Edição 17 Vírus Planetário completa

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VÍRUS Porque neutro nem sabonete, nem a Suíça

R$5 edição nº 17 setembro/ outubro 2012

PLANETÁRIO

Unidade de Polícia Pacificadora

LIBERDADE VIGIADA? Por que apenas trocar de mãos as armas não resolve os problemas nas favelas do Rio de Janeiro.

A Cultura além do espetáculo Mostramos uma série de iniciativas de coletivos independentes de arte e intervenção político-cultural. ISSN 2236-7969

R$ 5,00

Uma reflexão sobre a democracia para além do voto

nº17

A participação popular na política


Enquanto isso, na sala de injustiça, o ministro de minas e energia, edison lobão já

e o ss o e sileir m o a C br ... o uxa pové tro

está anunciando que o próximo leilão do petróleo brasileiro está próximo de acontecer...

Aê to Gale bl oc do m era, os und te te de o! S m pr a rr pet ão ae 1 r no óle 74 ma o, n r! a

...os empresários brasileiros e estrangeiros já começam a juntar a merreca pra comprar mais poços e ganhar muito mais dinheiro

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vuuummm

Ma õõÊE ! Quem Quer pe tróleo? Entretanto, algo não esperado por lobão e seus comparsas ainda pode acontecer: O povo brasileiro tem que se mobilizar e Exigir:

“o petróleo tem que

ser nosso!”

Olha o desespero do lobão quando notar que seus planos diabólicos irão por água abaixo...

E aí??? Quer que essa história tenha um final feliz? Então, participe da campanha

Em defesa do projeto dos movimentos sociais para o petróleo, com monopólio estatal, Petrobrás 100% pública e investimento em energias limpas. Acompanhe a campanha e outras notícias na

Notícias da campanha: www.apn.org.br Participe do abaixo-assinado: www.sindipetro.org.br

organização:


traรงo livre

Por Carlos D Medeiros | Veja mais em: facebook. com/Fucalivro

Por Vitor Vanes Veja mais em www.vitorvanes.blogspot.com


o i e r l r a o r C Vi

Eduardo Oliveira de Carvalho: Não entendi porque titubearam sobre o governo Ahmadinejahd. Será que a culpa da ditadura é só do Aiatolá? Não dá pra ter dúvidas sobre o governo do Irã. Uma revista que diz defender os oprimidos não pode ter dúvidas sobre o governo do Irã. Nem muito menos fazer o governo do Irã como bode expiatório para uma disputa com a grande mídia.

>Envie colaborações (textos, desenhos, fotos), críticas, dúvidas, sugestões, opiniões gerais e sobre nossas reportagens para contato@virusplanetario.net

Errata: A primeira foto da página 34 na edição anterior (número 16), que ilustra a entrevista inclusiva com a Cia Revolucionária Triângulo Rosa é de autoria de Paula Rafiza. Pedimos desculpa pelo fato de não termos dado os créditos, pois as fotos nos foram cedidas pela Cia Triângulo Rosa, entrevistada.

Queremos sua participação!

Afinal, o que é a Vírus Planetário? Muitos não entendem o que é a Vírus Planetário, principalmente o nome. Então, fazemos essa explicação maçante, mas necessária para os virgens de Vírus Planetário: Jornalismo pela diferença, não pela desigualdade. Esse é nosso lema. Em nosso primeiro editorial, anunciamos nosso estilo; usar primeira pessoa do singular, assumir nossa parcialidade, afinal “Neutro nem sabonete, nem a Suíça.” Somos, sim, parciais, com orgulho de darmos visibilidade a pessoas excluídas, de batalharmos contra as mais diversas formas de opressão. Rimos de nossa própria desgraça e sempre que possível gozamos com a cara de alguns algozes do povo. O bom humor

é necessário para enfrentarmos com alegria as mais árduas batalhas do cotidiano. O homem é o vírus do homem e do planeta. Daí, vem o nome da revista, que faz a provocação de que mesmo a humanidade destruindo a Terra e sua própria espécie, acreditamos que com mobilização social, uma sociedade em que haja felicidade para todos e todas é possível. Recentemente, inauguramos um Conselho Editorial (nomes abaixo) com integrantes de movimentos sociais e intelectuais que referendam e apoiam a revista.

EXPEDIENTE: Rio de Janeiro: Aline Rochedo, Artur Romeu, Caio Amorim, Felipe Salek, Ingrid Simpson, José Roberto Medeiros, Julia Maria

Ferreira, Maria Luiza Baldez, Mariana Gomes, Miguel Tiriba, Noelia Pereira, Renata Melo, Rodrigo Teixeira, Seiji Nomura e William Alexandre | Campo Grande (MS): Marina Duarte, Rafael de Abreu, Tainá Jara, Daniel Lacraia, Jones Mário e Fernanda Palheta | Brasília: Alina Freitas, Ana Ribeiro Malaco, Mariane Sanches, Luana Luizy, Tais Koshino e Thiago Vilela Diagramação e projeto gráfico: Caio Amorim e Mariana Gomes Ilustrações: Rio de Janeiro: Vitor Vanes (vitorvanes.blogspot.com. br), Carlos Latuff e Carlos D. Medeiros Revisão: Bruna Barlach Colaborações: Chico Motta Foto Capa: Complexo do Alemão onde recentemente foi instalada uma UPP - foto por Maria Buzanovsky (mariabuzanovsky.com.br)

Conselho Editorial:

Adriana Facina, Amanda Gurgel, Ana Enne, André Guimarães, Carlos Latuff, Claudia Santiago, Dênis de Moraes, Eduardo Sá, Gizele Martins, Gustavo Barreto, Henrique Carneiro, João Roberto Pinto, João Tancredo, Larissa Dahmer, Leon Diniz, MC Leonardo, Marcelo Yuka, Marcos Alvito, Mauro Iasi, Michael Löwy, Miguel Baldez, Orlando Zaccone, Oswaldo Munteal, Paulo Passarinho, Repper Fiell, Sandra Quintela, Tarcisio Carvalho, e Virginia Fontes e Vito Gianotti

Siga-nos: twitter.com/virusplanetario Curta nossa página! facebook.com/virusplanetario

www.virusplanetario.com.br

Anuncie na Vírus: marketing@virusplanetario.net #Impressão: Print Express #Tiragem: 2.500 exemplares

COMUNICAÇÃO E EDITORA A Revista Vírus Planetário - ISSN 2236-7969 é uma publicação da Malungo Comunicação e Editora com sede no Rio de Janeiro


Editorial

Sumário

Democratizando a democracia

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Sorrisos em cartazes, ‘defensores do povo’ pra lá, ‘salvadores da pátria’ pra cá e a gente no meio, zonzos. Com jingles de Naldo, Michel Teló e tudo quanto é músico que esteja à mesa, as eleições invadem a gente sem querer saber quem é rei ou maltrapilho – desde que traga a salvo o bendito título de eleitor. Estamos convocados a passar a tocha para que uns ou outros liderem à frente. Evidente que não podemos ignorar que através do voto, alguns candidatos podem fazer a diferença para o povo e os movimentos sociais. Ainda assim, é triste que esta seja a interpretação que se dá à democracia nos nossos tempos: que o poder ‘emana’ do povo para seus representantes e não que o poder deve estar nas mãos do povo. Em altos brados, políticos defendem suas propostas e se vangloriam de suas realizações. Nesta edição, damos destaque a um dos projetos mais polêmicos do Rio de Janeiro e, com a possível exportação do modelo, do Brasil: as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Entrevistamos moradores do Salgueiro e especialistas no assunto para falar sobre o projeto de maneira geral e a situação da UPP do Salgueiro em particular. Por um lado, as opiniões dos entrevistados refletem o alívio com a diminuição dos tiroteios, mas reclamam contra a continuidade do controle armado do cotidiano – mas agora feito pela polícia. Com a resolução 013, por exemplo, a polícia passa a poder gerenciar a cultura na região, instituindo proibição a alguns tradicionais bailes funk. Além disso, a valorização das casas e dos serviços acaba causando uma espécie de ‘remoção branca’, que acaba forçando moradores antigos a migrarem para outras áreas. As opiniões sobre o projeto são controversas, diferente do mar de rosas que se costuma apresentar nas campanhas eleitorais. Negando a falsa ideia de que votar uma vez a cada dois anos signifique ‘participação popular’, preparamos uma reportagem em que entrevistamos intelectuais e militantes sobre os limites que o nosso sistema político e econômico colocam para a democracia e como mudar esse quadro. Todos concordaram que o contexto é ‘limitado’, mas cada um fez diversas propostas, desde mecanismos de participação como sindicatos, conferências públicas e mecanismos de pressão até ideias como a da ‘não-participação’. Ainda nesta edição: espaços culturais para além do espetáculo e do grande mercado, a marcha patriótica da Colômbia e uma entrevista com a pesquisadora Nelma Gusmão, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Regional da UFRJ, sobre como os megaeventos estão sendo usados para impor um modelo de cidade para o Rio de Janeiro.

