa que também é importante para o Brasil, diria que mais do que para Embraer pela autonomia e soberania. Mas não é um divisor de água de forma nenhuma. Acredita na divulgação do resultado ainda neste ano? < Essa eu não vou chutar. O Gedesp (Grupo de Estudos do Desenvolvimento Econômico Social e Político) defende a fabricação desse novo caça pela Embraer. O que pensa sobre isso? < Essa é uma decisão de Estado. Se você perguntar se a Embraer está preparada para fornecer, projetar, produzir um avião dessa complexidade a resposta seria depende. Depende dos recursos que teríamos e do tempo para isso. Certamente não temos toda a tecnologia necessária para fazer um avião de última geração como esses caças, temos a capacidade de aprender e fazer, mas vai requerer tempo e recurso. Nesse sentido, passa a ser uma decisão do Estado. O Brasil quer investir mais e esperar mais para ter um profundo e total conhecimento do assunto ou talvez investir um pouco menos e acelerar esse investimento, talvez não dominando 100%, mas ter um domínio razoável. Esse equilíbrio é uma decisão do Estado. Como empresa, é muito confortável para gente falar que é importante porque o capital que está sendo investido é do país. Então, não somos contra o modelo adotado no F-X2, entendemos que é um modelo
de compromisso, não é tecnologicamente o ideal, mas é uma visão pragmática que traz tecnologia, traz crescimento dentro de uma visão pragmática de orçamento. Agora, se o governo resolver tomar uma decisão do tipo, vamos dar um salto mais estratégico, mais profundo, mais ousado. A empresa está pronta para isso. E a transferência de tecnologia? < Ninguém ensina o pulo do gato para ninguém. Imaginar que alguém, mesmo que você tenha um contrato, vai sentar na sua frente e explicar como é e como deixa de ser não funciona. A transferência de tecnologia acontece fundamentalmente fazendo, no desenvolvimento. Quando você se engaja no desenvolvimento, se envolve, ao fazer você está aprendendo. Por isso, no F-X2, é fundamental que qualquer avião que venha ser comprado tenha que ser modificado, adaptado, através da Embraer ou de outra empresa. Entre Boeing, Dassault e Saab, qual é a melhor proposta? < Estou fugindo dessa pergunta há quatro anos. Não vai ser hoje que vou falar. Posso dizer que o processo que o Comando da Aeronáutica [que supostamente apontava o caça Gripen NG como a melhor compra] produziu foi muito profissional, confio que a decisão vai ser a melhor para o Brasil. No atual cenário, existe o risco de novas demissões em massa na empresa? < Não. De jeito nenhum, nem passa pela nossa cabeça. Nossa motivação, energia, garra, está toda voltada para a empresa voltar a crescer. •
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OPERAÇÃO DE GUERRA
Treino de sobrevivência São José ganha centro para preparar voluntários para missões de ajuda humanitária da ONU; curso começa na Espanha, segue para base no deserto do Marrocos e termina em área de mata fechada no Vale do Paraíba Elaine Santos São José dos Campos
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esastres naturais e guerras políticas, civis ou religiosas assolam o mundo e deixam um rastro de destruição, violência e fome. Ao se depararem com esse quadro, que provoca a morte de milhares de pessoas todos os anos, voluntários se engajam em ações de ajuda humanitária em todo o planeta. Mas para trabalhar em situações de alto risco, não basta ter boa vontade. Participar das missões de paz dirigidas pela ONU (Organização das Nações Unidas) exige forte treinamento físico, psicológico e, principalmente, conhecimento dos pontos críticos do território onde irá atuar. Para isso, existem os centros especializados em treinamento tático e intensivo para formar pessoas dispostas a trabalhar em áreas de conflitos –os mais conceituados estão na França, EUA e Espanha. E o Brasil acaba de ganhar seu primeiro centro de treinamento com registro reconhecido pela ONU e pelo IPA (International Police Association). Trata-se do Instituto de Treinamento Tático do Brasil, cuja sede fica em uma área de 300 hectares, ao pé da Serra da Mantiqueira, em São José dos Campos. A escola está entre os oito principais centros do globo terrestre e oferece formação para poli-
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ciais, médicos e civis com interesse em atuar como missionários em operações das Nações Unidas e instituições de âmbito internacional, como a ONG (Organização Não-Governamental) Médicos Sem Fronteiras. O centro brasileiro é uma extensão do instituto espanhol. O curso para missões internacionais tem duração de 30 dias e as aulas são iniciadas em Madri, na Espanha. Os alunos passam ainda por uma base no deserto do Marrocos e terminam o treinamento no Vale do Paraíba, com treino de sobrevivência em mata fechada e táticas de tiro. “Dependendo do país que você vai ajudar acaba passando por situações muito difíceis. É por isso que toda missão da ONU, por exemplo, tem um planejamento de contingência forte. Todo voluntário ou missionário tem que aprender, antes de mais nada, a se defender em situações de alto risco”, disse o instrutor Álvaro Librán, dono da TTI (Tatical Training Institute), o centro de treinamento espanhol. A primeira turma da TTI que treinou no Brasil –cinco policiais civis e federais da Espanha– passou 15 dias de forte treino tático no mês passado na base construída em São José. O grupo teve momentos de dificuldade extrema, dormindo em mata fechada e lidando com situações de muita pressão psicológica como, por exemplo, identificar uma área minada (simulada com bombas de gás pimenta) e desarmar os explosivos. “Aqui temos condições de treinar de forma real situações em território de mata fechada
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Fotos: Bruno Fraiha
ABORDAGEM Policiais espanhóis apreendem táticas de invasão em área urbana; treinamento inclui ainda aulas de salvamento de reféns e técnicas de imobilização de pessoas
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na Ásia e países da América Latina. Nesses 15 dias de treinamento, o grupo aprendeu a reconhecer simulacros de equipamentos explosivos –minas, foguetes e granadas– escondidos em trilhas abertas na mata, combate com faca, manuseio de GPS e bússolas com reconhecimento e identificação em mapas de planos de ação e táticas de tiro”, explicou Marcelo Augusto, um dos instrutores da TTI no Brasil. Os equipamentos utilizados no treino –pistolas, escopetas, bússolas e binóculos com visão noturna– são registrados no Exército Brasileiro. Já na primeira semana no Brasil, o grupo espanhol, formado por Isaac Aymerich, de Barcelona, José Casanova e Pedro Gutierrez Arce, de Bilbao, além de David Jimenez Pérez e Marta Miró Gómez, da Catalunha, percebeu, não só no clima, a diferença em atuar fora da área urbana de seu país. “Todos são inexperientes em missões internacionais e pretendem agregar o conhecimento do curso para entrar na base de operações da União Européia (UE), que trabalha atualmente em áreas de risco no continente Africano,” disse Librán. Disciplina Aos 35 anos, Marta era a única mulher entre os quatro alunos e os quatro instrutores, mas mostrou que o sexo feminino não tem nada de frágil –aguentou firme todos os exercícios impostos pelos instrutores. “Aqui você consegue enxergar, de certa forma, uma situação real de risco. Principalmente as necessidades, frio, fome, cansaço, que podemos passar em atuação. Somos uma equipe e o que um erra todos pagam, o que um acerta todos comemoram e o que um come todos dividem. É uma pressão psicológica grande que faz você pensar muito além do que é o trabalho de um missionário. Não é só ajudar, é defender, é compreender e participar de todas as misérias”, disse Marta, policial do Esquadrão da Guarda da Polícia Autônoma da Catalunha, na Espanha. Mas nem todo voluntário em missões internacionais pode fazer esse tipo de treinamento. Além do investimento de 5.000 euros (cerca de R$ 12 mil), só podem ingressar no curso pessoas com formação superior em área de interesse da ONU, sem antecedentes criminais, policiais e agentes de governo. “Temos todo um trabalho de investigação para identificar o perfil de cada aluno, principalmente em relação à idoneidade, antes de aceitar sua inscrição no curso. É uma forma de extinguir qualquer chance de um criminoso receber conhecimentos táticos de defesa”, disse Marcelo Augusto.
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LUTA Policiais federais e instrutores na aula de defesa pessoal, uma das táticas aprendidas pelos alunos no curso
ONU mantém mais de 7.500 voluntários de 160 países em missões de paz pelo mundo. Ao todo, 124 mil pessoas estão envolvidas nas operações
O policial David Juménez Pérez, 28 anos, teve um desafio a mais na missão: acabou lesionando o pé esquerdo, o que dificultou ainda mais sua atuação nas trilhas. “Em trabalhos humanitários você vai se deparar com pessoas de culturas diferentes e o aprender a trabalhar em grupo é muito importante para o todo, digo para a estrutura de toda a operação. É por isso que a União Européia, que é objetivo desse grupo que está aqui, pede esse tipo de curso, para que aprendam a lidar com situações diversas e a conviver com dificuldades em grupo”, disse Librán.
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Hematomas e muito cansaço
TÉCNICAS Policiais fazem a identificação de minas em área de mata fechada em São José
Saiba Mais ONU Atualmente mantém operações de paz em 16 países, com 124.551 pessoas envolvidas nas missões
Funcionários Um missionário básico da ONU ganha, no mínino, US$ 2.000 por mês. Outros cargos mais elevados chegam a receber US$ 9.000. Atualmente as Nações Unidas empregam 65 mil pessoas em todo o mundo
Em campo Mais de 7.500 voluntários de 160 países se encontram hoje em missões de paz. A idade média desses voluntários é 39 anos
Voluntários A ONU conta hoje com 30 mil pessoas inscritas em mais de 140 países
Vítimas Número de refugiados cresceu 4%, chegando a 27,1 milhões no final de 2009
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Organização A ONU desencadeia suas operações de paz para ajudar países devastados por conflitos. A primeira ocorreu em 1948, quando o Conselho de Segurança autorizou a preparação e o envio de militares para o Oriente Médio com a função de monitorar o Acordo de Armistício entre Israel e seus vizinhos árabes. Desde então, 63 operações das Nações Unidas foram criadas, entre elas, a Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti), que tem a participação de centenas de soldados de batalhões do Exército no Vale do Paraíba. Desenvolvidas como uma maneira de lidar com conflitos internacionais, as missões têm atuado cada vez mais em conflitos internacionais e guerras civis. Embora a força militar permaneça como o suporte principal da maioria das operações, atualmente essas ações contam com administradores, economistas, policiais, peritos em legislação, especialistas em desminagem, observadores eleitorais, médicos, enfermeiros, monitores de direitos humanos, especialistas em governança e questões civis, trabalhadores humanitários e técnicos em comunicação e informação pública. Como parte das operações da ONU, a desminagem é um dos pontos mais importantes. Administrada pelo Serviço de Ação contra Minas da ONU, esse tipo de operação permite que membros de forças de paz possam cumprir seus mandatos no Chipre, República Democrática do Congo, Eritréia, Etiópia, Lí-
Em pouco menos de 24 horas, acompanhando parte do treinamento dos policiais espanhóis, deu para sentir na pele, ou melhor, nos músculos destreinados, o que é cansaço. Mas antes de começarmos o treino, recebemos uma hora de instrução em vídeos explicativos com várias informações que seriam cruciais para a boa atuação do grupo no exercício do dia: comunicação com a tropa por sinais, identificação de pegadas em trilhas, reconhecimento de armadilhas, além da identificação e isolamento de minas. No treinamento, o bom desempenho do grupo valeria o jantar e alguns minutos de descanso até o próximo treino. Logo, eu e o fotógrafo Bruno Fraiha, não poderíamos atrapalhar em nada os policiais. Caso contrário, eles ficariam sem comida.Depois de uma caminhada de 40 minutos com um colete que pesa três quilos e um capacete de dois quilos, seguimos a trilha mata adentro. Entre picadas de mosquitos e muita sede, valeu a sorte de principiante: achamos as oito minas sem detoná-las e acionamos apenas uma das três bombas de pimenta no caminho. No dia seguinte, às 8h, mais duas longas caminhadas, que totalizaram três horas de muito sol na cabeça, picadas de pernilongo e um medo imensurável de se deparar com cobras –jararaca e coral– comuns naquela área. Na volta da mata, onde aprendemos a identificar vestígios de invasores, seguimos para o treino de defesa pessoal, a última instrução do dia. Foi quando comprovei que não é só apanhar que machuca, se defender também pode render vários hematomas. Ainda bem que a faca usada na aula era de borracha.
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bano, Sudão e o Saara Ocidental. “Em áreas de conflito é necessário saber identificar e, principalmente, manipular esse tipo de material (minas) com segurança. Isolar a área ou até mesmo desarmar uma granada. Esse é um dos pontos altos do curso”, explica Librán, que já atuou como missionário da ONU e como membro de segurança tática da ONG Médicos Sem Fronteiras por 22 anos. “É comum em diversos locais da África, por exemplo, que atualmente recebe inúmeros missionários de paz da União Européia e da ONU, ataques diretos de milícias armadas com intenção específica de roubar os recursos, equipamentos e até mantimentos enviados para ajuda aos necessitados. Esses missionários que se encontram em campo, a equipe de paz, são forçados a se render, passando por situações extremas. É para esse tipo de situação que treinamos aqui no Vale do Paraíba”, disse. Librán explica que a formação tática é vital para quem tem vontade de viajar e trabalhar em missões internacionais e que o curso, hoje exigido pelas organizações humanitárias internacionais, se tornou uma forma de seleção de candidatos. Um exemplo comum que acontecia e hoje, com a obrigatoriedade de uma formação tática, não acontece com tanta frequência é a desistência de voluntários. “Muitos iam sem a preparação necessária e acabavam sofrendo algum tipo de dano à saúde por não estarem habituados a passar por certas necessidades e desistiam da missão, ocasionado um gasto desnecessário para a organização. Só de passagem o gasto é de cerca de US$ 3.000 para um médico, por exemplo, que sai do Brasil para atuar no Sudão, e que acabaria voltando para a casa por não aguentar passar tantas necessidades e riscos. Essa verba poderia ter sido usada em outro tipo de benefício.” Raio-X Atualmente, só a ONU conta com operações em 16 países e com 124.551 pessoas envolvidas nas missões. “Temos equipes formadas pela TTI atuando atualmente em países da África, como Ruanda, Grandes Lagos e Congo. Eles estão em situação precária, não têm muito recursos para se sustentar. Os missionários acabando tendo que comer a mesma comida dos refugiados e, muitas vezes, é apenas ração humana ou até mesmo a chamada farinha de engorda, um tipo de farinha nutritiva cozida em água, só. É muito sofrimento. É só essa comida que tem”, disse Librán.
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TIROS Policiais espanhóis durante aula de tiro no novo Instituto de Treinamento Tático do Brasil, que entrou em operação no mês passado em São José
“Acontece que muitas pessoas que se oferecem para trabalhar lá não têm condições físicas, não está acostumado. Sai de um ritmo de vida totalmente habituado ao conforto, chega lá e passa mal, não aguenta. Sem contar com a insalubridade, os mosquitos, as doenças, a cólera dos pacientes que chegam a estados deploráveis, mau cheiro, diarréia constante. Lidar com isso é muito difícil, é um choque muito forte”, explicou. Segundo dados da ONU, o número de pessoas que vivem em áreas de conflitos em seus próprios países, os chamados refugiados, cresceu 4%, chegando a 27,1 milhões no final de 2009. Os conflitos na República Democrática do Congo, Paquistão e Somália explicam esta realidade, de acordo com o relatório Tendências Globais 2009. Para
atender às necessidades básicas de todo esse contingente, a ONU conta com voluntários e funcionários oficiais de todo o globo. Voluntários Criado em 1971, o Programa de Voluntários das Nações Unidas tem mais de 30 mil pessoas inscritas e atua em mais de 140 países. Hoje, conta com mais de 7.500 voluntários de diversas áreas de atuação. Esses profissionais vêm de 160 países e 75% deles são de nações em desenvolvimento, com idade que varia entre 25 e 70 anos. A ONU também tem funcionários pagos. Um missionário básico –funcionário de logística– ganha US$ 2.000 por mês. Cargos mais elevados chegam a receber US$ 9.000. Atualmente, o número de pessoas empregadas pelas Nações Unidas chega a 65 mil. •
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Reportagem de Capa
PEDOFILIA
Silêncio dos inocentes Além de cruel, o abuso sexual de crianças e adolescentes tem um lado mais perverso que consegue silenciar as denúncias e fazer com que as vítimas se sintam culpadas
Elaine Santos São José dos Campos
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os seis anos, Cristina* acordou com o padrasto sentado à beira de sua cama. Nos primeiros dias o contato era sutil, um carinho, apenas um ninar. Depois de algumas semanas, as demonstrações de afeto mudaram, ganharam uma face amedrontadora e covarde de um crime cruel e mais comum do que imaginamos. Os abusos sexuais contra essa criança tinham inclusive hora e data marcadas: toda tarde de domingo. Tudo acontecia enquanto a mãe da menina arrumava a cozinha, após o almoço da família. Cristina, mesmo sem sono, era obrigada pelo padrasto a ir dormir. O pesadelo da menina estava começando, um tormento que seguiu por quatro anos, período em que a menor sofreu diversos tipos de abusos. Com o irmão de seu padrasto, a quem Cristina chamava de tio, não foi diferente. Ele foi escolhido pela garota para confidenciar o que vinha ocorrendo, mas o socorro veio em forma de ameaças e mais abusos. O drama de Cristina somente chegou ao fim quando sua mãe se separou, não por causa dos abusos sofridos pela filha, mas por desentendimentos entre o casal.
