O TERCEIRO TERRITÓRIO HABITAÇÃO COLETIVA E CIDADE
O TERCEIRO TERRITÓRIO HABITAÇÃO COLETIVA E CIDADE VIGLIECCA&ASSOCIADOS THE THIRD TERRITORY: COLLECTIVE HOUSING AND CITY VIGLIECCA&ASSOCIADOS
HÉCTOR VIGLIECCA LIZETE MARIA RUBANO organização LUIZ RECAMÁN apresentação
1a edição São Paulo, 2014
Arquiteto Héctor Vigliecca e Associados Ltda.
SUMÁRIO SUMMARY 006 Morar junto: a dimensão urbana do habitar Uma breve introdução Coexisting: the urban dimension of dwelling A short introduction Lizete Maria Rubano 012 Arquitetura em tempos difíceis Architecture in tough times Luiz Recamán 040 A ilusão da ordem The illusion of order Héctor Vigliecca 046 ÁREA CENTRAL: O DESAFIO DAS INSERÇÕES CENTRAL AREA: THE CHALLENGE OF INSERTIONS 050 Casarão do Carmo: intervenção crítica Casarão do Carmo: critical intervention 062 Conjunto Assembleia: concurso Habitasampa Sociabilidade e vida pública Assembleia complex: Habitasampa competition Sociability and public life 074 A QUADRA COMO UNIDADE URBANA DE REFERÊNCIA THE CITY BLOCK AS AN URBAN REFERENCE UNIT 078 Habitação popular no Brás: cidade tradicional e equipamento metropolitano Popular housing in Brás: traditional city and the metropolitan equipment 088 Conjunto Habitacional Rincão: a alternância do espaço público e privado Rincão housing center: alternating between public and private spaces 102 Conjunto Habitacional Rio das Pedras: reconstrução de um lócus urbano Rio das Pedras Housing Complex: reconstruction of an urban locus 114 Conjunto Cônego Vicente Miguel Marino: concurso Habitasampa – Moradia e barreira Cônego Vicente Miguel Marino Complex: Habitasampa competition – Housing and barrier
126 INSTAURAR URBANIDADE EM ÁREAS CRÍTICAS ESTABLISHING URBANITY IN CRITICAL AREAS 130 Reurbanização do Complexo Paraisópolis: cunhas de infiltração Reurbanization of the Paraisópolis Complex: infiltration wedges 144 Urbanização de Heliópolis Gleba A: solidariedade urbana Heliópolis urbanization Glebe A: urban solidarity 160 Urbanização de Heliópolis Gleba H: preexistências formais e informais Heliópolis urbanization Glebe H: formal and informal pre-existences 176 Colinas d’Oeste, Morro do Socó e Portais: a geometria como determinante Colinas d’Oeste, Morro do Socó and Portais: geometry as a determinant 190 TERRITÓRIO E ESTRUTURAS HABITACIONAIS URBANAS TERRITORY AND URBAN HOUSING STRUCTURES 194 Jardim Nazaré: inversão de papéis Jardim Nazaré: reversing roles 208 Boulevard da Paz: uma matriz multiplicadora Boulevard da Paz: a multiplying matrix 222 Parque Novo Santo Amaro: habitação-estrutura Parque Novo Santo Amaro V: housing-structure 242 Morar Carioca: ações estruturais Morar Carioca: structural actions 256 Renova SP – Morro do S4: periferização e urbanidade Renova SP – Morro do S4: developing outskirts and urbanity 266 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIBLIOGRAPHY 267 PERFIL VIGLIECCA & ASSOCIADOS PROFILE 268 FICHAS TÉCNICAS – PROJETOS DE HABITAÇÃO COLETIVA FACT SHEET – COLLECTIVE HOUSING PROJECTS 278 CRÉDITOS DAS IMAGENS IMAGES CREDITS
DIAGRAMAS DIAGRAMS ÁREA OCUPADA DO TÉRREO OCCUPIED AREA OF GROUND FLOOR LEVEL área livre
número de unidades habitacionais
open space
housing number units
viário
número de tipologias
roads
number of typologies
córrego
áreas das unidades habitacionais
water stream
housing units areas
quintais
densidade do entorno
backyard
surrounding density
construção proposta
densidade do projeto
proposed construction
project density
contrução mantida preserved construction ÁREA CONSTRUÍDA
Os dados obtidos para a formulação do livro foram catalogados por meio
BUILT AREA
de pesquisa em diversas bases. Informações referentes aos projetos foram retiradas do banco de dados do escritório. Informações populacionais foram
residencial
colhidas junto com as prefeituras dos municípios, tendo como sua fonte
residential
o Censo realizado no ano de 2010 pelo IBGE. As localizações dos projetos foram levantadas através de programa específico de GPS.
