2ª Edição
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Rodrigo Nunes Lamounier Silmara A. Oliveira Leite Walter Minicucci
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Manual prático de
Diabetes Prevenção, detecção e tratamento do diabetes
Autor
Rodrigo Nunes Lamounier
Médico Endocrinologista. Doutor em Endocrinologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Professor Visitante da Faculdade de Medicina da Universidade da Pensilvânia, Filadélfia, EUA. Assistente da Equipe de Endocrinologia do Hospital Mater Dei (Belo Horizonte, MG). Diretor Clínico do Centro de Diabetes de Belo Horizonte (CDBH).
Colaboradores Especiais
Walter Minicucci
Médico Especialista em Endocrinologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Mestre em Endocrinologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Médico da Disciplina de Endocrinologia da Unicamp. Vice-Presidente Eleito da SBD - Biênios 2006-2007 e 2010-2011.
Silmara Leite
Médica Endocrinologista. Coordenadora do Projeto de Atendimento Programado ao Diabetes Staged Diabetes Management (SDM) - Brasil. Doutora em Ciências Médicas pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. Professora de Clínica Médica e Endocrinologia do Centro Universitário Positivo (PR).
Colaboradores
Maria Regina Calsolari
Médica Endocrinologista. Mestra em Medicina pela Santa Casa de Belo Horizonte. Coordenadora do Serviço de Pé Diabético da Clínica de Endocrinologia da Santa Casa de Belo Horizonte.
João Paulo Machado Lemos
Médico Endocrinologista. Médico Assistente da Enfermaria de Endocrinologia da Santa Casa de Belo Horizonte. Assistente do Ambulatório de Endocrinologia Geral da Santa Casa de Belo Horizonte. Coordenador Científico do CDBH.
Tiago Alvarenga Fagundes
Médico Endocrinologista. Especialista em Endocrinologia pela SBEM.
Ana Luiza Baeta Pereira Barbosa
Médica Dermatologista. Especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Débora Bohnen Guimarães
Nutricionista do Ambulatório de Diabetes Tipo 1 da Santa Casa de Belo Horizonte. Nutricionista do CDBH.
William Valadares
Professor de Educação Física e Especialista em Atividade Física para Grupos Especiais. Educador Físico do Ambulatório de Diabetes Tipo 1 da Santa Casa de Belo Horizonte. Coordenador do Setor de Educação Física do CDBH.
2009 - Rio de Janeiro - 2ª edição
prefácio O diabetes mellitus é uma doença multifacetada que vem desafiando a prática médica não apenas por sua incidência e prevalência crescentes, mas também por seu grande impacto na morbimortalidade e no custo de assistência à saúde. Diversos estudos têm consistentemente demonstrado que a prevenção das complicações crônicas de longo prazo associadas ao diabetes depende fundamentalmente do controle clínico adequado, tanto da glicemia como dos outros fatores relacionados, como hipertensão arterial, dislipidemia, sedentarismo e obesidade. A despeito dos grandes avanços no arsenal terapêutico disponível nos últimos anos, lamentavelmente, a maioria dos pacientes com diabetes no Brasil e no mundo continua com controle clínico e metabólico inadequado. Na tentativa de colaborar nas decisões do dia a dia, perante um paciente com diabetes, trazemos esta 2ª edição atualizada do Manual Prático de Diabetes, que sintetiza grande quantidade de informações essenciais e disponíveis em relação ao tratamento da doença, de forma condensada, portátil e de fácil consulta. Um conteúdo para médicos, desenvolvido por uma equipe multidisciplinar em saúde, assim como deve ser a assistência ao paciente com diabetes. Esperamos, com este material, despertar o envolvimento e a sensibilidade dos profissionais em torno de uma visão de vida ativa, com saúde e qualidade para as pessoas com diabetes.
Rodrigo Nunes Lamounier
Reservados todos os direitos de publicação em língua portuguesa à AC Farmacêutica® SP Rua Dr. Martins de Oliveira, 33 - Jardim Londrina - CEP 05638-030 - São Paulo - SP - Tel.: (11) 5641-1870 RJ Estrada do Bananal, 56 - Freguesia/Jacarepaguá - CEP 22745-012 - Rio de Janeiro - RJ - Tel.: (21) 2425-1440 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora.