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“Prefiro acreditar que ela não sabia de nada, mas eu sempre reclamava. Dizia que não tinha sono à tarde, mas ela fingia que nada estava acontecendo. Por vezes entrava no quarto, olhava e logo saía, sem dizer nada”, disse Cristina, hoje com 27 anos. Esses abusos Cristina mantêm intactos na lembrança, mas o início do seu drama ela tentou apagar. Antes do padrasto, a menina já era molestada pelo avô. “Não me lembro muito bem, era muito pequena, mas tudo acontecia em troca de eu brincar na cabana dele. Ele pedia para que eu o acariciasse”, lembra a jovem, que hoje é responsável por cuidar de seu algoz, vítima de um derrame. “Se eu disser que tenho raiva dele é mentira. Na verdade não sei dizer se tenho algum tipo de sentimento por ele. Às vezes, sinto que ele me pede perdão com o olhar, mas só com o olhar”, disse Cristina, uma mulher aparentemente bem resolvida, mas que carrega o peso de uma infância marcada por abusos. Molestada pelo avô, estuprada pelo padrasto e pelo tio, Cristina até hoje sente na pele a dor de uma cicatriz sem marcas evidentes. A diferença de idade entre Cristina e Cecília*, uma menina de 9 anos que mora na zona sul de São José dos Campos, é de 18 anos, mas quase duas décadas depois a história se repete. Na noite do dia 6 de agosto, uma sexta-feira, a menina, a amiguinha Priscila*, também de 9 anos, e parentes das crianças foram à DDM (Delegacia de Defesa
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da Mulher) para denunciar supostos abusos sexuais cometidos contra as menores. O acusado chegou a ser levado à delegacia, mas foi solto logo em seguida por falta de provas. Era um amigo da família, dono de um bar no bairro onde as meninas moram. “O tio abusa da gente, passa a mão na gente. Faz um tempão que ele faz isso. Teve uma vez que ele levou a gente para comer lanche e sorvete, depois levou para o bar e, quando chegamos, mandou a gente tirar a roupa”, disse Cecília, que teve a história confirmada pela amiga. “Depois ele levou a gente para o fundo do bar e pediu de novo. Eu disse que não queria, ele falou que a gente não ia mais comer doce, nem tomar refrigerante, nenhum dia mais. Eu não tirei, mas ela [Cecília] tirou”, contou a pequena Priscila. “Faz um ano que a Priscila contou que ele havia mostrado o pênis para ela e para umas amiguinhas no fundo do bar. Aí eu falei para a menina que cuida dela, enquanto eu vou trabalhar, para não deixar mais ela ir ao bar e ‘ficar de olho’. Ninguém acreditou que era verdade. E nisso ficou, não tinha prova de nada. Hoje que a Cecília contou o que ele fez e resolvemos denunciar”, disse a mãe de Priscila, que preferiu não se identificar. Sentindo-se segura na delegacia, Cecília acabou contando que também sofre abusos do companheiro da avó. “Sabe... O marido da minha avó faz isso comigo. Todo dia ele faz isso. Ele pede para eu fazer coisa com ele. Todo dia, desde meus sete anos. Eu estou no quarto, ele vai tomar banho e entra de toalha e pede para eu fazer coisas nele. Tem vezes que eu estou dormindo e ele deita do meu lado, pede para eu tirar a calcinha (silêncio). Mas machuca. Um dia eu gritei e ele mandou eu ficar quieta.” A DDM abriu inquérito contra o suposto agressor. Ambos os processos correm na 5ª Vara Criminal de São José dos Campos. Ninguém foi preso. Casos Desde o começo deste ano, foram noticiados 14 casos envolvendo denúncia ou prisão de suspeitos por abuso contra menores no Vale do Paraíba. Ao todo, 15 pessoas foram presas. Foram cinco ocorrências em São José, três em Taubaté, duas em Lorena, uma em Guaratinguetá e outra em Jacareí. Durante todo o ano passado, foram 11 casos, com 12 pessoas presas –quatro ocor-
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Por dia, a Delegacia de Defesa da Mulher recebe de 6 a 8 denúncias envolvendo abuso sexual contra adolescentes e crianças em São José
rências em São Luís do Paraitinga, uma em Jambeiro, uma em Taubaté, uma em Caraguá, uma em Pinda, uma em São José e em Guará e outra em Jacareí. Mas o número de denúncias relacionadas a abuso sexual infantil é bem maior. Somente em São José, segundo a delegada Carla Torres Salgado, da DDM, são registradas, por dia, de 6 a 8 denúncias de abuso sexual contra menores. “Verificamos cada uma delas e, na dúvida, instauramos inquérito. Em muitas, ao final das investigações, não temos como garantir se são verdadeiras
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porque depende da palavra da criança. Algumas vítimas são muito pequenas. Temos caso em andamento envolvendo criança de três anos. Essa vítima, por exemplo, não consegue dizer exatamente o que está acontecendo e precisa ser acompanhada por um psicólogo”, explica a delegada. “Quando chega a uma relação sexual, com penetração, o exame do Instituto Médico Legal prova se o fato aconteceu ou não. Mas, às vezes, as pessoas têm outros atos obscenos, outros atos sexuais com a criança que não deixam marcas físicas e
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Falta de provas contra o abusador é a maior dificuldade nos processos que tramitam na Justiça. Muitos acusados acabam absolvidos dos crimes
aí, pela idade muito nova da vítima, muitas vezes não conseguimos a condenação do acusado. Temos vítimas de 2 a 14 anos e, a maioria, envolve crianças carentes de afeto. É isso que o abusador usa: atenção e afeto. Eles envolvem a criança e muitas criam até uma ligação com eles e os protegem.” Segundo a delegada, o modo de aproximação dos abusadores é semelhante em todos os casos. “Eles brincam com as crianças, levam para passear, dão atenção, fazendo com que elas se sintam especiais, cuidadas e queridas. Isso acontece com as crianças menores, de três a seis anos. Com as mais velhas, depois de certo tempo, eles as intimidam fazendo com que sintam culpa, vergonha e permaneçam em silêncio. E é por isso que, espontaneamente, é muito difícil que elas contem para os pais porque, além do medo, elas sentem culpa”, disse a delegada. A promotora da Vara da Infância e Juventude de São José, Sílvia Máximo, explica que a falta de provas contra o abusador é a maior dificuldade observada nos processos que tramitam nas Varas Criminais. “Na maioria das vezes eles acabam absolvidos criminalmente, mas o processo continua e chegamos a ajuizar que seja determinado o seu afastamento da casa, da convivência com a vítima”, disse. Dos 1.700 processos que tramitam na Vara da Infância e Juventude, 20% são de abusos sexuais contra o menor. Todos os dias chegam, em média, 10 novas denúncias por meio dos conselheiros tutelares. “O curioso nesses casos é que esses criminosos nunca admitem que abusam da criança. Eles sempre falam que estavam cuidando delas”, disse Sílvia Máximo. Segundo a promotora, é mais comum os casos acontecerem dentro da casa das vítimas. “Na grande maioria, os abusadores são tios, pais, avós e, principalmente, companheiros das genitoras. A mãe não percebe e não exerce o papel de proteção que deveria. Na maioria das vezes até acaba facilitando o abuso porque confia demasiadamente no companheiro. Muitas vezes não acredita no relato do filho, prefere acreditar no companheiro porque é muito difícil para ela assimilar tudo isso.” Perfil Um criminoso sem perfil aparente que, na maioria das vezes, convive com a vítima e tem como a principal arma a carência afetiva das crianças. Assim é o abusador sexual de meno-
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res, portador ou não da pedofilia –uma doença psíquica de quem tem atração sexual exclusivamente por menores. Segundo psiquiatras, promotores e membros da inteligência da Polícia Federal, pedófilo e abusador são sujeitos distintos, mas que praticam um dos crimes que mais chocam a sociedade: o abuso sexual contra crianças e adolescentes. A diferença entre os dois é que o pedófilo é portador de uma doença e age sem controle, fazendo várias vítimas –a maioria com menos de 11 anos de idade. Já o abusador tem consciência do crime e geralmente agride uma única vítima, principalmente, crianças que fazem parte de seu cotidiano. “O discernimento de pedófilo e abusador é fundamental. O indivíduo que é molestador de crianças, que padece da doença médica chamada pedofilia, merece tratamentos médico e psicológico especializados. Se ele não fizer o tratamento, apenas a prisão não vai ser, nem de perto, solução do problema. O indivíduo que sofre de pedofilia tem comprometimento na capacidade de controle de seus impulsos e precisa ser submetido a tratamento”, explicou o psiquiatra Danilo Antônio Baltieri, coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex). Especialista em psiquiatria geral, com ênfase nas áreas de dependências químicas e transtornos da sexualidade, em 2008, Baltieri realizou uma pesquisa no Estado de São Paulo na qual constatou que, dentro da população carcerária do Estado, 25% dos 101 presos que cumpriam pena por abuso sexual infantil eram portadores da doença pedofilia. Segundo ele, a grande maioria dos molestadores que não é portador da pedofilia é do tipo oportunista e frequentemente está sob o consumo de álcool. “Em geral, são agressores de uma só vez, já o que sofre de pedofilia não se limita a uma vítima.” Internet Marcelo Bórsio, coordenador do grupo especial de combate aos crimes de pornografia infantil da Polícia Federal, responsável pela operação “Tapete Persa”, desencadeada em 54 cidades do país em junho e julho, afirma que o pedófilo não tem classe social e, muito menos, um perfil pré-estabelecido. “A pedofilia atinge pessoas de qualquer classe social, grau de instrução, idade. Em nossas últimas operações, prendemos 28 pessoas em todo
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CRIME As amigas Camila e Priscila, ambas de 9 anos, brincam na delegacia na noite em que denunciaram o abusador, em S. José
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o país. Encontramos idosos, adolescentes, militares, jovens. Foi tão diversificado que não podemos mais traçar o perfil desse tipo de criminoso”, disse. Na operação, um suspeito foi preso em São José. “Os pais e responsáveis devem ficar atentos a todos os passos que seus filhos dão. Principalmente em relação ao acesso à internet, salas de bate-papo, redes sociais como Orkut e Facebook, colocando senhas, filtros para que, pelo menos, saibam onde seu filho está navegando”, disse Bórsio, salientando que é de extrema importância que os pais sempre saibam onde o filho está e com quem está saindo. “A rede da internet está infectada com diversos pedófilos pelo país todo e a quantidade tem aumentado de acordo com a evolução da tecnologia.” Dados das investigações feitas ao longo de um ano pela Polícia Federal apontam que o portador de pedofilia tem um quadro de evolução ao estímulo sexual por crianças que parte de quatro etapas. “Um pedófilo começa primeiro tendo contato com imagens. Ele toma como curiosidade e depois, num segundo momento, passa a se interessar pelo assunto, a armazenar fotos, criar banco de dados e coleções de imagens de pornografia infantil. O terceiro passo é quando ele acaba entrando em comunidades, clubes de pedófilos na internet, que são sites de difícil acesso porque a pessoa precisa provar que é pedófilo, com fotos, vídeos. O último passo é o abuso.” Para manter uma conversação longe de suspeitas na internet, pedófilos criaram códigos que possibilitam a troca de materiais de pornografia infantil entre eles. Uma das siglas identifica fotos e vídeos com cenas de crianças ou adolescentes mantendo relações sexuais com adultos. Outras fazem menção ao sexo, nome e idade das crianças: 7yo, por exemplo, significa “seven years old” (sete anos). Outras siglas apontam a preferência sexual: ‘boylovers’ quer dizer que o pedófilo prefere meninos, ‘girlovers’, só meninas, ‘childlovers’, ambos os sexos, e ‘babyshowers’, recém-nascidos. Alerta Psicólogos do programa Aquarela, de proteção ao menor, mantido pela Fhundas (Fundação Hélio Augusto de Souza), em São José, explicam que a criança passível de sofrer um abuso, geralmente, se encontra em uma fase de extrema carência de afeto e atenção e sem o cuidado de um adulto da
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AFETO Crianças passíveis de abuso geralmente se encontram em uma fase de extrema carência afetiva
”Criança é educada para confiar em um adulto. Então, instintivamente, se aproxima do abusador, sem perceber o abuso” Da psicóloga Vanessa Fonseca Marques Castro
família que possa identificar o problema. “A criança é educada para confiar em um adulto. Então, instintivamente, acaba se aproximando do abusador, sem perceber o abuso”, explica a psicóloga Vanessa Fonseca Marques Castro. De janeiro a agosto deste ano, o projeto atendeu a 80 crianças vítimas de abuso sexual, resultantes da média de 90 denúncias recebidas por mês. Estudos apontam que crianças e adolescentes vítimas de abusos apresentam mudanças de comportamento dentro de casa e, principalmente, na escola. As mais calmas começam a ser agressivas ou aquelas que são mais agitadas, ficam quietas dão problemas na escola, geralmente agredindo os amigos, e começam a se esquivar do contato com adultos. “Conversar e, principalmente, ouvir a criança é sempre a melhor prevenção. E se uma criança assume que foi abusada, não se deve descartar a informação porque, se ela mente com um
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assunto como esse, só por ter esse raciocínio, deve estar desenvolvendo psicologicamente um problema”, pontuou Vanessa. Para os psicólogos, o caminho que toda família deve tomar é o de escutar a criança e ensiná-la sobre os limites de seu corpo. “Também é preciso ensiná-la a dizer não. Mas essa criança só vai aprender a dizer não a situações que a incomodem quando os pais, na medida do correto, respeitem um não de seu filho, pondere suas decisões e o respeite”, explica o psicólogo Fábio Sérgio Amaral. Vanessa e Amaral ressaltam que há situações de violência sexual que não deixam marcas e a avaliação dos pais, ao ouvir as reclamações de seus filhos, deve ser feita com atenção redobrada para que não se corra o risco de que uma suspeita leve a uma denúncia falsa. Criminoso Para Amaral , do ponto de vista de desenvolvimento psicossexual, o abusador é uma pessoa que, na sua história de vida, não teve a oportunidade de ser cuidada, de ter um relacionamento afetivo saudável e, em muitos casos, sofreu o abuso quando criança e o reproduz. “São pessoas muito infantis no ponto de vista emocional, com dificuldade de estabelecer uma relação madura, de responsabilidades e limites”, disse. Preso em flagrante no dia 18 de agosto, Otacílio dos Reis Campos, 52 anos, segue o perfil característico de um abusador sexual de menores. Vizinho de suas vítimas há pouco mais de cinco meses, uma menina de quatro anos e outra de 9, ele as observava todas as manhãs na porta de sua casa, até que as convidou para entrar. “Foi a primeira vez, não sei o que aconteceu, deu um branco na minha cabeça.” Segundo a polícia, ele teria molestado as duas meninas na porta de casa. “Eu não forcei nada, só beijei. Beijei no rosto a mais velha e a mais nova beijei na boca. Eu beijei normal, beijo profissional, tipo beijo de artista. Faço isso com as minhas netas também, nos meus filhos sempre beijei também. Não fiz nada”, disse o acusado momentos antes de ser encarcerado no 1º Distrito Policial de Jacareí. Reis Campos se diz evangélico há 29 anos, é casado há mais de 30 anos, tem três filhos adultos e três netas menores de 8 anos. “Não sinto atração sexual por criança, foi tudo muito rápido, deu um branco. Eu não bebo, não fumo, sou evangélico. Pedi perdão para os pais delas, mas
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O abusador, na sua história de vida, não teve um relacionamento afetivo saudável e, em muitos casos, sofreu o abuso quando criança
não me perdoaram, me bateram, me deram pedradas, eles queriam me matar só por causa do beijo”. Se condenado, pode cumprir pena de 8 a 15 anos de prisão. Entretanto, Reis Campos pode ser mais um somado aos inúmeros casos nos quais a Justiça não consegue condenar um acusado. As duas vítimas de Reis Campos, além de Cristina, Cecília e Priscila, infelizmente também já fazem parte de estatísticas. Podem ou não terem suas vidas traumatizadas, mas com certeza já tiveram suas infâncias roubadas. * nomes fictícios
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Congresso discute ‘castração química’
DENÚNCIA DISK 100 O Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes criou em 2006 o Disk 100. 77 casos de violência são registrados por dia. A ligação é gratuita e o denunciante não precisa se identificar
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Estados Unidos, Canadá e Mendoza, na Argentina, adotaram a ‘castração química’ –medicamentos com hormônios que inibem a ereção– para controlar a libido de condenados por crimes sexuais. O tratamento não é obrigatório, mas o criminoso que se recusa a fazê-lo perde benefícios, como indultos e reduções de pena. A castração também está em fase de implantação na França e Espanha. No Brasil, tramita no Congresso Nacional, desde 2007, um projeto de lei para acrescentar ao Código Penal a pena de ‘castração química’ a pedófilos condenados por crimes de estupro e corrupção de menores. A proposta é do senador Gerson Camata (PMDB-ES) e prevê ao pedófilo que se submeta ao tratamento redução de um terço da pena. O projeto chegou a ser discutido na Comissão de Constituição e Justiça no ano passado, mas acabou enviado para apreciação da Comissão de Direitos Humanos antes de ser votado. Desde fevereiro deste ano é aguardado o parecer do relator, o senador Mag¬no Malta (PRES). O projeto defende que a terapia química não seria uma pena cruel, mas teria como propósito tornar possível o retorno do pedófilo ao ambiente social para que ele possa, superada sua patologia biológica, retomar sua vida sem constituir perigo à sociedade. O tratamento a que se refere o termo ‘castração química’, na verdade, é a soma de um acompanhamento psiquiátrico com sessões de terapia e aplicação de medicamentos e hormônios que reduzem a ação da testosterona, controlam o impulso sexual, inibem a ereção e melhoram o controle comportamental do paciente. •
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POLÊMICA
Maconha: vilã ou aliada? Cientistas brasileiros apontam vantagens das propriedades medicinais da erva para tratamentos de glaucoma, asma, dor crônica e no uso quimioterápico para câncer e Aids Yann Walter São José dos Campos
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os Estados Unidos, chamam-na de ‘weed’, ‘pot’ ou ‘grass’. Na Jamaica, o nome é ganja. Nos países de língua espanhola é mais conhecida como marijuana. No Brasil, é a maconha. Com tantos nomes ao redor do mundo, não é de se espantar que a planta conhecida cientificamente como Cannabis Sativa seja, de longe, a droga ilícita mais consumida do planeta. Apreciada há séculos por suas propriedades relaxantes, criticada há décadas por seus efeitos nefastos sobre o organismo, a maconha tornou-se ilegal na maior parte do planeta depois do Ato Fiscal da Maconha de 1937 nos Estados Unidos, um marco na criminalização da planta milenar. Desde os anos 60, quando a erva se tornou o símbolo da contracultura e do movimento hippie ao passo que sua proibição se intensificava nos Estados Unidos e no mundo, a maconha sempre suscitou debates acalorados entre seus defensores e seus detratores. As discussões ganharam novo fôlego no fim dos anos 90 e no início da década de 2000, quando vários países e até estados norte-americanos, como a Califórnia, passaram a reconhecer as virtudes terapêuticas da maconha e a autorizar seu consumo para fins medicinais. No Brasil, a posse, a venda e o consumo, mesmo com fins terapêuticos, são terminantemente proibidos. Recentemente, em
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ato inédito no país, quatro renomados neurocientistas brasileiros escreveram uma carta pública chamando a atenção para as propriedades medicinais da maconha e as mudanças legislativas que estão ocorrendo em vários países, inclusive a legalização para uso recreativo. “As pesquisas sobre o uso terapêutico da maconha ainda estão engatinhando, mas já foram relatadas utilizações efetivas para o tratamento de glaucoma, asma, dor crônica e ansiedade. Também é muito usada para tratar náuseas e perda de peso, bem como no tratamento quimioterápico para câncer e Aids. Existem ainda evidências de seu uso para esclerose múltipla. Foi demonstrado recentemente pela equipe de um dos signatários da carta que canabinóides podem aumentar a sobrevida de células tronco embrionárias, sugerindo sua utilização também em terapia celular”, detalhou João Menezes, neurocientista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que assinou a carta junto com três colegas da SBNeC (Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento). As propriedades medicinais da maconha são reconhecidas em alguns países da Europa, como Holanda, Alemanha ou Espanha, bem como no Canadá e nos Estados Unidos, onde o consumo recreativo ainda é ilegal. Hoje, o uso terapêutico da erva é permitido em vários estados norte-americanos. Na Califórnia, é autorizado desde 1996. Aliás, o Golden State é um verdadeiro precursor sobre o tema: em novembro, junto das eleições para governador, será votada em plebiscito a
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legalização da maconha no Estado. Trata-se da primeira iniciativa do gênero no país. Se a nova lei for aprovada, a maconha passará a ser considerada uma droga lícita, assim como o tabaco e o álcool, e poderá ser comprada por qualquer pessoa maior de 21 anos. A proposta estabelece em 30 gramas por pessoa o limite legal de posse, e autoriza o cultivo de até 2,3 metros quadrados da erva per capita. A nova lei também poderá trazer grandes benefícios financeiros para o Estado: estima-se que os cofres públicos passariam a receber mais de 1,3 bilhão de dólares por ano em taxas e impostos comerciais. Na cidade de Oakland, perto de San Francisco, foi aprovado em julho um plano permitindo o cultivo e a comercialização da maconha em grande escala para fins medicinais. Tendência A tendência à descriminalização do consumo da maconha está crescendo na Europa e em outras partes do mundo. Na Holanda, a erva e seus derivados, como o haxixe, são comprados e usados legalmente em estabelecimentos especiais, os famosos coffee shops, desde 1976. Países como Alemanha, Itália, Bélgica, Espanha, Portugal ou Suíça também descriminalizaram o consumo. A Austrália segue a mesma linha. “A descriminalização é uma excelente iniciativa de redução de danos. Impede que pessoas nãoviolentas sejam encarceradas sem necessidade e forçadas a conviver com verdadeiros criminosos”, defendeu João Menezes. Ao contrário do que acontece na Europa, a maioria dos países da Ásia e do Oriente Médio pratica uma política de tolerância zero com relação à posse, consumo e venda de maconha e outras drogas. Na China, em Cingapura e em vários países muçulmanos como Indonésia, Irã ou Arábia Saudita, o tráfico de drogas é punido de morte. No Brasil, o consumo, a posse e a venda de maconha são regulamentados pela Lei 11.343, promulgada em agosto de 2006. “A grande diferença entre esta lei e a legislação anterior é o estabelecimento de penas distintas para usuários e traficantes. O consumo deixou de ser considerado crime, passível de prisão. Agora, o usuário
