Jornal Chafariz Dezembro 218

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Bimestral • Director: Miguel A. Rodrigues • Nº 10 • 6 de Dezembro 2018 • Gratuito

Balanço de mandato

A economia, o ambiente, e os projetos para o futuro em duas entrevistas ao vereador da oposição e ao presidente da Câmara

Chafariz

de Arruda

Págs. 8 e 9

Poluição Rio Grande da Pipa

Encerramento compulsivo se indústrias não se adaptarem

Pág. 7

Junta de Freguesia de Arruda inaugura Centro de Marcha e Corrida

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Dona Laura e as suas mais de 1000 bonecas

Cada boneca tem a sua própria história e ficamos a conhecer algumas m pequenina lembra-se que queria muito ter uma boneca mas não era fácil para os pais, de origens muito humildes. Cobiçava a boneca de uma criança vizinha que não queria emprestar e foi o irmão que de uma pedra fez uns olhos e uma boca, arranjou uns tecidos e deu há muitos, muitos anos a Laura Coutinho, de 85 anos e “meio” como gosta de frisar, uma boneca de pedra, se assim podemos dizer, que encantou a então menina, até que a sua irmã mais nova decidiu mandar a “boneca-pedra” para dentro de um poço e foi o caos para Laura. Ainda teve um boneco de papelão, o Zezinho, que era uma “loucura” mas que um dia foi es-

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patifado pela menina Maria Rosa, uma amiga de infância. Passaram os anos, e já perto da terceira idade, dona Laura, como lhe chamam os vizinhos, entregou-se ao colecionismo de bonecas de todo o tipo: de plástico, de porcelana, de peluche. Nesta altura a sua casa, é praticamente ocupada por este mundo de fantasia que deixaria qualquer criança fascinada. Muitas das suas bonecas têm uma história para contar… É que deste universo de mais de 1000 bonecas, escassas são as que comprou. Se bem que ainda guarde muitas das que foi dando ao longo dos anos a filhas e netas, um número considerável foi oferecido por arrudenses que sabendo desta paixão a vão presenteando, de vez em

quando, com mais uma boneca. Há sempre espaço para mais uma Palmira, uma Aline, ou uma Ester, ou qualquer outro nome mais ou menos na moda. Porque todas as bonecas têm um papelinho com o nome escrito. Mas as que mais lhe dizem são também as que encontrou já prestes a irem para o caixote do lixo, abandonadas aqui e ali, como “indesejáveis”. Ou porque já não tinham um braço ou uma perna, ou simplesmente porque deixaram de ser a companhia preferida para brincar de uma qualquer criança. Laura Coutinho dá nova vida a essas bonecas, faz-lhes vestidinhos aos folhos, tem uma caixa só com braços e pernas quando tem de vestir o fato de cirurgiã de bonecas, e não se esquece

Rosinha Olá, Amiguinhos! Hoje vou falar-vos sobre o S. Nicolau. Sabem quem é? É o nosso Pai Natal! S. Nicolau nasceu na Ásia, numa família de cristãos muito afortunados e sempre demonstrou ser uma pessoa muito humilde e bondosa, fazendo até alguns milagres! A certa altura, S. Nicolau descobriu que havia um comerciante muito pobre com três filhas, mas sem dinheiro para pagar o enxoval para as casar. Sabendo disto, o nosso amigo pensou logo que tinha de arranjar uma maneira de o ajudar! Assim, sem que fosse visto, atirou pela janela aberta da casa do comerciante um saco cheio de ouro e prata, que acabou por cair perto da lareira cheia de meias penduradas a secar. O comerciante ficou tão contente!!! E S. Nicolau fê-lo três vezes, para que o pai tivesse dinheiro para casar as três filhas! Existem muitos mais relatos de atos de bondade do S. Nicolau, este foi apenas um!!! Sabiam disto??? Já viram bem??? O Pai Natal é mesmo muito amigo! Podem visitar-me em www.facebook.com/Rosinhabynini

A peluche Lili hoje está como nova também da roupa interior, e dos cabelos devidamente lavados, e desenriçados. Depois ficam prontas para um lugar de destaque ao lado de outras “amigas” e “amigos” que no fundo fazem companhia a esta mulher – “Elas gostam de mim e eu delas”. Encontrou a “Chica das Favas” em Vila Franca de Xira junto a um caixote do lixo, e é de “celuloide”, um material usado antigamente para fabricar bonecas, mas também temos a “Marilinha” que veio da Alemanha deixada ao cuidado de Laura por uma emigrante. Depois apresenta-nos o Francisco, um nenuco sorridente, “mas que veio para aqui tão sujo, mas é a minha alegria porque está sempre a rir-se para mim”. Laura já rumou a Queluz de Baixo com a sua bonecada debaixo do braço onde realizou uma exposição. Muitos queriam comprar-lhe bonecos, mas não acedeu. “Como posso vender algo que me foi dado?”. A Teodora Rosa será uma das mais velhas bonecas que tem, vem da década de 60. Fragmentos da infância de muitos arrudenses estão na

casa desta mulher. Alguns ainda se lembrarão desses bonecos que aqui ficamos a conhecer. “Por isso não posso vender, algumas dessas pessoas hoje até já são avós”. Esta colecionadora tem um lugar especial nas memórias das gentes de Arruda, que se lembram de si e do seu gosto tão especial. Dá-nos a conhecer a Timótea, foi deixada à sua porta mas não sabe por quem. E isso já aconteceu mais do que uma vez. Foi o caso também de uma boneca tipo duende. “Duenda”, como lhe chama a dona Laura. Depois conhecemos um casal de trigémeos a quem pôs os nomes de Valéria, Policarpo e Jesuína, “porque na vida real também há quem tenha três filhos”. Conhecemos a Esperança, uma boneca dada por um avô cuja neta esteve pestes a ir para adoção, “porque a filha nunca teve cabeça”. “Chorou baba e ranho quando aqui esteve. Fiz-lhe o fatinho, hoje a menina está na escola, segundo sei”. A Aida foi dada por outra arrudense quando a mãe morreu, a boneca era sua. Tem também um boneco a quem deu o

nome do pai, Salvador Joaquim, “que chegou aqui muito sujo”. Há bonecas de que gosta menos, as que se percebe que “são vaidosas”. “A Simone vê-se logo que é assim. Não gosto dela. É orgulhosa, mas outras são muito simpáticas porque estão sempre a rir para mim”. “Vivese assim com isto (uma casa repleta de bonecas), mas vive-se muito bem”. Laura Coutinho é também uma mulher que gosta de escrever peças de teatro e poesia, e ainda continua a fazer o gosto, mas essa é uma área que com certeza ficará para uma outra conversa com o nosso jornal. Para rematar o nosso encontro terminamos com a história da coelho peluche Lili, que um dia servia de bola a uns rapazes que numa noite das festas se entretinham a dar-lhe pontapés, e a Laura partiu-se-lhe o coração. Foi há quatro anos esta história. Veio para casa, mas de madrugada saiu e foi à procura do boneco nas imediações. “Estava tão comovida, e consegui encontrar a Lili, um tesouro. Ela ainda hoje me agradece. Foi lavada e ficou como nova”.

Circuito de mini-autocarro pelas freguesias deverá voltar urante a Semana da Mobilidade em setembro, um circuito de mini-autocarro passou pelas diversas localidades das diferentes freguesias do concelho, com três percursos estabelecidos. Agora, a Câmara de Arruda assegura que deverá retomar esse serviço semanalmente, estando ainda a preparar a medida junto da Comunidade Intermunicipal do Oeste na qual a competência sobre a área dos transportes foi delegada. Esta iniciativa, instituída a título experimental entre 17 e 22 de setembro de forma gratuita tinha em vista o fornecimento deste serviço com regularidade no futuro e assim contribuir para a mobilidade da população, especialmente a que vive em zonas mais afastadas. Segundo o presidente da Câmara, André Rijo, este serviço torna-se importante durante os períodos de pausas escolares. Na reunião de Câmara descentralizada em S. Tiago dos Velhos, o autarca assumiu o compromisso de restaurar este transporte.

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Espaço do Cidadão em Cardosas freguesia de Cardosas vai receber o próximo Espaço do Cidadão e Balcão Único do Município de Arruda dos Vinhos. O anúncio foi feito pelo presidente da Câmara Municipal, André Rijo, durante o magusto realizado naquela localidade. Para o autarca, este é um passo importante para o concelho, dado que um dos seus projetos passa por aproximar os serviços públicos dos cidadãos, dotando as freguesias deste tipo de espaços. Onde mais facilmente podem tratar de assuntos relacionados com a Câmara Municipal e não só. Estes espaços permitem que os fregueses de Cardosas possam vir tratar de assuntos como tirar uma certidão do registo criminal, fazer alteração de morada no cartão do cidadão, ou revalidar a carta de condução no espaço da junta. André Rijo salientou que não têm sido fáceis os últimos

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tempos no que toca às transferências para as juntas de freguesia. No entanto o edil salienta que o município “tem tentado virar a página dessa situação” explicando que tal está relacionado com “a situação económica e financeira que a Câmara teve no passado”, mas adianta que nos dias que correm “temos conseguido dar outras condições para ajudar as juntas de freguesia a fazerem o seu trabalho junto das populações”. O autarca esclarece que no orçamento de 2018 aumentou em 15 por cento as verbas para as juntas. Já neste último orçamento para 2019, as verbas foram aumentadas mais uma vez, mas desta feita em 10 por cento, “significando um aumento de transferências de 25 por cento em dois anos”, comparando com o ano de 2017, segundo explica o autarca. André Rijo defende que as juntas “são o braço armado da Câmara no que toca à proximidade às populações”.