Editado e comercializado por
AC Farmacêutica Diretores: Silvio Araujo e André Araujo Coordenadora médica e editorial: Stela Maris Costalonga Comercial: Selma Brandespim, Wilson Neglia e Rosângela Santos Designers gráficos: Vinícius Nuvolari Revisão de texto: Patrizia Zagni SP Rua Dr. Martins de Oliveira, 33 - Jardim Londrina - CEP 05638-030 - São Paulo - SP - Tel.: (11) 5641-1870 RJ Estrada do Bananal, 56 - Freguesia/Jacarepaguá - CEP 22745-012 - Rio de Janeiro - RJ - Tel.: (21) 2425-1440 Todo o desenvolvimento, bem como suas respectivas fotos de conteúdo científico, é de responsabilidade dos autores, não refletindo necessariamente a posição da editora. Distribuição exclusiva à classe médica.
ÍNDICE Capítulo 1: Diagnóstico de diabetes Critérios para o diagnóstico de diabetes
1-2
Critérios para rastreamento de diabetes na população em geral
1-2
Classificação etiológica do diabetes mellitus
1-3
Rastreamento de diabetes mellitus gestacional
1-5
Diagnóstico diferencial de diabetes mellitus tipos 1/LADA e 2
1-6
Avaliação de autoimunidade
1-6
Reserva pancreática de insulina
1-7
Critérios diagnósticos de síndrome metabólica
1-8 1-9
Referências Capítulo 2: Metas no tratamento do diabetes mellitus
2-2
Crianças e adolescentes
2-3
Gestantes
2-4 2-4
Referências Capítulo 3: Gerenciamento do peso Tratamento
3-3
Cirurgia bariátrica
3-5
Técnicas cirúrgicas
3-6
Orientações nutricionais
3-7
Evolução pós-operatória
3-8
Reposição vitamínica Referências
3-9 3-11
Capítulo 4: Atividade Física Recomendações
4-2
Fatores que influenciam a resposta ao exercício
4-2
Referências
4-6
ÍNDICE
Adultos
Capítulo 5: Aspectos nutricionais no diabetes mellitus Aspectos nutricionais no diabetes mellitus
5-2
Composição do plano alimentar
5-4
Nutrição em situações especiais
5-4
Contagem de carboidratos
5-5
Referências
5-8
ÍNDICE
Capítulo 6: Monitoração glicêmica Automonitoração domiciliar das glicemias
6-2
Hemoglobina glicada
6-3
Monitoração contínua de glicose (CGMS)
6-4
Locais alternativos de testes (LATs)
6-5
Referências
6-6
Capítulo 7: Tratamento medicamentoso da hiperglicemia no DM2
7-2
Princípios básicos do tratamento
7-11
Insulinização no DM2
7-12 7-15
Cálculo da dose de insulina Referências Capítulo 8: Tratamento no Diabetes Tipo 1 Esquemas de insulinoterapia
8-2 8-9
Fator de correção
8-10
Situações especiais: causas de hiperglicemia matinal
8-10
Referências Capítulo 9: Tratamento da hiperglicemia na gravidez
9-2
Cuidados pré-concepcionais em pacientes com diabetes
9-2
Avaliação inicial na paciente com diabetes que planeja engravidar
9-3
Diabetes mellitus gestacional (DMG)
9-3
Acompanhamento durante a gestação
9-4
Tratamento
9-5
O Parto
9-6 9-6
Acompanhamento após o parto Referências Capítulo 10: Emergências em diabetes mellitus
10-2
Hipoglicemia
10-4
Cetoacidose diabética
10-6
Cetoacidose diabética em adultos
10-8
Cetoacidose diabética em crianças e adolescentes
10-10
Estado hiperglicêmico hiperosmolar não-Cetótico (EHHNC)
10-12
Capítulo 11: Tratamento da dislipidemia Metas gerais do tratamento
