ÍNDICE | EDIÇÃO N.º5 | MARÇO 2013 02
EDITORIAL
04
TENDÊNCIAS MOVING FORWARD LEADING
06
O ESTADO DA ARTE LIDERANÇA EM TEMPOS DE TRANSIÇÃO
08
ENTREVISTA COM... ANTÓNIO MEXIA, EDP
12 14 16 18 20 22 26 28 30 32
PROSPERIDADE RENOVÁVEL IAPMEI – FALTA TITULO COMPORTAMENTO TÉRMICO E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DOS EDIFÍCIOS: PRINCÍPIOS ORIENTADORES DA FUTURA LEGISLAÇÃO INOVAÇÃO NA TECNOLOGIA AO SERVIÇO DA QUALIDADE DE VIDA E DA SUSTENTABILIDADE FABLAB – UM NOVO IMPULSO À INOVAÇÃO REABILITAÇÃO: CHARME E MATURIDADE ENERONE – FALTA TITULO ZONAS SONORAS E AMBIENTES GASTRONÓMICOS EPAL – FALTA TITULO VISÃO SOBRE A ÁGUA E ENERGIA EM AFRICA
36 38 39 43 45 46 48 52 54 56 58 59 60 61
RESILIÊNCIA SOCIAL CAPITAL INTELECTUAL O CIDADÃO DECISOR – METODOLOGIAS PARA UMA PARTICIPAÇÃO ACTIVA SEGURANÇA E RESILIÊNCIA DOS SISTEMAS DE SANEAMENTO – O PROJECTO AQUASAFE “A LEI DOS SOLOS” O QUE PRECISA MUDAR PARA SE INCENTIVAREM BOAS PRÁTICAS COBERTURAS VIVAS NATURALIZADAS A RESILIÊNCIA E A INOVAÇÃO NAS AUTARQUIAS AÇÕES DE COMUNICAÇÃO DA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL EM 2012 E INDICADORES DE DESEMPENHO COMUNIDADE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL® O OCEANÁRIO DE LISBOA É O ANFITRIÃO DO CICLO DE CONFERÊNCIAS HUMAN HABITAT ANTENA 2: OUT OF THE BOX A LEI DOS SOLOS E A ADAPTAÇÃO DO TERRITÓRIO AO PAÍS REAL NOTICIAS BREVES EXPOSIÇÃO TEMÁTICA: O CICLO DE VIDA DO ESFEROVITE NO MUSEU CIÊNCIA VIVA EM SINTRA
ÍNDICE | 03
EDITORIAL
Miguel Cravo © TIRONE NUNES
TIRONE SE A LIVIA COORDENADORA DA INICIATIVA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL NECESSIDADE É A MÃE DA INVENÇÃO ENTÃO A CRISE É A MÃE DA INOVAÇÃO...
Para além do Estado, que nunca teve tão em dia como hoje as dívidas dos Portugueses para com ele, duvido que existam muitos cidadãos que aceitem a atual conjuntura como benéfica. Mas nesta crise existem, efetivamente, diversos aspetos que podemos considerar positivos: a humildade que predomina, a disponibilidade para a entreajuda que se manifesta transversalmente na sociedade, em suma: a arrogância perdeu espaço e a humanidade ganhou força! Aproveitando esta abertura conjuntural perante a dimensão humana, as ações de comunicação promovidas durante a segunda metade de 2012 pela Construção Sustentável® destacaram o tema da “inovação” e o presente número da revista aprofunda os conteúdos apresenCONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 04
tados nos diversos eventos e explora esta predisposição oportuna para a mudança a qual, finalmente, se verifica na maior parte das instituições, empresas e das pessoas, dada a vontade que se faz sentir cada dia com mais vigor: de “sair do filme CRISE”. Mas mudar como? Por um lado, temos conseguido questionar alguns dos pressupostos - claramente errados - que conduziram à crise, mas, pelo outro, independentemente de apurarmos quais as causas responsáveis por nos fazerem tombar neste beco, aparentemente sem saída, interessa que atuemos... porque com os escassos meios de que ainda dispomos e seguindo o modelo que perdura, não vamos conseguir sobreviver em suficiente
equilíbrio por muito mais tempo. E então, como deveremos nós reagir? Apesar de ir mais fundo do que parece essencial e, por isso, demorar um pouco mais de tempo, considero extremamente salutar sempre que procuremos transpor uma barreira ou resolver um problema essencial, de, em primeiro lugar, escrutinarmos aquilo de que precisamos realmente sob uma perspetiva holística! Apenas com ideias claras sobre as necessidades reais, poderemos avançar para selecionar no catálogo de tecnologias disponíveis a mais adequada para ser colocada em prática. Se invertermos este processo, seremos sempre nós a adaptar-nos às tecnologias existentes e não estas a resolverem o que nos convém.
Mas que fazer no caso da tecnologia necessária não existir? O exercício serviu exatamente para encontrar a motivação mais ajustada para desenvolvermos a tecnologia verdadeiramente relevante! Aprendi esta lição através de uma apresentação à qual assisti em Viena há um ano, na qual dois jovens “designers” apresentaram um objeto que parecia ser em vidro e cuja forma lembrava a de um coração com textura áspera na maior das superfícies. Qual a sua função? Depurar água contaminada, de maneira a que qualquer pessoa sem acesso a água potável, possa, munida deste objeto, beber a água à qual tenha acesso, mesmo que esteja poluída ou contaminada. Naturalmente que os participantes nessa sessão questionaram imediatamente os designers acerca da tecnologia que permitia este “milagre” – e a resposta deles foi: o objeto apresentado serviu exatamente para motivar o desenvolvimento da tecnologia necessária, e qual ainda não existe – mas, como tudo que nos ocupa, com o devido esforço e em devido tempo tem sido resolvido. Porque não aceitar também este desafio? Podemos perguntar-nos o que deve chegar primeiro – o design ou a tecnologia? Hoje tendemos para o design, porque a tecnologia, por si só, não tem conseguido o alcance que todos desejaríamos. A Comissão Europeia que é hoje, provavelmente, o maior dos investidores em tecnologia e inovação, será a primeira a admitir que, ao longo das últimas décadas, os seus investimentos em tecnologia não tiveram os resultados esperados. Chegou mesmo à conclusão que, quando a tecnologia não vem acompanhada de “design”, conquista menos espaço no mercado e alcança, por este mesmo motivo, menos pessoas. O “design” é aquela atividade criativa – porventura aspirando à magia – que se dedica a juntar o desafio da ambição aos meios para a atingir, harmonizando no melhor modo possível e criando benefícios tão alargados quanto possível. Aplica-se, por consequência, não exclusivamente a objetos – artísticos ou úteis - conforme têm puxado a si a definição da atividade, mas sim, a todos os processos, conceitos, estratégias e visões... todos aqueles que queiramos melhorar!
Um exemplo de um processo ao qual se aplicou o “design” com sucesso é o que segue: No Reino Unido foi tomada a decisão de se aplicar “design” aos processos de atendimento dos utentes no sistema de saúde – este passo resultou numa completa redefinição do sistema de saúde, repercutindo-se inclusivamente na redefinição dos espaços de atendimento e de hospitais. Mas, o que é importante, é que por um lado os utentes se sentem respeitados e muito mais satisfeitos com esse atendimento e, pelo outro, do investimento de cada Libra realizado, resultou uma poupança de custos associados a este sistema de, dez vezes esse valor. Envolver os utilizadores de um sistema na definição deste mesmo, parece um passo quase óbvio a tomar por quem define o sistema, mas a realidade demonstra que não está acontecendo com frequência. O setor público que gere tantos processos e serviços que, supostamente, devem responder às necessidades do cidadão é, porventura, aquele que mais poderá melhorar se utilizar a ferramenta do “design” convidando os seus utentes a participarem. Como está a ser aproveitada esta oportunidade? Pois conseguirmos reduzir custos e aumentar a satisfação do cidadão, parece-me algo que não pode ser ignorado!
O Poder de uma Visão Quando na ordem do dia está a escassez, torna-se tão difícil imaginar prosperidade material, como imaginar calor quando se está a passar frio e imaginar-se sacio quando se sofre fome... conhecemos muito bem todas estas sensações mas, transitar entre estes polos opostos, não se torna por isso mais fácil. O mesmo acontece quando nos encontramos mergulhados numa crise: para quem se encontra de fora, pode parecer óbvio que a sociedade precisa de se reinventar, para sair do círculo vicioso no qual se aprisionou. Mas, quem está a viver a crise em pleno, porventura não tem a mesma percepção – pelo contrário, vai investir todos os meios de que dispõe para reagir, respondendo a cada embate com os meios que encontra à mão, sem se questionar se esses meios serão críticos para a sua posterior sobrevivência ou se são os meios mais adequados... mergulhando cada vez mais fundo e perdendo de vista o caminho da intenção original. Karl Henrik Robèrt (The Natural Step) ensinanos uma metodologia através da qual se torna possível evadir os círculos viciosos que nos atormentam – é chamada “backcasting” e assenta na nossa capacidade de nos colocarmos precisamente no contexto holístico do sucesso que procuramos obter. Em primeiro lugar, precisamos de descrever e de discutir em pormenor o contexto que pretendemos criar, em seguida precisamos de imaginar que já nos encontramos nessa realidade e, finalmente, precisamos de olhar para o espelho retrovisor para nos “lembrarmos” do que foi necessário fazer para aqui chegar. Com esta metodologia tiramos todo o poder a qualquer pessimismo, uma vez que já nos encontramos na realidade procurada – ou seja, não ficam dúvidas de ter conseguido lá chegar. Contudo, sem uma visão nítida sobre aquilo que pretendemos atingir e sem imaginarmos previamente aquilo que procuramos não é possível materializá-lo – a não ser por acaso. A visão descreve um desejo holístico que consegue inspirar um alargado número de pessoas – quanto mais pessoas participem na sua definição, maior se torna a respetiva capacidade de contaminação positiva. Nota: Na conferência Human Habitat 2010, Karl Henrik Robèrt foi o orador convidado e descreve este importante exercício (Mediateca online em www.construcaossustentavel.pt) para decisores estratégicos.
EDITORIAL | 05
TENDÊNCIAS
MOVING FORWARD LEADING
KEN NUNES TIRONE NUNES, SA.
Para o último número em 2012 da Revista, optei por apresentar o contexto de mercado na África do Sul, local em que me encontro profissionalmente desde Setembro do corrente ano para preparar os projetos em curso, iniciados em 2008, que ganham agora uma dinâmica interessante. Tendo vivido e trabalhado em Portugal nos passados 23 anos e conhecendo, por isso, o perfil do nosso carácter – todo o espectro de características nacionais imprimidas no nosso DNA – parece ter sido de propósito que um dos primeiros lugares que visitei fosse Mossel Bay, local em que Bartolomeu Dias e a sua frota atracaram em 3 de Fevereiro de 1488. Eram os primeiros Europeus a pisar solo Sul Africano, deixando, desde essa data, um pouco dos sabores, cheiros e costumes de Portugal um pouco por todo esse vasto país. Ligações a Portugal fazem-se sentir, sobretudo em Cape Town, com um clima similar ao de Portugal continental, e na zona do Western Cape. Tenho o privilégio de ter visitado uma África do Sul que, na generalidade, não está acessível áqueles Europeus que procuram apenas atividades lúdicas ou até negócios neste país, pelo que gostaria de partilhar esta realidade muito interessante: Apesar do Apartheid ter sido oficialmente abolido com a eleição de Nelson Mandela em TENDÊNCIAS | 06
1994 e muitos passos terem sido dados no sentido de se construir uma sociedade sem a divisão racial que durante quase cinco décadas a caraterizou, é certo que o território e muita da riqueza deste país continuam a exprimir essa divisão, uma vez que permanecem na propriedade de ex-Europeus e o trabalho é executado pela população nativa. Quando as notícias que chegam aos Europeus falam na morte de 46 trabalhadores em greve nas minas em Marikana, resultado de confrontos com a polícia, a realidade é que estes se manifestam para conseguir aumentar o seu rendimento diário. Também no ramo da agricultura no Western Cape acontecem greves e manifestações com revindicações para passarem de 7 para cerca de 15 Euros de rendimento diário. Tive igualmente oportunidade de visitar Windhoek e Walvis na Namibia, locais com uma beleza e caráter muito próprios que oferecem oportunidades de investimento e desafios interessantes para quem pretende contribuir para um desenvolvimento sustentável. Posso encorajar todos os jovens profissionais em início de carreira, que considerem interessante o desafio de explorarem um novo continente, para o fazerem tão brevemente quanto possível e sem hesitações. A reconhecida capacidade de adaptação dos Portugueses, pode transformar-se numa receita de sucesso, tendo em vista as oportunidades que os esperam na África Subsariana. Considero também que as empresas Portuguesas têm uma excelente oportunidade de se alargarem no mercado Sul Africano. No palco internacional, Portugal tem conquistado elevada credibilidade, também graças à aposta de entidades como a ADENE na internacionalização na área da energia, da reabilitação de edifícios e da certificação
energética, o que pode vir a contrariar as tendências prejudiciais da atual conjuntura. Os desafios e os riscos associados são muitos e profundos quando se inicia uma nova atividade empresarial num país longínquo. Também os problemas não divergem muito daqueles que encontramos em Portugal – mas precisam de ser mitigados, o que não será tão fácil quanto parece. Muitas vezes os pontos mais críticos são aqueles de que nem nos apercebemos. Para se iniciar uma atividade empresarial à distância num novo contexto, o primeiro e mais importante desafio é o de se procurar e encontrar um parceiro local. Sem ter sucesso neste passo, qualquer atividade empresarial constitui-se como um primeiro passo, com o esforço que isto representa. Uma empresa de maior dimensão, antes de entrar num novo mercado, investe fortunas para reconhecer e caracterizar o mesmo, de modo a posicionar-se e conseguir os objetivos que se propõe. Este investimento representa um luxo que uma PME, em condições normais, não se pode permitir. Logo que resolvidas as necessidades mais básicas sob a perspetiva empresarial – a criação da empresa, telefone, cartões de visita, um local de trabalho, um modo de transporte, entre muitos outros passos de logística – passa-se à criação da rede de contactos locais para iniciar o desenvolvimento do negócio. Esta etapa é dura – participei em inúmeras “trade conferences” dirigidas a empresas privadas com origem internacional em que se visa facilitar a exploração de oportunidades de negócio na África do Sul, estabelecendo pontes com entidades locais, muitas das quais claramente resultaram de investimentos avultosos e por entusiasmo para com este nobre objetivo – mas estes contactos, apesar de parecer inicialmente terem ter sido realmente estabelecido, logo após o evento, evaporaram. Quais os motivos para este importante investimento que é realizado por instituições
governamentais e internacionais não surtir os efeitos desejados? Possíveis barreiras poderão ser o idioma, a falta de confiança, os custos, o tempo disponível ou a insuficiente capacidade de comunicação... Na minha opinião, o crucial é a capacidade de dedicação. As relações no mundo empresarial iniciam com uma apresentação e precisam de um árduo trabalho para serem realmente efetivas. Nas “trade conferences”, os organizadores tendem a colocar o enfoque na capacidade de impressionar – contexto, buffet aliciante, apresentações que captam as atenções... quando o objetivo destas conferências deveria muito simplesmente ser o de facilitar uma primeira plataforma na relação entre empresas e profissionais para rapidamente entenderem o potencial do seu relacionamento na perspetiva dos seus negócios e competências. Penso, por um lado, que os interessados necessitam de ter acesso a mais informação acerca dos os contactos das empresas que pretendem encontrar, antes de as confrontar. Sem esta informação, a realização do encontro pode trazer pouco proveito – como se verifica! O importante no primeiro contacto é de poder travar conhecimento, explorar oportunidades comuns e verificar se uma comunicação e colaboração futuras poderão ser desenvolvidas, assentes em simpatia mútua. Esta lacuna pode ser colmatada por um projeto que estamos a desenvolver para os profissionais interessados em iniciar atividades na África do Sul. Precisamente a criação de uma plataforma que assente, por um lado, na rede de contactos profissionais da Construção Sustentável® e, por outro, numa rede de contactos profissionais na África do Sul, para permitir um relacionamento mais direto e aumentar as possibilidades que proporciona para encontrar o parceiro local. A internacionalização não precisa de significar um “abandono” do país de origem e para abraçar as oportunidades em países como, numa etapa inicial, África do Sul e Namíbia, ambos com uma cultura de relacionamento com Portugueses, mais tarde alargando à Comunidade de Desenvolvimento do Sul da África (Angola,
Botswana, o Congo, Lesotho, Malawi, as Ilhas Maurícias, Moçambique, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia, Zimbabué, Seicheles...), pode ser extremamente útil a facilitação de contactos diretos entre empresas, através de uma rede de empresas ativas no setor da construção. Esta plataforma está em desenvolvimento e poderá ser lançada ainda durante o primeiro semestre de 2013. Quem achar o projeto interessante, poderá contactar-nos através de: mail@construcaosustentavel.pt TENDÊNCIAS | 07
O ESTADO DA ARTE
LIDERANÇA EM TEMPOS DE TRANSIÇÃO
HELENA FARRALL SUSTAINABLE CONSTRUCTION LIVING LAB
Mais do que um "estado da arte", este é um texto de reflexão sobre o conceito de Liderança e o que isso pode significar em épocas de incerteza. O tema da Liderança tem sido objeto de inúmeros estudos científicos principalmente nas áreas de gestão, da psicologia, dos negócios, da educação e das ciências políticas - só em 2012 foram publicados mais de 3500 artigos científicos sobre este assunto. Os estudos sobre Liderança têm sido principalmente centrados na figura do “líder" - focados na indivíduo, nos seus traços de personalidade, nas suas capacidades e ações - associando o fenómeno da "liderança" a pessoas individualizadas e separadas do seu contexto cultural. Este facto resulta do desenvolvimento de uma noção de que as lideranças devem ser identificadas e selecionadas com base na adequação e no mérito formal e não no carisma ou nas relações de parentesco. Apesar de este ser um tema que constitui uma parte importante das ciências organizacionais, a área da Liderança é considerada por muitos autores como dececionante dada a ausência de um quadro teórico, globalmente aceite, que dê sentido ao vasto leque de teorias existentes. A Liderança surge na atualidade como algo CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 08
de crucial no mundo empresarial, no governo, na administração pública e até mesmo na esfera das organizações sem fins lucrativos. São frequentes os apelos a mais e melhor liderança como solução para os problemas que afligem estes sectores, ao ponto da Liderança parece ter-se tornado um dos grandes mitos sociais do nosso tempo. No entanto, o que se entende por um "bom líder" é algo que permanece em aberto e que tem dado origem a diferentes escolas de pensamento. Uma das linhas teóricas defende que o que distingue líderes de sucesso das outras pessoas é a sua personalidade, pelo que se tem focado na análise dos traços que podem estabelecer esta diferença. Uma outra interpretação reivindica que, sendo a liderança o resultado da interação entre líderes e seguidores, o que é determinante é o estilo de interação maior ou menor preocupação com as pessoas versus com os objetivos de produção- uma vez que diferentes estilos implicam diferentes consequências. Mais popular é a designada "escola situacionista" segundo a qual a eficácia de um líder depende da sua capacidade de adaptação do estilo de liderança à situação vigente situações muito simples ou muito complexas serão melhor abordadas numa perspetiva de liderança orientada para o cumprimento de tarefas, enquanto situações intermédias poderão requerer estilos de liderança baseados no estabelecimento de ligações socio-emocionais com os seguidores. Na literatura contemporânea, o conceito de Liderança tem sido entendido como uma forma de direcionar e de controlar os futuros antevistos para a organização. Neste contexto, um líder é descrito como um elemento que exerce intencionalmente influência sobre os restantes membros da organização - ao nível do pensamento, dos
valores e das emoções - no sentido de canalizar e facilitar as tarefas coletivas por forma a atingir os objetivos dessa organização. A Liderança é, deste modo, concebida como uma função mobilizadora, capaz de criar imagens com significado de um futuro comum e dominando ou transformando divergências de posição, por forma a criar um ambiente construtivo para a prossecução dos objetivos comuns. Dois estilos de liderança distintos e contrastantes, têm merecido a atenção de especialistas que a eles se referem como liderança transacional e liderança transformacional. O primeiro estilo retrata o líder como influenciando os seus seguidores através de um sistema de recompensas que os estimula a atingir os seus próprios objetivos; este estilo de liderança trabalha dentro do quadro normativo da organização e auxilia os subordinados a reconhecerem o seu papel e as suas tarefas para a prossecução dos objetivos estabelecidos, intervindo quando as metas não são atingidas. Por seu lado, o estilo transformacional motiva e influencia os subordinados a trabalhar coletivamente, para além do estipulado pelas normas, e inspira-os a transcender os seus interesses pessoais a favor dos interesses da organização; este estilo de líder utiliza fortes imagens, símbolos e visões do futuro para influenciar os seus seguidores e instilar alterações de atitude e de pressupostos que resultam em profundas mudanças culturais e estratégicas da organização. Se no primeiro caso, a liderança surge como uma relação contractual entre o líder e os seus seguidores, no segundo caso a liderança é uma relação social em que as aspirações dos subordinados são elevadas às do próprio líder. Nesta perspetiva, a noção de liderança carismática tem vindo a ser reabilitada,
Na última década assistiu-se ao florescimento de um debate em torno de noções da distribuição e/ou da partilha da liderança, considerando-se esta como uma atividade coletiva mais do que como uma função individual do líder designado. Esta discussão surge num contexto de observação de práticas de liderança em condições que requerem uma elevada capacidade de lidar com um amplo espectro de situações e tarefas, competências alargadas e que têm associados volumes de trabalho significativos. Nestes casos, a liderança é preferencialmente coletiva e colaborativa, sendo as responsabilidades, competências e capacidade de decisão distribuídas entre vários indivíduos. Embora vários autores questionem a eficácia da liderança partilhada, já que parece implicar uma diluição da autoridade, é para todos evidente que se iniciou uma nova fase na forma de encarar a Liderança - os modelos heroicos, individualistas e autocráticos estão a ser substituídos por modelos relacionais, coletivistas e não autocráticos na prática das organizações. Uma outra interessante área de análise que está a adquirir expressão na literatura sobre Liderança, tem por base o estudo dos seguidores em lugar de se focar no líder, como tem sido prática comum. A atracão dos seguidores pelo líder é desconstruída segundo diferentes perspetivas - proteção, explicação de uma realidade complexa ou narrativa que dá sentido e reforça a identidade e coesão do grupo. Esta abordagem pode auxiliar na escolha do modelo de liderança e na análise da validade da predição da influência de um líder em diferentes situações. Nesta lógica, a Liderança pode ser encarada como um processo de gestão das emoções de um grupo o que implica que não está presa a um indivíduo em particular, mas que, pelo contrário, pode ser ensaiada por diferentes elementos do grupo, em períodos distintos.