Serviços da Administração Central mais acessíveis em Cardosas Nesse sentido, o presidente do município salienta como de vital importância a implantação de espaços do cidadão e balcão único nas freguesias do concelho, anunciando que já se encetaram negociações com o Governo nesse sentido e que em breve tal será uma realidade: “As negociações estão avançadas e vamos conseguir com certeza. Evi-

tando que os fregueses tenham de se deslocar a Arruda”. Com mais este espaço, a rede de Lojas do Cidadão ficará completa, isto depois de chegar a S. Tiago dos Velhos, Arruda e Arranhó. O novo espaço que ainda não tem data marcada para abrir ao público terá o nome do antigo autarca António Duarte Rucha. O presidente

da Câmara salienta que esta iniciativa em concordância com a junta de freguesia de Cardosas, tem como objetivo honrar a memória deste antigo autarca, que foi o primeiro presidente de junta entre os anos 1973 a 1976 e posteriormente entre 1985 a 1987. Fábio Amorim, presidente da junta de Freguesia de Cardosas, salientou ao Chafariz que o novo Espaço do Cida-

dão é uma mais-valia, sobretudo no que toca a aproximar os cidadãos aos serviços da autarquia. Fábio Amorim destaca que neste caso não foi tomada uma atitude economicista, pois como a freguesia dista apenas cinco quilómetros, a deslocação à sede do município não se torna muito difícil. Contudo com uma população mais envelhecida, Fábio Amorim pega nas palavras de André Rijo e estabelece esta “como uma opção política alicerçada no princípio da aproximação do cidadão a este serviço”. Fábio Amorim refere, por outro lado, que a sua junta já disponibilizou o espaço para que esta nova loja seja uma realidade muito em breve, vincando que numa primeira fase, estarão ao serviço dois funcionários, um da junta, outro da Câmara “sendo que a longo prazo passaremos o funcionário da junta para tempo inteiro para essas funções”.


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Arruda não quer perder o autocarro dos passes sociais rruda dos Vinhos não quer ficar de fora da medida do Orçamento de Estado para 2019 que prevê que o custo dos passes sociais dentro das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto não vá além dos 40 euros mensais, e crianças até aos 12 anos não pagam. Sendo que no máximo os agregados familiares não pagarão mais de 80 euros, independentemente do número de filhos. O Estado vai injetar 104 milhões de euros nas autoridades de transportes das duas áreas metropolitanas e resto do país, embora os valores ainda estejam a ser discutidos. O vereador do PSD, Luís Rodrigues, na Câmara de Arruda questionou o executivo so-

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bre o ponto de situação dos esforços da autarquia neste domínio, até porque o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes anunciou que a medida seria estendida ao resto do país. Tendo em conta que o fluxo de munícipes que vai trabalhar ou estudar todos os dias para Lisboa é preponderante na área do município, esta é uma medida a ter em conta. André Rijo, presidente da Câmara Municipal, referiu que a competência dos transportes no município está delegada na Comunidade Intermunicipal do Oeste e deu conta das démarches que estão a ser realizadas, como uma reunião recente entre o presidente da Oestecim, Pedro Folgado, e o presidente da Área Metropolitana de Lisboa

Munícipio vai reunir-se coma Boa Viagem (AML), Fernando Medina. Os municípios quererão apurar quais as verbas a serem transferidas do Orça-

mento de Estado para cada comunidade urbana, e quais as que terão de ser desembolsadas pelos municípios.

André Rijo deixou a informação de que está disponível para “alocar verbas do orçamento municipal para

reduzir assimetrias para que as pessoas do nosso concelho possam estar em pé de igualdade de circunstâncias com os demais”. Luís Rodrigues desconfia das verbas que o Estado anunciou para esta medida “dado que estamos a falar de 80 milhões (verba adiantada numa primeira fase). Só para a AML vão entre 30 a 35 milhões, para a Área Metropolitana do Porto outros 30 milhões, e seguramente que não serão os 15 milhões destinados ao resto do país que vão chegar”. Os municípios da região aguardam agora pelas contas para tomar uma posição. Vila Franca de Xira já deu a conhecer que o seu município terá de desembolsar 1 milhão 900 mil euros, apesar de integrar a AML.

Conferência Arruda Lab - Vinhos cada vez mais alcoólicos Adega Cooperativa de Arruda dos Vinhos recebeu uma conferência do projeto municipal “Arruda Lab” acerca do impacto das alterações climáticas e medidas de adaptação a seguir. Vários especialistas deram conta das profundas alterações que estão a acontecer nas vinhas portuguesas em virtude do novo quadro climático. Um dos oradores, José de Melo e Abreu, do Instituto Superior de Agronomia, começou por aludir que o aumento do efeito do CO2 está a produzir efeitos como videiras mais altas, com mais

A Conselhos para a nova realidade deixados por especialistas

folhas, flores maiores, mas consequentemente maior acumulação de biomassa. Vistas as coisas, os vinhos estão cada vez mais alcoólicos. E no caso daqueles que já o são pela natureza das castas, este é um problema acrescido. Os perfis organoléticos saem prejudicados, mas também provocam, estes vinhos filhos das alterações climáticas, uma diminuição da qualidade do carvalho dos barris, bem como uma diminuição da acidez total do mosto “que pode ser desfavorável especialmente nos vinhos brancos”. Logo, esta nova realidade pode condicionar problemas de sustentabilidade das em-

presas agrícolas e do mundo rural. Por outro lado, e face a condições extremas meteorológica como o escaldão nas vinhas, a opção deverá incidir em redes de sombra, e podas adequadas, bem como utilização de castas mais adequadas a temperaturas altas. Para combater os graus alcoólicos excessivos, o orador recomendou colheitas mais precoces, a opção por clones e castas mais favoráveis, adaptação às novas tecnologias de informação para melhor dominar o estado de coisas bem como os necessários seguros que possam permitir seguros e prémios bonificados.

Cardosas apresenta nova imagem da freguesia junta de Freguesia de Cardosas apresentou, no passado dia 11 de novembro, o novo logotipo, realizado por um jovem arrudense. Tratase de uma imagem estilizada de um moinho, tão característico daquela freguesia, que representará esta autarquia para efeitos de marketing no futuro. Esta iniciativa, segundo o presidente da junta de freguesia local, Fábio Amorim, não tem como objetivo substituir o brasão da freguesia. Tem, no entanto, como objetivo “modernizar a imagem

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da freguesia”. As declarações de Fábio Amorim, aconteceram durante o magusto promovido pela freguesia na coletividade local, perante centenas de pessoas que não quiseram deixar de estar presentes mesmo com o temporal que se fez sentir. O autarca aproveitou para fazer uma espécie de balanço de mandato, referindo que neste primeiro ano poderão ter existido erros “mas também há vontade de aprender e corrigir os problemas”. Fábio Amorim aponta o futuro como desafiante e garan-

te que esta mudança no marketing da freguesia faz parte desse plano de modernização, salientando a importância desse passo para demonstrar a “grandeza “ da freguesia que embora pequena, tem “as mesmas armas que outras.” Esta é uma marca que vai agora começar a aparecer “nos vários documentos da junta e depois mais tarde surgirá no site e em mais informações”, sustenta Fábio Amorim. O autarca vinca que o objetivo passa por criar “uma dinâmica nova na freguesia”. “Uma freguesia diferente,

somos mais pequeninos mas queremos ser os mais ativos e mais dinâmicos”. A juntar à nova imagem a freguesia aposta agora numa frase chave que vai marcar também todo o mar-

keting. “Mais vida, Mais Futuro” é agora o slogan que marca as iniciativas de Cardosas. Neste campo o presidente da junta, lamenta que no passado “Cardosas tivesse ficado parada no tempo,

sem muito desenvolvimento e sem atividade”, algo que esta nova imagem promete contrariar, vincando a necessidade “de termos de fazer esse esforço, criando vida e essa dinâmica”.


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A pintura de Ana Maria Ramos epois de uma vida de trabalho na função pública, nomeadamente, na Câmara Municipal de Arruda, Ana Maria Ramos dedica-se agora às artes. A pintora que gosta de espelhar as suas emoções sobre Arruda dos Vinhos na tela, contou ao nosso jornal que esta é uma paixão que tem cerca de cinco anos. A artista refere que pertence a um grupo de pessoas amigas da arte que fazem pinturas ao vivo por todo o país. Inicialmente integrava o grupo, apenas como observadora dos seus colegas. Ana Maria Ramos recorda que à época não pintava, e decidiu ao ver os outros elementos, começar a pintar, e daí veio o gosto, até porque confessa que até à data não tinha “grande queda para o desenho”. O seu percurso nas “pinturas” foi gradual. “Primeiro comecei com as aguarelas, mas depois gostei mais de trabalhar com o óleo”, e explica que em trabalhos mais minuciosos, este material “é mais fácil de trabalhar”. Ana Maria Ramos vai participando em algumas iniciativas um pouco por todo o país e pela região, onde expõe o fru-

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to das horas que passa a pintar. Desde os trabalhos maiores aos mais pequenos, a pintora que não se assume como artesã das telas, mostrou ao Chafariz as suas pinturas a óleo. Com vários trabalhos expostos e muitos já vendidos, Ana

Maria Ramos refere que a sua inspiração é por regra a vila de Arruda dos Vinhos, e ressalva a curiosidade: “Dáme mais gozo pintar as coisas mais pequeninas do que as maiores”, apontando para um conjunto de pequenas pinturas que exibia para ven-

da no primeiro andar do pavilhão multiusos local aquando da Festa da Vinha e do Vinho. Ana Maria prefere pintar os monumentos de Arruda dos Vinhos, mas não foge à tendência de pintar também azulejos, que são tão típicos da

arte urbana nacional de outros tempos. Mas Ana Maria Ramos não pinta só quadros. Tem imanes, marcadores para livros, e outras peças para decoração. A artista que tem corrido o país, elenca por exemplo as suas passagens pela FIL

(Feira Internacional de Lisboa) ou pelo Campo Pequeno. Para já os trabalhos de Ana Maria Ramos podem ser vistos, por exemplo, no Posto de Turismo de Arruda dos Vinhos durante todo o mês de dezembro, tendo em conta a época natalícia.

três horas onde “tentamos incentivar a ajuda a quem mais precisa” refere José Rodrigues que destaca que “ à semelhança dos anos anteriores temos instrutores convidados”. Em 2018, o BikeStudio deci-

diu apoiar o Clube Recreativo e Desportivo de A-doBarriga, doando a totalidade do valor angariado com as inscrições na maratona. O dia termina com o habitual jantar de Natal que “ é partilhado por todos”

Arruda é a sua fonte de inspiração

Maratona solidária do BikeStudio esde 2014 que o BikeStudio promove por alturas do Natal uma maratona solidária. A iniciativa tem vindo a juntar cada vez mais atletas, sendo que

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esta iniciativa se enquadra no espírito natalício de entreajuda. Segundo José Rodrigues, do BikeStudio, ao Chafariz, esta iniciativa que se realiza já no próximo dia 15 em Ado-Barriga, tem como obje-

tivo ajudar a coletividade, sem perder de vista um dado também muito importante que é juntar um cada vez “maior número de praticantes no intuito de melhorar a qualidade de vida de forma saudável” .

