Edição 18 Vírus Planetário Completa

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“Somos todos Guarani-Kaiowá”

Violação dos direitos indígenas em pauta

Vírus Porque neutro nem sabonete, nem a Suíça

R$2 edição nº 18 dezembro 2012

Planetário

maracanã à venda Projeto de concessão do Maracanã prevê demolição de centros esportivos, escola municipal e antigo Museu do Índio

EXCLUSIV O!!

UM PERFIL DE REGINA DU ARTE E CIBELE BA GINSKI JOVEM DE

(A ESTÁ REF UNDA

23 ANOS QU E NDO O PA R TIDO DA DITA DURA MILITA R)

Com conteúdo do

FAZENDO

nº18

MEDIA

EDIÇÃO DIGITAL


Em defesa do projeto dos movimentos sociais para o petróleo, com monopólio estatal, Petrobrás 100% pública e investimento em energias limpas. Notícias da campanha: www.apn.org.br www.tvpetroleira.tv organização: Participe do abaixo-assinado: www.sindipetro.org.br

traço livre

Por Adriano Kitani | Veja mais em: pirikart.tumblr.com/



o i e r l r a o C Vir >Envie colaborações (textos, desenhos, fotos), críticas, dúvidas, sugestões, opiniões gerais e sobre nossas reportagens para contato@virusplanetario.net

Queremos sua participação!

Tiago Simões: Quero vocês na minha Bahia de todos os santos, conheci a revista 2 meses atrás, e curto muito o trabalho de vocês, tá ótimo, notícia de verdade, aquilo que realmente deve se lido!

Afinal, o que é a Vírus Planetário? Muitos não entendem o que é a Vírus Planetário, principalmente o nome. Então, fazemos essa explicação maçante, mas necessária para os virgens de Vírus Planetário: Jornalismo pela diferença, não pela desigualdade. Esse é nosso lema. Em nosso primeiro editorial, anunciamos nosso estilo; usar primeira pessoa do singular, assumir nossa parcialidade, afinal “Neutro nem sabonete, nem a Suíça.” Somos, sim, parciais, com orgulho de darmos visibilidade a pessoas excluídas, de batalharmos contra as mais diversas formas de opressão. Rimos de nossa própria desgraça e sempre que possível gozamos com a cara de alguns algozes do povo. O bom humor é necessário para enfrentarmos com alegria as mais árduas batalhas do cotidiano.

O homem é o vírus do homem e do planeta. Daí, vem o nome da revista, que faz a provocação de que mesmo a humanidade destruindo a Terra e sua própria espécie, acreditamos que com mobilização social, uma sociedade em que haja felicidade para todos e todas é possível.

Recentemente, unificamos os esforços com o jornal alternativo Fazendo Media (www.fazendomedia.com) e nos tornamos um único coletivo e uma única publicação impressa. Seguimos, assim, mais fortes na luta pela democratização da comunicação para a construção de um jornalismo pela diferença, contra a desigualdade.

Expediente: Rio de Janeiro: Aline Rochedo, Ana Chagas, Artur Romeu, Beatriz Noronha, Caio Amorim, Chico Motta, Eduardo Sá, Gabriel

Bernardo, Ingrid Simpson, José Roberto Medeiros, Julia Maria Ferreira, Maria Luiza Baldez, Mariana Gomes, Miguel Tiriba, Noelia Pereira, Raquel Junia, Seiji Nomura e William Alexandre | Campo Grande (MS): Marina Duarte, Tainá Jara, Jones Mário, Fernanda Palheta e Rafael de Abreu | Brasília: Alina Freitas, Ana Ribeiro Malaco, Mariane Sanches, Luana Luizy e Thiago Vilela Diagramação e projeto gráfico: Caio Amorim Ilustrações: Vila Velha (ES): Laíssa Gamaro (CAPA), Santo André (SP): Adriano Kitani, Belo Horizonte (MG): Paulo Marcelo Oz, Maceió (AL): Pedro Lucena, Rio de Janeiro: Carlos Latuff e Carlos D Medeiros Revisão: Bruna Barlach Colaborações: João Roberto Pinto e Maíra Fainguelernt

Conselho Editorial: Adriana Facina, Amanda Gurgel, Ana Enne, André Guimarães, Carlos Latuff, Claudia Santiago, Dênis de Moraes, Eduardo Sá, Gizele Martins, Gustavo Barreto, Henrique Carneiro, João Roberto Pinto, João Tancredo, Larissa Dahmer, Leon Diniz, MC Leonardo, Marcelo Yuka, Marcos Alvito, Mauro Iasi, Michael Löwy, Miguel Baldez, Orlando Zaccone, Oswaldo Munteal, Paulo Passarinho, Repper Fiell, Sandra Quintela, Tarcisio Carvalho, Virginia Fontes, Vito Gianotti e Diretoria de Imprensa do Sindicato Estadual dos Profissionais de Edução do Rio de Janeiro (SEPE-RJ) Siga-nos: twitter.com/virusplanetario Curta nossa página! facebook.com/virusplanetario

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Anuncie na Vírus: contato@virusplanetario.net #Impressão: #Tiragem: 2.500 exemplares

Comunicação e Editora A Revista Vírus Planetário - ISSN 2236-7969 é uma publicação da Malungo Comunicação e Editora com sede no Rio de Janeiro. Telefone: 3164-3716


Editorial O Maracanã da discórdia Em vésperas de Olimpíadas, o governo do estado do Rio de Janeiro prevê a demolição de dois dos melhores centros esportivos do país. Então porque não aproveitar e demolir logo uma escola modelo do município? Mas não se preocupem minha gente, é por um bom motivo. Tudo vai virar um grande estacionamento. Afinal, como seria possível conceder o Maracanã, templo do esporte brasileiro, à iniciativa privada sem que houvessem vagas para estacionar o carro? Não bastava ter investido mais de um bilhão de reais com dinheiro público em reformas no estádio nos últimos 15 anos. Na verdade, a concessionária responsável pela gestão do Complexo do Maracanã estará fazendo um favor a todos nós, já que administrar um espaço como aquele é muito caro. Por isso, nada faz mais sentido do que garantir aos investidores que a empreitada, arriscada, seja de fato rentável. Quando a cidade passa a ser gerenciada como uma empresa, quem melhor do que os empresários para definir o que é melhor para a cidade? Ironias à parte, é disso que se trata. A situação do Complexo do Maracanã não é um caso isolado, mas se torna emblemática do seqüestro da política por interesses econômicos na cidade do Rio de Janeiro. Nunca se fez tanto dinheiro aqui e a previsão é que os investimentos continuem vindo de todas as partes, alimentando o discurso do progresso. Um discurso que nos torna reféns do nosso próprio governo, porque ao tentar nos convencer que sabe o que é melhor para nós, limita nossa participação nas decisões sobre os rumos que queremos seguir enquanto sociedade. Os canais para a democracia ficam mais estreitos a cada vez que nos deixamos convencer de que o Rio está melhor porque o Rio está mais limpo. Procure não ser o protagonista do seu próprio Show de Truman. A nova moda jovem conservadora Com estatuto do partido já publicado no Diário Oficial da União, a ARENA (partido da ditadura militar) está prestes a ser refundada. E a líder é Cibele Baginski, jovem de 23 anos, estudante de direito da Universidade Caxias do Sul. Gótica, neo-pagã (wicca), jogadora de RPG, roqueira, com piercing no lábio e cabelos vermelhos, a gaúcha diz não estar brincando e agora segue com mais 150 pessoas por todo o Brasil para recolher as 491 mil assinaturas necessárias, Cibele diz já ter mais de 40 mil, para fundar o partido. Dedicamos nossas páginas de humor (p. 36 a p.39) a essa fofurinha de pessoa. Novidades editoriais Temos o prazer de anunciar que a partir desta edição a Vírus Planetário e o Fazendo Media (www.fazendomedia.com) vão seguir juntos no fortalecimento da comunicação alternativa e independente com uma publicação impressa unificada. Pela primeira vez desde 2008, quando começamos nossa caminhada, conseguimos publicar seis edições no mesmo ano. Por isso, gostaríamos de agradecer a você, nosso leitor, e aos nossos parceiros – o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPE/RJ), do Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro/ RJ), a Associação dos Docentes da UFF (ADUFF/SSind) e a Associação dos Docentes da UFRJ (ADUFRJ/SSind) – pelo apoio. Para 2013 estamos com projetos ambiciosos. Vamos nos tornar uma publicação mensal e você vai poder receber a Vírus na porta de casa. É só você correr para o nosso site e fechar com a gente durante os próximos quatro meses. Informe-se e mobilize-se!

Sumário 6

Ana Enne_Uma Consciência Negra

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Mato Grosso do Sul_Somos todos Guarani-Kaiowá

10 Bula Cultural_Zona Oeste 14 Bula Cultural 15 São Paulo_Uma visão aérea dos incêndios nas favelas

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Quem são os proprietários do Brasil?

18 Fazendo Media 22 CAPA_Rio de Janeiro_ Cartão Vermelho

26 Entrevista Inclusiva_Dominic Barter

30

Brasil_Mais de 20 milhões de escravos

34 Traço Livre 36

O sensacional repórter sensacionalista

38 Passatempos Virais


Ana Enne Ana Enne é professora do departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF), jornalista formada pela PUC-Rio e doutora em Antropologia pelo Museu Nacional (UFRJ).

Por que precisamos falar muito sobre , cotas e outros pontos polêmicos?

consciência negra

Em novembro de 2012, marcos importantes acerca da luta contra o racismo no Brasil foram assinalados: “Dia da Consciëncia Negra”, com a realização de diversos eventos; posse do primeiro negro como presidente do Supremo Tribunal Federal; visita da filha de Martin Luther King à Faculdade Zumbi dos Palmares em São Paulo; os 102 anos da Revolta da Chibata. A partir dessa listagem, cabe uma pergunta incômoda: o quanto você ouviu falar desses marcos, o que leu ou discutiu a respeito, que consciência formou acerca desse quadro, a não ser a referência mais do que badalada de que dia 20 de novembro seria feriado? Uma rápida consulta ao Google acerca da temática “Dia da Consciência Negra 2012” já evidencia o quanto esta questão é problemática. As primeiras referências são todas relativas ao feriado. No meio da primeira página, há um link para o portal Brasil, do governo federal. Em termos noticiosos, encontramos entre as primeiras referências somente duas entradas para o G1, sendo uma das duas voltada para noticiar que “concurso de beleza marca o Dia da Consciência Negra em Montes Claros”. Convenhamos: constrangedor e revelador! É muito pouco. O silenciar acerca da temática do racismo no Brasil, em especial em torno de marcos comemorativos, é ensurdecedor. Claro que encontramos referências em mídias especializadas e alterna6

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tivas; da mesma forma, as temáticas circularam nas redes sociais. Mas em volume e repercussão, em comparação com outras datas e temas, de forma tímida e quase marginal. A luta, portanto, é claramente também discursiva e em torno da representação. A questão do racismo e da condição dos negros no Brasil é de uma relevância indiscutível. Por isso a importância da afirmação de cotas, como política de representação agressiva e imediata. Hoje, dados recentes mostram que os negros são expressivos, talvez maioria, na classe média brasileira. E, ao mesmo tempo, são maioria entre a população carcerária no Brasil, formam o maior contingente populacional das favelas e são continuamente vítima de situações de violência e constrangimento por questões raciais. Ou seja, são maioria em muitas coisas, algumas boas, outras evidências contundentes da manutenção da desigualdade e da injustiça social. Mas não se encontram representados nos espaços hegemonicamente ocupados por essa classe média, nem de forma positiva nem de forma crítica. As universidades são um desses lugares. A mídia e as redes sociais outros. A luta política, portanto, passa também pela disputa por visibilidade e representação, e é sempre urgente e justificada.

O silenciar acerca da temática do racismo no Brasil, em especial em torno de marcos comemorativos, é ensurdecedor”


mato grosso do sul

Somos tod@s

Guarani-Kaiowá Por Fernanda Palheta, Jones Mário e Marina Duarte “Queremos / Encher a terra de vida Nós os poucos que sobramos / Nossos netos todos / Os abandonados todos Queremos que todos vejam / Como a terra se abre como flor” Diegues, Douglas (Org.). Kosmofonia Mbya-Guarani. São Paulo, Mendonça & Provazi editores, 2006.

Em outubro deste ano você deve ter percebido uma movimentação diferente nas ruas e nas redes sociais. Houve uma explosão no país de protestos exigindo o fim do massacre contra os Guarani-Kaiowá. O estopim veio com a decisão da

Justiça Federal de Naviraí, no Mato Grosso do Sul, de expulsar definitivamente a comunidade Pyelito Kue/Mbrakay, com cerca de 170 indígenas, do território que ocupava no perímetro da Fazenda Cambará, no município de Iguatemi (MS).