11-2 11-5
Referências Capítulo 12: Complicações renais
12-2
Conduta nas complicações renais
12-4
Anormalidade de excreção da albumina
12-4
Estágios da doença renal diabética
12-5
Referências Capítulo 13: Hipertensão arterial e doença coronariana no diabetes mellitus
13-2
Hipertensão arterial
13-4
Tratamento medicamentoso: princípios gerais
13-4
Anti-hipertensivos disponíveis no Brasil
13-9
ÍNDICE
Referências
Indicações da MAPA (Medida Ambulatorial da Pressão Arterial)
13-9
Achados que sugerem hipertensão arterial secundária
13-10
Indicações para testes cardíacos em pacientes com diabetes mellitus
13-11
Testes para avaliação de doenças coronarianas
13-12
Uso de agentes antiplaquetários no diabetes mellitus
13-13
Referências Capítulo 14: Retinopatia diabética
14-2
Fatores de risco
14-2
Esquema recomendado para exames oftalmológicos em diabéticos
14-3
Classificação da retinopatia diabética
14-4
ÍNDICE
Referências Capítulo 15: Neuropatia diabética Diagnóstico e classificação
15-2 15-7
Acompanhamento
15-10
Pé diabético
15-12
Avaliação clínica
15-14
Investigação da neuropatia
15-16
Exames complementares
15-18
Referências Capítulo 16: Tratamento do diabetes mellitus em pacientes internados
16-2
Hipoglicemia
16-4
Hiperglicemia
16-6
Preparo cirúrgico - pré-operatório
16-7
Preparo cirúrgico - perioperatório
16-8
Preparo cirúrgico - pós-operatório
16-8
Referências
Capítulo 17: Manifestações dermatológicas no diabetes melli-
17-2
tus Dermatopatias no paciente diabético
17-5
Patologias dermatológicas frequentes na população em geral e no
17-8
diabetes mellitus Referências Capítulo 18: Diabetes e coração: perguntas e respostas de dúvidas frequentes
18-2 18-12
Perguntas e respostas sobre diabetes e coração Referências Anexos
A-2
para crianças e adolescentes Anexo 2 - Classificação de sobrepeso e obesidade para crianças e adolescentes (ajuste de IMC)
A-4 A-6
Anexo 3 - Plano alimentar e orientações nutricionais – sugestões
A-20 A-26
Anexo 4 - Lista de substituições dos alimentos – gramas de carboidratos
A-44
Anexo 5 - Tabela de contagem de carboidratos
A-46
Anexo 6 - Diário de automonitoração domiciliar
A-48
Anexo 7 - Guia prático de cuidados para o pé do diabético
A-50
Anexo 8 - Investigação de sintomas neuropáticos
A-52
Anexo 9 - Protocolo de avaliação do pé
A-53
Anexo 10 - Efeitos adversos associados ao uso de antidiabéticos orais
A-54
Anexo 11 - Locais adequados para aplicação de insulina
A-55
Anexo 12 - Cuidados na armazenagem e transporte de insulina Anexo 13 - Tipos de insulina e tempo de ação
ÍNDICE
Anexo 1 - Valores de pressão arterial referentes ao percentil 90
Siglas e abreviaturas do manual
