TCC - Caderno 2

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Caderno 2

Jornal de Inverno Festival de Inverno da UFPR em Antonina

Segunda-feira, 30 de Outubro de 2017

Referencial Teórico pág. 6 Design Editorial

Tipos de Editorial pág. 21

Linguagem do pág. 29 Jornal & do Catálgo

Do papel ao editorial Victor Uchoa TCC | UPFR #distribuição exclusiva


Jornal de Inverno

Caderno 2 Do papel ao editorial

Expediente REDAÇÃO E AUTORIA Victor Uchoa ORIENTAÇÃO José Humberto Boguszewski BANCA EXAMINADORA Marcos Beccari & Stephania Paddovani REVISÃO Camila Villanova COLABORADORES Camila Villanova Henrique Lindner Luis Naza Ronaldo Corrêa AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Genilce dos Reis Damaceno Uchoa & José de Castro Uchoa Camila Villanova Everson Paim Patricia Salles Romilda Aparecida Contato victor.reis.uchoa@gmail.com Tiragem desta edição 4 exemplares Impressão Tecnicópias

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Jornal de Inverno – Festival de Inverno da UFPR em Antonina é uma publicação independente fictícia para o Trabalho de Conclusão de Curso de Design Gráfico pela Universidade Federal do Paraná. Ano 2017


TCC | UFPR Segunda-feira, 30 de Outurbo de 2017

RESUMO E

m 1991 nascia a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC) & O Festival de Inverno da UFPR (em Antonina). De periodicidade anual, mais de 25 festivais foram realizados e para sua divulgação, mais de 25 cartazes foram produzidos desde 1991 até 2017, principal peça gráfica desse e de tantos outros eventos. Se por um lado temos um evento com uma duração tão curta de uma semana, porém presente há mais de 25 anos, do outro temos cartazes que duram tão pouco tempo quanto; não se rasga, picota uma memória como se rasgam cartazes fixado nas paredes após o fim do evento. Em 2014 eu pude trabalhar na PROEC e para o Festival, onde entrei em contato com esses cartazes arquivados, sem nenhuma catalogação, registro de autores. Este projeto tem como objetivo produzir uma pequena coleção dos 25 cartazes do Festival de Inverno da UFPR em Antonina e reflexões sobre a composição dessas peças gráficas que, tal como evento, tem uma vida-útil curta. Em forma de narrativa, este projeto apresenta a construção de um catálogo-jornal, que faz uso do efêmero conceito principal. Ainda, este projeto é também minha despedida da PROEC, dos seus servidores e servidoras que realizam esse o Festival de Inverno da UFPR há mais de 25 anos.

ABSTRACT

T

he Pro-Rectory of Extension and

Festival, where I got in touch with these

Culture (PROEC) & The Winter

archived posters, without any cataloging,

Festival of UFPR were borned in

authors registration. This project aims to

1991. More than 25 festivals have been

produce a small collection of the 25 pos-

held annually and more than 25 posters

ters of The Winter Festival of UFPR in

have been produced from 1991 to 2017,

Antonina and reflections about the com-

the main graphic piece of this and many

position of these graphic pieces that, as

other events. If on the one hand we have

an event, have a short shelf life. In the

an event of such short duration of a week,

form of a narrative, this project presents

but present for more than 25 years, on

the construction of a newspaper catalog,

the other hand we have posters that last

which makes use of the ephemeral as a

as little time as; it does not rip, it chucks a

main concept. Also, this project is also my

memory as if ripping posters fixed on the

farewell to PROEC, its servers and servers

walls after the end of the event. In 2014

that hold this Winter Festival of UFPR for

I was able to work at PROEC and for the

more than 25 years.

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Caderno 2 Do papel ao editorial

Índice 6

REFERÊNCIAL TERÓCIO

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História Concisa do Livro & da tipografia

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Elementos do Design Editorial

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Formato

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Tipografia

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Tipografia Materialidade do Design Editorial Materialidade do Editorial

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Tipos de Capa

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Tipos de Papel


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21 21 22 23 24 25 26 27

DESIGN EDITORIAL — TIPOS DE EDITORIAL Livro Revista Livro ilustrado Álbum Fotográfico Livro de Artista/Experimental Jornal Catálogo

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UM EDITORIAL PARA O FESTIVALEDITORIAL

29

LINGUAGEM DO JORNAL E DO CATÁLOGO

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Jornal – Elementos da Página Impressa

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Jornal – Materialidade e Visualidade

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Referencial N Teórico Para falar do design editorial é preciso entender algumas questões históricas, entender seus estilos e suas linguagens, aspectos físicos (papel, costura, encadernação, formato) e visuais (tipografia, grid, uso da imagem).

São assuntos que procuro

abordar nas páginas a seguir, a partir de uma contextualização histórica, visualidade e materilidade do livro, e tipos de editoriais. Ao final, uma conceituação do projeto e um aprofundamento nos editorais que me servirão de base para elaborar o catálogo: o jornal e sua linguagem; e o catálogo e uma buscar por uma definição.

HISTÓRIA CONCISA DO LIVRO E DA TIPOGRAFIA Livro: 1. coleção de folhas de papel, impressas ou não, reunidas em cadernos cujos dorsos são unidos por meio de cola, costura etc., formando um volume que se recobre com capa resistente. (LIVRO, 2017)T

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o entanto, o que oculta-se nesta definição são suas atribuições mais importante para a história: a pregnância do registro, de um processo e do pensamento acerca da produção, detalhes de um tempo não vivido, ou sua capacidade de nos fazer imergir através da tipologia, ou do cheiro das folhas de papel (velhas ou novas). Reside na própria construção de cada livro o registro de uma história ímpar.

A história do livro é tão longa

quanto a sua complexidade, seja ela histórica ou de produção e (re)significação do próprio objeto. Mistura-se com a história da humanidade, recaindo sobre a história da escrita, dos processos de impressão, da tecnologia e seus avanços. É talvez o objeto de criação e estudo mais antigo na área do design, ainda que o conceito de design seja bem recente se comparado à origem do livro, há milhares de anos. O primeiro registro de utilização de símbolos como código linguístico foi encontrado na civilização suméria por volta de 3100 aC, isto é, o primeiro registro da escrita. Leva o nome de escrita cuneiforme por ser talhados em tabuletas de barro com auxílio de uma ferramenta chamada cunha, que produzia sulcos nessas tabuas. Tanto escrita quanto suporte de impressão passam por diversas mudanças históricas até surgir no egito um prospecto do que entendemos


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por papel nos dias de hoje, o papiro (papirus). Sintetizam-se esses códigos, criam-se novos, recebem influência de outras culturas e novamente modificam esses códigos...

