PUBLICAÇÃO POLÍTICO-CULTURAL, GASTRONÔMICA E LITERÁRIA DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS
#009 A B RI L 2 019
EDITORIAL A MORTE DO FRENTE E VERSO:
Estamos nos despedindo. Foi incrivelmente satisfatório, assustador, divertido, doloroso, transformador, frustrante, mágico e providencial publicar um jornal impresso em Búzios - PG 02
ENTRE:
Ao Frente e Verso meu “Hasta siempre” e o desejo, que em breve, possamos continuar pensando e lutando - PG 10
GUANABARA:
O jornalzinho vai, mas deixa pra gente uma fotografia afetiva de um tempo e um lugar - PG 16
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EDIÇÃO 009 – ANO 01 – ABRIL 2019
EDITORIAL
traços & troços MATTIAS
Chargista
FESTEJOS DO FIM Na tragédia grega, essa espécie de mãe modelo de grande parte das histórias humanas, o final esperado e aplaudido para uma narrativa não é a vitória gratuita de um herói. Não é o seu sucesso imaculado, o saldo positivo dos seus acertos sobre os erros, não é a vitória óbvia, boba ou infantilizada de sua suposta perfeita trajetória. A abertura das coisas, na narrativa trágica, já é sempre grávida do seu próprio fim, circundada da expectativa espetacular de uma ascensão que possibilite, inevitavelmente, uma queda da mesma proporção. Esse é o roteiro de algumas das lendas, livros, músicas, filmes, casos e histórias reais que mais admiramos ao longo da vida. Uma beleza empática, emocionante, inerente ao peso da nossa própria insuficiência enquanto gente diante desse mundo. Sem medo da morte e ciente da vida que o fez valer, o Frente e Verso anuncia aqui o seu fim. Sem dar margem para a lamentação infértil, sem buscar apontar o que deu certo ou errado no seu voo, mas fazendo questão de anunciar as coisas pelos seus devidos nomes. Estamos nos despedindo. Foi incrivelmente satisfatório, assustador, divertido, doloroso, transformador, frustrante, mágico e providencial publicar um jornal impresso em Búzios, voltado para o mundo, sem absolutamente nenhum tipo de patrocínio, apoio, escritório, estrutura, com apenas o combustível da nossa empolgação. Apenas com o talento e a boa vontade de todas e todos os nossos colunistas, a adesão corajosa dos leitores que compraram a ideia, dos assinantes do nosso financiamento coletivo que entregaram os seus ombros no mesmo esforço. Há que se dizer: nosso percurso de vida e morte se deu em tempos também bastante trágicos para o mundo e, especialmente, para o Brasil. À vizinhança de ruínas de um processo civilizatório, ousamos ser uma voz da pluralidade, da cultura e da boa política, dos Direitos Humanos, da afirmação democrática e dos valores da coletividade enquanto o país escolhia, passo a passo, trilhar o rumo de um inédito autoritarismo aclamado pelas urnas. O saldo desse processo está sendo desvelado em um pesadíssimo início do ano de
2019, estampado em uma sucessão de notícias negativas que fazem do Brasil um lugar que espanta o resto do mundo. Publicamos todas as nossas edições ao correr dessa tenebrosa descida, dez meses que pareceram décadas, uma imersão que nunca pareceu ter fundo previsto, por mais que o mergulho no poço se estenda. O Frente e Verso não pode dizer que foi vítima, apenas, dos ares controversos que estão aí. Muito do que nos impediu foi soma dos nossos próprios impedimentos para estender um projeto com tanto alcance. Porém, não podemos deixar de registrar que combatemos em tempos absolutamente contaminados para os sonhadores e os libertos. Navegamos contra ondas notadamente ácidas a bater no peito dos amorosos e dos criativos. Resistimos sob as chagas causticantes de uma nova sociedade embrutecida pela má-fé, as fake news, a cultura do ódio a arder nos olhos de quem acredita no jornalismo, na mediação do conhecimento científico e da consciência crítica, na honestidade intelectual dos debates frente à selvageria obscurantista do sensacionalismo barato. Não é fácil, não foi fácil. Mas é uma luta que deve continuar sendo lutada, continuamente, em diversas áreas. Diante disso, nós, que fomos responsáveis por criar e manter o Frente e Verso durante todos esses meses, dizemos que o fim dele não é o nosso. Somos militantes, artistas, personagens da área da educação, dos movimentos sociais, da cena artística, da cena comunitária, somos pessoas que dedicam suas vidas à construção de outra realidade em Búzios e no Brasil. Nós, realizadores, colunistas, toda a equipe que empreendeu esse intrépido periódico e depositou aqui suas melhores palavras, estamos mais vivos do que nunca. E estaremos certamente juntas e juntos em muitas outras frentes e versos desse percurso. Essa é nossa forma de trocar o adeus pelo até breve em outras páginas de uma vida que continua. Agradecemos a você e te encontramos pelo caminho.
Verso em frente DUDU PERERÊ
Poeta
O QUE ME DEUS? Mito: o Nada que é Tudo Lenda: Fato bem contado Poema: Poesia com emblema Surpresa que o tempo preparou Olha o momento: - Passou!
EXPEDIENTE FRENTE E VERSO É UMA PUBLICAÇÃO POLÍTICO-CULTURAL, GASTRONÔMICA E LITERÁRIA DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS. JORNALISTA RESPONSÁVEL: Artênius Daniel - Contra Regras (DRT/MG 08816JP). REDAÇÃO: Alexandre Santini, Bento Ribeiro Dantas, Dudu Pererê, Gessiane Nazario, Gustavo Guterman, Hamber Cannabico Carvalho, Hélio Coelho, Leandro Araújo, Léa Gonçalves, Luisa Barbosa, Manolo Molinari, Maria Fernanda Quintela, Roberto Campolina, Sandro Peixoto, Sheila Saidon, Tiago Alves Ferreira, Tonio Carvalho. CHARGE: Mattias. REVISÃO: Maria Cristina Pimentel. TIRAGEM: 2.000 (duas mil unidades) - Distribuição gratuita. PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Vinicius Lourenço Costa - Vico Design. ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO: Contra Regras Produção e Comunicação. ENDEREÇO: Feira Livre Periurbana de Búzios, Praça da Ferradura, Centro, Armação dos Búzios, Rio de Janeiro, Brasil, CEP 28950-000. FALE COM A FRENTE E VERSO: frenteverso@contraregras.com.br.
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PUBLICAÇÃO POLÍTICO-CULTURAL, GASTRONÔMICA E LITERÁRIA DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS
Educação
RECEITA ORIGINAL DE BOLO PERFUMADO DE LAVANDA* Ingredientes:
3 xícaras de farinha de arroz; 2 xícaras de açúcar demerara; 1 xícara de óleo de coco; 3 ovos caipiras; 1 xícara de chá de lavanda; Um punhado de amêndoas. Ingredientes:
LUISA BARBOSA
3 xícaras de farinha de arroz; 2 xícaras de açúcar demerara; 1 xícara de óleo de coco; 3 ovos caipiras; 1 xícara de chá de lavanda; Um punhado de amêndoas. Faz um chá forte de lavanda Reserva Bate ovos, açúcar demerara, ou outro mais em conta Leva em conta o orçamento, a promoção, o momento. Mistura bem, mistura. Acrescenta, aos poucos, farinha de arroz Ou trigo, ou mandioca... Respeita tuas opções alimentares e elementares. Tuas opções diversas Mistura Misture Misture-se bem Bebe um gole do chá de lavanda, ou outro chá que goste.
Professora doutora de filosofia e sociologia do C. M. Paulo Freire e do C. E. João de Oliveira Botas
Troca o chá, o nome do bolo, a quantidade dos ingredientes. Considera a safra, o quintal, a xepa da feira, a tua boca hoje... não considera nada. Misture-se bem. Acrescenta o óleo de coco à massa Ou outro, da tua preferência Tenha preferências, referências, reminiscências. Não tenha. Não esquece a tua gente.
Não perde o vigor, não perde o calor, a alegria de viver. Misture. Misture-se bem. Acrescenta metade da xícara do chá de lavanda, camomila, casca de laranja, erva doce, guaco... Não deixa de se misturar com vigor. Pica a amêndoa ou castanha ou nozes. Acrescenta metade da erva ou casca picada. Unta a forma redonda de furo no meio com farinha e óleo.
Esquece.
Espalha a massa bem espalhafatosa na forma.
Mistura.
Sai da forma.
Misture-se bem. Com energia, vigor, alegria de viver
A massa cresce. Extrapola.
O ambiente é frio
Ora.
Preaqueça o forno a 180º C.
Bebe o chá.
Deixa o bolo no forno até perfumar Então grita Chama as crianças da vizinhança pra provar Distribui o bolo em potes retornáveis até o último vizinho que o cheiro alcançar Chame-os para um chá Misturem-se Misturem-se bem Abril chegou. Fique junto. Abaixo a indigestão.**
* Tem lavanda todo sábado na barraca do Seu Severino na Feira LIVRE da Ferradura. ** 1º de abril marca o início da Ditadura Civil-Militar que assombrou o Brasil entre 1964 e 1985. Durante esse período, reportagens críticas ao regime eram censuradas de véspera. Sem tempo de substituir as matérias proibidas, os jornais publicavam receitas de bolo. Não é o nosso caso. Não ainda.