Os modelos tradicionais de liderança são por norma determinísticos, hierárquicos e baseados no pressuposto de estado final de equilíbrio do sistema. Nestas condições, os líderes devem concentrar-se em criar as condições que permitem ao grupo atingir esse futuro através de ações de planeamento, direção, organização e controle. A surpresa e a emergência de novas situações, embora consideradas, não constituem o ponto fulcral das preocupações do líder. No entanto, a realidade que atravessamos caracteriza-se pela complexidade mais do que pela simples incerteza e nestas condições os líderes não direcionam mudanças nem tão pouco controlam o futuro. Qual é então o modelo de liderança mais adequado a estes tempos de passagem entre um estado de aparente estabilidade e de certezas quase absolutas e um outro estado sobre o qual projetamos a nossa visão, as nossas esperanças e os nossos receios, mas cujos contornos permanecem indefinidos e inacessíveis? Quando abordámos o tema Resiliência das Organizações, reportámos que a maioria dos estudos que tentavam identificar os mecanismos organizacionais e as práticas diárias que contribuíam para esta resiliência, se referia a culturas organizacionais flexíveis, justas e promotoras da aprendizagem, numa lógica de ciclo de aprendizagem-melhoramento aliada a um processo de consciencialização dos potenciais riscos enfrentados. Dissemos também que, no contexto da resiliência organizacional, não existem soluções únicas e miraculosas uma vez que a visão/missão e os objetivos que movem cada organização são distintos assim como a paisagem de conexões, interdependências e riscos em que se move. Preparar uma organização para ser resiliente - sobreviver a períodos de turbulência, mantendo a sua identidade e funcionamento - apenas é possível através de processos de “investigação e aprendizagem ativas”. Se a Liderança é essencialmente uma função mobilizadora, ser líder em tempos de elevada complexidade requer a capacidade de promover mais do que a de exercer controlo. O poder do líder, nestas circunstâncias, reside na habilidade em
"permitir" e não tanto na de dirigir. O processo de liderança passará necessariamente pela criação das condições necessárias para o estabelecimento de um clima de confiança, empenho e trabalho em rede. Esta interação facilita a emergência de dois elementos fundamentais: o do conhecimento partilhado sobre o sistema e o dum padrão de comportamento na organização. Em situações complexas, a capacidade de adaptação de uma organização depende em grande medida do conhecimento e da aprendizagem. Por sua vez, estes requerem a integração de diferentes pontos de vista e de conhecimentos de natureza distinta bem como a existência de um ambiente favorável à experimentação e à inovação - enquanto promotor, o líder encoraja a inovação em lugar de inovar. Miguel Cravo © TIRONE NUNES
Preparar uma organização para ser resiliente nunca será uma tarefa fácil e segundo vários autores só poderá ser atingida através de processos de “investigação e aprendizagem ativas” embora o risco de manipulação inerente ao ideal transformativo seja algo de permanente.
Os líderes, em sistemas complexos, interpretam a mudança mais do que a criam, na medida em que dão sentido aos acontecimentos e dão nome aos padrões emergentes - a sua escolha de palavras é cuidada e refletida uma vez que o contacto pessoal e coletivo é a forma utilizada para auxiliar os subordinados a entender o que se passa na organização. A Liderança em condições de complexidade pode ser encarada como destabilizadora no sentido em que enfrenta abertamente a incerteza e o conflito e cria entropias que encorajam a reconfiguração e a emergência de novos padrões. A gestão deste dicotomia entre instabilidade e estabilidade dentro da organização é um desafio interessante para o qual se têm encontrado soluções ao nível do próprio modelo de liderança. Para alguém menos atento, o estilo de liderança descrito de forma sumária nos parágrafos anteriores pode ser confundido com a liderança transformacional ou mesmo com a liderança carismática - em todos existe um apelo à "transcendência", a ir além dos cânones normais da organização. Mas as semelhanças acabam aqui. Em situações de complexidade o líder é um veículo para um fim e não a figura central do processo. Qualquer que seja a visão do líder em relação à organização, esta será sempre parcelar e passível de ser posta em causa pela realidade, a qualquer momento – o O ESTADO DA ARTE | 09
ENTREVISTA COM…
ANTÓNIO MEXIA A EDP lidera com boas práticas nas diversas áreas em que opera e tem investido fortemente na inovação – a cidade de Évora, por exemplo, acolhe um projeto piloto de rede inteligente a uma escala representativa e constitui-se como referência internacional. Mantém um papel de liderança na vertente eólica das energias renováveis e, como tal, desempenha um papel de importante estímulo para o desenvolvimento tecnológico, para a indústria e para os objetivos globais desta área. Interessante é, sobretudo, o facto de apesar de a EDP ter assegurado um considerável mercado, continuar atenta e capaz de inovar sempre que se apresentem oportunidades de desenvolvimento na área da sustentabilidade ambiental e económica. Como força motriz de inovação, é um excelente parceiro para a entrevista deste número da Revista Construção Sustentável que se dedica precisamente a este tema, propulsionador de mudança e desenvolvimento, sobretudo em momentos de crise. Os nossos agradecimentos por ter aceite o desafio desta entrevista para a Revista Construção Sustentável. É a segunda entrevista que realizamos com a EDP (a primeira entrevista foi com o Eng. Jorge Cruz de Morais, Vogal do Conselho de Administração Executivo da EDP e foi publicada no número 3 da revista) uma vez que consideramos crítico o seu papel no desenvolvimento positivo da nossa sociedade.
CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 10
Está à frente da EDP há seis anos e foi, recentemente, reeleito para o seu terceiro mandato. Uma reeleição inédita na história da empresa. Que balanço faz da sua gestão? Mais do que uma perspetiva pessoal, o balanço que faço é o do trabalho das 12 mil pessoas que fazem parte da nossa equipa. Vejo sempre isto como um trabalho coletivo. De uma companhia que soube criar, numa primeira fase, durante os primeiros três anos (entre 2006 e 2009), um projeto estratégico que nos diferenciasse do resto do setor. Neste momento, somos o terceiro maior player mundial em energia eólica e temos o maior projeto hídrico de toda a Europa. Isso tornou a nossa história distintiva e permitiu-nos antecipar tendências no mercado. A segunda fase, teve como prioridade a consolidação da mudança cultural. É uma companhia que, hoje, está em 13 países, que tem pessoas de 29 nacionalidades. Uma companhia aberta ao mundo exterior, porque, sem essa capacidade de abertura, não teria a capacidade de antecipação e execução. Quais são os principais desafios para a terceira fase? Para estes três anos, que agora quisemos antecipar com este novo plano estratégico, 2012-15, o principal desafio é partir de um setor que está numa fase muito difícil em toda a Europa. O setor das utilities, das empresas elétricas, está num contexto de mercado macroeconómico e de relacionamento com a parte legislativa e regulatória muito exigente. Além de estar num mercado difícil, esta empresa tem uma base portuguesa. O que leva a que o mercado a encare com maior risco. Isto apesar de 60% dos resultados, atualmente, virem de fora. Portanto, é um setor difícil, com uma base difícil. E o desafio que temos agora é como consagrar o papel da EDP no mundo global, no contexto da nova privatização, através da parceria com a China Three Gorges. Essa é que é a questão.
A EDP apresentou o seu plano de negócios para os próximos três anos, assente em três pilares: crescimento sustentável, o risco controlado e uma maior eficiência. É a estratégia adequada tendo em conta a atual conjuntura? A EDP foi, indiscutivelmente, nos últimos três anos, a utilitie integrada europeia que melhor conseguiu entregar aquilo que o mercado esperava e a que menos se desviou dos seus objetivos. As 12 mil pessoas que formam este Grupo conseguiram entregar. Esse é um aspeto absolutamente decisivo. Ora, dentro destes três pilares resultam, neste novo plano, quatro mensagens importantes que queremos passar ao mercado. A primeira, é a prioridade absoluta de gerir o enquadramento legal e regulatório nas diferentes economias onde estamos. Segunda prioridade: desalavancar a companhia, ou seja, garantir que o movimento de consolidação financeira da companhia prossegue até 2015, com o objetivo claro de que o rácio de dívida sobre os resultados operacionais não seja mais do que três vezes. Terceira prioridade: continuarmos a criar opções para o futuro. O sistema elétrico e a sua sustentabilidade têm estado na ordem do dia. De que forma é que isso pode impactar a EDP? A questão da sustentabilidade tem sido um falso problema neste setor. Eu tenho insistido em quatro coisas. A primeira, é que em Portugal passamos demasiado tempo a falar de eletricidade, que só representa 20% da energia, e pouco a falar dos outros 80% do petróleo. E aqui é que está o principal problema da economia portuguesa no que diz respeito à energia, porque é aqui que está o grande peso das nossas importações. Devíamos estar a discutir como é que Portugal se pode tornar menos dependente do petróleo e como passamos a ser um país que utiliza a energia de forma mais eficiente. Eficiência e menor dependência são as duas questões críticas e não a questão do setor elétrico. Segunda realidade, muito importante: preços de eletricidade, em Portugal, são mais baixos do que na média europeia e mais baixos que
em Espanha. Isto é verdade para todos os escalões no setor industrial e, por isso, não se pode dizer que a eletricidade esteja associada a um problema de competitividade. Isto é tanto mais verdade quanto a eletricidade representa apenas, em média, 1,7% dos custos da indústria transformadora em Portugal. Nada que represente 1,7% poderá ser um problema de competitividade. Também não é um problema de qualidade de vida, porque também só representam 2,5% dos gastos do agregado familiar. Terceira realidade, que tem sido distorcida: não há um problema de sustentabilidade, a prazo, no setor. Estudos que não são nossos, mas que vêm confirmar os nossos, mostram que com aumentos reais entre 1,5 e 2% do preço da energia elétrica até ao final da década, temos o défice absorvido. Ou seja, o sistema é sustentável. Quarto, o falso problema, também muito discutido ultimamente: a questão das rendas excessivas. Já tivemos oportunidade de partilhar com o Governo, e com os demais parceiros, que não há nenhuma renda excessiva. Isso resulta de um estudo com erros claros e temos dois estudos, um inglês e outro de uma universidade portuguesa, que demonstram a inexistência de rendas. Globalmente, a energia elétrica está do lado da solução. Que marca pessoal quer deixar na EDP? A marca de uma empresa global, que tem o seu papel indiscutível em Portugal e no mundo, que cumpre a sua função económica e social, que cria mais oportunidades à sociedade nos países onde está inserida. Uma empresa que se distinga de todas as outras que estão no seu setor, por esta vontade de misturar a sua função mais básica, de dar energia, que não é só eletricidade e gás, com a energia de criar um mundo melhor. Isto parece vago, mas não é. Alguém, um dia, definia liderança como alguém que faz caminhar em conjunto, que liberta energia e competência em nome de um bem maior. Esta é uma questão decisiva. Isso tem que ver com pessoas, mas também com instituições que conseguem
EDP Empresa líder no sector da energia, que integra na sua cultura valores e compromissos com os seus clientes, com as pessoas e com o ambiente. Praça Marquês de Pombal, 12 . 1250-162 Lisboa T: +351 21 001 2500 · F: +351 21 002 1403 · www.edp.pt
distinguir-se de outras enquanto líderes da sociedade, libertando competência e energia, em nome de um bem maior. Eu acho que isso está a acontecer. Na Assembleia Geral, os acionistas demonstraram uma total confiança na sua liderança, ao ser reeleito com 99,8% dos votos. Que análise faz deste resultado? Acho que é um resultado interessante. Traduz o reconhecimento dos acionistas do trabalho desta empresa na sua totalidade. Ou seja, eu partilho estes 99,88% com as 12 mil pessoas. Não é um resultado meu nem do CAE; é a confiança numa estratégia, na capacidade de execução e na determinação da equipa em entregar, nomeadamente, aos acionistas. Mostra alinhamento, convergência, criação de valor, coesão, e mostra visão para onde se quer ir.
CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 12
Do ponto de vista de serviços, qual a estratégia que a EDP está a adoptar para “enfrentar” um mercado cada vez mais liberalizado? A liberalização do mercado obriga ao desenvolvimento de estratégias de diferenciação para lá do preço. Tal implica uma evolução da oferta inicial de um único produto para uma gama de produtos e serviços. Os serviços são pois para a EDP um ponto essencial para uma atuação bem sucedida no mercado liberalizado. Os serviços de eficiência energética fazem hoje parte da oferta da EDP tanto para B2B como B2C e diferencia-nos: certificações, auditorias, manutenção das instalações técnicas (eletricidade e gás), implementação de medidas pagas pelas poupanças (ESCO), etc. Somos também líderes do mercado de micro e mini geração fotovoltaica. Acreditamos na oportunidade que a geração distribuída irá representar no relacionamento com os
nossos clientes. E continuamos a trabalhar arduamente para surpreender os nossos clientes com uma oferta mais alargada... já em 2013. Este ano, inauguraram uma nova sede no Porto e estão a construir outro edifício novo em Lisboa, que concentrará a maioria dos colaboradores que estão na capital. O que distingue, de outras construções, estes dois edifícios? A nova sede do Porto (já em funcionamento) e a nova sede de Lisboa (que está em fase de construção) são dois marcos da inovação e sustentabilidade e que vão fazer a diferença, não só na arquitetura, mas também ao nível do desempenho energético.
Em Lisboa, a nova sede começou a ser construída em Abril deste ano e prevê-se que esteja concluída e pronta a receber cerca de 750 colaboradores no final de 2014. O edifício terá 8 pisos acima do solo e 6 em cave, com uma área total de construção de 46.258 m2, dos quais 13.967m2 destinados a escritórios. O programa definiu um complexo e exigente conjunto de requisitos, ao nível do planeamento urbano, da imagem da arquitetura, da otimização funcional, do controlo ambiental e do desempenho energético. O edifício apresenta-se como um ícone - imagem identificável e inconfundível -, joga com opacidade e transparência, cheios e vazios, gravidade e leveza, mantendo um diálogo constante com o cenário exterior.
Todas estas exigências e requisitos prendem-se com a vontade do Grupo EDP em que a nova sede em Lisboa seja, tal como já referi, um marco a nível de sustentabilidade, nomeadamente com a obtenção de um dos mais elevados níveis de certificação do “Leadership in Energy and Environmental Design (LEED)”, sistema de certificação de mérito ambiental líder a nível mundial.
ENTREVISTA COM... | 13
Miguel Cravo © TIRONE NUNES
UNPLUGGED Para minimizar a dependência de recursos primários, porventura com origens distantes, a autonomia apresenta-se como qualidade crítica que contribui, simultaneamente com outras qualidades, para aumentar a resiliência urbana! Fazermos parte de um sistema tira-nos liberdade, uma vez que nos temos de cingir às respetivas regras e condicionantes, aumentamos a liberdade sempre que conseguimos uma autonomia “unplugged”...
ENQUADRAMENTO
PROSPERIDADE RENOVÁVEL Associar o consumo material à liberdade individual e, por arrasto, à percepção de democracia, foi uma medida extremamente bem sucedida, promovida pelo marketing das empresas globais, com o primordial objetivo de aumentar o respetivo lucro, quase sempre conseguido apenas através da venda de mais produtos, portanto também de mais materiais (recursos finitos). Igualmente no campo da política o indicador “aumento de consumo” mantém-se, perversamente, como sinónimo de progresso. Da conclusão de muitos estudos desenvolvidos nesta área: resulta que o consumo aumenta, mas que a felicidade, a satisfação pessoal, a saúde, o bem-estar, a prosperidade alargada: nem por isso. No anterior número da Revista Construção Sustentável, Karina Litvack, na sua entrevista connosco, partilhou o facto de que: “...Atualmente, governos do mundo inteiro subsidiam combustíveis fósseis num valor superior a US $600 bilhões por ano enquanto na maioria destes países, permanece gratuita a emissão de gases com efeito estufa...” afirma ser este modelo de “ajuda” aos pobres, de cima para baixo, o causador de incalculáveis danos para o planeta. Verifica-se, nesse contexto, que embaratecer o acesso a recursos incentiva um desperdício maior, demove investir-se em tecnologias que favorecem a transformação de recursos renováveis e cria a base para uma cultura de consumismo. Nas culturas mais antigas prevalece um respeito generalizado pelos recursos que são disponibilizados pela Natureza e pelo Planeta, tendo por isso, menos efeito sobre o comportamento das pessoas o “preço” politicamente atribuído ao consumo de qualquer destes recursos. Quando as gerações mais jovens por influência da CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 16
globalização ou, até, devido a uma sã rebeldia, se alheiam destes valores, todas as medidas e os princípios incentivadores bem dirigidos serão poucos para inverter os grandes padrões de comportamento que se desenham, porque a globalização vem grandemente por arrasto do “consumismo”. Será que o posicionamento mais transversalmente defensável e, por isso, também mais sustentável é o das empresas que desenvolvem e comercializam produtos de consumo, enquanto assumirem a disponibilização dos seus produtos na óptica do serviço que estes prestam aos utilizadores? De acordo com a Diretiva 2012/27/EU, a definição resumida de um “serviço de energia” é a seguinte: “Os benefícios tangíveis ... ou as vantagens resultantes de uma combinação de energia com tecnologias e/ou ações energeticamente eficientes ... que em condições normais, tenha dado provas de conduzir a uma melhoria verificável e mesurável ou estimável da eficiência energética ou da economia de energia primária.” Quando se opta por enquadrar o recurso sob a perspetiva de prestar um serviço, aquilo que se mede, é o contributo do serviço para o bem-estar dos utilizadores e não a quantidade do recurso disponibilizado – podendo as empresas apostar, assim, no aumento do lucro, em simultâneo com o usufruto de beneficiar de uma maior eficiência, na utilização de recursos materiais. Para entendermos o enquadramento do recurso sob a perspetiva da prestação de serviços, precisamos de considerar que a exploração de um qualquer recurso finito, o qual, por ser finito, pertence também às gerações vindouras, implica sempre
Miguel Cravo © CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
externalidades, impossíveis de quantificar pela respetiva valorização ou preço de venda. As guerras em torno do petróleo e de outros recursos escassos e preciosos, as implicações ambientais locais e a desigualdade social, durante a exploração dos mesmos – são todas externalidades que nem marginalmente se refletem nos preços de venda. Nesta perspetiva, será que ocorre partir de uma postura em que os recursos finitos deverão ser utilizados apenas em atividades humanas críticas – atividades as quais, em qualquer “tribunal futuro” possam ser justificadas como tendo sido necessárias para o desenvolvimento e a sobrevivência da humanidade? Um primeiro passo neste sentido, sem questionar sequer os fundamentos do modelo económico que escolhemos, será optar pela exploração de recursos com o devido respeito e, por este motivo, desassociando o lucro, gerado no mercado, do aumento de recursos materiais e finitos vendidos. Naturalmente que são as próprias entidades que usufruem da concessão para a disponibilização de recursos finitos – energia, água potável e materiais – aquelas que devem liderar o processo, marcando o caminho pela positiva e tornando o seu crescimento sempre menos dependente da utilização de recursos finitos. Isto torna-se possível pela prestação de serviços associados ao recurso energia, ao recurso água potável e a recursos materiais, em que o enfoque está na eficiência e na utilização final e não na quantificação do recurso vendido. Por seu lado também as políticas, necessitam de desvincular o consumo de recursos materiais finitos dos indicadores de sucesso – à escala local, regional e global! Atravessamos atualmente um período extremamente dinâmico, quanto à mudança de paradigmas os desafios são profundos e as oportunidades gigantescas! Livia Tirone
ENQUADRAMENTO | 17
COMPORTAMENTO TÉRMICO E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
DOS EDIFÍCIOS PRINCÍPIOS ORIENTADORES DA FUTURA LEGISLAÇÃO ADENE
1. Diretiva sobre o Desempenho Energético dos Edifícios (reformulação). Por força daquilo que foi a implementação da diretiva de 2002, e com base na reformulação da mesma, datada de 2010, os Estados Membros devem avaliar os seus diplomas legais e incorporar alguns dos princípios constantes desta reformulação. Aspetos como os edifícios de necessidades quase nulas, a validação dos requisitos impostos, numa ótica da rentabilidade dos investimentos versus as poupanças geradas ao longo do ciclo de vida do edifício, bem como o reforço do papel do certificado energético ou dos edifícios existentes, são alguns exemplos que tomam corpo nos novos diplomas. 2 Estrutura e agregação legislativa Tornou-se claro que a revisão dos regulamentos, teria forçosamente que incidir CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 18
também sobre a forma, e não apenas sobre o conteúdo dos diplomas legislativos. A opção tomada foi a de prever uma nova estrutura para todos os documentos, tendo como objectivo final uma melhor organização do regulamento e consequente melhoria no seu entendimento, numa lógica de “diploma chapéu” e restantes peças legislativas de suporte. Para além da organização anterior, a estratégia assentou em estruturar os documentos tendo por base um conjunto de princípios gerais, os quais serão cruzados com princípios específicos. Os princípios gerais são considerados como elementos transversais à generalidade dos edifícios no âmbito de aplicação do regulamento, sendo os princípios específicos os elementos específicos aos edifícios em diferentes momentos do seu ciclo de vida (novos, sujeitos a intervenções e existentes). Com esta abordagem são elaborados regulamentos baseados numa matriz de requisitos, ficando definidos quais os princípios gerais a que determinado tipo de edifício ou sistemas estarão sujeitos. 3. Evolução planeada de requisitos A preocupação com os edifícios de consumo quase zero de energia (near zero energy buildings - nZEB), de acordo com o definido na Diretiva, foi tida em conta desde o início do processo de revisão dos regulamentos. Foi prevista uma evolução em termos de requisitos mínimos, até 2021, sendo criadas etapas intermédias em 2015 e 2018. Os parâmetros definidos nos princípios gerais, irão ver os seus valores gradualmente ajustados, por forma a se adaptarem às futuras exigências. Pretende-se que a evolução desses valores seja conhecida nos próprios regulamentos, criando-se assim um “roadmap” para 2020 do conhecimento de todos os atores no mercado. Nesta matéria, foram igualmente revistos um conjunto de requisitos aplicáveis quer aos edifícios de habitação, mas também aos edifícios de serviços, espelhando aquilo que foi a experiencia recolhida nos últimos anos
em relação à efetiva aplicabilidade dos regulamentos e à necessária promoção do conforto, qualidade do ar interior e desempenho energético destes. 4. Reabilitação Sem dúvida um dos aspetos chave neste processo e que representará um importante enfoque nos próximos anos. Evoluindo a partir daquilo que são as atuais versões dos diplomas, onde a adequabilidade aos edifícios novos se sobrepõe aos existentes, houve uma preocupação de criar cenários específicos para estes edifícios. Nesse sentido, existe uma diferenciação naquilo que são alguns dos requisitos aplicáveis, bem como mecanismos de flexibilização no cumprimento destes. O valor arquitetónico, as incompatibilidades de natureza técnica ou funcional bem como a não viabilidade económica, são alguns desses mecanismos. Sem perder de vista a importância de melhorar as condições nestes edifícios, importa garantir que os diplomas não são demasiados restritivos e que desincentivem quem os pretende melhorar. 5. Energias renováveis Para além daquilo que foi o passo importante de promoção de energia renováveis, nomeadamente com a obrigação dos coletores solares térmicos nos edifícios de habitação, os novos regulamentos procuraram potenciar a incorporação de outras fontes de energia renovável (FER). Nesse sentido, será dado especial atenção à identificação de regras de incorporação de diversas FER, bem como de criar um indicador que expresse aquilo que é o peso que estas representam em cada edifício. Em suma, e para além dos diversos pontos apresentados, a expetativa gerada é que os diplomas se aproximem mais do mercado e dos consumidores, numa clara identificação e reconhecimento de que se tratam de peças imprescindíveis para a promoção da qualidade e do desempenho energético dos edifícios (também existentes).
Miguel Cravo © CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
Foi apenas em 2006, com a revisão do anterior Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE), do Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização em Edifícios (RSECE) e a criação do Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior nos Edifícios (SCE) que passou a ser possível uma visão mais integradora dos diversos princípios inerentes a cada um desses diplomas. A criação de um sistema de certificação, alicerçado no Certificado Energético (CE), permitiu igualmente criar uma dinâmica diferente no modo como olhamos para os nossos edifícios e os comparamos em termos de potencial de desempenho energético. Passados 6 anos desde a revisão inicial e após um período alargado de discussão sobre a forma e conteúdos dos futuros RCCTE, RSECE e SCE, está-se agora numa terminal desta nova revisão. São diversas as áreas e os temas abordados neste processo, destacando-se, de entre muitos, alguns princípios orientadores e aspetos relevantes neste novo desenho legislativo:
FUNDO DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA APOIA FINANCIAMENTO AO SOLAR TÉRMICO E JANELAS EFICIENTES Estão abertas desde o dia 30 de Novembro candidaturas ao Fundo de Eficiência Energética - FEE, para a implementação de medidas de eficiência energética nas áreas de energia solar térmica e da envolvente passiva. O FEE, que estabelece o regime de apoio financeiro à implementação de medidas e programas no âmbito do Plano Nacional de Ação para a Eficiência Energética (PNAEE), lançou 3 novos avisos, para as áreas Residencial, Industria e Estado, com uma dotação orçamental total de 3.250.000 €. Para a área dos Edifícios (Aviso 03–Edifício Eficiente 2012), o FEE tem disponível 2.000.000 € para apoio à implementação de soluções de eficiência energética em edifícios de habitação existentes, nomeadamente sistemas solares térmicos e/ou janelas eficientes, que permitem reduções do consumo de energia até 70%, na componente de produção de águas quentes, e até 50% na componente de climatização, resultando na redução da fatura energética das casas mediante uma utilização racional da energia. Este apoio a conceder destina-se às pessoas singulares proprietárias dos edifícios ou frações de habitação que, através de Empresas de Serviços Energéticos, e empresas fornecedoras das soluções energéticas, podem candidatar-se, a fundo perdido até 50%, a financiamento para aquisição e instalação dos equipamentos eficientes, até ao limite de 1500€ no caso dos Painéis Solares Térmicos, e de 1250€ para as Janelas Eficientes. São elegíveis os projetos de eficiência energética em edifícios ou frações de habitação existentes em todo o território nacional, com certificado energético (CE) no qual essas medidas constem como oportunidade de melhoria, ou na ausência de CE, mediante um diagnóstico e estudo energético, evidenciado na forma de um certificado energético provisório, que comprove a aplicabilidade e o impacto das soluções a propor. As candidaturas poderão ser submetidas até dia 4 de Fevereiro em http://fee.adene.pt ( data da 1ª extração de candidaturas). Em 2012 foram cinco os avisos lançados pelo FEE a apoio financeiro a projetos de eficiência energética, sendo que se dará continuidade ao lançamento de mais avisos para o ano de 2013, e já em linha com a revisão do PNAEE para 2013-2016.