Foto: Carol Caco

Denúncias e solidariedade nas redes sociais escancaram um conflito histórico Diante da notícia, os indígenas da comunidade escrevem uma carta afirmando a intenção de morrer juntos, lutando pelas terras, e fazem o pedido para que todos sejam enterrados no território pleiteado. Num primeiro momento, a carta

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Ato nacional em solidariedade aos guaranikaiowá em Campo Grande (MS). O sentimento de solidariedade pelo povo Guarani-Kaiowá uniu todos depois da divulgação da carta do Aty Guasu denunciando o caso da comunidade Pyelito Kue. Foto: Carol Caco

São 44 mil índios Guarani-Kaiowá espalhados pelo sul de Mato Grosso do Sul, que ocupam 0,1% do território sulmato-grossense.”

mento, não só mais uma vertente produtiva.

enviada através do Conselho Aty Guasu (Assembleia Guarani e Kaiowá) foi interpretada como um anúncio de suicídio coletivo. O debate trouxe à tona uma luta histórica, que nos leva há três décadas, quando Marçal de Souza (liderança guarani assassinada em 1983, condecorado Herói Nacional em 2010 pelo Governo Federal) já denunciava a invasão e a tomada das terras de seu povo. Segundo dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a cada seis dias um jovem guarani-kaiowá se suicida. Ainda de acordo com o Conselho, entre 2003 e 2011, foram assassinados 503 índios no país – 279 pertencem à etnia Guarani-Kaiowá. Essas informações são reforçadas pelo Mapa da Violência do Brasil, publicado em 2011 pelo IBGE. Segundo o documento, acontecem 34 vezes mais suicídios indígenas em Mato Grosso do Sul do que a média nacional. Desde 2000 foram 555 suicídios, 98% deles por enforcamento, 70% cometidos por homens, a maioria deles na faixa dos 15 aos 29 anos. A taxa de assassinatos é de cem por cem mil habitantes – quatro vezes maior que a média nacional. A média mundial é de 8,8. São várias as formas de violência que estariam por trás desse massacre: racismo, atropelamento, homicídios, desnutrição, preconceito e, principalmente, falta de terra. Os Tekohás que eles reivindicam nada mais são do que espaços onde seus antepassados já viveram. Não é, para eles, uma questão de posse de território no sentido econômico da palavra, e sim espiritual e histórico, até porque o indígena não reivindica terras para acumular riquezas ou virar um grande produtor rural. A terra para eles é tudo: moradia, território sagrado, garantia de ali8

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De acordo com números levantados pelo Ministério Público Federal em Dourados, que entrou com pedido de recurso da decisão emitida pela Justiça Federal de Naviraí, os Guarani-Kaiowá representam a segunda maior etnia indígena do Brasil. São 44 mil índios espalhados pelo sul de Mato Grosso do Sul, que ocupam terras numa área equivalente a 0,1% do território do Estado – 40 mil hectares. A situação de confinamento impossibilita aos índios a reprodução da vida social, econômica e cultural. E tal condição é agravada pela precariedade das áreas ocupadas. As comunidades vivem em pequenos espaços localizados em fazendas ou na beira de estradas – locais que não comportam a efetivação adequada da cultura de subsistência. Ainda de acordo com o MPF, os indígenas da comunidade Pyelito Kue/Mbrakay ocupam 2 hectares da Fazenda Cambará, que possui 762 hectares. A área ocupada faz parte da reserva de mata nativa, que não pode ser explorada economicamente. Eles foram para esta área depois de um ataque ocorrido em 23 de agosto de 2011, quando pistoleiros armados investiram contra o grupo, ferindo crianças e idosos e destruindo o acampamento.


Em texto intitulado “A morte anunciada dos Guarani-Kaiowá”, Frei Betto critica o argumento muitas vezes utilizado de que as terras indígenas deveriam ser economicamente produtivas. “Atrás desse argumento perdura a ideia de que índios são pessoas inúteis, descartáveis, e que o interesse do lucro do agronegócio deve estar acima da sobrevivência e da cultura desses nossos ancestrais”, afirma o frei. “Os índios não são estrangeiros nas terras do Brasil. Ao chegarem aqui os colonizadores portugueses – equivocamente qualificados nos livros de história de “descobridores”– se depararam com mais de 5 milhões de indígenas, que dominavam centenas de idiomas distintos. A maioria foi vítima de um genocídio implacável, restando hoje, apenas, 817 mil indígenas, dos quais 480 mil aldeados, divididos entre 227 povos que dominam 180 idiomas diferentes e ocupam 13% do território brasileiro”.

No dia 30 de outubro a Advocacia-Geral da União (AGU) assegurou, no Tribunal Regional Federal da 3ª Região, a permanência da Comunidade Indígena Pyelito Kue, na Fazenda Cambará. A Justiça determinou que eles continuarão no local, aguardando a conclusão dos processos de demarcação das terras indígenas iniciados pela Funai. No dia 9 de novembro foi organizado um grande ato de apoio aos Guarani-Kaiowá em mais de 50 cidades do Brasil e do mundo. A denúncia sobre a situação de injustiça que se concretizava no interior do Mato Grosso do Sul ecoou e deu visibilidade ao tema de forma mais ampla, não apenas para o caso específico da Comunidade Pyelito Kue/Mbrakay..

PEC 215 Um exemplo é a PEC 215, chamada pelos indígenas de “PESTE” 215 por ser um atentado aos direitos históricos fundamentais adquiridos pelos indígenas no Brasil depois de muita luta. O projeto já foi aprovado

em março pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) da Câmara Federal. A proposta é que na mudança da Constituição se tire a competência do Executivo de homologação e demarcação das terras indígenas, e também de ratificar as terras já homologadas para as mãos do Legislativo, ou seja, na casa da bancada ruralista. Deixa de ser um ato administrativo para ser um ato político. Os direitos previstos no artigo 231 da Constituição Federal de 1988 e ADCT não são negociáveis, são cláusulas pétreas conquistadas depois de intensas mobilizações. Essa medida só vai gerar mais conflito e mais instabilidade entre os povos indígenas. Nessa mesma época a presidenta Dilma Rousseff e o governador do estado de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, fizeram um acordo de flexibilização de terras para estrangeiros investirem em celulose e etanol. Não se demarca terra, não se julga os assassinatos dos indígenas, não se garante direito mínimo, mas se vende a terra para estrangeiros.

Colaboraram: Artur Romeu e Rafael de Abreu

Ilustração: Carlos Latuff Vírus Planetário - DEZEMBro 2012

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Bula cultural

algumas recomendações médico-artísticas

O Chorinho no final do Píer na Pedra de Guaratiba é ponto de encontro dos artistas e moradores locais nos domingos de sol. Fotos: Julia Maria

Zona Oeste, Por Aline Rochedo e Julia Maria “Do Leme ao Pontal não há nada igual”. Quando Tim Maia compôs uma de suas canções mais famosas, ele simplesmente esqueceu a maior região do Rio de Janeiro. A imagem do cartão postal continua emoldurando apenas as praias da Zona Sul, o Corcovado e o Pão de Açúcar. Muitas vezes a Zona Oeste é considerada uma grande periferia, sinônimo de milícias e trânsitos quilométricos. Queremos apresentar a você a beleza geográfica dessa região, a importância de seus artistas, as memórias das pessoas que lá residem, suas histórias e mistérios. Afinal, a melhor forma de valorizar um lugar é o conhecendo para en10

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o Rio para além dos braços do Redentor

tão admirá-lo. Ninguém pode amar o que não conhece e isso é fato. Ainda hoje, que disponibilizamos de meios de transportes mais ágeis e modernos, a viagem é um tanto cansativa. Seguindo pela Avenida Brasil, nosso deslocamento do centro da cidade do Rio de Janeiro à Sepetiba leva cerca de 2 horas e meia, isso contando com um tráfego livre. Na viagem, a transição de uma paisagem totalmente urbana para um cenário verde, ao longo do trajeto, nos dá a impressão de estarmos adentrando outra cidade. Da janela da condução, uma transi-

ção entre um tempo e outro, entre a agitação do centro urbano para a bonança das montanhas: o maciço da Pedra Branca e a Serra do Mendanha. E se você faz este percurso por ser morador na zona oeste vai agora recordar que quando as montanhas começam a surgir é sinal de que estamos chegando em casa

O Sertão Carioca e um pouco de sua História Intitulada anteriormente como “sertão carioca”, a zona oeste do Rio de Janeiro, que abrange desde o Campo dos Afonsos (Deodoro) até


Sepetiba, era ligada pela estrada Real, a grande via econômica e de translado para demais regiões no Brasil dos séculos XVII e XVIII. Ainda há moradores, especialmente dos bairros de Campo Grande e Santa Cruz, que ao se dirigirem ao centro da cidade dizem que irão à “corte”, uma expressão utilizada pelos primeiros habitantes da região.

A versão é de que a primeira bola de futebol chegou ao Brasil escondida na maquinaria da Fábrica Bangu.”

A história da zona oeste tem início em Guaratiba, em 1567, dois anos após a fundação da cidade do Rio de Janeiro, quando o capitão-mor Cristóvão Monteiro recebe estas terras como sesmarias pelo pagamento aos serviços que prestou à Coroa. Conversamos com o escritor e morador da zona oeste André Luiz Mansur, autor do Livro “Velho Oeste Carioca”, no qual registra parte da história da região. Segundo o autor, durante muito tempo, a ausência de uma atividade mais intensa e movimento de pessoas na região a isolou um pouco do restante da cidade. Somente com a inauguração dos bondes entre Campo Grande e Guaratiba, em 1894 que começou a ter despontamento e visibilidade. Foi neste mesmo período que em Bangu foi construído a fábrica inglesa que mudaria toda a história do bairro.

Nosso diário e viagem Nossa primeira parada foi em Bangu. Conhecido como um dos bairros mais quentes da cidade, devido a sua localização entre a Serra do Mendanha e o Maciço da Pedra Branca, também é um dos mais antigos. Tratava-se de uma sesmaria, no qual se localizava o Engenho da Serra, que produzia açúcar, álcool, cachaça e rapadura e que deu origem a outros bairros, como Campo Grande. André Mansur ressalta que a Fábrica de Tecidos inaugurada oficialmente em 1893 foi responsável por grande parte da urbanização da região, que até aquele período

Uma das ruas da Pedra de Guaratiba é destinada à arte do grafite. Todas as fachadas são decoradas por grafiteiros.

era de atividade agrícola predominante: “grande parte do material utilizado para a construção tanto da Fábrica como da igreja Matriz de São Sebastião e Santa Cecília foram trazido da Inglaterra, ou seja, a arquitetura britânica ao pé da Serra”. Além disso, a história do futebol está estreitamente relacionada à fábrica. Na memória dos moradores mais antigos a versão é que a primeira bola de futebol chegou ao Brasil escondida em meio à maquinaria pelo técnico britânico Thomas Donohoe. O Sr.João Fernandes, de 82 anos, que trabalhou na Fábrica no período de maior atividade, rememora: “nós saíamos do trabalho e íamos jogar futebol, tudo no mesmo espaço! Quando a bola caía na piscina de tinta para tingir os tecidos que havia no pátio, quem a buscava a sempre voltava com a roupa e o corpo coloridos. Era muito divertido!”, conclui saudosamente. Em Campo Grande, as esculturas espalhadas pelo calçadão e pelo centro do bairro são referência à laranja, produto que se tornou a base econômica da região durante as décadas de 1930-1940. Pessoas que viveram este período relembram com saudade o prestígio do bairro nesta época. Hoje, apesar da agitação visível no calçadão e nas ruas próximas a ele, podemos ainda encontrar lugares como o Rio da Prata no qual você pode relaxar tomando um banho de cachoeira e fazer um piquenique com a família. Chegando a Santa Cruz, adentramos um bairro repleto de curiosidades e contos. A história do bairro está estreitamente ligada aos Jesuítas que receberam as terras da Marquesa Ferreira no ano de 1589. Nele há um núcleo de pesquisa histórica que cuida da preservação da memória do bairro há mais de trinta anos. A imaginação das crianças e dos adultos é estimulada com histórias sobre as tribos indígenas

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Bula cultural

algumas recomendações médico-artísticas

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1. É da Pedra da Tartaruga que podemos ter uma visão completa do litoral selvagem.

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2. Ateliê artístico no sítio Burle Marx. No final de sua vida, o paisagista fez construir, num nível do terreno mais alto que o de sua casa, um ateliê que pretendia usar para seus trabalhos de pintura, desenho, serigrafia, gravura e escultura e também como um espaço para aulas etc. Atualmente funciona como espaço de exposição. 3. Próximo à colônia dos pescadores, a paisagem nos dá a impressão de que ali o tempo parou

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4. O movimento de pessoas no mercado dos peixes é um convite a conhecê-lo e se integrar na dinâmica de uma cidade praiana

Fotos: Julia Maria

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>> A Fábrica propiciou uma

intensa atividade cultural e social na região além de promover vários concursos que animavam as moças da época como “Miss Bangu”. A estrutura arquitetônica da Fábrica ainda é preservada e atualmente funciona como Shopping Center.

que existiam ali, a passagem de D.Pedro I pelo local às vésperas de proclamar a independência do país, a Ponte dos Jesuítas, o Hangar do Zeppelin, dentre outras.