Biblioteca Pública Municipal Francisca Maria de Souza Funcionamento: segunda-feira a sexta-feira de 8h às 17h Praça da Ferradura s/n, Ferradura, Armação dos Búzios, Rio de Janeiro, Brasil CEP 28950-000 Fone (22) 2623-2510
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EDIÇÃO 009 – ANO 01 – ABRIL 2019
CRÔNICA BUZIANA
SANDRO PEIXOTO
Empresário e jornalista
CENSURADO LIVROS
TIAGO ALVES FERREIRA Produtor cultural
para tornar a experiência ainda mais completa. O assinante pode também ganhar descontos especiais em brinquedos educativos, móveis, coleções de livros e instrumentos musicais selecionados por especialistas da Loja Leiturinha.
Nesta última edição da primeira temporada do jornal Frente e Verso, vamos indicar, em vez de livros, três clubes de leitura, um deles direcionado às crianças, outro feito por edições especiais e inéditas, e o terceiro que tem intelectuais progressistas como curadores. Os clubes podem ser importantes ferramentas para moradores de cidades como Armação dos Búzios, além é claro, da livraria Canto da Tartaruga, localizada na Travessa Renata Deschamps.
Três são os planos oferecidos ao assinante, “Mini” com 1 livro por mês, o “Uni” com 1 livro por mês, material de apoio aos pais e dicas de especialistas, descontos exclusivos na Loja Leiturinha, surpresinha especial e por fim o “Duni” com 2 livros por mês, material de apoio aos pais, descontos exclusivos na Loja Leiturinha, surpresinha especial, os preços variam de R$ 19,90 a R$ 59,90.
Leiturinha www.leiturinha.com.br
Manifesto Pa.na.ce.ia (Latim: Panacea)
No clube infantil Leiturinha, você escolhe o plano ideal para sua família, os especialistas do preparam os melhores livros e surpresas, assim o assinante garante o futuro de um pequeno.
Filha de Esculápio, neta de Apolo, deusa da cura na mitologia grega. Remédio para todos os males físicos e morais. Aquilo considerado válido para resolver qualquer problema.
Panaceia www.panaceiaclube.com.br
A partir de agora, Panaceia tem outro significado. É o clube de quem busca respostas e acredita que o melhor lugar para encontrá-las está nas linhas e entrelinhas, a cada página e capítulo de um bom livro. Mensalmente, o assinante recebe um kit. Os livros são selecionados considerando as fases da criança, desde o nascimento até 10 anos. Assim, as seleções acompanham o crescimento do pequeno leitor, garantindo leituras divertidas e cada vez mais elaboradas. O Anteninha é um material preparado mensalmente com dicas de mediação da leitura e informações relevantes
De quem não perdeu a esperança na força das palavras, no compartilhamento de ideias (e não só de links) e na capacidade humana de encontrar soluções para seus dilemas (ou males). Este não é só um clube de livros. É uma comunidade aberta às experiências do conhecimento. Uma expedição disposta a explorar os confins do Universo e os desvãos da alma. Uma rede neural pronta para as sinapses
e o cronista Luis Fernando Verissimo são desafiados a selecionar o melhor livro de suas bibliotecas para compartilhar com o associado.
que só a leitura é capaz de estimular. Curadores Celso Amorim, David Harvey, Drauzio Varella, Hermano Vianna, Jessé de Souza, Judith Buttler, Laerte Coutinho, Marina Person, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Luiz Eduardo Soares, Maria Rita Kehl, Patricia Hill Collins, Tulipa Ruiz, Wagner Moura. TAG Livros www.taglivros.com O clube oferece aos assinantes duas modalidades de assinatura. Você paga sua mensalidade e passa a receber, uma vez por mês, nossos kits literários. Os livros são sempre uma surpresa, em edição exclusiva para os associados. No TAG curadoria temos indicações singulares indicadas por grandes nomes da literatura nacional e internacional. Clássicos ou contemporâneos, do Brasil ou do mundo: livros diversos para quem quer explorar e descobrir o que há além da sua estante. Edições em capa dura, mimos e revistas com conteúdo complementar a partir de R$ 55,90 por mês. Os livros são recomendados por quem entende do assunto: todo mês, nomes como o Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, a escritora nigeriana Chimamanda Adichie
Como quem escolhe os livros são grandes escritores, são sempre obras muito bem-conceituadas pela crítica e de excepcional qualidade. A certeza é a de que o leitor navegará por épocas, países e estilos literários, descobrindo obras singulares e explorando o que há de melhor na literatura. No TAG inéditas, o melhor da literatura contemporânea internacional em primeira mão aos associados. Se você não dormir porque ficou pensando “só mais um capítulo”, não nos culpe depois! Planos de assinatura do clube a partir de R$45,90 por mês. Nossa equipe de bookhunters investiga os lançamentos mais recentes para descobrir aqueles que estejam fazendo sucesso entre os leitores ao redor do mundo, mas que ainda não tenham vindo ao Brasil.
São best-sellers de leitura rápida e linguagem contemporânea, daqueles repletos de diálogos e cenas emocionantes, que fisgam o leitor desde as primeiras páginas. Os livros são inéditos porque nunca foram publicados no Brasil. Em parceria com uma editora brasileira, fazemos a tradução, o projeto gráfico e editorial e trazemos a obra em primeira mão aos associados.
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Teatro
MONÓLOGO EM UM PALCO ÀS ESCURAS TONIO CARVALHO
Autor, ator e diretor teatral
Me mataram aos 13 anos. Nem deu tempo de ver quem foi, como foi. Quando me dei conta lá estavam estendidos no chão do pátio da escola onde eu estudava, as minhas duas metades. Caio e Juliana. Eu os amava desde sempre. De sempre mesmo. Talvez de outras vidas. Quem que vai saber? A gente era, como dizem ou como diziam, unha e carne. Tanto era verdade que eu não sabia mais e nem eles também, quem era quem ou quem a gente éramos. Unha e carne era coisa ou é coisa da parte de um corpo. Só. A gente era mais que isso. Mas muito que mais. Uma só alma. Três em um e um em três. Riso frouxo sem saber nem por quê. Bastava um começar pra ser seguido de dobrar. Patetas. Em dores, igualmente iguais. A de um percorria a do outro e assim era. Era o que nós era. Na escola tinha gente que admirava e outras gentes que invejava. Que tanto a gente andávamos juntos? Um grude. De verdade, grude mesmo. Quando sentados lado a lado grudadas as coxas, em fogo subiam rouge nas bochechas das nossas caras. Tensão no ar, tesão na terra. Eita nós! Não sei a quem mais desejava e assim agora, fico sem saber pra sempre. Morto, aos 13 anos, sem noção do como nem por que, minhas metades estendidas no pátio da escola, sangue por tudo que é lado, gritos, correria, sufoco, o meu desejo ia daqui para o Além. Para trazer eles de volta para serem guardados dentro de mim. Eu limparia seus sangues, sugaria suas salivas, lamberia suas últimas lágrimas, seus suores, fluídos. Desandei de procurar nossos sonhos
de meninos ainda entre seus corpos mutilados por balas e machados que os desfiguraram. Não os encontrei. Mataram também meus sonhos aos 13 anos, quando meu amor era flor ainda em botão. Caio e Juliana, agora somos ficção. Vamos fazer parte de uma triste história sem educação. Daí já comecei a entender a vida engolindo soluços sem lágrimas. Minhas duas metades ceifadas. Entendi a deseducação para marginalizar pobres, negros e os diferentes que somos. Entendi o jeito falso de quem veio gravata no peito lamentar e dar uma palavra que nem sei direito o que é: condolências. Agora não adianta mais de nada. Estou morto. E querem me levar para longe dos meus dois. Como pode ser isso, se eles são eu e eu sou eles? Como podem ser gentis com alguém, como eu, assim coração desmiolado, pensamento de guri traído, de eré sem terreiro, de piá sem pandorga, de curumim sem aldeia? O que querem de mim agora? Que seja herói de um clã auriverde pendão da minha terra pois os capitães do mato no poder vão cuidar da educação sob visão cósmica bíblica? Não sou joguete, Dona Fulana. Meu auriverde é outro. Sou dono da minha bola e minha nação é um campo de terra batida onde rola bola de meia. Não creio no que dizem nem no que professam. Palavras e juras irão para a lata do lixo da história junto com os senhores deseducadores da vida, ladrões de sonhos, gente que se diz gente mas que fede muito antes de morrer. Não falem em nome meu. Nem no de Caio e de Juliana, minhas metades, nem de minha Escola, nem de meu País, por que este País sempre será nosso porque nos viu nascer e o povo aqui é forte. Minha morte é a morte de quem está mais do que nunca de olho em vocês, porque tudo é perigoso. E a vida, assim como a morte, dá voltas!
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EDIÇÃO 009 – ANO 01 – ABRIL 2019
Ar dos Búzios
DELEGACIA DA RASA MUITAS SÃO AS HISTÓRIAS
MARIA FERNANDA QUINTELA
Jornalista
Campaña foi reto: o máximo que poderia ser feito era um Posto Avançado do já existente Posto Avançado de Unamar, localidade vizinha. Mas o Estado não tinha como investir nada. E assim foi. João Guelo, morador da Rasa e grande benfeitor de Búzios, doou o terreno, Otavinho fez o projeto do prédio e construiu do próprio bolso, e um cara chamado Omar Carneiro, executivo de uma multinacional, querido morador de Búzios, doou os móveis. Estava pronto. Quando os policiais vieram inaugurar o posto, viram que o de Búzios era melhor que o de Unamar. Não havia nada igual na região nem em lugar nenhum num raio de muitas cidades. Nem Cabo Frio, nem nada. Nova, moderna, com carceragem, com tudo. Aí resolveram passar a delegacia pra Rasa. Búzios ganhou sua delegacia e passou a cuidar de Unamar também. Até hoje é assim. O local só perdeu o status de delegacia quando o governador Garotinho (1999) criou o programa Delegacia Legal, e o prédio oficial foi aberto na Ferradura (2008).
