A.H.A - Arte, História e Arquitetura

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A.H.A. arte, história e arquitetura

MESOPOTÂMIA ESCULTURAS DE BRONZE DA MESOPOTÂMIA: TÉCNICAS E TEMAS BABILÔNIA: A FORMAÇÃO DA CIDADE GRÉCIA AKROTIRI: ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE NA IDADE DO BRONZE THERA: A ARTE COMO REPRESENTAÇÃO DA VIDA DAS POPULAÇÕES idade média SIENA: A FUNCIONALIDADE DA CIDADE COMO DETERMINANTE DO DESENHO URBANO CATEDRAL DE SIENA: ARTE E ARQUITETURA EM SÍNTESE

ENTREVISTA SIENA POR FRANCISCO LEITÃO RESENHA DE FILME “ESCORPIÃO REI” BIBLIOGRAFIA E LINKS ÚTEIS ARTIGOS, SLIDES, IMAGENS E LINKS



AUTORAS Alessandra Zamboni Júlia Brenner Sophia Passos Victória Dias

HISTÓRIA DA ARTE 1 faculdade de arquitetura e urbanismo UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA 2015



EDITORIAL Nomeamos a revista A.H.A. – uma sigla para Arte, História e Arquitetura – com o objetivo de transparecer a simplicidade e a objetividade que buscamos manter na revista. Pelos nossos artigos, fotos, imagens e informações abordamos um pouco da história, arte e arquitetura de cada lugar, trazendo o leitor um pouco mais perto desses períodos. Dispondo a revista em ordem cronológica, esperamos trazer a percepção do desenvolvimento das técnicas construtivas e artísticas ao alcance do leitor. Fomos motivados a explicitar as épocas da Mesopotâmia, da Grécia Antiga e da Itália Medieval, juntando-as e formando essa revista, que tem como objetivo principal trazer um pouquinho de conhecimento desses pedaços da História tão repletos de Arte e grandiosos avanços na Arquitetura. Na parte da Mesopotâmia, trouxemos uma pequena análise sobre a arte no período mais antigo de sua história: o período sumério. O artigo mostra o quão desenvolvido os sumérios eram em relação à metalurgia e ao detalhamento impressionante das estátuas, onde podemos conhecer um pouco sobre a sociedade junto ao que elas representam. Relatamos também uma das mais importantes cidades do mundo antigo – a Babilônia – por meio de uma descrição cronológica, na qual é possível percebermos a organização social, a história e a influência dessa cidade no mundo. Na Grécia Antiga, trouxemos informações sobre uma curiosa formação de arquipélago, que depois de uma série de desastres naturais, contém um grande acervo arqueológico que conservou a história de Akrotiri: uma das principais cidades da região do Egeu, que conta a sua organização social por meio de indícios de artefatos, religião e arquitetura. Estes foram de grande importância no estudo da história da ilha de Thera, que a teve resumida em duas – Akrotiri e Thera Antiga – com influências de épocas diferentes; isso pôde nos mostrar o quão rica pode ser a cultura de cada lugar. Para finalizar os estudos, analisamos Siena descrevendo a importância de sua ocupação e de sua história para a formação da cidade e de seu traçado urbano, nela, descobrimos a importância da arquitetura para a mobilidade urbana. Das obras arquitetônicas, uma das mais importantes da cidade é a Catedral, onde buscamos, em sua descrição, despertar e aproximar os leitores do interesse pela arte que se mistura e confunde com a arquitetura da igreja e que trás um grande acervo histórico e artístico para a cidade.


ÍNDICE


MESOPOTÂMIA 4 ESCULTURAS DE BRONZE DA MESOPOTÂMIA 5 BABILÔNIA 9

GRÉCIA 12 AKROTIRI 11 THERA 16

IDADE MÉDIA 21 SIENA 22 CATEDRAL DE SIENA 25

ENTREVISTA 29 SIENA POR FRANCISCO LEITÃO

RESENHA 32 “ESCORPIÃO REI”

bibliografia 34 e links úteis


MESOPOTÂMIA

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ESCULTURAS DE BRONZE DA MESOPOTÂMIA TÉCNICAS E TEMAS

Segundo o historiador João Lourenço da Silva Netto, a região no Oriente Médio entre os rios Eufrates e Tigre, também conhecida como Mesopotâmia, é formada pelos mais diferentes povos. Criando-se uma linha do tempo, os mais antigos foram os Sumérios – que ocuparam a região no período de 3750 a.C. a 2334 a.C. – e fundaram diversas cidades-estados com governantes independentes, além de viverem da produtividade natural (agricultura e pecuária) e do vale fluvial construindo canais de irrigação. São considerados os fundadores da escrita cuneiforme, escreviam em “tábuas” de argila utilizando um estilete de extremidade triangular deixando sinais em forma de cunha, utilizando-a para registrar os bens dos governantes e sacerdotes das cidades (SILVA, 2009). Além da escrita, os trabalhos desenvolvidos nesta época foram os de metalurgia – criados, principalmente, com a técnica do vazado de bronze –, ourivesaria e os trabalhos de incrustação aplicada, que usavam diversos materiais como lápis-lazúli, diorito, conchas, entre outros. Essas técnicas foram usadas para a construção de painéis comemorativos e religiosos e também para a construção de estátuas que são acreditadas como as mais antigas deste tempo: o grande conjunto de estátuas de alabastro encontradas no templo Abu, elas representavam o governante Ebih-Il de Mari. Além do tema político, as esculturas sumérias foram influenciadas

MAPA DA MESOPOTÂMIA

ESCRITA SUMÉRIA

pela religiosidade, visto que as esculturas conservadas encontradas representavam, em sua maioria, homens de pé ou sentados com as mãos postas, o que se presume uma atitude de oração. Geralmente as figuras eram representadas nuas da cintura para cima, porém, na parte de baixo, continham sais com adornos em forma de pétalas sobrepostas, os cabelos eram longos e as barbas cerradas. Já a mulher era representada com cachos que se estendiam de orelha a orelha com um coque (BOZAL, 1996). Por volta de 2550 a.C., os acádios dominaram a Suméria e fundaram o primeiro império mesopotâmico governado pelo rei acadiano Sargão I. O império acadiano manteve a cultura sumeriana, incorporando os registros da nova língua semítica em caracteres cuneiformes. Os acadianos trouxeram grandes inovações às esculturas sumérias: as estatuetas continuaram com premissas básicas da arte suméria – a frontalidade e a expressão dos olhos

ESCULTURAS DE ARGILA

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– porém, a maneira de representar os cabelos mudou e as esculturas obtiveram mais realismo e vitalidade (BOZAL, 1996). Por um breve período – denominado neo-sumério – em que o império acadiano estava desestabilizado (2123 a 2004 a.C.), os sumérios retomaram o poder e trouxeram à arte esculturas feitas de diorito (rocha ígnea), sentadas ou eretas, que remetiam ao governante com figuras representativas chamadas “ensi”. Entre 1894 a.C. a 1595 a.C. os amoritas, por meio da liderança de Hamurabi, fundaram o Primeiro Império Babilônio estabelecido na região centro-sul da Mesopotâmia. O maior legado cultural desse povo foi o famoso código Hamurabi, que tinha como objetivo consolidar o poder do Estado e adequar-se as leis do mercado. O código estabelecia leis políticas e civis, além de influenciar leis do mundo todo, como a famosa lei de Talião (olho por olho, dente por dente). No fim, ao ser enfraquecido, o Império foi conquistado primeiro pelos hititas, que causaram grande impacto com a utilização do cavalo para fins militares, depois pelos cassitas e assírios (BOZAL, 1996).

CÓDIGO HAMURABI

Os assírios eram povos que, antes de 2500 a.C., estabeleceram-se no Norte da Mesopotâmia por motivos de baixa produtividade agrícola e, por volta de 1000 a.C., iniciaram um movimento expansionista por toda Mesopotâmia. Destacou-se na arte assíria as esculturas de leão e de touro localizadas em portais representando os guardiões, os quais continham grande rigidez, trazendo o significado de proteção. Após o encerramento do Império Assírio, os Caldeus tomaram a região e fundaram o Segundo Império Babilônico ou Neobabilônico por volta do ano 560 a.C. No reinado de Nabucodonosor a cidade da Babilônia tornou-se o maior centro cultural e comercial de todo o Oriente. Foram construídos palácios, os “Jardins Suspensos da Babilônia”, considerados uma das sete maravilhas do mundo antigo e a Torre de Babel (BOZAL, 1996). Segundo o autor Valeriano Bozal, são identificadas nas manifestações artísticas mesopotâmicas três fatores essenciais que servem para caracterizá-las. Um dos principais temas dessa arte foi de cunho político, visto que o local vivia em constantes ameaças de guerras e por conta disso, a arte foi subordinada ao Estado, voltando-se para a glorificação dos militares e suas vitórias; outro foco foi a temática reli6

ENSI


giosa, visto que a maioria das esculturas eram construídas com fins espirituais, para adorações, etc. Outro fator que teve grande influência na arte foi o contexto geográfico, o ambiente que se insere a região mesopotâmica. O local não possuía abundância de pedras nem de madeira, por isso os escultores importavam os materiais de outras regiões ou usavam outros materiais para substituí-los como a terracota (argila cozida). Na arte mesopotâmica, um mundo religioso antagônico foi originado pelos materiais que se projetavam na arte por meio de esculturas e de relevos, onde era comum que fossem retratados seres fantásticos, infernais e agressivos e outros seres que causavam terror na vida cotidiana do povo mesopotâmico. Porém, essa arte escultórica foi capaz de amparar os homens, visto que corporizou gênios protetores e forças positivas advindas das divindades. Essa arte rejeitou, claramente, o nu, visto que as figuras humanas e as divinas estão sempre cobertas de vestimentas. A arte suméria, por exemplo, retrata em suas obras masculinas, além da lei da frontalidade e simetria axial, o kaunakes, conhecido como fraldão masculino com bandas paralelas de franjas. Já as figuras femininas possuem uma vestimenta que começa desde os ombros e reproduz os detalhes horizontais provenientes das vestes masculinas. Com os semitas, a túnica de pano grosso e o manto transversal é amplamente reproduzida em suas obras. Essa rejeição ao nu refletia o convencionalismo social desse povo, que não aceitava que diferentes classes sociais fossem representadas de igual para igual,

