CATALOGO MEMORIAS INVENTADAS EM COSTURA SIMPLES

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Mem贸rias Inventadas em Costuras Simples


Capa Era uma vez‌, 2006 150 x 110 cm Fotografia


Ref: mãe segurando bebê Foto III, da série Materno, 2008 50 x 36 cm cada Fotografia

Memórias Inventadas em Costuras Simples Caroline Valansi

Ref: menina costurada e desenhada Foto VI, da série Quase-Memórias, 2008 30 x 24cm Fotografia

Inventariar fragmentos do mundo objetivo tem sido ação recorrente praticada por artistas no intuito de especular sobre o complexo universo de relações que nos envolve. Porém, mais do que simples classificações, inventários em linguagens visuais representam buscas de sentido e pulsões de significação, reveladas ou não em objetos estéticos. Nesse contexto, a ação de inventariar é domínio investigativo de limites movediços e justifica-se em si mesma como um gesto impulsivo de dizer o indizível. Há anos, Caroline Valansi tem inventariado fotografias descartadas por pessoas desconhecidas. Essa taxonomia de imagens alheias serviu de base para a construção de uma linguagem em que seleção e combinação parecem ser os traços mais evidentes de como a artista molda sua matéria pretérita e inventa memórias imaginárias. Embora os seres fixados nos vestígios fotográficos sejam de carne, ossos e nervos, o que está em jogo aqui são as decifrações simbólicas realizadas a partir desses rastros visíveis. Há nas imagens uma sensação ambígua de desejo e ausência, parte integrante da vida e talvez da experiência fotográfica, que faz com que as imagens coletadas e transmudadas por Caroline Valansi suscitem uma reflexão direta sobre a transitoriedade das coisas e dos seres frente ao inexorável tempo. Tempo de impermanência, mas também de informações e enigmas. Quem são estas pessoas? Por que estas fotografias foram descartadas? E por que a artista as transforma? Em trajetória espiral, a proposta expositiva de Caroline indaga mais do que responde, sugere mais do que afirma, abre fendas para interpretações e deixa o aspecto lacunar do trabalho ser preenchido pela leitura do espectador, uma vez que os diversos planos de leitura das imagens são complementares à proposição da artista. Em Memórias Inventadas em Costuras Simples, a artista elabora um esquema combinatório de técnicas: desenho, costura, colagem e vídeo. A partir de diversos suportes, cria uma escritura visual de enunciado transitivo, que tem como efeito um trabalho de múltiplos significantes. Tempo, subjetividade e memória se inscrevem simultaneamente como linhas condutoras na narrativa urdida pela artista. Vemos, nas imagens ampliadas, um casal separado por um pneu em uma estrada erma. Ambos têm na altura do peito um bordado vermelho, linha-cor que perpassa todas as costuras desenhadas. Em outra imagem, a artista elabora uma colagem de restos-rasgos de várias fotografias, compondo uma estranha figura feminina que tem ao seu lado um bulldog. As informações se superpõem. Todas as imagens da mostra operam em camadas, como antigos pergaminhos-palimpsestos, reutilizados por escribas em tempos remotos. Porém, os palimpsestos de Caroline são de outra ordem, eles não são apagados e reescritos por escassez de matéria-prima, e sim pelo excesso de matéria produzida no mundo. As imagens coletadas são dejetos, eliminados por razões e pessoas desconhecidas. Contudo, depois de tra-


balhadas, geram sentidos híbridos e invocam noções de tempo distintas, que despistam a importância do tempo metrificado e privilegiam o não-tempo, instável, em que não há como determinar separações entre os eventos. Quando olhamos essas imagens é como se estivéssemos numa máquina do tempo experimental, onde o agora, o antes e o depois se embaralham. Como um emplastro, camadas de informação são adicionadas sobre as superfícies fotográficas, contaminadas de

sentidos latentes que vem à tona, manifestando-se à visão do espectador por meio do trabalho da artista. Diante dessas imagens, tudo o que deciframos nos leva, em torrentes de associações, ao que falta ser decifrado. Desde que a ciência dos signos propôs a leitura do mundo como um texto, a fotografia viu-se privilegiada em seu corpo estrutural, ampliou seu campo semântico e tornou-se não somente um dos principais veículos de

representação do real, mas também um meio que possibilita ir além. No plano simbólico, o fotográfico se inscreve mais em caráter metonímico do que metafórico. Enuncia deslocamento e contiguidade e revela em recorte o todo pela parte. O fato de que a fotografia exista como indício apenas serve de base para uma leitura inicial, mesmo porque fotografias são fragmentos, antes de tudo um modo de ver, e não a visão em si mesma. A partir de diferentes procedimentos e da combinação de recortes, o que se apresenta no trabalho da artista é a construção de uma alegoria, na definição etimológica do termo – dizer o outro. Caroline diz o outro por sugestão e ficção. Nesse sentido, seu trabalho aproxima-se