A ORIGEM O barulho de ferro batendo e tijolos quebrando até que poderia ser confundido com o episódio da fuga em massa, que pela primeira vez colocou a Delegacia da Rasa no noticiário da região. Fato esse que levou toda gente do bairro a ficar em polvorosa... Mas não. Não é fuga. É a história seguindo seu ritmo. A Delegacia da Rasa, que já foi uma espécie de “Bangu” no interior do Estado, nas décadas de 80 e 90, quando presos cumpriam pena nas carceragens das delegacias superlotadas, vai mudar novamente. Está sendo toda reformada para abrigar o DPO e a Secretaria Municipal de Segurança Pública. E vai perder suas grades e ares de delegacia. Definitivamente. Mas não perde sua história. Construída por uma necessidade dos anos 80, época do boom imobiliário em Búzios, quando começaram a surgir muitas pousadas, casas, condomínios... e, com eles, os assaltos e pequenos furtos, o arquiteto Otávio Rajagabaglia pediu ao chefe da Polícia Militar do Interior, Alberto Campaña, uma delegacia para Búzios.
PROVA DE FÉ Ateu convicto. Assim era o inspetor Júlio. Trabalhou anos na Delegacia da Rasa, debruçado numa máquina de escrever Remington, capenga de algumas letras, claro. Um belo dia, após o plantão de 48 horas, já prestes a sair pela manhã, pronto para ir embora, tomando um café, chega um cara. Veio pedalando de Unamar para dar queixa da mulher. Queria denunciar a esposa que o traía. Flagrou a dita cuja na cama com o açougueiro. Queria fazer um boletim de ocorrência para pedir a separação. Julinho sabia que se começasse a fazer a ocorrência ali, ia demorar muito tempo. E ele queria ir embora. Morava em Rio Bonito, o caminho era longo... Foi aí que teve a ideia de perguntar ao cara se ele era evangélico. Resposta afirmativa, Júlio então pegou uma bíblia, abriu numa página qualquer e falou para o cara: “Deus está tentando provar a sua fé. Volte lá, perdoe sua esposa e reate seu casamento!” O cara foi embora, não fez a denúncia. E Julinho se mandou para Rio Bonito. Passou um tempo o cara voltou com a esposa grávida, não se sabe se o filho era dele ou do açougueiro... mas o
fato é que o casal pediu para Julinho ser o padrinho do filho deles. Convite aceito, o inspetor Júlio virou padrinho de um menino nascido em Unamar. E ele ria bastante quando lembrava esta história. Como não acreditava em Deus, tudo o que falou era mentira. A REFORMA DA MACONHA Entre bandidos e ladrões de galinha, muitos maconheiros cumpriram pena na carceragem da Rasa. Denunciado pelo ex-funcionário de confiança, um empresário de hotelaria apreciador da erva, foi preso em casa pela polícia que encontrou boa quantidade do produto ilegal. A essa altura, na delegacia já faltava muita coisa. O prédio estava velho e a carceragem lotada de gente e de problemas. Preso nesse ambiente, o empresário não teve dúvida. Pagou a reforma geral das celas, banheiros, trocou a instalação elétrica e hidráulica, fez um investimento pesado. Quando saiu, deixou o prédio em melhores condições de uso. JUIZ DÁ CALOTE EM MACONHEIRO Maconha também prende artista, e lá pelo início do milênio, Elio Lago, talentoso pintor argentino que morou muitos anos em Búzios, passou parte desse tempo detido na Rasa. Poeta dos pincéis, pintou um painel que ainda hoje pode ser visto na cela onde ficou. Lindo! Apresenta uma cidade com sua população em sua rotina diária, mas pedindo justiça, igualdade de direitos, inclusão social. Esses maconheiros... Dia vai, dia vem, o Juiz da cidade aparece na carceragem para uma vistoria. Ao se deparar com o painel que cobre toda uma parede, ele manda chamar o artista e encomenda a pintura de um quadro: sua imagem em seu gabinete de trabalho. Corta a cena para Sandro Peixoto, repórter do jornal O Perú Molhado, recebendo uma ligação do Fórum de Búzios mandando ele comparecer ao gabinete do Juiz. “Fui tremendo de medo...não sabia o que era”, contou Sandro, que aliás, me contou também todas essas histórias que lemos agora. O motivo do chamado fez o repórter respirar aliviado. O Juiz queria ser fotografado em sua cadeira imensa, com direito a um pedido especial. Que fossem focadas suas mãos sobre os braços da cadeira.
Elio Lago pintou o quadro baseado (olha a maconha aí de novo) na foto de Sandro, mas o pagamento nunca chegou. Um quadro gigantesco, assim como o calote dado pelo Juiz. ATENDE AÍ Clemente Magalhães e Adriana, cansados de ligar para a delegacia sem sucesso, foram até o local, e descobriram que os inspetores não atendiam o telefone porque o único aparelho que tinha no prédio, ficava na sala do delegado. O casal então saiu da Rasa e foi até Manguinhos comprar um aparelho telefônico para doar para os inspetores. Compraram, voltaram pra Rasa e foram informados pelos policiais de que para doar pra delegacia, teriam que registrar a doação ao Estado RJ em cartório. Eles foram para o cartório, no Centro, e não conseguiram registrar nada... voltaram pra Rasa com o aparelho e simplesmente deixaram na delegacia dizendo para os policiais que eles iam esquecer o telefone ali... e caso alguém quisesse utilizar... MUITA MORAL Não podia terminar este texto sem registrar mais essa. João Guelo, figura forte da história de Búzios, principalmente da Rasa, onde morava, doador do terreno onde se ergueu a delegacia, andava armado pela cidade. Todos os policiais sabiam, assim como sabiam que ele não possuía porte de armas, nem autorização alguma para ser proprietário de uma. Pois bem, ele não somente andava com sua arma à mostra, na cintura, como também volta e meia invadia a delegacia e tirava alguém do xadrez. Soltava mesmo. E ninguém interferia. Tinha moral para tal. E toda gente sabia também que ele só soltava quem realmente não merecia estar ali. Quem deu bobeira na vida, acontece, mas não precisava ficar ali... Maravilhoso.
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Roda Cultural do C.U.B. Coletivo Urbano Buziano
CircoLo Social
@coletivourbanobuziano
Educar e transformar
Estrada da Usina Velha, nº 179, Centro, Armação dos Búzios, Rio de Janeiro, Brasil, CEP 28950-000 @SocialCircoLo
BAMBUZAL
O QUE FARIA? “Tem gente que vem e quer voltar Tem gente que vai e quer ficar Tem gente que veio só olhar Tem gente a sorrir e a chorar E assim, chegar e partir São só dois lados Da mesma viagem” [1] É isso: tudo passa, tudo é cíclico. Num indo e vindo infinito, a vida passa como as ondas do mar. Pessoas, momentos, êxtases, angústias, vitórias e derrotas alternam-se nessa roda gigante. Na montanha russa do viver, cheia de loopings, subidas lentas e descidas vertiginosas, seguimos. Para onde? Nem sempre sabemos, ou quase nunca sabemos. Vida que segue, como diz o jargão jurídico. Mas, o Moska zune: “- o que você faria se só te restasse esse dia?”[2] Entre anseios e lamentos, navegamos projetando futuros e ancorando passados. Mas e se esse fosse o primeiro e o último dia do resto de nossas vidas? O que faríamos? Como agiríamos? O que falaríamos? Com quens gostaríamos de trocar olhares, apertar num abraço, fazer um carinho mais demorado? Ultimamente, penso nisso com frequência. Essa situação do tempo, da duração e da efemeridade tem caminhado lado a lado comigo, mesmo na correria do trabalho, no vai e vem com as crianças para escola e demais atividades e naquelas pausas para admirar o mar em Geribá, na Marina, em Tucuns, ou no alto de alguns do mirantes estonteantes de nossa cidade. Achei interessante que, logo após o Carnaval, ouvi de várias pessoas: “Ah, agora o ano vai começar!”. Realmente, no Brasil, essa é uma ideia comum, de que o ano começa após a quarta-feira de cinzas. Depois de muita festa, fantasias e amnésias,
renascemos como o Fênix para mais uma jornada. Já na semana seguinte, uma amiga recém chegada da Tailândia disse que, lá naquela lonjura, comemoraram há poucos dias o ano novo. Lembrei-me da perplexidade de chegar no Nepal em abril de 2004 e encontrar faixas comemorativas de “Happy New Year 2061”. Para os chineses, o ano 4717, do Porco de Terra, começou em 05/02/2019, junto com o ano Tibetano de 2145. Aliás, por serem calendários lunosolares, essas datas de início/final são móveis e caem em dias diferentes a cada ano. Assim também é na Índia, que pode estar no ano 533, de acordo com as tradições Vaishinavas, e começar na Lua Cheia Dourada de março (Goura Purnima); ou em abril de acordo com a tradição Tamil, ou quem sabe, nos meses de Kartik (outubro/novembro), após as monções, quando a terra está fértil e toda a vida floresce cheia de cores e aromas culminando no Diwali (Festival das Cores). Nesse caso, a contagem já está perto do ano 5000, pois começou no início da era atual, conhecida como Kali-Yuga, há cerca de 2500 anos antes de Cristo. O ano também só começa no segundo semestre para as tradições Iorubá, que em 03 de junho iniciará o ano 10061 (!), quase o dobro do tempo de anos judaicos contados, que entre setembro e outubro comemorará o ano 5779 o Rosh Hashaná. Para o Islã, em setembro o ano de 1441 marcará o tempo transcorrido desde que o Profeta Mohamed saiu de Meca para Medina. E o que nós consideramos final do ano, para os Incas é apenas o