A Pedra de Guaratiba é um encantamento sem igual. O bairro, que é um dos mais antigos, guarda em suas ruas estreitas e aconchegantes edifícios do século XVII, como algumas residências e a Igreja de Nossa Senhora do Desterro. O bairro é charmoso e difere dos demais com seu magnífico píer, a colônia dos pescadores, o chorinho na praça que acontece nos domingos de sol. Lá conversamos com o mestre Saul que nos contou sua história e nos apresentou sua arte.

Vivendo nos Horizontes Aqui, entre nossas montanhas, temos duas das mais belas vistas da cidade: a contemplação do litoral selvagem da Pedra da Tartaruga e da restinga da Marambaia, vista da praia de Barra de Guaratiba. A Pedra da Tartaruga ganhou esse nome porque a sua formação rochosa lembra o animal. Conhecer o local é uma experiência incrível: nos 3km de trilha até a Cabeça da Tartaruga a vista é quase inacreditável. É possível ver as últimas praias intactas da cidade - Meio, Perigoso, Funda, Inferno e Búzios – um paraíso para os surfistas cariocas. A trilha é bem leve, 40 minutos de caminhada, ainda encontramos fontes e mirantes naturais no meio no caminho. No verão, uma boa pedida é 12

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acampar na área e se aventurar pelas belezas das praias virgens do Rio. Sempre é bom lembrar que a preservação é fundamental para que tais lugares mantenham-se protegidos. Na restinga da Marambaia você encontra mais de quarenta quilômetros de extensão numa linha perfeita de areia, onde residem diversificadas espécies do bioma de restinga protegidas e cuidadas pela própria geografia. A Marambaia atinge os municípios do Rio de Janeiro, Itaguaí e Mangaratiba e se separa do continente em Barra de Guaratiba pelo canal do Bacalhau. A área é protegida pelas Forças Armadas. A visitação do local somente poderá ser realizada com autorização disponibilizada pelo órgão responsável.

O sítio Burle Marx em Barra de Guaratiba Existe um grande número de monumentos e lugares que são verdadeiros tesouros. Quem pas-


“Nós expomos nossa arte nos bares, nas casas de amigos e em algumas faculdades. Seria muito importante que existisse um centro cultural na região.” Mestre Saul, artista plástico.

sa distraído pela Estrada Roberto Burle Marx, nem imagina que nela está localizado um dos jardins paisagísticos mais conhecidos do mundo: O sítio Burle Max. O sítio é um dos lugares mais visitados da zona oeste, principalmente por turistas estrangeiros, e leva o nome do seu idealizador, arquiteto-paisagista e artista plástico. Mas você não imagina como é emocionante conhecer um jardim que foi projetado apenas com plantas nativas. É lindo e extremamente curioso estar contemplando cerca de três mil e quinhentas espécies cultivadas, com ênfase em plantas tropicais autóctones do Brasil. Segundo Igor Azevedo, do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que nos acompanhou na visita, diversos especialistas do país e do exterior elegeram o local como uma das mais importantes coleções de plantas vivas existentes em todo o mundo.

>>

A imaginação das crianças e dos adultos é estimulada com histórias que só a zona oeste tem”

Tivemos ainda o privilégio de conhecer as coleções particulares de Burle Marx, obras do próprio artista como: pinturas, desenhos, tapeçarias, vitrais, painéis de azulejos, tecidos pintados; bem como um acervo significativo de vidros decorativos, imagens barrocas em madeira, cerâmica pré-colombiana dentre outros. Igor Azevedo nos relatou que a maior parte das visitas é de estudantes estrangeiros: “as pessoas que moram aqui não conhecem o sítio. Grande parte dos visitantes são estudantes europeus de paisagismo.” A falta de divulgação prejudica a visitação dos moradores locais.

Chegando a hora de voltar... Sentimos que há um longo trabalho a ser desenvolvido no sentido de fazer conhecer a região. Conversamos com vários moradores sobre os locais que visitamos e poucos os conheciam. Margarete Dantas Alves, moradora de Bangu, que nasceu e cresceu na região, desabafa: “sou da zona oeste com muito orgulho, mas apesar disso, conheço pouco da minha região. Nunca fui à Pedra de Guaratiba, por exemplo”.

Infelizmente, nossa trajetória esbarrou com uma série de problemas: a falta de sinalização no trajeto; a ausência de informações sobre a história da região e dos bairros disponível aos visitantes; a falta de preservação dos monumentos históricos. Questões que são uma problemática em nossa cidade num todo.

Divulgando as belezas naturais, a memória e a história, estaremos incentivando a luta por melhorias na região. As pessoas certamente não a conhecem, pois se fosse o caso, estariam tão apaixonadas quanto nós e se empenhariam em protegê-la, preservá-la e fazê-la conhecida. Para outras informações, as peculiaridades da nossa viagem e para que você também registre sua opinião sobre o assunto, acesse nosso site: www.virusplanetario.com.br.

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Bula cultural

algumas recomendações médico-artísticas

Indicações Livros - Velho oeste carioca I e II Os dois livros do jornalista André Luis Mansur, publicados pela editora Ibis Libris, contam um pouco da história da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Mansur enumera fatos pouco conhecidos dos cariocas, como a invasão de corsários franceses em Guaratiba, a história da Fazenda de Santa Cruz e a Fábrica Bangu. Junto com a pesquisa documental, o autor conversou com moradores antigos sobre as lembranças da tranquilidade da vida rural. Um deles, cujo avô era condutor de charretes, entregou a Mansur um documento com as normas de trânsito de então: “tratar com polidez os passageiros”; “não fazer correrias na via pública, para angariar passageiros” e “não promover ajuntamento nem fazer assuada e vozeria nas ruas e praças”. Mais atual, impossível.

La Educación Prohibida O documentário “Educação Proibida” questiona o atual modelo educacional e apresenta dezenas de experiências pedagógicas alternativas na América Latina. Os mais de 90 entrevistados se revezam para criticar a rigidez e a defasagem da estrutura escolar. Mas as críticas são constantemente acompanhadas de experiências e pesquisas inovadoras que estão sendo realizadas em diversas instituições. O documentário, dirigido pelo argentino Germán Doin Campos foi produzido graças ao apoio de colaboradores por meio de plataformas de financiamento colaborativo na internet. Lançado no dia 12 de agosto desse ano em Buenos Aires, o filme está disponível gratuitamente no site do projeto, com legenda em português – www.educacionprohibida. com

Contraindicações Filme “Até que a sorte nos separe” Globo Filmes? Sim! Os mesmos produtos, os mesmos patrocinadores, a mesma linguagem. Humor? Ahhh, humor passou longe! Algumas produções cinematográficas são como tipos de refrigerante em lata: fazem mal, não matam a sede e o que sobra é propaganda que os sustenta. “Até que a sorte nos separe” é mais um filme, ops, um produto nas matrizes de ilustrar o modo Globo de produção. Propaga um modelo de humor burlesco e televisivo, infelizmente associado às crianças e cada vez mais vendido ao público adulto. O humor da caricatura, que exagera os cerceadores estereótipos sociais: gordos, nerds, gays, mulheres fáceis, femmes fatales etc. Que se baseia nestes (in)valores para provocar o riso em outrem. Como se o riso fosse assim, tão banal! O longa, que retrata a mulher como fútil, consumidora impulsiva e o homem como vítima de suas exacerbações, subestima nossa capacidade de rir de algo realmente engraçado.

POSOLOGIA ingerir em caso de marasmo ingerir em caso de repetição cultural ingerir em caso de alienação

manter fora do alcance das crianças nocivo, ingerir apenas com acompanhamento médico extremamente nocivo, não ingerir nem com prescrição médica

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Sobrevoa

r

são paulo

Uma visão aérea dos incêndios nas favelas de São Paulo

Por Mariana Gomes Sobrevoando tudo parece belo. As ruas, as estradas, os caminhos. As pequenas e grandes casas, as plantações, os bairros delineados por grandes avenidas. Prédios, piscinas, pistas de pouso. Terraços de prédios marcados para receberem helicópteros, um atrás do outro. Árvores em pontos estratégicos e espaçadas como numa maquete. É possível ver movimentos, carros, fumaça, poluição. E é possível ver a desigualdade. Nas periferias sobrevoadas, as piscinas e grandes plantações dão lugar a um amontoado de pequenas casas. Onde consegue-se ver a babilônia em chamas pelo progresso, é também visível as chamas reais do desespero. Essa poderia ser a cena de um filme sobre o futuro da humanidade. Poderia ser uma imagem insinuando que o aquecimento global vai nos levar ao fim. Mas isso é São Paulo, hoje, dia 16 de novembro de 2012, vista de cima. De onde enxergamos demarcações de grandes propriedades de terra ao longo do estado, também

Ilustração: Adriano Kitani

enxergamos barracos de poucos metros quadrados, onde cabe apenas o necessário. Do alto, uma favela devastada. É aí que nos lembramos das áreas da cidade de São Paulo que acabaram de sofrer com misteriosos incêndios. Ninguém me disse. Eu vi. De cima não vi o sofrimento, o pânico, o desespero. Mas vi espaços onde antes crianças brincavam e aproveitavam a inocência de seus dias transformados em cinzas. Um grande buraco escuro formou-se no local. A imagem parece de uma catástrofe natural. Como se um pequeno meteoro decidisse atingir exatamente aquela área da cidade. E é quase isso. Um meteoro chamado especulação imobiliária. Mas que também pode ser chamado de ganância, ódio, racismo, preconceito, criminalização da pobreza, e o que mais vier à mente dos que refletem sobre o mundo ao seu redor. São tantos os nomes para a barbárie. São tantos

os nomes para o sofrimento dessas pessoas. São tantos os nomes dos mortos, desabrigados, machucados e traumatizados. São tantos os nomes. São tantos. E como chamamos a solução viável? Que denominação podemos criar para um horizonte possível? Por onde caminhamos senão pelo obscuro caminho da utopia? Para onde ela nos leva? Que rumos os indignados pretendem? Quando poderemos vislumbrar um cenário chamado igualdade? Quanto esperaremos? Esperar? Isso não sabemos. Fazemos à hora, corremos, derrubamos o que impede. Queremos chegar. Mas uma coisa é certa: o caminhar é o que importa. E as chamas a serem acesas serão as da vida. Ela como valor único e absoluto. O amor.

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João Roberto L. Pinto e Maíra Fainguelernt

Quem são os

João Roberto Pinto é cientista político, professor universitário e coordenador do Instituto Mais Democracia. Maíra Fainguelernt é geógrafa, pesquisadora e membro da equipe técnica do Instituto Mais Democracia

À primeira vista, a resposta parece fácil: as grandes empresas privadas tal como a Vale, Gerdau, Odebrecht, Camargo Correa, Andrade Gutierrez, JBS/Friboi , Votorantim, o Grupo Ultra, Bradesco, Itaú, Grupo Vicunha, Grupo Pão de Açúcar... Sem dúvida, estas e outras grandes empresas concentram poder econômico e político na sociedade brasileira. Mas, a interrogação permanece... Quem, de fato, controla e acumula todo esse poder? A economia política clássica sempre tratou as empresas como atores individuais. Contudo, estas empresas se constituem hoje em grupos econômicos, ou seja, conjunto de empresas juridicamente independentes, mas que se encontram conectadas pelo patrimônio, por laços familiares e etc. Exemplo: o grupo Odebrecht, controla empresas como Braskem, Norquisa e Odebrecht Construtora e é controlado pela Kieppe Patrimonial Ltda, que, por sua vez, é controlada por dezenove pessoas da família Odebrecht. Abrir a cadeia de controladores e controladas destes grupos econômicos talvez seja o maior desafio da democracia brasileira. Não apenas porque tais grupos concentram, através da cadeia de controles, a maior parte da riqueza do país, mas, principalmente, porque realizam esta concentração em conexão com o Estado brasileiro, por meio de participações acionárias

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proprietários

do Brasil?

de estatais e fundos de pensão, financiamentos de bancos públicos, renúncias fiscais, participações de agentes públicos nos conselhos de administração das empresas e etc. É notório o caso do Banco Nacional de Desenvolvimento Econô-

permanente relação com o Estado brasileiro. Alavancados pelo investimento público no período desenvolvimentista, consolidados com a transferência de patrimônio público nas privatizações e expandidos pela transferência massiva de recursos

Abrir a cadeia de controladores e controladas destes grupos econômicos talvez seja o maior desafio da democracia brasileira.”

