Relatório floristico 2008

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RELATÓRIO Levantamento

preliminar

de

espécies

vegetais,

caracterização e avaliação do estado de conservação da vegetação da área de implantação da nova sede da empresa VINA – Equipamentos e Construções LTDA, no bairro Barreiro, município de Belo Horizonte, MG.

Beatriz Dias Amaro Bióloga, CRBio 49854/04-D 4ª região E-mail: bbiadias@gmail.com Tel.: (31) 96338330

Leandro Lacerda Giacomin Biólogo, CRBio 57392/04-P 4ª região E-mail: giacomin.leandro@gmail.com Tel.: (31) 97774308

Belo Horizonte, junho de 2008.


Índice 1 Introdução ............................................................................................................ 03 2 Metodologia ......................................................................................................... 05 Área de estudo .............................................................................................. 05 Métodos utilizados no levantamento florístico ............................................... 06 3 Resultados ........................................................................................................... 07 Estado de conservação da área .................................................................... 09 Considerações sobre as espécies nativas inventariadas .............................. 10 4 Manejo sugerido da paisagem ........................................................................... 13 5 Bibliografia ............................................................................................................16 6 Anexos ...................................................................................................................18

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1 Introdução O bioma Cerrado representa a segunda maior formação vegetal do Brasil (Klink & Machado, 2005) e, originalmente, ocupava cerca de dois milhões de quilômetros quadrados do país (Eiten, 1972). Atualmente, ocupa 21% do território nacional (Borlaug, 2002) e apesar de sua grande importância biológica, apenas 20% desse bioma encontra-se em seu estado original sendo que destes, somente 3% estão protegidos em parques e reservas (Mittermeier et al., 1999). Assim, é considerado um hotspot mundial de biodiversidade (Myers et al., 2000), ou seja, uma área prioritária para conservação, com alta diversidade e alto grau de ameaça. A região dos cerrados é constituída por um mosaico de tipos de vegetação que vai desde campos abertos até florestas e matas de galeria (Scariot et al., 2005). Devido a essa grande variedade de paisagens, é possível encontrar alta diversidade de espécies de fauna e flora. Segundo Klink et al. (1993), O Cerrado brasileiro possui a mais rica flora dentre as savanas do mundo, somando mais de 7.000 espécies entre plantas herbáceas, arbustivas, arbóreas e cipós (Mendonça et al., 1998), com alto nível de endemismo (Klink et al., 2002). No entanto, a despeito de tamanha biodiversidade, o Cerrado vem sendo ocupado e explorado de forma rápida e intensiva, principalmente para o desenvolvimento do setor agrícola. Isso ocorre sobretudo, em conseqüência do aumento populacional e da demanda por alimentos e outros bens de consumo, e faz com que o bioma apresente taxas de desmatamento superiores às da Amazônia (Scariot et al., 2005; Klink & Machado, 2005). Assim, a crescente expansão de pastagens, cultivos, redes de infra-estrutura, áreas degradadas e uso do fogo estão entre as mais importantes alterações ecológicas que se processam neste bioma no Brasil e, na atualidade, têm levado ao empobrecimento biológico do mesmo (Klink et al., 2002), com profundas modificações na estrutura e funcionamento dos ecossistemas (Klink et al. 1993). Essas alterações acarretam a perda de biodiversidade por dois processos que são tidos hoje como seus principais causadores: a fragmentação de habitats e a invasão de espécies exóticas. Outros danos graves também são observados por vez, como a erosão dos solos, poluição de aqüíferos, alterações nos regimes de