ADENE - Agência para a Energia A ADENE - Agência para a Energia tem por missão promover e realizar atividades de interesse público na área da energia e das respetivas interfaces com as demais políticas sectoriais. Rua Dr. António Loureiro Borges, nº 5 - 6º andar Arquiparque – Miraflores 1495-131 ALGÉS T: (+351) 214 722 800 · F: (+351) 214 722 898 · Email: geral@adene.pt · www.adene.pt
INOVAÇÃO NA TECNOLOGIA AO SERVIÇO DA QUALIDADE DE VIDA E DA SUSTENTABILIDADE JOÃO ABEL PEÇAS LOPES PROFESSOR CATEDRÁTICO DA FEUP E DIRETOR DO INESC PORTO
O sector eléctrico enfrenta atualmente um conjunto de importantes desafios que implicam mudanças conceptuais significativas em relação ao modelo tradicional de produção de eletricidade em grandes centrais, que utilizam nomeadamente combustíveis fósseis para produzir eletricidade, envolvendo uma rede de transporte e um conjunto de redes de distribuição passivas que entregam a eletricidade aos consumidores finais. A necessidade de garantir a sustentabilidade do modelo de desenvolvimento económico em que temos vivido, exige que se avaliem e considerem vários fatores, a saber: • A necessidade de reduzir drasticamente nos próximos anos as emissões de CO2, para enfrentar a ameaça das alterações climáticas; • A necessidade de minimizar os impactos ambientais resultantes da construção de novas infraestruturas eléctricas, nomeadamente as de grande dimensão; • A necessidade de substituir infraestruturas de produção de eletricidade e de rede envelhecidas; • A necessidade em diversificar as fontes de energia que fazem parte do mix de produção, com vista a aumentar a segurança de abastecimento e reduzir a dependência de fontes de energia que apresentam variações incontroláveis de preço, com impactos significativos na economia. A resposta a estes desafios exige uma aposta clara no sentido de aumentar o recurso à exploração dos recursos energéticos renováveis endógenos para produção de energia eléctrica, opção que tem vindo a ser seguida nos países desenvolvidos e em particular nos países da UE. Sendo a localização dos recursos renováveis dispersa em termos geográficos, emergiu assim um novo paradigma de Produção Distribuída, no qual centenas ou até milhares de pequenas unidades de geração serão CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 20
ligadas às redes eléctricas de distribuição. Por exemplo, no caso da produção solar fotovoltaica, estas unidades ficarão instaladas nos telhados das casas, nas coberturas dos edifícios e em paredes de edifícios viradas a sul. Por outro lado, é preciso atuar também do lado da procura, adotando e promovendo medidas passivas e ativas, conducentes ao aumento da eficiência na utilização da energia eléctrica, bem como proceder à adaptação da procura de eletricidade à disponibilidade da oferta, que neste cenário depende fortemente da disponibilidade das energias renováveis primárias (que são variáveis no tempo). Estas mudanças estão a ser feitas recorrendo a uma grande incorporação de inovação tecnológica, quer nos sistemas de conversão de energia primária em eletricidade, quer nos equipamentos de utilização industriais e domésticos. Por outro lado, o sistema elétrico tem vindo a adotar uma filosofia de gestão integrada, com uma participação ativa de todos os seus agentes, recorrendo à utilização de soluções que exploram tecnologias de informação e das comunicações e que assim asseguram grande flexibilidade de operação e uma elevada eficiência global, o que reduz custos e emissões de dióxido de carbono, contribuindo para a sustentabilidade económica e ambiental. Por outro lado, a introdução destas novas soluções tecnológicas, em conjunto com a presença dos sistemas de informação e das comunicações, permite aumentar a fiabilidade e qualidade do fornecimento de eletricidade, aumentando assim a qualidade do serviço prestado aos consumidores, contribuindo para a melhoria da sua qualidade de vida. Este cenário é também caraterizado por um progressivo empowerment dos consumi-
dores: o consumidor pode tomar decisões com vista à redução da sua factura de eletricidade, mais consciente e melhor informado e, assumindo um papel mais ativo, não só enquanto consumidor, mas também como produtor. O desenvolvimento destas soluções exige a definição de políticas públicas que permitam a consolidação e o reforço das capacidades do Sistema Científico e Tecnológico Nacional para transferir o conhecimento gerado para a indústria portuguesa, nomeadamente em nichos de mercado bem definidos, levando ao reforço e especialização do cluster tecnológico da área da energia, incluindo os sistemas domóticos orientados para a gestão de energia.
INESC Porto O INESC Porto - Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto é uma associação privada sem fins lucrativos reconhecida como instituição de utilidade pública, tendo adquirido em 2002 o estatuto de Laboratório Associado. INESC Porto - Campus da FEUP Rua Dr. Roberto Frias, 378 4200 - 465 Porto, Portugal T: +351 222 094 000 | F: +351 222 094 050 | www@inescporto.pt
CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 23
FABLAB UM NOVO IMPULSO À INOVAÇÃO A inovação é um tema que é sempre bastante importante para a sociedade e em particular para as empresas. O interesse adensa-se em tempos de crise como os que decorrem, mas nem sempre os procedimentos para estimular a inovação são fáceis de implementar. Existem diversos mecanismos e o FabLab, abreviatura de Fabrication Laboratory ou Fabulous Laboratory, surgiu como um desses espaços. Este conceito originado no MIT Center for Bits and Atoms, orientado pelo Prof. Neil Gershenfeld e importado para Portugal através EDP, tem como objectivo disponibilizar um espaço onde é possível materializar ideias, prototipando de forma rápida e expedita, bem como fomentando a partilha de conhecimento entre os seus utilizadores. Neste espaço, a partilha e divulgação de conhecimento são considerados fundamentais e essenciais para concretizar ideias e gerar uma comunidade em que todos contribuem para uma solução final. Os FabLabs estão amplamente divulgados pelo mundo em países como: Holanda, Noruega, Inglaterra, Espanha, EUA, Brasil, Perú e em zonas da Ásia e África tais como: Afeganistão, Quénia, Gana, África do Sul, entre outros. Actualmente existem mais de 200 FabLab’s no mundo, sendo que a Holanda, EUA e África do Sul são os que mais contribuem para esta contagem. Portugal conta já com três laboratórios no seu território. O primeiro a surgir foi o FabLab EDP, sediado nas instalações da EDP em Sacavém, posteriormente surgiram o FabLab de Coimbra, pertencente à Escola Tecnológica Novotecna e o OpoLab no Porto. Existem ainda planos para a constituição de outros laboratórios promovidos essencialmente pelas autarquias nacionais. A tendência será que cada um dos FabLab’s se especialize em determinadas áreas relacioCONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 22
nadas com o meio onde estão inseridos sem, no entanto, descurarem as restantes áreas. Praticamente todos estes espaços estão permanentemente em contacto entre si através da Web e do sistema de videoconferência, formando uma rede global de grande dimensão e sobretudo de grande valor para a inovação. Os FabLabs dispõem também de website próprio onde registam o conhecimento gerado no espaço e o divulgam para toda a comunidade. O carácter inovador deste tipo de laboratório em relação a outros espaços já existentes é o facto de juntar no mesmo lugar físico diferentes tipos de equipamentos de prototipagem rápida, que normalmente se encontram dispersos e não acessíveis à comunidade. O equipamentos existentes nos FabLabs são normalmente comuns a todos eles e consistem em máquinas de corte a laser, fresadoras CNC, máquinas de corte de vinil, impressoras 3D ao mesmo tempo que disponibiliza um fórum multidisciplinar de debate e discussão onde é possível potenciar as ideias, concretizá-las e testá-las de forma simples e prática. O objectivo da EDP é, fundamentalmente, divulgar o seu espírito de inovação para o exterior da empresa, democratizar o conhecimento e colocá-lo ao alcance de toda a comunidade interessada em beneficiar da massa crítica e conhecimento gerados nesse espaço. O Fablab EDP tem como público-alvo: colaboradores da EDP, empresas da EDP Starter, escolas, universidades, inventores, comunidade científica, PME’s e comunidade em geral, oferecendo a possibilidade de transformar as suas ideias em produtos concretos. O espaço da EDP, inaugurado em Fevereiro de 2011, tem sido um caso de sucesso contando com mais de 1000 pessoas que passaram pelo espaço para realizar
protótipos, trocar ideias, realizar reuniões ou simplesmente para visitar as instalações. O espaço tem recebido, principalmente, pessoas ligadas a áreas criativas (design e arquitectura), bem como áreas tecnológicas tais como engenharia. No FabLab foram já desenvolvidos projectos relacionados com mobiliário, objectos decorativos, moda, mas principalmente projectos inovadores na área tecnológica como energias renováveis, PCBs, entre outros realizados em parceria com outras entidades e empresas. Exemplos de dois projectos promovidos pelo Fablab EDP são: a construção de uma impressora 3D de baixo custo em parceria com o AltLab, YDreams, Ciência Viva e FabLab de Coimbra e a construção de uma mini-turbina eólica em parceria com o ISEL e diversas pessoas a título individual. O FabLab EDP pretende fomentar a ligação à comunidade científica de forma a potenciar o aparecimento de novos conceitos e tecnologias para gradualmente melhorar o mundo em que vivemos.
Rua Cidade de Gôa, nº4 · 2685-039 · Sacavém Portugal www.fablabedp.edp.pt
Autor: Brigitte Reichmann
FAB LAB EDP A EDP, através da Labelec e da EDP Inovação, veio trazer o conceito FabLab para Portugal. Foi recentemente aprovada a criação de um Fablab EDP, nas instalações da Labelec, em Sacavém, com um espaço autónomo para o efeito. Poderá ser um dos primeiros a abrir no país, mas pretende-se que venha integrar uma rede nacional de outros laboratórios que possam vir a ser criados e fomentar a troca de experiências com os existentes em vários países do mundo.
CHARME E MATURIDADE Sempre que no edificado antigo reconhecemos haver beleza e caráter, a sua maturidade deve ser assumida porque transmite uma mensagem optimista: o passar do tempo é algo que reflete a durabilidade e dignidade da nossa cultura – afinal, também este edificado serviu para criar a realidade que conseguiu transmitir-nos. Quando reabilitamos um edifício antigo, precisamos de identificar e preservar o que ele tem de singular, sobretudo para transmitir os conceitos e valores que dominavam no passado, justificaram a respetiva construção e que continuam a transportar um significado. Precisamos ainda de descobrir quais são as possibilidades que o edifício alberga e que não foram ainda exploradas. Prestes a ser iniciada a reabilitação do Grémio Literário que tive o privilégio de coordenar durante 1991, o então presidente Geraldo Salles Lane, deu-me uma recomendação que passaria a ser o “leitmotiv” da obra: “mantenha 30% da patine que atualmente está ocultando os murais e pinturas – não queremos que o Grémio Literário pareça novo em folha!”. E, graças à excelente equipa de artesãos que dedicou todo o carinho, uma infinita paciência, centenas de retificações e muito muito tempo ao desafio, conseguiu-se realmente preservar o charme do edifício, expor algumas obras de arte até então desconhecidas - porque se encontravam ocultadas por inúmeras camadas de “patine”, resultantes de muitas décadas de atividades entretidas pelo Grémio Literário - e criar as novas condições de salubridade e conforto adequadas para os sócios e utilizadores desta instituição. Depois do projeto e da construção, são características como a idade, a “patine”, as imperfeições que resultam do modo como os edifícios foram utilizados - tomando o corpo humano como metáfora, estaríamos a falar de cicatrizes e rugas - que conferem ao edificado identidade e charme. Estas CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 24
características estimulam e motivam as pessoas que habitam ou interagem com os edifícios, para contribuírem, elas também, para que os edifícios possam continuar a servir gerações futuras. Para além da continuidade cultural, existem, no entanto, outros temas também importantes mas muito mais pragmáticos que precisam de ser encarados por quem opta por reabilitar o espaço em que habita. São estes a salubridade (qualidade do ar interior), o conforto e a economia na operação do edificado – indicadores de desempenho, todos eles quantificáveis e de interesse fulcral para o utilizador do edificado.
confortáveis – a inércia térmica, o elevado pé-direito e as janelas altas contribuem para que as temperaturas no interior sejam sempre mais amenas e, por isso, favoráveis para o conforto humano, se comparadas com as exteriores. O edifício responde portanto - rejeita o que não pretende deixar entrar, armazena o que irá precisar mais tarde, não imediatamente, tempera o que recebe em excesso, admite o que lhe faz falta e redireciona para outros espaços aquilo de que não precisa onde aparece. O conceito de “edifícios com atitude” nasce, precisamente, porque existe uma reação seletiva em relação ao que o exterior oferece.
Edifícios com Atitude Assim como o é ainda, hoje em dia, no passado os edifícios eram construídos com o objetivo de protegerem os seus habitantes das intempéries e de outras agressões do exterior. A envolvente de um edifício antigo tem, claramente, a função de “filtrar” aquilo que o clima disponibiliza – por isso, um edifício adaptado ao clima Mediterrânico, quando colocado num enquadramento diferente, em que o clima é porventura mais frio, não responde da mesma maneira. Observando um edifício com mais de duas centenas de anos – época em que não se construía com ligação a uma rede de energia que pudesse complementar as necessidades de conforto – as técnicas construtivas demonstram um profundo conhecimento sobre o modo como os materiais e a sua conjugação permitiam aos edifícios responder positivamente aos reptos que o clima oferece. Tipicamente, um edifício desta época, em Portugal, tem paredes autoportantes em pedra ou tijolo maciço, com uma espessura de entre 60 centímetros e 1 metro, o pé direito entre pisos é amplo, os pisos e a cobertura são compostos por estrutura de madeira, sendo a última revestida com telha cerâmica e os vãos envidraçados têm uma dimensão generosa. No verão, estes edifícios são extremamente
Potenciar as Qualidades Existentes de um Edifício Antigo As qualidades “passivas” (aquelas que não fazem parte de sistemas) de um edifício existente incluem todas as acima referidas: A elevada Inércia Térmica (capacidade de acumulação nas paredes da temperatura média do clima) funciona extremamente bem no clima mediterrânico, porque permite reter nas paredes alguma da frescura dos meses frios para a devolver na época quente e reservar algum do calor disponível durante os meses quentes para o emitir na época mais fria. Quando se intervém num edificado existente, é essencial assegurar que esta característica benéfica não venha a ser eliminada ou impedida através de intervenções erradas, de ter efeito sobre o clima interior! Uma parede espessa, não deve ser revestida pela sua face interior com materiais isolantes (nunca instalar placas de gesso nem papel de parede), se pretendermos que continue a exercer a sua função de atenuadora do clima. Porém o isolamento térmico é essencial em todas as coberturas e em paredes menos espessas. Para além da amplitude de um espaço gerar bem-estar, um Pé-direito alto acarreta benefícios, como o de não permitir que o ar interior estratifique, mantendo-o permanentemente em movimento através de
convecção natural, por um lado, assegurando temperaturas mais uniformes no interior e, pelo outro, diluindo a eventual poluição do ar interior. Se a envolvente do edifício tiver um bom desempenho energético – constituído por isolamento térmico adequado, um elevado grau de inércia térmica e janelas eficientes – o elevado pé-direito pode ser um contributo positivo durante todo o ano, mas se alguma das componentes da envolvente não tiver as adequadas características, esta qualidade de pé-direito alto pode tornar-se desconfortável no inverno. A Ventilação Natural e Cruzada é uma medida extremamente eficaz, utilizada em edifícios antigos, sobretudo para atenuar as temperaturas durante os meses quentes do ano. Contribui também para uma melhor qualidade do ar interior, uma vez que o ar exterior se mantém (salvo raras exceções) mais puro fora do que dentro das nossas habitações. Janelas amplas constituem-se também como enorme benefício no clima mediterrânico para admitirem o ar, a luz e a temperatura exterior, no entanto, a respetiva dimensão, precisa de ser adequada à orientação solar. Nas orientações Nascente e, sobretudo, Poente os vãos envidraçados precisam de ter a necessária proteção solar. As caixilharias precisam de ser estanques e as mudanças de ar precisam de corresponder às necessidades no interior. O vidro
DESCRIÇÃO DA SOLUÇÃO CONSTRUTIVA (DO INTERIOR PARA O EXTERIOR) 1. VENTILAÇÃO Grelha de ventilação com proteção acústica integrada na componente superior da janela entre o perfil e o vidro. Com corte térmico na posição de fechada. 2. CAIXILHARIA Caixilharia de alumínio de duas folhas oscilo-batentes, com sistema de batente com ruptura de ponte térmica e isolamento acústico. 3. VIDRO Vidro duplo isolante, temperado e um vidro laminado de segurança 4.4.1, tendo o vidro exterior uma espessura de 8mm e o interior uma de 6mm com câmara-de-ar de 12mm. Para orientações Nascente, Poente e Sul o vidro duplo carece de características de vidro seletivo (controlo solar + baixa emissividade). Para orientação Norte o vidro duplo carece de características de vidro de baixa emissividade.
4. PROTEÇÃO SOLAR Toldo articulado em alumínio, com tela em tecido acrílico e braços retrácteis vara de comando exterior amovível fixado na fachada, por cima das molduras do vão. 5. ISOLAMENTO TÉRMICO Isolamento térmico em placas de espuma rígida de Poliestireno Expandido (EPS 100) na espessura adequada (80mm em fachadas) – é colocado no interior da parede apenas nas situações seguintes: quando é interdita a colocação de isolamento térmico pelo exterior da fachada e quando a parede exterior tem uma espessura inferior a 40 cm. Pormenor de Construção desenvolvido pela Construção Sustentável® e validado individual e coletivamente no âmbito do Grupo de Trabalho Reabilitação de Fachadas do Sustainable Construction Living Lab, pelos seguintes fornecedores de componentes que integram a solução construtiva apresentada: SAPA, GUARDIAN, CRUZFER, LAFARGE, ESFEROVITE e CS COELHO DA SILVA. PROSPERIDADE RENOVÁVEL | 27
Autor: Pedro Lobo
precisa de ser duplo – o que significa que, também a caixilharia precisa de ser substituída para aguentar o peso. Outros Edifícios - com menos Atitude Nas décadas de 1970 e de 1980, construíram-se muitos edifícios habitacionais em Portugal, sobretudo nas áreas periféricas das grandes cidades e ao longo dos grandes eixos de transportes modais que facilitavam os movimentos pendulares de ligação às cidades. De facto, o edificado construído desde os anos ’70 constitui-se como aproximadamente 50% do total nacional. Na altura, a falta já muito acentuada de fogos em Portugal, foi agravada com o deflagrar das guerras civis nas ex-colónias e com o afluxo de pessoas, provenientes desses territórios. A pressão foi tal, que ultrapassou largamente a capacidade de resposta do ordenamento do território, gerando uma cultura de apropriação de espaços sem enquadramento legal: nasceram bairros sem fim de génese ilegal, foram ocupadas propriedades que se encontravam desocupadas e colocaram-se em causa muitos dos princípios básicos, até então defendidos pela sociedade, que alteraram para sempre o modo como é executada a urbanização em Portugal. Na construção ilegal a falta de qualidade foi sempre inevitável e faz parte de um cenário DESCRIÇÃO DA SOLUÇÃO CONSTRUTIVA (DO INTERIOR PARA O EXTERIOR) 1. VENTILAÇÃO Grelha de ventilação com proteção acústica integrada na componente superior da janela entre o perfil e o vidro. Com corte térmico na posição de fechada. 2. CAIXILHARIA Caixilharia de alumínio de duas folhas oscilo-batentes, com sistema de batente com ruptura de ponte térmica e isolamento acústico. 3. VIDRO Vidro duplo isolante, temperado e um vidro laminado de segurança 4.4.1, tendo o vidro exterior uma espessura de 8mm e o interior uma de 6mm com câmara-de-ar de 12mm. Para orientações Nascente, Poente e Sul o vidro duplo carece de características de vidro seletivo (controlo solar + baixa emissividade). Para orientação Norte o vidro duplo carece de características de vidro de baixa emissividade.
4. PROTEÇÃO SOLAR Estore exterior com lâminas de recolher orientáveis em alumínio termo lacado com comando elétrico ou manual. 5. PAREDE “TROMBE” Parede “trombe” com 0,22m de espessura e superfície exterior pintada a preto. A densidade e espessura do betão deverão ser especificadas pelo Engenheiro Térmico. 6. CAIXA DE AR e CAIXILHOS DA PAREDE “TROMBE” Caixa de ar vedada com aproximadamente 0,02m de espessura. Os bites dos caixilhos das paredes “trombe” estarão sempre colocados na face exterior do vão permitindo a desmontagem e limpeza do mesmo. 7. ISOLAMENTO TÉRMICO DA FACHADA Placas de poliestireno expandido EPS na espessura adequada (80mm em fachadas) revestido pelo exterior com camada de primário, armadura em tela tecida de vidro e revestimento em argamassa de base acrílica.
Pormenor de Construção desenvolvido pela Construção Sustentável® e validado individual e coletivamente no âmbito do Grupo de Trabalho Reabilitação de Fachadas do Sustainable Construction Living Lab, pelos seguintes fornecedores de componentes que integrama solução construtiva apresentada: SAPA, GUARDIAN, CRUZFER, LAFARGE, ESFEROVITE e CS COELHO DA SILVA.
que, ainda hoje, causa graves problemas à sociedade, apesar de muitos dos respetivos bairros terem sido “legalizados” e, sobretudo, infraestruturados com substanciais apoios do Estado e da Europa. Mas era evitável a falta de qualidade que se verificou na construção legal, a qual, na altura, também sofreu um crescimento desmesurado. Resultou que muitos fogos, construídos antes da legislação se dedicar à especificação da qualidade do desempenho do edificado, não correspondem de modo algum, ao que os seus habitantes têm direito a exigir em termos de salubridade, de conforto e de economia de operação e de manutenção! De facto, são as próprias habitações que sistematicamente contribuem para o empobrecimento das famílias que as habitam, por oferecerem deficientes condições. Nem o conforto nem a eficiência energética se encontravam, na altura, no espectro das exigências – tornadas entretanto uma prioridade e sendo este o enquadramento que nos cabe abordar para explorar as oportunidades de reabilitação de qualquer tipologia desta época de construção, com uma tão alastrada expressão em Portugal.
que, ainda hoje, causa graves problemas à sociedade, apesar de muitos dos respetivos bairros terem sido “legalizados” e, sobretudo, infraestruturados com substanciais apoios do Estado e da Europa. Mas era evitável a falta de qualidade que se verificou na construção legal, a qual, na altura, também sofreu um crescimento desmesurado. Resultou que muitos fogos, construídos antes da legislação se dedicar à especificação da qualidade do desempenho do edificado, não correspondem de modo algum, ao que os seus habitantes têm direito a exigir em termos de salubridade, de conforto e de economia de operação e de manutenção! De facto, são as próprias habitações que sistematicamente contribuem para o empobrecimento das famílias que as habitam, por oferecerem deficientes condições. Nem o conforto nem a eficiência energética se encontravam, na altura, no espectro das exigências – tornadas entretanto uma prioridade e sendo este o enquadramento que nos cabe abordar para explorar as oportunidades de reabilitação de qualquer tipologia desta época de construção, com uma tão alastrada expressão em Portugal.
