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Edição 36 da Revista Vírus Planetário Março/Abril 2015
Com conteúdo:
MEDIA + FAZENDO
Capa: Ilustração de Carolina Porfírio
EXPEDIENTE: Rio de Janeiro: Alexandre Kubrusly, Ana Chagas, André Camilo, Artur Romeu, Bruna Barlach, Bruno Costa, Caio Amorim, Camila Medeiros, Camille Perrisé, Chico Motta, Débora Nunes, Diego Novaes, Fernanda Alves, Gustavo Ferreira, Joyce Abbade, Julia Campos, Laura Ralola, Leandro Santos, Mariana Moraes, Raoni Tenório, Regina Gomesas, Thais Linhares e Vinicius Almeida | São Paulo: Ana Carolina Gomes, Duna Rodríguez, Gustavo Morais, Hamilton Octávio de Souza, Jamille Nunes, Jéssica Ipólito, Lu Sudré, Marcelo Araújo | Brasília: Alina Freitas e Thiago Vilela | Minas Gerais: Ana Malaco | Ceará: Caio Erick, Joana Vidal, Livino Neto e Lucas Moreira | Piauí: André Café, Nadja Carvalho e Sarah Fontenelle | Paraná: Elisa Riemer e Tiago Silva | Mato Grosso do Sul: Bárbara de Almeida, Eva Cruz, Fernanda Palheta, Jones Mário, Marina Duarte, Rafael de Abreu e Tainá Jara | Rio Grande do Sul: João Victor Moura, Maiara Marinho e Rafael Balbueno Diagramação: Caio Amorim
Conselho Editorial:
Adriana Facina, Amanda Gurgel, Ana Enne, André Guimarães, Claudia Santiago, Dênis de Moraes, Eduardo Sá, Gizele Martins, Gustavo Barreto, Henrique Carneiro, João Roberto Pinto, João Tancredo, Larissa Dahmer, Leon Diniz, MC Leonardo, Marcelo Yuka, Marcos Alvito, Mauro Iasi, Michael Löwy, Miguel Baldez, Orlando Zaccone, Oswaldo Munteal, Paulo Passarinho, Repper Fiell, Sandra Quintela, Tarcisio Carvalho, Virginia Fontes, Vito Gianotti e Diretoria de Imprensa do SEPE-RJ
Parceiro:
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A Revista Vírus Planetário - ISSN 2236-7969 é uma publicação da Malungo Comunicação, Editora e Comércio de Revistas com sede no Rio de Janeiro. Telefone: 21 3502-7877
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DDH
contra a desigualdade
Afinal, o que é a Vírus Planetário?
Acredite num jornalismo pela diferença,
Muitos não entendem o que é a Vírus Planetário, principalmente o nome. Então, fazemos essa explicação maçante, mas necessária para os virgens de Vírus Planetário: Jornalismo pela diferença, não pela desigualdade. Esse é nosso lema. Em nosso primeiro editorial, anunciamos nosso estilo; usar primeira pessoa do singular, assumir nossa parcialidade, afinal “Neutro nem sabonete, nem a Suíça.” Somos, sim, parciais, com orgulho de darmos visibilidade a pessoas excluídas, de batalharmos contra as mais diversas formas de opressão. Rimos de nossa própria desgraça e sempre que possível gozamos com a cara de alguns algozes do povo. O bom humor é necessário para enfrentarmos com alegria as mais árduas batalhas do cotidiano. O homem é o vírus do homem e do planeta. Daí, vem o nome da revista, que faz a provocação de que mesmo a humanidade destruindo a Terra e sua própria espécie, acreditamos que com mobilização social, uma sociedade em que haja felicidade para todos e todas é possível. Recentemente, unificamos os esforços com o jornal alternativo Fazendo Media e Revista o Viés de Santa Maria (RS) nos tornamos um único coletivo e uma única publicação impressa. Seguimos, assim, mais fortes na luta pela democratização da comunicação para a construção de um jornalismo pela diferença, contra a desigualdade.