SÁRGON DE ACAD

distinguindo-se por meio da vestimenta. Havia, também, a ideia de que o nu representava um fator psicológico de impotência e desproteção, por isso, em cenas de guerra, apenas os vencidos eram retratados nus (BOZAL, 1995). Na Mesopotâmia, diversas culturas desenvolveram-se simultaneamente e de maneira dinâmica, com frequentes mudanças pelo caráter heterogêneo da região, porém, na área da arte, as tradições e as normas seguiam um forte “legado técnico, normativo e temático” (BOZAL, 1995, p. 50). Além da figura humana, a fauna também serviu de inspiração para a escultura mesopotâmica, visto que os povos da região já haviam desenvolvido, em plena época histórica, a atividade pecuarista. As obras revelavam um conhecimento anatômico dos artistas sumérios pelo fato de suas representações de animais como o touro serem bastante verossímeis e mostrarem, através da linguagem corporal do animal, todo seu poderio e dinamismo. É possível visualizar a influência recíproca entre as culturas semita e suméria em muitos aspectos como técnica, esquemas religioso-estéticos, além de experiências na área artística, que eram de excelente qualidade. As estatuetas semitas contém similaridades próprias das sumérias como a frontalidade e a presença de olhos expressivos e exageradamente grandes. Porém, nessa troca de conhecimentos entre culturas, outros aspectos foram naturalmente sendo incorporados nessas estátuas, por exemplo, as cabeças possuem cabelos grandes cujos cachos caem sobre as costas ou se encontram trançados na nuca, já o rosto prolonga-se numa barba de capas sobrepostas que se fundem com a cabeleira. Algumas peças com esse caráter eram produzidas em bron-

SÁRGON DE ACAD

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ze, como o exemplar de Nínive que representa o Sargón de Acad, que mostra energia característica de um monarca-guerreiro, datado de 2340-2284 a.C. e, atualmente, encontrado no Museu do Iraque, em Bagdá (BOZAL, 1995). A técnica utilizada nessas esculturas é a do vazado do bronze, que, diferente de outras técnicas que são aplicadas diretamente no material retirado da natureza como a argila, a pedra e a madeira, é necessário transformar vários materiais a partir da fundição do cobre, estanho, zinco e aço para conseguir a liga metálica adequada e na cor desejada e é necessário, também, a criação de moldes, onde a figura irá nascer sem que haja interferência durante sua criação. Para que a técnica seja corretamente aplicada, é preciso confiar na correta fundição dos materiais que resultam na liga metálica, a temperatura adequada, moldes de boa qualidade e uma coação bem realizada para que a estátua saia do molde em boas condições e possa ser reproduzida em escala industrial, ou seja, copiada várias vezes a partir de um mesmo molde, não possuindo o caráter de obra única, caso o molde seja mantido (BOZAL, 1995, p. 102). Essa técnica possui três sistemas de realização: a fundição à cera perdida, utilizada nas esculturas de bronze da Mesopotâmia, portanto, de maior foco nesta análise, o modelado em areia e a galvanotipia. Nas pri-

meiras peças de bronze, o método utilizado foi o mais simples, que consistia em coar metal fundido em dois moldes de argila cozida ou em moldes de pedra. Porém, para conseguir que as esculturas fossem tridimensionais, um novo sistema teve que ser idealizado: a técnica da cera perdida. Esta consistia em construir um modelo de cera que era coberto por um molde de argila de apenas uma peça, posteriormente, a cera era derretida e dava lugar ao bronze, que preenchia o interior do molde. Esse sistema resultava em peças maciças de bronze, por isso, as peças tinham tamanho limitado por serem pesadas e por consumirem muito material. Datadas do início do terceiro milênio a.C., as primeiras peças feitas com essa técnica envolvem o leão de bronze de Uruk, obra originária da Mesopotâmia (BOZAL, 1995, p. 102). A arte desse povo, além de diversificada devido à mistura de culturas típica e frequente da região da Mesopotâmia, mostra que, desde a época suméria, estava em constante aprendizado e aprimoramento de diferentes técnicas e meios de expressão que se incorporavam à arte mesopotâmica. A referida arte tornou-se rica e abundante – mesmo com poucos exemplares em bronze – e, através de esculturas e outras manifestações artísticas, contribuiu para pesquisas relacionadas a história desse povo e dessa região que foi, de certa forma, imortalizada nessa arte.

ILUSTRAÇÃO DE COMO, SUPOSTAMENTE, SERIA A REGIÃO DA MESOPOTÂMIA NA ÉPOCA

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BABILÔNIA A FORMAÇÃO DA CIDADE

A Cidade da Babilônia situava-se na parte sul da Mesopotâmia, região localizada entre os rios Tigres e Eufrates na Ásia Ocidental. A área da Mesopotâmia possui clima semi-árido e, em sua porção norte, há um vasto deserto. Portanto, as civilizações que nela viveram assentavam-se predominantemente na parte sul e na margem dos rios. A economia desses povos foi baseada na agricultura, na criação de animais e contava com um comércio desenvolvido. A população mais antiga da Mesopotâmia foi formada por um povo que se acreditava ser formado por descendentes de Cam, um dos três filhos de Noé. Eram mais conhecidos pelo nome de sumérios. Esse povo constituiu a base cultural da civilização mesopotâmica e desenvolveu importantes técnicas para armazenar e transportar água. O domínio dos sumérios se estendeu por quase todo o terceiro milênio antes de Cristo, porém a desunião dos povos sumérios acarretou no enfraquecimento político e, por volta de 2350 a.C., foram invadidos pelos acádios. O império acádio durou cerca de 250 anos, quando rebeliões internas deram margem à invasão de um grupo de guerreiros chamados amoritas. Esse grupo fundou a cidacódigo hamurabi no museu do louvre

ANTIGA BABILÔNIA

de da Babilônia e a tornou uma potência na Mesopotâmia. Não se sabe ao certo a origem do nome Babilônia. Os hebreus da Bíblia diziam significar “confusão”. Já na língua semítica, falada pelos babilônios, o nome da cidade pode ter significado “Porta de Deus “ou “Porta dos Deuses”. Os babilônios modificaram e transformaram a sua herança suméria para adequá-la à própria cultura e maneira de agir. Expandindo-se, construíram um império sob o comando de Hamurabi (1792-1750 a.C.) conhecido como o Primeiro Império Babilônico. Esse período foi marcado pela instituição de um dos primeiros sistemas legais que se tem conhecimento: o Código de Hamurabi, sistema legal formado por cerca de 280 leis, das quais a mais conhecida é a Lei de Talião, pela máxima “olho por olho, dente por dente”. Embora previsse punições graves, o código trouxe legalidade e ordem a uma terra muito criminalizada e desordenada. A Babilônia conquistou a supremacia militar da região e se tornou o centro cultural e intelectual da Mesopotâmia. Além disso, a cidade tinha grande importância comercial, pois estava localizada em uma área estratégica: na importante rota comercial terrestre que ligava o golfo Pérsico com o Mediterrâneo. O povo mesopotâmico era politeísta e muito ligado a seus deuses. Algumas cidades tinham os seus próprios deuses, os seus protetores. O deus da Babilônia era Marduque. Com a ascensão da cidade, cresce também a importância de seu protetor, que se torna o Deus Supremo da Babilônia. Nesse contexto, os sacerdotes tinham um papel vital na organização social, pois eram considerados intermediadores entre os deuses e a população. Toda a organização da cidade estava fortemente 9


ilustração de um zigurate

FACHADA DE TÍPICO ZIGURATE

relacionada à religiosidade. A influência da religião na OCUPAÇÃO DO ESPAÇO urbano pode ser observada pela disposição das construções. No centro da cidade, além do palácio do rei, ficavam as edificações destinadas ao culto aos deuses como os templos e os zigurates. “Nas cidades mesopotâmicas, as construções mais importantes eram as ligadas às grandes instituições, ao templo e ao rei. Sendo a moradia da divindade tutelar da cidade, o templo era o símbolo central do bem-estar local e, em geral, a estrutura mais alta. Os reis reformavam e reconstruíam os templos dos centros religiosos importantes como sinal da aprovação divina”. (RATHBONE, 2011, p. 118)

Toda a cidade bem como os templos e palácios seguiam um traçado regular e geométrico: as ruas eram largas e retas e os muros sempre se desdobravam em ângulos retos. A cidade apresentava uma planta retangular de 2500 por 1500 metros, cujo espaço era marcado por muralhas, palácios e templos. A construção mais característica da época era o zigurate. Esses templos tinham forma de torre, eram compostos de terraços sucessivos e escadas que os circundavam. Não possuíam câmaras internas, uma vez que eram destinados apenas à moradia dos deuses. Somente os sacerdotes podiam entrar nos zigurates, era deles a responsabilidade de cuidar da adoração aos deuses e fazer com que atendessem as necessidades da comunidade. 10

ilustração da torre de babel

Para construir as edificações, eram utilizados tijolos de barro cozido, pois, em algumas áreas da Mesopotâmia, a madeira e as pedras eram escassas. Os tijolos eram moldados de barro e misturados com grama e estrume, depois eram deixados ao sol para criar mais resistência. As habitações mais humildes eram, muitas vezes, simples cubos de tijolos crus, revestidos de barro. Os telhados eram planos, feitos com troncos de palmeira e argila. As casas simples não tinham janelas. As moradias mais simples também podiam se configurar em prédios de um andar, contendo várias pequenas salas abertas para um pátio central. Em 689 a.C, a Babilônia de Hamurabi e de seus sucessores foi quase totalmente destruída por Sennacherib, o segundo rei assírio da Dinastia Sargonid e governou durante os anos 705 a 681 a.C. Esarhaddon, o terceiro rei assírio da Dinastia Sargonid, que governou até 669 a.C, construiu uma nova cidade no mesmo local. No entanto, somente sob o poder de Nabucodonosor, o quarto rei da Dinastia Sargonid, a Cidade da Babilônia tomou as proporções de que temos resquícios até a atualidade e se tornou um grande império. No Segundo Império, a civilização babilônica teve o auge de seu desenvolvimento arquitetônico. Mantendo-se o traçado urbano original, foram construídas muralhas duplas, torres e um fosso para proteção. Novos templos e palácios ainda mais grandiosos e luxuosos foram erguidos, principalmente na zona oriental da cidade.