A maratona de Natal é uma das iniciativas mais importantes realizadas pelo BikeStudio nesta quadra, sendo uma forma de festejar a época através do desporto. No que toca à maratona solidária, esta dura cerca de

Comunidade Intermunicipal do Oeste promove recolha solidária de pilhas usadas A Comunidade Intermunicipal do Oeste, da qual faz parte o município de Arruda dos Vinhos, em parceria com a Novo Verde e a Associação Gestora de Resíduos e Equipamentos Elétricos e Eletrónicos - ERP Portugal, assinalam a Semana Europeia da Prevenção de Resíduos com o lançamento de uma recolha solidária de pilhas usadas, que decorrerá até ao final do ano de 2018. A iniciativa destina-se a escolas e empresas dos 12 Municípios da OesteCIM (Alcobaça, Alenquer, Arruda dos Vinhos, Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lourinhã, Nazaré, Óbidos,

Peniche, Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras). Por cada 500kg de pilhas usadas recolhidas, serão doados 250 euros a instituições de cariz social de cada um dos 12 municípios, traduzidos em bens essenciais e obras sociais. O valor do donativo a atribuir em cada um dos municípios vai corresponder ao somatório de pilhas recolhidas nas escolas e empresas e as 12 instituições serão sorteadas no final da iniciativa. As pilhas e baterias são resíduos perigosos porque têm na sua composição substâncias nocivas para o ambiente e para a saúde humana.

O seu abandono indiscriminado pode conduzir à contaminação do solo, dos cursos de água e lençóis freáticos, e ter efeitos adversos na fauna e flora. Em última análise, algumas destas substâncias podem entrar na cadeia alimentar e chegar aos seres humanos. Estes resíduos podem ser encaminhados através da rede Depositrão, da ERP Portugal, que já conta com mais de 2600 pontos de recolha, dos quais constam os 12 municípios do Oeste. Para participar basta entregar as suas pilhas numa escola ou empresa destes 12 Municípios.

Campanha com intuitos solidários


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Junta de Freguesia de Arruda inaugura Centro de Marcha e Corrida rruda dos Vinhos tem desde o passado dia 10 de novembro um Centro de Marcha e Corrida. A iniciativa nasceu nas instalações da junta de freguesia e vai permitir aglomerar e aconselhar os praticantes amadores desta modalidade. Esta é uma valência de apoio aos praticantes de caminhadas, marcha, e disponibiliza instalações sanitárias e de repouso, bem como, espaços para a realização de aconselhamento e exercícios de aquecimento com equipamentos adequados e com apoio de técnicos desportivos. O espaço agora inaugurado apresenta também apoio técnico, desta feita através de Marta Castro, que se disponibiliza para aconselhar os praticantes das várias vertentes do atletismo. Nos últimos anos, tem vindo a crescer o número de pessoas que em grupo ou sozinhas fazem longas caminhadas ou simplesmente corrida,

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Dar aconselhamento e ser um ponto de referência para os praticantes é o objetivo e este espaço vem assim colmatar uma necessidade de aconselhamento aos praticantes que procuram fora das

suas horas de trabalho, cuidar do seu físico. Para além do aconselhamento esta estrutura disponibiliza-

rá aos praticantes e curiosos das caminhadas, marchas e corridas diversas vantagens, de entre as quais a articula-

ção de um ponto comum de partida e chegada com a presença de um técnico desportivo certificado para auxílio no

planeamento de rotas, alongamentos, entre outros, e uma área de repouso devidamente equipada para a prática. No entanto, esta infraestrutura não foi criada ao acaso. A mesma foi concebida tendo por base as recomendações da Federação Portuguesa de Atletismo, que foi representada no evento pelo Coordenador Nacional do Programa Nacional de Marcha e Corrida, Pedro Rocha. Para Fábio Morgado, presidente da Junta de Freguesia de Arruda dos Vinhos, esta é uma iniciativa que se impunha na freguesia, tendo em conta o número crescente de pessoas que praticam atividade física de forma descontrolada. Para Fábio Morgado este espaço pode vir a proporcionar, não só, o crescimento de grupos qua já hoje percorrem as ruas e caminhos de Arruda dos Vinhos, como criar dinâmicas dentro da comunidade “ e que se promovam hábitos de vida saudável”.


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Poluição Rio Grande da Pipa

Encerramento compulsivo se indústrias não se adaptarem s esgotos a correr para o Rio Grande da Pipa que por sua vez desaguam no Tejo provenientes da laboração de empresas na zona industrial das Corredouras têm-se constituído como uma chaga ambiental. O alerta foi dado tendo em conta que a ETAR de Arruda estava abaixo da capacidade para fazer o processamento dos resíduos emanados pelas indústrias, que não estariam a respeitar os níveis de despejo impostos quanto à libertação dos seus efluentes. O caso foi tomado sob a alçada da Águas do Tejo Atlântico e embora não esteja fora de hipótese a ampliação da ETAR de Arruda, certo é que reinou a prevaricação neste caso. Aguarda-se pela apresentação dos resultados concludentes quanto à origem exata, mas “uma maior fiscalização” que aconteceu nas últimas semanas por parte da

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Poluição no curso de água chega ao Tejo autarquia, Águas do Tejo Atlântico e ministério do Ambiente já levou “a uma melhoria do estado de coisas”, refere o presidente da Câmara, André Rijo ao Chafariz. Os

motivos pelos quais não aconteceu antes essa fiscalização que poderia ter estancado comportamentos prevaricadores foi o que quisemos saber. André Rijo contextuali-

za que em 2014/2015 foram construídos os emissários de ligação dessas empresas à ETAR de Arruda, mas que “o não cumprimento dos regulamentos quanto às descargas

não foram cumpridos”, e que a continuarem assim, a Câmara não hesitará em avançar com o encerramento da atividade no concelho, pese embora os postos de trabalho. A poluição gerada motivou queixas face a cenários de águas putrefactas no curso de água. O denominado guardião do Tejo, o ativista ambiental, Arlindo Consolado Marques, foi um dos que esteve no Rio Grande da Pipa a fazer mais um dos seus vídeos em que pretende alertar entidades e consciências. A Câmara de Vila Franca de Xira também mostrou a sua preocupação. O Rio Grande da Pipa desagua já neste concelho, e a autarquia aguarda pelo resultado das análises. André Rijo diz ainda que aquando da instalação das empresas em causa deveria ter sido fiscalizado pelos anteriores governos da Câmara se “estávamos em presença de indústrias que produziam

resíduos poluentes com necessidade de pré-tratamento antes da descarga no coletor que vai ligar à zona industrial e à ETAR de Arruda”. Nesta altura, a Câmara está a proceder a 50 análises nesta e noutras zonas industriais, que reconhece podiam ter sido feitas anteriormente, pese embora o problema apenas se ter manifestado desta forma presentemente. O autarca é taxativo – “Estamos a prestar informação aos industriais como terão de agir doravante. Ninguém quer lançar a bomba mas se voltarem a prevaricar não haverá alternativas. Se a oportunidade for desperdiçada, o decretar do encerramento compulsivo está em cima da mesa”. O autarca deixa escapar que as indústrias queixaram-se do investimento que é necessário fazer tendo em conta o novo quadro, “mas terão de fazer essa opção necessariamente em detrimento de outras”.


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Balanço de mandato - Luís Rodrigues

“Somos uma oposição construtiva e pela positiva sem deixar de apontar os erros” ontinuamos fiéis ao nosso projeto” é assim que o vereador da oposição na Câmara de Arruda dos Vinhos começa por definir o seu primeiro ano de mandato na autarquia. Luís Rodrigues é a única voz da oposição. O PS tem seis vereadores, e o PSD apenas um. O autarca vê o mandato com foco em todas as freguesias e não apenas na sede de concelho. Só assim fará sentido na sua opinião. Afirma-se paladino de uma oposição construtiva e positiva com apresentação de propostas, “nem sempre aceites pelo PS”. Luís Rodrigues dá como exemplo o projeto da requalificação do bairro João de Deus em que o PS apresentou um plano que visa a recuperação das moradias térreas e a construção de um novo edifício para habitação social com 15 fogos. “Defendemos a requalificação do bairro porque se insere num género de arquitetura popular que é importante preservar”. Contudo e no que se refere ao edifício a construir “a opção deveria recair, conforme sugerimos, num terreno localizado na Rua Timor Lorosae e neste caso com 21 fogos” e não nas entradas da vila. O executivo PS tem dito que o terreno em causa sofre de problemas como fervidas, e sendo assim não poderia ser opção – “Esse é um argumento

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Vereador do PSD continua a destacar o Turismo como uma das áreas de eleição falacioso, e se assim fosse então teríamos de por em causa a segurança de todo o bairro Cerrado e Fontaínhas”. Em tempos o PSD quando estava na gestão do município também apresentou um projeto para a habitação social cujo concurso acabou por ficar deserto – “E nessa altura o PS concordou, como aliás chegou a ser também sua a ideia de destruir essas casas de arquitetura popular e construir três edifícios”. Mas ao contrário da maioria, “o PSD não defende que a habitação social esteja concentrada num único espaço”.