Siglas e abreviaturas do manual 5HT: serotonina AACE: American Association of Clinical Endocrinology ACC: antagonista dos canais de cálcio ADA: Associação Americana de Diabetes A1C: glicohemoglobina (HbA1c) AHA: American Heart Association AIT: ataque isquêmico transitório AVC: acidente vascular cerebral BIC: bomba de infusão contínua BID: duas vezes ao dia BRA: bloqueador do receptor AT1 da angiotensina II CAD: cetoacidose diabética CGMS: sistema de monitoração contínua de glicose CHO: carboidrato CV: cardiovascular DA: dopamina DAP: doença arterial periférica DCV: doença cardiovascular DM: diabetes mellitus DM1: diabetes tipo 1 DM2: diabetes tipo 2 DMG: diabetes mellitus gestacional DCCT: Diabetes Control and Complications Trial (grande estudo clínico americano envolvendo pacientes com diabetes tipo 1) EASD: Associação Europeia para Estudo do Diabetes ECG: eletrocardiograma EDIC: Epidemiology of Diabetes Interventions and Complications (coorte de seguimento dos pacientes que participaram do DCCT) EHHNC: estado hiperglicêmico hiperosmolar não-cetótico
GI: gastrointestinal GJ: glicemia de jejum GPP: glicemia pós-prandial HbA1c: glicohemoglobina HCTZ: hidroclorotiazida HLA: antígeno leucocitário humano IAM: infarto agudo do miocárdio IDF: International Diabetes Federation IECA: inibidor da enzima conversora de angiotensina IMC: índice de massa corporal ITU: infecção de trato urinário LADA: diabetes autoimune latente do adulto MEV: mudança de estilo de vida MGD: monitoração glicêmica domiciliar MID: uma vez ao dia NA: noradrenalina NCEP: National Cholesterol Education Program NPH: Neutral Protamine Hagedorm PAD: pressão arterial diastólica PAS: pressão arterial sistólica PUVA: psoraleno + ultravioleta A QID: quatro vezes ao dia SBD: Sociedade Brasileira de Diabetes SC: subcutâneo SNC: sistema nervoso central TID: três vezes ao dia TOTG: teste oral de tolerância à glicose UKPDS: United Kingdom Prospective Diabetes Study (grande estudo clínico britânico envolvendo pacientes com diabetes tipo 2) VCT: valor calórico total
Capítulo 1: Diagnóstico de diabetes 1-2
Critérios para rastreamento de diabetes na população em geral
1-2
Classificação etiológica do diabetes mellitus
1-3
Rastreamento de diabetes mellitus gestacional Diagnóstico diferencial de diabetes mellitus tipos 1/LADA e 2
1-5 1-6
Avaliação de autoimunidade
1-6
Reserva pancreática de insulina
1-7
Critérios diagnósticos de síndrome metabólica
1-8
Referências
1-9
DIAGNÓSTICO DE DIABETES
Critérios para o diagnóstico de diabetes
1-2
DIAGNÓSTICO DE DIABETES Critérios para o diagnóstico de diabetes Tabela1.1 – Critérios diagnósticos de diabetes mellitus de acordo com a glicemia plasmática (mg/dl) Condição Normal Glicemia de jejum alterada
DIAGNÓSTICO DE DIABETES
Tolerância diminuída à glicose Diabetes
Jejum*
TOTG**
Casual***
<100
<140
-
Entre 100 e 125
-
-
-
Entre 140 e 199
-
≥ 126
≥ 200
≥ 200 + sintomas
Sendo definida como glicemia casual, uma medida em qualquer horário do dia, independentemente de sua relação com refeição. Os sintomas clássicos incluem poliúria, polidipsia ou perda de peso inexplicável. Confirmar posteriormente por qualquer um desses métodos. Confirmação é desnecessária se glicemia > 200 mg/dl com sintomas típicos. *Após 8 h de jejum. **2 h após sobrecarga oral com 75 g de glicose anidra.