Pedra com escrita suméria [fonte: idiomaseculturas.com]

No entanto, é preciso avançar alguns séculos para que a História alcance e contemple a estrutura da tipografia e do livro como entendemos hoje. Uma estrutura simplificada do que conhecemos hoje por livro surge no códice romano, por volta do tempo de Cristo, que ao reunir algumas pou-

Página egípcia do Livro dos Mortos e sua escrita [fonte: epubr.blogspot]

cas folhas, dobrá-las e costurá-las, apresentou vantagens muito maiores que as do papiro, tanto no tempo e facilidade de produção quanto armazenamento (MEGGS, P. 2000). Mas é na produção dos monges copistas durante a idade média que o livro ganha características que se consolidaram. Em um exímio e detalhado processo manual transcreviam livros junto à gravuras em folhas impressas separadamente e que depois eram costuradas e davam forma ao livro. O processo de produção de um livro durante a idade média era extremamente longo e demorado, uma vez que todo o texto era feito com pena caligráfica. Ao longo dos séculos, a leitura e escrita não eram mais reservadas as camadas do clero, sendo também de uma classe média emergente e de estudantes universitários (MEGGS, P. 2000). Essa procura e desejo pelo livro,

Ilustrações no livro The Hours of Jeanne d'Evreux, Queen of France (século 14) do artista francês Jean Pucelle [fonte: Metropolitan Museum]

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Pintura do processo de construção de um livro por monges copistas [fonte: Ensinar História]

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somados a novas técnicas asiáticas de impressão chegadas à Europa tornou a mecanização do processo de impressão do livro mais viável. Surge, em paralelo, uma nova forma de sistematizar a impressão da escrita nos livros: os tipos móveis. Surgidos na Ásia, por possuírem incontáveis caracteres chineses o processo se tornava difícil (LUPTON, E. 2000). A busca por uma mecanização dos tipos móveis para a impressão chegou ao fim quando Johan Gensfleisch zur Landen zum Guttenberg apresenta sua prensa de tipos móveis tornando a produção do livro mais rápida, econômica, em maiores tiragens, sendo aprimorada por Ottmar Mergenthaler na prensa de linotipos. Ainda assim, algumas práticas dos monges se mantiveram, como as capitulares em formas de iluminuras, manualmente detalhadas. É importante considerar que esses livros pós-prensa-de-Guttenberg eram impressos em letras góticas, e durante o renascimento escritores e acadêmicos rejeitam o uso dessa tipografia na escrita de livros e passam a procurar novas de fontes com mais clareza. Durante o renascimento muitas famílias tipográficas foram produzidas e dadas à elas o nome de seus tipógrafos: Garamond, Palatino, Bembo, entre outros (LUPTON, E. 2000); e a tradição se manteve nos séculos seguintes ao Renascimento.

Modelo da máquina de impressão inventada por Gutenberg no século 15 [fonte: Brasil Escola]

A tipografia ao longo dos séculos foi variando, apresentando mudanças nos seus eixos, nas serifas e em toda anatomia da letra. Esses tipos estão ligados ao seu período histórico, tanto quanto técnica (tipos renascentistas apresentam inclinação no eixo por serem escritas com penas) quanto por conceito (a negação da serifa em detrimento da legibilidade, pelos modernistas suíços). Ao longo da história os livros adquirem novas camadas de sofisticação: adicionam-se títulos às capas e posteriormente ilustrações; experimentalismo da composição da mancha gráfica/textual. O livro também é usado como suporte de novos meios de impressão com o

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Caderno 2 Do papel ao editorial uso de novas famílias tipográficas ou com a criação de novos tipos além do surgimento de outras técnicas, como a fotografia, também acrescenta maior complexidade aos livros. A criação do livro (aqui me referindo ao livro como todo e qualquer editorial) é um processo não cíclico, mas helicoidal no sentido de retomar processos antigos constantemente utilizando novas tecnologias e/ou abordagens diferentes, ora por necessidade de estudo de práticas já obsoletas, experimentação plástica ou mercadológica.

ELEMENTOS DO DESIGN EDITORIAL

U

m livro é uma (des)coordenação e (des) construção. É na construção de um livro, de um grid, que são feitas as reflexões do designer (SAMARA, T. 2007. p. 24), e são nessas reflexões que é permitido ao designer achar sua gramática. A própria construção do livro depende de sua abordagem em relação ao conteúdo. Haslam (2006) classifica a construção em 4 grandes abordagens: pela documentação,

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pela análise, pela expressão e/ou pelo conceito, sendo elas co-existentes dentro de um editorial. Das 4, a mais presente em todos é a abordagem pela documentação, onde um pensamento ganha forma e as ideias e memórias sobrevivem ao tempo e aos discursos humanos (HASLAM 2006 pg 24). Outra abordagem é pela análise onde esses editoriais procuram ajudar a estabelecer relações entre os dados apresentados ao leitor; seu conte-

údo quebrado e separado em unidades, objetifica-se em dar ordem ao pensamento, assim entendendo cada parte, supõe-se entender o todo. A terceira, é pela expressão que busca a expressividade do designer e da linguagem, do visceral ao passional. Por último, o conceito como abordagem, tem em toda sua linguagem a "grande ideia" central do projeto, um “(...) conceito–base que retém em si a messagem.” (HASLAM, 2006 pg. 27); papel, tipografia, diagramação, numeração,

editorial e muitas vezes para priorizar o conteúdo algumas imagens apresentam dimensões menores do que deveriam. É o que os autores Hans Peter Willberg e Friedrich Forssman vão chamar de Ditadura da Tipografia. Para os autores “as proporções da composição devem ser adaptadas aos formatos e às proporções das imagens e não o contrário” (WILLBERG, H.P; FORSSMAN, F. 2007 p.68). Alguns editoriais são construídos de maneira em que texto e imagem sejam entendidos e interpretados

elementos da página que relacionam o editorial ao seu conceito, questões pensadas e inseridas, em detalhes ou de forma exagerada nos editoriais.

como um só. Outros, pela construção do grid, conseguem pontuar claramente os espaços restritos para texto e para imagem; recursos posteriores aos suíços, os quais tiveram grande contribuição na criação desse tipo de sistema visual, mas que ao longo dos anos foram se desconstruindo e se (re)adequando à diferentes estéticas.