Internacional_Uma Colômbia em Marcha

8 Bula Cultural 9

Bula Cultural_CD Pedras e Sonhos - El Efecto

10 Bula Cultural_Mate com Angu 12 Bula Cultural_A cultura para além do espetáculo

15 Sórdidos detalhes 16 O sensacional repórter sensacionalista

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Sociedade_1+1+1+1+1... e o poder do povo

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CAPA_Rio de Janeiro_ As vozes que a UPP não escuta

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Brasília_Noroeste, terra sagrada ou vendida?

28 Entrevista Inclusiva_Nelma Gusmão 32

Movimentos Sociais_ Por terra, território e dignidade

35

O sensacional repórter sensacionalista


internacional

marcha

Camponeses, trabalhadores, indígenas e estudantes se articulam num movimento por paz e justiça social

Por William Alexande O mês de abril viu nascer nas ruas da capital colombiana um movimento que pode mudar os rumos da política em nuestra América: a Marcha Patriótica. Composta por movimentos sociais, organizações populares, sindicatos e partidos de esquerda, ela é uma tentativa de se construir uma solução política pacífica para o dramático conflito social e armado que assola o país há mais de meio século. Sérgio Quintero e Juan Tapiro, colombianos, estudantes da UFRJ e organizadores do movimento no Brasil, conversaram conosco e explicaram como a Marcha funciona. “Há muitos processos em curso na Colômbia atualmente, de indígenas, de jovens, de Direitos Humanos. A Marcha Patriótica surge da necessidade de se juntar, num movimento político, essas forças que estavam dispersas na sociedade”, explica Sérgio. Esse processo começou em 2010 e se consolidou em 2012, numa marcha que levou às ruas cerca de 80 mil pessoas, promovendo debates e atividades culturais. 6

Vírus Planetário - SETEMBRO / OUTUBRO 2012

Embora o nome possa sugerir, esse não é um movimento nacionalista, a Pátria que se busca é aquela mesma sonhada por Simon Bolivar, “Nossos países não podem ser pensados isoladamente, eles estão interligados politicamente, então a libertação não deve ser apenas a do povo colombiano, mas de todos os povos latino-americanos”, diz Juan. O movimento atualmente está presente em todos os 32 estados do país, e organizado em “Conselhos Patrióticos” em quase todos eles. Sua estrutura democrática – cada organização participante tem dois delegados no Conselho Patriótico Nacional – e sua pluralidade definem um patamar de unidade inédito entre as classes populares. A Marcha Patriótica estabelece um novo marco na história das lutas sociais.

Pela segunda e definitiva independência Ainda que para a história oficial a Colômbia tenha conquistado sua independência já nas primeiras dé-

Fotos: divulgação Marcha

Uma Colômbia em


cadas do século XIX, esta se deu de forma incompleta. As elites instalaram-se no poder, e o que se deu desde então foi uma disputa entre liberais e conservadores, e um longo período marcado pela violência: “Desde a independência, a Colômbia teve 70 guerras internas, geralmente entre as próprias elites”, explica Juan.

O presidente eleito em 2010, Juan Manuel Santos, prometeu abrir o diálogo com os setores populares, apresentando-se como a

alternativa democrática ao governo de Álvaro Uribe. O que fez, na verdade, foi dar continuidade ao projeto neoliberal de seu antecessor, favorecendo as grandes multinacionais, privatizando serviços essenciais e criminalizando a pobreza. Segundo Ivan Pinheiro, secretário-geral do PCB, seu governo está alinhado com a política imperialista, sobretudo estadunidense: “A Colômbia está se transformando numa espécie de Israel da América Latina, uma ponta de lança do imperialismo”.

Ilustração: Vitor Vanes

Dentre os conflitos, destacamos a Matança das Bananeiras em 1928, episódio que inspirou o Nobel de literatura Gabriel García Márquez, autor de “Cem anos de solidão”, e o assassinato de mais de 5 mil membros e simpatizantes da União Patriótica (UP), no final da década de 90. Na ocasião as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), principal grupo insurgente, aceitaram deixar as armas para participar regularmente das eleições através da UP, que conseguiu eleger diversos parlamentares. As elites, vendo sua hegemonia ameaçada, utilizaram-se das forças do Estado e de milícias paramilitares, para promover o genocídio.

Por isso, o povo colombiano reivindica sua segunda independência, e que desta vez ela seja definitiva. Para isso ele precisa vencer uma acirrada disputa pela memória, explica Sérgio: “No 20 de julho se comemora a independência com um desfile militar, mas é preciso ressaltar que, antes de tudo, esta é uma data de luta do povo”. O caminho da paz na Colômbia parece passar inevitavelmente pela consciência política, e mais que isso, à ação prática.

Solidariedade além das fronteiras

Desde a independência, a Colômbia teve 70 guerras internas, geralmente entre as próprias elites”

Mas esse não é apenas um movimento pela paz, mas um caminho para a superação da dominação imperialista e oligárquica através da unificação das classes subalternas e exploradas. Além disso, sua declaração política clama pela urgência de se avançar na construção de uma sociedade alternativa ao Capitalismo. Este modelo econômico ampliou de forma brutal as desigualdades sociais, concentrando a riqueza nas mãos de poucos privilegiados, precarizou o trabalho e privatizou direitos fundamentais, como a saúde, a educação e a cultura, tudo em nome da maximização dos lucros. Sendo assim, entendemos que só há uma solução para isso, que é a superação deste sistema, do contrário, só nos restará a barbárie. O sucesso da Marcha Patriótica já rende os seus primeiros frutos: a certeza de que um mundo muito melhor é possível e a esperança de que na luta dos povos oprimidos poderemos, enfim, forjar os pilares de uma nova primavera. “Todos os povos do mundo que lutaram pela liberdade exterminaram no final ao seus tiranos.” (Simon Bolivar)

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Bula cultural

algumas recomendações médico-artísticas

Indicações Iconoclassistas Acreditando que a comunicação é uma prática política, os iconoclasistas buscam a expressão por meios das imagens. Embora, muitas vezes, as imagens sejam consideradas inofensivas, o coletivo entende que são elas que constroem e influenciam o imaginário social, por conta de seus múltiplos significados. Assim, procuram usar as suas representações como uma ferramenta para a transformação, incomodando o receptor para que ele não permaneça na mesma posição submissa em que a mídia tradicional o coloca. Para o diversificado grupo, as imagens são formas de esclarecimento – por isso, criam cartografias críticas e mapas coletivos, retratando situações históricas e políticas indo-afro-latinas e além. Acessando o site www.iconoclasistas.com.ar, você pode conhecer o trabalho incrível dos iconoclasistas. Só um detalhe: o conteúdo da página é em espanhol. Mas não desanime, é possível compreender os textos!

Contraindicações Músicos vendidos Dudu Nobre, Diogo Nogueira, Alcione, Monarco da Portela, e o cantor Buchecha foram os primeiros a aderir à campanha do atual prefeito, Eduardo Paes. Não coincidentemente, os mesmos artistas foram os que mais fizeram shows para a prefeitura nos últimos anos. Alguns inclusive sem licitações, pagos pela RioTur. A cantora Alcione já chegou a receber R$210 mil por um show da Prefeitura do Rio realizado no Reveillon de Copacabana. Monarco teve CD e shows de anivesário bancados pela gestão. Não muito diferente é o caso do Naldo, que vendeu a música mais chiclete do ano – “Amor de Chocolate”- para o candidato Rodrigo Maia, a versão começa com “Rodrigo é a cara do novo, pode acreditar…” Aham, pode deixar! Já estamos acreditando.

Exposição “Impressionismo: Paris e a Modernidade” Diretamente do Museu D’Orsay, um dos mais famosos de Paris, o Brasil recebe uma mostra de acervo impressionista inédita na América Latina. A exposição “Impressionismo: Paris e a Modernidade” reúne 85 quadros de pintores renomados como Monet, Van Gogh, Renoir, Gauguin, Degas e Cezanne. A mostra já esteve em Brasília, permanece em São Paulo até o dia 7 de outubro e, por fim, chega ao Rio de Janeiro. Se você não mora em nenhuma destas capitais, quem sabe não organiza um fim de semana para passeio?

