A felicidade dos prazeres

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CADERNO DE EXERCĂ­CIOS: Epicuro e a felicidade dos prazeres moderados


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filosofia


A Felicidade dos PRAZERES

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s filósofos mais ilustres encontraram

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Para Epicuro, a felicidade advém do supremo bem, que e o prazer, que o filósofo conceitua como sendo a ausência de dor no corpo e de perturbações na alma /

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ponto de partida de suas investigações no conhecimento profundo dos problemas de

suas respectivas épocas. É o caso do grego Epicuro. As necessidades de seu tempo exigiram que ele definisse o que é a felicidade, e enunciasse como conserváia. Em resposta, ele concebeu uma ética hedonista - que justifica o prazer como bem supremo - cuja base conceitual encontra amparo na Física Atomista. Epicuro nasceu na colônia ateniense da Ilha de Samos (hoje região litorânea da Turquia), em 341 a.C., e em 271 a.C. faleceu em Atenas. Vivenciou os primórdios da Helenização: a difusão da cultura grega por ordem de Alexandre Magno, depois que o poderio macedônico submetera por completo a Hélade'. Tais circunstâncias históricas

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evidenciam o fim da Grécia Clássica, centrada na polis, e o desaparecimento da grande filosofia clássica, isto é, dos

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sistemas platônico e aristotélico.

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VICTOR COSTA É BACHAREL EM FILOSOFIA PELA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

É

(PUC-CAMPINAS).

PRODUTOR AUDIOVISUAL DO CAFÉ FILOSÓFICO CPFL

CULTURA.

www.cpflcultura.com.br 1 Héladedesigna o território das polis gregas e de suas colônias. O processo de propagação da cultura grega, primeiro via colônias fixadas no Mediterrâneo, depois com o projeto expansivo de Alexandre Magno, é o que se conhece como He1enização.

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filosofia .

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A Filosofia de Epicuro não é de um hedonismo desenfreado, mas da moderação dos prazeres naturais e da recusa dos não naturais

Na organização política surge, pela primeira vez, a tendência ao universa1ismo. A antiga atividade cívica é abolida com a nova ordem monárquica. Na Filosofia há uma significante mutação no pensamento: a busca pela sabedoria e a resposta sobre o que é a felicidade

"Aspessoas felizes lembram do passado com gratidão, se alegram. com o presente e encaram o futuro sem medo"

EPICURO

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fílosofla

somente em meio à polis. Agora, em Epicuro, o ideal de felicidade se desconecta da imagem dos cidadãos que devem decidir a vida de todos - justamente porque este poder de decisão transcende aos cidadãos. Ocorre certa desafeição pela política. Desconectada

se impõem como nunca antes. Os ritos religiosos antigos já não tinham mais crentes, e o medo dos deuses cristali-

da Política, a Ética se centra no indivíduo. A busca pela felicidade, agora, é individual.

zou-se como perturbação constante. O que advém é um período de pessimis-

Já não havia mais interesse senão pelas questões referentes à vida prá-

mo e de amargura. De vida monótona. De homens expostos aos terrores derivados das tiranias - as naturais e as sobrenaturais. Como conseguir al-

tica. Ao assumir os problemas de sua época, interpretá-los e orientar-1hes a solução, Epicuro concebeu uma filosofia inovadora; composição da Física Atomista com a Éticalmanente.

guma tranquilidade, sem sofrimentos, sem desesperos? Este foi o problema enfrentado por Epicuro. Para as filosofias que correspondem ao auge da polis, o vínculo entre busca da virtude e busca da felicidade era dado pela política. No sistema

teoria atomista. Assume a premissa fundamental de que todos os corpos são formados de átomos, partículas

aristoté1ico, o bem viver é possível

pequeníssimas, indivisíveis, não visí-

SOBRE A FÍSICA De Demócrito,

toma Epicuro a


NA FILOSOFIA, HÁ UMA SIGNIFICANTE MUTAÇÃO NO PENSAMENTO: A BUSCA PELA SABEDORIA E A RESPOSTA SOBRE O Q!lE E A FELICIDADE SE IMPÕEM COMO NUNCA ANTES veis, mas de existência comprovável por meio de certos fenômenos. Entre os quais: a evaporação da água, a transmissão de odores e fenômenos do crescimento e da diminuição. Nada disso seria explicável sem a te-

são como aglomerados de átomos; os outros são os átomos em si. Epicuro também defende a existência de um vazio por onde os corpos se movem. Ao retomar a afirmação de Parrnê-

oria do átomo. A ideia basal é que o Ser é corpóreo. Na Carta a Heródoto (um dos tex-

nides, de que nada nasce do nada ou se dissolve no nada, Epicuro assegura que existem infinitos átomos movendo-se através de um vazio infinito.