Editoriais como jornal podem apresentar um ritmo estável pela largura constante das colunas, assim como um romance que geralmente apresenta uma única coluna e poucos elementos além das aberturas de capítulos. Alguns editoriais textuais que se apoiam em imagens são projetados para uma sequência de leitura interrompida por imagens que contribuem no entendimento do texto. Outros editoriais de natureza textual apresentam múltiplas narrativas nas quais o conteúdo de maior relevância se alterna em uma coluna maior e outra coluna menor, dando ritmo ao editorial. Já livros orientados pela imagem podem influenciar nas dimensões e acabamentos do editorial para valorizá-las. O equilíbrio entre imagem e texto é um ponto importante e delicado na construção de um

Ainda assim, a construção de um editorial não se resume à gramaturas de papeis, costura e acabamentos; há também que se preocupar com princípios do design e como as relações entre tipografia × texto, formato × grid, cor × papel, por exemplo, contribuem na leitura. Em uma visão macro dos elementos de uma página, procuro trazer os que considero mais sensíveis e importantes: formato, grid, e tipografia; ainda que esses elementos são inteiramente relacionáveis, considero necessário separá-los para entendê-los.


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Formato

Papéis Formato padrão de gráficas [fonte: Poligraf Editora]

C

omumente confundindo com as dimensões físicas (altura e largura), o formato está relacionado as proporções da página, isso é, um editorial de tamanho pequeno pode compartilhar do mesmo formato de um editorial de grande tamanho (HASLAM, 2006. pg 30); a exemplo: uma folha de formato A5 tem o mesmo formato que uma A4, e ambas tem o mesmo formato que as folhas A3, A2, A1 e A0. Os formatos são três: retrato, onde predomina a verticalidade do editorial; paisagem, onde a largura é a principal característica; e o formato quadrado. Alguns formatos, como Jan Tschichold observou ao longo dos seus estudos sobre o formato, utilizam proporções e razões matemáticas, como a Série Fibonacci e a Proporção Áurea (φ) no formato da página. Outros formatos são propostos a partir da razão áurea como o sistema modulador de Le Corbusier, retân-

desenvolver do projeto como espaçamento, entrelinha, peso, altura-x, etc. Em outros, o formato pode ser escolhido de maneira a se adequar ao conteúdo, como o formato de um álbum de fotografia que segue a orientação das fotos (HASLAM, 2000. pg 39)

gulos racionais e irracionais; outros estão relacionados com o tamanho dos papeis disponíveis no mercado, como é o caso do Formato Imperial e o já citado Formato A. Em alguns casos, o designer pode ser indiferente à essas questões e propor o formato a partir dos elementos internos da página, adequando sempre à questões que surgem no

Papéis no Formato A [fonte: producaografica.wordpress]

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Caderno 2 Do papel ao editorial e 1980, muito desse estilo e estrutura mais rígida do grid foram questionados, incorporando novas linguagens e elementos populares da época. A Terceira Revolução Industrial, ou Revolução Tecnológica, fez surgir um agente novo no cenário do design, um dos pontos de mudança mais forte à linguagem ordenada do grid: surgia o computador. Grid (Grades ou Sistema de Grelhas) (...) é um princípio organizador do design gráfico cuja influência está arraigada na prática diária, mas ao mesmo tempo é combatido no ensino do design; é amado e odiado pelos pressupostos absolutos e intrínsecos à sua composição" – (Samara, T. 2000. pg 9)

O

grid é um dos elementos de design que contribui na organização e estruturação dos elementos de uma página. Amplamente utilizado na Suíça durante o pós-guerra, o modernismo suíço buscava uma ordem e sentido, em resposta ao caos do mundo. As aplicações do grid são variadas passando pela construção de uma marca, utilizando na composição de uma embalagem, e principalmente, na criação de um livro; que é o meu foco.

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Ao longo dos anos ele foi se reinventando, sendo criticado e defendido. Da ampla aplicação durante os anos 1950 até os anos 1970, o grid era um estilo presente em materiais editorias, corporativos, cartazes entre outras peças. Mas, entre os anos 1970

A máquina e suas ferramentas novas instigavam o experimentalismo e à sobreposições, camadas, texturas, tipografia; tudo isso podendo ser manipulado digital e simultaneamente. A partir dos exemplos de Timothy Samara, que em seu livro GRID: Construção e Desconstrução, podemos exemplificar o grid em usos distintos: um sistema ordenado e outro desconstruído. Ao grid ordenado, Samara exemplifica aqueles que são retangulares, isto é, uma estrutura simples, que ocupa a maior parte da página para conter texto corridos, como ensaios ou romances. Em sequência, um grid de colunas, favorecendo a flexibilidade do conteúdo, uma vez que as colunas de texto não precisam estabelecer relações entre si. Depois, grids modulares que costumam ser utilizados em projetos mais complexos onde se faz necessária uma maior ordenação dos elementos da página. E por fim, grids hierárquicos, que se adaptam às exigências da informação,


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Cartaz D&AD Next Awards 2016 F/Nazca Saatch & Saatchi [fonte: Clube de Criação]

onde os espaços são dispostos de maneira mais intuitiva do que repetições regulares dos intervalos (SAMARA, T. 2000 pg 29). Já aos grids desconstruídos, costumam forçar novas estruturas e buscar novas relações espaciais e visuais, sem se preocupar com regras. As desconstruções se dão em diversos aspectos, como em operações aleatórias que faz uso do acaso para distribuir os elementos na página, ou uma composição ótica espontânea que procura ser menos aleatória e mais intuitiva. Também podem ser uma desconstrução linguística onde o ritmo, alinhamento, cor, tamanho, etc. se constituem a partir dos fonemas das palavras, dando hierarquia à eles.

Páginas do Livro Ordinary Report, 2014 Ordinary People [fonte: Ordinary People ] Tipos de Grids [fonte: Vanseo Design]

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Tipografia

A

tipografia é o elemento central e mais importante na produção de um livro (a excessão dos editoriais de imagem). É necessário considerar seu estilo (clássica × moderna), sua altura-x, seus pesos, sua entrelinha; considerações essas que muitas vezes são negligenciadas elegendo, arbitrariamente, uma tipografia que prejudica o entendimento do texto e seu conteúdo. Puristas da tipografia preferem que ela seja aplicada aos meios as quais foram projetadas, mas seguir essa regra de forma literal, fontes como Didot, Baskerville, Caslon são limitadas não só ao suporte (livros), como ao processo de fabricação (BRINGHURST, R. 2001 pg. 105), o que é coerente e faz sentido quanto ao contexto histórico aplicar fontes projetadas para livros para serem impressas em livros. Robert Bringhurst (2000), em uma descrição mais técnica da tipografia, afirma que é necessário considerar o estilo da tipografia × pesos × impressão na hora de compor uma página, uma vez que serifas muito finas como a da tipografia romântica Didot se perdem na impressão, por exemplo; ou con-