POSOLOGIA ingerir em caso de marasmo ingerir em caso de repetição cultural ingerir em caso de alienação

manter fora do alcance das crianças nocivo, ingerir apenas com acompanhamento médico extremamente nocivo, não ingerir nem com prescrição médica

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Pedras e Sonhos

são nossas únicas armas El Efecto lança tão aguardado CD que ultrapassa os limites da beleza e da emoção Por Caio Amorim

Destaca-se também a qualidade da gravação, ponto em que os discos anteriores pecavam. Dessa vez, a banda teve uma preocupação minu-

ciosa para que tudo saísse perfeito. Cada arranjo baila cristalino para a audição de seu fiel público. Além disso, as músicas parecem mais acessíveis – em termos de linguagem - à grande parte da população. Quem tem sentimento, não ousa ficar indiferente às novas letras. Mesmo com melodias mais claras, que remetem a uma brasilidade presente em canções consagradas de Paralamas do Sucesso e Gilberto Gil, a banda não perde a pegada e o ecletismo. Ainda assim, é recomendável ouvir algumas músicas com as letras em mãos para maior compreensão e reflexão. O álbum traz a exaltação da luta popular contra megaempresários num arranjo belíssimo de rock com xaxado em “O encontro de Lampião com Eike Batista”; uma primorosa crítica à mídia hegemônica em “N’aghadê”; a faixa-título ganhou uma roupagem arrepiante, com diversas nuances, aceleração de ritmo e a inserção do discurso do Subcomandante Marcos do Exército Zapatista, com sons de passeatas em diversos países latinos ao fundo. Isso

Quem tem sentimento, não ousa ficar indiferente”

Ilustrações: divulgação

Há situações em que nossa humanidade e sentimentalidade não podem ficar presas e devem extravasar os limites do papel. Por isso, não me furto a registrar que ouvir os 50 minutos do terceiro CD da banda El Efecto , “Pedras e Sonhos”, é uma das experiências mais intensas que alguém pode ter. O álbum consagra El Efecto com uma das melhores senão a melhor - banda de todo o cenário musical brasileiro. A qualidade e originalidade são explícitas em cada acorde de suas músicas e em cada vírgula de suas letras. As músicas de Pedras e Sonhos afloram não só nossas utopias, mas também a inspiração para que muitas pedras filosóficas, metafóricas e físicas (por que não, em alguns casos?) voem (e elas precisam voar) para sonhos dançarem e assim, construirmos com muita garra, dança, música, suor e lágrimas, um mundo em que haja felicidade para todas e todos.

sem mencionar a linda atualização de “Os saltimbancos” de Chico Buarque, em que, dessa vez, “Os Assaltimbancos” libertam o grito preso por tantas correntes da contas-correntes. Tudo muito belo a não ser por uma falha capital: a profunda “Ciranda”, lançada no ano passado, inexplicavelmente, ficou de fora para dar lugar à regravação de “A caça que se apaixonou pelo caçador” presente no primeiro CD. Fica a impressão de que o grupo teve a humildade de não lançar um CD perfeito. Brincadeiras à parte, o lançamento oficial do disco no Rio de Janeiro será no Studio RJ (Av. Vieira Souto, 110, Arpoador) no dia 26/09, às 20h30, com entrada franca (pague quanto e se quiser). “Pedras e Sonhos” está disponível para download gratuito e completo no site www.elefecto.com. br, onde se encontram mais informações sobre agenda. Vírus Planetário - SETEMBRO / OUTUBRO 2012

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Bula cultural

Mate com Angu em comemoração do aniversário de 9 anos | Foto: Samitri Bara

algumas recomendações médico-artísticas

Cinema, Cerveja e

Mate com Angu

O cineclube que agita a cena cultural da Baixada completa 10 anos e lança um livro

Por Taiane Linhares O Mate com Angu nasceu em Nova Iguaçu, mas é caxiense de coração. Igor Barradas, 34 anos, um dos idealizadores do cineclube, cresceu no Jardim Primavera, bairro do município de Duque de Caxias – cidade mais populosa da Baixada Fluminense, com quase 900 mil habitantes. Sua escolha pelo cinema deu-se ainda na adolescência, na época em que a tecnologia digital não era difundida. Ele viu esta transformação ocorrer na virada do século e soube identificar ali algo que ele define como “uma quebra de paradigmas”. Livre do alto custo da película, era possível fazer um filme sobre o próprio bairro: “A gente sabia que era uma possibilidade da ponta estar falando da ponta”. Seguindo esta corrente, seu primeiro documentário, “Progresso Primavera”, narra as transformações sofridas pelo bucólico bairro de Jardim Primavera durante a “revolução do asfalto”, em Caxias. Este primeiro filme foi o catalisador de um pro10

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cesso que culminaria na criação do Cineclube Mate com Angu. Logo após ter contato com o ideal cineclubista no II Fórum Social Mundial, em 2002, Igor é convidado pela FEUDUC a organizar uma mostra de filmes no departamento de história da faculdade. Junto com os alunos, Igor chega à conclusão de que uma mostra seria pouco. A falta de lugares dedicados à produção cultural independente na Baixada Fluminense era motivo de inquietação. Ter um espaço para a exibição da produção cinematográfica de baixo custo que emergia no país era vontade geral. Além disso, eles observavam a existência de uma representação midiática pouco complexa sobre o lugar onde viviam, o que despertou a necessidade de mostrar seus próprios pontos de vista sobre a Baixada. O nome do cineclube foi uma sugestão de Heraldo Bezerra, o HB, agitador cultural que, à época, diri-

gia uma página na internet com o foco na Baixada Fluminense. “Mate com Angu” era uma forma pejorativa de se referir à população carente assistida pela Escola Proletária de Meriti, fundada em 1921 por Armanda Álvaro Alberto no território onde é hoje Duque de Caxias. Esta escola foi uma das primeiras a oferecer merenda aos alunos, e como sobrevivia de doações dos comerciantes, era recorrente no menu o mate com angu doce.

Utopia ao estilo Baixada As primeiras exibições do Mate eram realizadas no subsolo da Câmara de Vereadores de Duque de Caxias quinzenalmente, à tarde e no meio da semana. O horário dificultava a participação do público que trabalhava. A sessão logo recebeu um novo endereço, o Sindicato dos Bancários. Após os filmes (em geral curta-metragens), o coletivo começou a realizar festas, trazen-


Seção de comemoração de 10 anos do cineclube Fotos: divulgação

“ do definitivamente o clima boêmio para as suas sessões. O público surgia às dezenas e se multiplicava a cada mês. Com a greve dos bancários, o coletivo teve que trocar de endereço minutos antes de uma das sessões. O cartaz na porta indicava “Fomos para a Lira de Ouro”. Chegaram em 2004 e, desde então, nunca mais saíram da Lira – berço do samba em Caxias. Igor lembra da sessão com clareza: “Era uma exibição do Glauber, ‘Deus e o Diabo na terra do sol’, e tinha um boteco na frente com um som muito alto. Me lembro da cena do deserto do Glauber passando com ‘we are the world’ ao fundo. Houve um momento de catarse na sessão com esse embate entre realidade e ficção”.

Serviço:

Ao ver a primeira sessão vazia, me bateu uma sensação muito grande de que o Mate ia dar certo”

Para Igor, o Mate é “provocador”, uma intervenção poética sem o objetivo claro de trazer grandes mudanças sociais. Após o coletivo ler “TAZ”, de Hakim Bey, deram-se conta de que, sem saber, o que produziam toda última quarta-feira do mês era uma zona autônoma temporária, uma ocupação pontual de um espaço para fins festivos sem confrontar diretamente o Estado. Manter a utopia viva em um ambiente hostil é por si só uma árdua tarefa. Em certa ocasião, recorda Igor, o peso da realidade tombou sobre o coletivo de forma brutal: “Havíamos feito um puta lançamento no Mate, energia ótima. Na mesma noite acontece uma chacina em Nova Iguaçu e Queimados. Um grupo de policiais sai pelas ruas e mata 30 pessoas. A gente achava que estava revolucionando a Baixada, que estava quebrando um paradigma. E a gente percebeu que a realidade era muio mais complexa”.

Essa história merece um livro O cineclubismo não é mais uma novidade. Muitos eventos com esse enfoque surgiram após o Mate com Angu, incluindo o “Buraco do Getúlio”, em Nova Iguaçu. No entanto, o Mate é atualmente um dos cineclubes a mais tempo em atividade no Rio. As realizações também foram muitas. O Mate foi um dos dez projetos contemplados com o Prêmio Cultura Nota Dez, iniciativa da UNESCO e do Governo do Estado do Rio de Janeiro, em 2005. Já em 2010, o cineclube ganhou a Europa como convidado de honra em uma mostra de filmes brasileiros em Paris. Cineclube Mate com Angu

Quando? Toda última quarta-feira do mês, às 20h. Onde? Ponto de Cultura Lira de Ouro – Rua José Veríssimo, 72, Duque de Caxias. E não perca! De 12 a 30/9 a exposição de 10 anos do cineclube no SESC Duque de Caxias Rua General Argolo, 47. Das 10h às 18h

Passados 10 anos de exibições, o Mate busca a reestruturação do coletivo. A entrada de novos integrantes e a realização de projetos mais ambiciosos dão novo fôlego ao cineclube. Para comemorar o aniversário, no mês de julho, foi lançado um concurso com premiação para o melhor vídeo de até um minuto sobre a cidade de Caxias. Será publicado, ainda esse ano, o livro “O Cerol Fininho da Baixada - Cineclube Mate Com Angu em Ação”, de Heraldo Bezerra, uma retrospectiva da primeira década do Mate. A publicação faz parte da coleção “Tramas Urbanas”, da editora Aeroplano, dedicada às experiências que se deram em periferias brasileiras.