condominial
Data obtained for the book was catalogued based on research done on
condominium
several sources. Information on projects was taken from the office’s archives. Population information was gathered from each city administration, having
circulação
as a source, the IBGE (Brazilian Institute of Geography and Statistics) 2010
circulation
census. The location of each project was defined by a specific GPS program.
comercial commercial institucional institutional
9
Parque Novo Santo Amaro V Habitação-estrutura PARQUE NOVO SANTO AMARO V: HOUSING-STRUCTURE
A M´BOI
ESTRAD
O projeto Parque Novo Santo Amaro V representa um enfrentamento da questão das ocupações irregulares na área de mananciais da cidade de São Paulo com uma proposta que articula cotas, valoriza e cria centralidades e elabora tipologias habitacionais que contribuam à estruturação de elementos da cidade, alterando as ocupações inadequadas de fundos de vale e encostas.
MIRIM
BOULEVARD DA PAZ
23°41’45.4”S, 46°47’04.3”W
70,3%
3% 3,2% 8,1%
15.392m
0,4%
2
14,5% 7,7%
2
2
77,3%
66m2 2.132m2 1.133,1m2
201
15,5%
632,8m 702m 1.784,7m 3.387m2 21.899m2
2
11
11.343,1m2
52,5 a 76,5 m2
14.674,3m2
79 hab/ha
405,8 hab/ha
Uma das questões iniciais, quando do enfrentamento de um trecho da enorme área de proteção aos mananciais da cidade de São Paulo, ocupada indevidamente, era a de que algumas propostas estruturais pudessem ser referência para uma ação no território contínuo daquela região (Subprefeitura do M’Boi-Mirim). A ocupação irregular espraiou-se e acabou por caracterizar, ainda que sob o viés da pressão econômica, o que Santos (1994) chamou de território das “horizontalidades”, dos “lugares contíguos reunidos por uma continuidade territorial”. (O conceito de horizontalidade está ligado à ideia de resistência. As ocupações não deixam de ser uma possibilidade nesse sentido). Justamente por conta da construção desse território dar-se assim, como uma “revanche” da população pobre frente aos interesses econômicos hegemônicos (santos, 1994), é que uma hipótese de estruturação, mais abrangente e que poderia vir a ser sistêmica, deveria ser perseguida (sempre resguardando o tema da proteção ambiental). No projeto para o Parque Novo Santo Amaro V, assim como se esboçou no Boulevard da Paz, levantou-se uma hipótese nessa direção: edifícios habitacionais seriam pensados como estruturas que articulam topografia e vale (as linhas d’água) às vias e poderiam acontecer ao longo de toda a área a ser urbanizada. Liberariam faixas de proteção ambiental e funcionariam como suportes às atividades comerciais e de serviços que passariam a abrigar, além de serem articulações às conexões de cotas, que, por sua vez,
11 223
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surgiriam de suas “vias elevadas”. Uma estrutura-embrião, que poderia ser entendida como gênese/matriz da ocupação de um território especial. O Parque Novo Santo Amaro V representa um dos desafios mais emergentes: a ocupação dos mananciais já está reconhecidamente dada, muito por conta da omissão e permissividade do Estado. Só na região da Guarapiranga vivem mais de um milhão de pessoas. A reestruturação, criando-se condições reais de habitabilidade e recuperação ambiental, por meio de espaços públicos, acabou por se conformar como um dos desafios no sentido de se converter à cidade aquela grande mancha espraiada de habitações e ruas. A área do Parque Novo Santo Amaro tem topografia acidentada, fundos de vale ocupados, casas autoconstruídas e – em muitos casos – em situação de risco, raros equipamentos públicos e ligações viárias descontínuas. É de propriedade municipal e foi ocupada a partir da década de 1980. As edificações habitacionais, de vários pavimentos, têm uma lógica clara de implantação: confrontam as ruas, ocupam as encostas em desnível – adaptando-se a elas – e apresentam uma elevação posterior ao fundo de vale. Essas elevações posteriores são muito mais precárias do ponto de vista construtivo que as frontais. As que dão frente às ruas têm algum tipo de cuidado construtivo, além de incluírem atividades de comércio e serviço, conformando uma urbanidade possível àquelas condições. Conforme vamos nos aproximando das cotas mais baixas, mais