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siderar se é necessário alinhar os números pela base (12345) ou não (12345). São características sutis, desde a anatomia do tipo até o papel e processo de impressão que se fazem

necessárias para considerar a escolha do tipo ideal. Para Haslam (2000) a tipografia é um conjunto de decisões e considerações: seu público, o material, a proposta, o formato. Mas a tipografia é extremamente mais complexa que esses elementos. São decisões sobre seu estilo, sobre as relações de contraste e hierarquia entre os elementos da página (título × texto, por exemplo), largura e altura da letra. Além de questões que o autor vai chamar de Paleta Tipográfica, sendo elas: o alinhamento, a quebra da linha, o entrelinha, a hifenização do texto e o ritmo estabelecido. Todos estes elementos configuram características em que a tipografia influencia na construção de um editorial. Para auxiliar no entendimento da evolução da tipografia quanto estrutura, ao lado estão as páginas escaneadas do livro Elementos do Estilo Tipográfico, de Robert Bringhurst:

Ao topo, tipografia renascentista (séc 15 e 16) Abaixo, tipografia barroca (séc. 17)


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Ao topo, tipografia neoclássica (séc. 18) Abaixo, tipografia romântica (séc. 18 e 19)

Ao topo, tipografia realista (séc. 19 e 20) Abaixo, tipografia geométrica (séc. 20)

Ao topo, tipografia modernista lírica (séc. 20) Abaixo, tipografia pós moderna (séc. 20 e 21)

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A MATERIALIDADE DO DESIGN EDITORIAL

Materialidade do Editorial

P

livro não é apenas materialidade, mas também conceito. É uma sintetização complexa de elementos que o definem: o papel, a costura, a tipografia, as imagens e formato.

ara chegar até o catálogo final que proponho, considero importante definir diversos tipos de editorias, como se apresentam e diferenciam-se entre si além de particularidades de cada editorial. Mas, antes disso, é preciso entender aspectos físicos/ materiais e visuais que compõem os editorias. Para isso, defino esses aspectos como materialidade do editorial por tratar de questões estruturais e visuais de um editorial, a parte do conteúdo. É também na materialidade possível pressupor o tipo de editorial Nesse momento, não estou preocupado com aspectos teóricos do livro, mas com questões técnicas, como tipos de papel, encadernação, acabamentos, etc.

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O

Jan Tschichold (1902-1974) buscava entender o livro tão bem que, ao desenhá-lo, ele buscava não só a perfeição como a sua própria gramática de design (TSCHICHOLD, J. 2007. p. 15). O livro, seja ele qual for a natureza de sua finalidade, contém diversos elementos que o caracterizam e variam de acordo com a sua proposta e por isso é importante compreender alguns os elementos formais e estruturais que compõe um editorial. Portanto, separo e pontuo a seguir algumas descrições dessas características físicos e visuais do livro.


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Capa dos livros da Editora Cosac Naify [fonte: Diário do Nordeste]

Tipos de capa

A

s capas de livros podem ser classificadas em 2 aspectos: rigidez e acabamento.

No primeiro caso, temos as capas duras que podem ser hardcover, com um uma sobrecapa, criadas para proteger a encadernação, e que o longo dos anos foram incorporadas na construção do livro; hardback, livros com capas duras mais populares e conhecidos. Há também as capas paperback (brochura), que são capas impressas em papel de gramatura um pouco maior que o miolo do livro e um terceiro caso, as capas pockets (ou livros de bolso), que se apresenta como um livro paperback, em uma versão reduzida. No segundo caso temos o acabamento das capas, onde reside uma maior variabilidade e atratividade. O acabamento é um dos processos que mais aumenta o custo de pro-

dução do livro, uma vez que fatores como cor, tipo de papel, laminação e processo de impressão, variam tornando-o mais caro ou barato. A sofisticação de um livro não se encontra apenas no uso de cores pantone, laminação fosca, e impressão em letterpress. Alguns editoriais passaram a incorporar o próprio papelão que dá rigidez as capas como capa final dos livros, tal qual o Catálogo da Bienal de São Paulo ou o Catálogo de Arte Russa, que conseguiram criar belas capas utilizando duas cores e um ou dois processos de impressão.

Tipos de encadernação e lombada

D

as características mais importantes do livro, a encadernação é um grande atrativo. Apesar da rigidez das capas estar vinculada ao processo de encadernação, existem outras categorias de encadernação. Segundo Haslam, as encadernações podem ser dividas em: ×× Encadernação de biblioteca: concebidas para uso intensivo e longevidade elevada, produzidas manualmente e com capa dura para garantir maior tempo de vida. O processo consiste basicamente em costurar os cadernos no sentido vertical para formar um miolo que será costurado e/ou colado à capa. As capas podem ser produzidas em couro ou papelão revestido. →

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Fotocópia do livro A Produção de um Livro Independente – Um guia para autores, artistas e designers, Editora Rosari

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×× Encadernação de capa dura: são os editorias mais comuns e fáceis de serem encontrados. Ainda que a produção no Brasil desses livros seja manual, tem ocorrido a substituição por máquinas. Constituídos de capa, lombada e quarta capa, são os livros que também apresentam grande longevidade, mas diferem-se por possuir alguns acabamentos na capa, como cores especiais, laminações, estampagem em alto/baixo-relevo, corte e vinco, corte a laser, etc.

×× Encadernação com adesivo (brochura): dos processos de encadernação é o mais industrial de todos, uma vez que o miolo é cortado e colado à capa, cabendo ao adesivo da capa a resistência do livro. É um processo extremamente rápido e barato, geralmente utilizados em revistas. ×× Encadernação sanfona/concertina: são editoriais impressos em uma única lâmina de folha e depois dobrados de modo que a

abertura das páginas assemelha-se à uma sanfona, podendo ser colado ou não à um papel mais grosso. ×× Encadernação experimental: muitas editoras tem contribuído ao dar novo sentido às encadernações dos livros, entendendo que a costura também pode ser um elemento visual muito potente, não fazendo o uso de lombadas, deixando os fios e tramas aparentes.


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×× Encadernação canoa ou dobra e grampo: um processo muito simples, utilizado em editoriais com poucas páginas ou gramatura muito baixa. A maioriadesses editorias são abertos, dobrados e grampeados no centro, a partir da lombada enquanto outros são costurados também na lombada. Uma diferença em relação aos outros editoriais é que pode haver abertura total do miolo em 180° ou 360°. ×× Encadernação espiral/wire-o: das mais simples, esse tipo de encadernação permite a abertura total do livro. ×× Encadernação de folhas soltas: alguns editorias apresentam um acabamento em sua lateral que permite remover e colocar folhas, tal como fichários. No entanto, esse acabamento não é aplicado na lombada e os furos são feitos na lateral das folhas. Apesar de parecerem associadas a materiais de papelaria, algumas publicações incorporaram essa encadernação para que o leitor possa completar o editorial com novas páginas ou destacar folhas sem rasurá-las.