tos mais importantes que nos resta-

Mas como explicar o movimento? A

ram de sua Física), Epicuro defende que os átomos são infinitos em núme-

resposta repousa em uma observação acerca do peso, que mantém o movimento constante dos átomos. A ideia, porém, não é a de um peso absoluto. Trata-se de um peso relativo, que va-

ro, e que diferem em forma, tamanho e peso. Os corpos são de duas ordens, compostos e simples. Os primeiros

o JARDIM E OS AMIGOS o

pensamento epicurista supôs que viver já é um prazer e que portanto para ser boa, basta que a vida não seja demasiado perturbada por dores e sofrimentos. A Ágora já não era o local onde os cidadãos equilibravam os humores sociais. É por isto que Epicuro ignora o ideal cívico e o substitui por um ideal afetivo. Agora é o Jardim (na casa de Epicuro em Atenas) o local onde os amigos equilibram seus humores existenciais. O quarto remédio do tetrapharma1wn, todo sofrimento pode ser suportado com serenidade, por exemplo, não transpassa pela terapia sem respaldo dos amigos. Basta verificar o contexto, mais próximo de nossa realidade, da frase

«A quem confiar minha tristeza?". Ela é epígrafe do conto Angústia, escrito em 1886, pelo russo Anton Tchekhov. No texto, o cocheiro lona Potapov, guarda uma enorme dor: a recente morte do filho. Em um típico dia de trabalho, ele, exasperado, tenta desabafar, mas ninguém se dispõe a escutã-lo. Os clientes o tratam com um cretino rebaixamento. A angústia se deve ao fato de não conseguir dialogar sobre suas perturbações. Ele então observa a multidão, e conclui que ninguém lhe dará atenção. No limite do desespero, inicia um diálogo com seu cavalo. Ao animal confia os seus sentimentos. O autor, em certo sentido, associa o so-

frimento de Potapov à ausência de relação amistosa. É justamente em momentos como o de Potapov, que manter a tranquilidade parece impraticável. A Filosofia Epicurista ensina que a relação amistosa é necessária à manutenção da lucidez. Epicuro viveu uma crise parecida com a qual vivemos no mundo contemporâneo: uma crise em que identidades consolidadas, estáveis, começam a se dissolver. A lição do Jardim consiste, portanto, no entendimento de que para enfrentar as adversidades e ainda se manter feliz é preciso resguardar o prazer de uma vida simples entre amigos.

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TENDO

COMPREENDIDO

CORPÓREA DO TODO,

A NATUREZA

O INDIVíDUO

ro, a Ética tem como centro a virtude; para o segundo a ética é balizada pelo prazer - daí caracterizá-Ia como hedo-

IRÁ

HABITUAR-SE A ESCOLHER OS PRAZERES

nistaê. A novidade da Ética Hedonista

PRopíCIOS E EVITAR OS QQE ACARRETAM DOR

está em não pretender formar cidadãos, mas indivíduos felizes. Epicuro retoma a distinção aristotélica das virtudes em intelectuais e éticas.

ria conforme a extensão de cada áto-

destrutibilidade permite a dedução de

mo. No vazio os corpos de mais peso caem, e os mais leves são empurrados e rebatidos para cima. Logo, estão em

que o que rege o Cosmos é o espetáculo da mudança, da corrupção e do renas-

perpétuo movimento. Alguns comen-

Mas confere a tais categorias uma função instrumental: elas unificam a receita da felicidade. Esta é sintetizada em seu famoso tetrapharmákon4, cujos preceitos

cimento dos corpos compostos. A ideia de um clinamen é necessária à explica-

podem ser elencados da seguinte forma:

tadores latinos de Epicuro, especialmente Cícero, mencionam o clinamen (inclinação, desvio) - uma aberração