Outros Edifícios - com menos Atitude Nas décadas de 1970 e de 1980, construíram-se muitos edifícios habitacionais em Portugal, sobretudo nas áreas periféricas das grandes cidades e ao longo dos grandes eixos de transportes modais que facilitavam os movimentos pendulares de ligação às cidades. De facto, o edificado construído desde os anos ’70 constitui-se como aproximadamente 50% do total nacional. Na altura, a falta já muito acentuada de fogos em Portugal, foi agravada com o deflagrar das guerras civis nas ex-colónias e com o afluxo de pessoas, provenientes desses territórios. A pressão foi tal, que ultrapassou largamente a capacidade de resposta do ordenamento do território, gerando uma cultura de apropriação de espaços sem enquadramento legal: nasceram bairros sem fim de génese ilegal, foram ocupadas propriedades que se encontravam desocupadas e colocaram-se em causa muitos dos princípios básicos, até então defendidos pela sociedade, que alteraram para sempre o modo como é executada a urbanização em Portugal. Na construção ilegal a falta de qualidade foi sempre inevitável e faz parte de um cenário
Introduzir Qualidade em Edifícios recentes que a não têm... Um edifício construído nas décadas de 1970 e de 1980 tem algumas características que o diferenciam da construção que o antecedeu e sofre das patologias resultantes. As paredes simples ou duplas com caixa-de-ar e sem isolamento térmico, mal rebocadas e frequentemente pintadas com tintas de membrana que retiram toda a permeabilidade ao vapor e coberturas, igualmente isentas de isolamento térmico e com fracos sistemas de impermeabilização, transformam os edifícios em autênticos focos de problemas. Ao contrário dos edifícios mais antigos, abordados no presente artigo, estes têm características “passivas” que não contribuem para a salubridade nem para o conforto dos habitantes, sendo entre os problemas mais frequentes os que seguem: • Uma baixa qualidade do ar interior – um pouco porque podem não estar asseguradas as mudanças de ar necessárias e também, porque os pé-direitos são baixos e não permitem uma boa convecção natural, facilitadora da diluição da eventual poluição presente. • Temperaturas pouco confortáveis – as
casas são mais frias do que o clima durante o Inverno e mais quentes no Verão; • Condensações e fungos – a humidade mais elevada no interior, resultante das atividades nas habitações, não consegue sair através das paredes uma vez que as “membranas” não são permeáveis ao vapor. No Inverno as condensações verificam-se junto dos elementos de construção mais frios (pilares de betão e lajes) – as “pontes” térmicas – e transformam-se em focos para o desenvolvimento de fungos e outros organismos que não são beneficiais para a saúde. A baixa ou muito baixa Inércia Térmica e a ausência de isolamento térmico impossibilitam uma relação positiva com as qualidades intrínsecas do clima. Os períodos em que as temperaturas no exterior são extremas, tornam-se períodos de desconforto também no interior – com estas características físicas do edificado não existe atenuação possível. Ao intervir em edificados deste tipo é importante promover as qualidades de que carecem. Para conseguir rejeitar o que não se pretende deixar penetrar o interior, é necessário instalar isolamento térmico de um modo contínuo e, idealmente, pelo exterior da envolvente estrutural. Para armazenar o que irá ser necessário mais tarde, não imediatamente, é necessário maximizar o efeito da inércia térmica existente e protege-la do exterior ou, se possível, aumentar a existente inércia térmica. Para temperar o que recebe em excesso, precisa de acrescentar um contributo do qual já dispõe, recorrendo mais uma vez à temperatura média armazenada, à inércia que desempenha um papel tão importante! Para admitir o que lhe faz falta, precisa tanto de vãos envidraçados com as características adequadas de transmissividade, como de isolamento térmico na proporção adequada e na orientação certa. Para redirecionar para outros espaços aquilo de que não precisa enquanto aparece, necessita de sistemas capazes de captar a temperatura desejada no local em que está disponível e de a transportar. O conceito de “edifícios com atitude” é perfeitamente aplicável a edifícios das décadas de 1970 e 1980 depois de intervencionados, precisamente, porque se introduziu as medidas que consentem uma reação seletiva em relação ao que é proposto pelo clima. PROSPERIDADE RENOVÁVEL | 27
FALTA TÍTULO TEXTO CARLOS SOARES, ENERONE
A utilização prática da simulação dinâmica, não limitada aos consumos de energia mas incluído numa perspetiva mais alargada que inclui o CFD (Computational Fluid Dynamics) com interface gráfica apelativa, teve origem nas indústrias aeronáutica, aeroespacial e automóvel tendo nas últimas duas décadas migrado para a indústria da construção, apresentando grandes vantagens relativamente ao business as usual da época que assentava na construção e teste de modelos em laboratório, invariavelmente caros e não repetíveis. Com a introdução das ferramentas computacionais, a capacidade de fazer alterações e de testar diferentes soluções aumentou de uma forma impensável até então com uma fração do custo, passando o laboratório a ser o computador. A modelação e simulação são ferramentas poderosas na avaliação prospetiva do desempenho de soluções, no caso particular dos edifícios e dos sistemas energéticos, constituindo um poderoso auxiliar na tomada de decisões com impacto a vários níveis, designadamente como ferramenta de streamlining, na fase de conceção onde é essencial a comparação e quantificação dos impactos das opções arquitetónicas e dos sistemas ou como ferramenta de aferição de consumos de energia durante a exploração, pela via da calibração com base na informação sobre os consumos reais. A simulação detalhada de um edifício, ou de um conjunto de edifícios, requer uma quantidade vasta e variada de informação, que passa pela definição geométrica, pela caraterização dos materiais de construção (paredes, lajes, cobertura, janelas, etc.), pela informação climática e pelos perfis de utilização e dissipação interna de calor, entre outros. A grande maioria das ferramentas de simulação atualmente disponíveis assenta em algoritmos sólidos de cálculo termodinâmico como, por exemplo, o Energy+, e em potentes interfaces gráficas bastante user friendly que permitem reproduzir com bastante rigor a CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 28
realidade em análise, sendo os resultados obtidos bastante fiáveis, desde que os “inputs” e a manipulação destas ferramentas sejam executados de forma adequada. Os resultados da simulação consistem basicamente na previsão quantitativa do comportamento dos edifícios, caraterizados pelos seguintes aspetos principais: • Ganhos e perdas de energia térmica; • Consumo energético discriminado por aplicação (aquecimento, arrefecimento, ventilação, iluminação, etc.) e por fonte de energia (eletricidade, gás, etc.); • Temperaturas do ar interior, humidade relativa; • Transmissão de calor através da envolvente do edifício, incluindo paredes, coberturas, infiltração, ventilação, etc; • Cargas de aquecimento e arrefecimento; • Emissões de CO2. Os resultados da simulação dinâmica são igualmente cruciais no estudo do impacto das medidas de melhoria a introduzir nos edifícios, sempre que essa necessidade se põe por iniciativa própria dos proprietários ou por via legal, como é o caso da certificação energética. A abordagem da simulação dinâmica dos edifícios assenta na criação de zonas térmicas que podem ou não coincidir com as zonas reais. Por exemplo, um grande open space pode ser dividido em mais do que uma zona térmica por haver interesse em separar as áreas junto à janela das áreas mais interiores. Pelo contrário, vários gabinetes adjacentes, com a mesma orientação podem ser unidos na mesma zona térmica por terem características semelhantes. O passo seguinte, já em curso junto de algumas software houses, integra no conceito BIM (Building Integration Modeling) as ferramentas de simulação com as ferramentas de projeto e de desenho integrando as várias disciplinas que vão da transmissão de calor e comportamento térmico à iluminação passando pela aerodinâmica dentro e em torno dos edifícios, conferindo a este conceito uma dimensão e
interesse acrescidos pelas mais variadas razões, de onde se destaca a fiabilidade, solidez e consistência das soluções. Estas ferramentas, na perspetiva integradora, constituem igualmente um suporte à gestão cada vez mais indispensável na gestão do património durante a vida útil dos imóveis, contribuindo para a sua valorização e a abordagem adequada nas vertentes da condução e manutenção. Em conclusão, poderemos esperar ainda muito mais deste tipo de soluções baseadas na integração de ferramentas de apoio ao projeto e à gestão dos sistemas edificados (edifícios e sistemas ativos) na medida do aumento de capacidade e rapidez de cálculo dos sistemas informáticos tornando cada vez mais o trabalho aliciante da criação uma antecipação sem surpresas desagradáveis.
ENERONE A ENERONE é uma empresa de engenharia e consultoria na área da energia e dos edifícios, dedicando maioritariamente a sua atividade ao projeto de instalações técnicas mecânicas, elétricas e comunicações e à consultoria, destacando a vertente relacionada com a eficiência energética. EnerOne, Lda. Av. 5 Outubro, n.º124, 4º Andar 1050-061 Lisboa, Portugal · E-mail: c.soares@enerone.eu · T: (+351) 309 829 950 · F: (+351) 309 829 951
CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 32
ZONAS SONORAS E AMBIENTES GASTRONÓMICOS… Vânia Guerreiro © CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
FLÁVIO TIRONE, ARSUNA
No texto anterior deambulámos em volta do assunto da gastronomia e como a própria é influenciada pelo ambiente sonoro em que se encontra inserida; A questão sonora aparece no contexto da experiência degustativa de forma central; apesar de a iguaria ser o mote para uma deslocação gastronómica, nunca conseguimos separar a degustação do ambiente sonoro; É escusado tentar saborear um suculento cozido que estimula todos os sensores do palato e das narinas quando, ao mesmo tempo, assistimos a uma cacofonia de vozes, pratos, talheres, copos, cadeiras, portas, entre outros ruídos com um nível de volume desnecessário, que não nos deixa sequer perceber o que o nosso parceiro de mesa nos diz, quanto menos nos deixa captar quaisquer sabores e perfumes provenientes do prato à nossa frente; Todos nós já passámos por esta experiência e certamente demos conta de que não era apenas pelo local se encontrar repleto de gente ou porque os restantes comensais eram muito barulhentos - porque terá sido então?... Um dos fatores relaciona-se com o tratamento acústico do local; as mesmas circunstâncias podem estar a acontecer sem que estas nos afetem o prazer da prova, desde que alguns parâmetros estejam em bom equilíbrio e sejam bem aplicados; O que procuramos é, meramente, o conforto sensorial para permitir que o objetivo da
deslocação gastronómica seja atingido; noutras palavras, uma experiência simples e positiva para todos os sentidos: a de degustar e comunicar. Na nossa aparelhagem de alta fidelidade, se o volume sonoro estiver demasiado elevado, rodamos um botão e levamo-lo ao nível que nos agrade; no restaurante temos de conseguir o mesmo efeito, só que não basta rodar botões; há que intervir de outra forma; Com palavras pouco científicas e simplificadas, podemos afirmar que os sons, quando atingem superfícies que os refletem, persistem e só perdem energia após um número significativo de reflecções; se somarmos todas as fontes sonoras contemporâneas que sucedem numa sala de refeições de um restaurante já estamos a compreender o que se vai passar: enquanto não perderem energia, irão estar ativas e irão somar as suas energias até se dissiparem; outro efeito deste fenómeno é que os sons irão chegar a nós não apenas diretamente da fonte sonora mas também por via indireta, ou seja vindos de outras direções que não a da fonte, provocando uma sobreposição intolerável. Em locais deste tipo os planos dos espaços tendem a ser superfícies facilmente laváveis e mecanicamente robustas as quais muitas das vezes são refletoras, como pavimentos em pedra ou ladrilho, paredes em estuque e ladrilho e tetos em estuque; colocados, para além do mais, em planos paralelos entre si o que amplifica o efeito de reflecção.
A solução encontra-se no controle das reflecções: quer seja na quantidade, quer seja na direção das mesmas. Temos, também, de controlar as frequências que mais dificultam o bem-estar da sala. Um primeiro passo para resolver a questão pode ser o jogo de materiais aplicados nas superfícies e no mobiliário; podemos travar o efeito de reflecção através da absorção; se colocarmos materiais absorventes sonoros nas paredes, no pavimento e no teto, nas mesas, nas cadeiras e nos aparadores, terminamos com a soma dos ruídos e reduzimos o impacto da emissão por via indireta; para equilibrar/equalizar as frequências devemos ter em conta a característica de cada material e a sua resposta a cada banda de frequências; devemos, também, estar atentos à forma de cada superfície para quebrar o efeito “espelho” e para criar o efeito da difusão. Por vezes, basta apenas aplicar um material absorvente sonoro no teto da sala e o efeito nocivo fica domado. Consegue-se melhorar do equilíbrio sonoro e, consequentemente, a inteligibilidade da sala de refeições. Não se pretende retirar a existência dos sons próprios que o processo de degustação implica, como a baixela, a conversa ou os gritos de entusiasmo dos comensais, nem mesmo os ruídos provenientes da copa, da cozinha e do exterior. Apenas queremos que se tornem parte integrante dos nossos sentidos e positivos na assimilação da experiência gastronómica.
ARSUNA ARS-UNA – todas as artes numa. Foi neste nome que nos identificámos e nos apresentamos num atelier pluridisciplinar mas focado sobretudo nas artes cénicas, artes que conhecemos por dentro e em que trabalhamos desde sempre. O palco existiu, no nosso percurso, antes da arquitetura. A arquitetura vem-nos permitir “formalizar” esses conhecimentos, potenciar as experiências e os espaços que se nos oferecem para intervir. Numa intervenção global, ou de consultoria cénica. Mas há ainda a produção de espetáculos, a Direção Técnica a Direção de Cena, a Cenografia, os Figurinos. E por fim, mas no princípio de tudo, está claramente a arquitetura... entendida como forma de expressão da sociedade contemporânea, em todos os seus aspetos, com especial atenção para os problemas de carácter social e cultural, preocupando-nos sempre com a sustentabilidade do nosso planeta. www.arsuna.pt · mail@arsuna.pt · 219 615 525 · 966 619 494
GESTÃO DE ATIVOS PARA UMA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL ..., EPAL
A ideia de “construção sustentável” surge geralmente associada a novas construções, utilizando materiais mais eficientes ou menos exigentes em termos de recursos e recorrendo a tecnologias adequadas. No entanto, a sustentabilidade está também intimamente ligada à gestão eficiente daquilo que já está construído. Assim, a Gestão de Ativos (GA), entendida como um processo estratégico e sistemático de planear, adquirir, operar, manter, reabilitar e expandir os ativos de uma forma eficiente ao longo do seu ciclo de vida, é, por princípio, uma abordagem que concorre para a sustentabilidade da atuação das entidades que a praticam. No caso das infraestruturas de abastecimento de água, esta abordagem está focada em práticas de gestão e de engenharia com o objetivo de suportar melhor as decisões de manutenção e de investimento, tendo por base informação de qualidade e o prévio estabelecimento dos níveis de serviço a atingir. Sendo a EPAL uma empresa de capital intensivo, os seus ativos operacionais representam um peso muito significativo na estrutura de custos da empresa, constituindo, simultaneamente, a base do serviço que presta aos seus clientes. Assim, a função GA assume um papel fundamental na otimização do retorno associado à utilização das infraestruturas e na garantia de elevados níveis de eficiência, visando assegurar, simultaneamente e de forma equilibrada, a qualidade do serviço, a rentabilidade e a sustentabilidade da atividade da empresa. A GA desenvolvida e aplicada na EPAL é o exemplo paradigmático duma estratégia empresarial focada na eficiência, na optimização de recursos e na seletividade CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 32
criteriosa dos investimentos, procurando manter, através de uma abordagem holística, um balanço adequado entre o Desempenho, o Custo e o Risco associados aos ativos. Face à premente necessidade de racionalização de custos, esta abordagem assume ainda maior premência em situações de restrição financeira como a que o país atualmente atravessa. Assim, a implementação do modelo integrado de GA adaptado ao contexto da EPAL incluiu, em termos orgânicos, a criação de uma nova direção com uma base de atuação transversal à empresa e que incorpora técnicos oriundos de diferentes áreas da EPAL. Em termos práticos, a implementação do modelo baseou-se na utilização corrente e na integração de diferentes atividades e ferramentas (alguma das quais já eram utilizadas na empresa, ainda que de forma desarticulada), entre as quais se destacam: • a Inspeção sistemática dos ativos, disponibilizando informação coerente sobre a condição das infraestruturas, constitui uma ferramenta fundamental para a gestão do risco e para apoio à tomada de decisão quanto à priorização dos investimentos/intervenções de manutenção; • a Monitorização do desempenho dos ativos, designadamente ao nível da setorização, controlo e análise contínua da rede de distribuição da EPAL, que, recorrendo a metodologias e sistemas de informação desenvolvidos na empresa, conduziu à significativa e consistente redução dos níveis de perdas de água na rede, permitindo posicionar a EPAL entre o grupo de entidades gestoras mais eficientes da Europa, em termos de perdas de água; • a Gestão da Informação e o Planeamento de ativos, ao viabilizar uma adequada integração e subsequente tratamento da informação, permite
tornar acessível e útil o conhecimento objetivo da condição dos activos e da sua criticidade, bem como o desenvolvimento de novas metodologias, mais consistentes e sustentadas, para suportar o processo de decisão sobre os investimentos. Em suma, a Gestão da Ativos, para além das vantagens ao nível da eficiência e gestão do risco já evidenciadas, tem privilegiado uma abordagem preventiva (e não reativa), com repercussões positivas para todos os stakeholders envolvidos, nomeadamente clientes/sociedade, regulador e acionista: • a nível ambiental, por permitir reduzir os caudais captados (redução de perdas), diminuir os consumos energéticos e evitar o incremento de focos de poluição; • em termos económicos e financeiros, por permitir a racionalização dos investimentos e a otimização das práticas de manutenção; • de âmbito social, porque o incremento de eficiência da empresa permite ganhos líquidos e valor acrescentado para o consumidor/cliente, nomeadamente através da moderação tarifária.
Manter e melhorar a eficácia: · quantidade . qualidade · fiabilidade (Recomend. OMS) Aumentar a eficiência e a sustentabilidade: · “more for less” · optimização energética · uso eficiente da água Aumentar a resiliência do sistema: · Identificando e caracterizando as vulnerabilidades do sistema, realizando análises de risco e implementando medidas de minimização e/ou adaptação
EPAL A EPAL – Empresa Portuguesa das Águas Livres, SA é uma sociedade anónima de capitais integralmente públicos, detida a 100% pela AdP- Águas de Portugal. A EPAL é responsável por um sistema de abastecimento que se desenvolve ao longo de mais de 2 100 quilómetros, desde a albufeira de Castelo do Bode até à cidade de Lisboa. Edifício Sede: Avenida da Liberdade, 24 Loja do Cidadão: Edifício Atlanta II, Rua Abranches Ferrão, 10-C (junto ao Metro das Laranjeiras) T: 213 251 000 · F: 213 251 397 · e-mail: epal@epal.pt · www.epal.pt
VISÃO SOBRE A ÁGUA E ENERGIA EM ÁFRICA LUIS NEVES, DC - L.N. ÁGUAS, LDA.
Fernando e Sérgio Guerra © CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
INTRODUÇÃO: Com a experiencia obtida ao longo de 15 anos, participando em projetos de abastecimento de água em alguns países de África, concluo que este é um dos elementos mais preciosos para a vida, continuidade e desenvolvimento da espécie humana e das sociedades. Existem algumas centenas milhões de pessoas no continente africano que não têm acesso a água potável, existindo a probabilidade deste número aumentar consideravelmente nas próximas décadas devido ao crescimento populacional e há necessidade de produzir alimentos, com a irrigação de grandes áreas agrícolas e de produção animal. A procura permanente deste recurso vai provocar grandes migrações populacionais para locais onde a disponibilidade esteja presente, a fim de se criarem as condições mínimas e essenciais para a sobrevivência e, quando possível para melhorar a qualidade de vida. Atualmente as centenas de milhões de pessoas que se deslocam à procura de água, têm como único objetivo a sua sobrevivência, quer tenham de percorrer diariamente algumas dezenas de quilómetros aguentando uma temperatura elevada, ou de sistematicamente escavar pequenos poços os quais durante dias disponibilizam a água que necessitam no imediato. Os níveis de consumo de água destas populações estão a uma distância gigantesca dos consumos diários da Europa ou dos Estados Unidos, porque a sua escassez motiva uma enorme e eficaz racionalidade no consumo, não podendo em qualquer circunstância existir desperdício porque compromete a sua sobrevivência. O que consome diariamente um cidadão individual na Europa, serve para abastecer
uma família de 6 pessoas durante uma semana ou mais nestas zonas remotas de África! O que consome um cidadão americano, serve para abastecer 3 a 4 semanas a mesma família! Tenho visto diversas organizações internacionais, algumas ONG, que têm a preocupação de mudar este paradigma, promovendo programas específicos de desenvolvimento, sempre com o objetivo de dar às populações o acesso à água para a sua subsistência. Colocam em prática iniciativas que contam com o patrocínio de empresas do setor ou de investidores estratégicos, referenciando-as como medidas de “responsabilidade social”. Não há dúvida que são de mérito todas as iniciativas que contribuem para assegurar o abastecimento de água a populações cuja sobrevivência se encontra em risco, mas é chocante constatar que, para modificar este cenário apocalíptico, bastaria uma pequena parcela do budget mundial gasto anualmente em armamento, fazendo toda a diferença! No ano de 2011 investiram-se mais de 1.7 triliões de Dólares em armamento, mais que o dobro do orçamento global da ONU. Se parte deste budget fosse desviado para investimento no setor da água, haveria certamente uma viragem significativa na qualidade de vida das populações em todo o mundo. FACTOS: Mesmo em locais remotos onde a presença de água superficial é escassa ou inexistente, no caso do continente africano existem grandes reservas de água por baixo do solo: para a captar são necessárias soluções técnicas adequadas - sejam elas rudimentares, artesanais ou tecnologicamente avançadas. O continente africano tem mais água no
subsolo, armazenada em aquíferos, do que à superfície, conforme estudos efetuados pela ONU sobre os mapas de recursos hídricos. O volume de água nos aquíferos é estimado em 0,66 milhões de quilómetros cúbicos, mais de 100 vezes do que os recursos disponíveis à superfície, e 20 vezes mais do que a água armazenada nos lagos africanos, segundo informação do serviço geológico Britânico (BGS). As maiores reservas de água encontram-se nos aquíferos do Norte de África, como a Líbia, Argélia, Egito e Sudão, sendo que muitos destes aquíferos do deserto do Sahara não são carregados há cerca de 5000 anos, quando o clima na região era mais húmido. Existe pouca informação sobre estas reservas escondidas, e parte desta informação é omissa propositadamente Em alguns países de África, como é exemplo Moçambique, parte da água que abastece a população já é proveniente destes lençóis de água, por ter uma qualidade bastante elevada. O QUE JÁ FOI FEITO E O QUE SE PRECISA DE FAZER: A forma de extrair esta água subterrânea será sempre através de captação, por intermédio de furos ou de poços. Como as necessidades são extremamente elevadas, é necessária a extração de grandes quantidades de água, com sistemas de bombeamento sofisticados e muitos deles com tecnologia inovadora, utilizando fontes de energia renovável – como por exemplo a energia solar (fotovoltaica). Esta tecnologia tem sido muito aplicada no Continente Africano, sobretudo em locais remotos, visto que não há disponibilidade de energia elétrica para colocar em funcionamento este tipo de equipamentos. São sistemas que
A L.N. Águas, Lda. fundada em 1994, a sua área de actuação é na comercialização, instalação e manutenção de equipamentos de bombeamento para abastecimento de água, combate a incêndio, águas pluviais, residuais domésticas e efluentes, tratamento de água, captação de águas subterrâneas, e desenvolvimento de sistemas de aproveitamento de água. L.N. Águas – Montagem de Equipamentos, Lda. Estrada de Manique, 1232 – Armazém 22 – 2645-550 Alcabideche · T: (+351) 214 699 540 · F: (+351) 214 699 549 · www.lnaguas.pt
aproveitam a energia solar, que está disponível e é abundante ao longo do ano, e que não necessita de ter uma fonte de energia alternativa através de um gerador a combustível ou de outra fonte de energia não ecológica. Além disso, estes sistemas não estão dependentes de concessões de fornecedores de energia, que lhes cobram valores exorbitantes, o qual não é comportável para a população que vive de trocas comerciais de produtos e alimentos. Um vasto número de sistemas com estas características tem sido fornecido por ONGs e empresas fabricantes de equipamentos às populações mais carenciadas, o que veio permitir alterar significativamente o modo de vida destas populações. Existe também uma função pedagógica de utilização da água, e de partilha de um bem essencial para que toda a comunidade tenha uma qualidade de vida melhor, com uma redução significativa de doenças provocadas pela falta de água e da sua qualidade, que não seja necessário a deslocação para outro local que seja fora do seu território habitual. No caso de Países como Cabo Verde, há um programa de ajuda do Banco Mundial, e organizações internacionais, apoiados por países como o Japão e Luxemburgo, no sentido de dar a grande parte da população de todas as ilhas, o acesso a água potável, através de elaboração de projetos com entidades especialistas e supervisão do
Instituto de Gestão dos Recursos Hídricos, do Governo local, dos responsáveis autárquicos e dos investidores externos (mecenas). Uma parte da água é captada do mar e dessalinizada, mas é um sistema que tem custos de operação elevados com a manutenção e elevado consumo de energia, bem como o desperdício de água que o sistema produz para produzir água potável. A captação está neste momento a ter avanços significativos, visto que existem reservas subterrâneas de água doce, provenientes das chuvas que ocorrem em certos períodos do ano. Os sistemas de bombeamento também são em parte com energia solar, por ser uma solução com uma exploração de custo reduzido e eficientes. O transporte dessa água para locais de armazenamento distantes, é efetuado por bombagem eficiente, alimentada por energia elétrica local ou produzida através de gerador preparado para essa finalidade, caso não exista localmente ramal de energia. Em Angola que é um dos maiores produtores de petróleo do Mundo, o Ministério da Energia e Águas (MINEA), através do ministro João Baptista Borges, manifestou interesse num protocolo para a produção de energias renováveis, promovendo estas iniciativas com estudantes, com técnicos do sector elétrico,
para incutir estas práticas nas novas gerações. Foi também introduzido como 1ª fase nas escolas públicas de 5 Províncias a aprendizagem da utilização e benefícios das energias renováveis, aos estudantes do 5º a 9º ano de escolaridade São incentivos como estes que fazem a diferença na visão do presente e do futuro. Também existe em Angola uma política virada para a água com a insígnia “Água para todos”, onde estão a ser feitos fortes investimentos, em diversas regiões do país. Em geral, em todos os sistemas que temos vindo a participar e a instalar, a grande preocupação das entidades responsáveis promotoras dos investimentos, é terem equipamentos com tecnologia avançada, fiáveis, de pouca manutenção e que consumam pouca energia, porque além da água a energia é um bem escasso e bastante dispendioso. Estas referências que temos presenciado em Cabo Verde, em Angola, em Moçambique, no Senegal, na Guiné e noutros países, mostra bem a preocupação que existe por parte dos Governantes em melhorar a qualidade de vida das populações com elementos básicos e essenciais à vida humana e ao desenvolvimento económico.