início, pois no dia 21/12/2019, quando estaremos entrando no Verão, eles estarão comemorando as colheitas e o novo ciclo que se inicia. Se formos pesquisar a fundo, nessa Multidiversidade que é o Mundo, cada dia, em alguma cultura, haverá motivos para celebrar o fim ou o início de um tempo. É comum, nessas datas, ficarmos um pouco introspectivos e meditar ou refletir sobre o que realmente é valoroso para nós. Mas e se, de repente, cônscios de nossa ecocidadania terrena, conseguirmos perceber, como na canção, que “todo dia é de viver, para ser o que for e ser tudo”? Considerar que “tudo que move é sagrado e remove as montanhas, COM TODO CUIDADO, meu amor”[3] ? E sentir o amor como “a estrada de fazer, o sonho acontecer”? Aliás, nessa música interpretada magistralmente por Milton - e com uma versão instigante também do Moska - , reza a letra: “Cheguei a tempo de te ver acordar Eu vim correndo à frente do sol Abri a porta e antes de entrar Revi a vida inteira Pensei em tudo que é possível falar (...) Falar da cor dos temporais Do céu azul, das flores de abril Pensar além do bem e do mal Lembrar de coisas que ninguém viu O mundo lá sempre a rodar E em cima dele tudo vale” [4] O mundo lá sempre a rodar... quantos giros damos enquanto essa nave azul completa seu giro em torno do sol? E eu, o que queria falar? O que faria nesse dia? Iria manter minha agenda de almoço, hora, apatia (...) pra me esquecer que não dá tempo, pro tempo que já se perdia? Mas, “todos os dias é um vai e vem, a vida se repete na estação (...) o trem que chega é o mesmo trem da partida (...) a plataforma dessa estação é a Vida”. Aaahhhhh! É difícil escrever o que poderá ser a última coluna deste Jornal Frente e Verso!!! São tantos poemas, músicas, reflexões, medi-
HÉLIO COELHO FILHO Viajante do tempo
tações, devaneios, questionamentos, instigações, que fico quase tonto. Seria em função da translação e rotação externa ou interna? Pensei no tempo e era tempo demais. Demais ou insuficiente? Qual a relação entre o Infinito e o infinitesimal? Paro. R e s p i r o. “Você olhou sorrindo pra mim, me acenou um beijo de paz”, as músicas e poesias é que não param e já não sei o que me separa delas. “Eu simplesmente não consigo parar, Lá fora o dia já clareou, Mas se você quiser transformar o ribeirão em braço de mar,
Você vai ter que encontrar aonde nasce a fonte do ser”. )...( É. A Arte tem dessas coisas. “A arte é uma mentira que revela a verdade”, já disse Picasso. O Frente e Verso é uma tentativa de unir pessoas de diferentes tempos e lugares num mesmo espaço criador de novos ambientes, mais arejados, amplos e visionários. Talvez seja outro o momento. Mas a semente é boa e onde houver terra fértil germinará, florescerá e lá(aqui) fará muitas Primaveras. Nesse constante primeiro último dia buscarei a fonte, a presença, o perene. Tudo mais é encontro e despedida. Sim, a plataforma dessa Estação é a Vida. Sim, todo Amor é Sagrado. Sim. A vida começa com um Sim.
1. Encontros e Despedidas , Compositores: Fernando Brant / Milton Silva Campos Nascimento 2. Último Dia, Compositor Paulinho Moska 3. Amor de Índio, Beto Guedes 4. Quem Sabe Isso quer dizer Amor - Compositores: Marcio Borges / Salomão Borges Filho
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EDIÇÃO 009 – ANO 01 – ABRIL 2019
Linha do tempo Frente e Verso
Frente e Verso #000 Final de junho de 2018. O Brasil ainda estava na Copa. Malditos belgas. Aqui do outro lado do mundo, longe da Rússia, já tínhamos tido a brutalidade do assassinato de Marielle Franco, a mais significativa prisão política do mundo nos nossos tempos, a de Lula, uma greve de caminhoneiros que assustou o país pela ferida coletiva do descontrole social. O Frente e Verso nasceu na confusão desse inverno, com uma proposta ousada e inédita em Búzios. Doze colunistas, oito páginas, três mil exemplares e muita coragem. Um jornal para ocupar toda a superfície do papel.
JULHO
AGOSTO
Frente e Verso #002 Uma entrevista luminosa com Renata Duchamps, uma cobertura especial sobre a participação da comitiva de Búzios na Flip de Paraty, um reflexão especial sobre a cultura canábica e o uso da maconha foram alguns dos destaques dessa edição, que circulou em setembro de 2018. A boa recepção do público preencheu o fôlego do projeto, que se fixou com lançamentos lúdicos na Feira Livre Periurbana, aos sábados de manhã, ingressando de vez no campo do debate público e da cultura da cidade. O jornal acelerou e encontrou o seu ritmo.
2018 SETEMBRO
OUTUBRO
NOVEMBRO
Frente e Verso #003 Ele Não! Foi o que apresentamos, em editorial, no calor da corrida eleitoral que apresentou os dentes do fascismo, o tal cão no cio que resolveu infelizmente aportar por aqui após tanto estrago causado na história da humanidade. Trouxemos, sem que pudesse haver dúvida, a nossa posição frente a um momento tão decisivo. Foi também nesta edição, fermentada com 16 páginas de opinião e diversidade, que lançamos a nossa campanha de financiamento coletivo do Frente e Verso, convidando os leitores a se tornarem assinantes dessa iniciativa.
Frente e Verso #001 A segunda edição, pós parto, veio no início do segundo semestre, cercada dos hormônios e expectativas que esses seis meses trariam para a história nacional. A coluna Preto no Branco com a entrevista do mês, uma coluna dedicada à realidade das comunidades tradicionais e quilombolas, além de um espaço voltado ao debate sobre a saúde mental foram novidades entre as agora 12 páginas do Frente e Verso.
Frente e Verso #004 “Resistir é preciso” foi o título da coluna da psiquiatra e psicoterapeuta Sheila Saidon. Representou o espírito do corpo editorial do jornal e das forças progressistas e democráticas do país após a eleição de Jair Bolsonaro para a presidência do país, em uma campanha marcada pelo preconceito, pela mentira das fake-news e das piores aspirações humanas. Na entrevista da seção Preto no Branco, trouxemos uma excelente conversa com Hamber Carvalho, nosso colunista que, em breve, assumiria o cargo de secretário de Meio Ambiente de Búzios.
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PUBLICAÇÃO POLÍTICO-CULTURAL, GASTRONÔMICA E LITERÁRIA DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS
Frente e Verso #007 A rainha das águas, Iemanjá, chorando em pedaços sobre o mar de lama, criado pelos homens, responsável por mais de 300 mortes no crime do rompimento de barragem da mineradora Vale em Minas Gerais. Essa foi a metáfora encontrada pelo Frente e Verso para verter as suas próprias lágrimas nessa edição, lançada em dois de fevereiro - Dia de Iemanjá – em meio aos horrores da tragédia de Brumadinho.
Frente e Verso #005 Fim de 2018. O jornal de dezembro juntou os remendos do ano que se passou e a saudade de alguns personagens da vida buziana que partiram. Bonita foi a homenagem a Mica do Mercadinho, tão querido por tantas gerações, a Michelle Mimi Malvile, da boate Maruelle, ao pescador Sidney Tardeli que também nos deixou. Na coluna de educação, o belo texto de Luisa Barbosa em reverência à Biblioteca Municipal Dona Chica completou o tom de aconchego e recolhimento após um período de grandes tensões.
DEZEMBRO
Frente e Verso #008 Com a divisão de águas do carnaval e das chuvas de março, 2019 não deixou dúvidas sobre a carga que trouxe e os conflitos que anunciava. Escândalos políticos de um governo recém-eleito, violência contra as populações desfavorecidas, a proximidade de uma Reforma da Previdência cruel em nome do dinheiro e contra os direitos da população pobre, todas as cartas do mês sobre a mesa. Uma edição difícil do Frente e Verso que, além de tudo, anunciou as dificuldades financeiras e estruturais do projeto para se manter vivo na cidade de Búzios.
2019
JANEIRO
FEVEREIRO
Frente e Verso #006 A edição que abriu 2019 veio revigorada com o espírito de um novo ano. Uma estreia importante foi a coluna de Dudu Pererê, com poemas. O Frente e Verso também ingressou na campanha por um Teatro Municipal / Centro Cultural Multiuso em Búzios e denunciou a possibilidade de encerramento do Gran Cine Bardot. O texto do convidado Albeto Bloch, arquiteto e doutor em urbanismo, trouxe uma provocação especial sobre a Lagoa do Geribá e o planejamento urbano do município.
MARÇO
ABRIL
Frente e Verso #009 É este que está em suas mãos. O último, o fim de um ciclo, o remate, a lembrança. O orgulho de termos chegado até aqui. Muito obrigado! Equipe Frente e Verso.