Editorial
sumárioda edição completa
V
amos falar de construir, de trabalho coletivo. Da história de uma revista que, há 36 edições, resiste. A cada nova edição trazendo para o(a) s leitore(a)s uma alternativa real ao que se vê nas bancas e na TV. Trazendo uma outra visão de mundo, concernente com um projeto de sociedade que seja justo, onde a barbárie não seja a tônica.
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Hamilton Octávio de Souza_ Esquizofrenia de um país sem projeto de desenvolvimento
6 Diálogos_Conjuntura Política do Brasil 9 Sórdidos Detalhes 10 Fazendo Media_Propagando a
A história da Vírus - construindo e mostrando que é sim possível fazer outra forma de jornalismo que represente aos interesses das minorias - tem grandes semelhanças com a luta das mulheres pela sua emancipação e resistência num mundo que lhes nega a humanidade. Também por isso que, sempre que passamos pelo mês de março, voltamos nosso olhar para as perspectivas da luta feminista. Não que não pautemos o combate ao machismo (e contra todas as formas de opressão) todos os dias, mas cada mês de março analisamos o último ciclo anual. É verdade: o feminismo cresce. Cresce não só nas redes sociais, cresce nas ruas, nos movimentos sociais, nos partidos de esquerda, nas universidades e também nas fábricas. Ainda que cresça, encontra a resistência ferrenha do machismo, em ataques cada vez mais violento contra as mulheres em todos os âmbitos, desde a política até às ruas. Crentes da ideia de que é possível resistir e que é preciso vencer, nesta edição, abordamos um outro aspecto do feminismo e da luta: as mulheres que se armam para defender suas vidas e suas comunidades. Longe de defender a guerra como único caminho, no entanto perto da crença de que essa resistência e luta é fundamental quando os jogos são impostos pelos homens e pelo patriarcado, saudamos as mulheres guerreiras, guerrilheiras, batalhadoras, de luta, na luta. Na realidade ou na ficção, porque representatividade importa. “Sabendo que era possível, foi lá e fez”. Façamos!
Opressão
12 Entrevista Inclusiva_Maria Clara Araújo 15 Direitos Humanos_ Para Que nunca se esqueça, para que nunca mais aconteça!
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CAPA_Feminismo_Lute como uma mulher!
23 Bula Cultural_Indicações e contra 24 Bula Cultural_Vai ter quadrinista mulher, sim!
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Luciane Soares_”Vamos Combinar”, nbão deu certo. é preciso acabar com as UPPs no Rio de Janeiro
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HAMILTON
OCTAVIO DE SOUZA Hamilton é jornalista, professor na Pontifícia Univerdade Católica de São Paulo (PUC-SP) e membro da equipe da Revista Vírus Planetário
ESÍS DE UM PA I QU SEM ZODE PROJETO E FR O T N E M I V L DESENVO NIA As crises econômica e política tendem a se agravar com mais arrocho salarial, aumento do desemprego e a falta de credibilidade nas instituições, partidos e políticos Ilustrações: Ribs - facebook.com/matheusribsoficial
A
s manifestações de 13 e 15 março, em defesa e contra o governo Dilma Rousseff, mostraram tão somente a ponta do iceberg do descontentamento geral na sociedade brasileira. De um lado, uma manifestação contra o impeachment da presidente, mas fortemente também contra as medidas econômicas da atual gestão, em especial dos inúmeros cortes nos programas e benefícios sociais. De outro lado, o descontentamento das classes médias ampliadas, principalmente contaminadas e indignadas pelas inúmeras denúncias e processos de corrupção. Para se dimensionar a gravidade da crise atual faz sentido estabelecer uma comparação com as duas situações da maior gravidade na embrionária democracia brasileira: a crise do mensalão, em 