Chegava-se a essa região percorrendo a Via das Procissões paralela ao rio, passando pelo Santuário Marduque e pelo Palácio real e desembocando na Porta de Ishtar. A Porta de Ishtar era uma das oito entradas para a Babilônia. Edificada provavelmente em 575 a.C., era uma estrutura de tijolos vitrificados (recobertos de esmalte). O Portal tinha um longo corredor adornado com tijolos azuis brilhantes, cobertos por dragões dourados e leões. Os Jardins Suspensos da Babilônia também foram amostras da riqueza arquitetônica característica dessa cultura. Apesar de não existirem provas concretas da sua existência, textos antigos dos gregos e romanos traziam descrições dos luxuosos jardins. O local teria existido como contraste à paisagem quente e árida da antiga Babilônia, com vegetação exuberante, enormes cascatas e cachoeiras. Acredita-se que o rei Nabucodonosor II os construiu como um presente para sua esposa, Amytis. Eram compostos por terraços, dando ideia de que estavam suspensos. Os andares tinham cerca de 120 m² e eram apoiados por colunas. Um sistema de roldanas e baldes era utilizado para irrigar os jardins e encher as piscinas e cascatas. Outro exemplo da arquitetura desse povo é a Torre de Babel, construção que tinha o objetivo de situar observações astronômicas diárias, além da tradicional função dos zigurates. Foi erguida sobre um plano quadrado de 91m de lado e com altura de JARDINS SUSPENSOS DA BABILÔNIA

PORTA DE ISHTAR

aproximadamente 55m, formados por sete andares, que faziam referência aos cinco grandes planetas conhecidos pelos babilônicos (Saturno, Júpiter, Marte, Vênus e Mercúrio), além do Sol e da Lua. A Torre de Babel tem grande importância mítica para o povo babilônico por conceber a moradia de seu padroeiro, o deus Marduque. A torre foi, portanto, construída com altura e tamanho superiores aos diversos zigurates da cidade. É importante destacar que em Gênesis 11: 1-9, da Bíblia, faz-se referência à Torre de Babel, colocando-a como símbolo da ambição, arrogância e esquecimento de Deus por parte dos homens, que são punidos pela ousadia. Após sucessivos cercos e destruição das muralhas, a Babilônia foi tomada pelos Persas em 539 a.C. e permaneceu sob seu domínio até 275 a.C., quando todos os habitantes da cidade foram transferidos para a nova cidade de Seleucia. Desde o início da formação da Babilônia, a religião fazia influência direta em todos os âmbitos da vida dos cidadãos. A cidade era configurada de forma que as edificações religiosas ficassem em destaque e fossem, assim, o centro da vida urbana. A organização urbana era mais uma forma de manifestar que seus deuses eram o centro do Universo daquela civilização.

CURIOSIDADE: OS JARDINS SUSPENSOS DA BABILÔNIA, APESAR DE NÃO EXISTIREM PROVAS CONCRETAS SOBRE SUA EXISTÊNCIA, É CONSIDERADO UMA DAS SETE MARAVILHAS DO MUNDO ANTIGO.

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grĂŠcia

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AKROTIRI

ARQUIPÉLAGO DE SANTORINI

ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE NA IDADE DO BRONZE O arquipélago de Santorini é formado por três ilhas – Therasia, Aspronisi e Thera – localizado ao sul do mar Egeu, na Grécia. O arquipélago está situado na caldeira geológica formada pela erupção do vulcão Thera, também chamado de Santorini, ocorrida durante o segundo milênio antes de Cristo. Localizada na maior das ilhas, Thera, está Akrotiri (SEWELL, 2001), um sítio arqueológico em que suas habitações mais antigas são datadas de aproximadamente 3000 a.C. Nele foram encontrados assentamentos que mostram um desenvolvimento gradual da cidade em um dos principais centros urbano e portuário do Egeu (ODYSSEUS), na Idade do Bronze¹.

O O marcação de akrotiri em thera

A ilha foi colonizada pela civilização Minoica, também conhecida como civilização Cretense por ter se desenvolvido na ilha de Creta entre os anos 2000 a 1400 a.C. devido às expansões promovidas nas ilhas do mar Egeu, na Ásia menor e no Sul da Grécia (SEWELL, 2001). Segundo o historiador Lourismar Barroso (2012), essa civilização pode ser caracterizada por suas construções de luxuosos palácios, pelas pinturas feitas para retratar figuras do cotidiano e afrescos feitos em cores vivas. A economia era fundamentada principalmente pelo comércio marítimo que se estendeu até a península itálica, exportavam vinho, azeite e cerâmica, e cultivavam cereais, desenvolveram técnicas de metalurgia, ouriveAFRESCO MOSTRANDO A CIDADE DE AKROTIRI

AFRESCO MOSTRANDO NAVEGAÇÕES

saria e cerâmica criando um grande repertório no artesanato da região. A sociedade era formada por escravos de origens estrangeiras e cidadãos, onde as mulheres tinham direitos iguais aos homens. A religião era matriarcal – a Deusa-Mãe simbolizava fertilidade –, além disso, cultuavam as plantas, o touro, a serpente e o minotauro. As escavações arqueológicas ocorridas em Akrotiri – iniciadas pelo arqueólogo Spyridon Marinatos, em 1967 (SANTORINI) – foram essenciais para consolidar o conhecimento sobre a Idade do Bronze, principalmente a tardia, visto que elas possibilitaram encontrar vestígios como artefatos, afrescos, utensílios domésticos, vasos e outros objetos de uso diário que, combinados e profundamente estudados, permite-nos visualizar melhor como a sociedade de Thera se organizava. Nannó Marinatos afirma que os estudos feitos nesse sítio arqueológico não se limitam a apenas artefatos, mas 13


a uma união desses com as evidências arquiteturais que possibilitam a análise de cultos, rituais e da cultura dessa antiga sociedade (MARINATOS, N., 1984, p.7). Na metodologia de estudo sobre Akrotiri, Marinatos considera o contexto que uma descoberta foi feita, realiza analogias com outras civilizações como a cretense, a egípcia e as orientais e considera os elementos culturais como sinais significativos – por exemplo, casas e complexos de construções – que podem indicar hierarquia social. Essa hierarquia está relacionada aos diferentes tipos de habitações encontradas nas escavações que se dividem em três: mansões (Xeste 2, 3 e 4 na figura 5), grandes construções independentes (West House e House of the Ladies na figura 5) e pequenas construções quadrangulares que indicam, além da possível função religiosa, a diferença de significância social entre os habitantes que viviam e frequentavam esses locais (MARINATOS, N., 1984, p. 11). Ainda analisando as categorias de construção, as mansões encontradas possuíam paralelo com Creta mas distinguiam-se pelas características arquitetônicas palacianas. No Xeste 3 (figura 5) – completamente escavado –, é possível exemplificar que a disposição dos cômodos, considerando seu grande tamanho, se adequa a um local de reuniões públicas e, já que a arquitetura do local reflete essa função, é provável que esse sistema palaciano realmente possuía finalidade pública. Além disso, há indícios que essa construção foi construída, primariamente, para função religiosa visto que foi encontrada uma área sagrada – denominada adyton – onde os sacerdotes deixavam oferendas ou conduziam rituais, além da presença de afrescos retratando deusas e temáticas religiosas (MARINATOS, N., 1984, p. 14). Já as grandes construções independentes possuem diferenças estruturais dos Xeste que, consequentemente, afetam suas funções. Mesmo possuindo templos internos e afrescos, a principal diferença entre essas construções consiste no grau de finalidade pública que, hierarquicamente, era inferior ao Xeste. Nas construções quadrangulares, os vários aposentos são conectados num tipo de convívio comunitário já que é “impossível distinguir casas individuais ou residências particulares nesses blocos” (MARINATOS, N.,1984, p. 15-16). Os templos existentes em Akrotiri possuem interpretações diferentes dentre os estudiosos do local, visto 14

afresco localizado no xeste 3


que alguns consideram apenas o Xeste 3 como sendo um templo de fato, já outros, incluindo-se Nannó Marinatos, usam diferentes critérios para classificá-los como evidências de afrescos com temática religiosa, existência de equipamentos típicos de cultos e rituais religiosos, além das características arquitetônicas que remetem a um espaço de adoração. N. Marinatos (1984) identificou sete deles e, diferente dos templos orientais e igrejas adeptas ao cristianismo, eram feitos para acomodar poucos sacerdoteS² que faziam oferendas aos deuses em nome de toda a comunidade. As oferendas eram comumente refeições, já que utensílios como panelas, copos em formato cônico e restos de comida foram encontrados nas escavações. PLANTA BAIXA DO XESTE 3