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Bula cultural

algumas recomendações médico-artísticas

A Cultura para além do

espetáculo... Coletivos de cultura atuantes em diversas áreas da cidade do Rio de Janeiro provam que o espaço da cultura não pode ser o da exclusão

Ilustração: Vitor Vanes

Por Aline Rochedo e Julia Maria

Quando pensamos em cultura, infelizmente, ignoramos, muitas vezes, as manifestações culturais que nos cercam cotidianamente. Quase sempre remetemos cultura à ideia de erudição, para aquilo que se constrói mentalmente como o “culto”, o “hierarquizado”, ou seja, algo que não é acessível para todo mundo. Assim, nos esquecemos de valorizar o que é nosso, o que fazemos de forma livre e genuína, nata da nossa gente! Tal retrato distorcido da cultura ocorre em diversos lugares do mundo, e no Rio de Janeiro não é diferente. Ingressos para shows internacionais esgotam-se em horas, a prefeitura modifica o trânsito, jornalistas descabelam-se por credenciais, além de filas enormes e entradas caríssimas. E tudo isso fica estampado nas manchetes dos jornais, como: “Show histórico no Rio empolga multidão”, “Show Business ultrapassa as expectativas” dentre outras. É importante que haja grandes eventos e sejam trazidos artistas internacionais, mas será que vale gastar tanto dinheiro para realizar tais shows e, contraditoriamente, investir tão pouco na cultura de base na cidade? O espaço da cultura não pode ser o espaço da exclusão. Lutando contra a hegemonia dos megaeventos, os projetos Norte Comum, Bonde da Cultura, Domingo é dia de Cinema e demais iniciativas culturais anônimas em nossa cidade, fogem da logística de um mercado que invadiu os espaços culturais cariocas. Tais iniciativas instigam uma espécie de militância da cultura, uma luta contra a concepção de que o acesso à cultura é simplesmente pagar a entrada e aplaudir o espetáculo. Estes militantes da cultura são pessoas comuns preocupadas com os processos culturais que se perderam nos guetos, nas ruas, nas favelas, no samba dos bares, nas rodas, nas cirandas, no funk, no rap, na cantiga, na poesia, na literatura, no teatro, no cinema. A iniciativa de mapear a história de seu espaço social e valorizar o que seu povo tem produzido enriquece e amplia a teia de relações culturais de uma sociedade.


Articulação em movimento O Norte Comum é um exemplo vivo de articulação pela união de diversas frentes culturais que estão separadas na Zona Norte. Carlos Meijueiro, um dos idealizadores do grupo, conta que não falta produção de cultura na cidade, mas que estamos numa “Ditadura da Linha Um” na qual a maioria dos editais, dos museus e dos aparelhos culturais da cidade está na Zona Sul. Além disso, o Rio de Janeiro está numa espécie de luta constante pelos editais. O modelo que o governo criou para fornecer a verba fomenta a competição entre grupos de produção cultural e não a união deles. E quem perde com isso é a cidade. Carlos ainda ressalta que “o não investimento na área de cultura acaba ofuscando aqueles que estão na guerrilha da cultura.” São estes os que compõem de fato um cenário cultural na cidade do Rio de Janeiro e a proposta do Norte Comum é mapear e divulgar as diver-

sas manifestações decorrentes da zona norte, em especial, à Tijuca e ao morro do Salgueiro: “nosso intuito é criar meios de visibilidade para quem está produzindo”, completa Carlos. No caso do Bonde da Cultura que atua dentro de favelas a situação é ainda mais difícil. Há uma enorme carência de espaços destinados à manifestações culturais. No Morro Jorge Turco, onde o grupo começou, as oficinas de teatro, artes-marciais, música e debates políticos realizadas pelo Bonde aconteciam em lugares improvisados e sem subsídio do governo – o que é comum entre articuladores que atuam em favelas ou para elas. Segundo o Bonde da Cultura, o principal objetivo da proposta é estimular a valorização da arte cotidiana. A cultura não pode estar fora da esfera da luta, da diversidade cultural. E aqui, estamos falando de diferentes meios e condições sociais, uma vez que não existe apenas uma cultura, mas várias culturas numa mesma sociedade. O Bonde, por exemplo, acredita que cultura é o instrumento de maior eficácia para que se construa uma cidade

mais humanizada, mais agradável para se viver. “Pela nossa experiência em favelas e no subúrbio, temos legitimidade para afirmar que a letra de um rap, por exemplo, tem muito mais efeito do que qualquer discurso político, quer seja marxista, leninista ou de qualquer outro “ista” que exista”, afirmam. No projeto Domingo é dia de cinema, idealizado pelo professor de geografia Leon Diniz, no Odeon, a concepção de cultura se relaciona diretamente com a concepção de cidade. Para ele, a ideia de se conhecer o centro da sua cidade influencia sua relação com as diversas manifestações existentes nela, em especial em uma cidade tão grande e plural, como é o Rio de Janeiro: “Eu conheci o centro da minha cidade já com 21 anos. A ideia de você se deslocar para o centro, faz com que conheçamos a nossa cidade, sua história. E o centro da cidade é democrático: pessoas de todas as regiões do Rio chegam aqui”, conta Leon. Domingo é dia de cinema tem levado várias pessoas ao cinema pela primeira vez. Após a exibição, ocorre um debate entre convidados e o público a fim de promover uma maior integração e assimilação da mensagem cinematográfica, além de estimular o senso crítico nos presentes.

A cultura não pode estar fora da esfera da luta, da diversidade.”

Coletivo Norte Comum Foto: divulgação Vírus Planetário - SETEMBRO / OUTUBRO 2012

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Manifestações culturais diversas nos possibilitam entender os sujeitos em sua plenitude. Numa mesma sociedade podemos encontrar uma ampla diversidade de manifestações culturais. Teoricamente CulturaS são sistemas (de padrões de comportamento socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modos de organização econômica, padrões de estabelecimento social e organização política, crenças e práticas religiosas, e assim por diante.

Acima, o bonde da Cultura em ação. Abaixo sessão do “Domgino é dia de Cinema” no Cine Odeon. Fotos: Divulgação

Esta amplitude de possibilidades, entretanto, será limitada pelo contexto real e específico onde de fato cada pessoa nasce e se compreende enquanto ser humano.

O jornalista e escritor André Mansur segue uma proposta similar a de Leon, direcionada para a zona oeste do Rio de Janeiro. Segundo Mansur, o bairro de Campo Grande também é bastante carente de eventos culturais. Há poucas peças e shows na Lona Cultural Elza Osborne e no Teatro Arthur Azevedo; cinemas, apenas em shopping e poucos espaços para exposições. A iniciativa de André surgiu de uma inquietação particular de quem vive o drama da falta de espaços culturais: “Como moro no bairro, achei interessante a ideia de montar um cineclube, exibindo filmes fora do circuito comercial e que possam gerar algum tipo de reflexão”. A princípio, o projeto tinha parceria com a locadora do bairro, a Cinéfila, comandada pelo fotógrafo Júlio Lima, que emprestava os filmes a serem exibidos: “esta locadora, por sinal, representou um movimento cultural muito importante na região, pois, além dos filmes, era um espaço musical e de exposição também, sempre com muito público”. Atualmente, os filmes são selecionados e disponibilizados pelo próprio André Mansur, que ressalta: “a Cultura, nesta perspectiva, não deixa de ser resistência”. É preciso que estas formas culturais se articulem. E, assim, as pessoas adquiram a capacidade de questionar e valorizar a arte que produzem de forma livre e espontânea.

Através da cultura o homem vê o mundo e se reconhece Pensando em tais manifestações, ampliamos nossas relações com a concepção cidadã e a forma pela qual encaramos e nos articulamos em nossa realidade de cidade, pois tanto a economia quanto a política são produtos da cultura.

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É imprescindível a presença dessa cultura livre, capaz de ser facilmente entendida em qualquer lugar. É uma questão de militância, uma vez que as propostas do governo são incapazes de unir as mais diferentes culturas tornando conhecida a Voz da minoria, ou melhor dizendo, a Voz da Maioria.


A Mentira varrida pra debaixo do tapete

sórdidos hes... detal Por Maria Luiza Baldez

“Somos um Rio... você é outro!” Não é preciso ser nenhum especialista para perceber as mentiras contadas pelo atual prefeito Eduardo Paes para ser reeleito: basta ser carioca. Fazendo propaganda do seu sistema de transporte, o BRT, os corredores Trans e o Bilhete Único, afirma-se que ficou para trás: “o engarrafamento crônico nas principais vias do Centro e da zona Sul” e “perder horas no deslocamento para o trabalho em ônibus de péssima qualidade”. Bem, um fato é certo: Dudu Paes não anda de ônibus, não é, gente? Até porque, Bilhete Único só funciona para ônibus sem ar condicionado. Já ta recebendo a regalia de uma passagem só, seria muita folga mesmo exigir um fresquinho. E tem muito mais. Quando é para se gabar de saúde, adivinhem o que ficou para trás? A “falta de leito em hospitais municipais” e os “idosos que passavam horas na fila para obter atendimento médico”. Depois da abertura das Clínicas de Família, acabaram por completo os problemas. Só que ao contrário! Que isso, colocar curativo em cima de machucado não é curar, não. O atendimento é maravilhoso... mas só para os outros. Se internar lá nem pensar, né! Na sessão “Legado Olímpico”, nosso planejamento para suportar os megaeventos de 2014 e 2016, o que ficou para trás foi – uma pausa, esta é sensacional -: os alagamentos nas vias em dias de chuva forte na cidade. Taran! Acho que ele se esqueceu de 2010 ou viu a galera de bote ajudando os outros e pensou que fosse esporte! Ilustrações: Carlos Latuff

Se o objetivo era criar um site de humor, é um sucesso! Aliás, quando um carioca vê um problema – o que não é raro – já virou jargão dizer “imagina só como vai ser na Copa e nas Olímpiadas”. Então, pelo menos, nisso ninguém ta botando fé. Pois é, não precisa nem ser adivinho que a gente já sabe: com este planejamento, o tumulto tende a piorar. Agora, respondam: como um prefeito vai fazer alguma coisa por esta cidade se não consegue ver os problemas mais fundamentais que passamos por aqui? Olha a poeira se acumulando embaixo do tapete... Alô, Rio de Janeiro! Para conferir as informações dadas , acesse http://www.eduardopaes15.com.br/ e veja com seus próprios olhos como pode ser grande a cara de pau para se gabar de tantas “realizações”.


