Nº 8
Maio de 2015
Não há razões para festejar
A 1 de Maio de 1886, em Chicago, nos Estados Unidos da América, com o objetivo de reivindicar a redução da jornada de trabalho para 8 horas de trabalho diário realizou-se, uma greve que contou com a participação de 350 mil trabalhadores. Na sequência de um confronto entre a polícia e os grevistas foi convocada uma manifestação para o dia 4, tendo no decorrer desta morrido um polícia, resultado de uma explosão, e sido assassinados 80 operários. Foram presos alguns dos líderes, dos quais depois de encerrado o processo, em Outubro de 1887: 4 foram enforcados, 5 condenados à morte, 3 condenados a prisão perpétua e 1 foi morto, em circunstâncias estranhas, na prisão.
Hoje, passados quase 130 anos, uma vez mais em tendo o mundo a data é recordada das mais diversas maneiras pelas diversas correntes ideológicas.
Para o patronato e governos não há qualquer razão para a existência da data pois hoje já não há trabalhadores mas sim colaboradores, para outros, sobretudo dirigentes de sindicatos que são correias de transmissão de partidos políticos ligados ao capital a data é de festas e cantorias, de preferência com cantores “pimba”.
Nos Açores, uma parte significativa da sua população está a passar por dificuldades resultantes do aumento da exploração da mão-de-obra, no desemprego, no roubo de salários e reformas, pelo que os trabalhadores só poderão confiar na sua auto-organização, criando comissões de trabalhadores, cooperativas, grupos de discussão e de ação. José Libertário
Vida Nova nº 8 Maio de 2015
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Discurso de Francisco Soares Silva no 1º de Maio de 1908
O homem que dorme debaixo deste túmulo o sono perene, cursou a Universidade de Coimbra pela qual era bacharel formado em Direito, e, ao fim de quatro anos foi para Paris envergar a blouse de operário, trabalhando como um modesto artífice tipógrafo. Por isso Antero conhecia como nenhum outro escritor português a vida desgraçada do operariado.
Camaradas: “Os túmulos, por enquanto, dos homens célebres são as relíquias da humanidade. O que vimos aqui fazer é simplesmente levantar uma tribuna e fazer reviver as doutrinas do Mestre. Não queremos com estas sinceras homenagens, classificar Antero como um santo, para que o canonizem mais tarde; isso não, porque ele não foi um Inácio de Loyola, nem um Torquemada … mas foi um mártir e um dos mais sinceros apóstolos da causa reivindicadora dos que trabalham. Para se poder avaliar a obra social de Antero é preciso que eu com duas palavras diga o que ele foi , mas … tenho pena de não ver aqui quem de muita boa vontade desejava ver; então numa ordem de princípios e factos demonstraria a certos cavalheiros que desde há muito não ando dormindo! Vida Nova nº 8 Maio de 2015
Qual seria a ideia de Antero de Quental, fazendo-se operário em Paris, depois da sua formatura em Direito? Que necessidades levaram este ilustre filósofo a fazer-se operário? Ah! Camaradas, este ponto é de grande responsabilidade e neste caso calarme-ei. E sabeis porque é grande responsabilidade? Porque eu tinha de ser imparcial ao demonstrar o carácter de Antero, comparando-o com muitos que no início da sua vida politica, veem enrolados na sua capa académica, com o pseudónimo de democratas, defendendo com muita retórica os direitos do povo, e depois de conseguirem o que desejam, vendem as suas ideias e convicções (se algum dia possuíram!) para se tornarem inimigos acérrimos das classes que defendiam com tanta verbosidade. ….. Antero viveu com o povo e morreu com o povo. Por isso os homens que defendem com tanto amor e lealdade as vítimas do trabalho, só têm jus às nossas sinceras homenagens e a que lhes desfolhemos flores sobre as suas campas”.
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A esquerda e a defesa do ambiente
Tal como os movimentos de defesa do
União
Soviética
que
ocorreram
dois
ambiente são uma nebulosa, onde por vezes
desastres naturais de grandes dimensões: o
o que os divide supera o que têm em
acidente nuclear de Chernóbil, em 1986, e o
comum, também entre os denominados
desaparecimento do mar Aral. A fé cega no
comunistas e entre os anarquistas há tantas
produtivismo é, também, responsável pela
correntes que por vezes lutam entre si com
devastação ambiental que ocorre, hoje, na
mais ardor do que o combate que fazem (ou
China.
dizem fazer) ao gato com sete vidas que é o capitalismo.