ção do movimento, da mutação. Diante disso, como transitar da Física à Ética?

do típico movimento descendente dos átomos. Esse deslocamento garante

DA FÍSICA À ÉTICA Carta sobre a felicidade (A

os deuses não são temíveis; a morte não traz riscos; o prazer é acessível a todos; é possível suportar o mal com serenidade. O tetrapharmákon permite o movimento estrutural da Física à Ética. Para

É na

colisões laterais, e também os desvios

Meneceu)2 que Epicuro demonstra sua

tanto, a terapia deve ser entendida em

graduais para todas as direções. O que explica, a um só tempo, a mudança, a ordem e a reprodução da

ética hedonista. Em sua filosofia, uma vez o indivíduo tendo compreendido a natureza corpórea do Todo, irá habitu-

duas etapas. Seria mesmo absurdo estabelecer preceitos de felicidade, deixando em

mudança? Esta é a questão básica da Cosmologia Grega antiga, desde os pré-socráticos. Epicuro a esclarece. O

ar-se a escolher os prazeres propícios, e evitar os que lhe acarretam dor. Como em Aristóteles, Epicuro to-

aberto alguns dos problemas que podem tornar o homem infeliz. O que

átomo é dotado dos atributos do corpo, isto é, impenetrabilidade e solidez. E mais. É perene, indestrutível. Sua in-

mou a perspectiva de uma ética imanente. Para ambos, o bem supremo permite a felicidade. No entanto, para o primei-

A Carta sobre a ftlicidade (A Meneceu) pode ser lida a partir de uma chave de leitura que compreende 6 grandes partes: 1. sobre o filosofar (§§ 1-2); 2. sobre os deuses (§§ 3-4); 3. sobre a morte (§§ 5-12); 4. sobre os desejos (§ 13); 5. sobre o prazer, sobre o sábio autossuficiente e sobre a vida feliz (§§14-24); 6. conclusão da carta (§ 25). A numeração dos parágrafos segue a tra2

dução, do grego ao português, de Álvaro Lorencini e Enzo dei Carratore, publicada pela Editora UNESP. 3 Hedone, do grego, significa prazer do corpo ou da alma, uma vez que denota a gama de significados desde o prazer físico até o êxtase espiritual. Em Epicuro, muitas vezes é equivalente a makariõtes (bern-aventurança), o estado de imperturbabilidade dos deuses.

acarretava à Grécia do século lII a.C. inquietações e sofrimentos eram, sobretudo, dúvidas acerca do que existe para além do plano material: o poder

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Tetrapbarmãkon, ou quádruplo remédio, consiste na receita epicurista contra o sofrimento, consequentemente, a favor da felicidade. Seus preceitos estão expostos e comentados na Carta sobre a ftlicidade (A Meneceu) e nas quatro prímeiras Máximas principais, obras de Epicuro compiladas por Diógenes Laércio em seu Vidas efilosofias dos filósofos ilustres. 4

LEGADO EPICURISTA Entre os mais notáveis discípulos de Epicuro

está o romano Lucrécio,

que no século I a.c., expôs a doutrina epicurista

no famoso poema

rerum natura (A Natureza) das obras mais importantes

De

- uma da poesia

incluir Epicuro

em sua obra Vidas

dosfilósofos ilustres.

haja notícias da filoso-

Embora fia epicurista Média,

durante

só no século XVI se assiste

a sua retomada em Montaigne,

latina. O que acerca do epicurismo

Vanini no século XVII.

podemos saber se deve muito ao fato

Gassendi,

de, no século 111, Diógenes

e Hume renovam

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filosofia

Laércio

toda a Idade

Hobbes,

e em

Mais tarde

depois Spinoza Epicuro.

Sua in-

fluência se prolonga

por intermédio

de quase

todos

os enciclopedistas

franceses,

até o século

XIX,

em

Bentham e em Stuart Mil~ até a base do pensamento

materialista

de Marx.