Até 30% dos pacientes com glicemia de jejum ≤ 99 mg/dl têm TOTG com glicemia elevada. A glicemia de jejum é o método de escolha para o diagnóstico de diabetes pelo menor custo, melhor reprodutibilidade e mais fácil execução. A HbA1c (hemoglobina glicosilada) não é recomendada para ser usada para diagnóstico. Entretanto, com o trabalho de padronização da A1c, esclarecendo sua correlação com a glicemia média e a maior evidência do significado prognóstico de seu resultado, há tendência de que a American Diabetes Association (ADA), a European Association for the Study of Diabetes (EASD) e a International Diabetes Federation (IDF) aprovem o uso da A1c também no diagnóstico de diabetes. Critérios para rastreamento de diabetes na população em geral 1. Teste para pesquisa de diabetes deve ser feito em todos os indivíduos a partir de 45 anos de idade, especialmente naqueles com IMC ≥ 25 kg/m2, e se o resultado for normal, deve ser repetido a cada 3 anos. 2. O teste deve ser feito em indivíduos mais jovens, ou com maior frequência naqueles com IMC ≥ 25 kg/m2 e que apresentam fatores de risco adicionais, tais como:
1-3
a) sedentarismo; b) história de parente de primeiro grau com diabetes; c) história de gravidez prévia com feto pesando mais de 4 kg, ou diagnóstico prévio de DMG; d) presença de hipertensão arterial sistêmica (HAS); e) presença de HDL < 35 mg/dl e/ou triglicérides ≥ 250 mg/dl; f) presença de síndrome de ovários policísticos; g) presença de outra circunstância associada à resistência insulínica (p. ex.: acantosis nigricans, uso crônico de corticoterapia);
Classificação etiológica do diabetes mellitus 1. Diabetes tipo 1 – destruição de célula beta, geralmente causando deficiência absoluta de insulina: a) autoimune; b) idiopático. 2. Diabetes tipo 2 – pode variar desde um quadro predominante de resistência insulínica com deficiência insulínica relativa até um quadro com predomínio de deficiência de secreção de insulina com presença de resistência insulínica associada. 3. Outros tipos específicos a) Defeitos genéticos da função da célula beta – MODY1: gene HNF-4α; cromossomo 20q. – MODY2: gene glucoquinase; cromossomo 7p. – MODY3: gene HNF-1α; cromossomo 12q. – MODY4: gene fator promotor de insulina; cromossomo 13q . – MODY5: gene HNF-1β; cromossomo 17q. – MODY 6: gene neuro D1; cromossomo 2q. – Diabetes mitocondrial. – Outros.
DIAGNÓSTICO DE DIABETES
h) história de doença vascular prévia.
DIAGNÓSTICO DE DIABETES
1-4
b) Defeitos genéticos na ação da
– Agonistas beta-adrenérgicos
insulina
– Tiazídicos
– Resistência insulínica tipo A
– Dilantina
– Leprechaunismo
– Interferon alfa
– Síndrome Rabson-Mendenhall
– Outros
– Diabetes lipoatrófico
f) Infecções
– Outros
– Rubéola congênita
c) Doenças do pâncreas exócrino
– Citomegalovírus
– Pancreatite
– Outros
– Trauma/pancreatectomia
g) Causas raras de diabetes
– Neoplasia
autoimune
– Fibrose cística
– Síndrome de Stiff-man
– Hemocromatose
– Anticorpos antirreceptores
– Pancreatopatia fibrocalculosa
de insulina
– Outros
– Outros
d) Causas endocrinológicas
h) Outras síndromes genéticas
– Acromegalia
associadas ao diabetes
– Síndrome de Cushing
– Síndrome de Down
– Glucagonoma
– Síndrome de Klinefelter
– Feocromocitoma
– Síndrome de Turner
– Hipertireoidismo
– Síndrome de Wolfram
– Somatostatinoma
– Ataxia de Friedreich
– Aldosteronoma
– Coreia de Huntington
– Outros
– Síndrome de Laurence-Moon-
e) Induzido por drogas ou tóxica
Bieldel
– Pentamidina
– Distrofia miotônica
– Ácido nicotínico
– Porfiria
– Glicocorticoides
– Síndrome de Prader-Willi
– Hormônio tireoidiano
– Outros
– Diazóxido
1-5
4. Diabetes mellitus gestacional (DMG) Importante salientar que independentemente do tipo, todas as formas de diabetes podem requerer o uso de insulina em algum estágio da sua doença, portanto o uso de insulina em si não determina o tipo de diabetes. Rastreamento de diabetes mellitus gestacional Fatores de risco – Idade superior a 25 anos. – Obesidade ou ganho excessivo de peso na gravidez atual. – Baixa estatura (≤ 1,51cm). – Crescimento fetal excessivo, polidrâmnio, hipertensão ou pré-eclâmpsia na
gravidez atual. – Antecedentes obstétricos de morte fetal ou neonatal, de macrossomia ou
de diabetes gestacional. O rastreamento de diabetes gestacional deve ser feito em todas as gestantes, independentemente da presença ou não de fatores de risco. A medida da glicemia de jejum deve ser realizada na primeira consulta. Caso isso ocorra antes da 20ª semana de gravidez, nos casos negativos, deve-se repetir a glicemia de jejum entre a 24ª e a 28ª semana de gestação. Glicemia de jejum na primeira consulta ≥ 85 mg/dl
< 85 mg/dl Glicemia de jejum entre a 24ª e a 28ª semana
*
Rastreamento positivo
≥ 85 mg/dl
< 85 mg/dl
Rastreamento positivo
Rastreamento negativo*
Pode-se repetir novamente o rastreamento no terceiro trimestre em pacientes de alto risco.