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provisórias são as construções e piores as condições sanitárias (o córrego é um canal de esgoto a céu aberto). As conexões entre as cotas acontecem tendo-se que vencer todo o desnível. Para se passar de uma das bordas da área à outra, com cotas semelhantes, só existia a alternativa de se descer até o fundo de vale e novamente subir a encosta. Dado que alguns dos elementos urbanos catalisadores, como a escola, por exemplo, situam-se em uma dessas cotas altas, o trajeto das crianças que moram na borda oposta acabava por acontecer de maneira indevida, por entre a área mais precária e com desafios topográficos significativos. Essa escola, com sua quadra, um equipamento do Estado, conformava uma das centralidades urbanas existentes por ali. A outra, um campo de futebol, acontecia no outro extremo, se considerado o percurso longitudinal ao longo da linha d’água. A partir dessas constatações e observações construiu-se uma formulação de projeto que articulava preexistências – habitacionais, de equipamentos e de percursos – às novas estruturas propostas. Para conformação de um partido considerou-se aquilo que já apresentava uma interação clara entre a ocupação informal e os elementos de uma reconhecida urbanidade e introduziu-se escalas, arquiteturas e espaços públicos que buscaram enfrentar a ausência de cidade e o território ambientalmente frágil. Dessa maneira, muito das casas construídas nas bordas do perímetro da área, voltadas para as ruas, foram mantidas e as das encostas e várzea é que seriam substituídas. Aqui, não parecia mais
[1 – página de abertura] Foto do conjunto construído [opening chapter page] Photo of built complex [2-4] Área antes da intervenção Area before intervention [5-7] Croquis de estudo Study sketches
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estar colocada a hipótese da tipologia do edifício convencional (caixa de escada, circulação horizontal, unidades habitacionais) como suficiente ao enfrentamento de área conformada de maneira tão distante da experiência urbana formal. Parecia ser necessário que se pensasse não mais exatamente em uma tipologia convencional, mas em um edifício que pudesse funcionar como uma “estrutura urbana”. Ou seja, que incluísse no seu programa, em sua espacialidade, itens que contribuíssem para a dinâmica da rua, para as transposições de cota, que abrigasse os equipamentos coletivos e públicos, que conformasse paisagem, que permitisse unidades habitacionais diversas para os diferentes arranjos familiares, entre outros aspectos. Dessa maneira foi projetada a lâmina habitacional: “serpenteando” a área, dispõe-se junto às cotas altas, abriga o comércio onde toca o térreo, cria frontalidade para o campo de futebol (reposicionado e acrescido de equipamentos complementares), ampara a área de fundo de vale e funciona como suporte das transposições transversais, que se dão a partir dos pórticos de acesso ao parque de fundo de vale. Ou seja, as edificações laminares propostas, alinhadas às ruas, viabilizam diferentes acessos, dada a topografia, e incluem uma “via
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elevada”, resultado, em alguns momentos, da concordância entre o edifício e uma cota real do terreno. Por isso, são também pontos de apoio às transposições. Uma linha de espelhos de água e uma pista de skate recompuseram a área de fundo de vale e de nascentes, dada a impossibilidade de se manter o córrego a céu aberto. Alterou-se, dessa maneira, a característica de fundos e de desvalorização da paisagem do córrego. O grande edifício, que se desdobra pela área tangenciando de maneira diferente as estruturas urbanas preexistentes, coloca a discussão da escala. Habitação como cotidianidade e habitação como exceção, monumento. Se considerarmos que a maior porcentagem do tecido das cidades corresponde à habitação, considerá-la como uma potente estrutura na conformação de lugares de precária urbanidade parece um recurso desejável. Essa foi a hipótese colocada pelo projeto para o Jardim Novo Santo Amaro. Cabe-nos, agora, atenção acerca dos desdobramentos dessa proposta quando considerado o tempo histórico, que atribui densidade e sentido à experiência humana nos ambientes construídos das cidades. ∏
[8] Croqui da fachada Elevation sketch [9] Corte transversal ao parque Transversal section from park [10 – próxima página] Implantação [next page] Site plan 1:1250 0
20m
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786,93
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776,04
778,03
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776,60 778,40 780,30
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781,69
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795 794 793 792 791 790 789 788
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.25
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0
5,3
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777