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é sujeito a três tipos de pena: advertência, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa. Já o tráfico continua sendo classificado como crime hediondo. As penas mínimas e máximas até aumentaram, passando de três a cinco anos e de oito a 15 anos”, disse o criminalista Sergei Cobra Arbex, diretor da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo. O maior problema desta lei é que ela não fornece critérios objetivos para diferenciar o usuário do traficante. “A nova legislação não estipula uma quantidade a partir da qual o usuário passa a ser considerado traficante. Assim, a interpretação da lei é subjetiva e depende de cada juiz. Os magistrados se baseiam em um conjunto de provas e em depoimentos de testemunhas para determinar quem é quem”, explicou o advogado. Cabe ressaltar que a carta dos cientistas foi publicada em reação à prisão de um músico carioca que cultivava dez pés de maconha em casa e foi enquadrado como traficante. No entanto, a acusação foi requalificada para posse de substâncias ilícitas e o músico foi libertado depois de passar 14 dias na cadeia. Os efeitos nocivos da maconha sobre o organismo são os principais argumentos dos detratores da legalização. Além dos
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problemas respiratórios decorrentes da inalação de fumaça, semelhantes aos provocados pelo cigarro, os usuários de maconha estão expostos a perda de memória, ansiedade, depressão e, nos casos mais extremos, surtos psicóticos. “A maconha tem 50% mais alcatrão que o tabaco. Apresenta 450 substâncias químicas em sua composição, a maioria delas cancerígenas. Usuários contumazes sofrem de bronquite crônica e doenças respiratórias, fora as alterações que a erva provoca no cérebro. Os adolescentes são as maiores vítimas, já que o cérebro deles ainda está em formação. O sujeito que fuma fica lerdo, perde a capacidade de raciocinar. O desempenho escolar fica prejudicado”, afirmou Reinaldo Correa, delegado divisionário da Dipe/Denarc (Divisão de Prevenção e Educação do Departamento de Investigações sobre Narcóticos). “Uma pessoa sob efeito da maconha perde noção do tempo e do espaço. Se dirigir ou manipular instrumentos cortantes, pode causar um acidente ou machucar a si mesmo ou a terceiros”, acrescentou. A psicóloga Sibely Barros Aidar, que atende vários usuários adultos e adolescentes em seu consultório, em São José, citou os mesmos efeitos negativos que o policial. “Um dos problemas mais mencionados pelos pacientes é o prejuízo causado à memória, bem como a postura preguiçosa que
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acompanha o consumo. Muitos usuários estão em situação de apatia social. Perdem a motivação para o trabalho e tornam-se pessoas pouco produtivas”, comentou. Sibely, que faz doutorado de psicobiologia no Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), na Unesp (Universidade Federal de São Paulo), também lidou com casos mais sérios. “Um de meus pacientes era um usuário sistemático. Fumava grandes quantidades de maconha diariamente e estava constantemente sob o efeito da droga. Teve várias crises de pânico”, relatou. “Nestes casos, a pessoa fuma apenas para se manter em seu estado normal. Já não existe mais o chamado consumo social, quando a pessoa só fuma em festas ou em rodas de amigos”. A psicóloga disse que nunca tratou pessoalmente casos de esquizofrenia revelados pelo uso de maconha, mas confirmou que tais casos existem. No entanto, fez uma ressalva: “Nem todos os usuários estão sujeitos a surtos psicóticos. A maconha apenas cria um contexto favorável para o surgimento de crises. Funciona como um gatilho para pessoas que já são esquizofrênicas. A maconha altera o sistema nervoso central, distorce a percepção e amplifica as emoções. Funciona como um revelador de problemas que já existem”, frisou a psicóloga. “Usuários contumazes de maconha são sujeitos a alucinações, depressão, agitação e confusão. O consumo em excesso pode até estimular a agressividade”, alertou o delegado Correa. O cientista João Menezes admitiu a existência de todos estes efeitos adversos, mas ressaltou que drogas lícitas como álcool e tabaco são muito mais perigosas para a saúde. “Não quero minimizar os riscos ligados ao uso de maconha. No entanto, eles não constituem em si um argumento para a proibição, já que os riscos à saúde decorrentes do consumo de tabaco e álcool são muito mais importantes”, afirmou, ressaltando que muitos dos efeitos negativos da maconha podem ser contornados. Basta não fumar. “Problemas como bronquite crônica, insuficiência respiratória e câncer, que advêm diretamente da inalação do produto da queima, podem ser evitados por vias de administração alternativas, como a ingestão ou pelo uso de vaporizadores que evitam a queima”, explicou. Em se tratando dos riscos mais sérios mencionados pelo delegado e pela psicóloga, Menezes destacou que grande parte dos estudos
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EFEITOS PROVOCADOS PELA MACONHA Olhos • Vermelhidão • Diminuição de pressão intra-ocular Pele • Sensação de calor e frio Músculo • Relaxamento Coração • Aumento de frequencia cardiaca Boca • Secura
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A maconha altera o sistema nervoso central, distorce a percepção e amplifica as emoções. Funciona como um revelador de problemas
A PLANTA Pé de maconha em vaso; cientistas apontam benefícios das propriedades medicinais da planta
conduzidos sobre os efeitos deletérios da maconha são patrocinados pelo governo dos Estados Unidos, adepto da proibição, o que, segundo ele, faz com que sejam frequentemente exagerados. Prevenção Detratores e defensores da descriminalização da maconha concordam sobre um ponto: a importância da prevenção. “Os riscos inerentes ao consumo de maconha devem ser informados e ensinados aos nossos jovens”, disse João Menezes. E para que a prevenção seja eficiente, é preciso que a informação seja imparcial. “O principal efeito positivo da maconha é o prazer advindo de seu consumo, seguido de relaxamento e aumento de criatividade. Essas qualidades
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têm de ser reconhecidas, pois senão correse o risco de perda de credibilidade frente ao jovem”, afirmou o neurocientista. “A primeira coisa que fazemos é um balanço objetivo das vantagens e desvantagens do uso da maconha. Sabemos que a maconha dá prazer. Admitir isso é o primeiro passo do tratamento. O que tentamos passar é que ela não tem o poder de resolver problemas”, explicou a psicóloga Sibely Aidar. “A mensagem que temos de transmitir é a seguinte: o barato inicial da droga é muito bom, mas o preço que ela cobra é alto demais”, resumiu o delegado Correa. O presidente da SBNeC, Marcus Vinícius Baldo, que não assinou a carta mas disse concordar com seu conteúdo, resumiu com bastante clareza o debate sobre os efeitos positivos e negativos da erva. “A maconha é uma droga com múltiplos efeitos, benéficos em algumas situações e prejudiciais em outras. De um ponto de vista estritamente científico, o balanço entre as virtudes terapêuticas da maconha (ou de seu princípio ativo) e os efeitos adversos dependerá de vários fatores, os quais incluem, entre outros, a doença a ser tratada e as respostas específicas e individuais de cada paciente. Aliás, é importante notar que esse critério é universal, sendo válido para todo e qualquer medicamento, inclusive para outras drogas legalizadas para uso terapêutico, embora de consumo ilícito ou controlado”. E como lembrou Sibely Aidar, é possível usufruir das virtudes medicinais da Cannabis Sativa sem se expor aos perigos decorrentes do consumo de maconha. “Os princípios ativos da droga podem ser isolados e aproveitados em remédios”, afirmou, posicionando-se a favor da discussão sobre o tema, mas contra a descriminalização do consumo recreativo. “Fumar maconha não ajuda ninguém”, sentenciou.
EUA são maior produtor da droga Enganam-se os que pensam que o maior produtor mundial de maconha é o Paraguai, a Colômbia ou algum país da África ou da Ásia. Na verdade, são os Estados Unidos. Segundo o próprio governo americano, a produção de maconha no país foi multiplicada por dez em 25 anos, passando de quase mil toneladas em 1981 a 10 mil em 2006. No entanto, ao contrário de outros países, os Estados Unidos não exportam sua produção, que é destinada exclusivamente ao mercado interno. A produção nacional de maconha vale quase 36 bilhões de dólares, ou seja, mais do que as produções combinadas de milho e trigo. Outros grandes produtores mundiais são Marrocos e Afeganistão (para o haxixe), África do Sul, México e Colômbia. A produção boliviana cresceu muito na última década. Mas o maior produtor e exportador da América Latina é mesmo o Paraguai. De acordo com o delegado Reinaldo Correa, quase 80% da maconha apreendida no Brasil é de origem paraguaia. Cabe frisar que o país também tem suas próprias zonas de produção, nos estados de Pernambuco, Piauí, Maranhão e Bahia. É muito complicado avaliar a produção mundial de maconha devido à falta de dados atualizados, mas em seu último relatório, publicado no ano passado, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime a estimou em 50 a 60 mil toneladas. Ressaltando que quase todos os países do mundo têm suas próprias zonas de produção, o organismo chamou a atenção para a explosão do cultivo em estufas, principalmente nos Estados Unidos, no Canadá, na Austrália, na Nova Zelândia, na Holanda, no Reino Unido, na Escandinávia e em vários países da Europa Oriental. •
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Vale, Brasil & o Mundo PETRÓLEO
Guido Mantega mantém prazo para capitalização da Petrobras
EMPREGOS
Recorde positivo em 2010 O ministro da Fazenda, Guido Mantega, confirmou que o prazo para a capitalização da Petrobras está mantido em 30 de setembro, às vésperas da eleição presidencial. O governo recebeu os laudos das empresas certificadoras, que tiveram 45 dias para realizar uma análise sobre o preço ideal para o barril de petróleo que será cedido pela União à Petrobras no processo de capitalização. O ministro disse que ainda vai pedir explicações às empresas sobre o que levou ao estabelecimento dos preços. “Não sei quem falou em discrepância de preços. Ninguém está autorizado a falar sobre isso e ainda vamos pedir mais explicações”, afirmou o ministro. Mantega garantiu, no entanto, que, por presidir o Conselho de Administração da estatal e, ao mesmo tempo, fazer parte do governo, ainda assim não tem “dubiedades” em sua posição. “Temos que nos basear em critérios objetivos e transparentes. A capitalização será feita com uma retaguarda técnica, não é quem vai ganhar ou perder. Não vou puxar para nenhum lado”, disse.
Frases ”O que é que faz um deputado federal? Na realidade eu não sei. Mas vote em mim que eu te conto” De Tiririca, candidato em 2010
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O Brasil criou 181.796 vagas de empregos com carteira assinada até julho deste ano –o maior índice desde 1992. O Estado de São Paulo foi a unidade da Federação que registrou o maior saldo de contratações, com a criação de 62.497 vagas formais no mês, de acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados pelo Ministério do Trabalho O setor de serviços foi o que criou mais vagas no Estado, com 24.266 postos, à frente da indústria de transformação (13.919) e do comércio (10.626). De janeiro a julho
”O povo quer propostas [sobre segurança], a não pegadinha nem salada ou farofa de números” De Marina Silva (PV), candidata à Presidência
deste ano, o Estado de São Paulo acumula a criação de 608.240 vagas formais, o segundo melhor resultado da série histórica, atrás de 2008. Em São José, foram criadas 539 vagas nas empresas em julho. Os setores que mais geraram emprego foram o industrial e o de serviços. Em julho, a indústria gerou 213 vagas e no ano, 1.228 vagas Segundo dados do Caged, a geração de vagas de emprego superou as demissões em 1.655.116 postos formais de trabalho no período de janeiro a julho de 2010 no país, número recorde para os primeiros sete meses de um ano.
”Ela que é patética” De Alberto Goldaman, governador de São Paulo, ao rebater a crítica da candidata à Presidência Dilma Rousseff sobre achar “patético” o uso da imagem de Lula na propaganda eleitoral de José Serra
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NASA
Foto mostra erupções solares
A Nasa divulgou foto que mostra as erupções magnéticas no Sol, que não ficava tão ativo desde 2001. As erupções criam tempestades de partículas carregadas que atingem a Terra. Quando chegam, fazem brilhar o céu das regiões polares. Elas devem aumentar até 2013 –a atividade solar segue um ciclo de 11 anos. O astro está acordando, após anos de calmaria.
TRANSTORNO
TAM transfere 17 voos para Guarulhos A TAM trasnferiu de Congonhas para Guarulhos, ao menos 17 voos que partem ou chegam do interior de São Paulo, Minas Gerais e Paraná operados pela Pantanal. A mudança pode afetar 24 mil pessoas por ano. A medida tem causado protestos de empresários, que terão de descer em Guarulhos e se deslocar de carro ou ônibus para chegar ao centro de São Paulo ou fazer conexões em Congonhas. Em alguns casos, o viajante pode levar mais tempo de carro para chegar ao centro de São Paulo do que de voo. A empresa vai utilizar esses horários que liberou em Congonhas para rotas mais lucrativas, como a ponte aérea Rio-São Paulo, Brasília, Salvador, Porto Alegre, Curitiba, entre outros. Insatisfeitos, empresários e políticos do interior pressionaram a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) a vetar as mudanças. SEGURANÇA
Estátua será fechada em NY A Estátua da Liberdade, em Nova York, será fechada por um ano para obras de melhorias na segurança, impedindo os turistas de visitarem a coroa, base e pedestal. Com a medida, os visitantes poderão entrar apenas no parque que circunda a estátua, na Ilha da Liberdade. O acesso será restringido a
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Cientistas procuram 100 espécies de anfíbios O grupo ambientalista Conservação Internacional começou um programa de busca inédita para tentar redescobrir cem espécies de anfíbios considerados perdidos. A busca ocorre em um momento em que as populações mundiais de rãs e sapos sofrem grande declínio. Mais de 30% das espécies desses animais estão ameaçadas.
partir de 12 de outubro de 2011, quando a estátua celebra seu 135º aniversário. A reforma, estimada em US$ 26 milhões (cerca de R$ 45 milhões), vai adicionar ao monumento escadas à prova de incêndio, elevadores e saídas. A única saída do topo da torre de observação, que tem 22 andares, é por uma escada estreita. Mais de 5 milhões de pessoas visitam a Estátua da Liberdade por ano.
INDENIZAÇÃO
Doméstica pode receber R$ 500 mil
O Tribunal de Justiça do Rio anunciou que a empregada doméstica Sirlei Dias de Carvalho Pinto, 35 anos, receberá R$ 500 mil de indenização por danos morais de cinco jovens de classe média que a agrediram, na Barra da Tijuca. Os jovens espancaram e roubaram a bolsa da mulher que estava parada em um ponto de ônibus, em junho de 2007. Os jovens já tinham sido condenados em janeiro de 2008 por roubo e agressão. A pena variou de seis a sete anos e quatro meses, de acordo com a participação de cada acusado nos crimes.
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Mundo HISTÓRIA
Conflito de superlativos 65 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, sobreviventes que vieram à região relatam drama dos campos de concentração e da chegada ao Brasil Yann Walter São José dos Campos
á 65 anos, em setembro de 1945, a rendição do Japão, a última potência do Eixo que ainda resistia aos Aliados, selou o fim da Segunda Guerra Mundial. Desencadeado por uma série de confrontos regionais, o conflito ganhou rapidamente contornos dramáticos, semeando morte e destruição por todo o planeta. Crimes de guerra foram cometidos. Povos inteiros foram exterminados. A Segunda Guerra Mundial marcou a história para sempre, superando em tamanho, violência e barbárie qualquer outro conflito que a humanidade tenha conhecido. A Segunda Guerra só pode ser definida com a ajuda de muitos superlativos. O conflito armado mais amplo, mais mortífero e mais devastador da história mobilizou mais de 100 milhões de combatentes de mais de 60 nações, abrindo frentes de batalha em uma extensão superior a 20 milhões de quilômetros quadrados e matando mais de 60 milhões de pessoas, a maioria delas civis. Os danos materiais nunca puderam ser avaliados com precisão, mas sabe-se que foram superiores
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às destruições acumuladas de todos os conflitos já registrados na história da humanidade. O trauma moral também foi considerável, com a violência adquirindo proporções inéditas. Torturas, estupros e outros crimes de guerra foram perpetrados em grande escala, principalmente pelas forças do Eixo, mas também pelos Aliados. Genocídios foram planejados e executados pela Alemanha nazista e pelo Japão imperial. Experiências com cobaias humanos foram conduzidas por alemães e japoneses. O bombardeio deliberado e sistemático de civis se generalizou dos dois lados. Pela primeira –e última– vez da história, a bomba nuclear foi utilizada contra populações, levando o Japão à capitulação e encerrando o conflito. A Segunda Guerra foi provocada por dois fatores: a frustração dos derrotados da Primeira Guerra, insatisfeitos com os termos dos tratados de paz, e as políticas expansionistas das três principais nações do Eixo: a Alemanha nazista, a Itália fascista e o Japão imperial. A guerra foi declarada pelas principais nações aliadas, França e Reino Unido, no dia 3 de setembro de 1939 após a convergência de três conflitos regionais: a guerra da Espanha em 1936, a guerra entre a China e o Japão em 1937, e a invasão da Polônia pela Alemanha de Adolf Hitler em 1939. A União Soviética e os Estados Unidos
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Fotos: Domínio Público
HORROR Prisioneiros em estado de inanição eram submetidos a trabalho escravo no campo de concentração de Wöbbelin, na Alemanha
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entraram em guerra ao lado dos Aliados, respectivamente, em junho e dezembro de 1941. O Brasil se uniu oficialmente aos Aliados no dia 22 de agosto de 1942. A Polônia foi, sem dúvida alguma, um dos países que mais sofreu com a Segunda Guerra. A capital, Varsóvia, foi destruída em 90% pelo Exército da Alemanha. O país perdeu 15% de sua população: seis milhões de poloneses, entre eles, três milhões de judeus morreram nos bombardeios e nos campos de concentração e extermínio comandados pelos nazistas. Destes seis milhões de mortos, pouco mais de 300 mil eram militares. O genocídio dos judeus da Europa pela Alemanha nazista, mais conhecido como Holocausto, foi um dos fatos mais marcantes da Segunda Guerra Mundial. A partir de 1939, os judeus, considerados por Hitler uma raça inferior, passaram a ser concentrados em guetos miseráveis, como o de Varsóvia, e enviados a campos de trabalho forçado, onde viveram em condições desumanas. A situação piorou em 1942 quando Hitler começou a aplicar uma política de extermínio em escala industrial. Seis milhões de judeus, que representavam 75% de toda a população judaica da Europa ocupada, foram fuzilados ou eliminados nas câmaras de gás em campos de extermínio como o de Auschwitz-Birkenau, no sul da Polônia. Somente neste campo foram assassinados um milhão de judeus. Arie Yaari, judeu polonês de 88 anos, é um sobrevivente do Holocausto. Em cinco anos, de 1940 a 1944, passou por 11 campos de trabalho nazistas. A história dele é tão edificante que serviu de inspiração para alguns elementos do filme “A lista de Schindler”, de Steven Spielberg. “Assim que Hitler invadiu a Polônia, começou a perseguir os judeus. Os alemães publicaram um decreto segundo o qual cada família judaica deveria ceder um jovem para trabalhar por três meses. Eu fui o escolhido. Tinha 18 anos à época. Nunca mais vi minha família depois disso. Mas tarde, soube que tinham sido enviados para Auschwitz”, contou o homem, que adquiriu nacionalidade brasileira e mora hoje em Taubaté. “No primeiro dos campos por onde passei, trabalhei na construção de uma via férrea. Quando chegou o inverno, a temperatura despencou para 20 graus negativos. Não tínhamos roupas adequadas, muito menos luvas, e movimentávamos trilhos de aço de seis metros de comprimento. Quando deslocávamos um trilho de um lugar para outro, a ponta dos dedos ficava grudada no metal
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Mundo
1945 MARCA O fim da Segunda Guerra Mundial, com a rendição do Japão, a última potência do Eixo que ainda resistia aos Aliados, após seis anos de torturas e extermínios
60 mi DE PESSOAS MORRERAM Na guerra, a maior catástrofe provocada pelo homem, que começou em setembro de 1939 e era arrancada, deixando feridas abertas. Muitos contraíram infecções”, relatou. Em outro episódio, ocorrido no mesmo campo, Yaari contou como foi brutalmente espancado por guardas nazistas. “Um prisioneiro que estava conosco fugiu. Dois policiais o pegaram na estação ferroviária e o trouxeram de volta, batendo nele durante todo o trajeto. Largaram-no na estrada, perto de onde eu estava trabalhando com uma pá. Irritados com a fuga dele, os guardas resolveram torturá-lo com chicotes de pontas de aço e coronhadas de fuzil. Os gritos, o choro e os pedidos de clemência cegaram minha mente. De repente enxerguei tudo vermelho. Avancei com a pá e bati no soldado que estava à minha frente. Surpresos, eles largaram o homem e se juntaram contra mim. Bateram tanto que precisei ser carregado até a enfermaria, todo ensanguentado. Tive cortes profundos no corpo e muitos traumatismos, mas, felizmente, nenhum osso quebrado”. Para se ter uma ideia do calvário que Arie Yaari viveu durante todos esses anos, basta ler um trecho de seu livro, “O Leão da Montanha”, publicado pela primeira vez em 2005, que fala justamente deste primeiro campo: “Mais tarde, diante das agruras de outros campos, chegamos a sentir saudades da vida dali. Ao me recordar do trabalho de 12 horas por dia, em média, comendo o suficiente para não morrer de fome, com roupa suficiente para não congelar, me lembrei de um sábio ditado: Me queixava de que não tinha sapatos, mas quando olhei para trás, vi que meu companheiro não tinha pés”.