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queimadas, desequilíbrios no ciclo do carbono e possivelmente modificações climáticas regionais (Klink & Machado, 2005; Mendonça et al., 1998). Os benefícios socioeconômicos gerados pelo desenvolvimento da agricultura e uso de tecnologias garantem que a expansão agrícola seguirá no futuro. Contudo, existe hoje uma mobilização que envolve vários setores da sociedade na busca da conservação e uso sustentável desse bioma. Observam-se o surgimento de iniciativas

de

conservação

por

parte

do

governo,

de

organizações

não

governamentais, pesquisadores do setor público (principalmente ligados às universidades), além do próprio setor privado, que buscam o fortalecimento e ampliação do sistema de áreas protegidas e a criação de parcerias com o setor agrícola (Klink & Machado, 2005). Embora avanços na questão conceitual da conservação do Cerrado sejam perceptíveis, há um longo caminho a percorrer. É essencial a conscientização e uma firme atitude a ser tomada pela implementação de políticas públicas, para a conservação e uso sustentável desse bioma (Scariot et al., 2005). A VINA – Equipamentos e Construções LTDA é uma empresa do ramo de gestão de resíduos, atuando na área de resíduos sólidos e locação de equipamentos para tratamento dos mesmos. Na busca de um manejo sustentado da área que se destinará à construção da nova sede da empresa, o relatório que se segue apresenta o resultado desenvolvido para um levantamento preliminar das espécies de plantas vasculares que se encontram no local caracterizado por uma vegetação típica de cerrado. São apresentados comentários a cerca do estado de conservação da área e sugeridas medidas para seu manejo.

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2 Metodologia Área de estudo

O presente estudo foi realizado a pedido da empresa VINA Equipamentos e Construções LTDA que pretende construir a sua nova sede em uma área de vegetação típica de cerrado na região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. Trata-se de uma área correspondente ao lote 05 da quadra 156, situado no Distrito Industrial Jatobá B, pertencente ao bairro Barreiro. A área detém de 12.296,03 m2 e seguindo a classificação proposta por Ribeiro & Walter (1998), a vegetação enquadra-se na formação savânica do tipo cerrado sensu strictu típico que caracteriza-se pela presença de árvores baixas, inclinadas, tortuosas, com ramificações irregulares, retorcidas e com cobertura arbórea de 20% a 50% e altura média de três a seis metros. A classificação foi um pouco dúbia, devido a grande presença de indivíduos de porte arbóreo marcadamente imaturos, e, portanto a vegetação poderia ser enquadrada também no que é tratado pelo mesmo autor como campo cerrado. Foram identificadas diversas espécies arbóreas típicas desta formação vegetacional como: Byrsonima spp. (murici), Caryocar brasiliense (pequi), Qualea grandiflora

(pau-terra),

Stryphnodendron

adstringens

(barbatimão),

Zeyhera

montana, Solanum lycocarpum (lobeira), dentre outras. Além das espécies arbóreas, foram identificadas trepadeiras escandentes como Arrabidaea pulchra e Davilla eliptica e alguns arbustos como Baccharis dracunculifolia, Solanum paniculatum, Miconia albicans e Chamaecrista cathartica. As espécies identificadas encontram-se listadas na Tabela 1. Na área foram encontradas além espécies nativas tidas como marcantes em ambientes degradados, espécies exóticas e ruderais. Estas, bem como sua contribuição para interpretação do estado de conservação da área, serão discutidas adiante, nos Resultados.

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Métodos utilizados no levantamento florístico

Foram realizadas 4 (quatro) campanhas, nas quais foi percorrida toda a extensão do terreno, coletando-se material dos espécimes de plantas vasculares encontrados. Foi coletado material fértil quando possível, e as espécies que ocorriam em maior abundância e não foram encontradas em estado fértil foram coletadas para tentativa de identificação em seu estado vegetativo. A coleta e herborização de material foram realizadas segundo Bridson & Forman (1992), e o material coletado com estruturas reprodutivas (flores e/ou frutos) foi depositado no herbário BHCB, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e, portanto contribuirá na composição da coleção científica da instituição. As coletas foram realizadas entre os meses de março e maio de 2008 e não abrangeram um ciclo hidrológico completo, o que seria ideal para que fosse coletado material fértil de todas as espécies ocorrentes, já que elas certamente detém de ciclos fenológicos diferenciados. No entanto a amostragem foi feita ao final de um período chuvoso para a área em questão, o que certamente contribuiu para que muitas espécies fossem encontradas em seu estado fértil. A identificação do material herborizado foi feita a partir de comparação com a coleção do herbário BHCB e através de consulta de bibliografia especializada. Especialistas foram consultados quando necessário. A partir do levantamento florístico, foi possível delinear uma estratégia para que a construção da estrutura seja feita de modo a causar menor impacto às comunidades estabelecidas na área, e preservar os locais que apresentam maior abundância de espécies ou relevância.