UEIROS
796
775,25
[11] Corte longitudinal Longitudinal section [12] Planta nível 778,77 Floor plan 778,77 ground level Rua Francisca Queirós
791
[13] Planta nível 783,90 – acesso à Floor plan 783,90 ground level – 790
access to Francisca Queirós Street Floor plan 786,30 ground level
789
788
787
[14] Planta nível 786,30 1:500
[13] 0
5m
783.00
786,78
774,36
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7
.60
COEL
777
RUA
DA OUSA HO L
77
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,33
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6
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.04
776
783,81
774,50
779
The Parque .03Novo Santo Amaro V project represents the challenge of 778 facing irregularly occupied areas on the edges of the water reservoirs in the city of São Paulo. It consists of a proposal that connects different ground planes, enriches and creates centralities and elaborates new housing typologies that contribute to the organization of the city, transforming the settlements found in the bottom of the valleys 0 and7hillsides. 8.4 One of the established concepts when facing this huge irregularly occupied area of environmental protection bordering a water reservoir in the city of São Paulo, was that some structural proposals could become a reference for an action applied directly onto the area in question (administered by the Sub-prefecture of M’Boi Mirim) as well as its surroundings. This irregular occupation spread out and ended up characterizing, still under the influence of economic pressure, what Santos (1994) called as the territory of “horizontalities”, of “adjacent places joined by a territorial continuity”. (The concept of horizontality is connected to the idea of resistance. The settlements can still be considered a possibility in this sense). Especially because the construction of this territory was done as”revenge” by the poor population against the homogenous economic interests (SanTOS, 1994), a more extensive or even systemic structuring strategy should be implemented (always preserving the environmental protection theme). In the Parque Novo Santo Amaro project, similarly to what was sketched for the Boulevard da Paz project, the concept was taken to this direction: the residential buildings were to be located along the watercourse and would serve as a structuring element used to connect several
Parque Novo Santo Amaro V: habitação-estrutura
231 19
[15] Elevação Rua Coelho Lousada
[17] Corte transversal à quadra
Elevation from Coelho
Transversal cross section from
Lousada Street
block
[16] Elevação Rua Franscisca
1:250
Queirós
0
5m
Elevation from Francisca 16
Queirós Street 1:500 0
5m
17
15
ground levels to the main streets, which were to be entirely urbanized. Occupied strips of environmentally protected areas would be cleared off to give room to retail spaces that would also act as connections between the different ground levels, emerging from their “elevated streets”. An “embryonic structure” that could be understood as an occupation genesis/matrix of a special territory. The Parque Novo Santo Amaro V project represents one of the most emergent challenges: the occupation of the edges of the water reservoirs is well known and somewhat ignored by the State. Only in the Guarapiranga region, there are over one million people living there. The re-structuring process, by creating habitable areas and areas of environmental protection through the expansion of public spaces, was defined as the challenge of transforming sprawl into city. Parque Novo Santo Amaro is located in an area of accentuated topography, where the bottom of the valley is completely occupied by self-built houses in mostly unsafe areas. There are almost no public service facilities and it is very disconnected from the street city grid. The land is owned by the city and was occupied during the early 1980’s. The multi-story housing buildings have a clear site layout: they face the streets and occupy the multi-level hillsides, adapting to their curvature and presenting a back elevation that almost touches the hillside. These back elevations are much more precarious than the front elevations, at least from a constructive point of view. The front elevation present some constructive care and urban features that include retail and service areas. As we get closer to the lower levels, the more precarious the buildings are and the sanitary conditions also worsen considerably (the water stream is an open air sewage canal). The connections between the different ground levels must handle all of the height differences. In order to access one edge of the neighborhood from the other edge, with a similar ground elevation, there was only one option, which was to go down until the bottom of the valley and then go up again. Given that some of the catalyzing urban elements, such as the local school,