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FOME Prisioneiros no campo de concentração de Ebensee, na Áustria, onde milhares de judeus foram executados pelas tropas nazistas; prisioneiros eram torturados e enfrentavam a fome, além das epidemias de tifo e tuberculose
A rotina de Yaari durante estes cinco anos foi marcada por cansaço extremo, privações e maus-tratos. Nunca contraiu uma doença grave, mas viu muitos companheiros morrer de disenteria, tifo e tuberculose. Em 1942, ano que qualificou de pior da história da humanidade para os judeus da Europa ocupada, foi transferido para o campo de Gross Sarne, onde trabalhou na construção de uma ponte de mais de mil metros sobre o rio Neisse. Trabalho pesado “Trabalhávamos descalços na lama e na areia, fixando tubulações de concreto no leito do rio por onde era retirada a terra. Após alcançar o fundo firme, fazíamos armações de ferro. Então, por meio das tubulações, descarregava-se o concreto que preenchia as armações para edificar os pilares da ponte. Muitos trabalhadores se enroscavam nas armações e eram cobertos pelos rios de concretos despejados nas tubulações. Todos os dias morriam entre quatro e dez pessoas”, relatou, afirmando que de todos os campos pelos quais passou, o de Gross Sarne foi o pior. “A comida era escassa e o trabalho muito pesado, além das nossas forças. O péssimo tratamento dos guardas, que batiam em nós constantemente, causou muitas mortes. Chegamos em mais ou menos 5.000 pessoas e, quando fomos transferidos para outro campo, havíamos nos reduzidos para 106 esqueletos ambulantes, apoiando-nos uns aos outros para não cair”. Arie Yaari, um nome que significa “leão da floresta” em hebraico, é um sobrevivente.
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GENOCÍDIO G Soldados S da Gestapo observam o corpos de prisioneiros no campo de concentração nazista de Nordhausen, na Alemanha; campo foi ocupado por tropas norte-americanas em 12 de abril de 1945 pondo fim às barbáries cometidas pelos oficiais alemães contra os judeus e libertando os sobreviventes da guerra mais sangrenta da história DESFILE Adolf Hitler com o líder do facismo italiano Benito Mussolini da humanidade em desfile militar realizado em Munique, na Alemanha, em junho de 1940 Eugênio Vieira
LEÃO DA FLORESTA O judeu polonês Arie Yaari, 88 anos, sobreviveu a 11 campos nazistas, entre 1940 a 1944
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Com olhar vago e fala pausada, contou como escapou da morte, em 1944, no campo de concentração de Bunzlau. “Na hora do almoço, fui à cozinha com um colega buscar um panelão de sopa que levaríamos ao nosso barracão. No caminho de volta, quando estávamos no pátio, aviões russos bombardearam o campo. Aparentemente, um soldado alemão havia atirado neles com uma metralhadora. Eram dezenas de aviões despejando bombas e atirando com metralhadoras. Vi pedaços de gente voando pelos ares. Meu amigo largou a panela e fugiu para a cozinha. Eu pensei: se for para morrer, que seja de barriga cheia. Comecei a comer da panela ali mesmo, no meio do pátio. E por incrível que pareça, sobrevivi. Sequer fui atingido. Já o companheiro que estava comigo e tentou se esconder faleceu, junto com muitos outros”. Yaari tem muitas outras lembranças da guerra, como a debandada de Gross Rosen, o último campo pelo qual passou, em dezembro de 1944, seguida por uma fuga de vários dias pela floresta sob um frio intenso, comendo apenas neve e cascas de árvore. Não é difícil imaginar o esforço que teve de fazer para afugentar os pesadelos que o atormentam até hoje. “Eu só quero esquecer”, disse o velho leão, ferido, porém não morto. Empresário de sucesso no ramo da construção –possui dois hotéis em Campos do Jordão e várias casas em Taubaté– o polonês de Katowice, que escolheu o Brasil como pátria em 1954, não pensa em parar de trabalhar, apesar da idade avançada. “Quando eu parar será porque terá chegado minha hora”, sentenciou.
O fim do calvário de Arie Yaari correspondeu ao início da derrocada do regime nazista. No dia 30 de abril de 1945, Berlim foi invadida pelos soviéticos, e Hitler cometeu suicídio. A Alemanha capitulou oito dias depois, encerrando a guerra na Europa. Com pouco mais de nove milhões de mortos, foi o país do Eixo que pagou o maior tributo à Segunda Guerra. No entanto, os alemães foram responsáveis pela morte de mais de 20 milhões de soviéticos, os mais castigados pelo conflito. Japão Enquanto a Alemanha e a Itália guerreavam na Europa e no norte da África, o Japão transformava o continente asiático em cenário de desolação. Os soldados japoneses não ficaram atrás dos nazistas em termos de violência e brutalidade. As campanhas militares do Japão na China e na Indonésia deixaram pouco menos de 25 milhões de mortos, quase todos civis. Alguns crimes de guerra particularmente atrozes entraram para a história, como o massacre pelas tropas japonesas de 150 a 300 mil civis na cidade chinesa de Nankin, o rapto de mais de 200 mil mulheres, coreanas em maioria, para serem usadas como escravas sexuais pelos soldados nipônicos, a política dita da terra queimada, que causou a morte de 2,7 milhões de civis no norte da China ou ainda a utilização de armas biológicas contra milhares de prisioneiros chineses, coreanos e russos pela sinistra Unidade 731, uma unidade secreta do Exército Imperial que praticava experiências “científicas” em homens, mulheres e crianças ainda vivos.
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Tais experiências incluíam inoculação de doenças como peste ou cólera, retirada de órgãos, transfusões de sangue de cavalo ou de água do mar, congelamento, desidratação até a morte, exposição prolongada a raios-x, imersão em água fervente, descompressão. De acordo com diversos relatórios e depoimentos, alguns soldados japoneses praticaram canibalismo em prisioneiros aliados, às vezes, retalhando suas vítimas ainda vivas. Os Estados Unidos foram os principais adversários do Japão durante a guerra, e causaram a morte de muitos militares e civis japoneses. Além das bombas nucleares largadas sobre Hiroshima e Nagasaki, que mataram num primeiro momento cerca de 120 mil pessoas e levaram à rendição do País do Sol Nascente no dia 2 de setembro de 1945, algumas batalhas nipo-americanas ficaram para a memória, como o ataque à base militar americana de Pearl Harbor, no Havaí, em dezembro de 1941, que marcou a entrada dos EUA na guerra, ou ainda a batalha de Saipan, nas Ilhas Mariana, em junho e julho de 1944. “Não sobrou ninguém lá”, resumiu laconicamente Takeshi Honda, um japonês que emigrou para o Brasil em 1937 e mora em São José dos Campos há mais de 50 anos. Honda, 78 anos, tem um tio que participou das três grandes campanhas militares do Japão durante a Segunda Guerra: esteve na Manchúria, na China e na Indonésia. Outro tio dele faleceu em Saipan junto com 24 mil soldados japoneses quando os americanos bombardearam e invadiram a ilha. Suicídio Quase todos os 22 mil moradores participaram dos combates. Os que não morreram foram acuados pelos marines no norte de Saipan, impedidos de fugir pelas altas falésias que dominavam o mar. Em vez de se entregarem, milhares se suicidaram investindo contra os soldados ou atirando-se do alto de dois penhascos, no provável maior suicídio em massa da história da humanidade. Em homenagem às vítimas, os penhascos foram batizados Banzai Cliff e Suicide Cliff. Armindo Boll, professor da Unitau (Universidade de Taubaté) e mestre concursado em história contemporânea, explicou a mentalidade que prevalecia entre os japoneses daquela época. “O Japão é uma civilização milenar, e o militarismo sempre foi parte integrante da identidade japonesa, muito marcada pela tradição samurai. Até hoje, os japoneses levam muito mais a sério que os ocidentais as noções de honra
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ITÁLIA José Indiani, 79 anos, o último descendente direto de italianos em Quiririm, distrito de Taubaté
Autoridades brasileiras mantiveram dois campos de trabalho na região à época da guerra, um em Pindamonhangaba e outro em Guaratinguetá
e dever. Para o soldado japonês, morrer era uma honra sublime e a derrota era inaceitável. O índice de suicídios entre prisioneiros de guerra era enorme, isso quando havia prisioneiros, pois era comum lutarem até o último homem”. Dezenas de milhares de japoneses, alemães e italianos se instalaram no Brasil para fugir da guerra. Takeshi Honda, que tinha cinco anos quando desembarcou com a família na colônia japonesa de Pereira Barreto, no interior de São Paulo, relatou os apuros pelos quais passaram seus conterrâ-
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Eugênio Vieira
IMIGRANTE O japonês Takeshi Honda, 78 anos, que emigrou para o Brasil em 1937 e mora em São José há mais de 50 anos
neos. “Tivemos muitos problemas durante a guerra. Não era permitido falar japonês na rua. A cidade tinha 90% de japoneses, mas o ensino do japonês era proibido nas escolas. Tive que aprender em casa. As reuniões de mais de três pessoas também não eram autorizadas. Muitos japoneses foram presos”, relatou o homem de 78 anos, nascido em Nagasaki. “Certa vez, três policiais brasileiros invadiram nossa casa e levaram todos os livros e revistas em japonês”, contou. De fato, em meados da guerra, o governo de Getúlio Vargas proibiu a publicação de
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Governo Getúlio Vargas proibiu a publicação de jornais em japonês, bem como o ensino do idioma nas escolas. Também era proibido falar japonês
jornais em japonês, bem como o ensinamento do idioma nas escolas. Como a grande maioria dos emigrantes daquele país ainda não falava português, a medida acabou favorecendo a desinformação e contribuiu para o surgimento, em 1944, da Shindo Renmei, uma associação que tinha como objetivo inicial preservar a cultura japonesa. Entretanto, com as derrotas sucessivas do Japão e o fim da guerra se aproximando, os militantes da Shindo foram se tornando cada vez mais radicais e passaram a assassinar os japoneses que acreditassem na derrota do país. “A Shindo prejudicou muito nossa comunidade. Seus membros mataram várias pessoas, principalmente em Bastos e em Marília”, comentou Takeshi Honda, revelando que seu próprio pai era um simpatizante da associação, apesar de não ter sido um militante ativo. “Meu pai custou muito a acreditar na derrota do Japão. Ouvimos pela rádio clandestina a notícia das bombas nucleares caindo sobre Hiroshima e Nagasaki. Ficamos estarrecidos. Toda nossa família estava em Nagasaki. Perdi tios, primos”, contou. José Indiani, 79 anos, mora em Quiririm, distrito de Taubaté, desde que nasceu. Ele é último descendente direto de italianos da cidade. Como Takeshi Honda, sofreu com a perseguição aos cidadãos dos países do Eixo no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. “Meu pai teve que se registrar em Taubaté para poder circular e trabalhar. Teve que tirar um salvoconduto na polícia, como todos os italianos daqui. Depois, fomos proibidos de falar nossa língua. Por causa da guerra, o idioma italiano se perdeu em Quiririm. O rádio também era proibido. Não era permitido frequentar bares, pois havia um toque de recolher”, relatou. Campos Indiani lembrou que as autoridades brasileiras mantinham dois campos de trabalho na região na época da guerra, um em Pindamonhangaba e outro em Guaratinguetá. “Vários italianos, alemães e japoneses foram presos e enviados para esses campos, onde eram forçados a trabalhar nas plantações agrícolas”, explicou. O simpático filho de italianos de Calvatone, na Lombardia, contou uma história curiosa que ouviu do pai há muitos anos. “Durante a guerra, um simpatizante do Eixo foi ao barbeiro em Quiririm. Discretamente, o barbeiro chamou a polícia. O homem ainda estava na cadeira, com apenas um lado da barba feito, quando foi levado pelos policiais. Foi mandado para Pinda”. •
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Ensaio fotográfico
Flávio Pereira Repórter Fotográfico
Primavera: a estação das cores Acostumado ao noticiário denso e, às vezes, pesado da profissão, o novo editor de imagem da revista valeparaibano revela as matizes da próxima estação na paisagem urbana de São José dos Campos
IPÊ Às margens da via Dutra, o amarelo das flores do ipê é registrado de um ângulo diferente pelo fotógrafo
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Ensaio
PATOS No Lago das Capivaras, no Parque da Cidade, em São José, a vez é dos patos
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VOO A cor forte chama a atenção das borboletas que aproveitam a estação para dar ainda mais cores ao mundo
JOANINHA Em pequenos detalhes, a Primavera surpreende pela beleza
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MACRO Como parte deste ciclo natural, as abelhas têm um dos papéis mais importantes na estação
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Ensaio
COLORIDO Os caminhos ficam mais coloridos na cidade
SOL Através das pétalas, a luz do sol mostra seus raios
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Coisa & Taltigo
Marco Antonio Vitti
Ser mãe é padecer no paraíso, ser pai é renascer no paraíso!
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ecebi um e-mail de um leitor magoado com o artigo do mês passado. O problema é que o autor do e-mail não conhece medicina. O que não é culpa dele, uma vez que minha especialidade é Biologia Molecular e não Ortomolecular, uma outra especialidade que respeito, pois todos os profissionais têm o direito de ter o seu trabalho respeitado. Minha especialidade é Biologia Molecular e lidamos com genes, DNA, Genoma Humano, que de empírico não tem nada. Da mesma maneira que meu artigo mexeu com as feridas de alguns leitores, não quero dizer que sou contra a adoção, mas algumas pessoas não nasceram para serem pais, uma vez que não nascem com os genes para terem filhos, portanto, geneticamente, não são equipadas com o Arquétipo da Grande Mãe e o Arquétipo do Pai. Como descrevi, isso não é regra geral, mas ocorre com frequência no consultório psiquiátrico. No suplemento publicado no Jornal Folha de São Paulo: Equilíbrio, do dia 3 de agosto de 2010, a jornalista Julliane Silveira escreve que: “o uso de drogas ansiolíticas, a psicoterapia e os finsde-semana inteiros passados na cama não estavam nos planos de alguns casais quando decidiram ter filhos”. E ressalto que ela não está falando de filhos adotados. “Nenhum conflito com as crianças”, diz Julliane, “mas o problema reside nas demandas atuais
GENÉTICA “Não sou contra a adoção, mas algumas pessoas não nasceram para serem pais” da paternidade e da maternidade”. Em pesquisa realizada na Universidade de Kent, especialistas encaram as sutilezas do que denominam de nova cultura parental. Volto a reiterar que essa pesquisa nada tem a ver com filhos adotados. Jan Macvarish explica: “ser pai ou mãe passou a ser considerada uma atividade ou habilidade, e não uma forma de relacionamento”. Atualmente os homens, pais biológicos, estão se tornando alvo das pesquisas sobre criação dos filhos, gerando conflitos e tensão entre os genitores, já que cada vez mais são incorporados conselhos externos, como relata o psicanalista Rubens Aguiar Maciel. Segundo ele, as novas competências paternas geram muita pressão e faz com que os pais interiorizem a cobrança da sociedade. Como a mulher hoje é força de trabalho imprescindível à economia social e familiar, muitos homens se veem também tendo que exercer atividades que antes eram relegadas às mulheres, como levar os filhos à escola e nas reuniões de pais e mestres. No Brasil, pesquisas revelam que 35% dos pais estabelecem limites com afeto, outros 35% são ausentes e 16% são
permissivos. Segundo Emily Anthes, na revista Mente/Cérebro Scientific American: “o comportamento relacionado aos filhos mudou muito nas últimas décadas, enquanto as mães são propensas a mimá-los, os pais continuam inclinados a desafiá-los”, principalmente com brincadeiras de lutas corporais, o que não deixa de ser um motivo para o contato corporal. Este contato físico entre pai e filho, segundo meus estudos de Biologia Molecular, revela que ocorrem alterações biológicas que causam mudanças neuroquímicas no cérebro masculino após o nascimento do filho. Enquanto a mãe segura seu filho e está sempre propensa a prover o cuidado e o conforto do bebê, o pai moderno, por sua vez, é mais propenso a brincar com os filhos ensinando-os a sentir perigo atirandoos para o alto, com lutas entre superheróis e perseguições imaginárias. Enquanto as mães procuram jogos e cantos verbais, os pais utilizam brinquedos. E hoje o que é mais incrível para o desenvolvimento cognitivo de ambos, pai e filho, é o contato físico, fato que o pai do século passado não fazia, exceto alguns mais amorosos que, por consequência, aumentaram a capacidade cognitiva de seus filhos. Mas um fato sempre me preocupou. Porque a tomada que dá choque fica na parte baixa da parede, podendo dar choque nas crianças e travar a coluna dos idosos, enquanto a que acende a luz fica em cima e fora do alcance para a maioria das crianças? •
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Turismo LUXO E CONFORTO
Um paraíso para poucos Resort é a única construção na ilha de oito milhões de metros quadrados no sul da Bahia; costa é terceiro melhor destino do mundo para a pesca do marlin Yann Walter Ilha de Comandatuba (BA)
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magine passar suas férias no resort mais exclusivo do Brasil, em uma ilha quente e ensolarada o ano inteiro, apinhada de coqueiros centenários, cercada por mais de 20 quilômetros de praia intocada e um manguezal. Um lugar planejado para agradar pessoas que buscam contato com a natureza e não deseja abrir mão da privacidade, conforto, segurança e nem, é claro, do luxo. Este lugar é o Hotel Transamérica e o cenário é a Ilha de Comandatuba, um pedaço de paraíso no litoral sul da Bahia. Inaugurado em março de 1989, após quatro anos de obras, o resort é a única construção da ilha de oito milhões de metros quadrados que fica no município de Una, a 60 quilômetros de Ilhéus. Instalado em uma antiga fazenda de plantação de cocos, que ocupa 25% da ilha, o complexo de 50 mil metros quadrados de área construída engoliu 27 mil toneladas de concreto, 845 mil telhas, mais de 8 milhões de tijolos, 270 mil cerâmicas de piso e 7.000 latas
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de tinta, entre outras quantidades enormes de materiais. A grama dos jardins foi enviada por placas de São Paulo. Foram necessárias 43 mil viagens de balsa para transportar o material. O Hotel Transamérica Ilha de Comandatuba tem 363 acomodações, entre apartamentos, suítes e bangalôs. As duas maiores unidades, os bangalôs master, podem receber até seis pessoas em seus 114 metros quadrados. Os preços são salgados, porém dentro da média dos praticados habitualmente neste tipo de resort: na baixa temporada, que vai de 1º de agosto a 19 de dezembro, as diárias vão de R$ 940 (bangalô superior para duas pessoas) a R$ 4.290 (master). Quem quiser passar as festas de Natal e Réveillon no resort vai ter que tirar o escorpião do bolso: de 26 de dezembro a 3 de janeiro – o período mais caro do ano, as diárias pulam para R$ 2.610 (superior duplo) e R$ 14.528 (master). Para os casais com filhos, o resort oferece ‘planos família’: na baixa temporada, dois bangalôs superiores duplos saem por R$ 1.520. As diárias incluem café-da-manhã, almoço e jantar, mas não bebidas alcoólicas. O hotel oferece mais de 80 opções de es-
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Fotos: Divulgação
LAZER Piscina serpenteia os jardins formando um desenho em harmonia com a paisagem local
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Turismo
porte e lazer para grandes e pequenos, entre elas futebol, tênis, squash, basquete, ginástica aeróbica, musculação, vôlei de praia, passeios de quadriciclo e wind car (veículo movido a vento) e todas as atividades náuticas imagináveis. O Transamérica Ilha de Comandatuba é o único cinco estrelas do país a reunir as condições ideais para a prática da pesca oceânica. A costa local é considerada o terceiro melhor destino do mundo para a pesca do marlin. Isso sem falar das duas piscinas. A principal delas, que fica na parte central do resort, serpenteia entre os jardins, formando um desenho em harmonia com a paisagem. A segunda, um pouco mais afastada, conta com toboágua. Ambas têm vista para o mar. O resort também tem um centro de convenções de nove salas, com capacidade para mil pessoas. No entanto, duas atrações merecem destaque especial: o golfe e o spa. Projeto Projetado pelo arquiteto americano Dan Blankenship e inaugurado em 2000, o Comandatuba Ocean Course foi considerado pela revista Golf Digest USA um dos melhores campos de golfe do Brasil. Com área total de 780 mil metros quadrados, sendo 222 mil metros quadrados de grama, o campo está credenciado para receber disputas do circuito internacional. Totalmente integrado à paisagem da ilha, fica entre o mar e o mangue e conta com lagos e dunas de areia. A topografia do campo, que apresenta ondulações e desníveis, e os ventos oceânicos desafiam a habilidade dos jogadores. Uma equipe especializada fica a disposição para ensinar aos iniciantes os fundamentos do esporte. Assim como o golfe, o spa é uma verdadeira atração a parte. Logo ao chegar, o hóspede se depara com uma piscina e uma mesa com água, sucos e frutas. Do lado esquerdo, uma área de relaxamento com espreguiçadeiras. Mais à frente, um conjunto de salas de tratamento individuais, todas com ambientes diferentes, e salas de banhos. As cores, os aromas e os materiais naturais utilizados na decoração trazem um clima de Provença francesa ao local, que pode ser definido em três palavras: charme, beleza e bem-estar. O Spa Comandatuba trabalha com uma linha de produtos exclusivos da L’Occitane e as massagistas, que aliam técnicas orientais e ocidentais, são realmente excepcionais. O lugar foi pensado para ser um templo do