2005, quando o governo Lula ficou desarvorado e quase foi à lona; e o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992, quando manifestações massivas das classes médias e dos movimentos sociais de esquerda, muitos deles influenciados pelo PT, provocaram a renúncia do presidente. O quadro atual é muito mais caótico e desmantelado do que a situação na época do Collor. Agora todas essas forças sociais e políticas também foram para as ruas, mas em campos diferentes e antagônicos. Em 1992, a substituição do “Caçador de Marajás” se deu com o apoio da grande imprensa, das instituições e com partidos estruturados e prestigiados. Itamar Franco assumiu com amplo apoio do PMDB e do PSDB, e com a simpatia da sociedade. Convidado, o PT não quis participar do governo, mas não jogou força na oposição pela oposição. A saída de Collor abriu caminho para a eleição de Fernando Henrique Cardoso em 1994 e a escalada do PT para emplacar Lula oito anos depois, em 2002. Os partidos – vitoriosos e derrotados – estavam preservados. Agora o escândalo da Petrobras atinge duramente os partidos de sustentação do governo, especialmente o PT. Outros escândalos, como os dos trens, em São Paulo, e do mensalão mineiro, atingem também duramente o PSDB e outros partidos. O povo, nas ruas, destila ódio e nojo aos partidos e aos políticos; nas últimas eleições, em 2014, mais de 30% dos eleitores não votaram em nenhum candidato a presidente, ficaram no branco, no nulo e na abstenção. A desmoralização do sistema representativo atinge as pessoas de maneira esquizofrênica, pois alimenta o desânimo e a apatia e ao mesmo tempo provoca a ira e o protesto despolitizado. A crise de agora começa a atingir duramente a grande base da pirâmide social, justamente as faixas mais baixas de renda que se beneficiaram com as políticas sociais dos governos Lula e Dilma, favorecidos pelo forte crescimento da China. O país conseguiu segurar a onda porque o Estado despejou rios de recursos públicos nos setores produtivos para evitar a recessão e o desemprego, como aconteceu nos Estados Unidos e na Europa. A fórmula mágica, que o petismo denominou euforicamente de “neodesenvolvimentismo”, não passou de um sonho de verão, acabou varrido do cenário nacional em
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Sem mobilização e luta as classes trabalhadoras vão sofrer nos próximos meses o verdadeiro massacre patrocinado pelo capitalismo”
2014 – que fechou as contas com o ridículo PIB de 0,1%, sem avanços na redução das desigualdades. Encurralado pela direita no seu “neodesenvolvimentismo”, o segundo governo Dilma desistiu de tentar alternativas ao modelo neoliberal, e, ao contrário, optou pelo retrocesso ao mesmo modelo ortodoxo que destruiu a economia nacional de Collor a FHC, quando o país sofreu a mais brutal desindustrialização e desnacionalização, a mais cruel retirada de conquistas e direitos das classes trabalhadoras. Agora, enquanto o homem mais poderoso do Brasil – Joaquim Levy – opera, a serviço dos bancos e do capital especulativo, a nova onda de dilapidação do patrimônio nacional, as centrais sindicais, os movimentos sociais e os partidos de esquerda enfrentam terrível paralisia política – estão sem projetos capazes de conquistar as ruas e dar outro rumo para o desenvolvimento do Brasil. Sem mobilização e luta as classes trabalhadoras vão sofrer nos próximos meses o verdadeiro massacre da serra elétrica patrocinado pelo capitalismo. O momento exige a imediata retomada da nucleação e da formação política, a união de todos contra a selvageria do capitalismo. O momento exige a construção de amplas redes de resistência e de luta nas fábricas, nas escolas e nos bairros populares do país. Sem luta não há conquista!