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3 Resultados Durante o levantamento florístico foram encontradas 75 espécies de 34 famílias diferentes, número que compõe um levantamento preliminar de espécies ocorrentes no local, mas que representa uma parcela considerável das espécies ali estabelecidas. A listagem das espécies encontradas é apresentada na Tabela 1. Tabela 1: espécies de plantas vasculares encontradas na área de implantação da VINA – Equipamentos e construções LTDA. Hábito: A, arbóreo; H, herbáceo; Ar, arbustivo; T, trepador-escandente. Família ANEMIACEAE ARALIACEAE ASTERACEAE

Espécie 1. Anemia tomentosa (Savigny) Sw. 2. Schefflera macrocarpa (Cham. & Schltdl) Frodin 3. Baccharis aphylla (Vell.) DC. 4. Baccharis dracunculifolia DC. 5. Baccharis subdentata DC. 6. Bidens segetum Mart. ex Colla 7. Calea candolleana (Gardn.) Baker 8. Chromolaena cf. cylindrocephala (Sch. Bip. Ex Baker) R.M.King & H.Rob.

CYPERACEAE DILLENIACEAE

9. Chromolaena horminioides (DC.) R.M.King & H. Rob. 10. Chromolaena laevigata (Lam.) R. M. King & H. Rob. 11. Lepidaploa rufogrisea (A.St.-Hil.) H. Rob. 12. Lessingianthus coriaceus (Less.) H. Rob. 13. Stenocephalum apiculatum (Mart. ex Sc.) Sch. Bip. 14. Trichogonia salviifolia Gardn. 15. Viguiera robusta Gardn. 16. Arrabidea pulchra (Cham.)Sandw. 17. Zeyheria montana Mart. 18. Aechmea sp. 19. Caryocar brasiliense Cambess. 20. Kielmeyera coriacea Mart. & Zucc 21. Terminalia argentea Mart. 22. Jacquemontia hirsuta Choisy 23. Jacquemontia sphaerostigma (Cav.) Rusby 24. Merremia tomentosa (Choisy) Hall. F. 25. Rhynchospora cf. nervosa Boeckeler 26. Davilla elliptica A.St.-Hil.

EUPHORBIACEAE

27. Maprounea guianensis Aubl.

BIGNONIACEAE BROMELIACEAE CARYOCARACEAE CLUSIACEAE COMBRETACEAE CONVOLVULACEAE

FABACEAE

28. Sebastiania bidentata (Mart.) Pax 29. Cassia sp. 30. Chamaechrista cathartica (Mart.) Irwin & Barneby 31. Machaerium villosum Vog. 32. Mimosa dolens Vell.

Nome Popular/Hábito Anemia/H Xeflera/A Vassoura/AR Alecrim-do-campo/AR -/AR -/H -/H -/AR -/AR Cambará-falso/AR -/AR -/AR -/AR -/AR -/AR -/T Bolsa-de-pastor/A Bromélia/H Pequi/A Pau-santo/A Capitão-do-campo/A -/H -/H -/H Capim-estrela/H Lixeirinha/T Marmelinho-do-campo/ A -/H -/AR -/AR -/A Mimosa/H

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33. Senna rugosa(G.Don.) Irwin & Barneby 34. Stylosanthes guianensis (Aubl.) Sw. 35. Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville 36. Stryphnodendron obovatum Benth.