mico e Social (BNDES), banco 100% estatal, cuja metade da receita é proveniente do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O BNDES não apenas financia de modo subsidiado estes grupos, como também participa, através do BNDESPar, na composição acionária da maior parte deles. O Estado, portanto, compõe a estrutura de poder destes grupos, sendo sócio e compartilhando em boa medida das estratégias destas empresas. Na verdade tais grupos privados, verdadeiras redes oligopolistas atuando particularmente nos setores de commodities e infraestrutura, foram forjados historicamente e em

públicos na última década. O resultado é a concentração brutal do poder econômico no país. A estreita e histórica conexão de frações da burocracia pública com os grupos privados impõe para a democracia brasileira questões absolutamente decisivas. Quais sãos os verdadeiros centros do poder no país? Como e onde as decisões sobre políticas de investimento público são tomadas? Os investimentos previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foram definidos pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão em função de um planejamento estratégico de desenvolvimento para


o país ou traçados a partir de demandas de infraestrutura e logística dos grupos privados? Como o BNDES, que tem participação cruzada em vários dos grupos privados, tem atuado nos processos de fusão e aquisição de empresas que temos assistido no Brasil? A política externa brasileira é definida mais pelo Itamaraty ou pela exigência de internacionalização dos capitais da Vale, Odebrecht, Gerdau e etc? A urgência e necessidade deste debate contrastam com o silêncio dos órgãos de imprensa e mesmo da academia sobre o tema. Mais do que silêncio, trata-se, na maioria dos casos, de consentimento e reforço desta concentração econômica. Disseminam o consenso social sobre a necessidade de crescimento econômico, onde as grandes empresas são apresentadas como os “homens bons” da sociedade. Quebrar este consenso não é tarefa fácil. O Instituto Mais Democracia (IMD) tomou a iniciativa, juntamente com a cooperativa Educação, Informação e Tecnologia para a Autogestão (EITA), de produzir o primeiro ranking dos proprietários do Brasil. Com o ranking, nomearemos as empresas controladoras últimas dos grupos privados, ordenando-as pelo grau de poder acumulado em termos de faturamento e participações acionárias. Com isso, chegaremos também aos nomes dos donos destas empresas, contrariando a tese de que o capitalismo contemporâneo não tem nome nem tampouco sobrenome. Junte-se a nós! Lançamento do Ranking dos Proprietários do Brasil

Dia: 13 de dezembro de 2012 Local: Auditório 71 - 7º andar - UERJ Horário: 17h30 horas


dezembro de 2012 | Ano 9 | Número 101 | www.fazendomedia.com | contato@fazendomedia.com

a média que a mídia faz

As reservas extrativistas brasileiras a partir do Amapá Por Eduardo Sá

Dona Maria das Graças com as suas netas na produção dos biscoitos de castanha Fotos: Eduardo Sá

Macapá (AP) – Os moradores mais antigos dizem que toda a região do Rio Cajarí, no sul do Amapá, região Amazônica, era dominada por um cearense chamado José Julio de Andrade, antigo coronel que detinha a posse das terras e mandava em todos. Em proveito dos seus mandatos de deputado federal e senador, o seringalista utilizou manobras cartoriais para se apropriar de terras até o Pará, somando ao todo, segundo o histórico no Ibama, mais de 3 milhões de hectares. Depois do enfraquecimento político dos coronéis as terras ainda foram vendidas para a empresa Jarí Celulose, controlada por um americano, que até hoje tem poder na região. Foi através de muita luta, que se desencadeou a criação de cooperativas e associações, que hoje exploram com liberdade as terras locais. Atualmente a Reserva do Rio Cajarí, que é dividida nas áreas baixa, alta e média, é utilizada pelos extrativistas para sobrevivência da população local. A regularização fundiária continua sendo o principal desafio dos extrativistas como um todo, não só no Amapá. Ocupada a partir do ciclo da borracha por nordestinos e caboclos, em meados do século passado, foi a resistência da população junto com o sindicato dos trabalhadores rurais local que lhes garantiu a criação da Reserva Extrativista do Rio Cajarí, em março de 1990. O Conse-

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lho Nacional dos Seringueiros (CNS), criado em 1985, é hoje o maior movimento nacional das populações extrativistas, atualmente chamado de Conselho Nacional de Populações Extrativistas. A cerca de 190 km de Macapá, a reserva engloba diversas comunidades e municípios. Três associações auxiliam os trabalhadores na região, além de sindicatos e cooperativas. Todos distantes um dos outros, algumas vezes com acessos precários e muita dificuldade de locomoção. Numa vila chamada Santa Clara, no alto Cajarí, vivem aproximadamente 11 famílias. Somente uma não é descendente de seu Sebastião Ro-

drigues, mais conhecido como Sabazinho, que está com 64 anos e é castanheiro desde que nasceu. Isolados, a rua tem umas sete casas, ao final passa um rio raso, galinhas e frutas típicas por toda parte. Não há miséria ou pobreza extrema, como em quase todas as reservas extrativistas no Brasil, mas as condições de vida não são fáceis. Não há luz, telefone (alguns têm celular), esgoto, pavimentação ou recursos tecnológicos modernos. A bomba de energia está ruim, e exige a aquisição frequente de diesel, que não é tão barato em relação à renda da família. Todo o esforço é direcionado para o funcionamen-

Seu Sebastião Rodrigues andando na vila Santa Clara, com o trator danificado à direita e o atual ao fundo

FAZENDO

*É isso mesmo, caro leitor, para você que passou direto pelo editorial e ainda não viu esta bela notícia, agora a Vìrus e o Fazendo Media são um veículo único!

MEDIA


to da geladeira. As casas são de madeira. O posto de saúde mais próximo fica em Água Branca, que é a maior vila nos arredores, mas é longe. As plantas medicinais cultivadas pela família ajudam, mas são insuficientes na cura. A escola vai somente até a quarta série, o que leva adolescentes para longe de suas origens, e o funcionamento é precário: professores ficam dias sem ir, não há regularidade nas aulas, além da falta de condições na própria escola. Os moradores relatam que é muito difícil ter uma semana inteira de aula. Esses elementos também podem caracterizar outras reservas extrativistas. A família vive com a agricultura de subsistência (macaxeira, milho, cará, laranja, pupunha, etc), a caça e a pesca também auxiliam, às vezes, na dieta. Mas a principal atividade é o extrativismo da castanha, é de sua colheita e produtos a principal fonte de renda. A safra é entre janeiro e julho, época em quem eles ficam semanas dentro das matas. Nos outros períodos a

A produção envolve toda a família, desde a extração até a embalagem”

extração continua em ritmo mais desacelerado. Têm uma casa dentro da floresta, mas bem simples e extremamente funcional. As castanheiras ficam a 6 horas de trator da comunidade, o que de carro não dá nem 2 horas. “Na época do patrão a gente ficava mais de quatro meses trabalhando direto, era até terminar a safra. Passamos ainda muita dificuldade com a saúde, educação e transporte. Para escoar nossa produção é um sério problema, a gente traz pouco porque não cabe no trator, que anda devagar e leva até 6 horas”, explica Sebastião. A família é articulada com a cooperativa do Alto Cajarí (Cooperalca). Há 11 anos fez um convênio com o governo do estado para conseguir um trator (muitas famílias não dispõem desse recurso até hoje). Por falta de manutenção e combustível para mantê-lo em uso está inutilizado, mas há 4 anos outro trator tem auxiliado a família. Eles alegam, no entanto, que as ferramentas já vieram com problemas e são culpados por tudo que acontece nas máquinas sem receber qualquer apoio. A associação compra o diesel, que sai da renda da castanha. O trator carrega até 25 barricas, que é como eles chamam uma recipiente que armazena seis latas de 20 litros, o que dá em torno de 3 mil litros de castanha.

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FAZENDO

MEDIA Fábricas de castanhas da Cooperativa do Alto Cajari (Cooperalca) Fotos: Eduardo Sá

“Vendemos o biscoito para a escola do Laranjal do Jarí, a diretora faz o mapa da compra. Era um projeto até dezembro, nos ajuda muito, tomara que continue. Falaram que ia ter uma cozinha para as mulheres do curso, mas não bancaram e algumas estamos fazendo em casa. Assim preservamos mais a natureza também, porque sem isso tem que mexer mais na floresta”, destacou a mãe da família.

“O preço na cidade varia muito, agora está uns R$ 35,00. Na época da safra voltamos de duas em duas semanas. A cooperativa não dá conta de comprar tudo e nunca participamos do lucro, o resto vendemos na feira de Macapá ou aos atravessadores. Todo mês vem um ônibus do estado para levar, a gente aproveita e vende em Macapá o que sobra do que a gente planta”, diz.

Eles entregam duas vezes ao mês, de acordo com a encomenda. Vendem cerca de 70kg, cuja unidade vale de R$ 15,00, e arrecadam cerca de mil reais ao mês. O biscoito gasta menos castanha, 8kg do alimento exigem menos de dois litros do fruto. O lucro é tirado com base nos gastos com trigo, óleo, açúcar, manteiga, embalagem e o forno, além de todo o custo que envolve a castanha. O mais importante nesse cenário, é destacar que toda a cadeia envolve os demais integrantes da família, inclusive as crianças. Então a renda acaba sendo dividida por mais pessoas, o retorno é coletivo, assim como tudo nas reser-

Foi a resistência da população que lhes garantiu a criação da Reserva Extrativista”

Como a castanha é o que mais dá dinheiro, eles sempre armazenam um pouco em casa porque não é fácil a travessia. A partir de 2001 passaram a contar com a fábrica do Alto Cajarí, que no mês passado processou 151 barricas na região, o que equivale a quase 100 toneladas. É fundamental na secagem e descascamento da castanha, procedimentos que a mão são muito demorados. Mas também fazem isso em casa, principalmente agora com um novo empreendimento: graças a um curso de capacitação na região há dois anos, dona Maria das Graças, esposa de Sabazinho, aprendeu a fazer biscoito com as castanhas, de modo a agregar valor e ser mais uma fonte de renda. Eles ainda conseguiram entrar no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), do governo federal, que garante a compra dos seus produtos. A produção envolve toda a família, desde a extração até a embalagem dos biscoitos.

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vas. Os extrativistas recebem, por exemplo, a Concessão Real de Uso (CRU) da terra do governo federal, que outorga toda a responsabilidade à associação. As pessoas não recebem título de propriedade e não podem vender para outras de fora da comunidade, é um direito comunitário. O grande problema das famílias extrativistas é o acesso às políticas públicas, seja por falta de conhecimento ou de informação


Balde com os biscoitos produzidos pela família

devido ao isolamento. Com o apoio na logística da castanha, as famílias teriam melhores condições de vida. Isso se estende ao açaí e a borracha, também produtos típicos do extrativismo da Amazônia. “Não procuram a gente, e os caras ficam engolindo a gente, são cobras criadas. Se beneficiam uns aos outros entre eles mesmos. O cabra tem que encher o saco para saber, porque mesmo indo atrás já é difícil e eles não trazem nada para a gente”, criticou o chefe da família. Existem hoje no Brasil 59 reservas extrativistas decretadas pela Presidência da República, embora ainda não tenham sido regularizadas, e mais de 200 processos impedidos pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Os movimentos, por sua vez, estimam 70 mil famílias em reservas extrativistas, mas ainda não há censo direcionado aos povos da florestas. Ocorreu entre os dias 05 e 08 de novembro, em

Macapá, o III Congresso Nacional de Populações Extrativistas. Mais de 300 pessoas participaram das atividades, que contaram na abertura com a presença dos ministros do Meio Ambiente e Desenvolvimento Agrário, além de vários secretários. Na ocasião foram anunciadas a criação de mais cinco reservas extra-

A educação não pode promover o êxodo rural da nossa juventude.”

tivistas pelo governo federal, e um Plano Nacional de Extrativismo. Os movimentos construíram um documento com propostas e reivindicações, principalmente relacionado à regularização fundiária, que pautará a luta dos extrativistas nos próxi-

mos anos. Foi eleita a nova diretoria do CNS para os próximos três anos, cuja presidência ficou sob responsabilidade de Joaquim Belo. “Nossa primeira estratégia é continuar lutando para criar reservas, e de forma que inicie o processo de regularização. Na criação do decreto já defina o perímetro, e depois regularize para garantir nossos direitos. Depois tem o plano de manejo, que é o nosso zoneamento, como vai organizar nossa posição e pacotes de produtos dentro daquele espaço. Tem também a educação, que é o bem mais precioso que podemos dar a esse povo e precisamos adequá-la. A educação não pode promover o êxodo rural da nossa juventude. Precisamos também fazer com que essa política pública que já existe chegue, construir novas ou aperfeiçoar algumas já existentes. Se chegasse a gente avançaria muito”, ressaltou Belo, que tomará posse em janeiro de 2013.