Por Chico Motta facebook.com/deltanews2012

*Improvável, mas não impossível.

NEWS

As principais notícias do dia com dispensa de licitação

Nessas Eleições vote com cristo

Por Pastor Silas Falamala

Minha gente, mais uma vez eu quero trazer a vocês um esclarecimento muito importante, pois estamos decidindo o futuro da nossa nação. Não adianta vir separar, dizer que “ah, negócio de religião”. Meu querido, o ser humano é um ser bio-psicosócio-pluri-extra-espiritual, por isso, você cristão, você cristã, tem que botar a mão no peito e professar a sua fé durante todos os momentos da sua vida, sem exceção, inclusive quando estiver em frente à urna de votação.

N

ão adianta só ir à igreja todo dia, dizer que acredita em Deus, doar o dinheiro do dízimo no débito automático – aliás, já estamos aceitando Mastercard-, tem que votar também com Deus, e hoje, eu preciso lhes dizer: Deus está com Eduardo Paes no Rio de Janeiro e com Celso Russomanno em São Paulo. O voto é o seu poder de escolha na sociedade e a escolha das pessoas da igreja é sempre por Deus. Paes e Russomano foram escolhidos pela nossa igreja. Quando estiver votando neles, lembre-se disso, será como se votassem em Deus. Vocês sabem que nunca tive preferência partidária, minha preferência política sempre esteve vinculada com o dinheiro das campanhas milionárias dos candidatos, sempre minha preocupação foi com expansão da nossa igreja e a propagação da palavra da Bíblia Sagrada. Jesus precisa de dinheiro, vocês sabem, e é para isso que estamos oferecendo nossos votos de fidelidade, para que possamos professar a palavra de nosso senhor com riqueza e prosperidade.

Virão enviados do satã, travestidos de amigos, dizer para que não sigam o pastor. Proferirão injúrias ao meu nome e dirão que não é de Deus a palavra que sai de minha boca. Tapem os ouvidos a estes infames, meus irmãos, pois não são seus amigos de verdade quando falam, mas sim a encarnação do próprio Asmodeus que veio do inferno para tentar

“Não se iludam, Paes não apoia a pederastia!”

destruir a família de bem brasileira e a fé no nosso senhor Jesus Cristo. Prestem atenção, pois o discurso do demônio é sempre muito sedutor, dirão que não podem votar em Paes, dirão que a seita doente de fornicadores do demônio tem sido beneficiada e financiada por um governo municipal repleto de sodomistas que querem implantar sua ditadura-gay e impedir que o homens de bem da nação xinguem ou apedrejem homossexuais que demonstrem seu pecado em público. É bem verdade que o mal do homossexualismo tem se alastrado, e que a família e a igreja têm sido oprimidas por esses sujos que nos obrigam a ver nas novelas e nas ruas os seus atos impuros e pecadores. Não nos deixam mais queimálos ou espancá-los por qualquer motivo, é um absurdo! Querem que nossos filhos todos se tornem homossexuais e que o mundo se acabe em perversão e doença. É verdade, também, que querem nos impedir de combater o pecado e a danação destes seres que contrariam a bíblia e a fé


*ATENÇÃO: Queridos fanáticos religiosos, essa seção é fictícia. Não levem a mensagem a sério, devemos pregar por respeito às diferenças e às religiões.

Eduardo Paes, mesmo anencéfalo, consegue andar e até ficar dez segundos em cima de um skate. É a prova de que o aborto de anencéfalos é uma desumanidade

cristã, nos acusando de preconceituosos quando na verdade só estamos protegendo nossos filhos de não serem abusados por essas figuras demoníacas.

abaloirirarom jeová! Que significa: “Perdoai este pecador e cure seu governo da doença maligna do homossexualismo, Jesus”.

Mas não se iludam, Paes não apoia a pederastia! Ouçam o pastor, ele é o único que pode lhes dizer a verdade. Paes é um homem arrependido. Errou, sejamos sinceros, mas pediu o seu perdão a Deus, poucos são os homens com tal coragem. Irmãos, ainda me emociono ao me lembrar da cena, este nobre homem, prefeito da cidade do Rio de Janeiro, ajoelhou-se na entrada da igreja, e disse orando em línguas: hanama canta ravashue cinacas

Jesus então falou comigo nesse momento que se aquele homem doasse – e doou! - a módica quantia de 2,8 milhões de reais para a marcha da família com Jesus, ele estaria perdoado em nome do nosso Senhor Jesus Cristo. Até o mais ímpio dos homens pode ser perdoado se assim se arrepender e no grau de seus pecados honrar a Deus com suas penitências. Louvemos os homens que são perdoados dos pecados, amém, gente?

Celso Russomanno prova que é Ungido em Cristo, seja abençoando a passista de escola de samba (ao lado), seja orando pela Mulher-pera abaixo.

Aos paulistanos gostaria de dizer: Russomano é outro grande exemplo de arrependimento e superação. Já foi envolvido com peculato, exercício ilegal da advocacia, aliado de bicheiros e estelionatários procurados pela Interpol. Veio até mim e pediu que lavasse e purificasse sua alma com a água santa do Leão de Judá. Fizemos a Fogueira Santa da purificação e mais um ritual muito difícil. Por exigência de Russomanno, foi feita uma sessão da banheira sagrada de Israel, em que jogamos sabonetes numa banheira e o purificado deve catar o maior número possível enquanto uma de nossas irmãs da congregação, representando o demônio, tenta impedi-lo. A luta foi árdua mais hoje o candidato do PRB está limpo graças ao sangue do Senhor Jesus Cristo! Toda sua alma e o seu dinheiro, antes impuros, foram lavados com o poder da fé no nosso salvador. Ao contrário do que diz toda medicina ateia-demoníaca,que prega o desumano aborto de anencéfalos, estes dois grandes homens, ao contrário dos que dizem ser impossíveis, vivem sem cérebro, andam, falam, são meus e serão seus candidatos a prefeito. É a mais pura prova de que a fé na cura pela Igreja e pela graça do Senhor é possível, irmãos. É por isso, cristãos, que do mesmo modo que defendi e defenderei sempre os nossos direitos a expor a nossa luta contra o homossexualismo, que peço o voto de vocês hoje. Um voto em Cristo, um voto no perdão e amor divinos, um voto na fé da igreja, da família e dos homens ungidos de bem da nação. Agradeço a todos e fiquem com Deus.


sociedade


1+1+1+1+1...e

poder do

povo

Porque a soma de indivíduos não é igual a um a democracia?

Por Artur Romeu e Seiji Nomura A ideia original era a de escrever uma reportagem sobre os mecanismos e canais de participação da sociedade no processo de tomada de decisão. Pensamos que poderíamos aproveitar as eleições municipais e sugerir um debate sobre a construção democrática para além do voto. Parecia uma boa ideia. O problema é que ao conversar com nossos entrevistados, acadêmicos e ativistas políticos, nos deparamos constantemente com o seguinte depoimento: “vivemos numa democracia mínima”. Para ser bem sincero, o que ouvimos foi um verdadeiro desfile de adjetivos do estilo: “muito baixa”, “restrita”, “limitada”, “incipiente”. Ao tentar conhecer os caminhos da participação social esbarramos com o desafio de explorar o significado de democracia, engolido pelo senso comum.