Figura 1.1 – Rastreamento de diabetes gestacional.
DIAGNÓSTICO DE DIABETES
– História familiar de diabetes em parentes de primeiro grau.
1-6
Em caso de GJ ≥ 110 mg/dl, pode-se confirmar o diagnóstico com a repetição desse resultado em outro exame, ou por meio do TOTG 2 horas após administração de 75 g de glicose anidra.
DIAGNÓSTICO DE DIABETES
Rastreamento positivo GJ entre 85 e 109 mg/dl
GJ > 110 mg/dl
TOTG duas horas pós-75 g entre a 24ª e a 28ª semana
Repetir GJ GJ > 110 mg/dl
GJ < 110 mg/dl e 2 h < 140 mg/dl Teste negativo
GJ ≥ 110 mg/dl ou 2 h ≥ 140 mg/dl
Diabetes gestacional
Diabetes gestacional
Figura 1.2 – Rastreamento positivo para DMG.
Diagnóstico diferencial de diabetes mellitus tipos 1/LADA e 2 Estima-se que cerca de 20% dos pacientes diagnosticados como DM2 têm, na verdade, LADA. Pode-se estabelecer como critérios diagnósticos de LADA: a idade no diagnóstico entre 25 e 65 anos; a ausência de CAD ou hiperglicemia acentuada sintomática no diagnóstico ou imediatamente após, sem necessidade de insulina por pelo menos 6 a 12 meses (diferenciando do DM1 do adulto); e a presença de autoanticorpos (especialmente GADA, diferenciando do DM2). Avaliação de autoimunidade Dosagem dos autoanticorpos. Indicações: – Diferenciação de DM1 de origem autoimune ou idiopática. – Diferenciação entre DM1/LADA e DM2. – Eventualmente, para se estimar o risco de DM1 em crianças.
1-7
Tabela1.2 – Anticorpos e DM1 Anticorpos
Descrição Anticorpos policlonais tipo IgG que reagem com todos os componentes da ilhota. Anti-GAD e IA2 são subfrações, presentes em 60% a 90% dos DM1 recém-diagnosticados
Anti-GAD (decarboxilase do ácido glutâmico)
Presente em 80% dos pacientes com DM1, mantendose positivo em até 50% dos pacientes após 10 anos de diagnóstico. Sua positividade é forte preditor de diagnóstico futuro de DM1. Exame de escolha para rastreamento e confirmação de autoimunidade como causa de DM
Anti-IA2 (antígeno 2 de insulinoma)
AC contra tirosinofosfatase IA2/ICA512. Presente em 60% dos casos ao diagnóstico
Anti-insulina (IAA)
Presente em 50% dos pacientes menores de 5 anos de idade com diagnóstico recente. Deve ser dosado antes da terapia insulínica e tem pouco valor após 10 anos de idade
A dosagem de GAD + IA2 ou GAD + IAA identifica cerca de 85% dos pacientes com DM 1, prevendo o desenvolvimento futuro com mais de 95% de especificidade. O IAA pode preceder os outros anticorpos, devendo ser dosado com os demais em crianças menores de 10 anos. O aumento da susceptibilidade também se relaciona à presença dos genótipos do HLA-DR DQ, e mais de 90% dos pacientes com DM1 têm HLA-DR3 e/ou DR4. Por outro lado, genótipos incluindo HLA-DR11 ou DR15 conferem proteção. Reserva pancreática de insulina Dosagem de peptídeo C e teste de tolerância à glicose endovenosa: são utilizados na diferenciação dos tipos de diabetes e podem auxiliar na escolha do tratamento do DM2 entre a insulina ou secretagogos. Teste de tolerância à glicose endovenosa (GTTev): avalia a primeira fase de secreção da insulina. Deve ser realizado após 3 dias de ingestão de pelo menos 150 g de carboidrato por dia. A quantidade de 0,5 g/kg (máximo de 35 g) de glicose em solução a 25% é infundida em 3 minutos. Amostras de sangue são colhidas 10 e 5 minutos antes e 1 e 3 minutos após a infusão.