GETIANACEAE HYPOXIDACEAE IRIDACEAE LAMIACEAE LYTHRACEAE MALPIGHIACEAE

37. Zornia dyphylla (L.) Pers. Sp. 1 38. Irlbachia speciosa (Cham. et. Schlecht) Maas 39. Hypoxis sp. 40. Trimezia juncifolia Benth. & Hook f. 41. Hyptidendron asperrimum (Epling) Harley 42. Hyptis nudicaulis Bentham 43. Lafoensia pacari A.St.-Hil. 44. Banisteriopsis campestris (Juss.) Little 45. Banisteriopsis sp. 46. Byrsonima arctostaphylloides Nied 47. Byrsonima intermedia Juss. 48. Byrsonima verbascifolia (L.) Rich.

MALVACEAE MELASTOMATACEAE OCHNACEAE ORCHIDACEAE

OXALIDACEAE PASSIFLORACEAE POACEAE

49. Heteropterys campestris A. Juss. 50. Sida rhombifolia L. 51. Miconia albicans (Sw.) Triana 52. Ouratea floribunda Engl. 53. Epistephium sclerophyllum Lindl. 54. Habenaria curvilabria Barb. Rodr. 55. Habenaria obtusa Lindl. 56. Oxalis nigricans Pohl. Ex Warm. 57. Passiflora pohlii Mast. 58. Axonopus siccus Kuhlm. 59. Echinolaena inflexa Chase 60. Paspalum eucomum Nees. 61. Paspalum plicatum Pers. 62. Schizachyrium microstachyum (Ham.) Roseng., B.R.Arrill e Izag.

POLYGALACEAE RUBIACEAE

63. Urochloa decumbens (Stapf) R.D.Webster 64. Polygala longicaulis H.B. & K. 65. Borreria sp. 66. Palicourea rigida Kunth

RUTACEAE

67. Zanthoxylum rhoifolium Lam.

SOLANACEAE

68. Solanum lycocarpum A.St.-Hil. 69. Solanum palinacanthum Dunal 70. Solanum paniculatum L. 71. Cecropia glaziovi Snethl. 72. Lantana camara L. 73. Lantana fucata Lindl. 74. Cissus sp. 75. Qualea grandiflora Mart.

URTICACEAE VERBENACEAE VITACEAE VOCHYSIACEAE

-/AR Mineirão/AR Barbatimão/A Barbatimão-docerrado/A -/AR -/H -/H -/H Íris-do-cerrado/H Roxinho/A -/AR Pacari/AR -/AR -/AR -/AR Murici – miúdo/AR Murici-de-flor-amarela/ A -/AR Quanxuma/H Mexerica/AR -/AR Orquídea/H Orquídea/H Orquídea/H -/H Maracujá-do-mato/T -/H Capim-flechinha/H -/H -/H -/H Braquiária/H -/H -/AR Bate-caixa, gritadeira/AR Tembetari, maminhade-porca/AR Fruta-do-lobo, lobeira/A -/AR Jurubeba/AR Embaúba/A Câmara/AR -/AR -/T Pau-terra/A

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Estado de conservação da área

A área apresenta vegetação heterogênea com locais perceptivelmente degradados e outros onde a vegetação encontra-se em estado de regeneração com a presença de grande quantidade de espécies arbóreas em estado jovem ou de rebrota. A comunidade clímax da área (comunidade de espécies tardias) parece, no entanto não se compor de espécies arbóreas conspícuas, mas muitos fatores observados denotam como sendo uma área em estado pós-degradação e que ainda sofre algumas pressões antrópicas. O fato de a área estar localizada num meio urbano traz conseqüências como baixa ocorrência ou ausência completa de polinizadores e dispersores, o que leva ao entendimento que as espécies que hoje se mostram em regeneração provavelmente são advindas do banco de sementes que se mantém sob a camada superficial do solo. Estas espécies que ainda germinam e compõem a vegetação local crescem entre espécimes que apresentam sinal de fogo recente, marcas antrópicas e intervenções de empreendimentos vizinhos. É passível de se supor também que por haverem áreas subjacentes em bom estado de conservação, como o Parque Estadual do Rola Moça, algumas espécies podem ser dispersadas por aves até a área, o que é pouco provável no entanto pois esta via seria de aproximação do meio urbano. Na área foram encontrados resquícios de lixo doméstico, presença de sinais de acesso humano, como fezes e vestimentas recentemente descartadas, e rejeitos com decomposição de longo prazo, como frascos plásticos, tecidos sintéticos e outros. O descarte de matéria orgânica pela população do entorno ou por transeuntes é perceptível, e pode também interferir na composição da comunidade da área como será melhor tratado adiante. Espécies exóticas ou com potencial invasor também foram encontradas na área sendo que se deve chamar atenção para as gramíneas invasoras, como a braquiária (U. decumbens), que tem um crescimento rápido e exacerbado em relação às espécies nativas, costumeiramente dominando a paisagem, além de atuarem como inibidoras do processo de germinação de plantas que necessitam de luz neste período, e sufocarem indivíduos jovens em início de desenvolvimento. Algumas espécies são tratadas como marcantes em ambientes degradados como espécies de Solanum (Barros, 2003). Para este autor espécies como S. 9