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[15]
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[18] Perspectiva digital do
[19] Corte longitudinal
conjunto
Longitudinal section
Digital 3D perspective of complex
1:500 0
5m
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are located on the highest points, the path the children who live on the opposite edges had to make was dangerous, going through a more precarious area with significant topographical challenges. This school, along with its public sports court, was considered one of the local urban centralities. The other centrality was a soccer field located on the other side of the neighborhood, which could be accessed by a pathway going along the watercourse. Based on these conclusions and observations, a project formula able to articulate pre-existing housing, facilities and circulation elements with the new proposed structures was established. To form a parti, the existing interface between formal and informal elements was considered. To them, new scales, architecture and public spaces were added in order to compensate the absence of city like qualities and strengthen its fragile urban territory. Therefore, the houses built on the edges of the neighborhood that were facing the street were kept, and the ones built along the water borders would be substituted. Here, the traditional housing building typology (stairway core, horizontal circulation, apartment units) was not considered an appropriate option that could enhance the urban experience. It seemed necessary to think of a completely new building typology that would also be considered an “urban structure”. In other words, that would include in its program elements able to contribute to the dynamic of the streets, transpose the steep inclinations, house collective and public facilities, fit into the topography and allow the housing units to have flexible and adaptable layouts amongst other aspects.
According to these guidelines, the housing complex was designed. These buildings were winding along the slopes and high areas, offering retail spaces on the ground level, creating a front to the soccer field (repositioned and given some complementary facilities), protecting the bottom of the valley and acting as a foundation to these transversal transpositions placed on the porticos that access the bottom of the valley. In other words, the proposed buildings, aligned to the streets, allow for multiple circulation possibilities inside this area of steep topography and include an “elevated street”, which happens when the building and the ground level are the same. Therefore, these areas are also transposition points. A linear reflecting pool and a skateboard track composed original area of the bottom of the valley and the water spring, since it was impossible to maintain the polluted water stream above ground. This way, the characteristics derived from the condition of facing the back of the valley, which resulted in a degraded landscape, could be completely eliminated. The large building, that unfolds and touches the existing urban structures in different ways, established a discussion on scale. Housing as a daily necessity and at the same time as an exception or a monument. If we consider that the highest percentage of the urban fabric corresponds to housing, considering it a powerful resource able to transform the precarious urban conditions is nothing but desirable and coherent. This was therefore the proposal for the Jardim Novo Santo Amaro project. Now, it is important to be aware of the side effects of this proposal when considering historical time, that attributes density and meaning to the human experience in the built environment of the cities. ∏
Parque Novo Santo Amaro V: habitação-estrutura
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[20] Unidade habitacional de dois
[24] Unidade habitacional duplex I
dormitórios I
Type I duplex housing unit
Type I two bedroom housing unit
[25] Unidade habitacional duplex II
[21] Unidade habitacional de dois
Type II duplex housing unit
dormitórios II
1:150
Type II two bedroom housing unit
0
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1m
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[22] Unidade habitacional de três dormitórios