A disposição dos templos no sítio arqueológico, sua conexão e relação com as outras construções do entorno mostram que eles serviam como pontos de foco da organização social, por conterem várias funções como a religiosa, a econômica – os templos eram conectados com áreas de produção industrial e depósitos e os sacerdotes eram encarregados da administração, das trocas e das relações estrangeiras – e a função de unir a comunidade utilizando rituais e refeições comunitárias4. Todos os templos – com exceção de um localizado no Sector Alpha (figura 5) – possuíam pinturas nas paredes que remetiam diretamente ao tipo de culto e ritual que era utilizado no espaço sagrado. Essas pinturas, mesmo que suas funções ainda não sejam completamente claras, possuíam, além da função religiosa – ligadas à rituais de adoração –, função decorativa e cerimonial, ideológica – propagavam a ideologia do

governante – e narravam, de certa forma, o dia a dia da sociedade de Akrotiri (MARINATOS, N., 1984, p. 31-33). A cidade de Akrotiri iniciou seu fim em 1500 a.C. quando um terremoto transformou grande parte da cidade em ruínas (ALS), forçando a maioria da população a abandonar suas residências. O livro de Marinatos traz a teoria de que, como a maioria dos povos é relutante a abandonar suas cidades de origem somado ao fato de que nenhum tipo de joia ou bens preciosos e nenhum esqueleto foram achados no sítio arqueológico, o vulcão provavelmente deu sinais de que entraria em erupção dando a oportunidade para os poucos que ali restavam sair da cidade. Após a erupção, lava e cinzas vulcânicas encobriram toda a cidade, protegendo as ruínas que nas primeiras escavações foram encontradas intactas, caso similar ao de Pompéia em RomA (MARINATOS, N., 1984, p. 29-30). Em suma, as descobertas feitas em Akrotiri – mesmo estando distante de uma conclusão – permitiram analisar a relação da comunidade com as habitações que ora eram usadas como residências, ora templos e espaços públicos, e, também, supõem uma organização social diretamente ligada com questões religiosas, tendo como representantes os sacerdotes e a arte – principalmente em forma de afrescos – como elemento narrativo tanto de rituais quanto da rotina vigente naquela sociedade. ¹ A Idade do Bronze, segundo a escritora Débora Silva, é o período da história em que o homem começou a praticar metalurgia. Na Grécia antiga esse período começou em 3000 a.C.

PLANTA BAIXA DA WEST HOUSE

² Os sacerdotes, dependendo do tipo de habitação que estavam os templos e de suas vestimentas, possuíam um grau de hierarquia diferenciado uns dos outros.

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THERA

ARQUIPÉLAGO DE SANTORINI

A ARTE COMO REPRESENTAÇÃO DA VIDA DAS POPULAÇÕES Thera é atualmente conhecida como Santorini. É a mais meridional das Ilhas Cíclades, localizadas na parte sul do mar Egeu,e abrange uma área de 76, 2 km². A ilha faz parte de uma antiga cadeia vulcânica, sendo assim, a sua porção oeste é formada por vulcões. As ocupações em Thera ocorreram nas áreas de maior altitude.

ANTIGA ilha de thera

A ilha passa, ao longo de sua história, por diversas mudanças, tanto de nome, quanto de forma. Para entendê-la é necessário que se saiba, mesmo que resumidamente, sua história: De acordo com a enciclopédia Britannica (1961), as primeiras evidências de civilização encontradas datam de meados do quinto milênio antes de Cristo e aparentam ser de uma vila agrícola minoica, chamada posteriormente de Akrotiri. Essa civilização cresceu consideravelmente e, em cerca de 2000 a.C, a cidade de Akrotiri se estabeleceu como um importante ponto de comércio. O crescimento de Akrotiri tem um fim quando, em algum momento entre 1650 a.C e 1550 a.C, o vulcão Thera entra em erupção, atingindo a cidade em um dos eventos mais devastadores da história, que mudou até mesmo o formato da ilha e foi um marco na Idade do Bronze. Acredita-se que tenha tido influência no declínio da civilização minoica. Apesar da magnitude do evento, a população conseguiu fugir a tempo devido aos tremores que antecederam a erupção. A cidade ficou totalmente coberta pe-

ruínas de akrotiri

las cinzas durante séculos, o que ajudou a preservá-la. Após a erupção, a ilha ficou desabitada por cerca de dois séculos. No final do século XIII a.C, fenícios se instalaram na ilha, chamando-a de Kallísti. Um século depois, sob o comando do rei Thíras, os Dórios tomaram a ilha, nomeando-a Thíra, em homenagem ao rei. A cidade por eles fundada, no séc. IX a.C. ficou posteriormente conhecida como “Thera Antiga”. Na antiguidade, a ilha esteve sujeita à dominação de diversos povos, passou pelos Ptolomeus do Egito, por Roma e pelo Império Bizantino. De 1204 a 1579 d.C. esteve sob o domínio da República Veneziana, foi quando passou a ser chamada de Santorini, em homenagem à Santa Irene. Depois, passou pelo domínio otomano e em 1840, foi incorporada à Grécia.

sítio arqueológico de akrotiri

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Atualmente, a principal cidade da ilha é Firá, e existem também outros vilarejos, COMO Imerovigli, Firostefani, Pyrgos, Oia, Votho-


nas, Méssa e Éxo Goniá, Akrotiri e Emborío Em cada um desses períodos, a arquitetura e a arte foram marcadas por características próprias que ressaltavam o modo de vida, organização social de cada povo. No presente artigo, trataremos das mais significativas ocupações da ilha, ou seja, Akrotiri, Thera antiga e um breve comentário sobre a atual Santori. Nos achados arqueológicos de Akrotiri, cobertos pelas cinzas da erupção, encontram-se edificações com dois a três pavimentos, que possuíam complexos sistemas de instalações, mostrando uma civilização evoluída. Dentre os resquícios encontrados, a diferenciação entre o que seriam casas de pessoas abastadas, centros de cultura e centros religiosos ocorre, principalmente, pelas diferentes decorações, mobiliário e afrescos. Foram encontrados dentro das edificações jarros, ânforas, potes, utensílios de cobre e móveis. Os materiais utilizados nas construções eram oriundos da ilha, como rochas e areia de pedra pomes (abundante devido a origem vulcânica). Tais dados foram divulgados pelo site do próprio sítio arqueológico. Os afrescos foram a mais marcante manifestação artística desse povo. Eles foram encontrados em muito bom estado, devido à preservação pelas cinzas do vulcão. Estão presentes em praticamente todas as edificações, em edifícios públicos e em casa de diferentes classes sociais, variando apenas o nível de detalhamento. As pinturas retratavam procissões religiosas e deuses, bem como cenas e paisagens cotidianas. De acordo com Mark Cartwright (2012), as pinturas articulavam-se ininterruptas, sem considerar elementos como portas, vãos, quinas e janelas. Muitos quartos eram completamente cobertos por afrescos que descreviam paisagens, criando um impacto visual que transportava o morador para além do confinamento daquele cômodo. Algumas formas geométricas usadas nas pinturas, especialmente espirais, mostram sinais do uso de dispositivos mecânicos para atingir uma precisão melhor e traços mais apurados. Do mesmo modo, com o intuito de representar pessoas de forma mais fiel, as figuras seguiam uma espécie de grade ajustada de acordo com a idade ou dimensão da pessoa.

detalhe dos afrescos

antelopes and the boxing boys

fresco of the monkeys AFRESCO “SPRING”

Para executar as imagens, as paredes interiores eram cobertas com uma camada fina e lisa de argamassa e depois pintadas, quando ainda fresca (afresco) ou já seca (secco ou tempera). Os pigmentos eram derivados de minerais para proporcionar cores mais fortes, como 17


vermelho, laranja, preto, roxo, azul e branco; e os ma teriais orgânicos eram usados mais como fixadores. A Dra. Nanno Marinatos acredita que o propósito dos afrescos de Akrotiri sejam muito mais que meramente estéticos; para ela, os afrescos tinham uma conexão específica com a função do cômodo na qual eram pintados: “Para um Minoico ou Therano, as pinturas representavam uma parte de sua tradição que era compreensível e até previsível. Pode-se dizer que a arte era uma representação de valores coletivos da sociedade da qual o expectador era membro. Assim, a relação entre arte e expectador era íntima e a função das pinturas era importante: os temas eram centrados em experiências Religiosas. Retratos políticos pareciam ser inexistentes.” (MARINATOS, 1984, p.33)

Nas escavações das residências de Akrotiri, foi encontrada uma grande variedade de cerâmica com forte influência da arte minoica. Por meio desses objetos e dos materiais utilizados na sua fabricação, foi possível observar que havia uma troca entre as civilizações das ilhas vizinhas. Assim como a arte, a arquitetura de Akrotiri foi claramente influenciada pela civilização minóica. As construções possuem como plantas aparentemente confusas, salas de vários tamanhos, poços, corredores, múltiplas entradas nos cômodos ligando o interior com o exterior. Graham (1961, p. 240) acredita que “o princípio da arquitetura minóica é mais funcional que meramente estético”. Outra importante referência minoica na arquitetura é a presença do “Lustral Basin” nas residências, que ruínas de akrotiri

ruínas com artefatos em akrotiri

consiste em um pequeno quarto retangular, abaixo do nível do chão, que é alcançado por uma escada em curva. Esses ambientes são sempre muito bem trabalhados, muitas vezes com revestimento de gesso ou painéis e afrescos decorativos, há sempre uma ante-sala, também retangular. Esses espaços são interpretados como locais para rituais de iniciação, purificação e para o banho. Alguns edifícios se destacam nas escavações de Akrotiri: o Xeste 3, o Setor B, a Casa das Senhoras, a Casa Oeste e o Complexo de Delta. O Xeste 3 é um grande edifício - possui dois pavimentos e, em cada um, catorze quartos, decorados com grandiosos murais nas paredes. Percebe-se a influência minoica pela planta confusa, com quartos que se conectam por diversas portas, de maneira aparentemente desordenada. Em um dos quartos, foi encontrado o que parece ser uma “Lustral Basin” e demonstra que o Xeste 3 era utilizado para alguns rituais. O Setor B é composto de duas edificações interligadas. No primeiro pavimento do prédio oeste foi encontrada a famosa pintura dos “Antelopes and the Boxing Boys” e no prédio leste, o afresco “Fresco of the Monkeys”. A Casa das Senhoras é um edifício de dois pavimentos que se destaca pela clarabóia que foi construída ao centro. A casa recebe esse nome devido ao afresco “Ladies and the Papyrus” que foi encontrado em seu interior. A Casa Oeste é relativamente pequena e organizada. No térreo, encontram-se armazéns, oficinas, a cozinha E UM MOINHO. O PRIMEIRO PAVIMENTO É OCUPADO POR UMA CÂMARA DE TECELAGEM, UM ARMAZÉM PARA VA-