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EDIÇÃO 009 – ANO 01 – ABRIL 2019
Gastronomia
DO FOGO
À FEIRA
GUSTAVO GUTERMAN
Professor do curso de Gastronomia do Instituto Federal Fluminense de Cabo Frio
O ato de se alimentar é o mais importante que uma pessoa pode fazer por ela mesma. Todos precisam comer para viver. Fomos sagazes ao conseguir dominar o fogo, e isso foi determinante para o futuro da humanidade. Passamos a cozinhar, deixamos de ser nômades, nos tornamos agricultores, criadores de animais e aos poucos através da comida fomos definindo hábitos e participando de um processo civilizatório, que permitiu vivermos na coletividade. Até a Era da Industrialização, convivemos com a dúvida de haver comida tanto quanto com a dúvida da comida escolhida ser saudável. Muitas pessoas morreram por comer algo
envenenado ou estragado. A humanidade passou por vários momentos de contaminação, onde a Peste Negra, por exemplo, foi capaz de dizimar 1/3 da população. Tivemos guerras, pelos mais variados motivos, e muitos deles eram por alimentos, já que tê-los representava poder. A paz foi repetidamente selada em torno de grandes banquetes. Os organizadores responsáveis por essas enormes festas, sempre eram considerados poderosos e fortes, a ponto de definir se podiam ou não serem reis. Sim, tivemos reis depostos por não gostarem de comer. Assim como, quedas imperiais, por conta de ter mais gente com fome do que com acesso a comida. A fome provoca a ira de quem não tem o que se alimentar. Porém, até este sentimento reinar, muitos morreram. A fome terminou se tornando assunto regulador das sociedades. Tudo perde valor, a partir do momento que a tem. A religião interveio por vários momentos. A medicina segue definindo as dietas e obviamente, o poder de compra segue soberano em países onde a maioria populacional é pobre. A antiga comida de território, que dava pertencimento aos componentes daquela sociedade, claramente definiam: para um forasteiro poder comer da minha comida, vai ter que pagar e pagar caro e isso dava um valor para o alimento
que ia muito além da nutrição, considerando inclusive que esse pagamento não necessariamente fosse em dinheiro. Poderia ser lealdade e confiança, por exemplo. Até que em decorrência do medo da fome, incentivamos a criação de processos industriais para a produção de alimentos. Nos sentimos mais seguros ao saber que tem um supermercado na esquina de casa. A comida de território perdeu valor diante da internacionalização e consequente padronização do gosto. A humanidade entregou nas mãos de um pouco mais de uma dúzia de pessoas (diretores das indústrias), a decisão do que o mundo vai comer. Hoje, ficamos felizes quando chegamos em lugares longínquos e encontramos a mesma batata frita que comemos na lanchonete famosa de nossa cidade.
conservantes. Os dois têm provocado doenças inúmeras. A indústria não resolveu o problema da fome, e sim, da produção de alimentos. Não consegue distribuir e chegar aonde precisam. Ou seja, em nome do medo da fome, perdemos as referências dos valores e hábitos culturais, ficamos doentes e continuamos tendo fome. É preciso repensar, e feiras, como a Periurbana de Búzios, nos entregam, de bandeja, um monte de elementos para compor essa reflexão. Ela junta pessoas dispostas a discutir o assunto. É possível enxergar soluções, encontrar mais de uma proposta, onde a cada edição firma mais valores que antes estavam esquecidos e que hoje proporcionam alegria para pessoas que nem sabiam do que sentiam falta.
Ninguém poderia prever. Foi um crime perfeito. Estávamos resolvendo a questão da fome. As viúvas da guerra precisavam trabalhar para refazer suas vidas e cidades e, com isso, a cozinha foi ressignificada. Deixamos de produzir em casa. Aos poucos, esquecemos a comida da vó e da tia. Passamos a desembalar mais. As crianças não têm mais certeza de como é uma galinha.
A despedida é do jornal. Mas o sentimento de certeza dos valores que a feira passa, faz o jornal se manter vivo. Viva! Viva a congregação, os hábitos alimentares locais, a comida produzida com verdade e o amor provocado por ela. Viva a gastronomia que permite os valores se restabelecerem. Viva os cozinheiros que compreendem sua real e importância social.
Temos hoje problemas com o uso de agrotóxicos e o uso de elementos
Viva!
Entre
SALVAMENTO DE AUTORECUPERAÇÃO DE MULHERES SHEILA SAIDON
Psiquiatra e psicoterapeuta
“¿Qué me hace ser mujer? Ser bisexual, ¿me hace mujer? Que me hayan perforado las orejas cuando era bebé, ¿me hace mujer? Tener cabello largo, ¿me hace mujer? Tener ovarios, ¿me hace mujer? Que sangre cada 28 días, ¿me hace mujer? ¿Quedar embarazada me hace mujer? Tener tetas, ¿me hace mujer? Tener pene, ¿me hace mujer? Usar ropa rosada, ¿me hace mujer? Usar velo, ¿me hace mujer? Tener las unas largas, ¿me hace mujer? Tener clítoris, ¿me hace mujer?...” Jess Valverde Bolívia, La Paz, 1990
Esse é um trecho de um poema que faz parte do livro “Liberoamericanas: 80 poetas contemporâneas”, que nos provoca e convoca a perguntar-nos o que faz de mim uma mulher. Entendendo que ser mulher é uma construção. Sacudindo as formas, lugares e representações sob as quais fomos constituídas, atravessadas e moldadas pelo caduco sistema patriarcal ocidental. Hoje, mulher é sinônimo de luta. Ao longo da história sempre tivemos mulheres lutando pelos seus direitos e contra as injustiças de toda índole e, provavelmente, muitas mais heroínas do que nos contaram numa história narrada principalmente por homens. Como as bravas Madres y Abuelas de Plaza de Mayo, que com sua luta nos ensinam que é com gana, garra e persistência que se avança. Há 43 anos, empreendem uma busca incansável por seus filhos e netos desaparecidos na última ditadura militar argentina (1976-1983). Mulheres que transformaram a dor em luta, se uniram e foram às ruas, reivindicar aparição com vida de seus filhos, e a restituição dos netos, nascidos em cativeiro, que foram apropriados pelos militares e tiveram sua identidade e afetos roubados. Ao longo desses anos, 128 netos
foram recuperados e puderam se reencontrar com suas origens, mas ainda restam centenas de netos afastados de sua história. Por isso, a cada ano, continuam marchando até Plaza de Mayo, acompanhadas por uma multidão. Homens, mulheres, crianças, movimentos sociais e coletivos culturais, se encontram, se abraçam, se emocionam e gritam juntxs: Memória, Verdade e Justiça! Uma memória viva que se constrói entre todxs. São elas, mulheres potentes, que nos mostram o caminho da luta cotidiana. Assim como Marielle e tantas outras... Mulheres que insistem e não se rendem. Sustentam e multiplicam suas ideias, colocando o corpo, denunciando todas as formas de violência, exigindo justiça, buscando liberdade sobre seu corpo e sexualidade, reivindicando direitos dos negros, índios, lgbt ou estudantis. A todas, minha homenagem e agradecimento. Juntas somos pura potência, acontecimento, força revolucionária! Ao Frente e Verso meu “Hasta siempre” e o desejo, que em breve, possamos continuar pensando e lutando juntxs por uma sociedade mais justa, igualitária e amorosa.
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Zarzuela
LÉA GONÇALVES
Radialista, DJ e programadora musical Desta vez, nossa coluna vai falar de Esporte, em Búzios. Daí, vocês perguntarão o que uma coluna de música tem a ver com esporte! Talvez tudo, inspiração, ritmo, harmonia. Nossa cidade, considerada uma das melhores raias do mundo para o esporte náutico, produz grandes atletas e vamos destacar o maior deles, o medalhista olímpico de windsurf, Bimba, que, na cidade, possui um projeto social para incentivar os novos talentos do esporte. De sua escola saíram nomes que são promessas na modalidade, dentre eles, Felipe Beltran e Robert Lopes Carvalho, que já deram a volta ao mundo, competindo e abocanhando medalhas em diversas competições. O Atleta Robert, hoje com sua parceira Ariani Theofilo, outra campeã do stand up paddle, dirige o clube makani Búzios de canoa havaiana, nas águas da praia de Manguinhos. No kitesurf, o Dj Raoni Lemos. Theo Fresia é destaque no mundo do surf, um currículo extenso de grandes vitórias mundo à fora; Dieter Toshboy, aos 60 anos de idade, o alemão de alma buziana, praticante do frescobol, esbanja vitalidade, competindo no Brasil e no exterior, e não perde uma partida. É praticante do esporte há 34 anos e 11 vezes campeão brasileiro, com mais de 200 pódios em 8 estados brasileiros. Outro nome que merece todo o nosso carinho e respeito é o técnico Amaury Holanda que, há anos, desenvolve seu trabalho na cidade, como treinador dos maratonistas Wiles Pinto e Gleidson Luciano, vencedores da última edição da meia maratona de Cabo-Frio. No MMA, Alexandre Tyson é nosso representante, e o nome é em homenagem ao ex-lutador Mike Tyson. No futevôlei, a dupla campeã, Duda de Dil e Bruno Ramos. Grandes atletas que nos orgulham e lutam diariamente para ver o nome da nossa cidade brilhar no mundo do esporte.