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LAZER ESPAÇO CASA DO TARZAN GARANTE DIVERSÃO ÀS CRIANÇAS E SOSSEGO AOS PAIS
ESPORTE Considerado um dos melhores campos de golfe do Brasil
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prazer e do relaxamento. Realmente um dos pontos altos da viagem. Como o Hotel Transamérica ocupa grande parte de Comandatuba, é lógico que quase todas as atividades possíveis estejam concentradas no resort. No entanto, quem quiser conhecer melhor a ilha e sua região tem algumas opções. O hotel organiza passeios para as cidades de Canavieiras, Ilhéus e Itacaré, assim como trilhas ecológicas pela vegetação nativa para observar a fauna local, essencialmente aves e caranguejos. À noite, é possível ver raposas passeando na praia, bem perto do resort. Uma boa opção para descobrir Comandatuba é fazer um passeio de lancha pelo mangue até o sul da ilha para tomar um banho de lama negra. Dizem que esta lama tem propriedades medicinais. Não tenha medo de se lambuzar inteiro, dos pés à cabeça, deixando apenas uma frestinha para os olhos. O passeio é demorado –mais ou menos uma hora para ir e outra para voltar– mas vale a pena. Desde que faça sol, é claro. Para quem ficar com sede ou quiser beliscar alguma coisa no caminho, o piloto do barco leva um isopor com água, refrigerante, cerveja, frutas e castanhas. Aldeia Os que tiverem interesse em conhecer melhor a cultura local podem fazer uma visita à pequena aldeia de Comandatuba, atrás do manguezal, onde moram cerca de 600 pessoas. Muitas delas trabalham no resort e as outras são pescadores. O trajeto de balsa dura menos de dez minutos. Quem não quiser ficar no hotel pode até se hospedar em uma das várias pousadas da vila. As diárias vão de R$ 80 a R$ 100. Para ir à praia, conhecida como Ilha da Fantasia, é preciso pegar um barco. Se for ao povoado de Comandatuba, não deixe de provar a catuaba do Adonel, um senhor de 93 anos muito conhecido na região. A bebida é conhecida por suas virtudes afrodisíacas, e ele garante que funciona. Cabe ressaltar, porém, que a vendinha do Adonel não prima pela higiene. No que toca à gastronomia, os bufês incluídos na pensão completa permitem aos hóspedes do hotel aproveitar o melhor da culinária baiana. Moqueca de peixe, bobó de camarão, caruru, vatapá e xinxim de galinha são saborosos e muito bem preparados. Isso sem falar do tradicionalíssimo acarajé, com ou sem pimenta. Se estiver disposto a pagar uma quantia extra, prove as delícias
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SPA COMANDATUBA CENTRO FOI CRIADO PARA SER UM TEMPLO DEDICADO AO RELAXAMENTO DESTAQUE
CULINÁRIA Badejo servido à moda de Comandatuba é um dos pratos de destaque
do restaurante da praia, de frente para o mar, que oferece um serviço à la carte. Gastronomia Destacam-se entre os pratos com sabor local o badejo grelhado com risoto de limão e a pizza de caranguejo. Para beber, experimente as caipirinhas de carambola e de caju com limão. Aliás, não se pode deixar de ressaltar a grande quantidade de frutas servidas todos os dias no café-da-manhã. Prove o sapoti, cujo aspecto externo é parecido com o de um kiwi. O sabor, porém, é muito mais doce. • O repórter Yann Walter viajou a convite do Hotel Transamérica Ilha de Comandatuba
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ValeViver
GASTRONOMIA
Campos do Jordão
O menu é das trutas em Campos Temporada Gastronômica da Primavera reúne 25 restaurantes que criaram pratos exclusivos ao evento na Serra da Mantiqueira
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esmo com o fim da estação movimentada na serra, motivos não faltam para experimentar uma das coisas que Campos do Jordão tem de melhor: a gastronomia. De 21 de setembro a 24 de outubro, o Grupo Cozinha na Montanha realiza a Temporada Gastronômica da Primavera, um evento que coloca a truta, um produto típico da região, como estrela principal das receitas criadas com exclusividade pelos 25 restaurantes participantes da programação. Típica dos climas frios, a truta se adaptou perfeitamente às condições da Serra da Mantiqueira. Um peixe que necessita de água corrente fria e limpa teve seu cultivo iniciado na década de 50 no Brasil. Em Campos, as primeiras experiências foram realizadas no Horto Florestal. Deu tão certo que hoje é considerado produto “típico” da cidade e o
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Fotos: Divulgação
MISTURA O Ecoparque Pesca juntou a culinária baiana à cultura da serra
PETISCOS No La Gália, a truta ganha uma versão típica do litoral
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grande mérito neste título se deve aos chefs dos restaurantes que não param de criar novas alquimias em suas receitas. Por exemplo, para este ano, o Ecoparque Pesca na Montanha, que inclusive cria seus peixes, inovou no prato que servirá durante a temporada. A ideia foi misturar o peixe de origens europeia e norte-americana com uma receita tipicamente africana incorporada ao cardápio brasileiro. Nasceu dessa fusão a Moqueca de Truta com Acaçá. O acaçá é uma comida no ritual do candomblé e da cozinha da Bahia. Feito com milho branco ou vermelho, que fica de molho em água de um dia para o outro, os grãos são triturados em um moinho para formar a massa que será cozida em uma panela com água, sem parar de mexer, até ficar no ponto. No La Gália, a truta ganhou ares de petisco fino. Como é de costume em bares litorâneos, o restaurante, que tem uma linha franco-suíça, resolveu apresentar tiras de truta fritas, ideais para serem harmonizadas com a cerveja artesanal da cidade. E se a intenção é abusar dos ingredientes regionais, o restaurante Safari resolveu criar um prato que leva um pesto feito com pinhões, acompanhado de um espaguete. Apenas um dos participantes não usou a truta como ingrediente, mas também nem poderia. A chocolateria Sabor Chocolate aproveita a Primavera e serve bombons de flores. •
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PaladarArtigo
Roberto Wagner
Deguste às cegas para não ser influenciado por rótulos famosos
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á conhecedores de vinho e há meros exibicionistas. Esses gostam de comprar vinhos famosos e caros para impressionar os amigos, mas são incapazes de descrever tecnicamente o que estejam bebendo, além de não perceberem quando tomam vinhos que não justificam seu preço.
Já os verdadeiros conhecedores levam em conta o critério custo-benefício. Esses experimentam agradáveis surpresas com vinhos de preço médio que são superiores aos mais caros. E quando degustam os caros, sabem dizer se valem o que custam. A melhor maneira de provar vinhos sem se deixar influenciar pelo preço ou pelo rótulo é fazê-lo às cegas. Para isso, convém organizar um grupo. Antes, é recomendável frequentar um bom curso sobre vinhos, para aprender como são feitos, conhecer diferentes estilos, saber analisar cor, complexidade e intensidade de aromas, equilíbrio de álcool e acidez, nível de adstringência e amargor, corpo, qualidade, complexidade, persistência e harmonia no paladar. Isso não se aprende sozinho. Cuidado, há aventureiros com pouco conhecimento pretendendo dar aulas. Verifique se o curso tem a chancela de entidades sérias como a ABS (Associação Brasileira de Sommeliers) e SBAV (Associação Brasileira de Amigos do Vinho). Descubra durante o curso com
GRUPO Convide pessoas que fizeram curso com você, o social fica para outra hora
DEGUSTAÇÃO “Os verdadeiros conhecedores levam em conta o critério custo-benefício” quais participantes você tem afinidade e, ao final, constitua com eles um grupo de degustação. Só inclua nele quem tenha feito o curso, deixe encontros sociais para outra hora. Defina a frequência das reuniões, onde elas serão realizadas e escolha um tema para cada uma. Por exemplo, “Cabernets do Chile” ou “Syrah da França x Shiraz da Austrália”. Compre garrafas de diferentes vinícolas
dentro do tema escolhido. Os membros do grupo recebem informações sobre os vinhos que serão degustados. Mas, a seguir, cada vinho chega, um após outro, em pequena quantidade numa taça numerada, sem que se saiba qual seja. Em outra sala, alguém que não pertença ao grupo cuidou de colocar os vinhos nas taças, garantindo o sigilo. A ABS e a SBAV têm fichas técnicas a serem preenchidas com notas para os diferentes itens analisados. Por fim, cada participante informa suas notas para as amostras numeradas, tiram-se as médias, faz-se a classificação, e só então vai-se conhecer qual era o vinho de cada taça. Tenha certeza, vinhos de preço médio irão vencer, com frequência, os mais caros e famosos. •
Roberto Wagner jornalista
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Hi-Tech
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A casa do futuro Automação residencial: da comodidade de ter tudo ao alcance com um simples toque no controle à segurança de um imóvel vigiado
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CONTROLE Com apenas um toque é possível comandar todos os sistemas pré-programados de ambiente
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Metros quadrados é o tamanho da maior casa automatizada do Brasil que está sendo construída em Campos do Jordão
Hernane Lélis São José dos Campos
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ara abrir a porta de sua casa o engenheiro Raul Nogueira, 52 anos, encosta o dedo médio num leitor biométrico que reconhece suas digitais. Ao entrar, começa a ouvir a música “I Started a Joke”, dos Bee Gees, enquanto as luzes vão se acendendo. Na suíte, a água da banheira já está preparada em uma temperatura agradável e pré-programada para um banho relaxante. Já na sala, aperta apenas um botão do controle remoto para que as cortinas se fechem, as luzes se apaguem e a TV sintonize um canal ou filme preferido, acompanhado do Dolby Surround de seu aparelho de home theater. Tal conforto parece ter saído do desenho animado “Os Jetsons”, mas a casa de Nogueira fica em São José dos Campos, longe do arranha-céu futurista da animação infantil. A automação residencial está presente na vida do engenheiro desde 2006, quando resolveu investir pesado para ter ao seu alcance toda comodidade de uma casa hitech, que pode ser controlada de qualquer lugar do mundo. “Prefiro não falar quanto custou o projeto, é uma coisa muito particular. Contratei o serviço de uma empresa de São Paulo e estou satisfeito”, disse. Mas não foi pensando apenas no conforto que o engenheiro resolveu investir em automação residencial. Se com o dedo médio Nogueira consegue abrir a porta de sua casa e acionar diversos aparelhos ao mesmo tempo, pressionando o leitor biométrico com um outro dedo é possível avisar a segurança do condomínio em que mora em caso de roubo ou sequestro. “Claro que o conforto tem um peso muito grande na decisão, mas a segurança também é fundamental. Consigo monitorar minha casa de qualquer lugar, ver tudo o que está acontecendo. Já tive problemas com assaltos e hoje a sensação de insegurança é quase nula”, explicou Nogueira. De acordo com Antônio Luiz Grabaldo Junior, proprietário da OnVale, empresa de
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CONFORTO Dormitório tem iluminação ativada assim que o proprietário entra na casa
A Casa Inteligente Crie Cenários Você pode combinar efeitos de iluminação, climatização e sonorização criando cenários específicos para cada ocasião. Podendo acioná-lo com apenas um toque
Viaje Tranquilo Programe horários para acionamento de luminárias, sistemas de irrigação de jardins e abertura de cortinas para simular presença de pessoas em sua residência
Controle Virtual Pela internet ou smartphone controle todas as funções pré-programadas
Esqueça as chaves Abertura de portas por meio de biometria com integração de outras funções, como por exemplo, ligar aparelho de som, TV, luzes e telefone
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SEGURANÇA Acesso biométrico garante maior segurança à residência e integração com demais equipamentos
soluções tecnológicas de Taubaté, a automação residencial consiste basicamente em integrar todos os equipamentos elétricos de um local para sua otimização, tais como televisores, home theater, DVDs, ar condicionado, banheira, piscina, luzes, entre outras dezenas de aparelhos. A instalação de determinados produtos, como calefação de piso, aspiração central, leitores biométricos, câmeras e alarmes perimetrais, e demais acessórios também entram dentro do conceito de automação residencial. É um arsenal tecnológico que custa caro, mas que vem ganhando cada vez mais mercado, crescendo 40% nos últimos três anos no Estado de São Paulo. “Muitas construtoras estão procurando a gente para preparar um empreendimento para seus clientes. O custo da obra aumenta de 7% a 15% com a automatização, mas o imóvel é valorizado em até 30%. A comodidade proporcionada é muito grande, é possível comandar todo o sistema pela internet, de um notebook ou smartphone, por exemplo,” explicou Junior. A maior residência automatizada do Brasil está sendo construída em Campos do Jordão. A obra, conduzida pela OnVale, já ultrapassa 5.000 metros quadrados de área construída e pertence a um empresário da capital. A previsão é que o projeto termine em dezembro deste ano. “Estou pesquisando ainda para saber se não é a maior residência do mundo”, disse Junior. Investimento Quanto maior o conforto exigido, mais caro e sofisticado será o sistema. Somente para automatizar luzes, ar-condicionado, TV, som e persianas numa casa de 250 metros quadrados gasta-se de R$ 15 mil a R$ 25 mil, sem contar o preço dos aparelhos. “Costumo mostrar que automação não foge dos itens que são necessários dentro de uma residência. As pessoas estão começando a enxergar que automação residencial já faz parte da obra”, disse Thales Cavalcanti diretor executivo da Aureside (Associação Brasileira de Automação Residencial) e proprietário da Techdomus, empresa especializada no segmento. •
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DUELO DE GIGANTES
iPHONE 4VS EPHONE4GS
Parecidos, mas diferentes l rigina o o h l e apar
hinês
c clone
VISUAL O visual do aparelho original e do clone é semelhante. Ambos com tela 3,5 polegadas sensível ao toque e com apenas um botão. Os aparelhos “shanzhai” têm até a maçã da Apple: a diferença é que a mordida na versão chinesa fica do lado esquerdo GRÁFI GRÁFICOS O iPho iPhone tem melhor resolução, íc ícones bonitos e animações atrativas. a Além disso, a tela é widescreen, dando mais eespaço para os ícones e para a assistir a um filme SUPOR TÉCNICO SUPORTE Por se tratar de um aparelho homo homologado, o suporte do iPhon iPhone é dado pelo fabricante –a Apple. Já no clone, pouco poucos têm conhecimento técnic técnico para lidar com ele
São José dos Campos
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teve Jobs, executivo-chefe da Apple, conseguiu. A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) liberou a venda do iPhone 4 no Brasil. No entanto, mesmo antes de colocar seu produto nas prateleiras, Jobs precisará encarar um concorrente de peso no mercado de telefonia. É a versão chinesa do smartphone conhecida popularmente como “ePhone4GS”. O produto chegou em diferentes formas e tamanhos para disputar a preferência do consumidor. Sem a mesma sofisticação do original, a versão “shanzhai” possui tela de plástico no lugar do vidro. Por isso, acionar as funções touchscreen pode não ser uma tarefa tão simples, em alguns momentos, a pressão exercida com o dedo deverá ser maior.
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Hoje, já é possível visitar lojas de artigos eletrônicos, como as instaladas na rua Santa Ifigênia, na capital, e no centro de São José, e encontrar o ePhone4GS por R$ 400. Por ter algumas características diferentes, o modelo é mais barato que o verdadeiro— o preço real do iPhone 4 no Brasil ainda não foi divulgado, mas fora do país sai por US$ 299. De acordo com Luiz Henrique Cruz, engenheiro de computação especializado em novas tecnologias, a capacidade de até 16GB prometida no chinês é atingida somente por meio de um cartão de memória comprado a parte. Já o iPhone 4 tem capacidade de até 32GB de memória interna. Outra característica exclusiva do genéricos, que pode ser vista por um lado positivo, é a captação de sinal de TV aberta. Para você não deixar se enganar pelo preço, que é um dos maiores atrativos do ePhone4GS, comparamos as versões pobre e rica do aparelho celular mais cobiçado do planeta.•
OUTR CARACTERÍSTICAS OUTRAS A espessura espe de apenas 9.3 milímetros torna o iPhone 4 um dos telefones mais finos que existem. O ePhone4GS permite usar dois chips ao mesmo, evitando carregar dois celulares.
ACESSÓRIOS É mais fácil encontrar acessórios para o iPhone, porém assim como o aparelho, os preços são salgados
PREÇO O iPhone 4 custa, em média, US$ 299 nos EUA. Seu antecessor custava R$2.700 no Brasil, variando conforme o plano das operadoras. O Hiphone é encontrado por até R$ 400
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Moda&estilo MODA PRAIA
Biquínis verão 2011 Cristina Bedendo São José dos Campos
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verão brasileiro pede moda praia. E com o aumento das temperaturas, nada melhor do que renovar as opções de biquínis na gaveta ou até mesmo usar as peças que você já tem, só que de novas maneiras, com um toque atual. Aliás, personalidade é o que não falta entre as novas ofertas da moda praia brasileira: há centenas de opções e modelagens para todos os corpos. Na estamparia, a temporada gira em torno de alguns temas, como os animais, que aparecem num mix de safári e militar, com muitas estampas de onça em diversos estilos. Entre as marcas que apostaram nessa tendência estão a Cia Marítima, Paola Robba, Triya e Blue Man. Outro estilo que já é marca registrada do verão brasileiro são as estampas tropicais. O que é novo? As combinações de diferentes motivos florais, como fez a Salinas, e as estampas misturadas a tons neutros ou militares. A Salinas, aliás, conta com modelos tomara-que-caia, com calcinhas em diferentes tamanhos, dos menores aos maiores, estilo anos 50. Por falar em anos 50, as formas da década serviram como ponto de partida para a estilista Adriana Degreas (leia-se praia com sofisticação), que fez sua estreia na última edição do São Paulo Fashion Week, depois de passar pelo Rio Summer. Entra em cena, portanto, uma moda praia mais retrô, com bustos estruturados e cintura alta, principalmente em tons de nude, bem
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2011
, animais Temas ourados d nudes e põem com ão a estaç
TOMARA-QUE-CAIA Ao lado das versões de um ombro só, modelo continua como hit do verão e é uma das apostas da Cia Marítima
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TROPICAL Estampas tropicais, a cara do verão brasileiro, surgem com misturas, como neste modelo da Água de Coco
ARCO-ÍRIS Tons pastéis, como azul, verde, amarelo e rosa contrastam com os fluorescentes, como neste look da Água da Coco
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minimalista. “É uma linha voltada para uma mulher mais madura”, afirmou Adriana. E há ainda alguns tecidos de alta costura misturados com a lycra, muito brilho e drapeados. Nesse clima retrô, que tem um toque de boudoir (inspiração nas lingeries), a coleção da Rosa Chá, assinada por Alexandre Herchcovitch, também se destaca com formas de corsets com babados em seda na região do quadril. Segundo o estilista, foram usados os mesmos tecidos da coleção anterior, típicos do beachwear, como a seda com elastano. Já os maxivestidos de seda ganharam uma mistura de praia com underwear, que vale tanto para as areias quanto para os looks urbanos, com a sensualidade sutil das transparências e peças fluidas. “Moda praia é muito difícil de inovar, pois é preciso que seja uma roupa utilitária, que tampe o mínimo possível e, ao mesmo tempo, que mostre o corpo com sutileza”, explicou Herchcovitch. Além do estilo boudoir, a coleção da Rosa Chá também ganha pontos no quesito tropical por conta das estampas: os florais deram lugar às folhagens e aves, com leves transparências. Estampas étnicas com modelagens que proporcionam diferentes amarrações também aparecem bastante, já que a versatilidade tende a conquistar as consumidoras. As grifes Movimento e Cia Marítima investiram nesse sentido, com peças em formas mais fluidas para acompanhar os biquínis e maiôs. Entre as estampas, a Movimento aposta em tribais, pôr-do-sol e ícones que remetem à água. Já a Cia Marítima segue pelo lado mais étnico, com estampas animais e outras mais abstratas. Na cartela de cores, tons fortes como o coral e o turquesa –hits da temporada– são coordenadas com nude, marrom e verdes. Acessórios Mais uma vez os acessórios ganham destaque também na moda praia. Prefira brincos, colares e pulseiras em dourado e fique de olho em pedras coral e turquesa –até mesmo nos detalhes de biquínis e maiôs. Os chapéus de palha, no estilo panamá, também serão hit na estação, tanto com a função de proteção do sol como nos looks urbanos mais descontraídos. Enfim, a maneira mais nova de apostar na moda praia são as peças que saem da praia direto para um programa informal e que não se limitam somente à beira-mar. Tudo isso porque o que a mulher busca, além da sensualidade, é a praticidade.