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rio de janeiro

Manifestação ocorrida no dia 1º de dezembro reuniu mais de mil pessoas na Tijuca contra o projeto de concessão do Maracanã Foto: Artur Romeu

Cartão Vermelho Por Artur Romeu e Miguel Tiriba O governo do estado do Rio de Janeiro quer conceder o Maracanã para a iniciativa privada durante os próximos 35 anos. O anúncio veio a público com a minuta do edital lançada no dia 22 de outubro. O documento prevê a demolição da Escola Municipal Friedenreich, do prédio do antigo Museu do Índio, do estádio de atletismo Célio de Barros e do Parque Aquático Julio Delamare – todas construções localizadas no entorno do estádio. Indignados com a proposta do governo, mais de 500 pessoas representando diversos grupos da sociedade se manifestaram contrárias ao projeto de concessão apresentado durante Audiência Pública realizada no dia 8 de novembro. O Secretário Estadu22

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Projeto do Governo do Estado prevê a demolição de escola municipal, centros esportivos e antigo Museu do Índio para conceder o Complexo do Maracanã à iniciativa privada al da Casa Civil, Régis Fitchner, responsável por conduzir a audiência, afirmou ao final do encontro que as pessoas ali presentes representavam uma minoria que demonstrou postura “antidemocrática” e que o projeto não seria alterado.

- Hoje em dia as pessoas têm televisões 3D em casa, onde podem assistir confortavelmente o jogo de futebol comendo pipoca. Para que os estádios não fiquem vazios temos que aumentar o conforto para os torcedores, afirmou Fitchner.

Os argumentos utilizados pelo Secretário para defender o projeto foram que o Maracanã precisava ser gerido por uma concessionária privada para ter sustentabilidade econômica e ser modernizado para se adequar às exigências dos padrões internacionais da FIFA, assim garantindo maior conforto aos torcedores.

Com esse objetivo, nos espaços demolidos ao redor do Maracanã serão construídos estacionamentos, centros comerciais e áreas abertas para facilitar a circulação das pessoas. Ainda, segundo o Secretário, “não existe nada de novo na proposta do governo, é apenas o modelo que tem sido utilizado para os melhores estádios do mundo”.


Os argumentos utilizados para defender o projeto são sustentabilidade econômica e adequação com as exigências internacionais da FIFA”

Do outro lado do campo A Escola Municipal Friedenreich é considerada escola modelo da Prefeitura e atende 349 alunos. Com a quarta colocação no Ideb do Estado, ela se orgulha de ser um espaço de referência para crianças portadoras de necessidades especiais. Um abaixo assinado organizado pela Associação de Pais e Alunos com a ONG Meu Rio, reuniu 16 mil assinaturas contrárias à demolição. O documento foi entregue na Audiência Pública, onde dezenas de crianças e representantes da escola estiveram presentes. O presidente da associação, Carlos Sandes, afirmou que houve várias tentativas de diálogo com o governo municipal por parte da escola, porém todas recusadas tanto pelo prefeito Eduardo Paes quanto pela secretária de Educação Cláudia Costin.

Segundo a Prefeitura a escola será deslocada para a antiga Escola de Veterinária do Exército, localizado em São Cristovão, a 5km de onde atualmente se encontra. Régis Fitchner se limitou a dizer que as novas instalações seriam “muito mais modernas e melhores”. A representante do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro, Mirna Maia Freire, afirmou que tem acompanhando o processo da Escola Friedenreich, mas entendia que o caso não era uma situação isolada dentro do atual contexto da cidade. - O que temos observado é a destruição não só de um modelo de educação, mas também de uma sociedade onde a participação popular possa se dar de forma efetiva, atacou Mirna. Outro grupo organizado contra as demolições previstas pelo projeto é o dos índios da Aldeia Maracanã. Em 2006, indígenas de diversas etnias ocuparam o prédio onde, em 1953, Darcy Ribeiro criou o primeiro Museu do Índio da América Latina. O espaço é Patrimônio Público Indígena desde 1865 e foi onde o Marechal Rondon inaugurou em 1910 o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) órgão antecessor da atual FUNAI. O prédio estava abandonado desde 1978, e foi ocupado há seis anos por índios que informaram ao Ministério Público Federal que o objetivo era “preservar e revitalizar este Patrimônio Indígena, gerando assim a sustentabilidade do grupo chamado Aldeia Maracanã que se desen-

CARA DE TACHO: Responsáveis por administrar a audiência pública de concessão do Maracanã observam incrédulos a manifestação de mais de 600 pessoas contrárias ao projeto. | Foto: Artur Romeu Vírus Planetário - DEZEMBro 2012

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rio de janeiro Indígenas da Aldeia Maracanã (antigo museu do índio) também marcaram presença na manifestação do dia 1º de dezembro contra o projeto de concessão do Maracanã Foto: Artur Romeu

O Maracanã é um espaço de profundo interesse histórico e cultural, que deve ser encarado como patrimônio de todos”

volveu neste espaço.” Na época também foi reivindicado o imediato tombamento do imóvel pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Desde que assumiram o espaço, os índios demandam do poder público a revitalização do prédio para que possa se tornar o primeiro patrimônio nacional gerido e administrado por indígenas. Eles passaram a receber escolas, universidades, pesquisadores e simpatizantes e a desenvolver atividades culturais, educacionais e de línguas das diversas etnias originárias de todo o território nacional. Em outubro deste ano o Governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, confirmou a compra do imóvel, determinando a sua demolição para criar uma “área de mobilidade do público durante a Copa do Mundo”, alegando que “o imóvel não teria valor histórico” e que “seria uma exigência da FIFA”, que prontamente o desmentiu através de resposta ao Ofício do Defensor Público da União, André Ordacgy. No dia 13 de novembro a Presidente do TRF da 2ª Região, Maria Helena Cisne, cassou duas liminares que impediam a demolição do antigo Museu do Índio e que proibiam a retirada dos índios que vivem na Aldeia Maracanã. Com a notícia, diversas manifestações de apoio da sociedade foram reforçadas e se instaurou um sistema de vigília no prédio que até o momento em que escrevemos não foi demolido. A situação do estádio de atletismo Célio de Barros e do Parque Aquático Julio Delamare, vizinhos da Aldeia Maracanã, também tem provocado indignação. De acordo com a Federação de Atletismo do Rio de Janeiro (FARJ), circulam cerca de 600 pessoas por dia pelo Célio de Barros, construído em 1954 e com capacidade para 3.500 espectadores. Por suas pistas, treinaram atletas olímpicos consagrados como Ademar Ferrereira da Silva e Maurren Maggi. Três dias antes da Minuta do Edital de concessão do Maracanã ser publicada o Prefeito Eduardo Paes 24

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assinou o Decreto Municipal 36.349 que torna sem efeito o Decreto Municipal 21.667 que determina o tombamento definitivo do Estádio de Atletismo Célio de Barros. Em Comunicado Oficial, a FARJ afirma que o governo do estado e do município “também ignora, como se não bastasse, o Decreto-Lei 68 de 18 de abril de 1965 e o projeto de Lei Complementar no 06/97, que proíbem quaisquer obras de demolição no Complexo Esportivo do Maracanã”. Em outro trecho do comunicado o texto segue assim, “pasmem senhores: os mencionados equipamentos serão substituídos por um estacionamento com, no mínimo, 3.000 vagas e outras intervenções de engenharia que visem facilitar o acesso ao Estádio Mário Filho e potencializar sua exploração econômica, avalizado pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), mas sob protestos dos clubes, atletas e comunidade”. Um dos parques aquáticos mais tradicionais do país, o Júlio Delamare foi construído em 1978 e é considerado por muitos atletas o melhor do país. Com 18,5 mil metros quadrados de área e capacidade para 5 mil pessoas, o parque é um dos maiores da América Latina. Em 2007, passou por uma grande reforma, com investimentos de R$ 10 milhões do governo, para sediar o torneio de pólo aquático dos Jogos Pan-Americanos do Rio.


Resultado da demolição de casas na favela Metrô-Mangueira Fotos: facebook.com/direitoparaquem

A favela para escanteio Em 2010, quando começaram as obras do Maracanã para a Copa do Mundo, também começou a remoção da favela Metro Mangueira, vizinha do estádio. Cerca de 700 famílias viviam na comunidade. De acordo com a ONG Justiça Global, que atua no campo dos direitos humanos, a favela foi completamente ignorada nos processos de urbanização da área. Logo no início foram removidas 107 famílias, que cederam às ameaças da Prefeitura, para o conjunto habitacional do Minha Casa, Minha Vida localizado em Cosmos, na Zona Oeste da cidade, a mais de 70Km do Maracanã. Os outros moradores começaram o processo de resistência e conseguiram que outras 240 famílias fossem deslocadas para o conjunto habitacional Mangueira I, na Rua Visconde de Niterói, próximo ao antigo local da comunidade. A outras famílias ainda esperam entre escombros a concretização do acordo da Prefeitura para se mudarem para o Mangueira II. A mudança estava planejada para maio deste ano, mas ainda não foi realizada

O Júlio Delamare continua a sediar competições aquáticas, mas também recebe projetos sociais para crianças, idosos e deficientes. São mais de dez mil pessoas atendidas. É também nesse espaço que treinam as equipes olímpicas de nado sincronizado e saltos ornamentais do Brasil. A pergunta não pode ser outra: como é possível um governo que defenda a Copa do Mundo e as Olimpíadas optar pela demolição de dois dos melhores centros esportivos do país para transformá-los em estacionamento?

Bola fora O Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro, organização que reúne profissionais e movimentos da sociedade civil para fiscalizar os preparativos dos megaeventos, também tem alertado para alguns números envolvendo gastos públicos no Maracanã. De 1999 a 2006, a fim de preparar o estádio para o Mundial de Clubes da FIFA e para Jogos Panamericanos, o governo gastou R$ 410 milhões (R$ 634 milhões em valores corrigidos) em duas grandes reformas. Com o argumento de preparar o Maracanã para que estivesse de acordo com as exigências da FIFA, as obras que começaram em 2010 praticamente demoliram toda a parte interna do

estádio. A reforma está estimada atualmente em R$ 869 milhões. De acordo com a Minuta do Edital o Complexo do Maracanã será concedido pelos próximos 35 anos à iniciativa privada pelo valor total de R$ 231 milhões – o equivalente a 16,5% do valor investido dos cofres públicos. O jornalista e membro do Comitê, Gustavo Mehl, afirma que a Minuta do Edital “escancara uma visão completamente equivocada do governo do estado sobre o que é o Complexo do Maracanã e qual é a importância desse espaço para história da população do Rio de Janeiro”. - Encarar o Maracanã como um equipamento de entretenimento, que deve ser rentável e que por isso deve ser gerido pela iniciativa privada é completamente antagônico com a perspectiva que nós temos daquele espaço. Um espaço de profundo interesse histórico e cultural, de um uso esportivo e social que deve ser encarado como patrimônio de todos, e por isso gerido pelo poder público, afirma Mehl. Na mesma linha, a pesquisadora do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano da UFRJ, Giselle Tanaka, afirma que a estratégia do

governo com o projeto para o Complexo do Maracanã não é uma ação isolada. - Esse processo do Maracanã, que eles estão chamando de concessão, mas é até pior do que o processo de privatização, porque o governo garante os lucros para o incorporador privado, faz parte de uma série de ações que estão acontecendo na cidade de privatização do espaço público. As justificativas que a prefeitura tem dado é que isso daria uma maior eficiência na gestão e resolveria o problema da falta da capacidade de tomar conta dos espaços. Mas na verdade isso representa uma elitização da cidade e dos espaços públicos, uma escolha de um público consumidor, que pode pagar, afirma Giselle. Um pedido de plebiscito sobre a concessão do Maracanã à iniciativa privada foi encaminhado no dia 13 de novembro à mesa diretora da ALERJ com a adesão de 33 deputados, uma consequência evidente da mobilização popular contra este processo arbitrário de privatização, demolição e mau uso do dinheiro público que o governo do estado conduz, com indícios claros de favorecimento a determinados grupos empresariais.

