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Priceless

por Maíra Valério

Capa Felipe Honda

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Boa tarde, Tobias Júnior. Boa tarde, galera. A tempestade em Los Angeles atrasou muitos voos esses dias, uma loucura. Ah, mas tô bem. Tá tudo bem, graças a Deus, né? E tô aqui, isso é o que importa. Mais uma vez, valeu mesmo o convite. Sempre bom ter o nosso trabalho reconhecido em um espaço assim, tão bacana. O quê? Claro, claro. Conto com prazer. Bom, é o seguinte: a fotografia chegou pra mim de uma maneira inusitada, né? O meu pai, que era fotógrafo, e minha mãe, que também mexia com essa nobre arte… Bom, eles sempre me levavam em passeios, sabe? E aí a gente registrava plantinhas, animais, eu usava uma câmera compacta mesmo, era ainda menina, né? Daí a gente revelava tudo em casa, em um pequeno laboratório que eles tinham. Era o maior barato. Na adolescência, fiz minha primeira exposição individual,

lá na Galeria Raio The Sol, uma espécie de etnografia do eu que contou com uma série de selfies tiradas no espelho antes de ir para a escola, durante um ano. Foi muito bacana e, pra época, bem inovador, certamente. Ano passado, recriei essa série, agora adulta, pra tentar estabelecer uma relação entre quem sou, quem fui e o mundo que a gente vive; compreender meus arredores, compartilhar a minha subjetividade. Mas eu tava me sentindo muito isolada em meu universo interior, afogada em minha sensibilidade extrema... Então decidi ter mais contato com outros seres humanos, passei uma temporada na Itália e, na volta, comecei a buscar a essência masculina. Retratar o que existe de verdadeiro dentro de cada homem mesmo. É claro que todo mundo acha que deve ser bacana fotografar homens nus, mas o nu é mais que isso. Pra mim, é uma forma de mostrar beleza sem ser vulgar. E é legal, porque é um trabalho que acaba que tem uma função social também, né, Tobias? Isso. O cara tá ali, triste, desempregado ou com problemas de autoestima... Aí recebe uma boa maquiagem, uma boa iluminação, retoques no Photoshop e finalmente pode se ver como realmente é, entendeu? Ser ele mesmo. Imagina a sensação de observar o próprio órgão masculino balançando livremente, o tecido erétil e cheio de sangue, eternizado em uma imagem? Isso é empoderador demais. É o que todo cara quer, né? Se sentir bonito, desejado… O que mais um homem precisa, ô, Tobias? Diga aí. A aceitação do projeto foi tão boa que fizemos uma parceria com a Gatão Fuderoso, e você não tem ideia da honra que é, sabe, ver o seu trabalho em uma publicação de prestígio assim. Daí rola toda uma curadoria por parte da equipe da revista, que mensalmente escolhe o ensaio de um felizardo pra compartilhar com os leitores e leitoras nas páginas centrais. A seleção é tranquila, é só não ser muito gordinho, baixinho ou calvo, entendeu? Ou ter os dentes muito separados, o cabelo muito crespo, essas coisas. Pois é, é de boa. A

edição com o Betinho das Gerais, nosso modelo que é a cara do Tom Cruz, foi um sucesso, vendeu bastante, mesmo nesse momento em que o mercado editorial impresso se encontra em uma fase delicada, né? Em plena era em que tudo tá extremamente acessível na internet… Aham. É gratificante demais saber que estamos ajudando tantos rapazes e movimentando esse mercado maravilhoso. Queremos até, quem sabe, fazer uma compilação em formato de livro também, e um calendário para o próximo ano. E… O quê? Ah, não. Os caras que topam posar não recebem cachê, não. Mas sempre tem uma cervejinha no estúdio, uma música legal tocando… O clima tem que ser de cumplicidade, né? E, olha. só... Não queremos fazer um leilão, sabe, sobre qual homem vale mais do que o outro. A nudez masculina não tem preço, Tobias.

Maíra Valério é cria do fim da década de 80 e uma jornalista brasiliense que acredita na rapaziada, na mulherada e na cultura do-ityourself. Escreve em zines, blogs, revistas, jornais, sites, bloco de notas do celular, cadernos, diários, papeis que encontra pelo chão e o onde mais der. Homens que nunca conheci é o seu primeiro livro.

Nunca a efemeridade foi tão desejada e adorada quanto nos últimos tempos

Com os sucessivos lockdowns literalmente sofridos durante a pandemia do covid-19 por brasileiros em Portugal, a verdade é que ficamos confinados a uma efemeridade infinita, a da língua brasileira. E foi assim que essa coletânea de corpo-crônicas nasceu, escrutinando como imigrantes são experientes em serem enclausurados pela xenofobia linguística portuguesa, a pior de todas as inúmeras, porque carrega todas elas.

Corpo-Crônicas duma Brasileira numa Pandemic Portugal Janaína Behling Simplíssimo 2021

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