Para não dizer que não falei das flores, vamos ao universo da música, conhecer algumas curiosidades: • O cantor espanhol Juio Iglesias já foi goleiro do Real Madrid de 1953 a 1962, sendo afastado da função por causa de um acidente de carro; • Em 2005, o Cantor Diogo Nogueira, jogava pelo Esporte Clube Cruzeiro, do Rio Grande do Sul, sendo afastado devido uma lesão no joelho; • O vocalista do Natiruts Alexandre Carlo, jogou no Amor Asefe de Brasília; • Fagner, amigo de Zico e Sócrates, apesar de não ter jogado profissionalmente, chegou a treinar com a seleção canarinho de 1982; • Rod Stwart, fez testes para o Brendford F.C, durante o verão de 1960; • O fenômeno teen Justin Bieber, até visitou o Barcelona, para jogar; • Elton John foi presidente do clube Watford, nos anos 70; • Steve Harris, do Iron Maiden, quase foi profissional do West Ham United, mas largou o futebol para tocar baixo; • Bruce Dickson, vocalista também do Iron Maiden, chegou a competir internacionalmente lutando esgrima; • Jeff Ament, baixista do Pearl Jam, John Mayer e Usher jogavam basquete amador e Shaqulle O’neal que, nos anos 90, gravou quatro discos de rap chegando a faturar um disco de platina nos EUA, com o álbum de estréia Shaq a Diesel;
• O baterista Lars Ulruch, do metallica, é filho do tenista dinamarquês Torben Ulrich e, antes da música, pensou em seguir o caminho do pai, e Britney Spears Britney Spears que também adora uma raquete; • O guitarrista de jazz Bennie Williams Já lançou dois discos, mas antes fez carreira como jogador de beisebol profissional no New York Yankes; • Jack Johnson foi atleta profissional do surf, além de Jason Mraz, Anthony Kledis do Red hot Chili Pepers e a estonteante Lady Gaga; • No golfe, Nick Jonas e Justin Timberlake. Já o baixista Flea, do Red Hot Chili Peppers, corre e é um grande incentivador do esporte. A canadense Alanis Morissette também participou de maratonas. Na lista juntamos, Marcelo D2, Eminem, Dinho Ouro Preto do Capital Inicial e Brithaica Mel C, do Spice Girls; • O Nickelback, Chad Kroeger pratica hóquei no gelo.
A lista é gigantesca, seja pra manter a forma física, buscar hábitos saudáveis ou curar doenças e vícios, cada vez mais pessoas encontram no esporte prazer, saúde e alegria. Como prometido na Edição anterior Vamos a lista das 10 mais de todos os tempo, para vocês que participaram conosco o nosso muito obrigado. 10 Walk in the wild side - Lou Reed 09 Take five - Dave Brubeck 08 Só quero um xodó - Dominguinhos e Anastácia 07 Imagine - John Lennon 06 Seu Olhar - Gilberto Gil 05 Trem das cores - Caetano Veloso 04 Hey Jude - The Beatles 03 Detalhes - Roberto Carlos 02 Águas de Março - Tom Jobim 01 My cherry amour - Stevie Wonder, Samba pa ti - Santana e Canto de ossanha - Badem Powel e Vinícius de Moraes (ambas empatadas, segundo nossos leitores).
O projeto Cidade Biblioteca é uma iniciativa sem fins lucrativos de promoção da cultura, da leitura e do acesso ao conhecimento em Búzios. Nosso sonho é que os livros estejam sempre ao alcance das mãos, seja na procura do ócio, na espera do café, do transporte público ou do pôr-do-sol. Os livros transformam o intelecto e a sensibilidade, fazem do mundo um lugar melhor. O Cidade Biblioteca promove ações como saraus, clubes de leitura, distribuição de livros pelos espaços públicos, bibliotecas itinerantes.
D O E S E U TEMPO D O E S E U L I VRO
QUARTA-FEIRA
QUINTA-FEIRA
SÁBADOS
Biblioteca Municipal
Biblioteca Municipal
Feira Livre Periurbana de Búzio
14h
17h
@cidadebiblioteca
8h às 13h cidadebiblioteca@gmail.com
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EDIÇÃO 009 – ANO 01 – ABRIL 2019
CIDADE
QUESTÃO DE ESTILO Muito se fala sobre o padrão construtivo predominante em nossa cidade, denominado estilo Búzios que, em 2006, foi incluído no Plano Diretor, tornando-se uma obrigação legal a ser seguida por todas as construções na cidade. Mas o que seria afinal o Estilo Búzios?
e perderam a paciência com cupins e goteiras, de modo que essa nova demanda aboliu as estruturas de madeira e telhas antigas, as esquadrias foram substituídas por blindex, e as cores são usadas em profusão.
Quando conheci a cidade (anos 80), as construções eram marcadas por uma tipologia que seguiam um padrão e que tinham, entre outras características, o pé direito baixo, estruturas de madeiras escuras, que contrastavam com a alvenaria sempre branca, telhados, muitas vezes, de telhas antigas, e janelas quadriculadas (vidro dividido em pequenos pedaços). Isso configurava um estilo.
As novas demandas, misturadas ao estilo obrigatório, vêm produzindo um padrão construtivo, simples, que gera certa uniformidade e monotonia para a cidade. Nossa principal avenida não passa, hoje, de um amontoado de prédios anônimos e repetidos, que poderia estar em qualquer cidade do interior do estado, afastando-se completamente da tipologia inicial que caracterizou o chamado “Estilo Búzios”, do qual apenas sobreviveu o uso das telhas de barro.
Com o passar do tempo, foram introduzidas mudanças trazidas por novos hábitos, práticas e formas de viver e morar, influenciando a arquitetura. Hoje, as pessoas exigem menos manutenção, maior durabilidade
Embora a cidade necessite de mudanças que revitalizem sua paisagem urbana, é importante ressaltar e valorizar nosso padrão urbanístico, o gabarito de 02 pavimentos, somado a uma baixíssima taxa de
ROBERTO CAMPOLINA ocupação, o que garante a escala humana e harmonizam a Arquitetura à paisagem natural. Os parâmetros urbanísticos restritivos deveriam permitir, sem traumas, uma maior liberdade de criação na Arquitetura, sem risco de perda de qualidade, o que, ao contrário, fariam a cidade se renovar. Ainda temos a questão da sustentabilidade. Quem nunca hesitou, ao ver chegar um caminhão de madeira, na obra, para execução do telhado? Madeira retirada de floresta, que atravessou um continente para nos servir. Enquanto isso, novos conceitos e ideias, como telhados verdes, não são permitidos na legislação municipal. Ou seja, vivemos num tempo que exige a quebra de paradigmas que acolha novas concepções formais. A história da Arquitetura está repleta de exemplos de prédios, hoje, prestigiados, como a torre Eifel, a pirâmide
Mestre em Arquitetura Paisagística (UFRJ)
do Louvre, ou a capela de São Francisco na Pampulha, entre dezenas de outros, que não foram aceitos, quando construídos, apenas porque contrariavam o padrão estético da época. Isso mostra que tentar eternizar um estilo, como oficial, é um erro. A Arquitetura, como qualquer arte, não sobrevive sem criatividade e inovação. Um estilo pode até ser estimulado, mas nunca obrigatório. Concluindo, quero dizer que este texto não é uma afronta ao estilo Búzios, que sempre terá sua importância e lugar na história da cidade. Porém, a Arquitetura tem o direito e o dever de ser a expressão de seu tempo.
Diálogos Quilombolas GESSIANE NAZARIO
Quilombola da Rasa e doutoranda em Educação pela UFRJ
EDUCAÇÃO QUILOMBOLA Parte 2 Temos acompanhado nos noticiários, com muita tristeza e indignação, a estagnação e desconstrução do Ministério da Educação pelo atual governo do presidente Jair Bolsonaro. Até o presente momento, nenhuma medida concreta foi tomada para resolver problemas da qualidade da educação que envolve questões como: respeito aos educadores, que inclui salários menos imorais, incentivo ao cumprimento de várias diretrizes que expressam as demandas de grupos marginalizados como indígenas, quilombolas e camponeses para serem valorizados e compreendidos nos currículos escolares. Sobre a última questão, o Brasil tem dificuldades em resolver problemas que envolvem a correção
X
de erros históricos como a escravidão e a ditadura militar, que marcaram profundamente a construção social e econômica do país. O atual ministro da educação, o colombiano Vélez-Rodriguez, durante uma sabatina, nessa última semana do mês, na câmara dos deputados, demonstrou toda a sua incapacidade de estar à frente de tão importante ministério ao não ser capaz de responder as perguntas sem a ajuda de alguns de seus secretários, sem mencionar o desconhecimento das necessidades educacionais do povo brasileiro, expresso em sua lamentável postura perante os deputados. Vélez compõe um governo cujos integrantes são defensores do movimento “escola sem-partido”. Ironicamente, o ministro contradiz seus pares quando determinou que
ESCOLA SEM PARTIDO
os profissionais da educação filmassem as crianças cantando o hino nacional e obrigando-as a dizer o slogan de campanha eleitoral do atual presidente. Quer atitude mais partidária do que essa? Perseguir os/as professores/as sob o pretexto deles “doutrinarem” as crianças e jovens para fins políticos e partidários é só o que esses delirantes sabem e se propõem a fazer. Só quem não conhece a realidade das escolas públicas brasileiras, adota a retórica de que “professor doutrina”. A maior prova de que essa instrumentalização por parte dos professores não existe é o fato do Bolsonaro ter ganhado a eleição, pois se o país estivesse realmente refém do comunismo e dos esquerdistas ele jamais teria vencido a eleição ou seria um deputa-
do. O projeto “escola sem partido” é tão ideológico que anseia que as crianças e jovens aprendam apenas a visão de mundo conforme o “mercado” prega. Isso é doutrinação ideológica. O que não é doutrinação é mostrar que o nosso país é culturalmente plural, diverso e desigual desvelando uma complexa realidade social e política. Mostrar os dois lados da história é respeitar o direito dos indivíduos a conhecê-la, se conhecer e ter autonomia intelectual para compreender a realidade e tomar posicionamentos que contemplem a justiça social. São esses princípios que regem as diretrizes para a Educação Quilombola. A todas/os desejo saúde e sabedoria para seguirmos na luta por um país mais justo o que inclui uma “prática educativa desocultadora das mentiras dominantes” (Paulo Freire).