Sobre as descargas no Rio Grande da Pipa por incapacidade da ETAR de Arruda sobrecarregada com o elevado fluxo de efluentes por parte de empresas da Zona Industrial das Corredouras, dado que não cumpriram com os regulamentos quanto às descargas, Luís Rodrigues entende que é preciso cautela neste domínio. “O PSD defendeu o saneamento do rio a começar na Ponte da Malafaia, junto ao Pavilhão Multiusos, até onde se situa o antigo externato Irene Lisboa, isso não foi feito. O PS apenas se restringiu à zona do

atual parque urbano. Era de calcular que a ETAR outrora apenas para efluentes domésticos não estava preparada para a ligação dos emissários, já efetuada pela gestão socialista, à zona industrial”. O autarca não põe em causa que há mérito na ligação aos esgotos por parte das empresas, “mas deveria ter existido um redimensionamento à altura”. Se tiver em causa “a saúde pública e o crime ambiental, pode-se pensar no encerramento compulsivo”, conforme foi adiantado pelo presidente da Câmara, mas “das duas uma, ou a Câmara tem capacidade de reivindicar uma nova ETAR para a zona industrial das Corredouras ou a ampliação da atual”, sendo essencial “obviamente a fiscalização”. A inauguração do Parque Urbano das Rotas sem que antes tivesse sido resolvido o problema do saneamento básico no Rio Grande da Pipa, bem como alguns pormenores ligados à conclusão das obras, também marcou este primeiro ano de mandato. “Foi a reunião de Câmara um pedido para prorrogação desses trabalhos, e que ainda hoje não estão acabados”. O projeto incluía os espelhos de

água em que não tem sido possível obter autorização por parte do Estado- “Havia que garantir a qualidade do saneamento antes”, enfatiza. Um dos projetos apresentados recentemente pela maioria refere-se ao projeto “Mercadinho de Arruda” que visa requalificar e até alterar o conceito do mercado municipal. Luís Rodrigues considera que de facto há que tornar o espaço mais atrativo para a população até tendo em conta a instalação de uma superfície comercial nos últimos anos no centro da vila. O novo modelo pressupõe apenas um setor de negócio para o mercado, pelo que aquando da apresentação pública, alguns comerciantes, nomeadamente, os peixeiros mostraram o seu desagrado. “Sugeri que houvesse um mercado de rua a tardoz que permita a essas pessoas venderem o seu produto, por outro lado e segundo sei será explorado sob o modelo de um concessionário que depois subconcessionará os lugares no mercado, não me parece mal, desde que sejam respeitados os direitos dos vendedores”, refere, prosseguindo – “Não me parece bem o que o senhor presidente diga que indemnizará os que não conseguirem vender no mercado, pois a meu ver há que lhes dar uma oportunidade.” O turismo era uma das bandeiras da campanha eleitoral de Luís Rodrigues que continua a defender que esta é uma “área essencial”. “Tínhamos um projeto âncora baseado no turismo natureza que podia fazer a ligação entre a sede de concelho e as freguesias com uma garantia de coesão territorial e social”. Para o vereador da oposição, o executivo não tem uma ideia chave para o turismo no concelho. Luís Rodrigues afirma-se preocupado com os atos de vandalismo no património arquitetónico, nomeadamente, nos Fortes do Cego e da Carvalha. “O PS fez algumas démarches quanto a isso, mas alegou que procederia a outras ações no local e não o fez”. O PSD sugeriu a requalificação dos edifícios

da “Cenafogo”, mas “não temos visto por parte da Câmara interesse em adquirir aquele espaço”. Seria naquele local que o PSD gostaria de ver implementado um Natura Park, como anunciou na campanha eleitoral. O município ocupa um dos piores lugares quando se fala em perdas de água no sistema de abastecimento. O presidente da Câmara focou que apenas num ano conseguiu reduzir os números dos 52 para os 40 por cento, mas o número continuará a ser preocupante. Luís Rodrigues apresentou em reunião de Câmara, o “Plano Municipal da Água”, recomendação que foi aprovada. O desinvestimento nesta matéria, refere, pode ser atribuído “não apenas aos últimos mandatos do PSD, mas se quisermos ir mais atrás também ao PS”. No que se refere à saúde financeira da autarquia, “o PS tem por hábito aventar que ainda estamos a sofrer os constrangimentos deixados aquando da passagem do PSD pelo Governo, mas isso não é verdade, porque se fosse não teríamos capacidade de endividamento, como é o caso recente do empréstimo de dois milhões de euros. O PSD na Câmara sempre cumpriu os rácios”. Depois de o PSD ter estado vários mandatos à frente dos destinos da autarquia, atualmente e com apenas um vereador, “a situação não deixa de ser difícil”. “O PSD tem-se esforçado por fazer uma oposição construtiva. Apresentámos várias sugestões e recomendações, umas são aceites, outras rejeitadas, como foi o caso da recomendação para maior segurança na estrada nacional 115-4 que liga Arruda a Arranhó, com melhor sinalização vertical, nomeadamente, quando há nevoeiro, em que nem se consegue visualizar o eixo da via. Essa proposta foi rejeitada. Se bem que agora o presidente diga que quer fazer, talvez porque era uma recomendação do PSD votou contra”. Entrevista na intrega em www.chafariz.pt


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Dezembro 2018

Política 9

Balanço de mandato - André Rijo

Obras nas estradas e requalificações de espaços públicos são apostas om um orçamento de 11,8 milhões de euros para 2019, o município de Arruda dos Vinhos planeia arrancar com as obras no mercado municipal a meio do ano para ser inaugurada em dezembro. O novo canil municipal a ser implantado na zona de ampliação da ETAR de Arruda dos Vinhos com capacidade para 40 boxes ao contrário das 10 atuais, e que conta com o apoio dos fundos estruturais é outra das obras anunciadas. Centro Escolar de Arranhó e requalificação do Bairro João de Deus com o lançamento da empreitada, e a expetativa de início da obra em 2020 são apenas mais dois exemplos, que o presidente da Câmara, André Rijo salienta em entrevista ao nosso jornal. Passado que está um ano do mandato 2017-2021, André Rijo, refere que o seu projeto está a decorrer de acordo com o que idealizou para o concelho. A nossa reportagem acontece na obra da repavimentação da Estrada da Fonte do Pau, na zona das Corredouras, e que há muito era aguardada, “totalmente a cargo do município e com os recursos humanos da Câmara”, com uso de “nova e recuperada maquinaria”, dá conta. Em janeiro, a Câmara vai apresentar um plano de recuperação da rede viária até 2021 orçado em 1,2 milhões de euros. Sendo este um dos investimentos do mandato, de acordo com o autarca. Paralelamente, foi terminada recentemente a requalificação do centro escolar de Arruda, bem como a obra do coletor de saneamento de A-do-Baço e Alcobela, a ser inaugurado em fevereiro. O presidente da Câmara pretende ainda colocar na agenda política o projeto da variante à vila de Arruda. “Estamos a trabalhar com a Infraestruturas de Portugal e com o Governo numa fase de auscultação sobre o projeto nomeadamente junto da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDRLVT), e Direção Regional de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo (DRAP-

C

LVT), sendo certo que este é um projeto que faz sentido do ponto de vista ambiental tendo em conta a necessidade de desvio do trânsito pesado que circula dentro da vila”. O investimento é de 3 milhões no âmbito de um plano a ser financiado pelo Governo no que a Câmara espera ser o médio prazo. O autarca adianta ainda que uma das obras para o ano que vem é a ponte pedonal que ligará o pavilhão multiusos à Rua Policarpo Martins. Poluição no Rio – “Se as empresas não cumprirem ordenaremos encerramento compulsivo” Os esgotos a correr para o Rio Grande da Pipa que por sua vez desaguam no Tejo provenientes da laboração de

autarquia, Águas do Tejo Atlântico e ministério do Ambiente já levou “a uma melhoria do estado de coisas”. Os motivos pelos quais não aconteceu antes essa fiscalização que poderia ter estancado comportamentos prevaricadores foi o que quisemos saber. André Rijo contextualiza que em 2014/2015 foram construídos os emissários de ligação dessas empresas à ETAR de Arruda, mas que “o não cumprimento dos regulamentos quanto às descargas não foram observados por parte das empresas”, e que a continuarem assim, a Câmara não hesitará em avançar com o encerramento da atividade no concelho, pese embora os postos de trabalho, e apesar da poluição gerada e que motivou queixas com cenários de águas putrefactas no curso de água “ainda que