Determinadas encadernações implicam em certas lombadas. Livros de capa dura podem apresentar lombadas coladas ou não ao miolo, permitindo uma melhor abertura do livro se não coladas. Em livros brochura, é importante a presença das lombadas para fixar o miolo à capa. Outros editoriais retiram a proteção da lombada deixando a costura do miolo a mostra.

Tipos de papel

U

m assunto muito sensível a respeito de sua materialidade do livro é o papel. Alguns artigos explicam os tipos de papéis baseando-se em experiências pessoais, e não necessariamente na interferências física do papel. No entanto, Hans Peter Willberg e Friedrich Forssman apresentam em seu livro Primeiros Socorros em Tipografia questões importantes que os diferentes tipos de papel influenciam no editorial. O papel pode apresentar fibras de madeira, ou ser feito de celulose; pode ser translúcido ou opaco; conter volume diferente, contendo mais ou menos ar; ter gramaturas diferentes; ser áspero/rugoso ou liso; ser couchê ou offset. Tudo isso influência a impressão. Papeis higroscópico, isto é, que absorvem a umidade do ar, expandem e contraem-se, tendo grande influência na composição tipográfica. Se a orientação de suas fibras está errada (perpendiculares ao livro) ele pode apresentar ondulações atrapalhando a leitura. O correto é ter as fibras paralelas ao papel, para que se expanda no sentido horizontal a partir da lombada. Cada tipo impresso geralmente adequa-se à sua proposta: panfletos distribuídos nas ruas geralmente apresentam alto-brilho por serem lidos sob luz solar; outros editoriais são impressos em papel branco para ter melhor nitidez das cores (como enciclopédias, livros médicos ou ilustrados). Há, porém, cuidados a serem tomados com editoriais que contém imagens e texto: se o papel prevalecer a leitura, pode interferir na resolução das

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imagens e vice-versa. Algumas editoras resolvem esse problema colocando alguns cadernos impressos em diferentes papéis: porosos para leitura, lisos para imagens. A regra dos autores é básica: para melhor legibilidade do texto, os melhores papeis são os opacos; papéis marfim/amarelado tem uso estético. No entanto a pigmentação do papel também interfere na leitura. Papeis de alta alvura (alto nível de brancura) ou do tipo couchê gloss garantem maior nitidez de imagens; porém alguns pesos tipográficos (bold ou light) são ofuscado uma vez que o branco do papel é ativado pelo contraste, o que pode criar um efeito estético, mas prejudicar a legibilidade; tipos serifados linear, curvado ou triangular tremulam no papel devido as suas espessuras. Em papéis como o pólen (pigmentação amarelada e poroso) ou mesmo um papel offset levemente amarelado, os problemas quanto ao contraste são mais bem resolvidos.

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Apesar das regras dos autores, nada impede que editoriais sejam impressos em diferentes tipos de papeis, sejam eles coloridos ou especiais, por questões conceituais.

×

Teste de impressão com papeis e seus efeitos [fonte: acervo pessoal]


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Design Editorial — Tipos de Editorial P ara chegar até a proposta de editorial para essa coleção de cartazes do Festival de Inverno da UFPR em Antonina, eu trilho por alguns tipos de editoriais, seus exemplos.

Livro

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aracterizado por conteúdos mais extensos, os editoriais do tipo livros apresentam, em sua diagramação, colunas mais largas e rígidas, com manchas de textos geralmente seguindo proporções tradicionais como Diagrama de Villard ou regra de ouro . A tipografia costuma ser serifada no texto corrido uma vez que a ligatura das letras se apresenta me-

lhor; o contraste geralmente se dá entre título e texto, e aquele pode ser san-serif, assim como em outros elementos textuais numeração de página e headlines, por exemplo. Elementos visuais, gráficos e/ ou figurativos podem estar presentes nesses editoriais para fazer traduções visuais do conteúdo ou abrindo/ encerrando sessões/capítulos. Outros elementos gráficos presentes em livros (em um registro temporal mais antigo) são o uso de letras capitulares nos primeiros parágrafos de um novo capítulo.

A materialidade do editorial fica a encargo da editora, optando por utilizar papeis e/ou acabamentos diferentes se a edição for especial.

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Caderno 2 Do papel ao editorial Revista Trago o Livro Amarelo do Terminal, da editora Cosac Naify como referência que retrata a rotina de funcionários e transeuntes do Terminal Rodoviário do Tietê. O papel do editorial é extremamente ordinário, tal como canhotos de recibos das passagens de ônibus, condizente com a efemeridade do dia a dia de quem convive naquele espaço caótico e cheio de sinalizações. É, portanto, o papel que permite que o leitor imerja no micro-universo do terminário rodoviário de São Paulo.

O Livro Amarelo do Terminal Vanessa Bárbara, Editora Cosac Naify

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arcadas pela periodicidade, conteúdos informativos e de alta tiragem – assim como jornal –, exigindo impressões rotativa, as revistas são dos editoriais mais acessíveis e populares. Economicamente, algumas delas acabam tendo custo mais alto ou pela sua periodicidade (tal como a revista de ensaios Serrote, ed. IMS) ou por acabamentos em edições especiais. São diversas as suas categorias: revistas de ensaios, de fofoca, jornalísticas, de crítica, de cultura, sociedade, política, etc. Apesar de seu conteúdo abranger diversos temas, as revistas apresentam algumas estruturas similares entre si e a estrutura de um jornal: separadas por sessões distintas, cada texto abre de uma forma diferente a cada edição. As matérias tem autorias variadas – salvo as colunas com redatores fixos; outra característica é a variação entre edições: mudanças nos título, nas aberturas de página, nas ilustrações, no conteúdo infográfico, nas capas, etc. Tomando como exemplo as revistas Senhor ou Sr. (diversas editoras), cada sessão/edição apresenta suas particularidades, tamanhos de colunas diferentes, uso ou não uso de imagens que acompanham o texto, interferências na diagramação do texto, títulos em famílias diferentes e cores de sessões variando de edição para edição.

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Revista Serrote ed. 4 Editora IMS


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Capas da Revista Senhor (SR.) Diversas Editoras

Matérias da Revista Senhor (SR.)