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FAZENDO
MEDIA Abril de 2015 | Ano 12 | Número 119 | www.fazendomedia.com | contato@fazendomedia.com
a média que a mídia faz
d n a g a p o r P
A OPRESSÃO
a luta contra o machismo da publicidade Por Camila Medeiros O machismo está infiltrado em todas as áreas da sociedade. Por isso não é de se surpreender que nossos livros, filmes e propagandas estejam também recheados de opressão. Ora a mulher é tratada como objeto de decoração, ora como única interessada nas tarefas domésticas ou única responsável pelos filhos; também como aquela pessoa que só encontra prazer no consumo desenfreado ou, ainda, como super mulher, aquela que desempenha mil papéis durante o dia - o que, vamos combinar, não tem nada de romântico e por trás dessa imagem há sempre uma mulher desamparada por alguém (normalmente, um homem) que não está assumindo suas obrigações. Sendo assim, a publicidade ressalta hoje tudo aquilo contra que nós, feministas, lutamos e, para piorar, a justificativa na maior parte das vezes é de que “é apenas humor”. E é sob essa justificativa que o CONAR, Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, responsável por regular a publicidade no Brasil, arquiva denúncias e permite a circulação de várias propagandas machistas. Fazer humor, reforçando esteriótipos, não tem nada de inovador e criativo e qualquer um pode fazer. A qualidade da publicidade se mostra justamente quando são capazes de fazer algo divertido sem oprimir ninguém. Somos incentivadas a sermos consumistas desde criancinhas o tempo todo e, quando crescemos, esse mesmo consumismo vira alvo de piada na propaganda: a 6
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mulher descontrolada que não consegue parar de comprar, que depende do cartão de crédito do marido. O Kinder Ovo rosa com bonequinhas e panelinhas aparece na televisão com apenas meninas abrindo - e felizes. O lugar da mulher é delimitado claramente pela publicidade, desde criança! O espaço da mulher é o lar, e os filhos e as tarefas domésticas são suas obrigações. Seu lazer? Gastar dinheiro, que é retratado como o dinheiro do marido, claro. Não nos sentimos contempladas! Não nos sentimos representadas! E o problema vai além de limitar os gostos e atividades (o que já é bem sério): em 2014, o Ministério da Justiça lançou uma campanha com o intuito de diminuir o uso do álcool com o nome de “Bebeu, perdeu”, que incentiva a cultura do estupro. A partir do momento em que a mulher bebe, ela não pode reclamar, não pode negar? Pois é assim que funciona a cultura do estupro: a culpa passa a ser da mulher, porque bebeu (ou estava de roupa curta etc). Nada faz com que a mulher perca o direito de dizer não, mas a publicidade do Ministério da Justiça diz ao público justamente o contrário. Enquanto feministas passam dias e dias lutando contra a culpabilização da vítima, acolhendo mulheres vítimas de estupro, vem uma publicidade com um alcance enorme e reforça esse pensamento pavoroso. Em tempo, após vários questionamentos, o governo retirou os vídeos e imagens do ar. Sendo otimistas: muita felicidade saber que houve tantos questionamentos assim. Ainda na linha desastro-
sa da cultura do estupro, nesse carnaval teve a campanha da Skol “Esqueci o ‘não’ em casa” - que contou com a personalização nos outdoors com fita isolante “E trouxe o nunca”, feita por mulheres indignadas, seguida de mais uma vitória feminista quando após muita repercussão a campanha foi retirada pela Skol, que se retratou. Se formos à origem do problema, veremos que ele começa nas agências de publicidade quando analisamos a pesquisa “A mulher publicitária, preconceito e espaço profissional: estudo sobre a atuação de mulheres na área de criação em agências de comunicação em Curitiba” , realizada em 2009, que conclui que as mulheres correspondiam a menos de 20% nas áreas de criação. Além da maioria dos criadores ser composta de homens, existe o fato de que as mulheres que trabalham nessa área muitas vezes sofrem pressões diversas e acabam sendo obrigadas a reproduzir essas campanhas para não perder o emprego. Então, o problema está na criação, mas como podemos contribuir com isso se não somos publicitários? Há pouco tempo, a assessoria de imprensa do CONAR emitiu a seguinte frase em entrevista à revista Publica: “Não existem muitos casos de propagandas machistas no Brasil, porque a publicidade brasileira é madura para perceber que a pior coisa que pode fazer é irritar o consumidor, seja ele mulher, homem ou criança”. Essa frase nos leva a crer que eles nem sabem ou percebem a quantidade de publicidade machista e opressora que está por todos os lados. Acreditamos que uma mudança só seja possível pressionando! Nós da Vírus nos comprometemos em denunciar toda publicidade machista que encontrarmos e divulgar no Facebook para que o máximo número de pessoas possa denunciar também. Vamos pressionar o CONAR e mostrar para as agências que publicidade machista não passará!