Presidente da Câmara dá conta dos investimentos empresas na zona industrial das Corredouras têm-se constituído como uma chaga ambiental. Aguarda-se pela apresentação dos resultados concludentes quanto à origem, mas “uma maior fiscalização” que aconteceu nas últimas semanas por parte da

de forma não permanente”. O autarca diz ainda que aquando da instalação das empresas em causa deveria ter sido fiscalizado pelos anteriores governos da Câmara se “estávamos em presença de indústrias que produziam resíduos poluentes com necessi-

dade de pré-tratamento antes da descarga no coletor que vai ligar à zona industrial e à ETAR de Arruda”. Nesta altura, a Câmara está a proceder a 50 análises nesta e noutras zonas industriais, que reconhece podiam ter sido feitas anteriormente, pese embora o problema apenas se ter manifestado desta forma presentemente. O autarca é taxativo – “Estamos a prestar informação aos industriais como terão de agir doravante. Ninguém quer lançar a bomba mas se voltarem a prevaricar não haverá alternativas. Se a oportunidade for desperdiçada, o decretar do encerramento compulsivo está em cima da mesa”. “Fico desiludido com os atos de vandalismo no parque urbano” A inauguração do Parque Urbano das Rotas, obra anunciada ainda no mandato anterior, que viu a luz do dia no feriado municipal deste ano, foi outro dos destaques do primeiro ano deste mandato. O facto de uma obra moderna se encontrar paredes meias com um curso de água muito afetado pela poluição e com os esgotos a correr a céu aberto foi uma das críticas mais ouvidas. “Não estou naturalmente satisfeito com essa situação, mas também devo dizer que temos dado passos para resolver esse problema, nomeadamente, na separação das águas residuais e pluviais na Urbanização do Vale Quente de Cima, bem como na questão da descarga de esgotos na zona comercial Rua Álvaro Ferreira, auxiliamos ainda tecnicamente a questão relacionada com a ETAR própria da Adega Cooperativa de Arruda. Por outro lado, em 2019, cerca de 120 mil euros vão ser alocados à resolução do problema num coletor junto ao Parque Urbano que depois fará ligação à estação elevatória de Arruda- ETAR”. O autarca confessa que não quis perder o comboio da construção de um parque desta natureza tendo em conta o financiamento em 85 por cento dos fundos comunitários que perder-se-ia se não tivesse sido candidatado na devida altura. Contudo alguns atos

de vandalismo já se verificaram no local – “Sinto-me frustrado com isso e até desiludido. No imediato e falando com a GNR vamos adquirir videovigilância para o local, à partida 12 pontos, para dissuadir práticas de vandalismo”. Na ordem do dia está ainda a questão da adesão dos municípios à medida do Orçamento de Estado para 2019 relacionada com os passes sociais. Arruda dos Vinhos não quer ficar de fora e no seu conjunto, a Comunidade Intermunicipal do Oeste (Oestecim) está ainda a estudar a medida e como aderir. No caso de Arruda, estamos a falar do transporte rodoviário, e a Câmara já encetou um diálogo com a transportadora que presta serviço a nível local para compreender os fluxos de passageiros arrudenses que todos os dias rumam, sobretudo, à capital e a partir daí também fazer as suas contas. Recorde-se que em causa está a possibilidade de o passe para todos os tipos de transporte poder custar 40 euros, o que significará, em muitos casos, uma descida substancial. O Estado fixou o valor do apoio nos 104 milhões de euros, com a fatia de leão a caber às áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. É sabido que os municípios terão de alocar uma verba que não será em nada simbólica e residual a esta medida em prol da bandeira da acessibilidade. “Importa que quando chegarmos a um valor, não percamos muito tempo na sua aprovação, para que os nossos munícipes estejam em pé de igualdade com os das áreas metropolitanas, sobretudo”. Um estudo recente apontava o município de Arruda como um dos piores a nível do país no que respeita às perdas de água. De acordo com o presidente da Câmara, foi possível reduzir dos 50 para os 42 por cento num ano, mas o caminho ainda será longo. André Rijo, no domínio do abastecimento de água, releva os esforços com a EPAL, este ano, para dotar o município de mais um ponto de abastecimento a partir do Moinho do Céu, o que será importante no caso de uma falha ou rotura. Para melhorar os níveis

das perdas de água, o município tem-se socorrido da telegestão nos reservatórios, do projeto ONE com a EPAL para monitorização do sistema, bem como do projeto do cadastramento da rede de água. No caso do saneamento básico e com a obra a inaugurar em A-do-Baço “vamos chegar a uma taxa de tratamento na ordem dos 70 por cento” , o que considera sem paralelo nas últimas décadas no concelho – “Comparem os gastos nesta área nos últimos 10 anos, como o que temos feito nos últimos dois a três anos no saneamento, e somos nós que estamos a dar prioridade a estes temas como ninguém fez nos últimos 15 anos”. No final do anterior mandato, André Rijo apresentou quatro projetos de requalificação da zona histórica da vila, sendo que no caso do antigo edifício da GNR que vai dar corpo ao projeto do Arruda Lab, a autarquia está a trabalhar no projeto de arquitetura. Até meio do ano que vem, a intenção é dar a conhecer o que está previsto e fazer a discussão pública, com uma candidatura aos fundos da regeneração urbana. A segunda opção deverá recair na zona das Cataratas tendo em conta a requalificação ambiental, em articulação com a ciclovia prevista. A atração de investimento em que a incubadora de empresas é um dos rostos, tem sido bandeira do autarca, mas o projeto da Balestrand Pharma previsto para a zona industrial das Corredouras, mas que passado mais de um ano não vai além da primeira pedra deixa um sabor amargo. “Esse não está a correr bem, Confesso que não tenho muita informação. A empresa continua a pagar a incubadora. Os fundos comunitários estão informados, contudo o contacto com a empresa está difícil. Mas temos outros investimentos como um hotel para 70 camas também na zona das Corredouras que segue a bom ritmo”. “A nossa estratégia de captação de empresas está a resultar porque somos um dos concelhos com menor taxa de desemprego no país”. Entrevista na intrega em www.chafariz.pt


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10 Cultura

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Carlos Alves estreia-se no livro juvenil

Apresentação de “A menina com nuvens no cabelo” menina com nuvens no cabelo” marca a estreia do escritor Carlos Alves, albicastrense mas que vive em Arruda praticamente desde sempre, na literatura juvenil. A apresentação da obra deuse no Centro Cultural do Morgado, no dia 23 de novembro. O vencedor do Prémio Literário Alves Redol 2017 com “Vozes de Burro”, conta ao Chafariz de Arruda que teve a ideia para este livro quando um dia ao deixar as filhas na escola, uma lhe disse que gostava de pintar o cabelo de azul. Confessa que ficou “atordoado” com o inusitado da proposta, mas ao mesmo tempo fez-se luz. “Adverti-a que devia pensar melhor no assunto pois arriscava-se, caso prosseguisse com os seus intentos, a ficar com o cabelo carregadinho de nuvens. A verdade é que fui eu que acabei a pensar no que lhe tinha dito! Achei que podia estar ali algo que poderia desenvolver literariamente”, confessa. Joana é a personagem, a menina com nuvens no cabelo, que é vivaça, e que, apesar da pouca idade, apresenta uma curiosidade sem filtro, “às vezes inconveniente”. Trata-se daquele tipo de criança que nos desarma com a sua frontalidade, intuição e perspicácia. A personagem do livro acaba por convencer a família a pintar o seu cabelo de azul. No dia seguinte quando acorda e vê o seu reflexo no espelho fica maravilhada pois existem

“A

umas manchas que ela identifica, entusiasmada, como nuvens. A tónica do texto assenta no eixo copo meio cheio/copo meio vazio. Onde o adulto vê desilusão, a criança vê possibilidades extraordinárias. Por um lado (o do adulto), temos a permissividade exagerada que alguns encontrarão na cedência da família ao desejo da menina, a constatação que a tinta era

como tendo, inexplicavelmente, durante a noite aparecido no cabelo recém pintado de azul- nuvens. “A opção da personagem é essa mesma, convencendo (ou tentando) toda a gente da sua sorte”, evoca o escritor. Em Cabo Verde “fala-se na morabeza, definida como amabilidade, afabilidade e uma certa maneira de estar na vida sem stress, mas eu

Obra apresentada no Palácio do Morgado de péssima qualidade e que o cabelo acabou completamente manchado, o que exigiria no mínimo uma reclamação pronta. Por outro (o da menina), temos a possibilidade de com os olhos da imaginação interpretar a situação

acho também que é um contínuo e eterno sorriso. O mesmo que sempre imaginei para a Joana”, descreve o autor. Escrever para este público mais jovem foi um desafio pois tratou-se de dar a co-

nhecer “uma história consistente e estimulante com personagens aliciantes, que sirva para desenvolver determinada ideia e se adeque a um certo público”, tendo em conta ainda a seleção e o uso criterioso da língua portuguesa. As diferenças entre escrever para este público e o mais adulto assentam sobretudo “no vocabulário e na complexidade da história, sem baixar

mente entretenimento, também deve “acrescentar alguma coisa” e isso exige que o livro tenha “a profundidade necessária para isso”. “É tão importante o que está visível como o que fica nas entrelinhas. Uns acharão por vezes difícil, outros desafiante, e uma oportunidade para ir mais longe. Num tempo privilegiando o Light e em ritmo fast, isso pode por vezes ser

Escrever para o público mais jovem foi um desafio o grau de exigência na redação do texto”. O autor recusa facilitismos neste tipo de escrita como a tentação de menorização das capacidades do público (mesmo que mais juvenil) a que o livro se destina. A leitura não é exclusiva-

um risco, mas ainda há por aí redutos gauleses que não esperam condescendência”, conclui. A verdade é que a escrita deste “A menina com nuvens no cabelo” já começou a deixar saudades no escritor: “Fi-

quei com vontade de ter a Joana e a sua família presentes, novamente, na minha vida”, assume. A obra conta com as ilustrações de Cristina Arvana, “que interpretou muito bem o texto e as sugestões”. “Gosto muito da paleta e do seu traço e durante o desenvolvimento da ideia fui deixando alguns indícios e marcas para as ilustrações que acabaram por ficar plasmados no resultado final”. “A menina com nuvens no cabelo” é definido como um livro para “toda a família” e encontra-se disponível nas redes de livrarias Bullhosa, FNAC e Bertrand, em Lisboa na livraria Barata, na papelaria Relíquia (Arruda dos Vinhos), na livraria Hemus (Setúbal), na livraria A das artes (Sines), em Leiria na livraria Boa Leitura e na livraria Americana. Quanto a novidades no que respeita a projetos futuros, Carlos Alves conta que por enquanto vai continuar a dividir-se pelas diferentes áreas da literatura: conto, universo juvenil, e romance, para além da sua atividade docente e do blogue “vezes100conto.blogs.sapo.pt”. “Costumo dizer que quando tenho alguma coisa a dizer escrevo. Sou muito observador e, aparentemente, isso implica uma tomada de posição, nomeadamente via escrita (ficção ou artigos). Embora possa parecer pretensioso, estou sempre a escrever. Não sofro do problema da folha em branco, antes da falta de tempo de quem se divide por várias atividades”.