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Moda Mod
CINTURA ALTA Modelo promete deixar a g menos à mostra e o barriga corpo mais bonito, como o neste look da Movimento o
BOUDOIR A inspiração nas lingeries ngeries endas traz detalhes em rendas omo e transparências, como osa Chá neste modelo da Rosa
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NEOPRENE RETRÔ É um dos novos tecidos para a temporada; aproveite para misturar essa inspiração do surfe com as modelagens retrô, como fez a Neon
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ANIMAL PRINTS Estampas animais não ficam de fora e aparecem com elementos militares e étnicos, como nesta versão da Triya
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AMAZONISTA
Nova coleção traz tom fluorescente
A nova coleção da Melissa foi batizada de “Amazonista” e é inspirada nas cores, formas e na riqueza da cultura amazônica. Os nomes dos modelos remetem à fauna, artesanato e plantas da região. Um dos destaques que já está nas lojas é a Melissa Aranha Quadrada, um clássico da marca que ganha tons fluorescentes para a temporada quente. Preço médio: R$ 70.
JOULIK
Grife abre loja na Oscar Freire
MINIMALISMO Os tons de nude também chegam à moda praia, como neste modelo com inspiração nos anos 50 da Adriana Degreas
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A Joulik, grife que vendia apenas online, inaugurou no mês passado a sua primeira loja na rua Oscar Freire, em São Paulo. Para comemorar a casa nova, as estilistas Karen e Katiúscia Moraes já lançaram a coleção de verão 2011, que conta com muitas peças nave e étnicas, num mix das principais tendências da temporada. Uma coleção linda! •
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Tempos ModernosArtigo
Alice Lobo
Algodão doce desbanca o veneno do formol da ‘escova progressiva’
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ocê passaria na sua pele ou no seu cabelo um produto com ingrediente considerado cancerígeno em nome da beleza? E se não houvesse opção para obter o mesmo resultado? Pois é, muitas vezes as pessoas colocam a vaidade acima da saúde, conscientemente ou não. Um exemplo clássico pode ser presenciado em qualquer cabeleireiro. Existe coisa mais desagradável do que estar em um salão de beleza e sentir aquele cheiro forte e a fumaceira da ‘escova progressiva’? Ou melhor, do formol ou químico parecido presente na sua composição? Apesar de ter sido proibido pela Anvisa no ano passado, profissionais da beleza continuam usando e ameaçando a saúde todas as suas clientes. As mulheres que querem um cabelo liso e os cabeleireiros que se sujeitam a fazer esse “envenenamento mascarado” deviam usar, pelo menos, um espaço separado. A boa notícia é que uma empresa brasileira chamada Cadiveu desenvolveu um produto sem formol que promete revolucionar este mercado e já está fazendo sucesso mundo afora. O Glamour Rubi Reestruturante alisa o cabelo, reestrutura os fios e elimina o frizz com um ativo totalmente vegetal proveniente da cana-de-açúcar e com pó de rubi, aquela cobiçada pedra preciosa vermelhinha mesmo.
CONSCIÊNCIA “Existe coisa mais desagradável do que estar em um salão de beleza e sentir aquele cheiro forte e a fumaceira da ‘escova progressiva’? Ou melhor, do formol?” CABELOS lisos e com perfume adocicado
Mas a grande novidade é que este produto será lançado por aqui no início de setembro e estará disponível em mais de 20 cabeleireiros do Vale do Paraíba. Como não podia deixar de comprovar a sua eficiência, fui acompanhar a demonstração do produto no recém-inaugurado centro de estética Passion Professionnelle, em São José dos Campos. O cabeleireiro Bruno Galhardo escolheu um cabelo típico de quem procura a escova progressiva e fez todo o procedimento. O resultado foi surpreendente. Cabelo liso e macio. E no lugar do cheiro forte, um leve aroma de algodão doce, que não irrita os olhos e relembra a infância. E por falar nisso, este
produto natural pode ser usado por grávidas e até por crianças, acredita? É em nome destas alternativas mais saudáveis para o ser humano e para o planeta que o mercado de beleza sustentável cresce a cada ano. Mas aí chegamos ao ponto da coluna do mês passado: não caia no greenwash. Para distinguir o lado bonito e o feio da indústria da beleza leia “Not Just a Pretty Face - The Ugly Side of Beauty Industry”, de Stacy Malkan, ou “Gorgeously Green”, de Sophie Ulliano, guru de beleza da atriz Julia Roberts. Ambos têm site frequentemente atualizado. Uma opção online nacional é o blog Green Gloss (www.greengloss.com.br). •
Alice Lobo Jornalista alice@valeparaibano.com.br
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PASSARELA Grazi Massafera é uma das estrelas que vão desfilar no Oscar Fashion Days
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Tudo certo para a 10ª edição do OFD Cristina Bedendo São José dos Campos
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scar Fashion Days, maior evento de moda do Vale do Paraíba, chega neste mês à sua 10ª edição com boas surpresas. O evento, que tem foco no setor calçadista, acontece entre os dias 23 e 25 no Pavilhão de Exposições do Núcleo Tecnológico, em São José dos Campos. É lá que serão realizados 30 desfiles, com a participação de Grazi Massafera, Sophie Charlotte, Adriane Biroli, Cássio Reis, Caio Castro e Rafael. No dia 22, a rede promove também a festa de lançamento de sua marca própria Oscar Woman, com desfile exclusivo para convidados, estrelado pela atriz Mayana Moura. Com a sala de desfiles em formato de arena, desta vez a passarela será em forma
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de X –10 em numeral romano. Segundo o diretor executivo do OFD, Álvaro Mirapalheta, são esperadas 5.000 pessoas por dia. “Estamos preparando uma estrutura bem marcante para a comemoração de 10 anos”, conta. Entre as marcas inéditas na passarela estão a Mormaii, Azaléia e Grendha. Outra novidade desta edição é que a festa de encerramento irá acontecer na própria sala de desfile, apenas para convidados. Para o empresário Oscar Constantino, idealizador do OFD, nesses 10 anos o evento cumpriu com o seu objetivo de levar informações de moda a um público que, muitas vezes, não tinha acesso aos desfiles. “Nosso objetivo sempre foi oferecer um evento democrático e acessível, prezando por qualidade estrutural e de informações e tendências de moda e consumo. Nas próximas edições iremos seguir a mesma linha, aprimorando novas parcerias e ações interativas”, disse. •
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Notas & fatos Amy Adams é convidada por Walter Salles para ‘On The Road’
Cleo Pires: ensaio sensual recordista
A ousada adaptação cinematográfica do clássico “On The Road”, do escritor Jack Kerouac, ganhou mais uma beldade. Depois de Walter Salles já contar com Kristen Dunst e Kristen Stewart, a bela e cobiçada Amy Adams entra para o elenco do longa que deve chegar aos cinemas em 2011. Amy será Jane, a esposa junkie do personagem Old Bull Lee, interpretado por Vigo Mortensen e inspirado no escritor Neal Cassady. Além deles, também estarão no filme Sam Riley, como Sal Paradise, e Garret Hedlund, como Dean Moriarty. Kristen Stewart será Mary Lou e Kirsten Dunst vai interpretar Camille (a mulher de Moriarty). O projeto de levar o clássico ao cinema passou anos em desenvolvimento e gerou até um documentário que Salles fez sobre sua viagem.
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As fotos de Cleo Pires Ilustraram 50 páginas da Playboy chegou em agosto às bancas com 625 mil exemplares e duas opções de capa para a edição comemorativa de 35 anos. A tiragem média é de 260 mil revistas. A atriz, que será protagonista em Araguaia, não teve muito tempo para se preparar para o ensaio. “O pessoal da novela cedeu quatro dias”, disse Cleo no dia do lançamento da revista.
Especula-se que o cachê chegou a R$ 1 milhão, o maior já pago. Quanto à opinião da família, a filha de Glória Pires e Fábio Jr. disse que não recebeu o incentivo da mãe. “Não incentivou, nem me colocou pra baixo. Ela perguntou se eu estava feliz e respondi que sim. Ela falou então vai fundo”, disse a atriz, que não consultou a opinião do pai: “O dia que o encontrar, ele vai falar o que achou.”
NOVIDADE
Marilyn Monroe, a poetisa Textos pessoais, cartas e poemas totalmente inéditos de Marilyn Monroe, que serão publicados em um livro que será lançado em outubro, levantam um véu sobre uma faceta desconhecida de um dos grandes ícones do século 20: sua alma de poeta. Intitulado “Fragmentos”, o livro editado pelo francês Bernard Comment e o produtor de cinema americano Stanley Buchthal, reúne também 33 fotos pessoais da trágica e sedutora artista, assim como trechos de seus diários íntimos, que revelam seu extraordinário amor pela literatura e os livros.
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Quem falou o quê?
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Rod Stewa FAMÍLIA MAIOR
Rod Stewart será pai pela oitava vez O cantor Rod Stewart, 65 anos, revelou que sua mulher, Penny Lancaster, 39 anos, está grávida de três meses, esperando o segundo filho do casal –o primeiro, Alastair, nasceu em novembro de 2005. Stewart teve sua primeira filha aos 19 anos, mas a criança foi entregue para adoção. Do primeiro casamento, com Alana Hamilton, nasceram Kimberly, 30 anos, e Sean, 29 anos. Do relacionamento com Kelly Emberg nasceu Ruby, 23 anos. No segundo casamento, com Rachel Hunter, o cantor teve Reneé, 18 anos, e Liam, 15 anos.
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CINEMA
Emma Watson radicaliza o visual
”Faço amor duas vezes por semana e tomo Viagra. Posso dizer que aos 84 anos isso ajuda. É uma pequena ajuda de Deus” Hugh Hefner, dono da “Playboy”
”Eu falo palavrão de vez em quando, sim” De Sandy Leah, cantora
A atriz Emma Watson, a Hermione de ‘Harry Potter’, arriscou visual novo em sua página no Facebook. Com cabelos curtos, a moça deixa de vez o visual de menina ingênua. COSMÉTICOS
Armani contrata atriz Megan Fox
”Quando o amor mor ria acabava, queria me rastejar como um animal que o” está morrendo”
Já pensou em morar na ‘Terra do Nunca’? A mansão em Los Angeles onde Michael Jackson vivia no dia de sua morte, em junho do ano passado, foi colocada à venda por US$ 29 milhões. A propriedade de 1.600 metros quadrados e de estilo francês fica no luxuoso bairro de Bel Air e tem sete quartos, sete vagas na garagem, 12 chaminés e 13 banheiros, além de mais de meio hectare de terreno em volta da casa.
Jennifer Lopez, atriz e cantora, sobre o fim dos seus namoros antes do casamento com o cantor Marc Anthony
”Tenho pouquíssimos amigos e dificuldade de fazer grandes amizades. Às vezes, queria ser diferente, mais espontânea” Débora Falabella, atriz
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A atriz Megan Fox foi escolhida como a nova estrela da linha de cosmésticos da Armani, marca pela qual já desfilou jeans e lingeries. Fotografada por Craig McDean, a campanha só será divulgada em outubro. De acordo com o site Grazia Daily, Megan disse estar honrada por mais uma vez representar a grife. “Armani é um ícone e visionário em relação a tudo que diz respeito à moda”, disse a atriz.
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ValeViver ARTES CÊNICAS
Festivale completa 25 anos Festival organizado pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo chega à 25ª edição consolidando São José como um dos polos de produtividade cênica do país
Hernane Lélis São José dos Campos
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onseguir manter uma relação estável, seja ela qual for, é um grande desafio para as partes envolvidas. É necessário paciência, criatividade, compreensão e acima de tudo desejo de prosperar. A união desses e de outros elementos garantiram aos amantes das artes cênicas de São José dos Campos e região alcançar a marca de 25 anos do Festivale (Festival Nacional de Teatro do Vale do Paraíba), organizado pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo. As duas décadas e meia do evento, completadas no último dia 2, são resultado do interesse mútuo do público e companhias teatrais em consolidar o Vale como circuito nacional do segmento. Levando cada vez mais pessoas aos espetáculos e garantindo
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alto nível nas apresentações. A expectativa é que pelo menos 30 mil pessoas prestigiem as peças nesta edição –o dobro da plateia do ano passado. A Fundação Cultural Cassiano Ricardo recebeu quase 200 inscrições de grupos teatrais interessados em participar das comemorações. Desses, 21 foram selecionados, sendo seis do Vale do Paraíba (três de São José, um de Taubaté, um de Caraguatatuba e outro de São Sebastião). A seleção foi realizada por uma comissão julgadora composta por três profissionais da área, que analisaram imagens, fotos, roteiros e outros materiais relacionados às apresentações. Companhias teatrais de São Paulo, Curitiba, Presidente Prudente, Niterói, Goiânia, Belo Horizonte, São José do Rio Preto, Florianópolis, Campinas e Barão Geraldo completam a lista dos aprovados. A participação de grupos de outras cidades e Estado, segundo Claudio Mendel, diretor cultural da FCCR, é reflexo dos trabalhos realizados
INSENSATEZ A atriz Fernanda Couto que interpreta a cantora Nara Leão no espetáculo ‘Nara’
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ao longo desses 25 anos de projeto, que garantiram ao Festivale reconhecimento nos cenários nacional e internacional. “No início, o festival não era realizado em São José, era um evento regional mesmo. Acontecia simultaneamente em outras cidades em função das dificuldades de organização e verba. Acabávamos dividindo as despesas e os espetáculos com os outros municípios. A participação era quase que exclusiva de grupos da região, poucos vinham de outras cidades. A média de inscrições ficava entre 40 e 50 interessados”, disse Mendel. Mendel, que também é ator e diretor, foi um dos precursores do evento. Ele lembra que o festival começou a ganhar repercussão a partir de 1989, em função de algumas experimentações teatrais, como selecionar obras consagradas que tenham sido tratadas de uma forma diferenciada por determinados grupos, além de buscar maior participação de companhias de outras localidades e diversificar a programação. “Nossa rede de contatos começou a ficar maior. As pessoas começaram a se comunicar e levavam o Festivale para todos os cantos. Por isso, a importância em se ter contato com outros grupos. As companhias teatrais da região também garantem com isso condições de parâmetros para suas obras, podem criticar aquilo que estão produzindo”, explicou Mendel, que destaca ainda a participação do público para o sucesso do Festivale. “Tivemos muitas experiências desastrosas. Algumas vezes pouca gente assistindo um espetáculo e outras com o teatro lotado em uma peça que não estimulava a plateia a pisar em um teatro novamente. Mas isso garantiu alguns reajustes para conquistar o reconhecimento que temos hoje. A região já é considerada como um polo de produtividade cênica, como referência teatral e de dança”, disse o diretor. Participação Mesmo servindo de vitrine para as artes cênicas do Vale do Paraíba, a participação de grupos teatrais da região ainda é baixa no evento. Nesta edição, dos 198 inscritos apenas 12 são da região. Glauce Carvalho, atriz e produtora do Grupo Caixa de Histórias, de São José, acredita que alguns grupos estão procurando se profissionalizar ainda mais para poder concorrer ao edital do evento. “Acho que em toda cidade existe grupos amadores, profissionais e outros que estão se profissionalizando. O edital abre espaço
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para todos, é preciso cumprir o que se pede e apresentar uma boa proposta. É importante a participação de companhias de outras cidades, é uma troca de experiência. Pode ter também muita gente desacreditada”, disse Glauce. Para ela, o desenvolvimento das artes cênicas na região está relacionado diretamente ao Festivale, no entanto, o setor precisa de outros eventos na área para evoluir ainda mais. “Falta espaço físico para apresentação. O Teatro Municipal é muito concorrido e é difícil conseguir agendar alguma coisa. Procuramos ambientes alternativos, porém não garantem grande público”, explicou. A possibilidade de incluir na atual programação cultural de São José novos eventos teatrais já é estudada pelo presidente da FCCR, Mário Domingos de Morais. “Fica uma sugestão interessante. De fazermos apresentações fora do Festivale, que é um evento já consagrado. Com mostras regionais, é uma boa ideia. Até quem for classificado nesse regional, ter uma garantia de participar do Festivale”, disse Morais. O maior problema para levar adiante o projeto está na verba que demandaria um novo festival. “Acho que dá para fazer uma pré-seleção regional, como uma amostra regional. Tudo depende de investimentos, já que os orçamentos são sempre limitados. Sempre podemos fazer mais, a gente tenta”, afirmou o presidente da Fundação. Programação A 25ª edição gratuita do Festivale, que começou no dia 2 com a apresentação da peça “Um navio no espaço ou Ana Cristina César”, dirigida e encenada pelo ator Paulo José, marcou a abertura do evento. No dia 3, foi a vez do primeiro grupo da região subir ao palco. A Companhia do Balakko Baco, de Taubaté, encenou “O Fabuloso Destino de Amália Mazzaroppi”, no Cine Teatro Santana. O espetáculo “Nara”, que conta a história da musa da bossa nova Nara Leão é a principal atração do Festivale do dia 5, às 21h. Na peça, flashes sobre a vida profissional e pessoal da cantora, acompanhada de suas canções. No total, são 20 músicas, entre elas, os clássicos “Insensatez” e “Diz Que Fui Por Aí”. A difícil tarefa de interpretar Nara Leão fica por conta da atriz Fernanda Couto, que pesquisou a MPB durante anos. Ela divide o palco com os atores Rogério Romera, Sílvio Venosa e Rodrigo Sanches. “Acreditamos que essa edição do Fes-
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DESTAQUES Dia 5 19h: Folia do Homem Diabo Parque da Cidade 21h: Nara Teatro Municipal
DANÇA ‘A Pedra e o Lago’ traz a bailarina Cristiane Azevedo com intervenções de dança contemporânea
As duas décadas e meia do evento são resultado do interesse mútuo do público e companhias teatrais em consolidar o vale como circuito nacional do segmento
Dia 8 10h e 15h: Kalathan - Em busca da jóia da fantasia Teatro Municipal 10h: Maravilhosas Histórias para Albak Espaço Cultural Tim Lopes 15h: Zé Malandro Casa do Idoso Dia 9 15h: A Casa de dentro da Gente Espaço Cultural Rancho do Tropeiro Eugênio de Melo 21h: Lamartine Babo Teatro Municipal Dia 11 19h: Pé Na Curva Parque da Cidade 19h: A Pedra e o Lago Cine Teatro Santana Dia 12 11h: Na Rua Vicentina Aranha 21h – As Tranças da Paixão -Teatro Municipal
LAMARTINE Com direção de Emerson Danesi, musical ‘Lamartine Babo’ conta a história do compositor
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tivale será marcada por este espetáculo. Quem assistiu me garantiu que é excelente, a atriz que interpreta a Nara encarnou a cantora na peça. O material que vi também é muito bom”, disse Mário Morais, presidente da FCCR. No mesmo dia, quem for ao Parque da Cidade, na zona norte de São José, poderá conferir a trama de “Folia do Homem Diabo”, que será apresentada pela companhia de teatro Controvérsias, de Pindamonhangaba. No teatro do Sesi, a partir das 19h, a Companhia dos Gansos encena “O Crápula Redimido”. Outro espetáculo confirmado que deve despertar a atenção do público é “Lamartine Babo”, um musical que conta a história do compositor de marchinhas e hinos de times de futebol. A peça é assinada por Emerson Danesi e será apresentada no dia 8, às 21h, no Teatro Municipal. No dia 11 serão duas apresentações às 19h –a peça “Pé Na Curva”, no Parque da Cidade, e “A Pedra e o Lago”, no Cine Teatro Santana . O Festivale encerra sua programação no dia 12 com apresentação do aclamado “As Tranças da Paixão”, encenado pela atriz Lucélia Santos e Maurício Machado. O espetáculo conta a história de Marivalda Revólver, dona de bar sozinha no mundo, e Paco, o malandro desocupado e sem rumo. Eles assumem ao longo da peça várias nuances com sentimentos e relações distintas. Ora são desconhecidos, ora mãe e filho, ora amigos, ora apenas homem e mulher, ora amantes. Ingressos Os interessados em assistir aos espetáculos teatrais do Festivale devem retirar os ingressos gratuitamente com uma hora de antecedência do início das peças, no local das apresentações. •
REVÓLVER Lucélia Santos e Maurício Machado encerram a programação do Festivale
Central de Vendas 12-3946 3055 ou 0300 789 8747
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Seis cordas que mudaram a história Há 40 anos o guitarrista Jimi Hendrix deixava o planeta para se tornar uma lenda que até hoje influencia gerações de músicos do mundo inteiro Adriano Pereira São José dos Campos
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ão se sabe exatamente quando, mas James Marshall Hendrix disse uma vez: “quando eu morrer continuem tocando os discos”. Mal sabia ele que mesmo depois de 40 anos da sua morte até disco inédito tenha sido lançado. Aliás, o menino tímido de Seattle, nos Estados Unidos, conseguiu algo que poucos mortais conseguiram: unir seu nome a um instrumento. Quando se pensa em guitarra elétrica inevitavelmente se pensa em Jimi Hendrix. Uma das coisas curiosas, e comum às histórias dos gênios, é que o músico demorou a ser reconhecido. Foi considerado talentoso apenas quando Chas Chandler, baixista do grupo The Animals, o levou para a Inglaterra. E famoso mundialmente apenas quando voltou de lá para os Estados Unidos. Antes disso, Hendrix chegou inclusive a se alistar e ser paraquedista do Exército americano durante um ano. Foi dispensado por quebrar o tornozelo, mas a experiência rendeu bons frutos. Ele costumava dizer que o som do vento no paraquedas foi fonte de inspiração para o som “espacial” de sua guitarra. A importância deste “som” é determinante para a música popular. O mundo já viu cente-
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nas, talvez milhares, de bons guitarristas, mas pouquíssimos, talvez três ou quatro, conseguiram colocar o instrumento num novo patamar quanto à sua execução. Hendrix foi além, determinou uma nova maneira de tocar guitarra, foi influenciador logo de cara. “Ele é o símbolo da guitarra, e se a guitarra é o símbolo do rock fica fácil entender sua importância. Criou técnicas que não existiam antes, inovou na forma de tocar, foi um grande compositor, cantava também e, além da violência que sua música tinha, ele também conseguia ser extremamente melódico”, diz o guitarrista Kiko Loureiro. Pete Townshend, guitarrista do The Who, diz em um documentário famoso sobre a história do rock que assim que viu o músico tocando ligou para Eric Clapton o convidando para ir ao cinema. Lá, às escuras, disse para o colega: “vamos perder nossos empregos, tem ‘um tal’ de Jimi Hendrix que nos coloca em maus lençóis”. Dois nomes mais do que respeitados na guitarra se sentiram ameaçados pelo talento do americano quando ele ainda não havia lançado nenhum disco. Hendrix morreu no dia 18 de setembro de 1970, com 27 anos, asfixiado com o próprio vômito depois de um coquetel composto por muito vinho e remédios para dormir. Houve quem alegasse suicídio e até homicídio, mas a versão oficial ainda é a de overdose. É o clichê oficial de vários artistas dos anos 70. Mesmo assim, seu legado continua vivo.