Livro Ilustrado

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omumente associados à livros infantis, o livro ilustrado é um tanto mais complexo que essa definição rasa. Ele deriva de manifestações do termo "álbum" que tem origem na França, Espanha e Portugal, como um livro para compilar imagens, no entanto o conceito de livro ilustrado, livro de imagem, picture book é sintetizado somente na expressão livro ilustrado (LINDEN, S. 2000 pg 23).

Um livro ilustrado abrange desde o livro ilustrado infantil, quadrinhos e em uma definição menos ampla, graphic novels. Em todos os casos, uma relação e preocupação entre conteúdo textual e imagético.

Onde Vivem os Monstro Maurice Senakd Editora Kalandraka

Outra característica marcan-

te nesses editoriais é a preocupação com o formato, a encadernação, a plasticidade do/a autor/a, resultando em dimensões bastante variadas neste tipo de editorial.

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Jornal de Inverno

Caderno 2 Do papel ao editorial Álbum Fotográfico

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ditoriais fotográficos são aqueles que utilizam o livro como suporte para imagem, sendo ela o elemento compositivo principal. Em alguns momentos, o editorial se comporta como um álbum de fotografias ou uma coleção de imagens. Aqui, o uso da tipografia varia, sendo ela serifada, sem serifa, display, todas em caixa baixa ou todas em caixa alta. O objetivo do livro não é ser textual e sim imagético. Trazendo alguns editorias de referência, temos As Origens do Fotojornalismo no Brasil: Um olhar sobre O Cruzeiro, do IMS, e Tensão Calma, de Arnaldo Pappalardo publicado pela editora Cosac Naify. No primeiro temos o papel como agente de mudança de sessão e destaque para as fotografias. O livro relata a importância da revista O Cruzeiro na construção do fotojornalismo brasileiro e é composto em grande parte por folhas de baixa alvura, finas, texturizadas. Já quando os documentos são apresentados que o papel muda suas propriedades físicas. Elevando-se a qualidade e tratamento da imagem, portanto, da memória. No segundo, a valorização da imagem não é somente pelo uso do papel, mas também por seu formato vertical. De grandes dimensões, é praticamente da altura de um jornal e as imagens tem o objetivo de reflexão, dispensando o uso de elementos textuais.

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Capa do livro As Orignes do Fotojornalismo no Brasil – Um olhar sobre O Cruzeiro, Helouise Costa & Sergi Burgi (org.) Editora IMS, 2012

Capa do Livro Tensão Calma, Arnaldo Pappalardo, Editora Cosac Naify, 200,8


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Livro Os Clichês Brasileiros, Gustavo Piqueira, Editora Ateliê Editorial, 2013

Os Sketchbooks de Lourenço Mutarelli, Editora Pop (indep) , 2015

Livro de Artista/Experimental

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as categorias mais distintas, os livros de artista e livros experimentais são aqueles que buscam a plasticidade e suporte para experimentações. Buscam processos de impressão comuns ou sofisticados e são como uma plataforma de outros processos interpessoais do artista ou designer. Costumam ter custos muito elevados de reprodução, por diversos fatores: costuras artesanais, impressões manuais como serigrafia, papéis especiais; por isso geralmente são de baixa tiragem. Outros são mais exercícios do arstista, autor e/ou designer buscando novos métodos de criação, linguagens e processos.

Cabe citar aqui, Os Sketchbooks de Lourenço Mutarelli, da Editora POP, ou mesmo Clichês Brasileiros de Gustavo Piqueira, publicados pela Ateliê Editorial, exemplos de editoriais de livro de artista. Ambos de caráter experimental, o primeiro é uma compilação de fac-símiles dos sketchbook de Mutarelli podendo assim entender brevemente seu processo criativo. Noutro, a publicação de Gustavo Piqueira é um tanto híbrida, pois o autor utiliza de sua pesquisa sobre clichês nacionais para criar uma narrativa da exploração do Brasil (1500 d.C) até o período modernista, o que o categoriza como um livro–ilustrado. O livro é também a demonstração do seu processo como designer e de um rico experimentalismo.

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Jornal de Inverno

Caderno 2 Do papel ao editorial

Jornal

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ais efêmero que qualquer outro editorial, o jornal apresenta 5 aspectos marcantes: excesso de texto, presença de muitas colunas e modularidade, grande dimensão, papel ordinário e contraste tipográfico. A solução para auxiliar o leitor em encontrar a matéria que lhe convém se resolve nos títulos grandes, contrapondo com o peso pequeno serifado do texto corrido. O grande formato auxilia para caber todo conteúdo. A modularidade está presente pela necessidade de acrescentar e destacar informações na página. Mas os aspectos que acredito serem mais atraentes no jornal é seu contraste tipográfico (título × texto, por exemplo) e o seu papel simples de cheiro característico, que

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um dia é lido e no outro vira embrulho. É justamente pela qualidade baixa que é permitido à física do objeto que ele seja dobrado, enrolado, guardado no bolso para ser lido na pada-

ria pela manhã, no ônibus indo para o trabalho ou no banco de alguma praça qualquer. Também faz-se presente o uso de fotografias, ilustrações e infográficos. Apesar disso, trago como um bom exemplo de editorial–jornal, o projeto gráfico Diário da Tarde, de Paulo Mendes Campos, impresso pelo Instituo Moreira Sales (IMS), que publica em forma de caderno os textos que o redator publicou em jornais como O Jornal, Correio da Manhã e Diário Carioca. Seu formato tabloide faz um belo uso de duas cores, em um papel poroso, utilizando os espaços para criar vazios e respiros visuais. Utiliza um bom contraste entre título e texto e faz uso de ilustrações e fotografias, no mesmo tamanho de um jornal padrão. Sua encadernação canoa lhe dá um aspecto de jornal e revista simultaneamente.

Livro Diário da Tarde, Paulo Campos Mendes Editora IMS, 2012


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Catálogo catalogar: 1. elaborar notícias bibliográficas para organizar catálogos [...] 2. inscrever, ordenar ou relacionar em catálogo. [...] 3. Uso: informal. qualificar, classificar, reputar.

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atálogos são muito distintos entre si, devido ao seu conteúdo extremamente variável, uma vez que a catalogação pode abranger diversas áreas, temas e objetos. A catalogação pode abranger desde folhetos entregues nas ruas, com os produtos de uma linha de automóveis até peças de uma coleção de um museu. Aqui, no entanto, é importante ressaltar que a catalogação que está sendo considerada não se enquadra nos catálogos-folhetim de lojas de departamento, de produtos de varejo e atacado, ou panfletos e anúcios distribuídos nas ruas.