Ilustrações: Iconoclassistas

Que fique bem claro: nenhum dos entrevistados tampouco sugeriu que estamos sob uma ditadura. Não se trata disso, mas sim de encarar o consenso entorno do sistema em que vivemos. A assistente social e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Larissa Dahmer, ressalta que a construção democrática é um processo de luta pela ampliação de direitos. “Se percebermos a construção da concepção da democracia no seu sentido histórico, vamos ver

que quem vai buscar radicalizar esse conceito é a classe trabalhadora, dizendo ‘não queremos ter somente a liberdade de vender a força de trabalho, a gente quer ter acesso a direitos políticos e sociais’”. Apesar de uma série de conquistas, como os direitos à associação, ao voto, às liberdades de expressão, de religião, de ir e vir, a professora acredita que ainda estamos muito longe da ideia de democracia no seu sentido pleno. Para ela, entender democracia no capitalismo pressupõe reconhecer que existe um limite imposto pela própria lógica do sistema. “O liberalismo admite direitos políticos desde que não sejam ameaçadores, mas tem restrições aos direitos sociais porque prejudicam a lógica do mercado. Não estamos aqui o tempo todo levando porrada. Mas vivemos num sistema que consegue fazer com que todo dia, todo mundo levante e acredite que

vai vencer na vida. As pessoas não pensam: vamos melhorar de vida coletivamente. As pessoas pensam: eu vou melhorar de vida. Isso é muito forte. “ Nascido e criado no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, o ativista político, Alan Brum, é um dos coordenadores da ONG local Raízes em Movimento. Com sede no Morro do Alemão, o grupo atua desde 2001 em parceria com entidades de direitos humanos para promover melhores condições de vida na região. Segundo Alan, ainda estamos num processo inicial do que pode ser uma democracia no sentido literal da palavra – “poder do povo”. “O que a gente tem são eleições, quando ano após ano somos lembrados que o processo de representatividade está falido. Isso nos traz outra perspectiva para pensarmos a democracia. Espaços em que tenhamos princípios de atuação processual e não esporádicos. Acredito

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sociedade

A ideia é que uma sociedade efetivamente democrática impede a desigualdade e assegura a diversidade”

que haja democracia quando exista uma teia de diálogo e articulações que possam influenciar realmente na tomada de decisões políticas”, afirma Alan. Ele diz ainda que as eleições e a política partidária em geral estão baseadas na ideia da troca de favores. De acordo com Alan, a dinâmica eleitoral raramente propõe um debate mais sério sobre projeto de sociedade e acaba se limitando à lógica do compadre, do clientelismo. “Obviamente que as políticas sociais beneficiam uma parcela da sociedade, existem avanços”, reconhece, “mas essas medidas não se propõem de fato a acabar com os problemas sociais – afinal, quem está interessado em quebrar o status quo?” Professor da UFF e da PUC-Rio, o antropólogo José Carlos Rodrigues também critica o atual modelo eleitoral como mecanismo de construção democrática por excelência. “Ao contrário do que pensa a cultura individualista, uma democracia não pode se fazer aditivamente, isto é, 1+1+1+1... como imagina o sistema eleitoral burguês”, afirma o professor. Segundo ele, os mecanismos e canais de participação da forma com que são concebidos têm pouca margem para mudanças concretas e são em grande parte paliativos, introduzindo espaço para pequenas reformas, mas sem o poder real de transformação das desigualdades. “A ideia é que uma sociedade efetivamente democrática impede a desigualdade, por exemplo superior/inferior, e assegura a diversidade, como as diferenças entre religiões, culinárias, línguas, etc. A concepção que apregoa a universalização de uma cultura – em geral capitalista, industrial, individualista e de consumo – sobre as demais, confunde diferença com desi-

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A política, enquanto produção de sentido e ações coletivas, está em todos os cantos”

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gualdade e proclama a sua diferença particular como sendo superior”, aponta José Rodrigues. O Instituto Mais Democracia é uma ONG com pouco mais de um ano de vida, sediada no Rio de Janeiro. Coordenada pelo cientista político João Roberto e pelo jornalista Carlos Tautz, o Mais Democracia procura responder à demanda de participação e vigilância pública sobre as relações entre a economia e a política, buscando o aprofundamento da democracia brasileira. Para João Roberto, a tradição do pensamento político foca muito no governo, “em como democratizar o governo”. “O lugar da política não é apenas o Estado, os partidos, mas sim a vida social, as relações pessoais, em casa, no trabalho. A política, enquanto produção de sentido e ações coletivas, está em todos os cantos. A democracia é um autogoverno que se constrói na relação com o outro. Eu construo a minha identidade através de um processo associativo e quero participar da produção legal sobre esse produto coletivo”, afirma o coordenador do Mais Democracia. Para João Roberto, o maior desafio democrático é conectar o movimento político ao universo econômico, ou seja, a participação


Uma outra visão sobre participar “Em uma sociedade em que o tempo todo somos chamados a participar votando em políticos, enquetes virtuais, na militância política, talvez também devamos pensar sobre a importância de não participar”, provoca José Carlos Rodrigues. “A história provoca mudanças por duas vias, uma que é mais ou menos calculável e afetada por estratégias, da qual falamos usando palavras como ‘causas e consequências’. A segunda é através de grandes vômitos, quando não se aguenta mais e as pessoas vomitam, expulsam o que incomodava”, explica. Para ele, talvez a esquerda esteja apostando demais no lado institucional e estratégico, promovendo ações que atrapalham este outro aspecto da história. “O momento atual do Brasil, de expansão do emprego, aumentos salariais e de conquistas trabalhistas pode ser ótimo e legítimo para as pessoas por um lado, mas prolonga uma situação insustentável. Este momento de ‘desenvolvimento’ é péssimo, por exemplo, para os indígenas que sofrem com Belo Monte e serve para recriar a fé numa forma de Estado que sustenta as desigualdades”, explica o antropólogo. “Outra pergunta que em geral não se faz, talvez porque a resposta não interessa a ninguém é: que dimensões máximas pode ter uma sociedade, para lhe permitir visualizar alguma possibilidade de ser democrática?

e ação pública sobre a propriedade privada, sobre o controle da acumulação. De acordo com ele, a luta por direitos se mantém restrita ao “andar de baixo”, limitada aos direitos políticos, mas pouco se debate sobre a economia e o poder que as empresas exercem nesse setor, influenciando a política de forma desigual. “Não acumulamos força para chegar no andar de cima. Quem está no andar de cima? O Banco Central, o BNDES, a Petrobras, o Ministério da Fazenda, o Ministério da Agricultura, etc. O andar de cima, que opera o direito à propriedade, está intocado. E isso não é só no Brasil. As democracias modernas não chegaram a fazer cócegas no poder das empresas, muito pelo contrário. O Estado nesse nível está subordinado a este poder. Isso fica claro se tomarmos por exemplo todos os conflitos que estão acontecendo no Rio de Janeiro com o Porto do Açu, a TKCSA, o Morro da Providência, a Transcarioca, a Vila Autódromo, o Porto de Sepetiba, o Complexo Petroquímico. O Estado de Direito não vale aí”, aponta João Roberto. Ainda segundo o cientista político, a própria ideia de crescimento

econômico a todo custo é antidemocrática, “é como se a economia se justificasse em si mesma”. O discurso de que o povo também está interessado nesse desenvolvimentismo está baseado sempre nos argumentos do emprego e renda, para João Roberto o ponto crítico onde vemos a construção do consenso. “Precisamos de canais de participação que possam incidir na relação dos órgãos públicos com os agentes econômicos. Todas as instituições do governo associadas a esse universo estão a salvo da sociedade, e elas determinam um consenso para o resto.” Na frente virtual, a coordenadora da ONG Meu Rio, Alessandra Orofino, atua com campanhas de pressão política. O objetivo é criar um espaço de participação cívica que une a tecnologia à mobilização da sociedade para aproximar as tomadas de decisões aos moradores do Rio de Janeiro. O grupo já organizou, entre outras, campanhas para chamar atenção sobre os gastos das obras no Maracanã, das irregularidades no orçamento para a educação municipal e os abusos de poder nas favelas com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Segundo

Alessandra, “democracia é prática, e não existe apenas como sistema jurídico”. “Existem mecanismos burocráticos de participação previstos pelos estatutos da cidade: Audiências Públicas, Conselhos, Conferência da Cidade, projetos de Orçamentos Participativos, etc. Mas estes espaços estão muitas vezes instrumentalizados por partidos e/ou esvaziados pelos governantes e pela própria população. Tudo isso acaba sendo mais o teatro da democracia do que a prática democrática.” Segundo ela, o problema da institucionalização desses canais é que quem cria o canal cria as regras do jogo. Quando o governo institui estes espaços, isso é feito na medida em que ainda pode controlá-los de alguma forma, o que acaba por cercear as possibilidades de participação, inibindo a criatividade. “Faltam mais canais de prática democrática que não foram instituídos pelas instituições governamentais, mas sim criados pelas pessoas. Impostos ao governo”, sugere.