Miguel Cravo © TIRONE NUNES
OVO DE COLOMBO
O método “Backcasting” é um verdadeiro "ovo de Colombo". Parte da capacidade de imaginarmos precisamente aquela realidade que desejamos, nos colocarmos nela e, a partir dessa perspetiva, olhando para o espelho retrovisor, verificarmos qual o caminho percorrido para aqui chegarmos. Porque o termos atingido a realidade desejada não é uma variável, este método permite o desenvolvimento de estratégias, eliminando todo o pessimismo, que habitualmente contamina e condiciona a ambição e motivação. NOTA: O “Backcasting” foi utilizado por Karl-Henrik Robèrt, fundador do The Natural Step (Suécia), para desenvolver estratégias no âmbito da sustentabilidade dos sistemas.
ENQUADRAMENTO
RESILIÊNCIA SOCIAL
HELENA FARRALL
As cidades modernas são sistemas sociais e ambientais complexos e interdependentes que incluem edifícios, redes de infraestruturas - energia, água, transportes e comunicações - e pessoas. De acordo com as Nações Unidas, estima-se que a percentagem de população mundial a viver em cidades passe de 52% em 2011 para 67% em 2050, enquanto que nas regiões mais desenvolvidas calcula-se que esta percentagem aumente de 78% para 86%, no mesmo período. Para além de complexas, as áreas urbanas são sistemas abertos, com limites fluidos e permeáveis que se apresentam um conjunto importante de características que incluem a não-linearidade, a interconetividade, incerteza e/ou impreditiblilidade dos acontecimentos/resultados, auto-organização e emergência. Sistemas complexos adaptativos são sistemas complexos que detêm a capacidade de aprender, de se adaptar e de co-evoluir ao longo do tempo em resposta às alterações que vão ocorrendo no meio envolvente, mas também no seu próprio seio. Estes são alguns dos elementos que, extraídos da teoria da complexidade, parecem integrar e dar sentido a um vasto conjunto de aspectos que resultam da evolução da Sociedade, constituindo as cidades um continuum histórico - entre passado, presente e futuro no progresso das civilizações. De acordo com Ulrich Beck, vivemos atualmente numa sociedade de risco, onde toda a sociedade civil se encontra vulnerável não apenas a catástrofes - naturais ou causadas pelo próprio Homem - mas também a atos terroristas. Num mundo cada vez mais interconectado, as dimensões do espaço e do tempo foram comprimidas e a CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 38
emergência de uma crise contem em si um potencial de calamidade global. Só com grande dificuldade as nações, as regiões, as cidades e as organizações em geral, conseguem superar, isoladamente, estes problemas. Para Beck, "o realismo cosmopolita" - com a sua redução e redistribuição de custos - é também um "realismo económico" e requer a cooperação e o trabalho em rede de todos os atores sociais envolvidos. As nossas cidades enfrentam também, nos dias de hoje, as consequências de "problemas perversos", como as alterações climáticas. Estes são problemas complexos associados a políticas públicas que ultrapassam a capacidade de abordagem e de resposta das organizações, e para os quais existem discordâncias profundas quanto às causas e quanto à melhor forma de os resolver. À medida que grandes cidades vão sendo afectadas por um aumento da frequência e da intensidade de eventos relacionados com o tempo e com o clima, os decisores políticos vão ficando cada vez mais conscientes de que as abordagens tradicionais à formulação e implementação de políticas públicas deixaram de ser adequadas. Os "problemas perversos" não podem ser resolvidos com abordagens tradicionais, lineares e analíticas, antes requerem soluções abrangentes e inovadoras, flexíveis o suficiente para poderem ser melhoradas com a experiência e um fluxo sólido e consistente de informação real. Gerir "problemas perversos" requer trabalhar entre as fronteiras das organizações, tanto as externas como as internas, e envolver com êxito os cidadãos e os restantes atores na criação das políticas e na sua implementação. Em meios urbanos, o potencial para um futuro de pequenos
Achoques que produzam efeitos de cascata e causem um evento disruptor é real e requer também adaptações nas áreas das ciências e da governância. A resiliência urbana, os ciclos adptativos e a panarquia são conceitos que implicam uma visão sistémica ao mesmo tempo que possibilitam uma abordagem que contemple a dinâmica e o desenvolvimento implícitos aos sistemas urbanos. "Pensar resiliência" tornou-se substancialmente relevante em debates sobre a construção sustentável e o planeamento urbano. Esta forma de entender a realidade urbana tem por base três elementos crítico - resiliência, adaptabilidade e transformabilidade - que se interrelacionam dentro e entre várias escalas: resiliência, no sentido lato, é a capacidade do sistema sócio-ecológico se modificar, adaptar e evoluir mantendo-se dentro dos limites críticos para o seu funcionamento; adaptabilidade é a capacidade de ajustar as respostas do sistema às alterações do meio externo e/ou interno - e dessa forma permitir a continuidade da sua evolução ao longo da trajetória atual; transformabilidade é a capacidade de ultrapassar os limites para novas trajetórias/paradigmas de desenvolvimento. Uma vez que as alterações de cariz transformacional a pequenas escalas promovem a resiliência do sistema a escalas maiores, os períodos de conturbação - social, política, económica - são épocas propícias à recombinação de diferentes fontes e formas de conhecimento/experiência e como tal verdadeiras janelas de oportunidade para a inovação. Por sua vez, a inovação desempenha um papel crítico na definição e construção dos futuros possíveis do sistema, um dos quais corresponderá à nova trajetórias do sistema sócio-ecológico uma vez terminada a fase de transição.
públicas investir em diversas estratégias em simultâneo e dessa forma maximizar a probabilidade de sucesso adaptativo / transformacional? Ou, pelo contrário, numa sociedade do conhecimento, onde os motores da inovação e da tecnologia são as Pequenas e Médias Empresas, devemos deixar ao mercado a seleção da melhor solução / estratégia? Será que a estratégia deve ser una, apenas flexível o suficiente para permitir ajustamentos locais/pontuais? Ou será que a definição do modelo de inovação a seguir depende das raízes filosóficas, religiosas e culturais dos habitantes desses espaços urbanos? Em termos do processo de inovação, per se, devem os modelos e processos de inovação ser concebidos e trabalhados no seio de painéis de peritos e de especialistas antes de serem eventualmente apresentados ao público para análise e discussão? Ou o "público leigo" deve fazer parte integrante do processo de concepção e desenvolvimento desde o início? Quaisquer que sejam as respostas, estas são apenas algumas das questões que merecem uma reflexão alargada por parte da nossa sociedade quando equacionamos o papel da inovação no futuro da Humanidade em geral e dos sistemas urbanos em particular. A começar por si, caro/a leitor/a.
Se existe consenso sobre o papel da inovação no modelar do futuro das áreas urbanas e da sua articulação com os ecossistemas de que dependem, o mesmo já não se pode afirmar no que respeita às estratégias de inovação e à meta estratégia que melhor contribuem para a resiliência do sistema urbano. Devem as organizações RESILÊNCIA URBANA | 39
CAPITAL INTELECTUAL Se a economia sempre dependeu de recursos naturais, do uso do solo, de bens e equipamentos e de capital para a criação de valor, na Sociedade da Informação, a economia depende acima de tudo da geração e aplicação de conhecimento. Não é pois de estranhar que este novo bem - o conhecimento - tenha passado a constituir um elemento valioso para pessoas, empresas e estados. Gerir o conhecimento é assumido, na atualidade, como uma vantagem competitiva. Ao nível empresarial, o valor de uma empresa pode aumentar ou colapsar dependendo de quão bem ela cria, captura e potencia o conhecimento não só do ambiente externo, em que atua, como também dela própria. Na realidade, a informação e o conhecimento que uma organização detém é em grande medida responsável pela diferença entre o seu valor de mercado e o valor dos seus bens tangíveis (físicos e financeiros). Factores como a perícia, o conhecimento e a capacidade de aprendizagem da organização não têm lugar nas folhas de balanço de uma empresa e no entanto são determinantes da sua prosperidade. O capital intelectual corresponde ao "conjunto de conhecimentos que são de valor para a organização" (1) . Mais do que patentes, direitos de autor e outras formas de propriedade intelectual- designado por capital estrutural - , o capital intelectual integra a totalidade do conhecimento, experiência, relações, processos, descobertas, inovações reunidos na organização bem como as sinergias estabelecidas - capitais humano e relacional. Num outro ângulo, Ulrich (1998) define capital intelectual como "a competência multiplicada pelo compromisso" (2), dando ênfase ao papel que o empenho e dedicação de cada um dos membros da organização tem na geração deste capital. Seja qual for a perspectiva, o capital intelectual depende do conhecimento e este requer aprendizagem que, por sua vez, esta evoca processos contínuos, sem fim e mutáveis - tal é a fundação da adaptação e da inovação. (1) Sveiby, K.-E. (1998). Intellectual Capital: Thinking Ahead. Australian Accountant, 68 (5): 18-2 (2) Ulrich, D. (1998). A new mandate for human resources. Harvard Business Review, 51: 125-134
CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 42
O CIDADÃO DECISOR METODOLOGIAS PARA UMA PARTICIPAÇÃO ACTIVA LIA T. VASCONCELOS – LTV@FCT.UN.PT & MIGUEL MAGALHÃES – MIGUEL.V.MAGALHAES@GMAIL.COM
Vivemos numa sociedade de consumo cada vez mais frenética; um mundo marcado pela globalização em que o avanço das novas tecnologias da informação - apesar das redes sociais - vem isolando o individuo, contribuindo fortemente para o declínio do capital social e do envolvimento cívico (Putman, 2001). Um telefone, que antes servia toda uma família, hoje tornou-se uma instrumento pessoal, individual e intransmissível. Também o automóvel se multiplicou para que cada um possa mover-se por si, independente de todos os outros. Hoje sabe-se que a felicidade prometida na solução destes problemas, neste caso a comunicação e mobilidade, ficou-se pela ilusão. Esta acumulação de bens e serviços logrou a promessa de liberdade. A verdade é que, com o aumento da velocidade da comunicação e do dinâmica social, em vez de podermos gozar do tempo extra (que supostamente conseguiríamos), tornámo-nos dependentes e escravos deste mundo de falsas promessas. Á medida que a ligação ao colectivo se virtualiza, enfraquece-se o vínculo emocional ao outro. Vivemos hoje uma sociedade menos “saudável”, mais carente e em que a perda de valores do colectivo vai gerando um vazio difícil de preencher. A consciencialização da situação actual da sociedade leva muitos a defender que precisamos de comunidades mais resilientes como forma de criar uma alternativa a uma sociedade sem sentido. Nesta linha, muitos têm tentado a mobilização e participação como suporte à construção de resiliência social, assente na ideia da criação de um espirito de comunidade. Embora esta possa ser uma possível alternativa, os que se têm esforçado por esta via, frequentemente revelam frustração com os resultados e descrença face ao que qualificam de
egoísmo e individualismo, acusando as pessoas de não saberem participar. É frequente ouvir, aqueles que se dedicaram a desenvolver processos desta natureza, dizer que a participação não funciona. Afirmam que as pessoas são egoístas por natureza e só vêm o seu ponto de vista. Aprofundando sobre as técnicas ou metodologias que aplicaram, verifica-se que usaram maioritariamente a sua boa vontade, que embora importante, não é, por si só, suficiente para o sucesso e bom funcionamento do processo. Tal como qualquer área de especialidade, também a participação tem um know how próprio e particular sem o qual dificilmente é bem sucedida. Ao trabalhar com grupos de cidadãos e suas dinâmicas, pode-se dizer que se está a contribuir para criar comunidades resilientes – mobilizando as pessoas para que em conjunto explorem como chegar a um fim comum, criando uma identidade colectiva e um espirito de comunidade. Ora, a participação é um veiculo importante, uma vez que um processo participativo activo, inclusivo e focado no empowerment, se bem sucedido, pode conduzir a Comunidades de Prática (CoP). COMUNIDADES DE PRÁTICA O conceito de comunidade de prática foi inicialmente estabelecido (Lave & Wenger, 1991) para analisar o capital social de organizações. Este conceito refere-se a um grupo de pessoas com um interesse comum que se junta para trabalhar em colaboração, com regularidade, e que aprende, ao interagir, formas de melhorar o que faz. Uma CoP constitui capital social pois “estimula a comunicação horizontal, a resolução criativa de problemas, o bem-estar individual, as trocas sociais informais e a coesão social” (http://www.cinep.ipc.pt/index.php/docentes/
programas/comunidade-pratica, 22-12-2012) traduzindo-se em espaço privilegiado de aprendizagem. Lave e Wenger - Lave (1988), Lave & Wenger (1991) - defendem visões de aprendizagem que assentam maioritariamente em ideias de construção social, onde o conhecimento é recolocado no contexto em que ganha significado e faz sentido. Deste modo, a compreensão é construída no local e o conhecimento encontra-se profundamente ligado às condições em que é aprendido. Ao rejeitarem os modelos de transferência de conhecimento linear mecanicista, recorrem às comunidades de prática para valorizar o que se aprende através da experiência da prática profissional e do “learning by doing” apoiado num processo de “trial and error”. A ideia foi ultrapassar a teoria de aprendizagem que enfatiza o valor do conhecimento abstacto e separa a aprendizagem do trabalho, e os aprendizes dos trabalhadores. Isto porque consideram que trabalhar, aprender e inovar devem estar ligados, quer em teoria quer na prática, para singrarem colectivamente (Brown & Duguid, 1991). Para um grupo ser considerado uma CoP deve ter três características: • O domínio - os membros têm um interesse partilhado, um compromisso com o grupo e um domínio de conhecimento que estabelece o “common ground”, inspirando-os a participar, orientando as aprendizagens e dando sentido às suas acções; • A comunidade - proporciona a interacção, uma vez que aprender é entendido como um acto social e as pessoas envolvidas procuram em conjunto formas de responder ao interesse, encorajando a partilha de ideias; • A prática – ao interagirem e trabalharem em conjunto os membros de uma CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 44
comunidade de prática desenvolvem um conjunto de experiências, histórias e ferramentas, que lhes permite operacionalizar soluções conjuntas face aos interesses, dando resposta a situações recorrentes. A prática define o foco especifico à volta do qual a comunidade desenvolve, partilha e mantém o seu funcionamento. Enquanto o domínio define a área geral de interesse, a prática identifica o foco específico à volta do qual toda a actividade se desenvolve. Numa CoP o individuo assume um papel preponderante e é parte integrante do processo, assumindo-se, em plena maturidade, como cidadão decisor. Mais espeficificamente, numa CoP de bairro, os actores-chave a envolver poderão ser os residentes, os agentes económicos, os fornecedores de serviços, e todos aqueles que utilizam, usufruem e constroem o bairro, dependendo do interesse comum considerado. Comunidades de prática são fontes reconhecidas de aprendizagem, de inovação técnica e organizacional, ligando múltiplas ilhas de conhecimento e partilhando-o através da colaboração, gerando inclusive novo conhecimento. A “comunidade” define as suas metas, filiação, fronteiras, e reconhecimento de filiação, baseada nas relações pessoais, reciprocidade e a produção de bens ou conhecimento colectivos . É importante referir que os membros podem ter um status elevado na “sua” organização mas têm de o ganhar no contexto da CoP. Isto sugere que a CoP não pode ser gerida, no sentido tradicional de gestão, . As comunidades gerem- se a si próprias, podendo os gestores (como tradicionalmente entendidos) assumir o papel de “facilitadores” ou “evangelistas” (Crompton, 2003). Brown and Duguid (1991) argumentam que através de uma constante adaptação à permanente mudança de filiação e circunstâncias, as CoPs em evolução são lugares fundamentais (“significant sites”) de inovação. Definição que não se compatibiliza com as descrições convencionais do trabalho que não contemplam à forma como as pessoas realmente trabalham(Crompton, 2003). CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 44
Em suma, as CoPs são espaços privilegiados de partilha aberta do conhecimento, contribuindo para a formação do colectivo e - consequentemente - para o capital social, promovendo oportunidade de inovação e reforçando e consolidando redes sociais. Uma questão central assenta em como criar CoPs bem sucedidas, e, para isso, os processos participativos a serem implementados têm de seguir uma série de requisitos, uma vez que um processo participativo activo, inclusivo e focado no empowerment tem mais probabilidade de conseguir que um conjunto de indivíduos se tornem numa CoP. Participação activa A participação activa constitui, por si só, um veiculo que permite às pessoas influenciar uma decisão, e em muitas áreas profissionais é já reconhecida ferramenta O tipo de participação defendido nestes contextos, vai para além da participação meramente tradicional, essencialmente informativa e/ou consultiva. De facto, este tipo de participação, visa envolver as partes interessadas (stakeholders) pressupondo um conjunto de acções de participação activa em que os actores-chave se envolvem e contribuem directamente para a procura de soluções. Os formatos de participação activa, em que um leque alargado do público é convidado a participar, quando adequadamente implementados, asseguram contextos seguros, abertos e transparentes, encorajadores de interacções entre múltiplas áreas do conhecimento, práticas, linguagens e vivências. Ao fazer isto, cria-se um espaço-oportunidade para a interactividade de visões, perspectivas e preocupações, podendo constituir uma mais-valia para estratégias, propostas e decisões, que afectam a vida dos envolvidos. Simultaneamente, estes espaços de diálogo e debate são promessa de inovação. De facto, o desafio nestes processos encontra-se em assegurar metodologias adequadas ao faseamento, estruturação e facilitação das actividades. Estas metodologias devem encorajar os participantes a levantarem e debaterem questões chave, desafiarem pressupostos e gerarem contributos, partilhar ideias e práticas e expressar as suas preocupações. Mas mais que as
metodologias operacionais, o sucesso destes processos apoia-se numa estrutura conceptual com uma série de princípios próprios. A participação deve ser mais que um procedimento,deve apoiar-se num conjunto de princípios que promovam o empowerment dos intervenientes e concorram para uma oportunidade real de aprendizagem colectiva que envolva os utilizadores e os encoraje à cidadania activa e interventiva no seu dia-a-dia e na sua comunidade. Assegurar o empowerment é crucial para a sensibilização e consciencialização do papel do individuo na sociedade, bem como para o envolver activamente e co-responsabilizar como agente para a mudança. Um processo participativo nestes contextos visa: • criar espaços para que os cidadãos possam construir soluções colaborativas que tenham a ver com a sua vida; • capacitar os participantes para construir/idealizar um futuro comum, através da sensibilização e consciencialização face às realidades que os afectam, assentes na sua responsabilização face às mesmas; gerar agentes de mudança activos e interventivos; Fóruns de empowerment Um processo colaborativo pode assentar em fóruns de participação activa, que funcionando como elementos catalizadores, se constituêm como pontos fulcrais do processo visando o empowerment. Um processo destes funciona geralmente da seguinte forma : • Um grupo alargado de participantes traz para o fórum uma visão global multifacetada para trabalhar numa agenda estruturada. Quando este grupo se reúne começa por explorar um passado comum (e.g., o que se passou nas últimos anos e décadas? Que implicações tiveram?). Ao fazê-lo traz para a discussão perspectivas diversificadas, que são reconhecidas e trabalhadas construtivamente; • No decorrer do processo, os participantes vão-se centrando nos “aspectos comuns” e/ou nos aspectos partilhados. Exploram as tendências, incluindo forças emergentes e de mudança. Discutem preocupações, prioritizam tendências e exploram as formas
comuns de olhar sobre as questões em debate. Frequentemente, com estas actividades os participantes mudam as suas próprias perspectivas e a forma como veêm os outros; • Posteriormente, os participantes organizam-se em sub-grupos para gerarem opções concretas do que será o futuro escolhido e identificam aspectos com que concordam e o que pretendem. Quais barreiras que terão de ser ultrapassadas, os projectos potenciais (e como lá chegar) e as diferenças não resolvidas; • Finalmente, cada participante define aquilo que quer trabalhar e junta-se a outros com motivações semelhantes para planear acções. A ideia central destes processos é assegurar contextos construtivos, que contribuam para que estes grupos continuem a trabalhar em conjunto. A experiência mostra que, ao mudar as condições em que as pessoas interagem, se torna possível estabelecer pontes entre os participantes de diferentes culturas, classes, idade, género, etnia, poder, status e hierarquia, trabalhando em conjunto como parceiros em tarefas de preocupação mútua. Nestes processos os facilitadores não oferecem diagnósticos aos problemas, nem receitas para os resolver, ideias preconcebidas, estruturas de referências, ou ideologias de acção. Também não fazem julgamentos de valor sobre a informação. Se é boa ou má, completa ou incompleta, útil ou