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sos de barro, um banheiro e dois quartos, lado a lado – onde foram encontrados os afrescos “Fisherman”, “Young Priestess” e “Flotilla miniature frieze”. O Xeste 4 é um edifício de três pavimentos, o maior escavado no sítio. Suas fachadas são revestidas por blocos retangulares de calcário. Afrescos adornam as paredes em torno da escada e na entrada, retratando figuras masculinas, em tamanho real, subindo as escadas em procissão. Acredita-se que ele tenha sido um prédio público, devido as suas dimensões e a excêntrica decoração. O Complexo Delta é formado por quatro casas. Um quarto do edifício mais ao leste é decorado com o afresco “Spring”. Todos os quatro edifícios renderam importantes achados, como cerâmicas importadas de Creta, pedras preciosas e objetos de bronze. A segunda ocupação da ilha de que se tem conhecimento foi em Thera antiga, uma cidade que tinha aproximadamente 2000 habitantes, 800 metros de comprimento e 150 metros de largura. As importantes construções da cidade margeavam a principal via e foram construídas com os materiais existentes na ilha, do mesmo modo que em Akrotiri. As evidências mostram que existiam dois tipos de habitações na cidade:as dos oficiais da frota, que moravam em casas peristilo, com colunatas, terraços e com uma vista privilegiada do mar e as da maior parte da população, que vivia no platô da montanha, em casas construídas em torno de pátios centrais – onde construíam cisternas. Algumas casas possuíam dois pavimentos e, dependendo do terreno, porões. Dentre os resquícios arquitetônicos mais significa-

vasos com figuras geométricas

ruínas de thera antiga

tivos encontrados no sítio arqueológico, descritos por Christian Michlits (2008), estão a Ágora, a Basílica, o Teatro, o Templo de Dionísio, as áreas sagradas e o Templo de Apolo. A Ágora é a principal praça da cidade, com 110 metros de comprimento e largura que varia entre 17 e 30m, seguindo a forma do cume da montanha. Na margem oeste da praça, encontram-se os edifícios públicos e, na margem leste, as residências foram construídas em um nível abaixo da Ágora, permitindo uma visão livre do oceano. A Basílica, também conhecida como Loggia Real, é um enorme pórtico de 46 x 10 m que se estende ao longo da Ágora. O teto é sustentado por 10 colunatas dóricas, ao longo do eixo central. Na sua parte setentrional foram colocadas estátuas da família do imperador César. Ela foi totalmente reconstruída no século I d.C.Na encosta da rua principal, na parte sudeste da Ágora, encontrava-se o Teatro, construído no século III d.C, com capacidade para 1500 pessoas, ou seja, quase toda a população da Ilha. O Templo de Dionísio é um pequeno templo do período helenístico dedicado ao Deus Dionísio. Situado na parte sul da Ágora, foi construído sobre uma plataforma feita especialmente para abrigá-lo. A fachada e o teto eram de mármore e todo o resto de pedras locais. Nas áreas sagradas, no cume da montanha, ficava a região dos santuários. Nessa região, encontram-se santuários cobertos e ao ar livre, como o Santuário de Apollo Karnio, o de Hermes e Hércules e o de Ptolomeu. O mais importante, o Santuário di Apollo Karnio data do século VI d. C, tem uma parte incrustada na rocha e outra construída sobre uma plataforma arti19


ficial que inclui um templo, uma cisterna subterrânea cujo teto se apoiava em grandes colunas monolíticas e um pequeno edifício, provavelmente a sacristia. A forma mais antiga de arte encontrada em Thera Antiga foi a cerâmica do período geométrico do século VII a.C., em que a arte feita nas olarias tinha motivos geométricos, padrões lineares simples e figuras estilizadas. Posteriormente, a arte de Thera foi influenciada pelo estilo Oriental. Em ambas as fases pode-se observara influência da arte da vizinha ilha de Naxos. Em razão do costume que os habitantes de Thera tinham de enterrar os pertences junto ao falecido, as obras e objetos foram encontrados em ótimas condições. A partir do século V a.C, a produção de cerâmica de Thera ficou estagnada. Devido a sua localização central nas Ilhas Cíclades, Thera estabeleceu-se como um importante ponto nas rotas comerciais e isso fez com que a população tivesse acesso a obras vindas das regiões vizinhas, como Ática,

Rhodes, Corinto, Ionia e diminuísse a sua produção própria. Além das cerâmicas, a escultura também foi uma forma de arte encontrada em Thera. Atualmente, a Ilha de Santorini é um importante ponto turístico na Grécia. A arquitetura, tanto da capital Firá, quanto dos outros vilarejos da ilha, é composta por ruas estreitas, características casas brancas com terraços na encosta das montanhas e igrejas com domos arredondados e pintados de azul. Os sítios arqueológicos de Akrotiri e Thera Antiga localizam-se no topo das montanhas e são abertos para a visitação. Após a análise das obras de arquitetura e artes presentes nas escavações da ilha de Thera, pode-se concluir que, apesar de influÊncias de povos e histórias diferentes, todas as civilizações demonstravam na arte seu modo de vida, sua história e suas influências. Essa característica é determinante para que se entenda a dinâmica das cidades.

mapa de thera antiga ilha de Thera atualmente

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idade mĂŠdia

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SIENA

A FUNCIONALIDADE DA CIDADE COMO DETERMINANTE DO DESENHO URBANO

para o início tardio do cristianismo na região, tendo-se dado por volta do século IV. No século V, Siena se torna sede de uma diocese cristã. O desenvolvimento da história da cidade a partir de então tem uma estreita relação com o crescimento da Igreja e com o poder do episcopado.

A cidade de Siena localiza-se na atual região da Toscana, na Itália, e é a capital da província de mesmo nome. A cidade é conhecida por sua representação religiosa, sendo sede secular de bispados italianos e por sua tradicional corrida de cavalos chamada Palio delle Contrade, que ocorre anualmente entre os meses de julho e agosto. O centro histórico de Siena foi considerado Patrimônio da humanidade em 1995.

Siena passou pelo poder dos Lombardos no século VIII, governada por Gastaldi, que tinha o apoio da população devido a sua boa relação com o bispado e a Igreja. Os novos regimes dominados pelos Lombardos trouxeram riqueza e maior importância à cidade. Com o passar dos anos, os bispados foram se tornando mais independentes e em 1199, Siena se tornou um burgo auto-governado. A grande influência da cidade como pólo cultural, artístico e político é iniciada nessa transição.

De acordo com a mitologia romana, Siena foi fundada pelos irmãos Senio e Ascanio, filhos de Remo. Os dois irmãos teriam fugido de Roma e chegado a uma antiga região no centro da Itália chamada Etruria, nela fundaram a cidade de Siena. Levaram com eles o símbolo da Loba de Roma, que se tornou também um dos símbolos da nova cidade. Ainda segundo o mito, o brasão da cidade nas cores preta e branca fazia menção às cores dos cavalos dos dois irmãos fundadores da cidade.

O esquema político instalado na época favorecia as desavenças com a cidade rival de Florença. A origem dos embates foi a busca de ambas pela supremacia econômica na região, no entanto, ao longo dos séculos o conflito teve várias facetas e foi responsável por muitas batalhas. Esse longo ciclo de rivalidade só se encerrou em 1555, quando a cidade de Siena foi tomada pelos espanhóis e Philip II, da Espanha, cedeu Siena para Cosimo I de Medeci, de Florença.