No século XX, há ressonâncias no humanismo

científico,

mento jusnaturalista to neoliberal.

suas

no pensa-

e no pensamen-


Escala de prazeres de Epicuro Para ser feliz, o homem deve alcançar a autossuficiência. O único modo de conseguir isso, de acordo com Epicuro, é afastar de si os desejos por prazeres impróprios, ou seja, aqueles que acabam por lhe trazer dor ao corpo ou pertubações à alma. Epicuro constroi uma "escala de prazeres" capaz de educar o homem a respeito do que deve ou não desejar. Ela é dividida em prazeres naturais e necessários; naturais e não necessários; não naturais e não necessários.

Descanso Prazeres naturais e necessários são aqueles essenciais à conservação da vida: comer, beber, descansar, proteger-se do frio e similares. Esses desejos são válidos e devem ser plenamente satisfeitos pois eliminam sofrimentos para que somente o prazer opere.

Gula Prazeres naturais e não necessários são as variações supérfluas dos mencionados acima. Representam o comer e o beber em excesso ou vestir-se de modo refinado, por exemplo. São desejos que devem ser limitados porque podem provocar dor corporal ou perturbação na alma.

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Prazeres não naturais e não necessários são considerados vãos porque, gerados por ilusões ou superstições, dificilmente conseguem ser satisfeitos e sua busca produz perturbações na alma. São eles, por exemplo, os . desejos de riqueza, poder, honra e eternidade.

A maior deficiência é a desinformação. Leia a revista Sentidos.


SABEDORIA É A ÉTICA A QQAL O HOMEM DEVE BUSCAR OS PRAZERES CONSISTENTES E ENFRENTAR O SOFRIMENTO COM IMPERTURBÁVEL SERENIDADE "Só há um caminho para a felicidade. Não nos preocuparmos com COIsasque ultrapassam o poder da nossa vontade"

EPICURO

dos deuses, e a penetração, via morte, em um mundo desconhecido. A fim de enfrentar essas duas per-

rista a uma vida moderada é premissa fundamental para se cultivar felicidade.

turbações Epicuro compõe a primeira etapa de aplicação do tetrapharmákon.

Estabelece-se assim a segunda etapa da terapia, com base no terceiro e quarto remédios: o prazer é acessível a todos, e

Ela comporta os dois primeiros remédios, que são, digamos, virtudes intelectuais. É ao se compreender a natureza das coisas, que as pessoas se livram do terror que sentem aos deuses; afinal, não são eles, e sim os átomos, que regem

todo sofrimento pode ser suportado com serenidade. Segue-se disto que nenhum prazer é mal. Os modos como se obtém certos prazeres podem causar mais sofrimentos que satisfações. É a falta de moderação que pode suscitar o mal.

o Cosmos. Também assim se suprime a ansiedade diante da morte: ela é apenas

Em Epicuro, todavia, o que é o bem? O supremo bem é sentir prazer.

a separação dos átomos componentes do organismo. O que está morto não sente. Não há uma experiência da morte. A experiência que causa sofrimento é

Todo vivente aspira prazer e foge do sofrimento, condição inata a qualquer or-

a da perda dos entes queridos, mas não a própria. É preciso encarar a morte como último ato da vida, simplesmente. Já o terceiro e o quarto remédios são virtudes éticas: ensinam o trato com o prazer e com a dor. A exortação epicu-

ganismo. Se o prazer é o supremo bem, então é sobre ele que incide o esforço a uma vida feliz. Ocorre que, comumente, os homens se colocam à busca de prazeres ilusórios, ou dão demasiada importância a determinados prazeres, que exigem para serem alcançados um esforço ainda mais custoso que o próprio prazer de desfrutã-Ios, Eis a patologia que o tetrapharmákon quer aplacar. A Ética Epicurista é necessária para se conhecer o cálculo dos prazeres. Sem ela, a felicidade não é possível.

CALCULO DOS PRAZERES Se bastasse seguir o impulso imediato para ser feliz, a Filosofia seria desnecessária e não haveria tanta infelicidade entre os homens. Karl Marx dedicou sua tese de doutorado à dife-

Para Epicuro, a amizade é suporte indispensável à vida simples e feliz

rença entre as filosofias de Demócrito e de Epicuro; enfatizou que um dos elementos de destaque na Filosofia Epicurista é a emancipação do sábio. Há uma relação necessária entre sabedoria e felicidade.