Dez Designers Três Gerações, AGI (org) Editora Zarabatana Books, 2014

A importância do catálogo se dá por classificar, separar e unir seu conteúdo em temáticas – seja em autoria ou eventos históricos, por exemplo – de forma que cada objeto catalogado apresente registro de suas dimensões, autoria, ano, técnica, e demais atribuições.

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Jornal de Inverno

Caderno 2 Do papel ao editorial

Um Editorial para o Festival A 28

o considerar o cartaz – outro objeto de estudo que dará conteúdo ao editorial [ver Caderno 3] –, percebo que sua efemeridade é seu aspecto mais interessante. O fim do evento é o fim do cartaz; o começo do evento é o começo do cartaz; e o ciclo se repete. É justamente na brevidade do tempo – do evento e da vida do cartaz – que considero importante trazer ao editorial. A partir disso que surge o conceito que trago como proposta ao catálogo.

Tão abrangente e de grande alcance quanto é o festival, tão grande e corriqueiro é o cartaz, e que o editorial seja uma consonância a esses pares! Proponho – e encerro este caderno–, com a representação do conceito da efemeridade dos pares, um editorial híbrido, um Catálogo-Jornal, analisado com mais critérios no caderno 4 [ver Caderno 4].

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Linguagem do Jornal e A do Catálogo

JORNAL – História, Evolução e Definição história do jornal como conhecemos hoje está intimamente ligada ao início da Era Moderna com o advento de novos mecanismo de produção. A mecanização de processo de impressão contribuiu para a produção e distribuição de peças como o jornal e revista. Inclusive, um dos declínios do espaço do cartaz é devido aos jornais e revistas, uma vez que os anúncios da época passaram a ser publicados nesses veículos ao invés das ruas (MEGGS, P. 200 pg. 181).

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uscando entender a gramática desses dois editoriais, pesquisei os elementos que compõe catálogos e jornais, a partir de referências bibliográficas apresentando similares mostrados anteriormente. No entanto, para chegar no meu projeto, considero importante uma breve contextualização histórica das origens e mudanças do jornal na história do design, buscando a respeito dos elementos compositivos do jornal e como se dispõem nas páginas.

A história da fotografia se mistura com a do jornal, uma vez que redatores e impressores procuravam meios mais viáveis economicamente de ilustrar os anúncios de publicações da época. Essa busca resultou em 4 de março de 1880 no primeiro jornal a imprimir uma fotografia, o The New York Daily Graphic (MEGGS, P. 200 pg. 191). Posteriormente a fotografia tornou-se uma importante forma de documentação. Em termos nacionais é importante citar o Caderno B do Jornal do Brasil, reformulado no fim da década de 1950 por Amílcar de Castro com uma nova abordagem desenho gráfico do jornal, propondo um novo desenho das páginas impressas e se tornando objeto de desejo em todo país. Destaca-se também o fato de que essa mudança ocorreu em um caderno de cultura, espaço propício à experimentações propostas por Amílcar. (DAMASCENO, 2014).

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Jornal de Inverno

Caderno 2 Do papel ao editorial O jornal é uma forma de comunicação visual, uma vez que forma e conteúdo são uma única unidade (Lockwood apud DAMASCENO). Em seu início, assim como livros usavam de referência layouts de manuscritos, o mesmo acontecia entre jornal e livro (Gruszynski apud DAMASCENO, 2014). Ao longo do tempo o jornal foi ganhando mais a forma que temos hoje em dia já que o planejamento gráfico dele foi se integrando cada vez mais às práticas do fazer jornal, ganhando assim autonomia e unificação (DAMASCENO, 2014) "(...) a excelência no design das pági-

Já ao designer do jornal, lhe é necessária a utilização e aplicação de conhecimentos do design (hierarquia, equilíbrio, ritmo), domínio da tipografia e organização dos elementos no espaço (grid). A partir desses elementos (formato, grid, tipografia, imagens, cores, entre outros) é definido o projeto gráfico do jornal que se constiuem as edições (Gruszynski apud DAMASCENO, 2014)

nas [do jornal] baseia-se na 'integração das palavras com elentos visuais, como a tipografia, fotografia, ilustrações, infográficos e espaços em branco" — GARCIA apud DAMASCENO, 2014)

JORNAL – Elementos da Página Impressa

São essas decisões e as relações estabelecidas entre os elementos da página que vão dar o "tom visual" da publicação (Esterson apdu DAMASCENO 2014). Tanto jornal quanto revista, se constituem peças gráficas e produtos industriais, considerando sua concepção, desenho e produção (Pivetti pud DAMASCENO 2014) É importante diferenciar diagramação × projeto gráfico. A primeira é responsável pelo ordenamento do conteúdo enquanto o outro é responsável pelo conceito da publicação (DAMASCENO, 2014).

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mentos gráficos sem que uma sessão se sobressaia em relação à outras.

Um jornal deve levar em consideração seu público, suas necessidades, facilitar a busca por sessões e cadernos. Ele deve ser atraente, rápido de absorver os conteúdos, deve manter coerência entre as sessões - como se fossem navegadores, utilizando cor, tipografia, imagens e outros ele-

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que chamo de elementos da página impressa é baseado no artigo Design de Jornais: projeto gráfico, diagramação e seus elementos, que segundo a autora, Patrícia Lopes Damasceno, são os principais componentes da página A seguir, em ordem de disposição em uma página impressa – ou a mais comum das disposições –, os elementos que a compõe e suas definições. ×× Editorias/Cadernos: costumam se apresentar no topo da página; é o nome do caderno o qual a matéria pertence, como matérias de futebol pertencem ao caderno Esportes, por exemplo;

×× Cartola/Antetíulo: disposto no topo da página, redireciona ao assunto tratado dentro da editoria/caderno (ex: Futebol, no caderno Esportes); ×× Título: o nome da matéria, em forma resumida, sintetizando as informações do texto. É o principal elemento da matéria, uma vez que a atenção do leitor se dá através do título; ×× Corpo do Texto: como o nome sugere, é onde toda a matéria estará disposta e será desenvolvida; ×× Linha de Apoio: uma linha de texto, complementando o título e explicando um pouco mais sobre a matéria. ×× Assinatura: créditos de autoria, antecedendo a matéria, podendo creditar o autor do texto e de imagem. ×× Lead: parágrafo inicial de cada matéria que segue uma estrutura que responde quem?, onde?, quando?, como?, o que? e por quê?; ×× Olho: são citações, em destaque, entre os textos, em outra tipografia e ou peso, para chamar atenção, geralmente utilizando frases de entrevistados.