Ref: 3 meninas abraçadas Irmãs, 2008 100 x 60 cm Fotografia

Ref: homem desenhado Foto V, da série Quase-Memórias, 2008 30 x 24cm Fotografia


da literatura, pelo caráter libertário do ato de nomear e por relatar o mundo sob a ótica de quem narra. A alegoria de Caroline diz o outro como um jogo de palavras cruzadas sem limites de letras. Na exposição, há uma série de retratos reconstruídos pela artista com desenhos imaginários a partir de restos fotográficos. Essas reconstituições por desenho, como um retrato falado de um auto investigativo, podem ser verossímeis ou improváveis, pois o que de fato permanece dessa ação é o gesto da artista, a sua leitura de um mundo polissêmico. Percebemos as coisas a partir de referentes objetivos. Mas, inseridos no labirinto das interpretações em linguagens, com ou sem fio de Ariadne talvez possamos nos guiar, como um desvio passageiro, pela vidência do pensador Umberto Eco que, ao comentar o famoso romance de Herman Melville, registrou: a verdadeira lição de Moby Dick é que a baleia vai para onde ela quer. Marcos Bonisson Ref: foto convite Sem título, 2009 20x 25 cm Serigrafia

Ref: casal de mãos dadas Eternos, 2006 100 x 100 cm Fotografia


Caroline Valansi [Rio de Janeiro, 1979 ] Vive e trabalha no Rio de Janeiro. E-mail: carolinevalansi@gmail.com Site www.carolinevalansi.com.br

Cursos extras, workshops, seminários & especialização 2009: Procedência e Propriedade – Workshop Intensivo de Desenho e conceitualização, com Prof. Charles Watson, Rio de Janeiro. 2006/2007: Exercícios Práticos de Criatividade, com Prof. Marcos Bonisson. Ateliê da Imagem, Rio de Janeiro. 2006: Photoshop. Ateliê da Imagem, Rio de Janeiro. 2004: A Fotografia e as Artes Plásticas – História e Interações, com Prof. Marcos Bonisson. Ateliê da Imagem, Rio de Janeiro. Processos Alternativos de Impressão Fotográfica. Ateliê da Imagem, Rio de Janeiro. 2003: Criatividade em Fotografia em Preto e Branco, com Prof. Walter Firmo. Uso Criativo do Flash. Ateliê da Imagem, Rio de Janeiro. A Arte da Pintura, com Ronaldo do Rego Macedo. Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro. 2002: Fotografia Experimental. Ateliê da Imagem, Rio de Janeiro. Direção de Fotografia, com Jorge Montclar. Academia Internacional de Cinema, Rio de Janeiro. 2001: Técnicas Fotográficas. Ateliê da Imagem, Rio de Janeiro.

2007: Bienal de Arte do Triângulo, Uberlândia. Aproximação e Distância. Galeria de Arte do Departamento Municipal de Águas – DMAE, [como parte de Festival de Video Arte Percursos], Porto Alegre. Espaço Orlândia, Rio de Janeiro. Associados. Ateliê da Imagem, Rio de Janeiro. Pajelança. 2007/2006: Caixa Cultural, Rio de Janeiro [bem como Galeria Vermelho, São Paulo]. A Última Foto [a partir de argumento de Rosângela Rennó]. 2006: Ateliê da Imagem, Rio de Janeiro, . Os Trabalhos. Espaço Repercussivo, Rio de Janeiro. LIMEFOTO. Ateliê da Imagem, Rio de Janeiro. A Terceira Margem. 2005: Galeria Maria Teresa Vieira – Rio Scenarium, Rio de Janeiro. Inversões. Galeria Toulouse, Rio de Janeiro. Acervo. Centro Cultura Paschoal Carlos Magno, Niterói. Niterói de Portas Abertas. 2004: Auditório Buenos Aires, Buenos Aires. Mostra Latino Americana de Artistas Jovens – “Mueba”. Seviço Social do Comércio – SESC, Ribeirão Preto. XV Mostra de Arte da Juventude. 2003: Ateliê da Imagem, Rio de Janeiro. Olhometria - A Genêse Sintética do Real. Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro. XI Universidarte/FotoRio 2003. Conselho Regional de Arquitetura, Arquitetura do Rio de Janeiro – CREA-RJ, Rio de Janeiro. Experimenta. Escola de Comunicação Social - Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Rio de Janeiro. Território Livre. 2002: Ateliê da Imagem, Rio de Janeiro. Risco.