fútil, apropriada ou redundante. Seja o digam os participantes – as suas palavras, comportamentos, desejos e reacções – deverão sempre aceites e não ser ignoradas. Sem saber que questões e obstáculos irão emergir, os facilitadores simplesmente colocam um processo de trabalho em andamento e deixam o grupo construir a sua própria informação, significado e motivação. Em síntese: contribuem para que os participantes se auto-organizem e se auto-compreendam. Operacionalização o Processo Nesta linha, no que concerne a sua operacionalização, um fórum colaborativo envolve os actores chave, dando-lhes a oportunidade de expressar as suas preocupações e de trocar ideias, podendo ser convidados diferentes tipos de stakeholders (políticos, especialistas, agentes económicos, representantes de ONG e residentes). O formato do fórum varia consoante a situação, existindo, no entanto, uma estrutura comum mais ou menos estabelecida. Uma apresentação do objectivo da acção e do que é esperado dos participantes durante as sessões dá inicio ao processo. Após esta breve apresentação os participantes são divididos em grupos de 2 a 10 pessoas, dependo do objectivo pretendido. Por exemplo, quanto mais pequeno o grupo maior autonomia, a partir dos 7 indivíduos o grupo deve ter facilitação profissional, pois tem tendência em se sub-dividir. Neste caso
é importante assegurar também um relator que regista os contributos dos diferentes participantes. Frequentemente os trabalhos começam com grupos mais pequenos, preferencialmente dois a dois. Este trabalho desenvolvido aos pares é posteriormente apresentado a todos abrindo-se um debate alargado. Dependendo do propósito do fórum, os participantes podem ser deixados em autonomia para discutirem o tema proposto, ou podem ser conduzidos de forma mais estruturada através de um diálogo facilitado. No final, todos os grupos se juntam numa sessão plenária para apresentarem e debaterem os resultados do trabalho desenvolvido em separado. As sessões obedecem a uma lógica de formato que se repete. Inicia-se com todos para definir regras, objectivos e informar sobre o que se vai fazer. Seguidamente, o grupo divide-se em outros mais pequenos para se trabalhar aspectos específicos. Posteriormente volta a reunir-se toda a gente para partilhar o trabalho feito. Os grupos de trabalho podem organizar-se por dimensão, grupos de actores e temas (DGOTDU, 2009). Este grupo de participantes, que se encontra durante um ou dois dias, pode ter uma ou mais das seguintes tarefas: desenvolver uma visão conjunta, identificar preocupações e sugerir potencialidades, definir acções e fazer propostas, para responder a preocupações, avaliar potencialidades, RESILÊNCIA URBANA | 45
desenvolver possíveis parcerias, assumir a partilha de responsabilidades e contratualizar compromissos. Frequentemente os timings dos técnicos e políticos não se coadunam com este tipo de processo fundamental para a construção das CoPs, pois tendem a acelerá-lo não permitindo que a maturação se desenvolva e que o grupo se consolide apropriadamente, acabando por, no final, isso vir ao de cima, exigindo recuos no processo para recuperar. O processo participativo deve cumprir um conjunto de regras-chave, ao operacionalizar-se, para assegurar o sucesso: • Envolver os actores-chave desde fases iniciais do processo assegurando espaço seguro para diálogo e debate, disponibilizando tempo suficiente para os participantes compreenderem o processo e a informação em circulação, fomentando uma aprendizagem gradual que fará a diferença no desenvolvimento dos contributos; • Todos os actores-chave devem ser encorajados a envolver-se, para além da mera participação institucional, assegurando, assim, as condições para integrar todos os interesses e valores desde o início de qualquer processo; • Os participantes devem ser encorajados a focar-se nos interesses, para facilitar a procura de soluções colaborativas, dando origem a a um leque de oportunidades para gerar soluções Desta forma, procura evitar-se o impasse que frequentemente tem lugar quando os participantes se focam exclusivamente nas posições previamente assumidas. Isto é imprescindível para conciliar interesses, formar de parcerias e explorar soluções inovadoras. • A facilitação profissional deve ser assegurada por uma entidade independente, que não interfere nos conteúdos em debate, mas garante a equidade de intervenção a todos os participantes, é essencial. Esta opção assegura, de forma mais eficaz, uma participação genuína, respeitando as ideias sugeridas pelos participantes e facilitando a sua estruturação ao longo do processo. A evolução de um processo destes, se bem sucedido, assegura a maturidade e consolidação do grupo, emancipando-o e estabelecendo-o CoP – garante de continuidade do trabalho iniciado. CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 46
Da participação às CoPs Por seu lado uma CoP bem sucedida depende do propósito e dos objectivos da comunidade, bem como dos interesses e recursos dos envolvidos. Para isso, ao dar continuidade ao processo participativo, as CoPs devem assegurar sete acções (Wenger, McDermott & Snyder 2002) : • Assegurar que a comunidade se envolve naturalmente e que está preparada para re-ajustar o seu foco; • Criar oportunidades de diálogo dentro da comunidade e completar com perspectivas que venham de fora, i.e, além de tirar partido das valências dos seus membros a comunidade deve também olhar para fora dela para compreender as diferentes possibilidades para atingir os seus objectivos; • Aceitar e permitir uma multiplicidade de níveis de participação: a) o grupo central que participa intensamente na comunidade através de debates e projectos; b) o grupo activo que assiste e participa regularmente nas actividades, mas não ao nível de liderança; c) o grupo periférico que geralmente constitui a maioria da comunidade, e que, embora participantes passivos na comunidade, ainda se envolvem o suficiente para aprender). • Desenvolver espaços comunitários públicos e privados (por ex.podem existir membros envolvidos em acções mobilizando recursos e indivíduos para necessidades especificas de uma forma mais individualizada). • Focar-se no valor da comunidade, criando oportunidades para os participantes discutirem explicitamente o valor e a produtividade da sua participação no grupo. • Combinar familiaridade e motivação, devendo a CoP oferecer oportunidades de aprendizagem esperadas como parte da sua estrutura. • Encontrar e alimentar um ritmo regular para o trabalho da comunidade O cidadão decisor em tempo de crise Um processo – inclusivo, activo e interactivo - bem conduzido contribui frequentemente para: • fortalecer os compromissos dos cidadãos nas decisões, tornando-as mais robustas e menos contestadas, melhorando a aceitação
das soluções e facilitando a sua implementação; • permitir a integração dos geralmente excluídos do processo de decisão; • promover a articulação de vários tipos de conhecimento, ideias e práticas; • contribuir para o conteúdo do projecto/estratégia ou acção, permitindo ajustes ao longo do processo. Durante o envolvimento e participação nos fóruns os intervenientes desenvolvem o chamado capital social, estabelecendo redes/parcerias, capital intelectual, gerando conhecimento partilhado e capital político, construindo influência no processo decisório (Gruber, 1994; Innes et al., 1994). O nível conseguido nestes três tipos de capital identificam um processo participativo bem sucedido. Um processo destes fomenta a geração de CoPs, ao conseguir que o indivíduo se assuma como cidadão-decisor, socialmente activo e interventivo. Se estas CoPs forem bem sucedidas, é meio caminho andado para o sucesso do colectivo, permitindo tirar partido das suas competências e valências. Simultaneamente ao criarem-se estas sinergias, traz-se para o processo de decisão, os conhecimentos, frequentemente preteridos, de uma comunidade mais alargada, envolvendo-a e mobilizando-a para se tornar parte da solução. Em tempos de crise a sociedade vê-se obrigada a gerir os seus recursos de forma ainda mais consciente e eficiente, necessitando optimizar as valências e competências de cada individuo e de cada organização. As comunidades de prática podem constituir assim, um elemento vital para fomentar a identidade e a maturidade das comunidades, fortalecendo a sociedade e os seus elementos, e como tal a sua resiliência social. Bibliografia Brown, John Seely; Duguid, Paul (2000). "Balancing act: How to capture knowledge without killing it". Harvard Business Review. Crompton, Rosemary (2003) Employment, flexible working and the family, Article first published online: 15 DEC 2003 - DOI: 10.1080/0007131022000021470 Gruber, Judith (1994). Coordinating Growth Management Through Consensus Building:
Autor: Jochen Scheerer
SEGURANÇA E RESILIÊNCIA DOS SISTEMAS DE SANEAMENTO O PROJETO AQUASAFE ANTÓNIO FRAZÃO, SIMTEJO
A gestão dos sistemas de abastecimento de água e de saneamento é cada vez mais exigente ao nível da qualidade de serviço e do produto, sendo particularmente relevantes as questões relacionadas com a sustentabilidade, a segurança e a continuidade de serviço, às quais está ligada a resiliência das instalações e dos equipamentos. Em particular, as infraestruturas de saneamento estão cada vez mais sujeitas a impactos externos, especialmente em sistemas unitários devido aos caudais pluviais, que normalmente arrastam grandes quantidades de areias, pedras e resíduos. As zonas urbanas têm vindo a ter incrementos significativos sem uma adequada gestão urbana, com um consequente crescimento desordenado das áreas impermeáveis, fazendo aumentar os caudais pluviais. As consequências são, por vezes, nefastas, acarretando inundações, estragos e avarias em infraestruturas existentes, que implicam tempos de paragem significativos e custos de reparação elevados. Por outro lado, observa-se que, em sentido positivo, as entidades gestoras do sector de água dispõem de muita informação ao nível da monitorização da qualidade do produto e da qualidade dos meios receptores, e aquela que é gerada pelos sistemas de telegestão e de telemetria implementados no terreno. A utilização de ferramentas de modelação de redes de drenagem, das próprias estações
de tratamento e da qualidade dos meios receptores, com utilização de modelos matemáticos para apoio no planeamento e na operação é também cada vez mais uma realidade. Contudo, o desenvolvimento, calibração e utilização dos modelos matemáticos têm uma elevada complexidade que dificulta a sua utilização, pois exige grande disponibilidade e alguma especialidade, principalmente quando a utilização não é efectuada com frequência. Com o objectivo de criar uma ferramenta informática que permitisse tratar e utilizar toda a informação disponível nas entidades gestoras da área do saneamento, fazer a sua integração com a informação e previsão meteorológica disponível e fazendo correr de forma automática os modelos matemáticos, a Simtejo, SA e a Hidromod apresentaram em 2010 um projeto de candidatura I&D ao QREN, o qual foi financiado pelo POR Lisboa. Este projeto, designado por Aquasafe, foi já desenvolvido por estas empresas com excelentes resultados, tendo diversas aplicações, designadamente na previsão dos fenómenos e situações de apoio à tomada de decisões na gestão das infraestruturas e com consequências positivas na resiliência das instalações. É de salientar que projeto Aquasafe foi reconhecido internacionalmente, tendo sido distinguido pela IWA – International Water Association no âmbito dos Project Innovation Awards, na categoria Operations and Management com duas menções honrosas,
uma a nível regional (Europa e Ásia Oeste) e outra a nível mundial. Foi também distinguido no âmbito do “Be Inspired Bentley Awards”, sendo considerado como um dos cinco projetos mais inovadores de 2011. Esta plataforma informática tem grande potencial e é suficientemente flexível para ser utilizada em outras áreas e infraestruturas onde a informação critica tem múltiplas origens e onde a utilização dessa informação e da previsão dos acontecimentos é importante para a tomada de decisões, tal como na distribuição de água, na gestão de água pluvial e das linhas de água, nos processos de dinâmica das águas costeiras e na segurança marítima. Na Simtejo além da aplicação na gestão da rede de drenagem e dos sistemas elevatórios estão já a desenvolver-se estudos para aplicação na gestão das estações de tratamento, tanto ao nível da logística de operação, como também na própria gestão dos diferentes órgãos do processo de tratamento e na eficiência energética das instalações. A plataforma Aquasafe irá ter, também, um papel importante e particularmente facilitador nos estudos dos cenários de previsão dos efeitos das alterações climáticas, designadamente nos que têm a ver com a ocorrência de fenómenos climatéricos extremos e com a subida dos níveis de maré.
SIMTEJO Criada em Novembro de 2001, a SIMTEJO tem por missão a recolha, tratamento e rejeição de águas residuais dos municípios de Amadora, Lisboa, Loures, Mafra, Odivelas e Vila Franca de Xira, visando a prestação de um serviço de qualidade com respeito pelos aspectos essenciais de ordem social e ambiental. Através das suas infra-estruturas, a SIMTEJO contribui para a despoluição dos recursos hídricos das bacias do Tejo e Trancão e Ribeiras do Oeste. ETAR de Alcântara – Avenida de Ceuta 1300-254 Lisboa T: 213 107 900 · F: 213 107 901 · geral@simtejo.adp.pt RESILÊNCIA URBANA | 47
LPN - LIGA PARA A PROTEÇÃO DA NATUREZA A LPN é uma Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA), de âmbito nacional, fundada em 1948, sendo a associação de defesa do ambiente mais antiga da Península Ibérica. É uma associação sem fins lucrativos com estatuto de Utilidade Pública. A missão da LPN é a de contribuir para a Conservação da Natureza e para a defesa do Ambiente, numa perspectiva de desenvolvimento sustentável, que assegure a qualidade de vida às gerações presentes e vindouras. Estrada do Calhariz de Benfica, 187 1500-124 Lisboa T: +351 217 780 097 | +351 217 740 155 | +351 217 740 176 | Tlm: +351 964 656 033 | F: +351 217 783 208 E-mail: lpn.natureza@lpn.pt | www.lpn.pt
“A LEI DOS SOLOS” O QUE PRECISA MUDAR PARA SE INCENTIVAREM BOAS PRÁTICAS EUGÉNIO MENEZES DE SEQUEIRA ENG.ª AGRÓNOMO, INVESTIGADOR COORDENADOR CONSELHEIRO DO CNADS, MEMBRO DA LPN
Citando a Estratégia Temática para a protecção do Solo da União Europeia e a .Proposta de Directiva quadro para a protecção do solo (UE, Commission of The European Communities, 2002- Towads a Thematic Strategy for Soil Protection. Communication from the Commission to the Council, the European Parliament, the Economic and Social Committee and the Committee of the Regions. Brussels, 16.4.2002. COM(2002) 179 final.. 28 pp.) ; UE, Commission of The European Communities, 2002- Proposal for a Directive of the European Parliament and of the Council establishing a framework for the Protection of the soil and amending Directive 2004/35/EC. (Presented by the Commission) Brussels, 22.9.2006. COM(2006) 232 final. 2006/0086 (COD). 30 pp.) ......... solo é uma delgada interface entre a Litosfera e a Atmosfera, recurso natural perecível, base de toda a vida terrestre. Nos ecossistemas naturais tem as seguintes funções: 1ª Produção de biomassa, nos ecossistemas terrestres incluindo a agricultura e a floresta 2ª - Armazenar, filtrar e transformar nutrientes, substâncias e água 3ª - Reserva de Biodiversidade, habitats, espécies e genes: 4ª- Meio físico e cultural para as actividades humanas 5ª - Fonte de matérias primas 6º - Actuando como um dos sumidouros de carbono 7ª - Arquivo geológico e histórico Sem solo, isto é, sem o nível básico dos ecossistemas terrestres não existe capacidade de suporte para o nível fitotrófico, produção primária e, portanto, todo o funcionamento do ecossitema terrestre em causa será posto em causa. Somos dos países europeus que têm o recurso em “terra” de pior qualidade, com
menos de 5% da área continental com solos competitivos pelo que urge a sua salvaguarda a todo o custo, como também a defesa dos melhores e mais profundos de entre os moderadamente férteis. A situação é mais urgente num país com um processo de degradação acentuado do recurso solo, quer por erosão acelerada, quer por perda de matéria orgânica, salinização, e sodização, com um processo acelerado de Desertificação resultante de más tecnologias, agravado pelas alterações climáticas. Nas zonas “ditas rurais” o combate à desertificação e a adopção de medidas de protecção dos recursos, passa pela adopção de Boas Práticas Agrícolas, da implementação efectiva do Combate à Desertificação, por tecnologias e usos que reduzam a erosão, aumentem o sumidouro de carbono, mas passam também pelo evitar que os bons solos sejam utilizados para outros fins que não os agrícolas, com o aumento da ocupação para industrias, com o alagamento para barragens para produção de energia, etc. Por outro lado, sendo a selagem dos solos um risco de degradação total e irreversível Portugal é o país europeu com mais área construída por habitante e a maior percentagem de solo impermeabilizado. Habitação, indústria, comércio, vias de comunicação, etc., tudo concentrado em especial na zona litoral e nos melhores solos. Repare-se que de 1990 até 2000 as zonas “ditas urbanas” aumentaram cerca de 50% (urbanos, industrial, comercial e transportes, minas e aterros sanitários em Portugal, e por outro lado as áreas de matos aumentaram mais de 60% e de abandono com os fogos e erosão correspondentes. E de 2000 a 2010 construímos uma cidade de Coimbra por ano, para agora termos mais de
1.800 mil habitações devolutas e uma dívida referente a esta actividade de mais de 100 mil milhões de Euros. Trata-se aqui não só do aumento das áreas urbanas mas a destruição total e irreversível dos solos mais férteis como os Fluvissolos, desenvolvidos nas planícies aluvionares dos grandes rios portugueses, Tejo, Sado, Mondego, Vouga, da zona de Faro e de Chaves , alvos de pressão urbanística, mas também de vias de comunicação (auto-estradas, vias férreas), e em especial agora as “plataformas logísticas” , mas também das aluviões dos pequenos rios, agora fruto de desaparecimento total pela construção de barragens. É nas unidades “terra” de melhor qualidade onde se concentra a maior capacidade produtiva, quer a capacidade produtiva por exploração quer a produtividade média de terra, quer a produtividade média do homem que a pressão tem sido maior. Portugal não é autossuficiente no seu abastecimento alimentar (importamos mais de 90% dos cereais utilizados directa e indirectamente na nossa alimentação), mesmo no que respeita a horticultura, nem quanto a frutos nem quanto à produção agrícola e pecuária, apresentando o Complexo Agro-Florestal um saldo negativo de mais de 2 milhões de Euros anuais, apesar do saldo positivo da fileira florestal. No entanto é nas zonas mais produtivas que até o Programa Nacional da Politica de Ordenamento do Território (Anónimo, 2006 a- Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território. Programa de Acção. Ministério do Ambiente, do Ordenamento do território e do Desenvolvimento Regional. Fevereiro de 2006) aponta o crescimento das zonas urbanas.
Autor Foto: Bruno Silva
COBERTURAS VIVAS NATURALIZADAS
Coberturas vivas é a designação genérica que engloba os vários sistemas de vegetação instalados sobre estruturas, nomeadamente edifícios. Podemos diferenciar logo à partida duas tipologias distintas de cobertura viva que não são mutuamente exclusivas. O primeiro é o jardim em cobertura que corresponde a um espaço, dito rentabilizado, para utilização e tão aprazível quanto possível dotado das mesmas valências de quaisquer jardim com a particularidade de ser em cobertura. A segunda é a cobertura ou tapete verde, como solução menos complexa e de baixa manutenção que visa sobretudo melhorar o comportamento térmico do edifício, sendo por isso a solução frequente em coberturas de grande dimensão, de difícil acesso e/ou com declive acentuado. De ambos podemos extrair directrizes fundamentais para a definição e caracterização de cobertura viva naturalizada. Da vertente jardim temos as noções de complexidade e biodiversidade, com interações entre os tipos de vegetação e fauna que a visita. Há também em comum um programa projectual dominado por funções de utilização e alguns valores ecológicos. Da vertente cobertura verde, semelhantes são as funções técnicas e os serviços ambientais obtidos. A sua natureza extensiva, com reduzida necessidade de intervenção e cujos trabalhos de manutenção são rapidamente executados em ciclos anuais são também aplicáveis à cobertura viva naturalizada. Assim corresponde a uma terceira tipologia, que combina o melhor do jardim e do tapete verde com outros princípios exclusivos e mais atractivos. É desumanizada e aestética mas cheia de diversidade e apta a usufruto passivo, nomeadamente contemplativo. Pode ter uma forma quase tão intensiva quanto um jardim ou quase tão extensiva quanto um tapete verde na forma de prado reptante. É a solução técnica que realiza maior diversidade de serviços ambientais sendo a mais ecológica e sustentável. Sem esquecer que por princípio intrínseco a cobertura viva é tanto mais natural quanto menos intervenção
BRUNO ALVES SILVA
compostos por órgãos, também a cobertura viva compreende um conjunto de sistemas compostos por elementos funcionais variáveis. Independentemente das opções técnicas e materiais escolhidos, a cobertura viva naturalizada tem também de considerar um sistema de impermeabilização, drenagem, fixação, rega, revestimento de tela ou mulch além da vegetação a plantar. Este apesar de seguir o elenco da flora local potencial é quase sempre produzido em regiões distantes. Assim estes sistemas incluem material vegetal e elementos funcionais como tubagens, materiais britados e inertes expandidos ou extrudidos, telas, fibras e esponjas de última geração que pouco ou nada têm de natural. Então afinal o nível de artificialidade envolvida é equivalente ao de uma casa e cobertura viva feita em legos? Conceptualmente, para ter uma cobertura verdadeiramente natural, teríamos de elevar as pré-existências vegetais da área de implantação, sub-instalando os artifícios necessários que mimetizam as funções do solo: substrato nutritivo, elementos de fixação, camada drenante, camada retentora de água, sem dispensar os artifícios necessários à proteção da estrutura abaixo: impermeabilização e isolamento térmico. Do conceito à execução temos pois que inverter esta sequência, sendo a vegetação a última das camadas, o natural que existisse perdeu-se logo no início dos trabalhos de remoção de terras. Cobertura viva natural talvez só mesmo por cima de uma gruta. À medida que vamos impermeabilizando solo e território, maior a necessidade de projectar espaços em cobertura que se aproximam do funcionamento ecológico desse território ocupado, formando micro-ecossistemas o mais sinergéticos e sustentáveis que a nossa criatividade e entendimento dos processos naturais nos permita projectar. É sobretudo este o desígnio da cobertura viva naturalizada que permite, mesmo num tecido urbano compacto desde há muito destituído de um funcionamento ecológico, a instalação de um espaço com lugar à Natureza.