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A guitarra só pode ser compreendida antes e depois de Jimi Hendrix
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FOGO
Jimi Hendrix: “as vezes em que queimei minha guitarra foi como um sacrifício”
“Hendrix aprimorou a performance de tocar guitarra. Foi um símbolo de rebeldia, incorporou a coisa sexual no instrumento, atitude e conseguiu quebrar paradigmas que acabaram se transformando em padrões para muita gente. Todo mundo que veio depois se inspirou nele”, diz Rafael Bittencourt, um dos expoentes brasileiros atuais no instrumento. De fato, até no figurino Hendrix inspirou muita gente. De Ed van Halen a Seteve Vai. O guitarrista Steve Ray Vaughan foi talvez o maior exemplo dessa influência, além de incorporar inclusive a maneira de tocar guitarra. “Ele era praticamente a cópia ‘branca’ do Hendrix. Mas pouca gente sabe que ele influenciou inclusive o jazz. Miles Davies criou seu fusion a partir do que Hendrix fez. Durante um tempo na carreira ele até passou a se vestir como o guitarrista”, diz o Kiko Loureiro. “Não tem como não ser influenciado por ele, qualquer pessoa que resolva pegar uma guitarra hoje em dia vai ter que passar por Hendrix”. Fogo Uma das imagens mais simbólicas para o rock é a do guitarrista colocando fogo em seu instrumento no festival de Monterey, em 1967, enquanto tocava “Wild Thing”. Um fato curioso dessa apresentação é que Pete Towshend avisou que tocaria antes e quebraria a guitarra no palco. Hendrix nem se incomodou em ter seu “número” roubado. Subiu e tocou fogo no instrumento. Numa entrevista anos mais tarde ele disse: “Às vezes em que queimei minha guitarra foi como um sacrifício. Você sacrifica as coisas que você ama. Eu amo a minha guitarra”. O instrumento foi leiloado por R$ 1,5 milhão, em Londres, em 2005. “Ele era um grande showman. A guitarra tem que ser vista antes e depois de Hendrix. Ele mostrou como se fazia aquilo tudo e era extremamente intuitivo, não tinha aquela coisa de ‘vou fazer isso porque dá certo’. Tanto que ele não gostava do lance de tocar guitarra com o dente, essa coisa da repetição que todo mundo pedia para ele fazer ”, diz Sérgio Dias, guitarrista e líder dos Mutantes. Para o músico, a liberdade de tocar é o maior legado deixado por Hendrix. “Ele não tinha limites, conhecia o braço da guitarra como pouca gente conhece até hoje. Eu adoro o som dele. Com certeza me influenciou muito, absorvi o que fui capaz de absorver. No início dos Mutantes nem tanto, mas depois com certeza”.
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Fora dos palcos Desde o começo, a carreira de Hendrix nunca foi o que se pode chamar de bem gerenciada. Desde empresários gananciosos passando por disputas pelos direitos autorais de suas músicas, inclusive quando ele ainda estava vivo, todo mundo tentou lucrar com a genialidade do músico. Um exemjplo é sua trajetória entre as gravadoras. Da Track para a Polydor, da Capitol para a Ryko, da Reprise para a MCA, chegando finalmente à recém-pactuada coalizão entre a Experience Hendrix e a Sony Music. E, invariavelmente, toda vez que o catálogo de Jimi Hendrix muda de dono, o mundo ganha uma nova edição daquelas que são consideradas suas obras definitivas. Em 2010, os antológicos “Are you experienced?”, “Axis: Bold as love”, “Electric ladyland” e “First rays of the new rising sun” estão sendo reeditados, remasterizados e reembalados para o consumo. Mas o guitarrista foi um dos primeiros músicos a tentar tomar conta não apenas de suas composições, mas do processo de gravação e mixagem das músicas, ou seja, fazer a direção musical de seus discos. Isso nunca agradou as gravadoras. Atualmente, os direitos autorais do músico são propriedade da Experience Hendrix, comandada pela irmã do guitarrista, Janie. Com um estúdio montado em 1968, o músico gravava compulsivamente todos os dias. “Jimi era um workaholic. Depois que o estúdio Electric Lady foi construído, ele foi capaz de gravar constantemente por quantas horas ele queria. É como se ele soubesse que tinha apenas quatro anos para realizar tudo o que ele fez”, diz Janie. É com esse material que a irmã do músico garante poder lançar materiais inéditos como o mais recente “Valleys of Neptune”, lançado em março deste ano e que muitos criticaram pelo tal “ineditismo”. O fato é que apesar do disco ter 12 faixas nunca lançadas oficialmente, as músicas eram amplamente conhecidas entre os fãs. Mas Hendrix já havia dito: “uma vez morto, você está feito pelo resto da vida”. “Acredito que seja possível que exista muito material inédito. Para o processo de gravação era uma época completamente diferente de hoje. Autalmente você entra em um estúdio e grava partes, segundos de uma música, e os softwares de gravação vão replicando isso no restante da música. Nos anos 60 e 70, a música inteira era tocada e cada vez de um jeito. Além disso, era possível ficar tocando e gravando para depois aproveitar alguma coisa, os
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EM NÚMEROS
9 DISCOS Do guitarrista foram lançados desde 1967, cinco deles póstumos. O mais recente chegou às lojas neste ano
44 mi FATURAMENTO MUTANTE
Sérgio Dias: “a guitarra tem que ser vista antes e depois de Hendrix”
Beatles fizeram muito isso”, conta Kiko Loureiro. Aliás, essa diferença tecnológica também é notada na sonoridade da música de Hendrix e de todo mundo que tocava na época. Era um momento de descobrimento de efeitos e das possibilidades que um estúdio de gravação, além da experimentação natural aos músicos que seguiam esse caminho da psicodelia. Hoje, guitarristas do mundo todo têm apostilas, referências, técnicas apuradíssimas e uma centena de recursos que não existiam na época. “A molecada de hoje tem dificuldade em assimilar uma música intuitiva e livre como a dele”, explica Bittencourt. Para Kiko Loureiro, a questão é maior. “Até a guitarra era meio desafinada. Imaginem um cara jogar o instrumento no chão, pular, tocar fogo e esperar que ela não desafine. A geração que nasceu escutando CDs e gravando em estúdios modernos não consegue assimilar isso, uma distorção que não seja aplicada digitalmente, por exemplo. Os roqueiros de hoje são muito técnicos”. O próprio Hendrix já dizia: “para mudar o mundo, você tem antes que mudar sua cabeça”. Ou seja, mesmo que centenas de milhares de guitarristas técnicos com formações em tudo que se possa imaginar apareçam no mundo, poucos, talvez nenhum, consiga fazer o que Hendrix fez, ser um gênio em tão pouco tempo de vida. •
Foi quanto a “Experience Hendrix” faturou até hoje em gravações e merchandising com Jimi Hendrix
300 INÉDITAS Familiares alegam que ainda existem 300 músicas compostas por Hendrix que nunca foram lançadas
1,5 mi LEILÃO Foi o valor arrematado da primeira Fender Stratocaster queimada por Hendrix em um leilão realizado em Londres
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ValeViver
CULTURA
Mês de muito blues no Sesc Grandes nomes do estilo se apresentarão em São José, entre eles, o norte-americano Kenny Brown Adriano Pereira São José dos Campos
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me-o ou deixe-o. Com o blues é desse jeito, ou você é fã daqueles que chora ao escutar uma gaita ou não aguenta uma construção simples de três acordes. O fato é que se você gosta de rock é um dever passar pela fase do blues pelo menos por um tempo. Para celebrar o gênero, o Sesc de São José dos Campos preparou uma programação especial em setembro. Serão quatro shows com alguns dos nomes mais expressivos do blues nacional, além da participação do guitarrista e cantor Kenny Borwn, um norteamericano radicado no Brasil. Quem abre o projeto, no dia 4, é a banda mais popular de blues do país, o Blues Etílicos. Com 25 anos de estrada, o grupo foi talvez o único que tenha colocado o blues em um patamar popular no Brasil numa boa parte da década de 90. Um dos destaques da banda é Flávio Guimarães, considerado um dos melhores gaitistas brasileiros. O grupo abriu shows para B. B. King, Buddy Guy, Robert Cray, Sugar Blue, Ike Turner e Magic Slim, lançou 10 CDs e agora coloca no mercado seu primeiro DVD ao vivo, “Live at Bolshoi Pub”. No dia 11 é a vez do guitarrista e cantor Kenny Brown. Nascido em Nova Orleans (EUA), berço do jazz e do blues, tem 25 anos de carreira e já tocou na companhia de vários músicos, entre eles, Neville Brothers, Steve Ray Vaughan, Slash e a cantora Marva Wright. Radicado no Brasil, toca há oito anos na casa noturna Bourbon Street, em São Paulo. Depois dele, no dia 16, o pianista e cantor Adriano Grineberg, que já tocou com a Banda
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BRASILEIRO O Guitarrista Kenny Brown, radicado no Brasil, toca no dia 11, em São José
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okideias.com
Novo endereço GUITARRA Nuno Mindelis traz o show ‘Free Blues’ para o projeto do Sesc
Ira, Magic Slim, Ana Cañas, Blue Jeans, Andre Christovam e muitos outros, mostra seu primeiro projeto solo. No CD “Key Blues”, Grineberg aborda, ao piano, um repertório clássico imortalizado por guitarristas como Elmore James, Muddy Waters e Albert King. Natural de São Carlos (SP), o quarteto Blues The Ville marca presença nos mais importantes festivais do gênero, dividindo o palco e acompanhando grandes nomes do blues nacional e internacional como Flávio Guimarães, Danny Vincent, Greg Wilson, Holland K. Smith, Steve Guyguer e Gonçalo Araya, entre outros. Com David Tanganelli (gaita e voz), Netto Rockfeller (guitarra), Coxa (baixo) e Danilo Hansen (bateria), o grupo se apresenta no dia 17. Para fechar a programação, ninguém me-
nos do que um dos maiores expoentes da guitarra, o angolano Nuno Mindelis, que traz o show “Free Blues” para o palco do Sesc no dia 18. O disco tenta popularizar o estilo como diz o guitarrista. “Peguei em doze temas que mudaram a minha vida na adolescência, entre os quais alguns hits como “While my guitar Gently Weeps”, de George Harrison, e “Feeling Alright”, de Dave Mason, e decidi repetir o exemplo dos meus ídolos e mentores musicais, que nos anos 60 injetaram eletricidade, psicodelia e rock and roll ao gênero na sua forma mais rudimentar (o blues rural, anônimo até então) o que detonou uma renovação (e revolução) da linguagem, tornando-a mais acessível a inúmeras gerações dali em diante. E popular.” •
ETÍLICOS A banda carioca abre a programação
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MÓVEIS, FLORES & PLANTAS AV. ANCHIETA, 767 SJCAMPOS - TEL: (12) 3913-5017
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ValeViver V aleViver
CINEMA
A ordem é não arriscar Estreia de ‘Resident Evill 4 4’’ cconfi onfirma rma q que ue H Hollywood ollywood deixa de apostar em ideias mirabolantes, eias m irabolantes, rroteiros oteiros inéditos e propostas não anteriormente o ttestadas estadas a nteriormente
Franthiesco Ballerini São Paulo
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m tempos de crise econômica, a ordem nos estúdios de Hollywood não é só economizar, mas evitar grandes riscos. No universo cinematográfico, isso significa evitar filmes com orçamentos altos e propostas mirabolantes, inéditas, não testadas previamente por algum diretor ou produtor. É por essa e outras razões que se vive uma onda de franquias cinematográficas como nunca se viveu antes na telona. Em setembro, o quarto fruto de uma franquia milionária chega às telas. “Resident Evil 4” pretende seguir os passos lucrativos dos três filmes anteriores, que faturaram US$ 40 milhões em 2002, e outros US$ 50 milhões em 2004 e em 2007, isso só nos Estados Unidos, todos ultrapassando seus custos de produção. Dirigido por Paul W. S. Anderson, cuja carreira se resume praticamente a esta franquia, o quarto filme não traz muitas novidades à história, baseado em um famoso jogo japonês que mistura elementos de ficção científica, terror, suspense e muitas cenas de ação. Curiosamente, a maior novidade é tecnológica, já que se trata do primeiro filme da franquia feito em 3D, seguindo a moda tridimensional catapultada por “Avatar”. É a produção mais cara de todas as quatro,
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US$ 60 milhões. E o estúdio já mandou um recado para o diretor: se a trama der certo nas bilheterias mundiais, haverá um quinto filme, apesar de Anderson estar com a agenda lotada de outros projetos cinematográficos para os próximos anos. As franquias cinematográficas são alimentadas pelo gosto do espectador em acompanhar a saga de um personagem que não encerra em duas horas, garantindo-lhe uma maior complexidade, já que ele será desenvolvido ao longo de oito, até 12 horas de exibição, dependendo da quantidade de filmes. Elas são tão bem-sucedidas que duram até mais que seus livros de origem, no caso das adaptações. O exemplo é “Harry Potter”, a franquia mais bem sucedida de todos os tempos, que gerou mais de US$ 4,5 bilhões só nos cinemas. J. K. Rowling escreveu sete livros, que se transformaram em oito filmes, já que o último, “Harry Potter e as Relíquias da Morte”, lançado nas livrarias em 2007, irá aos cinemas em duas partes (novembro de 2010 e julho de 2011). Mas apostar no que já deu certo não é garantia de sucesso. E há dois exemplos recentes. Um deles é “Shrek 4”, que não surpreendeu nas bilheterias e levantou críticas negativas ao redor do mundo, apontando o desgaste e a falta de inovação das piadas. Pior que ele foi “Homem de Ferro 2”, que embora não tenha feito muito feio nas bilheterias mundiais, decepcionou os fãs, que criticaram a construção capenga dos personagens princi-
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RESIDENT EVIL 4
A atriz Milla Jovovich no papel da caรงadora implacรกvel do longa
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ValeViver
pais. Outra franquia que nem bem nasceu e já dá sinais de cansado foi “Sex and The City”, cujo segundo filme, lançado há um mês, não recuperou os US$ 100 milhões nos EUA. Embora seja um fenômeno recente, o conceito das franquias existe praticamente desde o surgimento do cinema. Foi nas mãos de Charles Chaplin que saiu a primeira e mais bem-sucedida delas. Quando criou o personagem Carlitos, Chaplin se deu conta de que o público não se incomodava de retornar aos cinemas para ver novas aventuras de um mesmo personagem.
FIASCO
Sarah Jessica Parker, de “Sex and The City 2”, que não conseguiu recuperar os US$ 100 milhões investidos
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James Bond Outro momento célebre das franquias no mundo foi nos anos 60, com o surgimento dos filmes de James Bond, que se transformou na franquia mais duradoura da história. Contabilizando até hoje 22 filmes oficiais e três não-oficiais da obra do britânico Ian Fleming, “007” foi responsável por ressuscitar a indústria cinematográfica britânica naquela época, embora tenha sufocado o British New Wave, uma espécie de Nouvelle Vague britânica que trouxe aos cinemas diretores fantásticos como John Boorman, Peter Yates, Nicholas Roeg e Lindsay Anderson. Mas James Bond é uma exceção porque foi uma das raríssimas franquias que deram certo com mais de um ator vivendo o personagem principal. É por isso que os estúdios fazem propostas tentadoras para manter os astros que querem desistir no meio do caminho. Eles tentam desistir não por dinheiro, mas porque sabem que pode-
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Fotos: Divulgação
‘Harry Potter’, a franquia mais bem-sucedida de todos os tempos, gerou mais de US$ 4,5 bilhões só nos cinemas
rão ficar estigmatizados por um único personagem –como aconteceu com Sylvester Stallone em Rambo. Para segurar Arnold Schwarzenegger no terceiro filme de “O Exterminador do Futuro”, o estúdio teve que desembolsar US$ 30 milhões de salário –um dos mais altos da história– além de dar ao ator participação nos lucros do filme e do DVD ao redor do mundo, o que pode ter até dobrado seu faturamento. Ele só não fez o quarto filme porque, dois meses depois que “O Exterminador do Futuro 3” estreou, ele virou governador da Califórnia, cargo que ocupa até hoje. Na lista das franquias mais poderosas do cinema figura também “Indiana Jones”, que gerou quatro filmes, milhões de dólares e, mais importante, entrou para os anais como um dos personagens mais bem construídos na história do cinema. “Homem Aranha” quebrou todos os recordes de bilheteria num fim-de-semana de estreia, só batido posteriormente por “Avatar”, que por sinal tem tudo para se tornar uma nova franquia. Dentre os poderosos também estão “O Senhor dos Anéis”, que só não gerou mais um filme por falta de livro, “Star Wars”, cuja história revolucionou Hollywood nos anos 70, tirando os estúdios do buraco e introduzindo o conceito de blockbuster –com milhões de dólares reservados para o marketing do produto. Por fim, está na lista também “Piratas do Caribe”, “Batman” e “Jurassic Park”. O Brasil está começando a aproveitar melhor a fórmula de sucesso das franquias.