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Entrevista INclusiva:

Dominic Barter Comunicação não violenta e os círculos restaurativos

Dominic Barter nasceu na Inglaterra no final dos anos 60 e passou a juventude combatendo a política neoliberal de Margareth Thatcher, ao mesmo tempo em que explorava a efervescência do movimento de contra cultura da época. Participou de atos de sabotagem em bases norte-americanas e do movimento de ocupações urbanas que buscavam desenvolver novas formas de se relacionar com o outro e com o mundo. Ele veio morar no Rio de Janeiro há 20 anos, desembarcando durante a Eco 92, “quando a divisão social característica da cidade veio explicitamente à tona, com tanque de guerra estacionado na Praia de Botafogo, apontando para as favelas”. Nas duas últimas décadas, Dominic vem desenvolvendo modelos alternativos de resolução de conflito, inspirados em princípios da não-violência e no movimento de justiça restaurativa. Essa lógica se opõe ao modelo tradicional de justiça punitiva e promove um sistema cooperativo para lidar com os problemas sociais. Dominic foi convidado a trabalhar num projeto piloto de justiça restaurativa do Ministério da Justiça e começou a espalhar os Círculos Restaurativos em escolas, prisões e comunidades. Em entrevista para a Vírus Planetário, ele conta mais sobre o projeto e revela a lógica transformadora da nãoviolência. 26

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Por Artur Romeu Você pode contar uma experiência na qual o círculo restaurativo foi aplicado? O que me vem à cabeça agora é uma das iniciativas que temos numa escola municipal de periferia. Um aluno foi pego roubando comida da mochila dos colegas. Não era a primeira vez que ele roubava comida e a direção estava disposta a expulsálo. Mas optaram por experimentar o projeto. Antes do círculo é montado um pré-círculo com as pessoas envolvidas que respondem a uma série de perguntas, entre as quais: “quem você gostaria de ver presente no círculo”. Ele pediu a presença dos pais. Então o facilitador foi até a casa da família e encontrou um barraco, pais desempregados, cuidando de seis filhos, e um rodízio montado para de-

Fotos: Arquivo pessoal


“ cidir quais das crianças iam comer naquele dia. A escola não sabia desse contexto. Os alunos que tiveram sua comida roubada não sabiam desse contexto. Os pais dos alunos roubados também não sabiam. Ninguém sabia. O círculo restaurativo coloca todas essas pessoas juntas. Nesse caso, os pais como parte da comunidade, os alunos como receptores do ato e o outro aluno como autor do ato. Eu estou intencionalmente mudando a nomenclatura porque quando a gente muda nossa maneira de ver, vemos coisas diferentes. Portanto não falamos mais em ofensor e vítima, porque quem é vitima aqui? E também, politicamente, quem é o ofensor? Não é ofensivo alguém ter comida sobrando enquanto outras pessoas passam fome? Eu acho. No círculo é descoberto que há uma outra criança da família que está na FEBEM por ter roubado um pacote de biscoito do supermercado. O juiz não sabia o contexto em que aquilo tinha acontecido. Entramos em contato com ele, que age para acelerar a saída do adolescente. Os alunos da escola começam, voluntariamente, a compartilhar sua comida com o aluno que os tinha roubado. Os pais começam a entender que a comunidade escolar é um espaço de inclusão. Eles começam a se organizar para ajudar aquela família na qual as crianças passavam fome. Nenhum desses atos, isoladamente, é tão extraordinário pois, apesar de tudo, a gente só sobrevive porque cuidamos uns dos outros diariamente de incontáveis maneiras. O significante é

O que motiva a transformação não é a esperança, mas sim a integridade e a coerência”

que nenhuma daquelas coisas estava acontecendo na terça e todas essas coisas estavam acontecendo na quinta. A única diferença foi a criação de um espaço de diálogo.

O que é a justiça restaurativa? Quais são os resultados e aprendizados que você tem tido? Eu me lembro de uma cena em que vi um casal brigando na rua. Eles estavam muito perto um do outro, mas eu percebi que cada vez que eles levantavam mais a voz, menos eles entendiam um ao outro. Mais grito, menos compreensão. Comecei a pensar que essa mesma dinâmica estava acontecendo socialmente. Será que a violência no Rio é a tentativa de dois ou mais grupos manterem um diálogo? Eu aumento o volume quando coloco uma terceira fechadura na minha porta, quando monto uma câmera de vigilância, quando o condomínio constrói uma grade de proteção na frente do prédio. Eu também aumento o volume quando eu pego numa arma, quando roubo alguém, e assim por diante. Eu pensei que se esse era o caso, então eu deveria poder observar uma diminuição na gritaria na medida em que caminho na direção da pessoa com quem estou em diálogo. Eu tinha sido ensinado que o conflito era perigoso, então eu fugia dele. Na medida em que fugia, o conflito precisava aumentar seu volume para compensar a distância e o resultado era inevitavelmente a violência. Os mecanismos de privilégio e de opressão são muitas vezes invisíveis, mas mesmo assim nós somos todos protagonistas e operadores desses

mesmos sistemas. Por isso comecei, improvisadamente, a criar espaços em que podíamos romper com a lógica de dominação e criar um ambiente de diálogo na lógica da parceria. Esses espaços eram circulares e por isso se tornaram o que hoje chamo de círculos restaurativos, que se encaixavam dentro do movimento social de justiça restaurativa.

A sociedade parece estar o tempo todo dentro de uma lógica de competição, de poder... Você falou da lógica de parceria e de princípios de comunicação não-violenta. Pode desenvolver? A lógica da comunicação nãoviolenta nos abre para a entender a vida de um ponto de vista relacional. Existem muitas formas de entender isso. Quando Gandhi fala que a nãoviolência é mais poderosa do que a bomba atômica, não é para ser poético. Ele está simplesmente fazendo uma observação. A não-violência tem um poder de acordar as pessoas de uma forma muito intensa. Vamos tomar o exemplo recente dos Guarani-Kaiowá e toda repercussão que o ato de resistir até a morte diante de uma injustiça causa na sociedade. O que a gente vê muitas vezes são momentos de não-violência, uma chama que vem de um lugar profundamente transformador. Mas essa chama não é alimentada, ela é cooptada. O que me preocupa é que não temos desenvolvido nossa capacidade prática interna de lidar com isso. No momento em que essa afirmação é feita, “nós vamos morrer”, existe

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eNTREVISTA iNcLUSIVA_Dominic Barter

Quando Gandhi fala que a não violência é mais poderosa do que a bomba atômica, não é para ser poético. Ele está simplesmente fazendo uma observação.”

momentaneamente uma comunidade imensa que pensa “você e eu somos partes da mesma coisa”. Eu sinto minha integridade acordando no mesmo tempo em que experimento que seu sofrimento acontece aqui e não só lá. O problema é que segundos depois eu reduzo toda a situação novamente: os índios passam a ser economicamente descartáveis ou senão caricaturas do jardim da infância da humanidade de Rousseau. Indiretamente eu sou a pessoa que vai matá-los durante toda a minha vida, mas só por um segundo eu sou eles. Não conseguimos manter esse sentimento profundo tempo suficiente para provocar os efeitos transformadores que necessitamos. A ideia é tornar visível um relacionamento entre pessoas que não se conhecem, mas que na verdade sempre existiu. Não é a remoção de outras pessoas que moram na favela, mas sim a remoção de parte da minha cidade, eu também estou sendo removido.

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra tem uma frase que diz assim: “enquanto houver um sem terra no mundo, seremos todos sem terra”... Isso. Essas frases estão no nascimento da consciência da esquerda, o conceito da solidariedade. O conceito por trás do hino da Internacional Socialista evoca esse sentimento de que, para além das fronteiras, nossas histórias estão entrelaçadas. O Marshall McLuham tem uma frase que diz o seguinte: “nada é inevitável contanto que a gente esteja disposto a observar o que está acontecendo.” Nesse sentido, o que motiva a transfor-

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mação não é a esperança, mas sim a integridade, a coerência. Isso é fazer política de forma prefigurativa, como Gandhi falou. Não estou atuando agora para transformar o depois, mas através das minhas ações estou revelando o mundo no qual gostaria de viver. Essa visão processual, uma visão do estar, ao invés de uma visão do ser, é que está por trás do que eu entendo que Ganhdi tentou determinar com a expressão “não-violência”. De uma forma que até ele reconheceu que era infeliz, porque pode passar a impressão de passividade, quando na verdade é um processo muito dinâmico.

Mas a minha luta hoje é porque acredito que um mundo melhor é possível... A lógica de querer fazer um mundo melhor é parte do problema. É uma lógica baseada na ideia de progresso. Porque precisamos progredir em direção a um mundo melhor? Porque o mundo antes não era bom? O mundo é de alguma forma falho, sujo, incivilizado? Todo mundo comprou essa ideia que na verdade é a importação de uma ideia religiosa. Manipulamos essa suposta ideia de um mundo melhor para criar o mundo bom. O problema é que você acredita e


Os mecanismos de privilégio e de opressão são muitas vezes invisíveis”

justifica uma ação dominadora em cima do outro por causa da beleza da sua visão, e o outro faz o mesmo. A lógica da utopia é uma lógica violenta. Nos violamos em escala interpessoal e em grande escala na tentativa de construir alguma coisa que a gente imagina primeiro para depois aplicar. Essa lógica começa então com a formação de uma abstração, e depois tentamos aplicar essa abstração no mundo “real”. Inevitavelmente nos chocamos contra mutabilidade constante de vida no planeta. Começamos a identificar essa mutabilidade como um impedimento ou até mesmo como um ataque a nossa visão e assim, essa visão sendo tão linda, sublime e perfeita, justifica a agressão, a violência contra esse impedimento.

Nós vivemos dentro de uma determinada conjuntura política, econômica, social e cultural que agride o tempo todo. Me agride o fato de existir miséria, fome, escravidão, etc... Não quero fazer parte disso. Isso não deveria mobilizar uma necessidade de mudança? Eu aceito que é controverso sugerir que baseemos nossa energia em outra que não essa. A maioria dos movimentos políticos que eu apoio dentro das atuais conjunturas são baseadas nessa energia. Não estou esperando que o Freixo peça para todo mundo meditar. Eu sei que ele não vai fazer isso, se ele fizesse seria um desastre politicamente. Ao mesmo tempo, se a gente não muda esse entendimento do ser humano como

base da nossa atuação, na minha experiência, a gente vai, apesar de todos os nossos esforços, acabar reproduzindo aquilo que a gente está tentando transformar. E a gente vai colocar outras pessoas nas cadeiras de sempre, mas serão as cadeiras de sempre.

Mas não são só cadeiras, as pessoas que ali estão sentadas tem um grande poder para tomar decisões. Tem momentos em que você vai dizer que isso ainda vale a pena. Eu concordo. Eu tenho uma opinião quando uma pessoa ganha uma eleição. Eu posso ficar feliz ou eu posso ficar triste. Mas eu nunca me engano que isso é a construção do mundo em que eu quero viver, pode ser um pedacinho. Em parte porque essas pessoas nunca propõem desfazer as estruturas que estão impedindo que as pessoas organizem suas comunidades localmente de uma forma realmente sustentável. Esse viver plenamente não é uma ideia pré-concebida, é um processo de descoberta constante entre os próprios protagonistas de suas próprias vidas, que devem ter autonomia para decidir sobre como querem interagir.

Uma pergunta provocadora. Esses espaços de diálogos são fundamentais, mas o quanto você acredita que as pessoas estão de fato dispostas a mudar essa estrutura de dominação a partir de uma visão como essa? Não é, no final das contas, um sistema ingênuo em termos de grandes mudanças? Para ser um pouco provocador, ingenuidade agora é continuar com as lutas de sempre. A situação é urgente demais para agirmos com pressa. Confrontar é um desperdício de tempo, é um desperdício de tempo eleger um inimigo e tentar vencer esse inimigo. As pessoas mudam quando elas vêem uma estratégia tão eficaz ou mais que lidem com as necessidades delas. Antes eu pensava que o grande desafio era convencer as pessoas. Hoje, eu vejo que esse não é o problema. O desafio é saber o que a gente vai falar quando o atual sistema ruir. Dentro dos nossos espaços de atuação temos construído o início, ainda muito precário, de um sistema social diferente daquele que já existe. Atualmente, a única coisa que fazem é tentar escorar um prédio que cai. O sistema econômico, de educação, de justiça, de saúde, não vai sobreviver. A gente esquece porque essas coisas já existiam quando nascemos, então a gente acha que sempre vai ter universidade, que sempre vai ter moeda. Não. A base dessas coisas, dessa lógica, já mudou. Inevitável que esses prédios vão cair e se transformar em outra coisa. A questão é qual é a lógica que vai sustentar as novas estruturas?