Segundo a Enciclopédia Britannica (1961) a primeira ocupação de que se tem indícios foi na antiguidade, pelos etruscos. Depois, na era de Augusto, tornou-se uma colônia Romana com função de posto militar, chamada de “Saena Julia”. Não se tem, porém, muitos resquícios de tais ocupações já que era apenas um pequeno povoado fora das principais rotas e linhas de comunicação do Império Romano. Isso também foi um fator determinante

Siena é sede das mais antigas universidades da Itália e foi a primeira cidade da Toscana que votou para a anexação ao Piemonte e à Monarquia de Vittorio Emanuele II, decisão considerada passo inicial para a unificação da Itália. (BRITANNICA, 1961) A cidade de Siena se ergueu ao topo de uma colina, a partir de um sistema etrusco de construção sobre SIENA - CASAS E CATEDRAL AO FUNDO

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morros. Construída sob esse terreno irregular, Siena não possuía um sistema de esgoto eficiente¹. O desenho da cidade era constituído de uma malha informal construída de modo a se adequar ao contorno natural do terreno. As ruas que permeavam a cidade eram estreitas e tortuosas. Fabrizio Nevola (2007) descreve que as casas eram grandes e chegam a ter até 5 pavimentos, com cômodos amplos para comportar todos os moradores e possibilitar que desenvolvam suas atividades ali mesmo. A configuração familiar na idade média estava intimamente relaciona ao modo de viver dos habitantes. As famílias não eram limitadas a laços sanguíneos, os trabalhadores industriais e domésticos eram uma espécie de parte secundária da família. Isso se deve principalmente ao fato de que não havia uma distinção entre união de trabalho e vida doméstica, uma vez que todas as atividades aconteciam no mesmo espaço.² A forma da cidade de Siena é tipicamente provinda de um burgo³ europeu: aglomerados urbanos que foram rodeados de muros defensivos. A muralha é o elemento que identifica a cidade e define o seu limite. Ainda na tradição medieval, a cidade se organiza em torno de uma praça principal. Relacionadas próximas a essa praça, se localizavam a igreja mais importante, oS mercados e outros edifícios de prestígio. Esse centro desempenhava uma função muito importante na organização medieval, a de comércio e encontros sociais. No caso da cidade em estudo, as edificações se desenvolveram em torno do centro onde se localizavam a Piazza del Campo, a Catedral de Siena, o Palazzo Pubblico e a Piazza del Mercato. Mesmo apresentando uma área urbana com desenho orgânico e aparentemente desordenado, Siena apresentava unificação característica de cidades. Todos os caminhos de Siena acabam se convergindo para a Piazza del Campo, o centro do vale onde a cidade se encontra. A praça é dividida em nove faixas adornadas em mármore, que segundo lendas, denotam as dobras do manto da Virgem Maria e também o antigo Conselho dos Nove4, grupo que antigamente governava Siena. As construções que delimitam a praça foram edificadas em forma arqueada, acompanhando a topografia do vale e configurando o espaço da praça. Para fechar, foi construído o Palazzo Pubblico, de frente para a Piazza del Campo e de costas para o vale e a Piazza del Mercatto. O diálogo entre esses

PIAZZA DEL CAMPO

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elementos urbanos era uma maneira de “incorporar a arquitetura da cidade uma relação entre a igreja, a vida pública e o comércio.” (BAKER, Geoffrey, 1989, p.122) Segundo a análise de Geoffrey Baker (1989), afim de unir a Catedral com a Piazza del Campo, criou-se um interrrupção em diagonal nos edifícios que cercam a praça. Para afirmar ainda mais esse eixo, a composição do Palazzo Pubblico conta com a Torre del Mangia, um marco visual localizado exatamente na diagonal da Catedral de Siena. Além de reforçar o diálogo, essa identidade vertical tem uma relação íntima com a praça configurada a sua frente: o relógio da torre foi colocado em uma altura confortável à vista de quem está na praça e sua estrutura simétrica reforçava a importância da vida cívica na cidade. Na fachada posterior do Palazzo, abre-se uma comunicação com o vale e com o Mercatto. É o ponto para o qual convergem os raios desenhados no piso da Praça. Essa convergência contribui na unificação da Praça. A Catedral se encontra à oeste da Piazza del Campo, em uma área mais alta dos morros. A relação dela com o restante dos elementos do centro acontece por essa gradação (Catedral de Siena- Piazza del Campo - Palazzo Pubblico - Mercatto), reforçada pelo eixo diagonal se desemboca na praça principal. As vias que fazem a conexão entre estes espaços deixam ver a cúpula e o campanário da Catedral, aumentando a tensão e expectativa de quem percorre o caminho ascendente da praça à catedral. A catedral⁵ consiste na surpresa arquitetônica que fecha o caminho. Sua fachada oeste revestida de mármore tem forma triangular, apresenta colunas, estátuas e o piso é revestido com desenhos em preto e branco. O inteCATEDRAL DE SIENA

Pialazzo Pubblico

rior da catedral abriga obras de artistas renomados, como G. Pisano e N. Pisano. O campanário da Catedral⁶, também em preto e branco, demonstra a forte relação de interdependência com a Torre del Mangia. Neste emaranhado, os espaços foram criados com a intenção de que os edifícios ali construídos pudessem ser vistos corretamente; a composição orgânica une as forças do lugar com as necessidades práticas para formar os espaços e localizar elementos arquitetônicos que simbolizem fatos especiais da vida. A hierarquia dos símbolos, puramente evidente, é tão reconhecível que se incorpora à trama urbana. (BAKER, 1989, pp. 126)

Dessa forma, é possível perceber que os edifícios públicos que adornam a cidade são peças importantes não só para a beleza e arte da cidade, mas também para forma e mobilidade urbana de Siena. A hierarquia desses símbolos é bem evidente e se incorpora sutilmente à malha de Siena. É interessante concluir, também, que o desenvolvimento urbano de Siena esteve intrinsecamente ligado a função comercial e religiosa que ela assumia na época. ¹ As pessoas jogavam seus dejetos nas próprias ruas, hábito típico da idade média. ² NEVOLA, 2007, pp.47-50 ³ Os burgos eram aglomerações de camponeses que desempenhavam trabalhos principalmente comerciais; deu origem ao nome da classe social burguesia. 4 O Conselho dos Nove gorvernou Siena no final do séc. XIII e permaneceram no poder por cerca de 70 anos. (SMITH, Timothy; STEINHOFF, Judith. 2012) 5 A Catedral de Siena é o principal polo religioso da cidade. Durante a idade Média passou por obras que pretendiam aumentá-la de tamanho, mas estas foram interrompidas devido à peste negra. 6 As cores branca e preta da catedral fazem referência ao brasão da cidade de Siena.

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CATEDRAL DE SIENA ARTE E ARQUITETURA EM SÍNTESE

A Catedral de Siena, também conhecida como Duomo de Siena (nº 1, figura 4), encontra-se na Itália, localizada na região central-sul da Toscana, na cidade de Siena. A cidade – que é Patrimônio da Humanidade pela UNESCO – é conhecida por suas ruas e praças características, suas torres, seu artesanato, suas construções, sua arte e sua história baseada na mitologia romana¹ (NEVOLA, 2007). A Catedral – que é considerada o coração da arte, história e tradição da cidade de Siena – é, além de um dos maiores centros de arte da Europa entre os séculos XIII e XVI, um dos mais importantes exemplos da arquitetura românica-gótica da Itália. Segundo tradições locais, na localização atual da Catedral de Siena havia uma antiga igreja dedicada à Maria, erguida por volta do século XI onde, anteriormente, encontrava-se um templo dedicado à Minerva. Documentos encontrados mostram que a construção foi consagrada em 1179 na

presença do então papa Alessandro III Bandinelli de Siena, juntamente com um Tratado de Paz assinado pelo imperador romano Frederick I, conhecido como Barbarossa. Porém, apenas em dezembro de 1226 que vários documentos, desde então registrados em Biccherna – uma das principais magistraturas financeiras da República de Siena na época –, foram encontrados e permitiram uma análise mais precisa a respeito da construção da Catedral como, por exemplo, pagamentos efetuados para a compra do mármore preto (na verdade, verde escuro) e branco que compõem as listras da Catedral². No período de construção da Catedral, o estilo arquitetônico se convertia do românico para o gótico, este que é caracterizado pelos seus ogivais, que foi a experiência feita nos canteiros de obras que permitiam que fossem construídos apenas os “esqueletos” das igrejas com as pilastras, contrafortes, arcos, abóbadas nervuradas, tudo sustentando a estrutura deixando a fachada livre para o posicionamento de grandes vitrais – obras de Duccio di Buoninsegna, por exemplo – característicos da época, sintetizando arte e arquitetura na Catedral (GOITIA, 1995, p. 55).

vista dos arcos ogivais

VISTA DA CÚPULA POR DENTRO

Ainda que com algumas características românicas, a Catedral de Siena pertence, majoritariamente, ao estilo gótico e pode-se conferir essa afirmação por meio das prin cipais características da Catedral como, por exemplo, as pilastras – que eram compostas por várias colunas finas e altas agrupadas, trazendo mais força e elasticidade –, as paredes perfuradas por arcos e janelas, as aberturas – portas e janelas – e os tetos são encimados e construídos no formato de ogivais. Os tetos abobadados formam dois arcos que se cruzam em um ângulo reto e atin25


gem uma altura muito maior que a dos arcos românicos, trazendo a ideia de que as igrejas românicas eram presas à terra e as góticas – leves e altas – possuíam a alusão de estarem mais perto do Céu (ENCYCLOPEDIA BRITANNICA). A fachada principal (figura 5) da igreja foi construída em dois momentos diferentes, a parte inferior foi feita no final do século XIII por Giane Pisano – que também executou esculturas como os Profetas, Profetisas e Filósofos que, antes de serem substituídas por cópias, adornavam a fachada (OPERA) –, caracterizada pela maior simplicidade proveniente do estilo românico. Já a parte superior foi projetada em pleno estilo gótico no início do século XIV por Camaino di Crescentino; ela é notavelmente mais detalhada e composta por elementos verticais que não coincidem com a divisão das portas de entrada por serem de artistas diferentes em épocas diferentes (BAKER, 2006). A típica catedral medieval se destaca na cidade com seu volume e altura, caracterizando a religião católica e o poder e riqueza do clero³. A Duomo – que