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“Se Eu Fosse Você”, de Daniel Filho, surpreendeu em sua sequência e vai ganhar um terceiro produto no ano que vem. Depois do Urso de Ouro no Festival de Berlim em 2008, “Tropa de Elite” ganhou uma sequência, que chega aos cinemas no mês que vem. E até agora nenhum membro da equipe, inclusive o diretor José Padilha, negou a possibilidade de um terceiro longa caso este segundo se dê bem na bilheteria –inclusive porque será lançado com mais blindagem contra a pirataria. Projetos Se “Resident Evil 4” não der certo, Hollywood já tem muitas outras franquias para desenvolver nos próximos anos. O primeiro filme do “Lanterna Verde” nem estreou e a Warner já deu sinal verde para a produção do segundo. Se o primeiro for bem em bilheteria no ano que vem, o segundo e o terceiro serão filmados ao mesmo tempo. “Kung Fu Panda” deve ter uma longa vida nas telas a partir de 2011, substituindo “Shrek” no portfólio da Dreamworks. “Karatê Kid” está retornando às telas neste ano com expectativas de produzir pelo menos três filmes. Já a saga “Star Trek”, uma antiga franquia televisiva, começa a ganhar fôlego nos cinemas, com as filmagens do segundo filme em janeiro de 2011. E o quarto filme de “X-Men” chega em junho nos cinemas. Em outras palavras, apostar no que já deu certo continuará sendo a palavra de ordem por muitos anos no cinemão norte-americano. •
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ValeViver Rogério Marques/vp
LANÇAMENTO Capa do livro João Barandão e Outras Histórias, uma coletânea de quatro contos folclóricos
IMORTAL Ruth Guimarães, que publicou o livro João Barandão e Outras Histórias
LIVRO
Ruth, a voz do folclore no Vale São José dos Campos
uth Guimarães completou 90 anos e está mais viva do que nunca. Para comemorar o aniversário da maior contista do Vale do Paraíba, a editora Acatu publicou recentemente João Barandão e Outras Histórias, uma coletânea de quatro contos folclóricos recheados de pérolas de sabedoria e saborosas expressões regionais. “Eu vivo o folclore. Sou caipira. Sou de Cachoeira Paulista, do fundão do Vale. Nasci
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e cresci em fazendas e cidades pequenas”, lembrou a escritora, que ganhou projeção nacional com a publicação de seu primeiro romance, Água Funda, em 1946. Ruth nasceu em Cachoeira Paulista no dia 13 de junho de 1920. Com apenas dez anos de idade, publicou seus primeiros poemas em jornais locais. Mudou-se para São Paulo aos 18 anos e se tornou jornalista, numa época em que poucas mulheres atuavam nesta área. Viajou muito pelo país, escrevendo crônicas e artigos sobre literatura para a Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo, entre outras publicações. Com o nascimento dos filhos (são nove), decidiu largar o jornalismo
e se tornar professora. “Deixei o jornalismo porque ia criar um bando de filhos, e criar filhos é mais fácil para os professores. Sem viagens, e com mais tempo em casa”, explicou. A romancista tem mais de 15 livros no currículo, entre eles, Água Funda e Os Filhos do Medo, publicado em 1950. Como se não bastasse, traduziu uma dezena de obras de autores consagrados, como os franceses Honoré de Balzac e Alphonse Daudet e o russo Fiodor Dostoievski. “Sou tão velha que alcancei a época da hegemonia francesa e do francês obrigatório nas escolas. Além disso, fui aluna do Bastidinho, como chamávamos o (sociólogo) francês Roger Bastide, na USP (Universidade de São Paulo). Também passei algumas vezes pela Aliança Francesa. Já russo eu não sei. Traduzi em segunda mão do francês”, relatou. Eleita para a Academia Paulista de Letras em 2008 –afinal, foi a primeira escritora brasileira negra a ganhar projeção nacional–, Ruth lê de tudo, com voracidade. Define-se, inclusive, como “Gargantua”. Dizem que não dorme mais de quatro horas por noite. Entre seus escritores favoritos do momento, citou o moçambicano Mia Couto e o português José Saramago, que morreu neste ano aos 87 anos. Entretanto, questionada sobre os livros que levaria para uma ilha deserta, Ruth foi taxativa. “Jamais iria para uma ilha deserta. Gosto de gente. Mas se fosse, não levaria livros. Simbolismo à parte, levaria faca, martelo, serrote, um cobertor e uma caixa de fósforos”. Sabedoria popular, sempre. Projetos Aos 90, Ruth está cheia de projetos. “Sai este ano uma tradução minha do latim. Estou escrevendo um romance, bem devagar. Além disso, está no prelo uma coletânea de histórias e, meu primeiro livro, Água Funda, vai ser reeditado”, revelou. Pelo visto, o folclore do Vale ainda vai brilhar intensamente, ou melhor, ‘relumear’ por um bom tempo. •
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Sono perturbado São José dos Campos
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o encarte de seu novo trabalho, “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos” - título extraído da obra “Metamorfose”, de Franz Kafka, Otto escreve: “Este disco escorre por linhas e formas de caos”. Explica-se: Otto passou pelo seu inferno astral ao se separar de sua esposa e perder a mãe e a afilhada. De quebra, Otto estava sem gravadora, após sair da Trama. Mas o disco veio, e vem também seu show depois de um ano do lançamento do trabalho. No dia 18, às 20h30, no palco do Sesc de São José dos Campos, Otto desfila sua “maluquice” misturando composições do novo CD, ao qual a crítica atribui o título de melhor trabalho de sua carreira solo, com outras de seus três álbuns anteriores. •
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Cultura&mais Fotos: Divulgação
Frampton ao vivo
TEATRO
Pitty Webo e Daniel Del Sarto em S. José O que acontece quando três mulheres solteiras resolvem contar todas as suas aventuras?
Adriano Pereira São José dos Campos
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e você viveu a década de 80, quando as companhias de cigarros costumavam aliar seus produtos a uma vida cheia de ação e energia, com certeza cantarolou alguma música do músico inglês Peter Frampton. “Breaking all The Rules”, por exemplo, vinha pouco antes do slogan “O Sucesso”. Essa e mais tantas outras canções que se tornaram ícones de uma geração serão apresentadas pelo próprio compositor no dia 17, em São Paulo, no Via Funchal. Frampton começou a carreira ainda na adolescência, aos 16 anos, quando abandonou a
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escola para fazer parte da banda londrina The Herd. Em 1968, sua beleza juvenil fotogênica o levou a ser chamado de “O rosto de 68” pela revista teen britânica “Rave”. Mas foi sua performance na guitarra que o levou a ser notado e naquele ano ele formou a banda Humble Pie, com Steve Marriott, do Small Faces. Mas foi na década de 70, já em carreira solo, que alcançou sucesso mundial. Quatro anos da estreia em 1972, com “Wind of change, gravou o ao vivo “Frampton comes alive”, que inclui os sucessos “Do you feel like We Do”, “Baby, I love your way” e “Show me the way”. Depois disso, o próprio guitarrista reconheceu que perdeu-se durante muitos anos em uma névoa regada a álcool e drogas. No começo de 2010 lançou o álbum “Thank you Mr. Churchill”, segundo o próprio Frampton, um álbum autobiográfico, com clima introspectivo e nostálgico.
“Mulheres Solteiras Procuram” traz para o palco do Teatro Colinas, em São José dos Campos, o divertido cotidiano de três mulheres que se metem em situações hilárias. Através de uma linguagem contemporânea, representa o panorama da mulher atual, onde é possível entender o pensamento feminino, sem estereótipos. A peça dividida em esquetes cômicos, nos quais os atores interpretam diversos papéis, mostra que a mulher dos dias atuais procura a felicidade, alcançada por uma diversidade infinita de caminhos que levam ao sucesso pessoal e profissional. Com Pitty Webo e Daniel Del Sarto no elenco, o espetáculo estreia no dia 11 e fica em cartaz até 10 de outubro, aos sábados e domingos.
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DVD
TEATRO
DOORS
A antológica apresentação dos Beatles no programa de Ed Sullivan ganha edição restaurada
Neste ano o Theatro Municipal de São Paulo comemora 99 anos de sua inauguração
Escrita por Ben Fong Torres, essa é a primeira biografia autorizada do grupo californiano
Dia 12
MÚSICA
Cinema
CD’S & MAIS
Novo de Danny Boyle em novembro
VALE DESTAQUE
Maratona de muito rock no Mutley
JOHN LEGEND & THE ROOTS A voz negra de Legend encontra o groove do The Roots num disco que merece ser ouvido duas vezes PREÇO: R$ 30.-
Foi divulgada a data de lançamento do filme “127 hours”, do diretor Danny Boyle (de “Trainspotting” e “Quem quer ser um milionário?”). A nova produção chegará aos cinemas dos Estados Unidos no dia 5 de novembro. O longa abordará o incidente ocorrido com o alpinista Aron Ralston, em 2003.
Hollywood
O Mutley Music Bar, em Taubaté, completa neste mês 18 anos de funcionamento. Para celebrar a data, a casa organizou uma rodada de shows que vai de 9 a 11 de setembro e contará com nomes como Titãs e The Sound Trackers. O Mutley foi montado no início da década de 90 por dois adolescentes que não tinham nenhuma pretensão empresarial. Os irmãos Saulo e Oswaldo Roman queriam apenas um espaço para que pudessem tocar as próprias guitarras. Conseguiram mais do que isso, e largaram o palco para quem sabia tocar para ficar apenas no backstage. Hoje, o Mutley é uma das poucas casas que primam pela boa música e pelo público interessante no Vale do Paraíba. No dia 9, quem abre a comemoração são os paulistas do Titãs, com o show
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do disco “Sacos Plásticos”. Mesmo assim, será possível ouvir os grandes sucessos do grupo de discos como “Cabeça Dinossauro”, “Go Back” e “Õ Blesq Blom”. No dia 10, tocam duas bandas. A local Papo de Gato trazendo pop rock de pistas e a experiente banda Áries, que percorre os clássicos dos anos 60, 70 e 80. No dia 11, para encerrar a festa de maioridade do Mutley, é a vez da banda The Sound Trackers mostrar toda sua irreverência com hits mundiais. O sexteto, ao lado do apresentador da TV Cultura Rodrigo Rodrigues [que encarna Marty McFly, de “De volta para o futuro” nos palcos], irá apresentar um repertório baseado em trilhas de cinema, dos anos 50 até os dias de hoje –o figurino homenageia os campeões de bilheteria. Os ingressos vão de R$ 20 a R$ 60. É só acessar www.mutley.com.br.
BALANÇO POP O grupo Marron 5 traz o mesmo som pop que mistura raízes do soul e da black music PREÇO: R$ 35.-
PESADO COMO SEMPRE Para quem gosta, disco novo e porrada na cabeça. Pra variar PREÇO: R$ 35.-
Sandra Bullock é a mais bem paga
Entre junho de 2009 e junho de 2010, Sandra Bullock acumulou US$ 56 milhões. O dado é da Forbes e, segundo a revista, põe a atriz no topo entre as melhores pagas do circuito hollywoodiano. O dinheiro foi resultado de seu trabalho em “A Proposta” e “Um Sonho Possível”.
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Social
Flashes& Beatles nos 75 anos da ACI Mais de 700 pessoas lotaram o salão do Boa Nova Espaços para prestigiar o jantar de aniversário da Associação Comercial e Industrial de São José dos Campos. A festa marcou os 75 anos da ACI e a entrega do 1º prêmio Tuffi Simão, que homenageou quatro empresas eleitas de destaque no comércio da cidade: Tarzan, Luma Vale, CenterVale Shopping e Gaac, além da Cooperativa Cooper, que recebeu menção honrosa pelos seus 75 anos no mercado. Depois da premiação, jantar elaborado pelo buffet Trópikos e pista de dança ao som da Banda The Beatles Abbey Road. Felipe Cury e Lea Cury Fotos: Bruno Fraiha
João e Cristine Scarpa
Carmem e Humberto Dutra
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Fabio e Ana Assis
Jeane Machado e Almir Fernandes
Sonja Gabriela de Carvalho Ferreira e Marcos de Carvalho Ferreira
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Tamara Friggi e Roberta Berki
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Maria de Meireles Roxo e Francisco Humberto de Oliveira Roxo
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Claude Mary e Sergio Theodoro
Betty Zonzini e Aldo Zonzini Filho
Sheila Ferreira e Anderson Farias Ferreira
Ferreira e Marcos Liesack e Rose Constantino
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Marisia Donatelli e Renato Montijo
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Social
Evento de primeiras-damas A empresária Celeste Chad, fundadora da Ong Orientavida, de Potim, concretiza seu papel de primeira-dama da solidariedade em mais um grande evento. A empresária reuniu no Parque Vicentina Aranha, em São José dos Campos, mais de 300 pessoas de todo o Vale do Paraíba para o lançamento da campanha Outubro Rosa, de prevenção ao câncer de mama. Entre os convidados, destaque para Lu Alckmin e primeiras-damas de vários municípios que assumiram o papel de madrinhas da campanha. Lu Alckmin Fotos: Eugênio Vieira
Celeste Chad
prefeita de Cruzeiro, Ana Karin Andrade
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Luciana Bueno
Mara Bertaiolli
Lucia Reale Colucci
Rasana Dalla Torre
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Festa de três gerações Ramon Touron reuniu as três gerações da família espanhola para comemorar o centenário do pai, Alberto Castro Dominguez, um ex-militar espanhol muito bem disposto e ainda com excelente senso de humor. A festa, uma cerimônia religiosa seguida de almoço e dança flamenca, na Fazenda Limoeiro, em São José, reuniu 130 convidados. Entre eles, os casais Mercedes e Constante Romero e Alberto e Rosa Touron, que vieram da Espanha especialmente para a celebração. Giseli Grossi Fotos: Flávio Pereira
Jurema Pires Pinto e Nelson de Abreu Pinto
Alberto Castro Dominguez
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Rubens Barbosa
Mercedes Cabaleiro Villar e Constante Rodriguez Romero
Alberto Castro e Rosa Rodrigues Alvarez
Ramon Touron e Neusa Touron
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Social
Na Paulista de São José A empresária Egípcialinda, dona da boutique Viva Linda, acaba de ganhar novo espaço em São José. A boutique sai do reservado do Medson Tower, no Jardim Aquarius, para ganhar vitrine na Nove de Julho, uma das mais movimentadas avenidas da cidade. Para comemorar esse novo momento como empresária da moda, Egípcialinda montou uma open house. À ocasião, ela apresentou seus modelos exclusivos das marcas Nem, Patchuli, Campala e Karen Stein, confecções de Minas Gerais e São Paulo. Egípcialinda Fotos: Flávio Pereira
Daniela Barion e Dulcineia Dalio
Elaine Ramalho Guedes
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Claudia Araujo e Julio Lopez
Ricardo Leme
Fatima Fornachari
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Bom gosto e business O NDV Club, Núcleo de Decoração do Vale do Paraiba, se reuniu para uma feijoada de negócios na Mansão Eventos, em São José dos Campos. Arquitetos, decoradores e empresários marcaram presença no evento que teve um charme diferenciado com a moderna gastronomia do chef Mané Young, que inovou a tradicional feijoada com acompanhamentos leves e especiais. À frente do NDV está a empresária Carmem Alvim, da Teaser Comunicação. Carmem Alvim e Mané Young Fotos: Divulgação
Renata Silvério
Veridiana Guarnieri
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Margareth Mussio
Eneida Nascimento
Denise Campoy, Eliane Altenfelder e Márcia Salles
Francisco di Santo
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Viva a Vida
Carlos Carrasco
Como já dizia a letra da música: tudo passa, tudo sempre passará
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udo que se vê não é/ Igual ou do jeito que já foi um dia/ Tudo passa, tudo sempre passará. Delícia começar um texto com versos que sempre me tocaram, palavras que fazem parte da minha história. Ouvia Lulu Santos quando era adolescente e me envolvia com a melodia e letras, que, de alguma forma, queriam me dizer algo. Amor, paixão, letras que cantavam a natureza e toda sua beleza. Cantarolava o dia todo caminhando pelo bairro onde morava, a Vista Verde, com suas ruas cheias de árvores e jardins repletos de flores. Adorava quando ia chegando a primavera e as ruas ficavam coloridas. Tão lindo, tão romântico. No final da primavera, as ruas eram cobertas pelas flores que caíam. Mas como diz a música de Lulu, “tudo passa, tudo sempre passará”. Hoje me pego viajando o mundo, cada dia em um lugar diferente, com costumes diferentes, culturas diferentes, mas venho percebendo algo de estranho no ar. Mudanças estão acontecendo, o mundo está contaminado. As estações não são mais as mesmas, não é mais como era. Lembro de todas as estações. Todas tinham dia certo para acabar e começar. O que está acontecendo? Pelo amor de Deus, alguém me explica! Eu sei que o aquecimento global é o grande carrasco desta história,
FLORES “Adorava quando ia chegando a Primavera e as ruas ficavam coloridas” mas devemos ficar assim parados e ver tudo acontecer bem debaixo dos nossos narizes? Sexta-feira, 13 de agosto, andava eu por São José dos Campos e percebo que a cidade está mais linda, toda florida, ipês amarelos jorrando flores, lindo, lindo, lindo! Mas não é a hora para isso, elas deveriam florir em setembro. Não, está tudo errado! Coitadinhas! Estão sofrendo com certeza, e muito. Isso eu já tinha percebido em muitos lugares por onde passei. Esse fenômeno está ocorrendo no mundo todo, as estações ficaram loucas. Não sei mais em que estação estamos vivendo. Fico pensando em que eu poderia contribuir para que de alguma forma as coisas voltem ao normal. Será que posso ter uma brilhante ideia? Acho que não. Então me resta ler sobre o assunto, me informar melhor. Li que nos últimos 100 anos, au-
mentamos 0,7ºC e nos próximos 100 a previsão é de um aumento de 7ºC. Sabe o que significa isto? Estamos matando nosso planeta e não acho isso uma boa ideia. O clima da Terra está aquecendo e a causa é humana. Outro texto diz assim: “A luta hoje é chegar a concentrações consideradas seguras. Há uma necessidade de estabilizar a concentração e isso custaria dinheiro. Quanto? Chegar em 2030 com o PIB do mundo 3% menor”, ou seja, uma perda que faria um país atingir o mesmo nível de riqueza um ano mais tarde”. Mas quem quer perder tanto? Sempre achei que humanos eram uma espécie de vírus, e hoje entendo que realmente somos. Vírus do universo consumindo um planeta. Vamos perder algo que PIB nenhum vai poder comprar. •
Carlos Carrasco cabeleireiro
carrasco@valeparaibano.com.br
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Fotos ilustrativas
Confiança se conquista com o Tempo E foi com a confiança da população de São José dos Campos que a Helbor construiu uma história de sucesso na relação de uma incorporadora imobiliária com uma comunidade. Nossos empreendimentos residenciais e comerciais traduzem o compromisso que temos com o trabalho, a inovação e o respeito com os nossos clientes e com o mercado. De olho no futuro, reafirmamos nosso papel de estar ao lado de quem aposta na força e no desenvolvimento dessa cidade. O Vale Paraibano já faz parte da história dessa cidade.
www.helbor.com
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32 anos de experiência Presença em 25 cidades, 10 estados e o Distrito Federal 1 milhão e 300 mil m2 construídos
Passado, presente e futuro ao seu lado.
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