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Dezembro 2018

Cultura 11

“Desta Saloia, cuspida da terra”

Irene Lisboa, cartas de amigos e a sua arte em exposição o ano em que passam 50 anos (1958) da morte da escritora Irene Lisboa, a Câmara de Arruda dos Vinhos encerra este ano dedicado à sua obra e memória com uma exposição que pode ser apreciada no Centro Cultural do Morgado – “Desta Saloia, cuspida da terra”. Nela podemos apreciar desde objetos do seu quotidiano, como a sua máquina de escrever colocada num local bem destacado, mas também a correspondência que trocou com outros escritores contemporâneos, ou com os seus afilhados da guerra. Jorge da Cunha, estudioso da obra de Irene Lisboa, e organizador da exposição no que toca aos seus conteúdos, faz uma visita guiada ao “Chafariz de Arruda”. Logo no início da exposição, temos uma carta de um escritor contemporâneo, José Gomes Ferreira, também poeta como o foi

N

igualmente a escritora, e um dos membros do movimento social que foi em tempos a revista Seara Nova. “Foi um dos maiores divulgadores da obra da escritora, tinha uma profunda paixão pela sua obra”. Temos também “uma carta de José Régio, igualmente admirador da autora de uma forma comovente”. Nela “o autor desculpa-se de nem sempre estar presente na vida dela, mas também dos livros que ambos trocavam”. Entre os seus objetos podemos ver a máquina de escrever no que foi o altar da capela do Morgado, entretanto dessacralizada, mas também um álbum de Vergílio Ferreira com uma fotografia de Irene Lisboa, a secretária onde escrevia todos os dias, de forma “muito organizada porque cumpria religiosamente os horários que dedicava à sua atividade”, a sua caneta de aparo, o tinteiro e os óculos. Os afilhados de guerra envia-

ram-lhe objetos esculpidos a partir de despojos militares e esses também se encontram em exibição nesta exposição. Postais enviados durante a Guerra, e uma cruz são outros dos objetos enviados. Inês Gouveia, afilhada da escritora, foi quem cedeu parte do espólio pessoal para esta exposição. Entre as cartas está também uma de José Rodrigues Miguéis, com o qual terá tido “um romance”. Ambos escritores e pedagogos rumaram lá fora com uma bolsa de estudo, e conheceram Piaget e as suas ideias. Como pedagoga foi percursora de teorias “muito à frente do seu tempo”, acabou por não agradar ao Estado Novo tendo sido reformada antes do tempo. “Era pela escola como um local de aprendizagem, não como local de ensino”. Era também a única mulher do movimento/revista Seara Nova. Não era qualquer um que entrava neste círculo de escritores e pensa-

Jorge da Cunha fez uma visita guiada pelos conteúdos da exposição dores da época. Irene Lisboa viveu numa época de grandes escritores portugueses, muitos ficaram na história das letras no país, mas poucos saberão que a autora “partiu todas as regras da poesia até aquela altura” ao assumir-se como poeta do verso livre. “Temos versos curtos, e longos, sem rima, são característica que apenas se via, à época, na poesia escrita por homens, em mulheres não existia”, dá a conhe-

cer Jorge da Cunha. “Se Florbela Espanca revolucionou a poesia, Irene Lisboa desconstruiu a poesia, até ao nível dos temas, fugindo do amor e da paixão muito femininos, assumindo-se como uma revolucionária”. Esta exposição vai estar na Capela do Morgado até dois de janeiro de 2019. A organização da exposição por parte do município esteve a cargo de Paulo Câmara. É “uma autora que ficou um pouco es-

quecida no panorama nacional, aqui é estudada nas escolas, apesar de ter uma obra incluída no Plano Nacional de Leitura, mas nós adotámos mais do que uma”. Desde 2014 que existe um protocolo entre as escolas e a Câmara no sentido do estudo da sua obra desde o pré-escolar até ao 12º ano. 2019 será o ano em que também será produzida uma obra de poesia completa a partir da Faculdade de Letras com alguns inéditos.


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12 Opinião

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Pegar o toiro pelos cornos!! olto ao tema porque me parece que este assunto não só está longe de estar esgotado como é bem mais im-

V

portante do que aquilo que á primeira vista possa parecer; ou seja o assunto não se circunscreve à questão da tauromaquia “sensu estrito”, mas sim a toda uma visão do

nosso mundo rural que é detida pelas elites urbanas do eixo Chiado- Príncipe Real e que pretende impor como verdade absoluta. Ou seja, aquilo que começou

por ser uma discussão em torno do IVA da Tauromaquia rapidamente resvalou para aqueles terrenos, em que não mais se falou do preço dos bilhetes para se discutir

a verdadeira questão que interessa a esta elite “urbana e bem-pensante” e com os seus acólitos, bem instalados nos media. De facto, o que estas pessoas pensam e pretendem impor aos outros é uma verdade absolutamente ao arrepio de toda uma cultura e uma vivência das gentes do interior rural Português e que não tenhamos ilusões. Se não formos nós a defendê-la mais ninguém o fará por nós ou em nosso nome. As declarações, de resto muito infelizes da sra. ministra da cultura, tiveram pelo menos o mérito de demonstrar até onde esta gente é capaz de ir. A ministra da cultura é tão só isso mesmo, da cultura, e ministra não do gosto, mas revela bem o desprezo que estas pessoas têm por atividades ancestrais das nossas comunidades e que como todos sabemos estão inscritas no nosso código genético. Não, não se trata de fazer sofrer os animais para gáudio e diversão dos humanos; trata-se sim do reencontro com natureza e do confronto ente o homem e essa Natureza. E trata-se

Lélio Lourenço também de um animal bravo que não terá outra razão para a sua criação se não fosse destinado à lide, seja em praça, nas largadas, pamplonas, à corda, à capeia e tantas e tantas manifestações culturais por este Portugal fora. Creio mesmo, que só uma sociedade em crise de valores e identidade pode hoje abordar a questão dos animais e dos seus direitos em paralelismo com a questão com o aborda os direitos humanos. Eu acredito que estamos só no começo desta cruzada contra o mundo rural. Cresci no campo e sempre me ensinaram a tratar bem os animais (de trabalho, de companhia, de diversão e também de consumo humano), mas não alinhemos nós nesta inversão de valores e nunca tenhamos a tentação de equiparar animais a humanos. Afinal um bicho é um bicho!!

“Homens Bons” o processo de criação dos municípios em Portugal, nomeadamente no inicio da expansão colonial, foi criado o estatuto de “Homem Bom” para indivíduos que segundo critérios tais como: ter mais de 25 anos de idade, casado ou emancipado, praticante da fé católica e que não possuísse nenhum tipo de “impureza racial”. Deveriam também ser possuidores de terras para que recolhesse o respeito da população e assim

N

Ficha técnica:

poderia assumir cargos, discutir leis e gerir os bens públicos, obtendo o reconhecimento e admiração das populações. No passado mês de novembro partiu de entre nós um “Homem Bom”. O Sr. Rucha (António Duarte Rucha) não era militante de nenhum partido quando assumiu funções de Presidente de Junta de Freguesia de Cardosas e na verdade não era de partido politico nenhum. O partido dele era a sua terra e as suas gentes. A sua vida, dedicada à popu-

lação da sua terra, foi muito para além do exercício de autarca. Em todos os projetos associativos ou de qualquer outro cariz, ele foi sempre uma das pessoas mais envolvidas, ao longo de toda a sua vida. Usando o dom de “ouvir primeiro”, mesmo quando algum assunto o enervava um pouco mais mantinha a serenidade, o bom senso e a educação. E, acima de tudo uma ponderação nas opiniões emitidas que assentava nume experiência vida passada a conhecer e en-

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tender os outros. A sua capacidade de ver com clareza os problemas com antecipação dava força aos argumentos que defendia com convicção. Era um lutador, um lutador pelas coisas que considerava necessárias para melhorar a qualidade de vida dos seus concidadãos. Era firme na solidariedade com os seus “fregueses” sem os distinguir segundo qualquer razão, tal como fazia com os seus amigos e até com os seus adversários, se é que alguma vez os teve. Se o Sr. Rucha tivesse vivido na época da escolha dos “Homens Bons” teria reunido todos os requisitos para tal. Na nossa época, numa escolha por voto democrático,

o Sr. Rucha foi sempre escolhido ou envolvido em diversas atividades, exatamente porque sempre foi apreciado como um “Homem Bom”. Há, felizmente, pelo nosso País muitos autarcas e políticos que são também apreciados como Homens Bons, nós em Arruda tivemos ter o privilégio de ter esse exemplo no Sr. Rucha (entre outros com certeza) que, para além da admiração, é uma fonte de inspiração para todos os que se envolvem nas causas públicas. O Sr. Rucha partiu. Mas deixou connosco muita coisa. Deixou a sua obra, deixou as suas ideias, deixou os seus ensinamentos, deixou o seu bom coração e, deixou o exemplo do que é ser um: “Bom Homem”.

Casimiro Ramos* Nesta edição em que “O Chafariz” assinala o seu segundo aniversário, que desde já quero parabenizar e felicitar, este é o meu contributo através da minha singela homenagem a quem tanto deu pela nossa terra e por todos nós. *Docente Universitário do Instituto Superior de Gestão em Gestão de Recursos Humanos e coordenador no mestrado em Gestão do Potencial Humano. Investigador em Comportamento Organizacional e Inteligência Emocional.


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Dezembro 2018

Opinião 13

Publicidade nas auto-estradas:

Das proibições na lei à “desbunda” total… s auto-estradas de novo se povoam de anúncios. Em enormes escaparates. A ponto de distraírem quem nelas circula. Da publicidade a motéis com mulheres provocantes e trajos residuais a bebidas alcoólicas. Não está proibida a afixação de publicidade na berma das estradas e autoestradas? A coisa começa a ser preocupante… Quem é que negligencia a sua intervenção nestes domínios?” Na realidade, o DL 105/98 proibiu a publicidade nas estradas nacionais nestes termos (art.º 3.º): “1 - É proibida a afixação ou inscrição de publicidade fora dos aglomerados urbanos em quaisquer locais onde a mesma seja visível das estradas nacionais.