Entre os prazeres naturais e necessários estão aqueles relacionados à conservação da vida. São prazeres válidos. Isto porque subtraem sofrimentos ao corpo, como fome, sede, frio, calor, cansaço e necessidades similares. Entre os prazeres naturais e não necessários estão as variações supérfluas daqueles. Comer em excesso, beber muito, vestirse de modo refinado. Aqui o aparato do sábio é a moderação, que deve lhe indicar o limite do apetite aos prazeres. Por fim, os prazeres não naturais e não necessários são aqueles que podem ser considerados vãos. Ou seja, os gerados a partir de superstições e de ilusões, como os desejos à riqueza, ao poder, às honras, à eternidade. Felicidade é a conquista da qualidade de vida, da saúde física e da serenidade da alma

Em Epicuro, a felicidade é uma conquista adquirida pela sabedoria. É preciso aprender a ser feliz. Se ao nascer o homem já sente prazer e dor, aprender a dominá-Ias é exercício para a vida toda. A maioria dos humanos é infeliz porque busca o prazer e foge da dor à maneira do recém-nascido: impulsivamente. Sabedoria é a ética que deve habituar o homem a buscar os prazeres mais consistentes, e a enfrentar o sofrimento com imperturbável serenidade.

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qualidade de uma vida autos suficiente. Isto é, a vida do sábio. Daquele que tem domínio de si, que é sereno. Tranquilo. O próprio Epicuro enuncia na carta ao discípulo Meneceu: ''Assim como dos alimentos (o sábio) não deseja a porção mais abundante, mas a mais agradável, do tempo deseja desfrutar não o mais longo e sim o mais propício". O que habilita o sábio é o tetrapharmákon. O que o torna autossuficiente é o cálculo dos prazeres. As

Epicuro conceitua prazer como ausência de dor no corpo e falta de perturbação na alma. E, nesse exa. me, identifica dois conceitos adja-

variáveis desse cálculo são os tipos de

centes ao prazer: a aponía e a ataraxía. O núcleo de sua ética imanente

sários. Tais variáveis deverão ser dispostas de modo que o resultado seja o supremo prazer. Deve-se satisfazer os desejos do primeiro tipo de prazer, limitar os desejos do segundo tipo e evitar os do terceiro.

comporta esta tríplice conceituação, na qual, o supremo prazer é aquele gozado na congruência dos estados de aponía (ausência de dor no corpo) e de ataraxía (ausência de perturbação na alma). A harmonia entre estes estados permite a felicidade. No entanto, ser feliz não se sustenta pela somatória dos prazeres que se lo-

prazer que Epicuro alinha. Prazeres naturais e necessários; naturais e não necessários; não naturais e não neces-

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Os prazeres do primeiro grupo devem ser plenamente satisfeitos, porque têm por natureza um limite evidente: a eliminação da dor. Entenda-se bem. Não se trata de acrescer prazer ao corpo, mas de eliminar-lhe toda dor para que somente o prazer opere (aponía). Os prazeres do segundo grupo já não têm limite evidente: levados ao excesso acarretarão dor corpórea ou perturbação na alma. Sendo' prudente e moderado, o sábio conseguirá atingir a imperturbabilidade da alma (ataraxía). Os prazeres do terceiro grupo não tolhem a dor corpórea e inevitavelmente produzem perturbações na alma. Devem ser evitados. A felicidade, portanto, advém dos prazeres. Não de quaisquer prazeres, mas somente os da completude da saúde do corpo e da serenidade da alma. Epicuro talvez tenha sido o primeiro a elaborar uma filosofia que é, ao mesmo tempo, teoria da realidade e prática de vida. Ifilo

EPICURO. Antologia de textos. (Os Pensadores). São Paulo: Abril Cultural, 1973. . Carta sobre a felicidade: a Meneceu. 3 ed. São Paulo: Editora UNESp' 2002. FARRINGTON, Benjamim. A doutrina de Epicuro. Rio de Janeiro: Zahar, 1968. GUAL, Carlos García. Epicuro. Madrid: Alianza, 1996.

LAÊRTIO,Diôgenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2 ed. Brasília: UNB, 1997. MORAES, João Quartim de. Epicuro: as luzes da ética. São Paulo: Moderna, 1998.

gra e das dores que se evita, mas pela

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