▼ Carga e descarga de materiais de construção e outras mercadorias (postal da década de 1960); Procissão de S. Pedro de 1973; Parque de merendas e parque infantil (2016).
RIBEIRA DA ALDEIA Desagua aqui a regueira da Tranqueira, escoante das águas que se juntam durante o inverno no Canedo de Além. No início do séc. XX construíram-se na ribeira da Aldeia varinos e fragatas, destinados ao rio Tejo. E em 1956 fundou um estaleiro naval Manuel Dias Bastos, a quem deu continuidade até há poucos anos José Duarte da Silva (Pitarma), com Diniz Tavares de Matos, construindo e reparando barcos de recreio em madeira. Está hoje abandonado e ameaçando ruína o velho barracão em madeira, um dos últimos testemunhos dos vários antigos estaleiros navais de Pardilhó, localidade que acolheu no Estado Novo a sede do Sindicato Nacional dos Carpinteiros Navais do Distrito de Aveiro, abrangendo a Figueira da Foz. Foi aqui a principal porta de entrada e saída de pessoas e bens de Pardilhó, ligando a freguesia a toda a região lagunar. A partir de 1973 e durante alguns anos a procissão do S. Pedro de Pardilhó seguiu até à Aldeia e ali também se festejava o S. Paio dos Ógados em Setembro. Na década de 1990 abriu um café numa construção em madeira, posteriormente melhorada e ampliada, assim como as instalações desportivas da secção de canoagem da Associação Saavedra Guedes. Mais recentemente foram realizados outros melhoramentos: um parque de merendas, parque infantil e parque de caravanas.
A REGIÃO MARINHOA No contexto da Ria de Aveiro a Terra Marinhoa foi a primeira a formar-se, por aluvião. Com a deposição de areias pelo mar, formando progressivamente o cordão litoral, a Ria deixou de comunicar com o mar no séc. XVII. Nos documentos históricos os contornos da região só se começam a compreender-se com rigor nos pitorescos mapas do fim do séc. XVIII, relacionados com a abertura da barra artificial, que só viria a ocorrer em 1808. Ria de Aveiro é pois uma expressão imprópria aplicada a uma laguna, um braço de mar que sofre o efeito das marés e possui água salobra, com pequenos tentáculos ou canais navegáveis que serpenteiam pelas terras circundantes, as ribeiras. Entre os peixes de maior valor gastronómico encontram-se aqui a enguia (antigamente pescada ao candeio com uma fisga, de noite), o sável e a lampreia. Ocasionalmente entram golfinhos na laguna. E estacionam por estas paragens mais de 150 espécies de aves, do que são exemplo a cegonha, garças, águia-sapeira, guarda-rios e flamingos. Toda a economia tradicional depende da Ria de Aveiro, que funcionava antigamente como primeira via de comunicação ou auto-estrada natural. A pesca e a apanha do moliço (para fertilização do solo, que produz sobretudo milho) foram as principais actividades de outros tempos, tendo possuído grande tradição a construção naval, particularmente em Pardilhó. Embarcações típicas da região são os moliceiros (o ex-libris regional), mercantéis, bateiras e barcos de mar. Por aqui se construíram também varinos e fragatas destinados ao rio Tejo, bem como lugres para a pesca do bacalhau. Amorim Girão definiu esta gente anfíbia, por analogia ao que escreveu Platão sobre o Mediterrâneo, como um agrupamento humano «assim como rãs em volta de um pântano». Assim é. Em tudo dependem da Ria, que lhes deu o viver e, quando o não deu, os forçou a abandonar a sua característica casa de alpendre e migrar.
Autor: Marco Pereira Edição: Junta de Freguesia de Pardilhó Grupo de Música Tradicional Portuguesa Ventos da Ria Data: Junho de 2016
▲ Ribeira da Tabuada (2016). RIBEIRA DA TABUADA
▲ Ribeira das Teixugueiras na década de 1990. RIBEIRA DAS TEIXUGUEIRAS O lugar das Teixugueiras foi um dos primeiramente habitados de Pardilhó, ali se referindo no século XVI o cultivo de milho e trigo. Era então um dos principais lugares da freguesia, confirmando a regra dos primeiros habitantes se estabelecerem junto da laguna.
Uma das várias ribeiras de onde partiam os agricultores para a Marinha de Ovar e as vendedeiras para o mercado diário de Ovar, práticas que no fim do século XIX constituíram pretexto para esse concelho tentar anexar a freguesia de Pardilhó. A Marinha de Ovar, Tijosa e Torrão do Lameiro começaram a ser ocupados na segunda metade do século XIX por agricultores de Pardilhó, que ali viviam e trabalhavam à semana, mas vinham ao fim-de-semana à freguesia de origem abastecer-se de víveres e cumprir os preceitos religiosos. O mesmo sucedeu com as Quintas, a Norte da Torreira, povoadas por agricultores de Pardilhó e Bunheiro.
▲ Moliceiro em Pardilhó (postal de 1913). RIBEIRA DO TELHADOURO A primeira referência escrita a Pardilhó consta de um caderno de pergaminho, com datação aproximada de 1346-1357, hoje à guarda do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Consiste numa lista de casais e herdades do Mosteiro de Arouca, na terra de Antuã e Avanca. Aí se mencionam, entre as propriedades de Avanca, o casal do Talhadoyo e marinha do Talhadeiro, que devem referir-se ao Telhadouro de Pardilhó. Vestígios das velhas marinhas de sal que por ali terão existido no século X. Freguesia de Pardilhó
▲ Ribeira do Nacinho (2016). RIBEIRA DO NACINHO
▲ Ribeira das Bulhas na década de 1990. RIBEIRA DAS BULHAS Possuindo uma fonte junta, era considerada em 1917 a segunda ribeira mais movimentada de Pardilhó. Ficam-lhe próximos os dois últimos estaleiros navais activos de Pardilhó, o do mestre António Esteves e, mais além, o do mestre Felisberto Amador.
Durante a Primeira República construíram-se aqui vários lugres, destinados à pesca do bacalhau. O mais célebre foi o José Estevam, cujo bota-a-baixo ocorreu em 1921 e pescou por conta de uma sociedade de pardilhoenses, a Empresa Industrial de Pardilhó. A sociedade possuía uma seca de bacalhau perto da ribeira da Aldeia (o nome de uma rua guarda essa memória), mas poucos anos durou e terminou com prejuízo, devido a um acidente sofrido pelo lugre perto da Terra Nova. Com as obras recentes deixou de se ver o sítio da Praia do Bispo, que se diz dever o nome a D. Manuel Maria Ferreira da Silva (1888-1974), o único bispo natural de Pardilhó.
População: 4163 hab. (Censos/2011) Área: 15,7 Km² Densidade: 260 hab./Km² Vila: Lei n.º 16/2005, de 28 de Janeiro (Diário da República, I Série-A, 28/1/2005, p. 677) Como vir: A1 (Estarreja); A29 (Estarreja norte); EN109; Comboio (estação de Avanca ou Estarreja). Quando vir: S. Pedro de Pardilhó (29 Junho); tasquinhas (verão); Festival de Folclore do Grupo Etnográfico Danças d’Aldeia (Maio). O que ver: Igreja de S. Pedro de Pardilhó; fonte da Samaritana; ribeiras; estaleiros de construção naval; barcos; cangas. O que comprar: tapetes de trapos; regueifa doce. O que comer: rojões; caldeirada de enguias; padas de Pardilhó; arroz doce (no S. Pedro); regueifa doce.