“A

2 - São nulos e de nenhum efeito os licenciamentos concedidos em violação do disposto no número anterior, sendo as entidades que concederam a licença civilmente responsáveis pelos prejuízos que daí advenham

nais” e . a preservação da segurança rodoviária pelos elementos distractivos que tais manifestações representam. Porém, por interesses que mal se divisam, a Lei 34/2015, de 27 de abril, re-

vel das estradas a que se aplica o presente Estatuto, designadamente quanto às matérias com potencial impacto para a segurança rodoviária, como a localização permitida, o conteúdo da mensagem, a luminosidade,

membros do Governo responsáveis pelas aéreas das finanças, das infra-estruturas rodoviárias, das autarquias locais, da segurança rodoviária e da área com competências genéricas no domínio da publicidade.

A reintrodução da publicidade nas estradas nacionais ficaria dependente de uma portaria de execução, que jamais veio, ao que parece, neste permanente imbróglio das leis, a ser editada.

para os particulares de boafé.” E a razão de ser da proibição é bem simples: . “efectiva salvaguarda do valor ambiental que é a paisagem na área circum-adjacente das estradas nacio-

vogou, no seu artigo 5.º, o diploma anterior. E o artigo 59 passou a reger tal matéria: Publicidade visível das estradas 4 - As regras aplicáveis à afixação de publicidade visí-

os critérios para a implementação, manutenção e conservação dos respectivos suportes publicitários, bem como quanto à taxa devida à administração rodoviária, são estabelecidas em portaria a aprovar pelos

Há pareceres esparsos a propósito do tema. Mas, ao que parece, a portaria jamais surgiu, que saibamos. O certo é que desde logo, em pleno vazio legislativo, se assistiu a uma invasão das bermas pela publicidade, sem critério nem pudor. Mal se justifica que haja sido dada abertura à publicidade em tais domínios. Pelos valores em presença. Que são preteridos sem jus-

Mário Frota* tificação plausível. Pelo contrário! O Estado omite e demite-se! Os cidadãos assistem impassíveis ao “regabofe” instalado… E aos interesses em crescendo de determinados grupos com manifesta influência no seio do Parlamento e dos governos… A selva da publicidade invade as auto-estradas… Justificar-se-á a revogação da legislação de 98 que proibia, em dados termos, tal publicidade? Decerto que não! À atenção da Senhora Procuradora-Geral da República, como garante da legalidade! Aos cuidados da Senhora Provedora de Justiça, como recolectora do direito de petição dos cidadãos! apDC- DIREITO DO CONSUMO - Coimbra

O futuro do “ensino sénior” a rentrée de mais um ano letivo e por amável convite do diretor deste mensário, Miguel Rodrigues, sou a escrever sobre uma temática que me é particularmente “cara”: o «ensino sénior». Corporizando este artigo de opinião, começo por enunciar os três pilares fundamentais que, na minha ótica, consubstanciam a sustentabilidade das Universidades/Academias Seniores (U/AS’s), ou seja: a sua missão, a sua visão e os seus valores. Como missão: a promoção do envelhecimento ativo e saudável da população sénior, através da realização de atividades intelectual e socialmente estimulantes, objetivando a melhoria da qualidade de vida da pessoa, no seu equilíbrio psicossomático, consubstanciado em ações de convívio, de atividades físicas e de lazer e de desenvolvimento cognitivo (aprendizagens, habilidades, novas competências, aculturação, comportamentos de interação, novas experiências e a potenciação de capacidades ingénitas não percecionadas), por forma a sentirem-se

N

ainda úteis e realizados, individual (auto-estima) e socialmente. A visão está ancorada no humanismo, i.e., sem discriminação de raça, sexo, estatuto social, crença, ideologia política ou quaisquer outras formas discriminatórias e, expressa-se no mais profundo respeito pela dignidade da pessoa em idade sénior e pela manifestação de gratidão e do reconhecimento da sociedade através de cada Instituição, pela sua história de vida e seus contributos para a pátria, a familia e a sociedade. Os valores, estão compaginados no acrónimo, “CHAMAR”: - Comprometimento; Competências; - Honorabilidade (a caminho da excelência); - Altruísmo; Ação de voluntariado; - Matriz social (responsabilidade social , inserção social local e economia social); - Afeto e Amor (solidariedade); - Resiliência. Com base nos três pilares, importa-me sobretudo, ponderar sobre o futuro das U/AS’s. Nesta prospetiva, contribuo com a minha visão,

subsidiando uma reflexão e discussão alargadas. Relativamente ao “Ensino Sénior” ministrado nas U/AS’s, tenho a perceção de que será nas próximas décadas (futuro mais ou menos próximo), bem mais exigente, dado o surgimento de uma população sénior cada vez mais informada e escolarizada e, por consequência, mais atenta e ávida de conhecimento, não procurando nestas Instituições apenas a ocupação, a satisfação relacional, social e lúdica, mas algo mais e que tenha a ver com o “preenchimento do seu intelecto”, de uma forma prazerosa e num futuro próximo, mais comprometida academicamente, mas sempre em ambiente geracional, humano e social de proximidade, tendo como meta a aquisição de conhecimentos. Dada a premissa, penso que, novas respostas deverão ser dadas no futuro, pelo que antevejo, a efetivação de parcerias com as Universidades Tradicionais (UT) e com ou através da RUTIS - Rede de Universidades Seniores (preferencialmente – e que se pretende mais participativa e atuante), visando o seguinte: 1. Criação do estatuto do pro-

fessor do ensino sénior (definição do perfil de candidato a professor do ensino sénior/ reconhecimento oficial da função). 2. Conceção e ministração de cursos de formação pedagógica de professor do ensino sénior devidamente certificados e acreditados pelas UT’s (formação pedagógica específica – CAP – e, sua credibilização. Porque não, investigação a nível universitário por alunos das áreas de educação/pedagogia através da apresentação de trabalhos de grupo e/ou monografias (teses)? 3. Suporte à conceção de U/C’s - Unidades Curriculares – módulos e respetivos conteúdos programáticos, pedagogicamente adequados à população-alvo, de caráter geral (matérias com os diferentes graus e tempos de ensino adequados) e outros, contextualizados nas especificidades da envolvência em que se insere cada U/AS e, sempre que possível, ao encontro dos interesses manifestados por cada populaçãoalvo. Os mesmos, devem ser certificados e acreditados pelas UT’s. 4. Apoio às iniciativas das U/AS’s, nomeadamente na

disponibilização de oradores (pro bono) para palestras, entre múltiplas atividades que requeiram o apoio de parceria. Na sequência da reflexão/antevisão admito, com a introdução de UC’s certificadas e acreditadas, a possibilidade de emissão de “Diplomas com Notação”, para alunos interessados nessa variante, ficando naturalmente sujeitos a avaliações (assiduidade, aferições, frequências, exames ou outras formas de avaliação que venham a convencionar-se), e que se designaria de “Diploma de Ensino Sénior” (DES) no âmbito da “Aprendizagem ao Longo da Vida” (ALV). Esta nova situação pressuporá a existência de duas classes distintas de alunos, a saber: 1) Participantes; 2) Discentes. Como consequência, deverão surgir, naturalmente, diplomas distintivos. Reitero, tratar-se de uma visão de médio/longo prazo, onde está implícita, uma “proposta para discussão pública”, se me é permitido tal “atrevimento”. A mercantilização do “ensino sénior” não pode nem deve ser o caminho! O “Ensino sénior” a ser ministrado em Universidades

Augusto Moita Tradicionais, para além de ser mais oneroso para o discente, enferma de uma proeminente falta de vocação para esta vertente do “ensino”, porque não está na sua génese (vidé: missão, visão e valores). Às Universidades Tradicionais, é-lhes proposto cooperarem com as U/AS’s e, nada mais! Naturalmente, impor-se-á uma profunda reestruturação com pendor “profissional” nas U/AS’s, em todas as suas valências, a par da possibilidade de remuneração, ainda que simbólica (e.g.: eventual pagamento da formação e/ou de ajudas de custo/deslocação ou outras) aos professores que a aceitem e, que se apresentem devidamente habilitados, por razões óbvias (mobilização, recrutamento e motivação, entre outras variáveis). Aqui fica o repto a todos os interessados nesta matéria! Utopia? Hum ... Dogma? Talvez ... Visão? Decididamente!