palinacanthum denotam ambientes que sofreram impactos recentes e permitiram a entrada de espécies oportunistas em nichos vagos. Espécies ruderais (capazes de crescem em meio urbano ou peri-urbano) também foram encontradas no local, como Baccharis dracunculifolia, Lantana camara e Passiflora pohlii. Apesar da área apresentar sinais claros de impactos recentes, espécies nativas e marcantes do domínio fitogeográfico do cerrado foram encontradas no local como já citado anteriormente, e outros comentários a cerca destas espécies são apresentadas a seguir. Considerações sobre as espécies nativas inventariadas Dentre as espécies nativas encontradas, algumas delas têm importância econômica que serão comentadas a seguir. Fatores taxonômicos e ecológicos que foram verificados durante o inventário também são ressaltados. O pequizeiro (Caryocar brasiliense) é uma planta semidecídua, heliófita característica do Cerrado brasileiro. Sua ocorrência abrange todo o Cerrado brasileiro com distribuição nos Estados da Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins (Lorenzi, 2000). Floresce durante os meses de agosto a novembro, com os frutos iniciando a maturação em meados de novembro, sendo encontrados até início de fevereiro (Lorenzi, 2000). É considerado uma espécie de interesse econômico, devido ao uso de seus frutos na culinária e na extração de óleos para a fabricação de cosméticos (Almeida & Silva, 1994). É utilizado também na medicina popular para diversos sintomas. O fato de possuir madeira de ótima qualidade e ter sofrido corte predatório num passado próximo, fez com que fosse protegido nos âmbitos nacional e estadual em 1987 e 1992 respectivamente. A normativa referente ao estado de Minas Gerais é apresentada nos Anexos. O corte da árvore é proibido por lei, mas há casos de manejo e corte que são permitidos, como é o caso que deverá se enquadrar a obra. Como esta não se aplica aos casos de licenciamento que são exigidos pela resolução do Conama nº1 de 1986 (também em Anexos), é sugerido que a VINA procure o escritório central do 10


IEF em Belo Horizonte para que comunique e informe-se a respeito do corte do pequizeiro, atendendo assim a legislação estadual e evitando que encargos incidam posteriormente. Sugere-se também que o plantio da espécie a partir de muda ou de sementes seja feito em áreas subjacentes já que o transplante seria inviável devido à profundidade das raízes. Como o pequi, outras espécies características da paisagem de cerrado foram encontradas e merecem atenção. O pau-santo (Kielmeyera coriacea) e o barbatimão (Stryphnodendron adstringens) são espécies que compõem comumente a paisagem das savanas brasileiras e que também são utilizadas por populações tradicionais seja como tinturas ou como medicinal. As espécies ocorrem em uma população estabelecida na área e K. coriacea foi observada em período de floração e frutificação. Caso seja feito um acompanhamento da população, é possível que na data da apresentação deste relatório ainda sejam encontrados indivíduos com frutos a partir dos quais seja possível se obter sementes para propagação, uma vez que a translocação também não é recomendável. No caso do barbatimão, os indivíduos observados aparentam estar em estágio adulto pela desenvolvida camada de súber. No entanto eles não foram observados em estado fértil. Em bibliografia consultada, sua floração corresponde a períodos que variam entre os meses de setembro a novembro e é concomitante à produção de frutos (Felfili et al., 1999). Dentre as demais espécies encontradas na área cabe destacar também a orquídea Habenaria curvilabria que foi encontrada crescendo sobre um arbusto num ponto central do terreno. A espécie tinha sua última coleta documentada em 1950 e foi tratada como rara pelo especialista do grupo (J. A. N. Batista, com. pess.). A espécie foi coletada em duas vias, uma para compor um exemplar a ser depositado no herbário BHCB e outra para ser mantida em cultivo em casa de vegetação, juntamente com a coleção viva de orquídeas do Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. Esta medida permitirá estudos filogenéticos utilizando todo o grupo a que a espécie pertence e compõe uma das metas da Estratégia Global para a Conservação de Plantas (BGCI & UNEP, 2006), que é a de manter parte da flora em estado de conservação ex-situ. Recomenda-se que os indivíduos restantes que foram mantidos in-situ sejam alocados para uma área onde possam ser preservados.