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rio de janeiro

As vozes que a UPP

nĂŁo escuta

No Salgueiro, favela da zona norte do Rio de Janeiro, ouvimos o que os moradores pensam sobre a Unidade de PolĂ­cia Pacificadora e conversamos com especialistas que analisam a UPP


Ilustração: Vitor Vanes

A UPP existe, não para o morador, mas para o chamado capital urbano, a cidade pensada e executada pelo prisma do capital”

Por Miguel Tiriba, Noelia Pereira, Ingrid Simpson e Mariana Gomes Violência, tiroteios, abuso de poder, moradias precárias e pessoas armadas por todo lado. Essa era a realidade do célebre morro do Salgueiro, localizado numa das áreas mais nobres da Zona Norte do Rio de Janeiro. Em fevereiro de 2010, os moradores presenciaram a morte do líder do tráfico Fabinho do Salgueiro, nascido e criado no local. Tal fato ocorreu pelas mãos de policiais num suposto confronto, contestado por muitos moradores, que afirmam não ter havido resistência por parte do traficante. Esse fato anunciaria a fase introdutória da cronologia para um processo de mudanças. A favela, que já foi palco de conhecidas operações policiais e de repressão violenta ao tráfico de drogas hoje vive seus dias de pacificação. Isso porque há exatos dois anos, em setembro de 2010, instalou-se na região a 11ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Organizada pelo governo estadual, a ocupação policial é nomeada por muitos como “processo de pacificação”. Para o antropólogo e cientista político, Luiz Eduardo Soares, as UPPs são positivas, mesmo com problemas. “Enquanto houver acompanhamento de movimentos sociais e da mídia, e enquanto a presença policial for tão permanente e numerosa quanto é nas áreas nobres da cidade, uma UPP será infinitamente melhor para a democracia e os direitos humanos do que o poder arbitrário armado de um grupo qualquer”, pondera o

escritor. Soares acredita que não se pode vender a ideia de que, no Rio, há uma divisão entre o bem, representado pelas polícias, e o mal, representado pelos traficantes. “Isso é falso e mascara nosso verdadeiro problema. Só houve e só há tráfico territorializado porque policiais corruptos se associaram aos traficantes. A grande questão é mudar, refundar as polícias. Atribuir aos traficantes o monopólio do mal é um erro patético ou mera manipulação política e retórica”, explica. Hoje, após dois anos de UPP, os moradores colocam suas impressões acerca da militarização ocorrida na favela. Relatos trazem a percepção de como vivem os aproximadamente quatro mil moradores naquele território dominado pelas forças de pacificação. Em meio a uma aparente ordem sustentada pelo Estado, quando subimos as incontáveis escadas e descemos pela ladeira principal, percebemos características da precarização que resulta do descaso dos órgãos públicos, como ocorre com o transporte. Por não haver infraestrutura suficiente e pela inexistência de variedades de transporte, os moradores (que pediram para ter suas identidades preservadas por questões de segurança) e frequentadores enfrentam cotidianamente as grandes falhas do sistema de transportes. O deslocamento, muitas vezes, é feito por meio dos moto-taxis e kombis não regulamentados. E esta é só mais uma forma que comprova o desca-

so dos serviços públicos no cotidiano da população. Passados dois anos com promessas de trazer à população diversas melhorias nos serviços básicos com a chamada UPP Social, de acordo com os moradores, além da “sensação de segurança” nada se concretizou. “A UPP veio e a gente ficou com aquela esperança de mudança, mas mudança mesmo não teve nenhuma, só mudança superficial. Se você andar pela comunidade, vai ver que continua tudo a mesma coisa”, explicou um dos moradores. Outro entrevistado também explica as impressões da população local: “se você for na parte de baixo vê esgoto a céu aberto, valas, falta de água... você só não vê bandido armado, mas tem droga em todos os cantos. E isso eles não vão ter como proibir”. O procurador aposentado do Estado do Rio de Janeiro, Miguel Baldez – explica que o marketing da UPP quer nos fazer acreditar que ela veio para libertar o morador. “A UPP existe, não para o morador, mas para o chamado capital urbano, a cidade pensada e executada pelo prisma do capital. Daí se explica porque até o hoje não se tem uma obra social e nem vai ter. Porque a UPP é concebida para os interesses de fora”, ressalta Baldez. O subprocurador-geral de Justiça de Direitos Humanos do Ministério Público do Rio de Janeiro, Leonardo Chaves, garante que não é difícil

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rio de janeiro

outra de expressão, com to à liberdade s en la m ve ea fa rc de ce es Além do dos morador e sem , nt ta ua ns ág co iços de luz, reclamação s tarifas serv s casos da to to ui en m m Em au . UPP é o ade de fato , consequêniço de qualid não-forçadas que haja serv e as ad rç o tratafo oções a, o esgoto nã orro ocorrem rem uguéis. Acim m al s do do co to Pi en cia do aum moradores do e abaixo a ão iro, no meio, oç ue m lg re Sa ra no nt do protestam co bailes funks Santa Marta ocorriam os vazia quadra onde

Foto: Ingrid Simpson

Foto: Maria Buzanovsky

perceber a geografia das UPPs e seus “corredores de proteção”. Para ele, os interesses do Estado vão além de supostamente proteger. Há um “pacote de vantagens” que não é destinado ao morador desses territórios. “Há coincidências que interessam ao capital, sobretudo aos interesses da indústria da construção civil e da especulação imobiliária”, frisa Chaves. O que vemos hoje são inúmeros e caros empreendimentos no entorno das favelas pacificadas.

Favela também é cidade A contenção de moradores das favelas hoje se dá através dos muros de concreto (como no morro Santa Marta) e das barreiras simbólicas que impedem a expansão da cultura e da liberdade da população. A ideia é estabelecer o isolamento por com a justificativa da garantia de segurança. Para o cineasta e liderança comunitária da favela Santa Marta, Repper Fiell, o poder público impõe o controle da favela, o que não acontece em outros territórios da cidade. “Poderíamos viver no território favela, sem a presença das armas, igual ao resto da cidade. O que acontece de verdade é o controle do território e do social”, desabafa. Para o advogado Tomás Ramos, pesquisador na área de sociologia e direito, a neutralização policial no cotidiano de morros na cidade do Rio de Janeiro se tornou um laboratório vivo de técnicas de gestão militar da miséria. “A UPP é um projeto de cidade que desenha ‘corredores de segurança’ e produz ‘aldeias de obediência’, para garantir o fluxo social das mercadorias e proteger as áreas de investimento do capital”. Segundo Tomás, se a genealogia da favela permite traçar uma história das lutas que mobilizam a cidade, podemos concluir que a primeira década do século XXI marcou o desenvolvimento do controle militar de “territórios de risco” e a gestão policial de “populações perigosas”. “Esperamos que o direito à cidade seja para todos. É preciso ter e ver a favela como parte da cidade”, acrescenta.

O cerceamento da cultura Foto: Ingrid Simpson

O Baile Funk do Salgueiro era um dos mais conhecidos e frequentados da cidade e aglutinava praticamente todas as classes sociais. Assim que a UPP foi implantada no morro, uma das primeiras medidas tomadas pelo comandante responsável foi a proibição da festa. Sem consultar os moradores sobre a decisão, alegaram que a UPP Social seria colocada no lugar do baile e traria novas atividades ao local, informação que é contestada por quem vive no Salgueiro. Dentre os moradores, diferentes olhares pairam sobre o assunto. Alguns a favor da proibição

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Ilustração: Carlos Latuff

Tortura no morro São Carlos Muitos são os relatos de casos de tortura e abuso de autoridade cometido por policiais de UPPs. As vítimas, quase sempre, encontram problemas na hora de denunciar. O advogado do Instituto de Defensores de Direitos Humanos (DDH), Carlos Eduardo Cunha Martins, falou sobre a história do adolescente LSC, de 17 anos, que foi vítima de tortura. Segundo Carlos, os policiais da UPP do morro de São Carlos, zona norte do Rio, pretendiam obter uma confissão. Eles pressionaram o menor para que se dissesse traficante de drogas, quando na verdade ele apenas possuía um cigarro de maconha. LSC declarouse usuário e funcionário de um lava a jato de automóveis. “Ele sofreu agressões na cabeça com um cabo de vassoura, tapas no rosto e teve cortes no pé com um vidro quebrado. Teve as mãos amarradas, além de ter submetido a sessões de choques, asfixia com de sacos plásticos e tentativa de afogamento”, narrou Carlos.

do baile funk, devido ao grande movimento trazido para a comunidade, além da música alta até de manhã. Já aqueles que são contra a proibição alegam que o baile era uma forma de lazer da juventude. A proibição do baile funk é embasada pela resolução 013, que dá ao policial o poder de proibir qualquer evento cultural sem aviso prévio, de acordo com critérios que ele mesmo pode criar. A resolução é a atualização de regulamentações da Lei da Censura (5.536, 21/11 de 1968), uma herança da Ditadura Militar. De acordo com Leonardo Chaves, a proibição do evento é mais um aspecto que reforça a criminalização da pobreza. “A forma que o Estado tem de conter a população de uma favela é criminalizando suas práticas e o baile funk é uma das formas que os moradores têm de manifestar sua cultura”, afirma.

Tudo como antes? O fim da situação de plena violência e dos tiroteios cotidianos parece ser consenso entre os moradores de favelas “pacificadas” e especialistas da área de segurança pública. Quanto ao abuso de poder, as moradias precárias e a quantidade de armas que circulam pela comunidade, a situação parece continuar a mesma de sempre – com a diferença de que as armas não estão mais nas mãos das mesmas pessoas, passaram a ser manuseadas pelo Estado. Desde a implantação da UPP no Santa Marta, em 20 de novembro de 2008 (primeira UPP instalada e considerada pelo governo como

Para o advogado, ao que parece, este não é um caso isolado. Casos de violência em áreas de UPP, já ocorreram em outros locais, como no Complexo do Alemão. “A realidade é que existem diversas violações de direitos humanos nestas áreas de UPP não chegam à mídia hegemônica devido ao crivo editorial da mídia comercial, que decide qual notícia é ou não vendável”, ressalta o advogado. Carlos também afirma que há um panorama de militarização da vida social destas comunidades, marcada pela seletividade da política de implementação das UPPs. “Elas obedecem aos interesses próprios dos megaeventos, bem como da especulação imobiliária. A manifestação mais evidente deste estado policial nas áreas de UPP é a repressão à cultura e o modo de vida local”, explica.