Chafariz de Arruda

14 Pesquisa

Dezembro 2018

Irene Lisboa - 2ª. parte

Esboço para uma biografia pedagógica esde o início da carreira que se pressente que Irene Lisboa traz para a educação uma nova intuição pautada pela inteligência, aliando teoria, experiência e crítica: o aluno é considerado em todas as esferas do seu desenvolvimento, “(...) o aluno e a escola se inseriam numa realidade social que o mestre não poderia renunciar a conhecer e (...) a transformar” (Rogério Fernandes, Irene Lisboa, Pedagogista, 1992). Em 1923, submete-se, com Ilda, às provas do Magistério Primário Infantil: “Em 10 de julho de 1923 (...) nos sujeitámos às provas de exame (...) E, assim, ficámos legalmente habilitadas para o lugar que ocupávamos” (Moreira, 1975). Na escola da Tapada, recebe estagiárias que orienta através dos métodos mais inovadores da pedagogia moderna. Em 1926, Irene e Ilda publicam na Revista Escolar, n.º 4 e 7 e em 1927, n.º 2, um pioneiro estudo didático: “Vida escolar de crianças de cinco

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anos e meio a sete”. Ainda em 1926, na mesma revista, n.º 10, Irene publica um texto com um título sugestivo, “Escola atraente”. Aqui expõe algumas preocupações, nomeadamente a aproximação entre a teoria e prática e as aprendizagens significativas: “Na Escola toda a criança se submete a um viver artificial, é estudante. Leva anos a aprender frases, tudo a desvia dos seus pequenos interesses. Pouco aproveitará do que ouve e do que copia, está presa e contrariada. Não parte, não mexe, não apalpa, não discute, não tem preferências… tem deveres, é subordinada.”, diz ela, e dizemos nós, hoje, passados 96 anos. A teoria era submetida ao crivo da sua experiência enquanto professora e observadora. Em 1929, é-lhe concedida uma bolsa, em Genebra, pela Junta de Educação Nacional, para estudar psicologia e pedagogia, terminando em 1931. Simultaneamente ao estágio na Maison des Petits, Irene frequenta o curso de especialização no Ensino Infan-

til, do Instituto Jean Jacques Rousseau. “Pensava-se então, soubemos (...) em criar em Lisboa, sob a nossa orientação, duas escolas de ensaio (...) para estudo do que devia convir à criança portuguesa (...)” (Moreira, 1975). Em 1931/32, em Bruxelas (método Decroly) e Paris (Jardins d’enfants), assiste a conferências sobre metodologias pedagógicas, também ligadas às Necessidades Especiais. Regressa a Lisboa em junho de 1932. A sua estada no estrangeiro não é pacífica, embora muito enriquecedora, encontrando-se do-

cumentada em cartas a Gaspar Simões e, principalmente, a Rodrigues Miguéis: primeiro, porque se sente isolada e uma amadora do ensino, depois porque algumas das práticas observadas não correspondem ao que idealizara e, por fim, porque a formação que recebe continua a ser verbalista, distante da teoria que os mestres, que tanto admira, tentam difundir (assim é ainda hoje): “Em chegando a noite entra comigo um desânimo (...) O Instituto e a Maison des Petits desconsolamme imenso. Quem cá tem vindo trazia muita poeira nos olhos; são gabarolas de profissão (...) Duvido de mim... Tudo me soa a falso. E de facto há aqui imensa artificialidade (Carta a Miguéis, 11.11.1929). São vários os trabalhos pedagógicos escritos a partir do início dos anos 30. Destaca-se um editado pela Junta de Educação Nacional: “Bases para um programa de escola infantil” (incluído no Relatório da Bolseira Irene do Céu Vieira Lisboa, 1933). Pela primeira vez em Portugal há alguém que pro-

duz um documento com rigor científico: são lançadas as bases da escola infantil (dos 3 anos até à entrada na escola primária). Em 1933/34, é nomeada inspetora-orientadora do ensino infantil e primário, e em 1934 passa a ensinar Pedagogia na Escola do Magistério Primário de Lisboa. Porém, antes da extinção das secções infantis (duraram 18 anos, até 1938), Irene é afastada de inspetora. Mais uma vez o ferrão do Estado Novo a atingir uma profissional que, enquanto inspetora, se pautou sempre por ser “(...) um instrumento de apoio à formação continua dos professores (...)” (Fernandes, 1992). Perigosa, claro, como qualquer progressista com posições pedagógicas e políticas bem vincadas, não convém ao sistema. Por ser demasiado inovadora para o Estado Novo, numa “caça às bruxas”, Irene é transferida para um lugar administrativo; depois, em 1940, com 48 anos, dão-lhe duas opções: ficar com um lugar de professora na Escola do Magistério Primário de Braga

ou reformar-se. Opta pela segunda, recusando “o degredo” e dobrar-se a um sistema acéfalo, ou não fosse ela Irene Lisboa. Nunca mais tem lugar no sistema educativo público ou privado. “Deste modo, a intervenção de Irene Lisboa na área da educação circunscreveu-se, até ao fim da sua vida, à atividade de conferencista e de publicista (...)” (Fernandes, 1992). Numa carta de 06.07.1953, a pedagoga, já doente, escreve: “Estúpida vida foi a minha! Nem compensada (de pobre de tudo que foi) com a calma da velhice. Adiante”. Jorge da Cunha* Nota: Por ser extensa a obra pedagógica de Irene Lisboa, escusaremos de a apresentar aqui. Apenas referiremos que estão publicados em revistas de especialidade dezenas de textos que tiveram origem em conferências que a autora ia dando por esse país fora, alguns tiveram a forma de pequeno livro, nomeadamente, da Seara Nova: Froebel e Montessori (1937), O trabalho Manual na escola (1937), O primeiro ensino I e II (1938), A iniciação ao cálculo (1939), A psicologia do desenho infantil (1942), Educação (1944); e Cosmos: Modernas tendências da educação (1942). No entanto, os interessados podem ter acesso a todas as referências pedagógicas através da seguinte morada eletrónica: bibilante.blogs.sapo.pt. * (Mestre em Ciências da Educação, Professor de Português, Antropólogo)


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Dezembro 2018

Pesquisa 15

Memorial aos Combatentes da Grande Guerra Comissão dos Padrões da Grande Guerra, criada com a intenção de incentivar a edificação de monumentos complexos ou padrões simples, protagonizou fenómenos de sucesso na sagração da memória local e nacional, cumprindo o ideal simbólico da sua missão. A Liga dos Combatentes e a Junta Patriótica do Norte (esta com uma acção a norte do país) foram ainda duas impulsionadoras da construção destas edificações simbólicas, espalhando dezenas de obras arquitectónicas e escultóricas consagradas aos excombatentes, onde muitos concelhos apresentam monumentos alusivos aos mortos da Grande Guerra. Padrão, obelisco e monumento são as categorias em que pode ser agrupadas estas edificações. Não só a nível nacional como internacional foram erigidos vários memoriais, nomeadamente em Luanda e Lourenço Marques, aludindo ao exército africano com o intuito de perpetuar a memória do esforço português. À parte dos cemitérios, os monumentos constituem-se como a outra face da memória da Grande Guerra. Assumem-se como padrões da religiosidade pública que a República difundiu pelo País, reflexos da ideologia oficial e memória do sacrifício colectivo. O turismo cemiterial promove

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Ana Raquel Machado*

Planta de Arruda dos Vinhos em 1955 –ROTEP – Organização de Camacho Pereira, Casa da Pimenteira – Cruz Quebrada, n.º57, Abril de 1955.

a descoberta de valores históricos, estéticos, monumentais e ambientais. Nos cemitérios é possível observar a diversidade e riqueza da simbologia da arte funerária e os inúmeros exemplares de cantaria. A procura de personalidades nacionais e locais, que mesmo depois de mortas continuam a ser veneradas (em alguns casos até mais do que quando estavam vivas), é um dos motivos pelo qual cada vez mais se dinamiza visitas guiadas nos cemitérios,

Memorial aos Combatentes da Grande Guerra junto à Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos nos finais dos anos 50 – Coleção Privada.

onde se salienta o exemplo de sucesso do Município de Loures. Em Arruda dos Vinhos destacamos o Talhão dos Combatentes presente no cemitério municipal, onde se poderá reflectir sobre a participação militar portuguesa e arrudense na Grande Guerra. Memorial aos Combatentes da Grande Guerra É erigido por subscrição pú-

blica arrudense o Memorial aos Combatentes da Grande Guerra localizado no Largo José Vaz Monteiro, em frente ao Hospital da Santa Casa da Misericórdia, e nele consta a seguinte inscrição: “Arranhó – António Alves Carreira – Soldado de Infantaria – França 06/04/1918; Cardosas – Manuel Duarte Serrado – 2º Cabo Artilharia – 09/04/1918; S. Tiago – Fernando Nuno Ferreira – 1º Cabo Artilharia – 09/04/1918; Arruda – Luís Pinheiro – Soldado Artilharia –

Largo José Vaz Monteiro nos anos 60 –Coleção Privada.

08/01/1918 (prisioneiro) – Alemanha; Arranhó – José de Jesus Gajeiro – Soldado Engenharia – África – 09/01/1917; Arranhó – José da Silva Raimundo – Soldado de Metralhadoras – África – 07/09/1917.” Foi lançada a primeira pedra a 11 de novembro de 1928, no aniversário do Armistício, e inaugurado a 9 de abril de 1929 (contudo num convite da época é mencionada a data de 13 de junho), no aniversário da Batalha de La

Lyz, pelo Administrador do Concelho Capitão Geraldo Bastos dos Reis. À data presidia na Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos o senhor Augusto Frederico Vaz Monteiro. Foi inaugurado na Praça Combatentes da Grande Guerra, em frente da Câmara Municipal, onde a escadaria principal do edifício já não era composta pelos anteriores dois lances laterais de escada mas sim por uma escadaria frontal. O Memorial terá sido transferido para o Largo José Vaz Monteiro, junto ao jardim, entre 1958-1960, decorrendo a partir de 1964 obras na Câmara Municipal. Mais tarde foi deslocado para o local onde actualmente se encontra. Do programa do dia da inauguração tem-se conhecimento de que às sete horas se deu a alvorada por uma banda de música. Foram içadas as bandeiras Nacional, do Concelho e dos Combatentes da Grande Guerra tocando a banda o hino nacional. De seguida foi feita romagem ao cemitério para colocar flores nas campas dos ex-combatentes. Terá sido descerrada a placa toponímica dando o nome de Praça dos Combatentes da Grande Guerra ao recinto onde foi erigido inicialmente o memorial. Neste dia é ainda inaugurada a nova bandeira da Misericórdia. Às 16h30 realizou-se uma visita oficial ao edifício e Hospital da Misericórdia e ao novo quartel dos Bombeiros. Decorreu ainda uma corrida de bicicletas com o seguinte percurso: Arruda-AlhandraAzambuja-Alhandra-Arruda. Pelas dezassete horas é inaugurado o Padrão-Monumento, seguido de um Porto de Honra oferecido pela Câmara Municipal na Sala das Sessões. Para terminar, às 22h00, ocorreu um concerto com a banda de música, no Largo José Vaz Monteiro. * Historiadora de Arte Licenciatura em História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Mestrado em Arte, Património e Teoria do Restauro pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Pós-graduação em Gestão Cultural pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.



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