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As demais espécies encontradas devem, dentro do possível, ter seu manejo pensado. Fica a ressalva a espécies que não devem ter prioridade: aquelas tratadas neste relatório como exóticas, ruderais, ou de distribuição ampla, bem como as gramíneas que apesar de comporem a paisagem, têm uma fácil dispersão e ampla distribuição conhecida. Espécies que foram encontradas em um único exemplar como Aechmea sp. e Hipoxys sp. são herbáceas e podem facilmente ser translocadas para áreas onde possam ser preservadas mesmo que em vasos apropriados. Para todas as espécies arbóreas, caso seja executado algum tipo de replantio ou manejo sustentado, recomenda-se que este seja feito a partir de propagação de estacas e/ou sementes caso estas estejam disponíveis para coleta ou aquisição em algum horto ou jardim botânico. Recomenda-se que, caso seja possível, é preferível que a propagação por plantio de sementes seja feita a partir de sementes coletadas no local, mantendo-se o pool gênico ali estabelecido anteriormente.

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4 Manejo sugerido da paisagem A Figura 1 mostra áreas que foram demarcadas seguindo critérios de distribuição das principais espécies. Os comentários a seguir se baseiam em sua análise. Nas áreas em que o pequi ocorre em abundância (ver Figura 1), após a consulta da VINA ao IEF, deve ser pensada uma maneira de remanejar a espécie bem como as outras que ocorrem em consonância, através de replantio em outro local, ou reserva de parte da área para preservação. As áreas marcadas em verde são áreas onde foi notada a maior ocorrência de sinais de presença humana, bem como de espécies invasoras e ruderais, além de lixo doméstico. Estas, juntamente com as áreas marcadas em amarelo, onde nota-se a ocorrência grande de solo nú ou o crescimento de espécies exóticas, são as principais áreas que recomendamos para a construção. Caso não sejam áreas que provenham o espaço necessário recomenda-se avaliar o manejo de espécieschave antes de progredir para outras áreas demarcadas. Próximo à entrada foram encontrados espécimes de Zeyheria montana e Maprounea guianensis e outros indivíduos do extrato herbáceo/arbustivo que poderiam ser mantidos na composição de uma “cerca-viva”. A elipse rosa demarca a área onde a espécie Kielmeyera coriacea ocorre dominantemente no extrato arbóreo arbustivo. A elipse em azul apresenta componentes específicos característicos de ambientes florestais secundários em regeneração ou característicos de trechos florestais com alto índice de insolação, como Machaerium villosum, Schefflera macrocarpa e Cissus sp. Esta formação se deve, provavelmente, à não ocorrência de desmatamento no passado, ou por conter um maior fluxo de matéria orgânica perceptível, já que nela permeia uma canaleta que escorre fluxo pluvial. Fatores edáficos podem ser citados como influentes nesta formação diferenciada, uma vez que a coloração do solo e sua granulometria são perceptivelmente diferentes do restante da área. A elipse marcada em vermelho é onde se encontra a maioria dos espécimes de pequi, barbatimão, orquídeas, assim como a maior diversidade das asteraceae, além de indivíduos adultos de Terminalia argentea. Para alocar a construção neste