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Somos incentivadas, o tempo todo, a sermos consumistas. desde criancinhas”
Arte de Elisa Riemer
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ENTREVISTA INCLUSIVA:
O J Ú A R A A R A L MARIA C vai ter travesti na universidade sim!
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Confira a entrevista na edição completa digital ou impressa
Bula cultural
algumas recomendações médico-artísticas
VAI TER QUADRINISTA Já tá tendo! As minas das tintas e palavras na luta e resistência contra o machismo e pela representatividade das mulheres. Ilustração de Lila Cruz. - facebook.com/ colorlilas
MULHER, SIM! Por Bruna Barlach Entre linhas e palavras, as mulheres têm rompido mais uma barreira, conquistando o espaço no mundo dos quadrinhos. Com iniciativas autônomas ou metendo a cara nesta machista indústria que tem por costume ignorar suas leitoras, e também as artistas, os quadrinhos feitos por mulheres estão na pauta do dia. E essa explosão parece que veio pra ficar. Criadora do projeto Zine XXX, Beatriz Lopes relata que, no final de 2014 resolveu se emancipar totalmente de qualquer “brother” de maneira que seus projetos serão todos realizados com mulheres e para mulheres. Isso depois de ter passado alguns anos tentando ser reconhecida pelos homens quadrinistas como parte deste clube e tendo como resposta da parte deles ofensas machistas, abusos morais e a certeza de que, sendo mulher, jamais pertenceria aquele clube. A decisão da quadrinista retrata bem este movimento que surge de mulheres construindo seu espaço com outras mulheres, para outras mulheres.
CONTRA O VELHO MACHISMO NOS QUADRINHOS, PELAS MINAS “O que mais me incomoda ainda é a predominância de autores masculinos nas mostras, nos debates e mesas de discussão. E nem é porque não há autoras.”- exclama Lila Cruz, jornalista e quadrinista que trabalha também com assessoria em projetos criativos.
Ilustração de Rebeca Prado - facebook.com/incbeca
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Rebeca Prado diz que “Muita gente ainda não acredita que as mulheres vieram pra ficar.” Como outras artistas desta área, Rebeca publica em sua página no facebook. Mas também faz coletâneas impressas demonstrando que a tônica deste momento dos quadrinhos, principalmente os independentes, é unir o virtual e o material. Caminho este que foi seguido com maestria pelas minas do Zine XXX, uma publicação coletiva que conseguiu através da internet unir colaboradoras de todo o país dentro da proposta de construir uma publicação de minas, para as minas. O projeto, como muitos outros, saiu da virtualidade através de um financiamento coletivo e materializou-se em publicação em 2014.
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O que mais incomoda ainda é a predominância de autores masculinos nas mostras e debates”
Por Thais Linhares
ORGANIZANDO AS INFORMAÇÕES Interessadas em toda esta movimentação, as mulheres do Lady’s Comics estão criando o “Banco de Mulheres Quadrinistas”, o BAMQ. A ideia é fazer um levantamento de todas as mulheres que trabalham na criação de quadrinhos, sejam artistas, roteiristas, coloristas, arte-finalistas, chargistas e etc. Se você quiser conhecer o projeto ou contribuir, tem mais informações no site www.ladyscomics.com.br/bamq. Quem são essas mulheres também é um dos interesses de Raquel Vitorelo que além de produzir seus quadrinhos encabeçou um documentário sobre mulheres artistas, o “Mulheres Desenhadas”. Disponível no Youtube (www.bit.ly/muldesen) o documentário fala da trajetória da própria artista e de outras mulheres. Esta matéria não se fecha aqui. Eu que também sou mulher e quadrinista, testemunho com os pelos eriçados e o coração entoando uma melodia de vitória este momento. E muitas outras matérias sobre mulheres artistas virão nas nossas próximas edições e também no site da Vírus. Ilustração de Thais Linhares
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