naturais vegetalizados, como o seu equilíbrio dinâmico; regeneração; resiliência; selecção natural; sucessão ecológica e evolução. Este tipo de cobertura distingue-se enquanto artifício na sua procura criativa de potenciar estes aspectos naturais. Voltando ao mundo conceptual e no contexto mediterrânico, a cobertura viva naturalizada levada até ao extremo, ou mais correctamente climácica, seria representada pelo bosque, dominado por carvalhos e outras árvores bem adaptadas à alternância de meses de humidade e frio e outros de calor e secura, com espécies trepadoras – lianas, arbustos de grande porte e um revestimento de sub-arbustos e herbáceas: um polígono da vegetação ancestral sobre um edifício. Não sendo inédito em Portugal encontrar coberturas capazes de albergar um bosque autóctone, é inédita a sua concretização. A ser feito seria um desafio sobretudo à vontade humana inata de humanizar, o que no caso de uma cobertura viva corresponde a ajardinar. No entanto, não se confunda bosque com cobertura viva naturalizada. Todos os estádios de sucessão ecológica são válidos como representações momentâneas deste futuro bosque. Uma ravina esquelética a seu tempo será uma vertente arborizada da mesma maneira que um prado em cobertura se tornaria um bosque em cobertura, passando por todos os estádios intermédios. Assim existirá um estádio ideal para cada cobertura a projectar. Idealmente a sucessão seguiria a partir dessa instalação mas também é possível travar o processo intervindo com limpezas. Um mato baixo poderá ser perpetuado eliminando os arbustos que crescerem demais, mas perde-se a essência da naturalização. Um jardim tem um estado de maturidade ideal para o qual se pretende avançar rapidamente e depois de atingido, retardar a sua alteração. Um tapete verde pretende-se o mais homogéneo e imutável que seja possível. O espaço naturalizado pretende-se que evolua. Uma imagem que ilustre uma cobertura viva naturalizada será toda a que
BRUNO ALVES SILVA Arquiteto Paisagista licenciado pelo Instituto Superior de Agronomia, desenvolveu trabalho para vários ateliers de arquitetura. Especializado em vegetação, estende a sua atividade didática como guia em roteiros de jardins e como formador. T: +351 912 373 726 mail@brunorubus.pt | www.brunorubus.pt
A RESILIÊNCIA E A INOVAÇÃO NAS AUTARQUIAS
JOSÉ MACÁRIO CORREIA
Nos tempos que correm a vida está mesmo muito difícil para todos. As autarquias, em especial as Câmaras Municipais atravessam um período terrível na sua gestão. Aumentam as solicitações e diminuem as receitas drasticamente. As solicitações novas derivam de mais falta de habitação, de desemprego galopante, de jovens angustiados, de empresas em dificuldades e de idosos desamparados e sem recursos da família. E as receitas caíram porque o governo financia-se às custas de todos e dos Municípios também. Foi aumentado o IVA da iluminação pública em 17%, retiram-nos 5% do IMI e se reclamamos cortam-nos o acesso ao crédito para pagar a fornecedores. A construção civil quase parou, e por via disso um conjunto de taxas e licenças não entram nos cofres. O poder central acrescenta o problema e não ajuda na solução. Sabe munir-se das receitas que lhe servem, mas não são visíveis as ideias para cortar na própria máquina e das empresas públicas. O funcionamento dos serviços dependentes do Ministério das Finanças, que exercem o poder de recolha destas receitas, é em certos casos usurário, dirigido por pessoas que nem reúnem as competências necessárias nem tão pouco são munidas do sentido de responsabilidade adequado. Resultam assim casos de total ineficácia e inconsciência do dever público em estruturas dirigentes do Orçamento e do Tesouro. Custa acreditar como contribuímos para estes dirigentes, no estado de penúria que o país atravessa. Perante este contexto de adversidades, não nos podemos resignar. Temos que resistir, combater, persistir e batalhar em cada dia e a todo o instante. Concluímos que a máquina do Estado é um CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 52
dos obstáculos ao desenvolvimento do país. Complica, enrola, consome tempo e a paciência de todos. Sobretudo no atual contexto, como é possível que muitos dirigentes e funcionários da administração pública, incluindo a local, não têm espirito de resolução dos problemas? Empatam e complicam a vida a tudo e a todos, quando o que lhes é pedido é terem uma atitude de ajuda e de cooperação para o desenvolvimento. Quem sente isto, sofre, mas não pode baixar os braços e desistir. Só com a contestação permanente é que se podem demover aqueles que abusam do poder efetivo que lhes foi delegado, ao colocarem barreiras burocráticas a quem tenta fazer bem. Posto isto, nos tempos de crise temos que ser resistentes e ao mesmo tempo inovadores. A inovação, impõe descobrir como poupar, onde poupar e por outro lado como fazer mais com muito menos recursos. Obriga-nos a ser atentos e perspicazes e a experimentar novos caminhos e novas soluções. Inovar, obriga-nos a, entre outras medidas, pelo menos estas: • Reduzir o consumo de energia nos edifícios e nos espaços públicos; • Produzir energia elétrica recorrendo a sistemas fotovoltaicos nas coberturas, sobretudo dos grandes edifícios; • Identificar onde é possível poupar água nas redes (reduzir perdas); • Melhorar a gestão das frotas nos transportes municipais quanto ao consumo de combustíveis; • Reduzir custos nas comunicações telefónicas e eletrónicas; • Fomentar soluções de gestão online com os munícipes; • Aceitar as boas sugestões, de ordem
prática vindas dos cidadãos; • Fomentar o empreendedorismo nas redes escolares e entre os jovens em geral; • Acolher redes de voluntariado para atividades sociais, culturais e desportivas; • Estimular a iniciativa privada com isenções e apoios ao investimento, em especial em ações de regeneração urbana e na criação de áreas empresariais geradoras de emprego sustentável: • Partilhar com clubes e associações a gestão dos equipamentos públicos, reduzindo custos e gerando a co-responsabilização; • Proceder a uma boa reavaliação dos projetos antes da sua execução. Para além de tudo isto, que em certos aspetos não constitui inovação, importa a cada instante inventar e imaginar algo mais. Deverão fazer-se concursos para o fomento da inovação e da sua aplicação prática, abrindo a todos, as formas de contribuírem para o bem coletivo. As câmaras municipais estão na charneira das relações com as pessoas e o Estado, entre as empresas e os licenciamentos necessários. Entre os jovens e o mercado de trabalho, administrando escolas e apoiando idosos, escutando angustias e pesquisando soluções, reúnem por isso as condições ideais para ajudar as novas soluções. Assim fosse a abertura da Administração Central do Estado, à qual falta proximidade e humildade. Nota: A quem pretender quaisquer detalhes e exemplos sobre as afirmações neste artigo, basta solicitar que serão facultadas no intuito de se dar a saber o que nos rodeia. Contacto: ...@cm-faro.pt
Autor: Carlos Rodrigues
Miguel Cravo © CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
ALL WE HAVE... WE SHARE Para aumentar o bem-estar coletivo é essencial criar-se sinergias, colher e distribuir os benefícios resultantes. A interação positiva entre indivíduos e comunidades bem como a colaboração entre pessoas e ecossistemas, permite satisfazer as necessidades de mais pessoas até quando os recursos escasseiam. NOTA: Considerada uma das frutas que no Cristianismo causou a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, símbolo, na antiguidade, de prosperidade e ambição na perspetiva dos Egípcios, de fertilidade na dos Persas, e na época medieval, considerada como microcosmo, a romã sempre teve um significado muito forte.
SÍNTESE SISTEMÁTICA
AÇÕES DE COMUNICAÇÃO DA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL E INDICADORES DE DESEMPENHO
VÂNIA GUERREIRO INICIATIVA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL A crescente dinâmica que registamos quer na página online da Construção Sustentável®, quer nas redes sociais que promovemos, nomeadamente na nossa página oficial no Facebook, refletem o crescimento progressivo do número de profissionais que demostram interesse nos conteúdos desenvolvidos e que, por isso, estão conscientes da importância das suas decisões no que respeita à otimização do desempenho energético e ambiental dos edifícios. A titulo de exemplo, entre Janeiro e Dezembro de 2012 a página www.construcaosustentavel.pt contou com um total de 153.759 Visitas, 3.991.394 Page Views (páginas visitadas), 16.646.186 de Hits e 499.610 Gigabytes de Downloads. Paralelamente, a Construção Sustentável® criou um perfil no Facebook - no dia 5 de Janeiro de 2011 e em 10 de Outubro de 2011 tinha já 5.000 Amigos e porque este é o número máximo de contatos permitido, passaram a aumentar os fãs - a 31 de Dezembro de 2012 a sua Página Oficial no Facebook (facebook.com/construcao.sustentavel) tinha 7.100 Fãs (esta página oficial contabiliza uma média de 50 novos fãs por mês). Estes números são apenas alguns dos importantes indicadores que espalham a forte dinâmica resultante dos eventos realizados ao longo dos últimos meses de 2012 que se revelaram CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 58
muito intensos no âmbito das atividades promovidas pela Construção Sustentável®. Iniciou-se este período de eventos em Setembro, com o Seminário em Coimbra dedicado ao tema “O Meio Edificado ao Serviço de uma Elevada Qualidade de Vida”. O enfoque deste ciclo de Seminários esteve na apresentação das oportunidades de intervenção nas cidades e edifícios que podem contribuir para uma prosperidade ambiental, social e económica dos meios urbanos e asseguram simultaneamente uma considerável melhoria do desempenho energético e ambiental do meio edificado. Ainda em Setembro realizou-se o Workshop “Inovação e Design” que contou com casa cheia no Auditório do Metropolitano em Lisboa. Entre os oradores estiveram o Eng. Carlos Carapeto (IAPMEI), O Prof. João Peças Lopes (INESC), o Eng. José Luís Malaquias (ISA), o Arq. Jorge Barros (CS Coelho da Silva) e o Eng. Nuno Valverde (FABLab). Estes especialistas reforçaram a ideia de que, no meio edificado, quando a um design robusto é aliada a inovação tecnológica assegura-se um significativo crescimento da qualidade de vida e simultaneamente alcança-se uma considerável redução na utilização dos recursos finitos. Dando continuidade ao debate em torno dos tópicos “inovação” e “design” realizou-se, no início de Outubro, a 3ª Conferência do ciclo de conferências HUMAN HABITAT 2012 que contou com a presença do orador Christian Bason apresentando o tema “Inovação e Design como Impulsores do Desenvolvimento Social”. Christian Bason é o responsável pelo MindLab – uma organização governamental da Dinamarca que compreende diversos ministérios e cujo objetivo é a inovação permanentemente centrada no cidadão. As questões abordadas tiveram um excelente acolhimento por parte do público que se
mostrou muito interessado e participativo no período de debate. Pelo terceiro ano consecutivo, o Workshop dedicado ao tema Coberturas Vivas, promovido em Outubro, mereceu novamente casa cheia no auditório do Metropolitano em Lisboa. A abordagem esteve centrada sobretudo na apresentação dos resultados de coberturas vivas realizadas nos últimos anos. Este Workshop contou ainda com a presença da oradora Cristina Ferreira da LIPOR que apresentou também os principais resultados alcançados com o projeto “Horta à Porta”, e por isso, foi possível estabelecer uma relação direta entre “coberturas vivas” e “hortas urbanas” - realidade que em Portugal, por enquanto, ainda não existe, mas que provou ser uma tendência muito viável e num futuro muito breve, dado o acolhimento extremamente positivo que esta ideia demonstrou deter nos participantes deste evento. Em Novembro realizou-se a 3ª edição do Curso Prosperidade Renovável – Construção Sustentável, que contou com a participação de diversos especialistas em diferentes matérias transmitindo os conceitos e as soluções construtivas associadas à construção sustentável numa abordagem aberta e participativa, tendo como principal perspetiva a reabilitação urbana. Os profundos conhecimentos dos formadores e o entusiasmo de todos os formandos, contribuíram para criar um ambiente muito fértil para o debate e partilha de ideias, complementando assim as várias matérias enquadradas nos temas da “Prosperidade Renovável” e da “Resiliência Urbana” que têm vindo a ter lugar nos diversos eventos promovidos pela Construção Sustentável® desde 2010, bem como desenvolver temáticas já abordadas nos anteriores cursos realizados em 2010 (Construção Sustentável I) e em 2011 (Construção Sustentável II).
envolvimento do cidadão em processos de cooperação e de co-criação, pelo que se apresentam como excelentes contextos para inovar, participar ativamente e para validar soluções com a perspetiva do “utilizador final” das respetivas soluções. Um tema abordado transversalmente em todas as apresentações, mas particularmente por Helena Farrall (Sustainable Construction Living Lab) foi a avaliação do desempenho e resultados obtidos nos Living Labs. A questão de “Como se mede o sucesso de um Living Lab?” foi desenvolvida nesta apresentação e contou com um excelente período de debate e partilha de experiências e uma clara demonstração do interesse que este tópico levanta. Ainda em Novembro, Menno van Dijk trouxe ao Auditório do Oceanário de Lisboa o tema “Preparar a Liderança do Futuro” na última Conferência do Ciclo HUMAN HABITAT 2012. Cofundador e diretor geral da THNK - Escola de Liderança Criativa de Amesterdão – apoia o desenvolvimento de estratégias empresariais e o crescimento de “líderes criativos” para que, quer as empresas, quer os indivíduos, tenham um impacto social significativo no planeta. Este tema demonstrou ser bastante pertinente dado o acolhimento positivo demonstrado pelos participantes da conferência. O ciclo de ações de comunicação promovidas pela em 2012 ficou concluído em Dezembro com o último Workshop dedicado ao Construção Sustentável® tema “Mesa Urbana Sobre a Qualidade de Vida e Planeamento Urbano” realizado em Lisboa num modelo inovador e que contou com uma
excelente participação por parte dos intervenientes. Moderado pela Arq. Livia Tirone (Construção Sustentável®) teve como oradoras convidadas a Arq. Lia Vasconcelos (FCT – UNL), a Prof. Iva Pires (FCSH - UNL) e a Eng. Helena Farrall (APCSLL) e a sessão iniciou-se com um período de reflexão à pergunta: “What keeps you awake at night?”. Ao longo da sessão foram abordados diversos desafios, tais como: o que representa o conceito de “qualidade de vida”, os estilos de vida e de consumo das populações urbanas, a segurança das populações envelhecidas, a importância das comunidades locais e dos laços sociais que se estabelecem, os problemas relacionados com a exclusão social e quais as melhores soluções de integração de minorias e de culturas diferentes, a alimentação saudável e a respetiva produção local com o objetivo de identificar oportunidades de intervenção para tornar as cidades mais atrativas, oferecendo maior qualidade de vida aos cidadãos. A Construção Sustentável® continuará a manter a dinâmica e a oferta de eventos nas diversas áreas que se configuram essenciais à divulgação das boas práticas na construção. Em Dezembro de 2012 foi lançada a Comunidade Construção Sustentável à qual todos podem aderir gratuitamente ou, em alternativa, contribuindo com uma quota anual através de uma das modalidades disponíveis. Convidamo-lo a visitar a nossa página na Internet www.construcaosustentavel.pt - e a aderir à Comunidade Construção Sustentável® online.
Vânia Guerreiro © CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
Também em Novembro, com o Workshop “Boas Práticas na Construção e Reabilitação” realizado no Auditório do IAPMEI em Lisboa, fechou-se o ciclo de Encontros Living Lab em que foram apresentados alguns dos diversos resultados alcançados pelos diferentes Grupos de Trabalho do Sustainable Construction Living Lab ao longo do ano 2012. Aberto pelo Eng. Macário Correia (presidente da Mesa da Assembleia Geral da APCSLL e Presidente da Câmara Municipal de Faro) este Workshop centrou-se, essencialmente, na discussão de boas práticas trazidas pelos oradores convidados que relataram as experiências de outros Living Labs. Os exemplos de “boas práticas” apresentados no âmbito das atividades promovidas por outros Living Labs em Portugal e em outros países, designadamente em Itália e França, foram muito diversificados. A título de exemplo, Carlos Rodrigues (Câmara Municipal de Águeda) no âmbito do Lighting Living Lab apresentou algumas soluções já implementadas e muito inovadoras, como é o caso da possibilidade do cidadão controlar (apagar e acender) cada uma das luminárias que fazem parte da rede de iluminação pública de Águeda de acordo com as suas necessidades no local. Também a colaboração entre diferentes regiões de França e Itália no sentido de favorecer oportunidades para a inovação e desenvolvimento dessas próprias regiões apresentada por Paola Capello (no âmbito do Projeto Alcotra Innovation) - foi outro exemplo apresentado como prova de que os Living Labs têm uma função central no
A partir de Janeiro de 2013 todos os participantes nas ações de comunicação promovidas pela Construção Sustentável® e os utilizadores online dos conhecimentos e conteúdos gerados e disponibilizados na página na Internet www.construcaosustentavel.pt, são convidados a aderir à Comunidade Construção Sustentável® online. A adesão à Comunidade Construção Sustentável® online permite personalizar e qualificar a relação com o utilizador dos serviços prestados pela Construção Sustentável®. O primeiro passo para esta qualificação parte da informação que cada interessado tenha colocado na ficha de inscrição que preenche, por ser aquela que permite à Construção Sustentável® conhecer melhor o público ao qual adaptar as suas atividades. O objetivo da Construção Sustentável® de criar a comunidade online é de adequar os serviços que presta aos seus utilizadores, acompanhando os decisores (quer sejam proprietários de imóveis que precisam por reabilitar ou profissionais do setor da construção) nas decisões que tomam e que vão afetar a qualidade do meio edificado. Entre os principais atores a intervir no processo de qualificação do meio edificado estão o proprietário do imóvel e o prescritor (arquiteto, engenheiro ou engenheiro técnico, entre outros). Deste modo, os públicos que utilizam os serviços da Construção Sustentável® dividem-se entre os proprietários de imóveis, por um lado, e os profissionais do setor, por outro – devendo ambos interagir. Nesta área a Construção Sustentável® também pretende desempenhar, dentro de em breve, o papel de facilitador. A Construção Sustentável® apoia o trajeto a percorrer pelo proprietário do imóvel quando este visa tornar a sua casa mais confortável e económica de operar: Quando o proprietário do imóvel percebe que a sua casa poderia contribuir muito mais positivamente para o seu bem-estar, CONSTRUÇÃO SISTEMÁTICA | 60
salubridade, conforto e economia, interessa-se em obter a informação que lhe irá facultar introduzir as mudanças necessárias. Por um lado, precisa de obter o know how para identificar o que pretende e para exigir às equipas de projeto e de execução de obra que seja colocado em prática. Por outro lado, precisa de selecionar criteriosamente as equipas de projeto e de execução de obra, para assegurar que estas possuam as competências relevantes e dado provas na área da construção sustentável. A par e passo, com cada decisão que o proprietário do imóvel precise de tomar, a Construção Sustentável® presta serviços, globais e personalizados, e cria produtos que conferem maior capacidade de decisão ao proprietário do imóvel. Uma das modalidades de adesão à Comunidade Construção Sustentável é a “HOME BASE”, que foi criada precisamente para dar apoio ao proprietário do imóvel quando decide investir para reabilitar a sua habitação. A Construção Sustentável® apoia o trajeto percorrido pelo prescritor do setor da construção quando este visa tornar a “construção sustentável” sua prática comum: O prescritor interessa-se pelo tema “construção sustentável” quando identifica uma procura que tal exige e quando compreende que faz sentido melhorar a sua oferta para se diferenciar no mercado. A partir desse momento, passa a captar toda a informação à qual consegue aceder, a colher conteúdos e a discuti-los com outros profissionais de sua confiança. Quando se convence que, para o bem de todos, é importante assimilar e adoptar esta prática, inicia a esforçar-se pela transformação, passando a integrar nas suas atividades profissionais a “construção sustentável”. Esta prescrição traz novas perguntas, novos desafios e novas soluções construtivas que precisam de ser discutidos para serem inseridos num contexto profissional com base na confiança. A Construção Sustentável® dá apoio ao longo de todo o trajeto que o prescritor precisa de percorrer
até integrar a construção sustentável como prática comum. Dois dos modelos de adesão à Comunidade Construção Sustentável – PREMIUM e PREMIUM PLUS, foram concebidos, precisamente, para apoiar o prescritor quando decide apostar na prescrição de construção sustentável. A Comunidade Construção Sustentável® online oferece 4 modalidades de adesão: 1.0 Com o objetivo e a missão de contribuir para tornar prática comum a construção sustentável em Portugal, a Construção Sustentável® visa chegar a todas as pessoas interessadas no tema, facilitando-lhes o acesso aos conhecimentos mais relevantes. A primeira modalidade de adesão à Comunidade Construção Sustentável® online, o nível “Membro”, mantém-se gratuita mas obrigatória para quem deseje usufruir dos serviços e da informação disponíveis. Terá a escolha de se inscrever nos eventos de acesso gratuito, promovidos pela Construção Sustentável® e de aceder aos conteúdos públicos da página na Internet www.construcaosustentavel.pt. 2.0 A segunda modalidade de adesão é dirigida a um público-alvo interessado nesta área temática, mas que não tem necessariamente conhecimentos profissionais – trata-se sobretudo de um público constituído por proprietários de imóveis que procuram aumentar a salubridade e conforto em suas casas e que, por este motivo, pretendem aceder a um espaço de informação e interação acerca desta área temática. Trata-se do nível de adesão “Home Base” da Comunidade Construção Sustentável® online e conta com uma quota anual de 20,00 Euros. Com a adesão a este nível, os Membros “Home Base” irão receber os três números anuais da e-Revista (Revista Construção Sustentável
Miguel Cravo © CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
COMUNIDADE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL®
em formato digital), aceder na área restrita da Mediateca online às gravações áudio das ações de comunicação denominadas Encontros Living Lab, promovidas pela Construção Sustentável® em parceria com o Sustainable Construction Living Lab, e, usufruir ainda de um desconto de 20% em sessões de “coaching” individual, no caso de optarem por este serviço, para além de poderem participar em todas as ações de comunicação promovidas pela Construção Sustentável® e aceder online aos conteúdos gratuitamente disponibilizados. 3.0 A terceira modalidade de adesão à Comunidade Construção Sustentável® online, o nível “Premium” é dirigida a profissionais na área da construção. Conta com uma anuidade de 45,00 Euros que permite aos inscritos receberem os três números anuais da Revista Construção Sustentável (em formato e-Revista e impresso), receberem ainda a 4ª Edição do Livro Construção Sustentável (em formato e-Book), acederem na área restrita da Mediateca online às gravações áudio das ações de comunicação Encontros Living Lab, Workshops e Seminários, usufruírem de 20% de desconto nos Cursos Construção Sustentável e Prosperidade Renovável bem como nas Sessões de “coaching” em Grupo. Terão ainda acesso exclusivo à versão PREMIUM da e-Tool of Thumb - ferramenta para profissionais, a facilitar a identificação das medidas mais indicadas para a reabilitação energético ambiental de edifícios em clima mediterrânico. 4.0 A quarta modalidade de adesão à Comunidade Construção Sustentável® online, o nível “Premium Plus” é também dirigida a profissionais na área da construção. Conta com uma anuidade de 95,00 Euros e os inscritos usufruem de todos os benefícios acima descritos no nível de adesão “Premium”, bem como acedem, na área restrita da Mediateca online, a todas as gravações de eventos de acesso gratuito, inclusive às gravações áudio das conferências Human Habitat, à participação gratuita numa sessão à sua escolha de “coaching” em Grupo, à emissão de certificados de participação em todos os eventos que tenha participado com referência aos créditos no âmbito da formação obrigatória em temáticas opcionais dos estágios de ingresso na Ordem dos Arquitetos. A cada Workshop correspondem 4 e aos restantes eventos corresponde 1 crédito.
SÍNTESE SISTEMÁTICA | 61
HUMAN HABITAT E OCEANÁRIO DE LISBOA JOÃO FALCATO, OCEANÁRIO DE LISBOA
Num mundo cada vez mais globalizado a relevância das cidades é cada vez maior. Poderá pensar-se que é um pouco estranho que num planeta a caminhar a passos largos para um espaço comum em que cada vez as fronteiras têm menos importância sejam os espaços mais pequenos, como são as cidades, que mais competem entre si. Mas essa é a realidade atual. Cada vez menos é Portugal que está a “competir” com Espanha, Itália ou a Alemanha, para ser Lisboa ou Porto a competir com Madrid, Copenhaga, Berlim ou Londres. No seculo 21 o peso das cidades na economia global é indelével. Na OCDE, organização que agrupa grande parte dos países mais desenvolvidos, mais de 53% da população vive em cidades sendo nesses espaços de grande aglomeração populacional que normalmente o futuro do nosso planeta é decidido. É por isso hoje claro que para que o objetivo de tornar o planeta sustentável à população humana que nele habita seja possível, as cidades são o local de trabalho a ser privilegiado, pois qualquer sucesso neste meio terá certamente impactos mais eficientes do que noutro local qualquer. A competição entre as cidades é também algo favorável à mudança, pois para que o desenvolvimento económico de uma região seja atingido é preciso ser atrativo à fixação tanto de empresas como da população. Se por um lado as componentes económicas e financeiras disponíveis são componentes importantes à fixação de empresas, para que as mesmas possam garantir que conseguem atrair os recursos humanos mais competentes, os três pilares da sustentabilidade – económico, social e ambiental – têm de ser atingidos. Existe assim também uma competição entre as cidades pela sustentabilidade como meio que as torna mais competitivas sendo a componente ambiental, se torna hoje cada vez mais importante numa altura em que a componente social deveria estar teoricamente em patamares que tornam uma
diferenciação difícil e em que a componente económica e financeira ainda é ditada principalmente a nível nacional e não regional. Esta realidade tem sido cada vez mais generalizada com cidades a definirem objetivos de sustentabilidade muito superiores ao nível da ambição do que os países. Exemplos são cidades como Copenhaga a definir objetivos de neutralidade ao nível do carbono até 2025 e muitas outras como Lisboa, a definir objetivos de aumento da sua biodiversidade em 20% até 2020. Fazem-no porque acreditam que é o único caminho para se conseguirem tornar competitivas a nível mundial e no médio e longo prazo. A perceção da importância e valor dos serviços dos ecossistemas torna crucial o desenvolvimento de estratégias urbanas que garantam a sua perenidade como plataforma base ao bem-estar humano e consequente atratividade dos espaços à fixação da população. O Oceanário de Lisboa tem como missão “Promover o conhecimento dos oceanos, sensibilizando os cidadãos em geral para o dever da conservação do património natural, através da alteração dos seus comportamentos”. Apesar de ser claro tratar-se de uma missão extremamente ambiciosa, a mesma é a razão da existência do Oceanário e para que possamos ambicionar contribuir para a sua concretização é essencial o trabalho ser realizado em diferentes plataformas e realidades. Hoje mais de 80% da poluição marinha tem origem em atividades desenvolvidas em terra. A sustentabilidade dos Oceanos nunca será atingida caso a sustentabilidade em terra não o seja. O contrário também é verdadeiro já que os Oceanos são o garante dos mais importantes serviços ecossistémicos do planeta como seja a produção de oxigénio (cerca de 70% do oxigénio do planeta é produzido no mar), a absorção de carbono atmosférico, a
regulação do clima, o fornecimento de proteína animal, entre muitos outros. Acreditando que a sustentabilidade em terra nunca será possível sem o envolvimento profundo das cidades, o Oceanário de Lisboa assume também como sua missão dar um pequeno contributo para que a mesma possa um dia vir a ser atingida. Fá-lo através da parceria com a iniciativa Construção Sustentável e as conferências Human Habitat que ao longo dos últimos 3 anos se realizaram e foram financiadas pelo Oceanário de Lisboa. A partilha de conhecimento, o acesso a novas ideias e paradigmas, o debate de diferentes ideias e perspetivas é algo essencial à criação de uma sociedade civil capacitada para tomar as suas opções em consciência e de acordo com os seus objetivos pessoais. É exatamente isso que as conferências Human Habitat têm feito ao longo dos últimos três anos, trazendo oradores e pensadores nacionais e internacionais de renome, para que partilhem os seus conceitos, ideias e experiências com os habitantes de Lisboa, proporcionando oportunidades de reflexão, de exposição à inovação e mesmo a choques culturais, permitindo que todos os que a elas assistem desenvolvam novas opiniões sobre realidades que muitas vezes não conheciam. O objetivo é claro, tentar capacitar a população para que desenvolva opiniões próprias informadas sobre a situação do planeta em todas as suas vertentes, ficando com uma visão global que lhe possibilite a aplicação local das ideias apreendidas. Nunca saberemos se os efeitos destas conferências fizeram mudar a realidade de algum canto da cidade de Lisboa ou de outra qualquer, mas acreditamos profundamente que é através deste tipo de ações que nos tornamos uma população mais culta, mais sensível aos desafios que enfrentamos no futuro e com maior vontade de contribuir para o bem comum em detrimento da visão individualista que muitas vezes nos envolve.