FIGURA 4: ILUSTRAÇÃO INFORMATIVA

moso Púlpito de mármore, construído de 1265 a 1268, localizado no transepto esquerdo da Catedral (OPERA). Além de Pisano, diversos escultores notáveis de épocas distintas executaram suas obras na Catedral como, por exemplo, Donatello – autor da estátua de João Batista localizada na capela que possui o mesmo nome da obra –, Michelangelo – que esculpiu São Paulo, São Pedro, São Pio e Santo Agostinho destinados ao altar 26

tinha a cúpula da igreja na parte central, no cruzamento dos quatro braços em planta, trazendo o plano cruciforme e a nave central mais alongada – foi reformado em 1339 com a decisão de ampliá-lo para competir com a Catedral de Firenze – também na Itália. Porém, devido a peste negra que se alastrou pela cidade em 1348, as construções foram interrompidas e continuaram inacabadas (figura 6), sendo popularmente denominada Facciatone (nº 3, figura 3), que significa “grande fachada” em italiano e é uma das atrações da Catedral atualmente. Assim, a Catedral ficou com a cúpula descentralizada tendo uma característica diferente de sua época (figura 7) (CAMPANARO, 2015). Caracterizada por sua beleza e monumentalidade, a Catedral de Siena possui influências de vários períodos e de diversos artistas que, ao longo dos anos, foram incorporando suas obras junto a Catedral. A primeira menção de Nicola Pisano – um dos artistas mais inovadores do século XIII e um dos maiores contribuintes para o projeto da Catedral de Siena – foi a partir de um pagamento registrado em 1259. Ele foi autor do faPLANTA BAIXA DA CATEDRAL COM “DUOMO NOVO”

da Biblioteca Piccolomini – Gian Lorenzo Bernini – autor da escultura de Maria Magdalena e São Jerônimo, localizados na Capella del Voto –, Tino de Camaiano, Urbano da Cortona, Antonio Federighi, Lorenzo di Pietro – conhecido como Vecchietta –, Giovanni di Stefano, Francesco di Giorgio Martini, Domenico Beccafumi, entre outros (OPERA) e os 171 bustos de papas desde São Pedro até Lúcio III encontrados ao longo da nave central e de 36 imperadores não identificados (CAMPANARO, 2015). 26


Apesar de várias obras atualmente estarem ou no Museu dell’Opera (nº 2, figura 4) ou espalhadas pela Itália e pelo mundo – sendo substituídas por cópias –, a Catedral ainda conta com muitas esculturas e pinturas originais feitas em tela, madeira e afrescos, além de seu chão característico (OPERA). O revestimento do chão é considerado um dos mais adornados da Itália e uma das obras-primas pertencentes à Catedral, visto que seus 56 painéis – feitos nas técnicas de graffito (buracos e cortes em mármore preenchidos de piche) e entalhe em mármore –, onde a maioria possui formato retangular ou hexagonal, contou com a contribuição de aproximadamente 40 artistas e artesãos entre os séculos XIV e XVI. Os desenhos possuem cenas do Antigo Testamento, alegorias e virtudes que foram primeiramente feitos em graffito, depois de entalhe em mármore que, após o desenvolvimento de ambas, resultou na técnica chamada de chiaroescuro – técnica que utiliza o contraste de claro e escuro como elemento principal da composição (PODERE SANTA PIA). Os painéis mais conhecidos são o Ruota della Fortuna – o mais antigo instalado em 1372 e restaurado em 1864 –, o painel que representa a Loba e os Gêmeos – símbolo da cidade de Siena, datado de 1373 e restaurado, também, em 1864 – e o painel Temperanza, Prudenza, Giustizia e Fortezza – datado de 1406, foi uma forma de pagamento feita ao artista Marchese d’Adamo e seus colegas. O primeiro artista reconhecido a trabalhar nos painéis foi Domenico di Niccolò dei Cori – autor dos painéis Story of King David, David the Psalmist e David and Goliath – e seu sucessor foi Paolo di Martino, além dos autores Domeni-

CURIOSIDADE: O CHÃO FICA DESCOBERTO POR APENAS 6 OU 10 SEMANAS POR ANO E PERMANECE COBERTO A FIM DE CONSERVÁ-LO.

MAPA COM PAINÉIS E O FAMOSO PAINEL DA LOBA

co di Bartolo, Pietro di Tommaso del Minella, Pinturicchio, Domenico Beccafumi, entre outros (PODERE SANTA PIA). A cripta (nº 4, figura 4) é a parte da catedral que foi descoberta há menos de 20 anos e é considerada um grande acervo arqueológico que revela estruturas arquitetônicas do século XII, uma delas são as evidências de alvenaria de pedra. No século XIII, a cripta foi ampliada e nela foram pintados afrescos – que fornecem informações sobre a Escola de Siena de pintura da época –, onde as disposições das figuras na cripta – dispostas na parte superior registrando episódios do Antigo Testamento e na parte inferior do Novo Testamento – se alinham com as colunas, pilastras, capitéis e cornijas. No século XIV, a cripta foi reformada após a construção do Batistério e nela foram incorporadas estruturas de tijolos e janelas ogivais. Já o Batistério de São João Batista (nº 5, figura 4) foi construído atrás da Duomo, pelo mestre Camaino di Crescentino, possui forma retangular e é dividida em uma nave central e duas laterais, os vãos das naves formam abóbadas e nelas estão pintados os afrescos que representam o ciclo religioso da Renascença onde pintores como CRIPTA POR DENTRO

PÚLPITO (PISANO)

SÃO JÕAO BATISTA (DONATELLO)

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Agostino di Marsiglio, Lorenzo di Pietro e Vecchietta assinaram obras nas paredes. Este batistério é lembrado principalmente pela Pia Batismal – feita por Jacopo della Quercia, Lorenzo Ghiberti e Donatello – pois, reconta com uma “biografia esculpida” em seis painéis de bronze a história de João Batista (OPERA).

influências de épocas e estilos diferentes como, por exemplo, o românico, o gótico e o renascentista, e que deixaram marcado – através de seus trabalhos – as características de cada momento histórico, nos permitindo uma análise ampla da arte e da arquitetura ao longo de séculos de MUSEU DELL’OPERA

Grandes exemplos de espaços onde a arquitetura e a arte são sintetizadas são a Biblioteca Piccolomini – construída ao longo da parte esquerda da Catedral – e o Museu dell’Opera – localizado na parte da ampliação chamada “Duomo Novo”. A Biblioteca foi construída a partir de um contrato entre o sobrinho do papa Pio II e o artista Pinturicchio para abrigar, além de um acervo dos livros de Pio II e códices de Tedeschini e Giacomo, uma série de afrescos BATISTÉRIO E PIA BATISMAL AO CENTRO

BIBLIOTECA PICCOLOMINI

que recobrem a estrutura da Biblioteca e que retratam uma cronologia da vida de Pio II, a posterior coroação de Pio III, cenas mitológicas e cenas religiosas de várias espécies que são consideradas uma “biografia pintada”. Já o Museu dell’Opera – construído em 1339 e fundado em 1869 devido à grande quantidade de acervo disponível – responsabiliza-se pela exibição de obras de valor da própria Catedral que foram substituídas por cópias na Duomo ao longo dos séculos e as obras originais permanecem conservadas no museu – por exemplo vitrais⁴ e esculturas originais da fachada e do interior da Catedral feitos por Giovanni Pisano, Donatello, entre outros artistas (OPERA). Em conclusão, a Catedral de Siena é, por si só, um acervo arquitetônico e artístico que reúne obras de variados artistas – famosos internacional e regionalmente – que sofreram 28

mudanças. É possível perceber, também, que a arquitetura presente na Catedral se junta com suas obras de arte e sintetizam um local onde a diferenciação entre o que é arquitetura e o que é arte torna-se complexo, tendo em vista este caráter artístico heterogêneo presente na Duomo.

¹ Siena, segundo a mitologia romana, foi fundada por Senius e Aschius, filhos de Remo – um dos gêmeos que fundou a cidade de Roma e foi criado e amamentado por uma loba – e, por isso, o símbolo da cidade é a imagem da Loba e os Gêmeos e o nome é uma homenagem à Senius (NEVOLA, 2007). ² Acordando com o típico gosto românico da região da Toscana na época e representando as cores do brasão da cidade que remetem aos cavalos preto e branco dos fundadores da cidade Senius e Aschius (NEVOLA, 2007). ³ Texto de Peter F. Anson – The New Library of Catholic Knowledge e Jean Lassus, professor de Sorbonne, Paris e Deptº de Teologia da PUC – RJ. ⁴ O vitral mais importante da Catedral foi executado por Duccio di Buoninsegna – recentemente deslocado para o Museu dell’Opera e substituído por uma cópia –, porém, outros artistas como Azzolino de Cerretani, Pastorino de Pastorini, Domenico Ghirlandaio e Ulisse de Matteis também contribuíram para a execução de vitrais na Catedral.


ENTREVISTA

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ENTREVISTA COM FRANCISCO LEITÃO

arquiteto e urbanista pela Universidade de Brasília (1987), com especialização em City Planning pela Japan International Cooperation Agency (1998) E mestre em arquitetura pela Universidade de Brasília (2003). Atualmente é membro do quadro técnico da Secretaria de Desenvolvimento do Distrito Federal e professor nas cadeiras de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo no Centro Universitário de Brasília (UNICEUB). VISITOU A CIDADE DE SIENA, NA ITÁLIA, E CONTOU-NOS UM POUCO MAIS SOBRE A ARQUITETURA, ARTE E DESENHO URBANO DA MESMA.