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PUBLICAÇÃO POLÍTICO-CULTURAL, GASTRONÔMICA E LITERÁRIA DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS
cultura Política
POR UM ALMANAQUE FRENTE E VERSO Foi muito enriquecedora e gratificante fazer parte desta - quero crer que primeira - experiência do Jornal Frente e Verso. Tive a alegria de ser convidado a colaborar, como colunista, desde a edição de número zero, e frequentei com prazer as páginas de todas elas escrevendo e lendo. Sabendo que esta edição encerra um primeiro ciclo, não me veio à mente outro assunto que não o próprio jornal, as amizades, projetos, inspirações e sentimentos que deram vida ao Frente e Verso.
naro na Argentina. Num jornal local de uma cidade de 30 mil habitantes qualquer do Brasil, seria tema distante do cotidiano da população. Mas não em Búzios, claro. Aquele mês, o jornal acabou se tornando uma “edição especial” sobre a Argentina. E teve grande repercussão na cidade. Expressão da clara influência do povo argentino na conformação de uma Armação dos Búzios diversa e cosmopolita, pero profundamente enraizada, popular e comunitária.
Uma experiência coletiva, comunitária e em rede. Desde o financiamento, arrecadado através de plataforma colaborativa, que permitiu a editoração, diagramação, impressão e distribuição de milhares de exemplares em formato tablóide, num total de 10 edições distribuídas gratuitamente. Coletiva, pois reuniu em torno de si um time diverso de amigos e colaboradores, boa parte figuras representativas da fina flor da malandragem buziana, mas também gente de outras cidades, estados, lugares. Amigas e amigos de longa data, de bar, de fim de semana, a turma da feira, da política, da cultura, do meio ambiente, do sarau na praça, da luta contra o fechamento do curso noturno da escola municipal. Os rios que passaram em nossas vidas, nestes tempos difíceis de 2018/2019, fluíram pelas páginas do Frente e Verso.
Nas minhas colaborações para o Frente e Verso, procurei passear por temas mais fora do cotidiano, mais gerais e universais. Romper com a linguagem emoldurada dos textos profissionais, acadêmicos, com o esquematismo dos textões militantes que escrevemos no calor da hora dos debates públicos. A periodicidade mensal nos permite este distanciamento, uma escrita mais calma, mais arejada. Sinto que aprendi a escrever melhor. Desenvolvi o estilo. Me arrisquei em contos, prosa de ficção, realismo fantástico. E quando chegava às minhas mãos o exemplar do mês, olhava primeiro a minha coluna - quem nunca? - e apreciava a apresentação do texto, a ilustração, tipografia, diagramação. E depois ia direto pras entrevistas, minha seção preferida, sempre com personagens interessantes, que me fizeram descobrir as maiores belezas de Búzios: sua história e sua gente.
Em uma das edições, escrevi sobre a repercussão da vitória de Bolso-
Este ano faço 40. Minha geração cresceu entre o analógico e o digital,
Shopping Aldeia da Praia, Avenida José Bento Ribeiro Dantas, nº 5350, Armação dos Búzios, Rio de Janeiro, Brasil, CEP 28950-000 Fone: (22) 98111-7510
ALEXANDRE SANTINI
Dramaturgo e gestor do Teatro Popular Oscar Niemeyer de Niterói
entre o impresso e a hashtag. Lembro que as revistas em quadrinhos, e outras publicações, lançavam a cada ano seus “Almanaques”: edições maiores, em formato mais caprichado, reunindo o melhor do que havia sido publicado nos números anteriores. Guardo até hoje alguns deles. E acho que se tem uma publicação que merece ser reunida em um almanaque, é o Frente e Verso! Um livrão bonito, trazendo as edições em fac-símile, texto e imagens, com versão digital e impressa, talvez alguns depoimentos, entrevistas e artigos inéditos. Então está lançada aqui a campanha para a edição o “Almanaque Frente e Verso - edição de colecionador”. Estaremos juntos em mais esta empreitada. Até breve. Há braços!
ZANINE
FUNCIONAMENTO: SEGUNDA-FEIRA A SEXTA-FEIRA DE 9H ÀS 18H, SÁBADO, DOMINGO E FERIADO 11H ÀS 19H @nucleodedancaodiliacuiabano
Estrada da Usina (ao lado da Prefeitura), Centro, Armação dos Búzios, Rio de Janeiro, Brasil, CEP 28950-000 - Fone: (22) 2623-6502
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EDIÇÃO 009 – ANO 01 – ABRIL 2019
Cinema e histórias
MANOLO MOLINARI
Historiador Rosarino Buziano
CAETANO E A DESCOBERTA DO RIO Um dia desses, garimpando CDs numa loja qualquer, me deparei com dois discos antigos de Caetano Veloso: Uns e Totalmente demais. Oh surpresa! Justamente “Uns”, lembrei, foi o primeiro show de Caetano a que assisti, no Canecão, lá pelo ano 83. Fazia apenas 5 anos que eu morava no Brasil, só que em meio a esse tempo, tinha mudado para Nova Iorque, e quase fiquei por lá. Caetano, conhecia desde adolescente. Em casa, na Argentina, chegavam todos os tipos de música, algumas brasileiras, Gal, Maria Bethânia, Vinícius & companhia, Elis, Roberto Carlos, Chico. Aliás, do Chico, assisti a um show no teatro, em Rosário, cantando músicas como Apesar de você, Cálice e outras que tinham sido censuradas, no Brasil, pela ditadura, agora comemorada pelo presidente. De Caetano, também tinha London, London, desde o exílio, e quando ouvia ele falando … - Maria Bethânia, please send me a letter, I wish to know things are getting better, better Bethania... ficava todo arrepiado. Hoje, são outras as coisas que me arrepiam. Nunca vou esquecer o quanto gostava de “Ela já não gosta mais de mim”, cantado em dueto por Caetano e Gal.
GRAND CINE BARDOT Quinta-feira 19h30 Sexta-feira 19h e 21h Sábado 19h e 21h Domingo 19h e 21h Segunda-feira 19h e 21h (04/03) Terça-feira 19h e 21h (05/03) 2D: Inteira R$36,00 / Meia: R$ 18,00 3D: Inteira R$ 38,00 / Meia: R$ 19,00
@grancinebardot.buzios
Travessa dos Pescadores, nº 88, Centro, Armação dos Búzios, Rio de Janeiro, Brasil, CEP 28950-000
Naquela época, mal entendia o que as letras diziam, e mesmo assim as ouvia muito, porém o Brasil ainda não significava muito para mim; meus olhos e minha cabeça estavam mais focados na Europa. Minha mãe tinha viajado com a sua irmã mais velha para o Rio de Janeiro, bem no começo dos anos 60, e então soube da existência de Copacabana e da Barra da Tijuca, de que frango era “pollo” e presunto “jamón”. E agora, no 83, eu morava em Búzios e começava a me aproximar do Rio, cidade que desbravava com meus amigos e que todo dia me oferecia algo novo, um bairro, um bar, um teatro, uma rua no centro, um inferninho, uma iguaria, uma viela, uma aventura, uma promessa que sempre cumpria. Lembrei então daquele show de Caetano, a noite chegando, as pessoas tumultuando à porta, a alegria, a ilusão. Comprei, na época, o cassete, que tocava sempre no meu restaurante de fondue. Agora, depois de comprar o CD, voltei a ouvir. Como eram lindas aquelas músicas! Fora “Você é linda”, que tenho em outros discos e sempre toca em algum lugar, as outras músicas tinham caído no meu esquecimento. “A outra banda da terra” é uma delícia, Caetano em seu melhor momento, com sua voz jovem e essa afinação única
acompanhado por uma banda impecável, cheia de sons, atabaques, metais. A lembrança me fez chorar e pensar como parecia fácil a vida e como a felicidade estava na palma da mão. Pois é, era feliz. E sabia. A cidade, no começo, foi Jardim Botânico e Humaitá. Inevitavelmente também, o centro. Também foi Santa Teresa, no apartamento de Tony, sempre lotado de gente, com as noites animadas que começavam no Curvelo e terminavam no bar das Americanas, no Largo das Neves, um pouco andando, outro em bondinho. Depois, continuei a ir mais frequentemente, às vezes dirigindo. Fazia psicanálise, ia ao cinema, a noite era nos baixos, primeiro Leblon, na Pizzaria Guanabara. Alguma vez, ali, sentei numa mesa em que estava Caetano. Depois era no Gávea, com a turma do teatro e meus amigos que estudavam na CAL. Ia muito no Municipal e, na saída, caía sempre no Amarelinho. Conhecia as figuras da noite que me fascinavam. Éramos boêmios. Ou acreditávamos sê-lo. Ficava no Cosme Velho, com o rio Carioca passando por baixo. Muitas vezes ia ler, na paz do Largo do Machado, e fiquei amigo da dona daquele lugar, Majoy. Ela tinha construído todas as fachadas daquelas casas com material de demolição. As pedras que cobriam o “largo” foi Getúlio quem deu. Era uma mulher encantadora e cheia de histórias. Falávamos em francês. Ela se divertia comigo e sustentava que eu era o único argentino que falava bem francês. Tudo isso porque eu lia, na época, “A la recherche du temps perdue” de Proust, e namorava Viviane que era de “la banlieu” de Paris. Quanta beleza junta! Depois, descia a rua das Laranjeiras para beber alguns chopes com a turma e, na volta, chegando em casa, ainda tinha uma saideira no boteco do portuga, com Bitiza ou com Luciana. Outra saída era um filme no Paissandu, que ainda oferecia espaço para fumantes lá nos fundos, atrás de uma vitrine. Ou no Largo do Machado. Então a esticada era no Lamas e voltávamos de fusquinha com bandeira 2. Também me aventurava sozinho no Forró Forrado da rua do Catete onde era apalpado na porta. Depois assisti a vários outros shows de Caetano. Lembro de “Circuladô” (também no Canecão), “Estrangeiro” (acho que no teatro Casa Grande) e do