Exposições Individuais

Prêmios

Formação Acadêmica

Atividades Universitárias 2007/2009: Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro – PUC-Rio, Programa de Pós-graduação em Arte e Filosofia, Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 2002/2004: Universidade Estácio de Sá, Cinema, Rio de Janeiro.

2009: Centro Cultural da Justiça Eleitoral, Rio de Janeiro. Memórias Inventadas em Costuras Simples. 2008: Casa Hillel, Rio de Janeiro. Amavisse [como parte de: 360o – A Otica Feminina segundo a Cultura Sefaradi]. 2004: Galeria Maria Martins [XI UniversidArte], Rio de Janeiro [bem como Casa Galeria, Paraty]. Confluências 2002: Espaço Bananeiras, Rio de Janeiro. Trabalhos em Pinhole.

Exposições Coletivas

2009: Cavalariças da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro. 2em1. Galeria Toulouse, Rio de Janeiro [bem como Casa Galeria, Paraty]. Corcovaël – O Anjo do Oitavo Dia. Atêlie da Imagem, Rio de Janeiro. OÇAPSE – OPROC – ZUL. Rua Barata Ribeiro, 74/1101, Rio de Janeiro. Projeto ApArtamento N.o 2 – Quarto.sala.copa.cabana. Galeria Murilo Castro, Belo Horizonte. Piscinão da Benvinda de Carvalho. Largo das Artes, Rio de Janeiro. Um Vazio que me Pare. 2008: Museu de Arte Contemporânea – MAC, Niterói. Mostra Coletiva de Video. Ateliê da Imagem, Rio de Janeiro. OPROC. Centro de Cultura Raul Leoni, Petrópolis. Mulheres, Câmera: Ação! Espaço Cultural do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, Rio de Janeiro [bem como Serviço Social do Comércio - SESC, São Gonçalo]. Zona Oculta – entre o Público e o Privado.

2004: Menção Honrosa em Fotografia, Mostra Latino Americana de Artistas Jovens – “Mueba”, Buenos Aires. 2003: XI Prêmio Universidarte, Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro.

Atividades Relevantes

2005/2007: Desenvolveu um trabalho como assistente de Rosângela Rennó. 2005: Desenvolveu um trabalho como arquivista de Walter Firmo.

Grupo Opavivará!

Introdução OPAVIVARÁ! é o nome do coletivo de arte contemporânea dedicado a Arte experimental e ações por intermédio da interação entre os artistas e seu público. Exposições Coletivas 2009: Praça Tiradentes, Rio de Janeiro. Viradão Carioca. Novembro Arte Contemporânea, Rio de Janeiro. Desempenho Acontecimento Ação. PEMBA, Armação de Búzios. Bienal Anual de Búzios. 2008: Galeria Vermelho, São Paulo. Verbo 08. Centro Cultural Sérgio Porto, Rio de Janeiro. CEP 20.000. Centro Cultural Sérgio Porto, Rio de Janeiro. Py FEBEAPARIO. “Intermediae Matadero”, Madrid. Quartel General do Grupo de Interferência – QG do GIA [como parte do Projeto Encontro de Coletivos Brasil/Espanha]. 2007: Galeria Arte 21, Rio de Janeiro. N Multiplos.


Ficha técnica Produção

Produção executiva Julio Borgerth Lobato Cenografia Débora Mazloum Curadoria Marcos Bonisson Montagem Daniel Toledo Cenotécnica Camuflagem Iluminação Blight Projeto Gráfico Cultura Feita em Casa / Marketing Vinícius Lourenço Costa

Agradecimentos A toda minha família. Principalmente a meu pai que sempre me apoia e incentiva. Ana Dillon, Dan Strougo, Gustavo Moura, Juliana Serfaty, Sol Azulay, OPAVIVARÁ!

Entidades Participantes

Patrocinadores

Realização


Centro Cultural da Justiça Eleitoral R. Primeiro de Março, 42 – Centro – Rio de Janeiro


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