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brasil

Mais de 20 milhões de

escravos

Pobreza, trabalho degradante, dívida fabricada e violência são as correntes do seu cativeiro

Por Alina Freitas, Ana Malaco e Artur Romeu A escravidão é proibida em todos os países do mundo, mas o trabalho escravo é uma realidade em praticamente todos eles. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 21 milhões de pessoas no planeta vivem em condições de trabalho forçado. A ONG Free the Slave (Liberte os Escravos), uma das entidades internacionais mais respeitadas por sua luta na erradicação desse mal, aponta que o número de pessoas em condições de escravidão é de 27 milhões. Mais de um milhão apenas na América Latina. No Brasil, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) reúne denúncias e números de trabalho escravo desde os anos 70. De acordo com os dados da CPT, 43.641 trabalhadores

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que viviam em condições análogas a escravidão foram resgatados no país nos últimos 16 anos. A organização estima que pelo menos outros 40 mil trabalhadores ainda são mantidos como escravos no Brasil. O caso mais recente, com grande repercussão na mídia, ocorreu em julho desse ano no Mato Grosso, na usina de álcool da empresa Alcopan, onde 20 trabalhadores viviam com salários atrasados, dormiam no chão, não tinham banheiro, água potável e se abrigavam em cabanas de palhas de cana. Em 2011, uma operação que vasculhou subcontratadas de uma das principais fornecedoras da grife ZARA, encontrou 15 pessoas em duas oficinas, incluindo uma adolescente de apenas

14 anos, que viviam em condições de trabalho degradantes, caracterizando a escravidão contemporânea – uma localizada no Centro da capital paulista e outra na Zona Norte. Para sair das oficinas era preciso pedir autorização. As vítimas libertadas foram aliciadas na Bolívia e no Peru. Ao chegar ao Brasil, elas foram obrigadas a trabalhar por meses apenas para quitar os valores referentes ao custo de transporte para o país. Durante a operação foram apreendidos dois cadernos com anotações de dívidas referentes a “passagem” e a “documentos”, além de “vales” que faziam com que o empregado aumentasse ainda mais a sua dívida. Os cadernos mostram alguns dos salários recebidos pelos


Fotos: João Roberto Ripper

Eles bebem a mesma água que o gado bebe e passam fome durante jornadas de trabalho pesado de até 16 horas.”

empregados: de R$ 274 a R$ 460, bem menos que o salário mínimo vigente, que é de R$ 622. Histórias como essas se repetem nos relatos feitos por trabalhadores libertados e em denúncias apresentadas para organizações como o Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos (CDVDH). Sediada em Açailândia, no sudoeste do Maranhão, a ONG fica na região conhecida como Bico do Papagaio, entre as fronteiras do estado com o Tocantins e o Pará, onde se concentram altos índices de conflitos rurais. A coordenadora do projeto de erradicação do trabalho escravo do CDVDH, Brígida Rocha dos Santos, conta que trabalhadores fugidos narram sucessivamente experiências de tratamentos “piores do que animais”. - Os trabalhadores são encontrados em péssimas condições de sobrevivência. Eles bebem a mesma água que o gado bebe e passam fome durante jornadas de trabalho pesado de até 16 horas. Eles são obrigados a contrair dívidas relativas ao alojamento precário, à alimentação e ao transporte. É comum que terminem semanas exaustivas de trabalho devendo para os seus empregadores, explica Brígida.

O trabalho escravo contemporâneo O artigo 149 do Código Penal define da seguinte forma os elementos que caracterizam condições de trabalho escravo no Brasil: “Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto”. De acordo com uma das maiores referências nacionais para questões relativas a escravidão contemporânea, o Frei Xavier Plassat, o país possui uma legislação avançada no que diz respeito a definição do trabalho escravo. Agente da CPT e coordenador da campanha “De Olho Aberto para Não Virar Escravo”, que desde 1997 alerta a sociedade sobre o tema, Xavier explica que a caracterização do trabalho forçado é apenas um dos fatores que qualificam o trabalho escravo no país. - Os outros tratam essencialmente sobre as condições degradantes do trabalhador. Condições que violam os direitos de alimentação, acesso a água, alojamento decente, jornadas de trabalho apropriadas, saúde, entre outros. Eu diria que a melhor definição para o trabalho escravo é toda situação na qual o trabalhador é tratado como coisa. Essa definição é muito universal e se caracteriza quando o trabalhador se torna uma ferramenta de produção, dispensável e descartável, afirma Plassat. Atualmente um Projeto de Lei que tramita pela Câmara dos Deputados propõe uma nova definição do conceito de trabalho escravo (PL 3842/12). O projeto foi apresentado pelo presidente da Frente Parlamentar do Agronegócio, deputado Moreira Mendes, atualmente do PSD-RO, que já foi filiado à extinta ARENA (partido que dava sustentação política ao governo militar). O novo projeto propõe a retirada dos termos “jornada exaustiva”, “condições degradantes de trabalho” e “preposto” e inclui a necessidade de ameaça, coação e violência para a caracterização do trabalho escravo. De acordo com o propositor do PL, Moreira Mendes, que também é agropecuarista, a definição atual do Código Penal não é clara.

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brasil

No Brasil, onde houve a escravidão durante séculos, tanto vítima quanto opressor passam a achar que essas situações degradantes são normais”

Sobre o tema, o Frei Xavier Plassat afirma que os representantes da bancada ruralista não se cansam de dizer que a definição do trabalho escravo no Brasil é confusa, imprecisa e subjetiva. Segundo ele, o que motiva essa crítica é justamente a inclusão na lei em 2003 de um elemento que caracteriza não só a falta de liberdade, mas também a falta de dignidade humana. “No Brasil, em que houve a escravidão durante séculos, abençoada pelo estado e pela igreja, tanto vítima quanto opressor, passam a achar que essas situações degradantes de trabalho são normais e até mesmo culturais do campo brasileiro”, conta Plassat. - Parece haver ligação, sim, entre a expansão desenfreada do agronegócio, no contexto da economia globalizada, e a precarização das relações trabalhistas. Em nome da conquista de novas fatias de mercado sem redução das margens de lucro, há uma pressão contínua para flexibilizar os direitos do trabalhador..

Atividades econômicas e cadeia produtiva A Superintendente da Secretaria Estadual de Direitos Humanos e Assistência Social do Rio de Janeiro, Graziella Rocha, foi responsável durante dois anos pela pasta do trabalho escravo e tráfico de pessoas da Secretaria. Ela conta que, em 2009, o Rio bateu o triste recorde nacional com o maior número de trabalhadores resgatados, 715. A grande maioria foi encontrada em plantações de cana no norte do estado. Segundo Graziella, este número foi bastante reduzido, e nesse ano foram 32

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recebidas apenas dez denúncias envolvendo principalmente trabalhadores em pedreiras e no plantio de tomates. Ela chamou a atenção para o Projeto de Emenda Constitucional, (PEC) 438/1, aprovado em maio deste ano na Câmara, que permite a expropriação de propriedades rurais e urbanas onde a fiscalização encontrar exploração de trabalho escravo. A PEC 438 prevê que essas propriedades serão destinadas à reforma agrária ou a programas de habitação popular. O projeto foi proposto em 2001 pelo Senado e, embora seja um avanço sua aprovação na Câmara, a proposta ainda voltará para ser aprovada pelo Senado, já que parte do texto foi modificado. “O setor ruralista tem medo de perder as suas propriedades por conta do trabalho escravo”, afirma o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, deputado Domingos Dutra (PT-MA) em relação à demora da votação da PEC. No Rio de Janeiro, o Ministério do Trabalho e Emprego regional é o responsável pela maior parte da fiscalização. Quando uma de-


Atlas do trabalho escravo O Atlas do Trabalho Escravo no Brasil, publicado em junho deste ano, reúne os resultados do estudo feito por quatro pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) sobre a escravidão contemporânea no país. O atlas está disponível gratuitamente para baixar na internet no site da ONG Amigos da Terra, responsável pelo projeto. O estudo trás uma série de mapas, tabelas e análises que cruzam diversos indicadores sociais e econômicos do país com números recolhidos pelo Ministério do Trabalho e pela CPT para elaborar um índice de probabilidade de trabalho escravo e de vulnerabilidade de aliciamento.

Brasil - Isometria dos trabalhadores escravos resgatados

De acordo com a pesquisa, o perfil do trabalhador escravo do Brasil no século XXI “é um migrante maranhense, do Norte de Tocantins ou oeste do Piauí, de sexo masculino, analfabeto funcional, que foi levado para as fronteiras móveis da Amazônia, em municípios de criação recente, onde é utilizado principalmente em atividades vinculadas ao desmatamento.” Ainda de acordo com o estudo, as dinâmicas do trabalho escravo no território brasileiro estão normalmente articuladas com os movimentos das atividades econômicas presentes na frente pioneira da fronteira agropecuária, retratando um movimento de integração do “oeste” do país à economia nacional.” O atlas aponta as principais atividades econômicas em que os trabalhadores resgatados foram encontrados: 49% exercendo atividades voltados para os cuidados do pasto; 19,1% ligadas ao desmatamento, 12% às carvoarias e 11% ao plantio e à colheita.

núncia é comprovada, os trabalhadores são libertados, passam a ganhar imediatamente o seguro-desemprego e respondem um questionário. O Ministério Público do Trabalho entra então com um pedido de dano moral coletivo contra o empregador e é dada sequência ao processo criminal. Segundo Graziella, as condenações são muito poucas. Mas em termos de repressão econômica os efeitos têm sido bem sucedidos. O MTE atualiza de seis em seis meses o cadastro de empregadores que submeteram trabalhadores à condições análogas a de escravo – conhecido como lista suja. Eles pegam o nome, o CPF do proprietário e o CNPJ da empresa e divulgam. As informações são enviadas para a ONG Repórter Brasil, uma das grandes porta-vozes nacionais sobre o tema, para a OIT e para todos os bancos públicos e privados. As agências de financiamento não podem dar mais benefícios para empresas que estão na lista suja, ou seja, os proprietários

deixam de conseguir empréstimo. O impacto das restrições econômicas atinge toda a cadeia produtiva. - As empresas precisam se manter competitivas no mercado e então fazem um cálculo simples. Elas escolhem economizar no trabalhador para reduzir o custo do seu produto final. O produtor que escolhe pagar todos os direitos para seus funcionários vai ter necessariamente um produto mais caro. Então o intermediário escolhe o mais barato, correndo o risco que este viole os direitos trabalhistas de seus empregados, ou mesmo mantenha condições de trabalho análogas a escravidão, explica Gabriella. É comum que para manter-se a garantia da competitividade comercial para grandes multinacionais, que não se pague o custo real da mão de obra de um trabalhador que tenha seus direitos básicos garantidos na sua atuação profissional. A ONG Slave Footprint (Pegada Escrava) tenta medir, dentro da mesma lógica da pegada ambiental, a utilização de mão de obra escrava nos produtos que consumimos diariamente. A conclusão é que todos fazemos parte dessa cadeia produtiva que explora trabalhadores para ter acesso a bens materiais que vão de computadores e celulares à joias e roupas. Debater e promover o tema é por si só uma forma de estimular a sociedade a tomar consciência que o próprio funcionamento do atual sistema econômico depende da escravidão contemporânea da mesma forma que o sistema colonial mercantilista dependia da escravidão antiga.

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traรงo livre Por Paulo Marcelo Oz | Veja mais em: facebook.com/ozines

Por Carlos D Medeiros | Veja mais em: https://www.facebook.com/Fucalivro


Prefeito reeleito de Belo Horizonte, Mรกrio Lacerda mostra sua verdadeira face, Por Paulo Marcelo Oz (Belo Horizonte - MG) | Veja mais em: facebook.com/ozines


Por Chico Motta e Caio Amorim

*Improvável, mas não impossível.

News

As principais notícias do mês com dispensa de licitação

Reportagem por Carlinhos Cavendish

Racha do pcDOb REFUNDA ARENA Ex-Militante gaucha do PC do B, do PC do B, a estudante de direito Cibelle Bumbel, ou Lady Baginski como é conhecida nos círculos ocultistas, organiza racha interno e promete refundar a ARENA, partido de apoio ao regime militar.“A direita do Brasil é uma vergonha, sinto saudades da época ditadura” afirmou Cibelle, nascida em 1989. A estudante que se auto-intula neopagã, defende o retorno da monarquia no país, mas tem a humildade de não se reivindicar rainha, aceitando apenas o título de princesa. “Tenho medo das responsabilidades do cargo, reconheço que não vim de família nobre”, confessou-nos enquanto nos mostrava um pôster de Robert Pattinson, protagonista do filme Crepúsculo, na parede do seu quarto. Otimista, a jovem informou não estar sozinha. Grandes nomes do partido já anunciaram seu desligamento, entre eles Kátia Abreu, Ronaldo Caiado, Eike Batista, Luciano Huck, Nana Gouveia e Regina Duarte. Além desses nomes, a meio-elfa ranger rosa level 20, afirma contar com apoios da sociedade civil organizada, e dos movimentos sociais de luta, como a Marcha pela Família com Cristo e a TFP (Tradição Família e Propriedade).

Uma menina multifacetada

Escritora nas horas vagas, Cibelle que tem um livro publicado, diz ter como inspiração a saga Crepúsculo, Gossip Girls, a poesia parnasiana de Olavo Bilac e O Sítio do Pica-Pau Amarelo. Sobre a polêmica em relação ao racismo de Monteiro Lobato ela é enfá-

“Acabou o amor” - Cibelle nos mostrou com exclusividade suas fotos rasgadas com os ex-companheiros de partido. “Era discriminada só por defender o regime militar” - Reclama a jovem revolucionária

“A direita do Brasil é uma

vergonha, sinto saudades da época ditadura” afirmou Cibelle, nascida em 1989. tica: “Era um grande visionário, anteviu a ditadura Negro-Gay que se implementaria no Brasil. Afirmar que ele era racista é um absurdo, Tia Anastácia é o símbolo da coexistência pacifica entre as raças. Quando o negro reconhece o seu lugar todos saem ganhando. Não somos racistas!”