“Totalmente demais”, show que começou no Copacabana Palace como uma coisa intimista, para pouca gente, só ele com seu violão, e acabou fazendo um sucesso extraordinário, tanto que passou para uma noite no Sambódromo. Eu já estava com ingresso na mão e acabou não acontecendo por causa da morte da mãe Menininha de Gantois. Ele viajou para Bahia para acompanhar as honras. O CD já tinha, assim como tive também a fita cassette, mas essas músicas sim continuei ouvindo e cantando, quase todas decoradas, de preferência “O quereres”, uma poesia hendecassilábica ao desencontro amoroso, cheia de opostos simbólicos: ”Onde queres revólver sou coqueiro, onde queres romântico, burguês, onde queres Leblon sou Pernambuco e onde queres eunuco garanhão...Ah, bruta flor do querer, ah, bruta flor, bruta flor...” Só Caetano mesmo. Morei também no Rio, no começo dos 90, na Gávea, com Ana K. Todos, ou quase todos os fins de semana vinha para Búzios. Achava estranho mas gostava. Estávamos apaixonados e nos divertíamos muito, ficando em casa, falando, dançando, encomendando cervejas no boteco da Marquês de São Vicente. De dia percorria as ruas, muitas vezes sem rumo, entrava nas galerias, ia ladeira acima até uma pracinha se abrir, inventava trilhas que levavam ao desconhecido. Domingos de manhã eram no calçadão, tempo de encontros. Participava das passeatas de apoio a Lula-lá cheio de emoção. Era confiante e esperançoso. Hoje vou pouco, perdi muita intimidade depois de alguns anos fora, mas continuo achando esse mundo muito comovedor. Os últimos tempos têm sido em Ipanema e também na Lapa, que tinha conhecido já nos 80, já sem Madame Satã, porém com outras figuras da família. Lá do Bar da Socorro, que era uma luz na escuridão da Mem de Sá, fugia trocando as pernas, cheio de convite e propostas, no breu da noite. Socorro!! As músicas de Caetano ainda ressoam na minha imaginação ao ritmo dos meus passos e me fazem companhia nas caminhadas. “Falar verdade. Ter vontade, Topar. Gozar a lida. Indefinidamente. Amar”
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PUBLICAÇÃO POLÍTICO-CULTURAL, GASTRONÔMICA E LITERÁRIA DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS
Cultura Canábica
NÃO É DESPEDIDA, APENAS UM ATÉ BREVE Durante o tempo que sonhamos juntos, este sonho forjado na rua numa noite de quinta feira, ao som de um belo rock and roll, escrevemos e conversamos sobre tudo. Colocamos no papel tudo aquilo que a liberdade nos permitia, sem controle, sem lenço e sem documento. Tudo que o papel e a nossa ousadia permitia, fizemos, instigando o leitor a fazer sua própria leitura, alimentando o imaginário coletivo sem as distorções da mídia digital. Assim como a planta, ele aguçou nossa imaginação durante sua estadia, nos levando a uma experiência literária em que a cultura em seus múltiplos aspectos era degustada, saboreada e curtida lentamente para prolongarmos ao máximo o prazer de exprimir nossas experiências com o mundo.
HAMBER CANNABICO CARVALHO Ativista da maconha medicinal
O tempo dura o quanto queremos, pois nada é definitivo, assim como a felicidade, que buscamos todos os dias nos pequenos e grandes gestos. Estamos virando apenas um capítulo em nossa passagem por esta cidade, pois outras sementes irão germinar, a manifestação cultural é múltipla e diversa. Valeu Tiago, Luisa e Sandro, vocês cumpriram a mais sagrada missão da militância, do ativismo e do exercício da cidadania, compartilhar o conhecimento. Do Frente & Verso, restou a poesia. Até breve.
A fragrância e a textura do papel podiam ser sentidas na ponta dos dedos, no farfalhar da mudança de páginas, quando buscávamos atentamente a novidade com que os demais colabores nos presenteavam. Tudo isso, acompanhado de um bom café, ou com aquele cultivado da melhor qualidade.
Praça da Ferradura, Centro Armação dos Búzios Rio de Janeiro, Brasil SÁBADO DE 7H ÀS 15H Hortifrutigranjeiro, alimentação, DJ Léa, artesanato e livros QUINTA-FEIRA DE 19H ÀS 23H Alimentação, DJ Léa, música ao vivo e artesanato
@feiraperiurbanadebuzios
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EDIÇÃO 009 – ANO 01 – ABRIL 2019
EU FINANCIO O
PARTICIPE DO FINANCIAMENTO COLETIVO Este espaço é dedicado as pessoas que mensalmente contribuem para que o Frente e Verso possa ser publicado e distribuído gratuitamente. www.catarse.me/frenteeverso
Memória Buziana
Aline Codeço Mesquita Aline Maria Artênius Daniel Bruno Viana Carla Rimes Clarice Cruz Terra Cris Anila Paramita Elisabeth Brousse Fabio Ferreira Fernando Máximo Gessiane Nazario Glamour Zero Gustavo Guterman Hélio Coelho Filho Júnia Prosdocimi Leandro Silva de Araújo Luisa Barbosa
Guanabara
BENTO RIBEIRO DANTAS
Escritor
POLÍTICA Política, a arte e ciência de bem governar, de cuidar dos negócios públicos, de governar os estados. É a habilidade no trato das relações humanas. A finalidade da política é o bem comum. Antigos decretos e leis, em seus solenes e protocolares intróitos, incluíam como objetivo, além do progresso, a felicidade da nação. A Política, seria, portanto, a mais nobre das atividades dos homens. Estas definições, consagradas há séculos, certamente, hoje não encontram eco no sentimento reinante em nossa cidade, estado e país. A profissão vem sofrendo usos ambíguos, ao ponto dos termos; política, político, e fazer política, em nosso momento histórico, chegam a ser considerados pejorativos. Tendo em vista o grande número de políticos processados e presos no país, e especialmente no Estado do Rio, a opinião pública sobre os políticos é ainda muito pior. Fazer política é muito mais do que a técnica e astúcia de ganhar eleições. Uma vez ganha a eleição vêm as consequências. Como exercer o cargo? Se não for para o bem comum e felicidade da nação, estado ou município, é desonestidade, é estelionato. Dos candidatos a exercer a política como arte, ciência e, principalmente ofício, se exige que sejam minimamente preparados para os cargos que almejam assumir, além da honestidade de propósitos que se pede a todos. Preparação para política não é igual a erudição. Mas é imprescindível que o candidato a um cargo eletivo conheça bem o seu
Luisa Regina Pessôa Manuel Molinari Maria Cristina Pimentel Marlene Gouveia Martha Pessôa Pap Antonio Pedro Campolina Marques Roselay Barbosa do Amaral Sheila Saidon Tchum Tiago Alves Ferreira Valéria Cardoso Magalhães Vinícius Costa
LEANDRO ARAÚJO
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O PAPEL DO JORNAL
ofício e ou tenha escolaridade suficiente. Os futuros políticos serão exigidos a avaliar onde se encontra o bem comum, entre as inúmeras e sérias escolhas que sua futura função será chamada a decidir.
O premiado jornalista Caco Barcellos, convidado da Flip 2016, comentou a respeito da importância do jornal: “É preciso muito cuidado com a informação. A imprecisão de hoje gera erros históricos no futuro”.
Nossa cidade tem apenas 12 autoridades, os 9 vereadores, o prefeito e os dois juízes. Por 10 somos os responsáveis. Votar é um ato político. Votar é fazer política. A eficiente e honesta administração da cidade depende de nossos critérios. Cada um é responsável por seu voto. A nossa escolha afeta, além da nossa vida e da nossa família, a vida de muitos.
Olhar para o passado de Búzios por meio de seus jornais é um desafio. Primeiro: os acervos estão espalhados, quando não perdidos. Segundo: a precisão da informação nunca foi primordial nos periódicos daqui. O mais longevo jornal da cidade, O Perú Molhado, tinha como linha editorial a esculhambação completa. E mesmo com toda a galhofa, o pasquim ainda gozava de mais credibilidade que muito jornal noticioso, principalmente aqueles clássicos jornais-santinho, os que só circulam no período pré-eleitoral.
Que os eleitos sejam sempre os mais preparados.
FIM
Até hoje conta-se por aí histórias fabulosas que foram publicadas no Perú e ajudaram a criar esse clima tão característico de Búzios. A maioria dessas anedotas são caô do Marcelo ou Aníbal. Muita gente sabe disso e absolutamente ninguém liga. Ninguém vive só de fatos; Búzios só com fatos seria um porre. Viva o Frente & Verso, que em seu curto período de existência publicou aquilo que mais importa: as ideias, os causos, as miudezas do cotidiano. Frente & Verso não foi discurso, foi conversa vadia varando noite adentro. Búzios é assim, vive de ondas. Quem “desfez as malas” na cidade já viu muita gente e muita coisa ir e vir. O jornalzinho vai, mas deixa pra gente uma fotografia afetiva de um tempo e um lugar.