[26-34 – próximas páginas] Fotos
Three bedroom housing unit
do conjunto construído
[23] Unidade habitacional de dois
[next pages] Photos of finished
dormitórios III
complex
Type III two bedroom housing unit
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIBLIOGRAPHY
Perfil Vigliecca & Associados PROFILE
Vigliecca & Associados é formado pelos sócios fundadores Héctor Vigliecca e Luciene Quel, os associados Paulo Serra (diretor), Ronald Werner (gestor de Projetos Esportivos), Neli Shimizu (gestora de Habitação de Interesse Social) e Caroline Bertoldi (gestora de Projetos Urbanos) e uma equipe de cerca de 40 profissionais entre os escritórios de São Paulo e do Rio de Janeiro. Responsável pelo dna do escritório, Héctor Vigliecca tem mais de 40 anos de carreira. Nascido em Montevidéu, no Uruguai, em 1940, mudou-se para o Brasil em 1975. Em 1996, Héctor e Luciene fundou o Vigliecca & Associados. Já são desta fase projetos como o do Grande Museu do Egito (2003), desenvolvido para um concurso público internacional. Além de receber “Menção Honrosa”, o projeto ficou entre os 10 finalistas. Outro destaque é o projeto da Biblioteca Nacional do México (2003), também finalista de um concurso internacional. Com uma vasta produção de projetos que abarca desde habitação de interesse social, arenas esportivas e edifícios de alta complexidade nos âmbitos cultural, educacional e institucional até grandes intervenções urbanas. É reconhecido principalmente por sua expertise em urbanismo e atuação em áreas críticas. Destaca-se por atualizar o debate na arquitetura brasileira e demonstrar uma alternativa na atuação de projetos públicos. Trata a arquitetura além do objeto – como um processo de construção da cidade.
Vigliecca & Associados is formed by the founding partners Héctor Vigliecca and Luciene Quel as well as the associates Paulo Serra (director) Ronald Werner (sports project coordinator), Neli Shimizu (social housing project coordinator) and Caroline Bertoldi (urban project coordinator) and a team of approximately 40 professionals in the São Paulo and Rio de Janeiro offices. Responsible for the office’s dna, is Héctor Vigliecca, who has more than 40 year of professional experience. Born in 1940 in, Montevideo, Uruguay, he moved to Brazil in 1975. In 1996, Héctor and Lucienne founded Vigliecca & Associates. This phase includes projects such as the Grand Egyptian Museum (2003), developed for an international design competition. In addition to being awarded an honorable mention, the project was one of the 10 finalists. Another noticeable project is the Mexico National Library (2003), also an international competition finalist. Vigliecca & Associados presents a huge range of projects, including social housing, sports arenas and complex cultural, educational and institutional buildings as well as large urban planning projects. Héctor is recognized for his expertise in urban design and his influence in critical urban areas. He has always updated the debate on Brazilian architecture by demonstrating alternatives on how to carry out public projects. He approaches architecture beyond the object – as a city-building process.
267 31
Organização | Organization
Dados Internacionais de Catalogação da Publicação (cip)
Lizete Maria Rubano
(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)
Textos | Texts Héctor Vigliecca
O terceiro território : habitação coletiva e cidade : Vigliecca & Associados –
Lizete Maria Rubano
The third territory : collective housing and city : Vigliecca & Associados
Luiz Recamán
/ Héctor Vigliecca ; Lizete Maria Rubano, organização ; Luiz Recamán,
Tradução | Translation
apresentação. — São Paulo : Arquiteto Héctor Vigliecca e Associados, 2014.
Melissa Ramos Projeto Gráfico | Graphic Design
Edição bilíngue: português/inglês.
Leandro Leão
Bibliografia.
Marcela Alonso Ferreira
isbn
978-85-66239-00-3
Mariana Strassacapa Ou Natália Harumi Tanaka
1. Arquitetura 2. Cidades 3. Habitação coletiva – Brasil 4. Urbanismo
Raphael Grazziano
5. Urbanização I. Rubano, Lizete Maria. II. Recamán, Luiz. III. Título.
Apoio | Support
IV. Título: The third territory : collective housing and city : Vigliecca &
Luci Tomoko Maie
Associados.
Paulo Eduardo de Arruda Serra Pesquisa de dados | Data research
14–07713
Rodrigo de Souza Nazareth Giorgi Revisão da tradução - textos: Rubano, Vigliecca e Recamán |
Índices para catálogo sistemático:
Translation revision - texts: Rubano, Vigliecca and Recamán
1. Habitação coletiva e cidade : Arquitetura e urbanismo 711.4
Anita di Marco
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cdd–711.4