Toda a esquerda, mais ou menos moderada, incluindo a maior parte dos partidos que se reivindicam do comunismo esteve sempre mais preocupada com a tomada de posições no aparelho de estado e nos sindicatos do que
com
a
resolução
das
questões
ambientais. Não temos dados para o nosso país e para os Açores, mas seria interessante conhecer quantas pessoas, que militam em partidos de esquerda, são “funcionários” do estado, direta ou indiretamente: deputados, No que aos comunistas diz respeito, o
presidentes
de
Câmara
grupo maioritário terá sido o que chegou ao
funcionários dos sindicatos, funcionários
poder nos erroneamente chamados países
dos
socialistas, mais propriamente países de
parlamentar, ONGS, etc.
partidos
com
e
vereadores,
representação
capitalismo de Estado. Nestes países se é verdade que foram conseguidos sucessos
Ignorando os socialistas que já puseram o
em várias áreas da vida quotidiana das
socialismo na gaveta no século passado, e
pessoas, nomeadamente no campo da
procurando na panóplia de formações que
educação, também não é menos verdade
se reivindicam do mesmo (incluem-se os
que prevaleceram os interesses estatais que
comunistas) é entre algumas pessoas e
beneficiaram os ocupantes do aparelho
organizações
estatal.
pensamento de Trostqui que encontramos
que
se
reivindicam
do
muita reflexão e ação relativa à proteção No que ao ambiente diz respeito pouca
ambiental.
preocupação existiu, de tal modo que foi na Vida Nova nº 8 Maio de 2015
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De entre os pensadores pertencentes à
“E para que haja equilíbrio com a
“corrente” referida anteriormente, citaria os
natureza,
adeptos do ecossocialismo que ao acreditar
equidade entre os seres humanos."
primeiro
deve
haver
que a pobreza, a exclusão social, a guerra e os problemas ambientais são causados pelo
Por último, entre os libertários a situação
sistema
seu
não muito diferente do que se passa nas
desmantelamento a par do desmantelamento
outras correntes que se reclamam do
do
mentores,
socialismo. Se as causas ambientais eram
destacaria os nomes de Daniel Tanuro,
ignoradas por diversas das suas correntes de
engenheiro agrónomo e ambientalista belga,
opinião, hoje aparecem cada vez mais nos
que, entre outros, tem escritos interessantes
seus escritos e movimentos embora quase
sobre as alterações climáticas, Michael
não tenham reflexo na sociedade pois
Löwy,
brasileiro
aquelas são minoritárias ou quase não têm
radicado em França, autor de várias obras e
expressão e muitos países, entre os quais o
animador
nosso.
capitalista
Estado.
Entre
pensador
defendem
os
seus
marxista
internacional
do
o
movimento
ecossocialista e de Ian Angus, ativista canadiano que é editor da revista “Climate
Para eles, “a ecologia dos capitalistas é uma
and Capitalism”.
farsa. Tentar preservar o meio ambiente sem mexer nas estruturas autoritárias da
Este último num texto publicado na revista
sociedade que geram a destruição não passa
eletrónica comuneiro sintetizou, citando
de uma grande mentira para anular a força
passagens do “Acordo dos Povos” adotado
do movimento ecológico” (Roberto Freire,
em Cochabamba, em Abril de 2010,
1997)
sintetizou as causas de uma revolução ecossocialista:
O expoente máximo desta corrente foi o norte-americano Murray Bookchin que
"A humanidade enfrenta um grande
aprofundou o conceito de ecologia social
dilema: continuar no caminho do
como ponto de partida para a análise dos
capitalismo, da depredação e da
problemas ambientais que têm raízes
morte, ou escolher o caminho da
sociais e para a apresentação de propostas
harmonia com a natureza e o respeito
para a superação daqueles problemas,
pela vida."
através da criação um “municipalismo
"É imperativo que forjemos um novo
libertário”-
sistema que restaure a harmonia com
descentralizado.
espaço
autogerido
e
a natureza e entre os seres humanos." J.S
Vida Nova nº 8 Maio de 2015
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