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sítio, teriam de ser derrubados um número considerável de árvores e arbustos, além de se sobrepor sobre a maioria das espécies com potencial ornamental que ocorrem na área. O manejo das espécies herbáceas é possível de ser feito através de translocação. As áreas demarcadas, bem como as medidas a serem tomadas são sugeridas na busca de manter caracterizada a vegetação do local, ou contribuir para o mantimento da diversidade da flora regional, com a qual a área contribui. São medidas sugestivas que cabem à VINA decidir por adotá-las ou não, mas que pensamos serem medidas razoáveis de serem executadas, e num curto prazo de tempo.

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N

Figura 1: Panorama da área, mostrando principais pontos de relevância. Ponto alaranjado corresponde à ocorrência de Habenaria curvilabria, e o amarelo e azul a Aechmea sp. e Hipoxys sp. respectivamente.

Áreas prioritárias; alta ocorrência de pequi, e outros; Áreas com presença marcante de gramíneas invasoras; Áreas com sinais de presença humana, espécies ruderais e lixo; Área com presença de K. coriacea no extrato arbóreo; Área com presença de C. glaziovi, Cissus sp. e spp. de formação florestal; 15


5 Bibliografia Almeida, S.P. & Silva, J.A. 1994. Pequi e buriti: importância alimentar para a população dos cerrados. Planaltina: EMBRAPA-CPAC. 38 p. (Documentos, 54).

Barros, A. M. 2003. Solanaceae do Parque Estadual do Rio Doce e da reserva particular do patrimônio natural Feliciano Miguel Abdala, Minas Gerais, Brasil. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais. BCGI & UNEP. 2006. Estratégia global para a conservação de plantas. 14p. Borlaug, N.E. 2002. Feeding a world of 10 billion people: the miracle ahead. In: Global warming and other eco-myths. R. Bailey (ed.). Competitive Enterprise Institute. p 29-60.

Bridson, D. & Forman, L. 1992. The Herbarium Handbook. Kew, Royal Botanic Gardens.

Eiten, G. 1972. The Cerrado vegetation of Brazil. Botanical Review. (38): 201-341.

Felfili, J.M. 1999. Phenological study on Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville in a Cerrado sensu stricto site in the Fazenda Água Limpa, Federal District, Brazil. Rev. Bras. Bot. 22:1 38-90.

Guia Ilustrado de Plantas do Cerrado de Minas Gerais. 2001. CEMIG. Livraria Nobel / Empresa das Artes (ed.). 96 pp.

Klink, C.A & Machado, R.B. 2005. A conservação do Cerrado brasileiro. In: Megadiversidade: Desafios e oportunidades para a conservação da biodiversidade no Brasil. Conservação Internacional do Brasil. 1(1): 147-155.

Klink, C.A.; Miranda, H.S.; Gonzales, M.I.; Vicentini, K. R. F. 2002. O Bioma Cerrado - site 3. In: Ulrich Seelinger; César Cordazzo; Francisco Barbosa. (Org.).

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Os sites e o Programa Brasileiro de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração. Universidade Federal de Minas Gerais. p. 53-67.

Klink, C.A; Moreira, A.G; Solbrig, O. T. 1993. Ecological impact of agricultural development in the Cerrado. In: The World Savannas. UNESCO & Parthenon. p. 277.

Lorenzi, H. 2000. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa. v. 1.

Mendonça, R.C; Felfili, J.M; Walter, B.M.T; Silva Júnior, M.C; Rezende, A.; Filgueiras, T.S; Nogueira, P.E. 1998. Flora vascular do Cerrado. EMBRAPA. Mittermeier, R.A; Myer N.; Gil P.R; Mittermeier, C.G. 1999. Hotspots. Earth’s biologically wealthiest nations. CEMEX, Conservation International.

Myers, N.; Mittermeier, C.G; Fonseca, G.A.B; Kent, J. 2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature. (403): 853-858.