Os cabelos vermelhos e o piercing no lábio mostram um lado moderno e despojado que não ofusca a inteligência e sensatez da jovem conservadora. Ao contrário de estudantes baderneiros, não sai para beber em bares comunistas sujos, nem mesmo bebe ou usa

drogas, a não ser nos rituais pagãos que realiza junto à comunidade gótica, após campeonatos de Pokémon no pátio da faculdade. O nome Arena, inclusive, é inspirado no local onde são realizadas as lutas destas criaturinhas tão simpáticas que rechearam o imaginário conservador e fazem alegria da garotada de todas as idades no desenho animado japonês mais famoso entre os nobres senhores das forças armadas brasileiras desde a década de 60. Beneficiária de diversos programas sociais do governo federal como o prouni, reuni, reuni, fies, bolsa familia,


*ATENÇÃO: Essa seção é fictícia. Não levem a mensagem a sério. Apesar de hoje ter figuras como Aldo Rebelo, o PCdoB teve importante papel no combate à ditadura militar.

DANÇANDO PARA NÃO DANÇAR - "A gente tem que viver intensamente cada momento", diz a atriz, que após ter se filiado ao PCdoB com medo, diz que a sua decisão de deixar o partido para a ARENA é definitiva, sem medo, pois sabe o que esperar desse partido. Assista a essa linda cena no link abaixo: www.tinyurl.com/reginadanca

pac 1 e 2, minha casa minha vida, fome zero, luz pra todos, plano nacional de banda larga, rede cegonha, brasil sem miséria, brasil carinhoso, Programa de Volta para Casa, para pessoas com problemas psiquiátricos internadas há mais de dois anos, Cibelle afirma que é contra qualquer medida bolchevo-assistencialista que o regime comuno-lulista tem forçado o povo brasileiro a suportar. “Não sou beneficiária dos programas sociais, sou uma vítima deles” concluiu a estudante gaúcha que também lidera o movimento ariano pela justiça racial e contra as cotas nas universidades.

acidentais em favelas e a construção de castelos para abrigar militares de alta patente,não poderia ser escolhido melhor lugar para o encontro nacional do partido que o castelo de caras, em Nova York. A reunião que discutia o futuro do país contou com a presença de consultores da CIA, que aconselharam os alvissareiros fundadores do partido na sua empreitada épica.

Em relato transcrito na íntegra, a atriz e ativista Regina Duarte demonstra muito otimismo, a esperança parece ter vencido o medo: “Gente, estamos vivendo um momento maravilhoso no Brasil!! Finalmente, a direita tomou vergonha na cara e fundou um partido decente, sério, com ética e deMais Castelos e Menos Barracos terminado! Hoje, afirmo com convicção – Dançando para não dançar que posso dançar sem medo! Só moCom um projeto político arrojado mentos bons, maravilhosos, finalmenque defende um plano de incêndios te vamos libertar nossos índios dessa coisa atrasada que é uma vida digna e pacata, vamos levar a modernidade a eles tirando-os “Já estou preparando de um estilo de vida meu novo ensaio foneolítico. Os coitaditográfico sensual no desastre que o Arena nhos precisam ter um me prometeu. Tô louca Ipad, Iphone, néam? pra causar agora com Eles precisam saber o o tema tortura” - Diz que é essa maravilha. Nana Gouvêa, uma das Ai gente, estou tão dissidências que abanfeliz. Vocês não tem donou o antigo partido noção de como foi para integrar o Arena, que vem sensualizando deliciosa a reunião de em desastres por todo fundação da Arena no o mundo. Castelo de Caras aqui em Nova York. Afinal,

a gente precisa ficar fora do Brasil pra poder pensar direito, né meu amor? A Lady Bagingski, (aliás quem disse que os jovens de hoje em dia não são politizados hein!), foi fofíssima e serviu um belo banquete, tinha até caranguejo, que é uma coisa que eu adoro! E depois, um banda maravilhosa só tocando coisa fina, bossa nova, e eu não resisti, fui lá e dancei! A gente tem que viver intensamente cada momento, vamos brindar a vida meu bem! Vamos Dançar para não Dançar! Como diz a amiga Nana (Gouvêa), 2012 né gente, vamos ser feliz! Num guento mais esses chatos defendo o comunismo em pleno século XXI” De acordo com a assessoria, o encontro contou com diversas atividades como um workshop de métodos de tortura dado por agentes penitenciários de Guantánamo, além de treinos de tiro em um stand temático onde havia imagens de mendigos paulistanos no lugar de alvos. “Ajuda na motivação.” Comentou Baginski.

Com mais de 500 membros-fundadores, o novo partido deve ser oficializado assim que completar a coleta de assinaturas. Uma brisa de esperança renasce no cenário caótico que o comunismo tem levado o Brasil, a direita finalmente renasceu, mais forte, mais bela, e muito mais coerente. Referências: www.tinyurl.com/nanatwitter www.tinyurl.com/arenasul21 www.tinyurl.com/videoarena

www.tinyurl.com/videorafucko


passatempos virais Por Chico Motta e Caio Amorim

Guia de boas maneiras Conservadoras:

o jogo!

Chega o dia 21/12/2012 e Cibelle Baginsky tem menos de 3 horas pra entregar ao TSE as assinaturas que recolheu junto com Jair BolsoNAZI para registrar a ARENA e enfrentar a ditadura bolchevo-negro-gay que se está implementando no Brasil ameaçando a liberdade de expressão dos homens de bem. Entretanto, o caminho é traiçoeiro, ajude-a a ser fascista sem perder a pose ao enfrentar os terríveis inimigos que cruzarão seu caminho.

1) O carrinho lindo e maravilhosamente rosa de nossa Lady Baginski quebrou, e ela teve que pegar um metrô xexelento pra não chegar a tempo de entregar as assinaturas no TSE. Um rapaz negro sentou do lado dela, o que nossa princesa deveria fazer? a) Se coçar e se espremer no canto para não entrar em contato com a pele negra. b) Dizer que tem uma doença contagiosa e que está preocupada com a saúde dele. c) Sacar a sua .40 e dar dois tiros de advertência no peito do meliante. d) Levantar dizendo que não é racista, que raça nem existe, que até tem amigos negros, mas querer frequentar o mesmo metrô aí já é abuso, chama as autoridades e o coloca para fora por estar impedindo a sua liberdade de expressão do racismo.

2) Ao saltar do metrô, começa a ouvir ruídos na rua,. Jovens gritam: “Vem, vem pra luta vem!” MEU DEUS! Eram comunistas sujos e fedorentos! O que nossa donzela deve fazer? a) Procura desesperadamente, em sua bolsa Prada, seu spray de pimenta para dispersar esses baderneiros que, com seus rostos sujos, estavam agredindo o batalhão de choque danificando os cassetetes recém-comprados. b) Ao mesmo tempo em que tira o saco plástico de sua linda necessaire Louis Vitton, liga para o BOPE e chama o Capitão Nascimento pra dar uma lição de moral, distribuir bofetões e dizer “São vocês que financiam essa merda!” c) Exercendo seu direito à liberdade de expressão e religião, desenha um pentagrama wicca no chão com sangue dos comunas safados, evocando os espíritos mais sagrados do regime militar: Fleury e General Newton Cruz pra dar um jeito nesses subversivos!

3) Malditas feministas! Não bastasse todo o transtorno que Cibelle enfrentou (classe média sofre!!), agora ela dá de cara com uma passeata feminista chamada “Marcha das Vadias”. O que ela deve fazer?


6) Mas será possível?? Correndo para chegar ao encontro estadual de formação do ARENA, a querida Lady Baginski encontra um mendigo bem na porta do TSE pedindo esmolas. Assim não dá? O que nossa dondoca deve fazer? a) Seguindo o conselho da amiga Dani Schwery, do PSDB, (veja aqui - www.tinyurl.com/danipsdb) convoca um padre para curar esse vagabundo. Depois de curado, ela faz outra boa ação: pede o currículo dele e se oferece para colocá-lo na internet. Afinal, o indigente só não tinha emprego, porque não queria. b) Chama a assistência social para, compulsoriamente, recolher e acolhê-lo. Se ele resistir, não medir esforços, aplicar choques elétricos e suaves bordoadas para que a ordem a moral se reestabeleçam. c)

Finge que não viu, aperta o passo e olha reto, para entrar sem ser abordada pelo pedinte. d) Olha para os quatro cantos para se certificar de que ninguém irá reprimir sua liberdade de expressão, e, como jovem politizada que é, cospe no sujeito, como forma de expressar sua indignação contra a miséria.

5) “Somos todos Guarani-Kaiowá” - grita um grosseiro índio selvagem, que fazia um protesto no centro da cidade, pra nossa lindinha. Será que não existem mais modos hoje em dia? Também o que esperar de um selvagem, né? O que Lady Baginski deve fazer? a) Por achar que se tratava de um mendigo, exerce sua liberdade de expressão, e, após enxarcá-lo de álcool, arremessa seu isqueiro Zippo, edição especial “Keep Calm, and burn on, bitch!” no indigente. b) Oferece um espelinho maravilhoso de maquiagem da Nina Ricci em troca de seu silêncio. c) Demonstra todo seu lado generoso e faz um ato magnífico de caridade, doando seu Ipad, Iphone e Ipod para o selvagem, retirando-o de um estilo de vida completamente atrasado.

4) Ufa! Cibelle se desvencilha das feministas nojentas. Mas epa! A a) Gritar que elas são assassinas, pois matam a sangue-frio o feto de até 3 meses ao fazer aborto! b) Chamar o deputado federal Jair Bolsonaro para que façase a lei, expresse sua misoginia, xingue e prenda todas as manifestantes por atentado ao pudor c) Gritar que são vadias mesmo e que merecem ser estupradas. d) Chamar o departamento de trânsito, dizer que defende o direito de livre manifestação, mas que é um absurdo que as feminstas façam o protesto na rua, pois lugar de protesto é no facebook!

moçoila dá de cara com uma cena chocante! Um casal gay! Mas, espere, ainda em mais! Eles têm um filho!!! O que ela deve fazer para acabar com essa pouca-vergonha? a) Oferecer um iphone edição crepúsculo pro casal pra eles trocarem pela criança, por que gay é tudo fútil mesmo né? b) Convocar um psicólogo para cura-los do homossexualiSMO. c) Chamar um assistente social pra retirar a criança do casal, pois obviamente a criança está indefesa no meio dessa sem-vergonhice.

Se você acertou todas as respostas, você ajudou Cibelle a, no dia 21/12/2012, refundar o glorioso partido dos homens de bem da pátria. PARABÉNS!

Respostas: 1) letra D | 2) letra A | 3) letra D | 4) letra C | 5) letra C | 6) letra D


35 anos

Educação Estadual

Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro

na luta!

Veja a lógica dos ataques do governo Cabral contra a Educação: - O atual secretário estadual de Educação , Wilson Risolia, é um economista e, não, um educador. Ele já chegou à Secretaria de Estado de Educação (SEEDUC) com o objetivo de implementar uma lógica economicista, por meio da consolidação da Meritocracia. - A SEEDUC fechou dezenas de escolas desde o início do ano. - Para acelerar as aprovações e enxugar gastos com salários, a SEEDUC criou o Projeto Autonomia, onde apenas um professor leciona todas as matérias. - A SEEDUC quer trocar o nosso reajuste por um bônus. É o projeto de Certificação, que prevê até R$ 4 mil de bônus no caso de aprovação em exames anuais. Para isto, o governo anunciou que dispõe de R$ 100 milhões, valor menor do que o gasto com o Nova Escola. Isto fará com que fiquem de fora mais de 50 mil professores da ativa, cerca de 40 mil aposentados, 16 mil funcionários administrativos e 400 animadores culturais. - Risolia fez uma parceria com o Banco Mundial (BIRD), para colocar avaliadores para supervisionar os professores em sala de aula e medir a sua “eficiência”. - A Lei Orçamentária Estadual para 2013 não prevê reajuste para os educadores. - Cabral enviou uma Ação de Inconstitucionalidade (ADIN4782) para o STF para acabar com os triênios dos servidores. - Distribuiu milhares de livros de auto-ajuda a um custo não revelado para todos os professores. - As escolas continuam sem eleição direta para diretores.

Calendário da Rede Estadual: Dia 23 de fevereiro: Todos à assembleia geral da rede estadual! Fique atento e participe da luta contra os ataques de Cabral e Risolia!

www.seperj.org.br


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