DIAGNÓSTICO DE DIABETES
AC anti-ilhota (ICA)
1-8
A soma das insulinas no primeiro e no terceiro minuto após a infusão menor que 48 U/ml sugere insuficiência das células beta e indica alto risco de evolução para diabetes.
Diagnóstico de diabetes (hiperglicemia)
IMC < 25
IMC > 25 Dosagem de peptídeo C + insulina jejum
DIAGNÓSTICO DE DIABETES
Dosagem de anticorpos
Positivo
Negativo
DM1 ou LADA
Dosagem de peptídeo C + insulina jejum Alto DM2
Baixo
Baixo
Alto
DM2
Dosagem de anticorpos Negativo
DM1 idiopático ou MODY
Positivo DM1 ou LADA
Figura 1.3 – Diagnóstico diferencial de DM1/LADA e DM2.
Critérios diagnósticos de síndrome metabólica Há diversos critérios diagnósticos para a síndrome metabólica, que se constitui num conjunto de fatores de risco cardiovasculares, sendo frequentemente encontrada em pacientes com diabetes mellitus e obesos, já que o fenômeno subjacente básico é a resistência à ação da insulina.
1-9
Tabela 1.3 – Critério diagnóstico para síndrome metabólica de acordo com a IDF Presença de obesidade central (circunferência abdominal) Homens > 90 cm Mulheres > 80 cm Associada a dois ou mais dos seguintes fatores de risco Triglicérides ≥ 150 mg/dl ou tratamento específico HDL < 40 mg/dl ou tratamento específico PAS ≥ 130 mmHg ou PAD ≥ 85 mmHg ou tratamento específico GJ ≥ 100 mg/dl ou diagnóstico prévio de DM
Presença de pelo menos três das alterações abaixo PAS ≥ 130 mmHg ou PAD ≥ 85 mmHg ou tratamento específico Triglicérides ≥ 150 mg/dl ou tratamento específico HDL < 40 mg/dl (homens) ou < 50 mg/dl (mulheres) ou tratamento específico Cintura abdominal: > 102 cm (homens) e > 88 cm (mulheres) GJ ≥ 110 mg/dl
Referências American Diabetes Association. Report of the expert committee on the diagnosis and classification of diabetes mellitus. Diabetes Care 2002;25(Suppl1):S5-S20. Atualização Brasileira sobre Diabetes – Sociedade Brasileira de Diabetes, Rio de Janeiro: Diagraphic 2006. Eisenbarth GS, Polonsky KS, Buse JB. Type 1Diabetes. In: Willians textbook of endocrinology. 10th ed. Philadelphia: W. B. Saunders 2003. Eisenbarth GS. Type 1 diabetes. In: Joslin’s diabetes mellitus. 14th ed. Boston 2005. Gross JL et al. Diabetes melito: diagnóstico, classificação e avaliação do controle glicêmico. Arq Bras Endocrinol Metab 2002; 46(1):16-26. Rolka DB, Narayan KMV, Thompson TJ. Performance of recommended screening tests for undiagnosed diabetes and dysglycemia. Diabetes Care 2001;24:1899-903. Standards of Medical Care in Diabetes – 2007. Diabetes Care 2007;30 (Suppl1):S4-S41. The DECODE Study Group. Glucose tolerance and mortality: comparison of WHO and American Diabetic Association diagnostic criteria. Lancet 1999;354:617-21. http://www.endotext.org/diabetes/diabetes1/diabetesframe1.htm. Acessado em 02/11/2007.
DIAGNÓSTICO DE DIABETES
Tabela 1.4 – Critério diagnóstico para síndrome metabólica de acordo com o NCEP