Ribeiro, J.F. & Walter, B.M.T. 1998. Fitofisionomias do bioma Cerrado. In: Cerrado: ambiente e flora (S.M. Sano & S.P. Almeida, eds). EMBRAPA-CPAC, Planaltina, p.89-166.

Scariot, A.; Sousa-Silva, J.C.; Felfili, J.M. (Organizadores). 2005. Cerrado: Ecologia, Biodiversidade e Conservação. Ministério do Meio Ambiente. 439 pp.

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6 Anexos Anexo 1 – Lei estadual proibitiva do corte do pequi “Lei nº. 10.883, de 2 de outubro de 1992. Declara de preservação permanente, de interesse comum e imune de corte, no estado de Minas Gerais, o pequizeiro (Caryocar brasiliense) e dá outras providências. (Publicação - Diário do Executivo - "Minas Gerais" - 03/10/1992) O Povo do Estado de Minas Gerais, por seus representantes, decretou e eu, em seu nome, sanciono a seguinte Lei: Art. 1º-Fica declarado de preservação permanente, de interesse comum e imune de corte o pequizeiro (Caryocar brasiliense), no Estado de Minas Gerais, conforme o disposto nos artigos 3º, 4º e 7º da Lei Federal nº. 4.771, de 15 de setembro de 1965. Art. 2º-O abate do pequizeiro (Caryocar brasiliense) só será admitido mediante prévia autorização do Instituto Estadual de Florestas - IEF -, quando necessário à execução de obras, de planos, de atividades ou de projetos de utilidade pública ou de relevante interesse social. Parágrafo único - Nas áreas urbanas, a autorização de que trata este artigo poderá ser concedida pelo órgão municipal competente, observados os parâmetros estabelecidos. Art. 3º-O reflorestamento homogêneo com espécies exóticas em áreas de ocorrência do pequizeiro (Caryocar brasiliense) somente poderá ser feito mediante critérios que garantam o pleno desenvolvimento das árvores produtivas, a serem definidos pelo Instituto Estadual de Florestas - IEF. Art. 4º-O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da data de sua publicação. Art. 5º-Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 6º-Revogam-se as disposições em contrário.

Dada no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, aos 2 de outubro de 1992. Hélio Garcia - Governador do Estado.”

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Anexo 2 – Resolução do Conama para casos em que se aplica o licenciamento “Resolução CONAMA nº 1, de 23 de janeiro de 1986. (Publicação - Diário Oficial da União - 17/02/1986) [...] Art. 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como: I - Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento; II - Ferrovias; III - Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos; IV - Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48, do Decreto-Lei nº. 32, de 18.11.66; V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos sanitários; VI - Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV; VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos d'água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias, diques; VIII - Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão); IX - Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de Mineração; X - Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos; Xl - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, acima de 10MW; XII - Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos, siderúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hídricos); XIII - Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI;

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XIV - Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental; XV - Projetos urbanísticos, acima de 100 ha. ou em áreas consideradas de relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais competentes; XVI - Qualquer atividade que utilizar carvão vegetal, derivados ou produtos similares, em quantidade superior a dez toneladas por dia. XVII - Projetos Agropecuários que contemplem áreas acima de 1.000 ha. ou menores, neste caso, quando se tratar de áreas significativas em termos percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental, inclusive nas áreas de proteção ambiental. XVIII - nos casos de empreendimento potencialmente lesivos ao Patrimônio Espeleológico Nacional. [...] Art. 12 - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. Flávio Peixoto da Silveira”.

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Anexo 3 – Fotos

Fotos 1 e 2 – A área de estudo e seu entorno

Fotos 3 e 4 – Davilla eliptica (lixeirinha) e Viguiera robusta, respectivamente

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Fotos 4 e 5 – Zeyheria montana (bolsa-de-pastor) e Stryphnodendron adstringens (barbatimão), respectivamente

Fotos 6 e 7 – Kielmeyera coriacea (pau-santo), a flor e o fruto, respectivamente

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Fotos 8 e 9 – Habenaria curvilabria (orquídea) e Caryocar brasilienses (pequi), respectivamente

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