1) Como é a dinâmica urbana atual na cidade medieval de Siena? “Sobre a dinâmica atual, Siena está muito bem preservada. A cidade não se expandiu muito, passando por um processo de adensamento 'interno', com pouca expansão da malha urbana. Percebe-se a importância da atividade turística, pois toda a Toscana é um destino internacionalmente famoso, beneficiando-se da proximidade de Florença. Outra atividade muito importante que garante uma vitalidade urbana são as universidades. Como outras cidades históricas (por exemplo, nossa Ouro Preto), Siena é um centro universitário importante, com milhares de alunos da Itália e de toda a Europa. É um tipo de aproveitamento econômico coerente e saudável para a preservação, pois não compromete as construções históricas que são reformadas como repúblicas ou alojamentos estudantis. Isso dá à cidade um aspecto mais "autêntico" que outras cidades eminentemente turísticas que acabam se tornando quase um 'parque temático', como Florença e Barcelona.” 2) Como se desenvolveu a malha urbana de Siena desde a Idade Média até os dias atuais? “Apesar de ser frequentemente apontada como um modelo da cidade medieval de crescimento orgânico, espontâneo, Siena já demonstra alguns aspectos urbanos modernizantes. A separação entre Igreja e Estado é notável na célebre Piazza del Campo, com sua característica forma em leque, em que a forma dos edifícios são obrigatoriamente adaptadas à forma da praça, expressando a submissão do interesse privado ao interesse da coletividade. Sua localização não aconteceu ao acaso, mas foi resultado de criteriosa escolha, na intersecção das três comunidades pré-existentes, uma delas a cidadela episcopal com a Catedral. Hoje está muito bem preservada, cresceu muito pouco horizontalmente, principalmente por meio de bairros residenciais com prédios de baixa altura que respeitam a escala local, ao longo da estrada para Florença.” 30

CIDADE DE SIENA

3) Qual é a importância da Igreja e dos Bispados para a cidade nos dias de hoje? “Não me sinto tão à vontade para responder essa pergunta. Do ponto de vista da paisagem, a Catedral ainda domina a cena urbana, sendo o principal marco visual. Acredito que boa parte do turismo seja motivada por ela. Outro aspecto importante é que as paróquias é que determinam as diversas contradas, ou bairros, que a compõem, mantendo a identidade de cada uma das comunidades. Essa identidade é representada no famoso Palio de Siena, uma festa/corrida de cavalos em que cada bairro é representado, com muita rivalidade e brio, cada um com seus símbolos e cores. É como se a cidade dissesse: há uma entidade maior que nos representa (a Cidade-Estado), mas cada comunidade mantém sua identidade e tradições.”


VISTA AÉREA DA CIDADE DE SIENA

4) Quais são as características góticas presentes na Catedral de Siena e qual a sensação que elas passam para os visitantes? “Apesar de apresentar as características fundamentais da arquitetura religiosa gótica, como a planta em cruz latina, vitrais, rosácea, ênfase na verticalidade dos elementos estruturais, arcos ogivais, etc., a Catedral de Siena apresenta, também, aspectos mais evoluídos em direção ao renascimento. Ela não apresenta os arcobotantes - elemento estrutural externo às paredes, para onde são transferidos os empuxos da carga da cobertura e que permitem paredes mais delgadas e vazadas por vitrais. Não sei qual foi a solução estrutural que possibilitou dispensar os arcobotantes. Se observarmos sua fachada, ela apresenta proporções mais próximas das da arquitetura clássica, portanto menos verticalizadas. Compare sua fachada com a de Santa Maria del Fiore, em Florença, por exemplo, e perceberá uma proporção mais próxima ao retângulo áurea, mais equilibrada e harmônica do ponto de vista geométrico.“

5) De que forma você percebe a correlação entre arte e arquitetura na Catedral? “A relação entre arte e arquitetura no Duomo de Siena é de inteira coerência e complementaridade. A tal ponto em que os elementos artísticos não parecem ser inseridos posteriormente, mas parecem ter nascido juntamente com a concepção arquitetônica. A esses avanços arquitetônicos em direção ao Renascimento e, portanto, a ter o homem como parâmetro e referência para as artes em lugar de Deus, corresponde uma postura menos estática dos elementos escultóricos e pictóricos, com maior movimentação nas vestimentas e gestos das figuras.“

BREVE COMENTÁRIO “Espero ter sido útil. Na verdade, em Siena me chamou muito mais a atenção a relação da Catedral com o espaço urbano do que com as obras artísticas. É muito impressionante perceber como a igreja naquele momento era um grande espaço público. Tem uma parte dela que não foi terminada, então se vê bem no meio da praça algumas enormes colunas que comporiam a expansão da Catedral. Ou seja, elas eram como enormes praças cobertas. Naquele momento a religião católica era predominante, então era o espaço de todos. Somente após essa visita é que tive essa compreensão.” 31


resenha de filme

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O ESCORPIÃO REI

ANÁLISE SOBRE A CULTURA E A ARQUITETURA MESOPOTÂMICA RETRATADA NO FILME De Chuck Russel (2002), o filme “ O Escorpião Rei” acontece em uma cidade chamada Gomorra, na área da antiga Mesopotâmia por volta de 2.000 a. C. Gomorra era governada pelo tirano Memnon. Esse governante contava com a ajuda da feiticeira Cassandra para traçar planos de conquista das tribos próximas. Como resposta, as tribos aliadas se juntam para combater Memnon. Entra em cena o mercenário Mathayus, um acádio treinado com a arte de matar. Liderando as tribos, o guerreiro invade o deserto para combater Memnon. Lutas violentas e alianças inesperadas completam o enredo do filme.

INFORMAÇÕES: Chuck Russell é um escritor, produtor e diretor de cinema norte-americano. Seu repertório conta com os filmes “O Máskara” – 1994 e “Colateral” – 2004.

ANÁLISE 1: As construções tendiam à formas geométricas e eram geralmente altas e grandiosas.

ANÁLISE 2: Fugiam de formas orgânicas. Eram feitas, BASICAMENTE, de pedras e tijolos de barro.

ANÁLISE 3: Aplicação do Código de Hamurabi, o qual dizia que aqueles que furtam terão sua mão decepada.

Lançamento: 26 de abril de 2002 (1h30min) Dirigido por: Chuck Russell Com: Dwayne Johnson, Kelly Hu, Michael Clarke Duncan e outros. Gênero: Ação, Aventura Nacionalidade: EUA, Bélgica, Alemanha

ANÁLISE 4: Os palácios eram luxuosos e com muitos espaços abertos. 33


BIBLIOGRAFIA e links úteis

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ARTIGOS DIAS, Victória; ZAMBONI, Alessandra. Esculturas de bronze da Mesopotâmia: técnicas e temas. Brasília: 2015. DIAS, Victória; ZAMBONI, Alessandra. Akrotiri: organização da sociedade na Idade do Bronze. Brasília: 2015. DIAS, Victória; ZAMBONI, Alessandra. Catedral de Siena: Arte e Arquitetura em síntese. Brasília: 2015. BRENNER, Júlia; PASSOS, Sophia. Thera: a arte como representação da vida das populações. Brasília: 2015. BRENNER, Júlia; PASSOS, Sophia. Babilônia: a formação da cidade. Brasília: 2015. BRENNER, Júlia; PASSOS, Sophia. Siena: a funcionalidade da cidade como determinante do desenho urbano. Brasília: 2015.

SLIDES DIAS, Victória; ZAMBONI, Alessandra. Arte na Mesopotâmia: Esculturas. 29 set. 2015. 8 slides. DIAS, Victória; ZAMBONI, Alessandra. Akrotiri: organização da sociedade na Idade do Bronze. 10 nov. 2015. 8 slides. DIAS, Victória; ZAMBONI, Alessandra. Catedral de Siena: Arte e Arquitetura em síntese. 29 nov. 2015. 12 slides. BRENNER, Júlia; PASSOS, Sophia. A cidade da Babilônia. 29 set. 2015. 9 slides. BRENNER, Júlia; PASSOS, Sophia. Arte e Arquitetura em Thera. 10 nov. 2015. 13 slides. BRENNER, Júlia; PASSOS, Sophia. Cidade de Siena: a função da cidade e seu traçado urbano. 29 nov. 2015. 10 slides. 35


OUTRAS IMAGENS http://3.bp.blogspot.com/-BSz6IrWN03k/Twy4LKtCCoI/AAAAAAAAAec/2J7KGMKqxgQ/ s1600/1.jpg http://conradopaisagismo.com.br/wp-content/uploads/2014/10/3.jpg http://d1vmp8zzttzftq.cloudfront.net/wp-content/uploads/2012/09/view-of-the-italian-hill-town-of-siena-italy-under-the-glow-of-the-setting-sun-1600x1066.jpg https://cronologiadabiblia.files.wordpress.com/2010/12/torre-de-babel-bruegel.jpg http://4.bp.blogspot.com/-JEZGUO1wpMA/Tn-wHdJQH8I/AAAAAAAAAog/wF3Lra56eoM/s1600/DSC_0028.jpg http://www.britishmuseum.org/images/schools_mesopotamia_304x304.jpg http://pre02.deviantart.net/da54/th/pre/i/2013/329/b/e/ancient_mesopotamia_by_jbrown67-d61mbsq.jpg http://br.web.img3.acsta.net/medias/nmedia/18/87/17/84/19897322.jpg http://www.louvre.fr/sites/default/files/imagecache/940x768/medias/medias_images/images/ louvre-code-hammurabi-roi-babylone_1.jpg http://www.greece-is.com/wp-content/uploads/2015/09/NEW_SANTO_ANCIENT-THERA_02.jpg http://mmtaylor.net/Holiday2000/Santorini/Santorini_pix/A.Thera.mp.jpg

LINKS ÚTEIS PARA ACESSAR A LISTA DE LINKS ÚTEIS (SITES OFICIAIS E CONFIÁVEIS) É PRECISO TER INSTALADO EM SEU DISPOSITIVO MÓVEL ALGUM APLICATIVO QUE SEJA CAPAZ DE LER O CÓDIGO QR AO LADO. USO DO APP: POSICIONE SUA CÂMERA PARALELA AO CÓDIGO QR E AGUARDE O PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO. 36





universidade de brasília - história da arte i - grupo 4 ALESSANDRA ZAMBONI 15/0074395, JÚLIA BRENNER 15/0013671, SOPHIA PASSOS 15/0021909 E VICTÓRIA DIAS 15/0023146

A.H.A.


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