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Arte

Editoriais/Cadernos

Cartola/Antetítulo Título

Lead

Corpo do texto

Subtítulo

Box

Esquema de elementos da página impressa de um jornal

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Jornal de Inverno

Caderno 2 Do papel ao editorial

×× Capitulares: uso de uma primeira letra (palavra ou sentença) em uma família tipográfica diferente e contrastante à do texto. ×× Subtítulos (entretítulos ou intertítulos): tem como função dividir o assunto em sessões. ×× Título secundário: mesma função do título, mas para uma matéria secundária, dentro da matéria principal ×× Arte (fotografias, ilustrações, gráficos e infográficos): imagens que traduzam visualmente o conteúdo da matéria, ou ainda uma sátira. Gráficos geralmente são sínteses visuais de dados quantitativos, pode ser em forma de gráfico de barra, gráfico de pizza, radar, etc.Já os infográficos são mais elaborados que os gráficos, contendo esquemas visuais que

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explicam as etapas de algum processo de maneira objetiva. ×× Legendas: pequeno texto para acompanhar as imagens afim de traduzir ou inseri-las melhor no contexto da matéria. ×× Créditos: texto que acompanha imagens, gráficos, creditando o autor. ×× Título Corrente: indicação do nome do periódico, data e edição. ×× Box: elementos textuais destacados da matéria, que servem para complementar informações do texto. ×× Bonecos: elementos visuais, com retrato das pessoas citadas na matéria, em tamanho diminuto

acompanhado de uma legenda. ×× Gráficos: Glifos: símbolos tipográficos que indicam o final de um texto. ×× Fios e Vinhetas: são símbolos gráficos, como linhas, que costumam separaras essas esses elementos anteriormente citados.


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JORNAL – Materialidade e Visualidade

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roponho apontar algumas características físicas e visuais dos jornais para apresentar o que observei em comum nos similares. Para isso me baseio no artigo de Design de Jornas: Projeto Gráfico, Diagramação e seu Elementos, de Patricia Lopes Damasceno. ×× papéis: um jornal, diferente de uma revista, é de consumo mais imediato, rápido, lido e descartado e justamente por ser passível de descarte, é necessário considerar um papel barato, acessível e reciclável (DAMASCENO, 2014) ×× Formato: seus formatos mais comuns e característicos são o broadsheet (ou Standard) e o tabloide, sendo o primeiro maior e mais vertical e dobrado ao meio; e o segundo menor e mais fácil de manipular. (DAMASCENO, 2014) +

CATÁLOGO – Materialidade e Visualidade & uma proposta de classificação à sua lingaguem

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o pesquisar sobre os elementos de composição de páginas, sessões, cadernos (e do livro como um todo) sobre catálogos, percebi que não há muito material disponível sobre esse tipo de editorial, diferente dos elementos da página de um jornal. Em A Produção de um Livro Independente, da autora Ellen Lupton, trás um breve capítulo sobre a importância do catálogo – ainda que voltado para catálogo de exposições – citando a importância do cartaz, estratégias e formato de diagramação, mas não diz os elementos que compõe um catálogo. A seguir pontuar os elementos que aparecem nos similares de catálogos anteriormente citadas: ×× Formato: esses editoriais não apresentam um padrão nas dimensões do seu formato. Se comparar os livros Os Cartazes Desta História e How Posters Works, ambos sobre cartazes, é notável a diferença do formato, o que reflete a intencionalidade de cada editorial – o primeiro, como registro da memória das figuras, enquanto o segundo apresenta as imagens em segundo plano. ×× Tipografia: a tipografia desses catálogos, em grande parte, se constituem de tipografias sans-serif no corpo do texto, numeração da página, legenda e headlines, podendo haver variação dos tipos para serifadas nos títulos, como o catálogo alemão Punze Ø5.

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Jornal de Inverno

Caderno 2 Do papel ao editorial

×× Imagem: diferente de outros materiais que muitas vezes colocam imagens como elementos secundários nos editorias, a partir dos catálogos analisados é possível supor que a impressão colorida e a dimensão da imagem na página é mais importante em relação ao peso da tipografia dos textos. ×× Legenda: a identificação das peças nesses editoriais é fundamental para sua caracterização; o uso da legenda se faz presente em todos, mesmo naqueles que colocam legendas ao final do editorial como em Os Cartazes Desta História. Sua tipografia costuma ser san-serif.

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×× Papéis: diferente de outros materiais editoriais como livros (papeis porosos), revistas (papéis de baixa gramatura e com brilho) ou mesmo

jornais (papéis de baixa gramatura e ordinários), os catálogos apresentam variação quanto ao uso de papéis, desde folhas de baixa gramatura como o Punze Ø5 para facilitar a dobra, até editoriais que utilizam papel liso e com brilho para dar robustez ao livro como em How Posters Works. O papel é o elemento que permite dar consistência e forma ao editorial. ×× Grid: nesses materiais, o grid tende a favorecer as imagens ao invés do conteúdo textual. As colunas são mais estreitas e dão mais áreas vazias às páginas. Em alguns dos casos analisados (How Posters Work) todo o texto é dividido em duas colunas, como uma estratégia de que não ocupe tanto espa-

ço na página e não subtraia a relevância das imagens. Com exceção do catálogo Artistas Russos na Bienal de Veneza, que apresenta uma única coluna de texto, todos os outros catálogos apresentam duas ou mais colunas. ×× Cor: à exceção de Segunda Llamada, onde a proposta do projeto mexicano é na produção de cartazes em duas cores (preto&branco), todos os catálogos são coloridos. ×× Sessões: não é um elemento que aparece em todos os catálogos, mas permite ao leitor/a entender a lógica da divisão que o/a autor/a propõe. No catálogo do Prêmio Design Museu da Casa Brasileira, são os cartazes ven-


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cedores de cada edição (da 21ª à 25ª) que separam as sessões dividindo cada capítulo por ano/edição do prêmio. ×× Marcadores: identifico e classifico como marcadores a numeração de página (caso presente) ou outros elementos que permita identificar o conteúdo da página. É o que é chamado no design editorial de jornais de Editoria ou Cadernos, elementos que se repetem ao longo da sessão, geralmente no topo da página, indicando qual tema maior os assuntos pertencem.

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Devido a falta de publicações sobre os cartazes do Festival de Inverno*, eu proponho um estudo dessas peças para dar suporte ao editorial catálogo.

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Para isso, eu faço uma pesquisa complementar que busca auxiliar nesses estudos, abordando uma breve história dos cartazes, elementos de composição, estratégias de criação do cartaz e um método de catalogação desses estudos. Ao final do Caderno, eu faço pequenos esboços das melhores formas de narrar esses estudos e considerações de qual estrutura narrativa irei usar nessas inteprepretações a cerca dos cartazes.

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