OCEANÁRIO LISBOA Inaugurado em 1998 no âmbito da última exposição mundial do séc. XX, cujo tema foi "Os oceanos, um património para o futuro", o Oceanário eternizou a ligação de Lisboa com o oceano. O Oceanário de Lisboa é um aquário público de referência em Lisboa, em Portugal e internacionalmente. O equipamento recebe anualmente cerca de 1 milhão de pessoas, que percorrem as suas exposições, tornando-o no equipamento cultural mais visitado de Portugal. Oceanário de Lisboa S.A. - Esplanada D. Carlos I · 1990-005 Lisboa T: +351 218 917 002, 03 ou 06 | F: +351 218 955 762 | Email: info@oceanario.pt | www.oceanario.pt
Miguel Cravo © TIRONE NUNES
ANTENA 2 OUT OF THE BOX JOÃO ALMEIDA, DIRETOR-ADJUNTO DA ANTENA 2
É institucional, elitista, algo antiquada, formal, só passa música clássica, para reformados cultos, conservadores, que exigem apenas sossego. Esta é a sequência habitual de conceitos, chamemos-lhe clichés, historicamente associados à Antena 2. Quando entrámos na rádio, em 2005, nós próprios, sob a influência de ideias feitas, esperávamos encontrar na Antena 2 uma espécie de retiro profissional de radialistas desiludidos com o mundo, avessos à dinâmica do nosso tempo. Nada mais falso! Descobrimos, por exemplo, que a maioria dos realizadores, na casa dos 20/30 anos, discutiam a atualidade, cultura, todos os géneros de música, política, ideias, com a mesma paixão e entusiasmo que qualquer outra rádio ou jornal, incluindo os media juvenis. A Antena 2, em suma, estava em condições de virar uma página, repensada desta feita “out of the box”, fora da caixa, das ideias enquistadas, mergulhando na vida e nas ideias dos segmentos mais dinâmicos da vida cultural portuguesa. Assim multiplicaram-se, em pouco tempo, os concertos com jovens músicos nos locais mais inesperados (num museu, numa prisão, na rua), não apenas em torno da música clássica mas também do jazz, da música étnica, eletrónica ou para cinema. As emissões ao vivo em festivais dentro e fora do país tornaram-se regra, e os programas de atualidade, refletindo o fervilhar da cultura em Portugal, ganharam destaque diário. Nos últimos tempos, o espírito da renovação tem atravessado, de resto, a generalidade dos media portugueses à imagem do que sucede em catadupa por todo o mundo desenvolvido. Uma das características mais intrínsecas dessa mudança é o papel ativo dos ouvintes/leitores/espetadores em contraponto com a postura passiva do
modelo tradicional. A internet e em especial as redes sociais abriram a porta da interatividade, uma espécie de mecanismo de governância que obriga os media a dedicarem boa parte do seu labor à relação com o público acolhendo muitas vezes as suas críticas e sugestões. Não há mais lugar para uma atitude passiva típica dos meios de difusão tradicionais. Não só têm que fazer circular novas ideias e projetos como têm de criar o ambiente adequado à sua proliferação. Os órgãos de comunicação social precisam de se converter em motores de iniciativa, albergando as melhores discussões, tornando-se nas melhores plataformas para a circulação de ideias. A capacidade de reação e a velocidade da difusão tornou-se também um desafio, pois os destinatários da informação têm acesso em tempo real a inúmeras fontes, formais e informais, e não se contentam com ideias requentadas, extraídas em segunda ou terceira mão da web quando deviam corresponder a uma oferta original da parte dos media. O copy/paste, hoje ao alcance de todos, torna o trabalho do comunicador bastante mais exigente: ele tem de acrescentar algo, tem de descobrir e divulgar novos conceitos. Ou então deverá ser o mediador preferencial para os criadores e opinion makers, uma espécie de portal de conteúdos, não avulso mas organizados de forma temática e com a opção de pesquisa em profundidade. Os media, além disso, têm de recorrer à difusão em múltiplas plataformas. Já ninguém pode pensar exclusivamente em escrever. É preciso mostrar: com som, com grafismo, com imagens. A mensagem, porque corre nomeadamente via telefone, tem que ser maleável, desde um registo bem mais curto que o habitual, um soundbite, até à disponibilização de um link
para quem quiser mergulhar mais fundo. A rede de canais online, Youtube, Flickr, Instagram, etc. torna cada meio de comunicação numa espécie de constelação: cada media passa a ser um somatório de canais, que remetem uns para as outros, bebendo sempre algo da relação com os consumidores durante esse trajeto. A Antena 2 começou também a abrir portas a essa nova interatividade, estabelecendo relações não só a partir da sua emissão rádio, mas também via Facebook, Youtube, e na blogoesfera. Cada conteúdo ou evento encontra assim formas alternativas de chegar aos destinatários. Acontece, por exemplo, na nossa cobertura online de eventos literários como a Escritaria em Penafiel (autêntica amostra do modo de viver a cultura na rua). Outro exemplo é a parceria que estabelecemos com grandes instituições como a Gulbenkian e o CCB, amplificando o seu papel central no mundo da cultura através de edições conjuntas em papel. Por outro lado divulgamos num blogue os mais recentes trabalhos dos artistas plásticos portugueses. Finalmente, em antena, acolhemos, por exemplo, muitas das reflexões que nos ajudam a resolver alguns dos desafios mais complexos e atuais da nossa sociedade (Conferências Human Habitat). Para nós a regra é simples: todos os que demonstram um valor inédito com as suas ideias e realizações, os que pensam fora da caixa, em prol do bem comum, são acolhidos nesta nossa nuvem mediática interativa. É uma aprendizagem mútua entre comunicadores, mediadores e ouvintes. Deste modo, a rádio pública continua a dar corpo de forma multifacetada à sua indispensável missão de serviço público.
ANTENA 2 Antena 2 é uma estação de rádio da rede Rádio e Televisão de Portugal. A sua programação é baseada em música clássica e programas culturais. A Antena 2 é uma das estações de rádio que faz parte da cadeia da emissora oficial do Estado Português chamada RDP (Radiodifusão Portuguesa); as outras são a Antena 1, a Antena 3, a RDP Internacional e a RDP África. Av. Marechal Gomes da Costa, nº 37, 1849-030 Lisboa T: 00 351 213 820 000 | F: 00 351 213 820 199 | E-mail: rdp.antena2@rtp.pt | www.rtp.pt/antena2
A LEI DOS SOLOS E A ADAPTAÇÃO DO TERRITÓRIO AO PAÍS REAL LUÍS FILIPE CARVALHO E MARISA MIRADOR ABBC – SOCIEDADE DE ADVOGADOS
A Lei dos Solos em vigor (Decreto-Lei n.º 794/76, de 5.11) está totalmente desatualizada e desajustada face à realidade nacional, o que se tornou especialmente patente em 1998/99 com a aprovação de diversa legislação estruturante em matéria de ordenamento do território e de urbanismo. A “revisão e actualização da legislação dos solos, em coerência com os restantes regimes legais e fiscais” é, por isso, apontada como medida prioritária pelo Programa Nacional de Política de Ordenamento do Território (PNPOT), o que também está previsto nas Grandes Opções do Plano para 2012-2015. A adaptação dos perímetros urbanos à realidade nacional é, sem dúvida, um dos desafios com que a nova Lei dos Solos se tem de confrontar e a que tem de dar resposta. A atual Lei dos Solos, com mais de 30 anos, surge no contexto económico-social do pós 25 de Abril de 1974 e da Constituição de 1976. Tinha por objetivo assegurar a criação e a expansão dos “aglomerados urbanos” para dar resposta aos fenómenos demográficos e aos problemas de carência de habitação, então verificados. A principal preocupação era dotar a Administração de meios de apropriação e disponibilização dos solos, os quais se vieram a revelar, na sua maioria, pouco utilizados ou inoperantes. A realidade territorial do país reclama hoje uma política de solos diferente. Os problemas de ordenamento e de ocupação urbana do território estão diagnosticados: do alargamento sobredimensionado e irrealista dos perímetros urbanos ao abandono e
degradação dos centros históricos, com a deslocação da população para periferias degradadas e subequipadas; da urbanização desregrada e com tendências dispersiva ao aumento do número de fogos devolutos e degradados dentro dos perímetros urbanos dos grandes centros; da irracional ocupação dos solos baseada em iniciativas privadas isoladas e desarticuladas às deficiências de infraestruturação urbana; da ausência ou insuficiência de programação municipal ao funcionamento deficiente dos mecanismos de combate à especulação imobiliária. O desafio assenta em encontrar soluções para conter os perímetros urbanos, preencher os espaços vazios dentro dos perímetros urbanos existentes e reabilitar e revitalizar os centros das cidades, sobretudo os centros históricos, em ordem a inverter as tendências de expansão dos perímetros urbanos e de dispersão da ocupação, bem como a desincentivar os fenómenos especulativos associados. Apesar das soluções não serem simples, é possível identificar algumas linhas condutoras que deverão nortear uma nova Lei dos Solos: (i) definição de critérios rigorosos, objetivos e uniformes para a classificação do solo em urbano e em rural, com a inerente delimitação do perímetro urbano; (ii) eliminação de distorções ao valor do solo, obtido, muitas vezes, pela simples inclusão do solo no perímetro urbano, o qual deve estar, isso sim, relacionado com a programação de urbanização e infraestruturação; (iii) definição de direitos e deveres, do Estado e dos proprietários, em função do diferente estatuto do solo,
consagrando-se, nomeadamente, o dever do proprietário de urbanizar e/ou edificar; (iv) sujeição das operações urbanísticas a visões de conjunto; (v) realização de operações urbanísticas por privados ou por parcerias de privados com a Administração; (vi) incentivos efetivos à reabilitação urbana e desincentivos ao imobilismo especulativo. Perante a atual grave crise económico-financeira e face às sérias dificuldades do setor imobiliário, uma nova Lei dos Solos poderá ser um impulso para a dinamização do mercado imobiliário e da economia nacional, assim como um passo importante para a sustentabilidade da ocupação e do uso do território.
ABBC ADVOGADOS A atuação da ABBC assenta na independência, profissionalismo e competência técnica dos seus advogados e colaboradores, com o escrupuloso respeito das regras éticas e deontológicas. Os advogados da sociedade têm elevada experiência na advocacia nacional e internacional a que se junta o grande dinamismo dos advogados mais novos. ABBC Sociedade de Advogados RL Largo S. Carlos, Nº 3 1200-410 Lisboa - Portugal T: +351 21 358 36 20 | F: +351 21 315 94 34 | E-mail: j.rosario@abbc.pt | www.abbc.pt
TARIFA SOCIAL PARA FAMÍLIAS DE MENORES RENDIMENTOS PODE REDUZIR A METADE A FATURA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA A ERSAR tem vindo a recomendar a todas as entidades gestoras de serviços de águas e resíduos a prática de tarifas simultaneamente compatíveis com a sustentabilidade dos serviços e com a capacidade económica das populações. Um dos instrumentos recomendados é a aplicação da tarifa social aos utilizadores domésticos cujo agregado familiar possua um rendimento bruto englobável para efeitos de IRS que não ultrapasse determinado valor, a fixar pela entidade titular do serviço. Recomenda a ERSAR que a tarifa social se traduza na isenção dos encargos com a tarifa fixa e um desconto significativo através da aplicação da tarifa do escalão mais baixo até aos 15 m3 por mês. No caso do serviço de abastecimento de água, para um consumo de 10 m3 por mês, a percentagem desconto sobre a fatura total atinge, em média, de acordo com os cálculos efetuados, aproximadamente metade do valor total da fatura. FONTE: ERSAR
PROGRAMA PORTUGUÊS DE REPOVOAMENTO RURAL JÁ TEM 1.279 FAMÍLIAS INSCRITAS O programa “Novos Povoadores”, que promove o repovoamento rural em Portugal, conta já com 1.279 famílias inscritas, num total de 3.500 pessoas. Destas, apenas 197 têm experiência de vida no campo, segundo explicam os responsáveis pelo programa na sua página de Facebook. “Migrar para o meio rural não é estar presente ao passado, é ter saudades do futuro”, explicam os responsáveis pelo Novos Povoadores. O “Novos Povoadores” é um projeto de Frederico Lucas, Alexandre Ferraz e Ana Linhares, que querem ajudar os portugueses a deixar as grandes cidades, como Lisboa, e repovoar os territórios rurais. Segundo estes responsáveis, o êxodo rural é hoje maioritariamente composto por jovens, que o fazem para aceder a cursos superiores e para as primeiras experiências profissionais. No entanto, quando chegam a uma faixa etária superior – 35-45 anos e mais de 10 anos de experiência profissional – muitos profissionais querem avançar para um projeto migratório. O “Novos Povoadores” defende soluções de co-working e não de teletrabalho – uma vez que esta última exige uma grande disciplina individual para resistir ao conforto do sofá e outras mordomias domésticas. “Há óbvias vantagens em ganhos de produtividade e no desenvolvimento de novos produtos e serviços. A partilha de um espaço de trabalho com pessoas cuja atividade pode não ter nada a ver com a nossa, é o viveiro ideal para que surjam sinergias inesperadas que traduzam soluções comerciais inovadoras, diferenciadas, e mais competitivas”, explicam. FONTE: GREENSAVERS
CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL | 66
GOVERNO APROVA PROGRAMA DE 256 MILHÕES PARA COMBATER DESPOVOAMENTO NO INTERIOR O Governo aprovou em Dezembro de 2012 o "Programa Valorizar", que tem como objetivo combater o despovoamento do interior do país, através de incentivos ao investimento e à atividade produtiva, no valor de 256 milhões de euros. Em conferência de imprensa, no final do Conselho de Ministros, o secretário de Estado Adjunto da Economia e Desenvolvimento Regional, Almeida Henriques, disse que este programa resulta da reprogramação dos fundos europeus e de uma linha do Banco Europeu de Investimento (BEI). Do seu valor total de 256 milhões de euros, 40 milhões de euros são recursos do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e 200 milhões de euros do BEI, havendo ainda 15 milhões de euros de entidades privadas, referiu Almeida Henriques. Dessas verbas, 38,5 milhões de euros serão aplicados num "sistema de incentivos de apoio local a microempresas" e 200 milhões de euros numa "linha de financiamento para apoio à realização de projetos de base produtiva", que envolve verbas do BEI e um protocolo com a banca. O "Programa Valorizar" prevê ainda um princípio de "mérito regional na seleção dos projetos candidatos aos sistemas de incentivos do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN)", com "discriminação positiva" dos projetos localizados em territórios de baixa densidade populacional. A criação de "redes nacionais de parcerias territoriais de apoio ao desenvolvimento económico e social de base local" e de um "prémio para o desenvolvimento regional" são outras medidas do "Programa Valorizar". FONTE: AGENCIA LUSA
PRÓXIMO NÚMERO... No próximo número da Revista Construção Sustentável o tema de enfoque vai ser o ciclo de vida da água em contexto urbano - com contributos de diversos especialistas nesta área que colaboraram com a Construção Sustentável®. Enquanto carregamos no botão de descarga da sanita e a água libertada for potável, sabemos que há ainda muito por melhorar no ciclo de vida da água! Se ousarmos imaginar o que as gerações vindouras poderão pensar de nós, logo que entrarem em vigor os cenários de escassez projetados em relação ao recurso água potável, ficamos de imediato conscientes do modo pouco sustentável como gerimos atualmente este recurso. Não cabe apenas às instituições governamentais e à Comissão Europeia, introduzir a mudança de paradigmas necessária, no que respeita o ciclo de vida da água em contexto urbano - cabe também a todos nós darmos um contributo para que este precioso recurso possa manter-se disponível para todos. Será que uma visão para o ciclo de vida da água em contexto urbano, para estar adequada ao que hoje conhecemos, não deve contar com a participação ativa do utilizador final? Será que o sistema de água deverá continuar a recorrer à água gerada à escala local? Será que poderemos recorrer, sempre que possível, a fontes locais de água renovável (reciclada ou da chuva)?
AGRADECEMOS A TODOS OS ORADORES QUE COLABORARAM CONNOSCO AO LONGO DO 2º SEMESTRE DE 2012 Alexandre Fernandes Álvaro Oliveira - ENoLL António Frazão - SIMTEJO Bruno Silva Carlos Rodrigues - CM Águeda Christian Bason Cristina Ferreira - LIPOR David Madeira - LG Dinis Rodrigues - ADENE Eugénio Sequeira Fabio Invernizzi - HUNTSMAN VYDRO Hugo Delgado - LG
João Peças Lopes Jorge Barros - CS Coelho da Silva José Luís Malaquias - ISA Luís Seca - INESC Manuel Casquiço - ADENE Menno van Dijk Nuno Valverde - EDP/LABELEC Paola Capello - Alcotra Innovazione Tiago Teixeira - VULCANO Vítor Simões
AGRADECEMOS AOS FIGURANTES NAS FOTOGRAFIAS Benjamin Tirone Nunes Inês Worm Tirone Kaleigh Tirone Nunes
Luis Sousa Raquel Nascimento Ferreira Tiago Worm Tirone
Agradecemos a todos os participantes em ações de comunicação promovidas pela Construção Sustentável® que foram registados em fotografias utilizadas para ilustrar esta Revista.
AGRADECEMOS A TODOS OS PARCEIROS DA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL®
Quando uma exposição apresenta um tema ou produto, pretende fazer-nos percorrer o “fio da meada”, deixar-nos esclarecidos e com uma visão de conjunto. Não se tratando, neste caso, de ensinar a “fazer” o produto (ou ter-se-ia que instalar, no próprio recinto, as imponentes máquinas de produção), mas de ajudar a observar as suas inesperadas transformações progressivas, bastarão as mesas de apoio e os objetos em Esferovite – mesmo por trás de vitrinas - para permitir que se siga o percurso de um produto relativamente recente, útil e espantosamente versátil.
No globo, o maior volume de Esferovite (utilizado logo sob forma de bloco em grande formato) está sendo utilizado para Construir milhares de quilómetros de Estradas, através de continentes inteiros de pergelissolo, com solos congelados , vias que ocorre primeiro apoiar em estruturas isoladas (autoportantes ou não) para, sob a camada final intacta de alcatrão, se manterem termicamente traficáveis por todas as estações do ano. Blocos em Esferovite são igualmente usados para preencher grandes aterros e colocados para substituir os taludes de pontes. Nestas, Esferovite preenche os pilares e vãos ou aligeira as massas cimentícias. Logo a seguir, em quantidade, vem o volume de placas em Esferovite nas múltiplas espessuras e densidades que a Construção Civil utiliza no isolamento térmico de coberturas, envolventes verticais e pavimentos, conforme iniciou em países com invernias agudas e abrange, entretanto, todos os que pretendam obter conforto, diminuir a própria despesa energética ou travar o desperdício de energias fósseis. Certos países com recorrência de inundações, sob as fundações das suas edificações públicas e privadas instalam mesmo pavimentos flutuantes em Esferovite.
Os sectores que se servem do Esferovite são, porém, muitos mais. Devido à resiliência do produto contra o choque ou a sua capacidade de manter a temperatura, além da leveza e do seu reduzido preço, há muito que a Embalagem quer Industrial, quer Alimentar, recorre a este produto tanto cortado, como saído de uma forma logo como caixas dos mais diversos volumes e conformações (para suportar ou transportar garrafas ou tubos de ensaio, para transportar produtos congelados ou peixe robusto mas também máquinas fotográficas altamente sensíveis…
No reino da Decoração, tal como no dos Cenários, há décadas largas que não se prescinde deste produto tão estimulador da criatividade como versátil, quer transformado em letras, números ou logótipos, peças esculpidas ou cenários inteiros, quer em carpintarias se preencham portas com placas ou, em casa, confortáveis “poufs” com granulado, recorrendo evidentemente ao Esferovite M1, porque garante ser auto-extinguível.
Incontável também se tornou o número de Abobadilhas em Esferovite, usado no preenchimento de pisos entre vigas de betão pré-esforçado (para diminuir as sobrecargas permanentes sobre a estrutura entre 100 e 130 kg/ m2 nas lajes) e porque nelas se pode introduzir cabos ou tubagens. As Abobadilhas cortadas do bloco, sem partes ocas, garantem um superior isolamento, maior fiabilidade e resistência do que abobadilhas moldadas com espaços ocos. Dimensões correntes: 1.000 x 500 mm; espessuras de 90 mm a 250 mm, a cada espessura e densidade (dos 13 aos 25 kg/m3) correspondendo uma resistência térmica crescente (“R” entre 2,50 e superior a 6,50 m2K/W). O perfil da Abobadilha tanto as pode deixar rasas, como suspensas e ser adaptado para corresponder a qualquer tipo de laje. Para melhor fixar o estuque, na sua face inferior as Abobadilhas cortadas podem possuir quatro ranhuras em “cauda de andorinha” ou, para o estuque poder ser projetado, levar acabamento tosco.
Na Acústica, o Esferovite produz uma atenuação ou absorção calculável de sons, conseguida através de relevos ou perfuração nas placas em Esferovite (por colar aos tectos ou suspender), além da atenuação que o isolamento na vertical ou na horizontal, entre pisos, proporciona. No interior do edifício reduz os sons de percussão ou de máquinas, enquanto o isolamento térmico pelo exterior abranda os ruídos da rua. No campo do Aligeiramento do betão através de Esferovite reciclado (resíduos triturados de material usado ou inutilizado) contribui para fazer enchimentos à medida com pesos reduzido. Serve inclusivamente em viveiros para friabilizar terrenos.
Para serenar quem o não saiba ainda: O Esferovite M1 é um material de isolamento inócuo; Não contém CFCs nem HCFCs; A sua atuação reduz as emissões em CO2 e SO2; Não traz riscos nem para a saúde nem para o ambiente; Não causa chuvas ácidas - nem afecta a camada de ozono; É repetida e integralmente reciclável.