“favela-modelo”), a infraestrutura local quase inexiste. O saneamento básico não chegou e a precariedade é uma constante na vida dos moradores. Nada de creches, escolas, hospitais, espaços culturais, áreas de esporte e lazer. As políticas públicas parecem não acompanhar o ritmo das ocupações policiais. Para o advogado e professor Nilo Batista, há um forte processo de militarização das favelas. “A militarização é um atentado aos direitos constitucionais dos moradores de favelas. Se olharmos para o século XX, que foi um século com muitos genocídios, perto de cada um deles há forças policiais militarizadas, ou forças militares com funções policiais. É com essa receita que, no Complexo do Alemão, por exemplo, nós estamos caminhando inadvertidamente”, protesta. Para além da sensação de segurança, a população do Salgueiro e de qualquer outra favela pacificada quer ter sua voz garantida, participar das decisões sobre as políticas públicas que envolvem a comunidade. Não se trata de uma comparação entre o domínio das facções que controlam o varejo da droga e a UPP. Mas sim de lutar para garantir que os serviços básicos cheguem aos cidadãos das favelas, pois como lembra, em artigo, o historiador Luiz Antônio Simas: “Eu quero o convívio urbano e as ruas pacificadas. E rua pacificada é rua cheia, não é vazia de gente onde vez por outra se escutam tiros ou onde prevaleça a ordem do choque. Todos os que encaram a cidade fomentando o individualismo mais tacanho e o clima de desconfiança entre seus habitantes, prestam um desserviço. As políticas públicas que neguem nossa peculiaridade e atuem pelo viés da repressão higienizadora estão fadadas ao mais retumbante fracasso”. Para além de um território militarizado, a população não só do Salgueiro, mas de toda e qualquer favela pacificada quer atuar como sujeito de direitos, ativo e atuante, tendo voz e vez nas decisões sobre educação, saneamento, lazer, cultura e segurança. A cidadania, portanto é o que ainda se aguarda nesses territórios. Vírus Planetário - SETEMBRO / OUTUBRO 2012

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brasília

Canteiro de obras do Setor Noroeste a todo vapor Foto: Thiago Vilela

Conheça o Noroeste

Terra sagrada...ou vendida?

Por Alina Freitas, Mariane Sanches e Thiago Vilela “Nós vivemos aqui desde 1950. Brasília não existia, era só povo indígena. A moradia indígena não existe. Nossa moradia é a mata. São os seus núcleos usados para orar que são sagrados. Uma árvore tem um dono sagrado que é vinculado aos nossos antepassados e à terra’’, declara o pajé Santxiê, líder dos índios fulni-lô, guardiões do local. Estamos falando do Santuário dos Pajés, uma área de aproximadamente 50 hectares localizada próxima ao Plano Piloto de Brasília. Como já fora denunciado pela Vírus em 2010 (edição 7), o território indígena é alvo de disputa por grandes empresários. Eles estão construindo o chamado “Setor Noroeste”. Até 2009 a terra era do Poder Público, que há décadas atrás comprou a antiga fazenda Bananal para a construção de Brasília. Mesmo ciente da existência deste Santuário, o Governo do Distrito Federal (GDF), por meio da Terracap (Com-

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panhia Imobiliária de Brasília), realizou, sob imensos protestos, um leilão para empreiteiras interessadas em construir o novo bairro. De acordo com o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), no total foram leiloados 825 hectares. Deste total, os índios lutam na justiça por pelo menos 50 hectares, na contramão do Ibama, que defende que 20 hectares sejam assegurados, e da Terracap, que pretende reduzir ao máximo a área e deixar apenas 4 hectares para a Terra Sagrada. Desde o início das construções os indígenas vem denunciando a ação ilegal de empresas que começaram a fazer incursões no território usando milícias privadas, fazendo o uso de spray de pimenta. A casa do índio Towê, próxima ao Santuário, foi alvo de um incêndio (apontado por laudo da PF como criminoso) no dia 30 de março de 2009. O caso ainda não foi solucionado.

Impasse O Ministério Público Federal havia conseguido uma liminar que inviabilizava obras no local reivindicado pela comunidade indígena até que o processo de demarcação fosse concluído. A liminar caiu em agosto do ano passado, quando foi realizada uma Audiência Pública que decidiu que somente a empresa Emplavi poderia continuar realizando obras na área disputada. Segundo Ariel Foina, advogado que ajuda voluntariamente a causa do Santuário, no momento a situação é estável. “Desde então a Terracap não licitou nenhuma projeção que envolva a área indígena”, diz. A desembargadora Selene Maria de Almeida autorizou, através de liminar, que outras empresas continuassem as construções na área reivindicada, mas, de acordo com Ariel, as liminares foram revogadas e outras estão aguardando a resolução de mandados de segurança.


De vilã a “ecovila” O título de “bairro sustentável” se deu porque o local terá drenagem sustentável, coleta e tratamento do lixo. Os prédios terão, além de coletor solar, janelas grandes para absorver a luminosidade do dia. Ainda que todas estas promessas um dia saiam do papel, o problema está muito além da área do Santuário. No segundo semestre de 2011, o Ibram identificou o descumprimento de várias condicionantes estabelecidas na licença ambiental do Noroeste: depósito inadequado de terra oriunda das escavações, atraso no cronograma das obras de infraestrutura e controle do acesso ao canteiro de obras. O Ibram chegou a solicitar, em março, a suspensão das obras em todo o setor, pedido que foi ratificado pelo Ministério Público do DF e Territórios. Sob pressão das empreiteiras, a Terracap assinou um termo de compromisso que permitiu a continuidade dos trabalhos. Em seis meses a Terracap deve concluir o sistema de drenagem pluvial e manter o lago limpo. O novo setor não tem bocas de lobo na maioria das pistas e a tubulação para captar água da chuva não foi concluída. Segundo relatório da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), restos de obras chegaram a provocar assoreamento no Lago Paranoá.

Mesmo ciente da existência do Santuário, o governo realizou um leilão para empreiteiras interessadas em construir o novo bairro. ” A todo vapor

Até o final do ano várias unidades serão entregues sem inúmeros dos requisitos que tornariam o setor um “bairro ecológico”. Com um pouco de sorte, os pioneiros poderão ao menos desfrutar dos mesmos problemas da Brasília de 50 anos atrás: poeira, poluição, barulho de obras e tráfego de caminhões por todo lado. Tudo isso por “apenas” R$8 mil por m² (mínimo). Alguém se interessa?

Devido ao desrespeito às normas ambientais, o Instituto Brasília Ambiental chegou a pedir a suspensão das obras Fotos: Thiago Vilela

Mônica Veríssimo, analista em urbanismo e meio ambiente, está ao lado do Ibram nas denúncias de violação ambiental. “O Noroeste é tudo, menos um bairro ecológico. É possível ver que a vegetação vem sendo retirada para abertura de vias. Sem contar que a água drenada não poderia ser levada para o Bananal, o que vem acontecendo diariamente”.

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ENTREVISTA INCLUSIVA:

Nelma Gusmão Por Artur Romeu O que te motivou a escrever uma tese sobre o planejamento de uma cidade voltada para a produção de grandes espetáculos esportivos?

A lógica de uma cidade onde a dificuldade de se viver é sinal de desenvolvimento “Outro dia peguei um táxi, o motorista puxou papo e eu disse que estudava planejamento urbano. Ele virou para mim e disse: ‘Que bom! Porque está precisando’, como se esse estudo pudesse me conferir o poder de resolver todos os problemas da cidade.” Nelma Gusmão de Oliveira é doutoranda do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano Regional da UFRJ (IPPUR) e professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Desde 2008, ela acompanha os preparativos do Rio de Janeiro para sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Em setembro, Nelma defende sua tese de doutorado sobre as relações de poder na interseção entre o campo da produção do espetáculo esportivo e a produção da cidade. Ela conversou com a Vírus Planetário sobre como os megaeventos se tornaram o motor de uma reforma urbana que atende a certos interesses econômicos e políticos na construção de uma cidade que privilegia os negócios em detrimento da população. “Antes de perguntarmos para que serve tudo isso, temos que nos perguntar a quem serve tudo isso”.

Eu lembro que escolhi a temática dos espetáculos esportivos quando vi a comemoração, no momento em que o Rio de Janeiro foi escolhido como cidade candidata às Olimpíadas de 2016, em 2008. No anúncio do Comitê Olímpico Internacional (COI), em Atenas, estavam presentes diferentes representantes do poder político e da iniciativa privada - todos se abraçando, se beijando. Pensei, “está aí o projeto hegemônico que o Rio de Janeiro procura para unificar os interesses dominantes dentro da cidade”. Fui pesquisar o campo do espetáculo esportivo para tentar entender quais as estruturas de poder envolvidas que propiciavam a construção de um consenso em torno de um modelo de planejamento de cidade que se volta exclusivamente para o mercado.

O que você quer dizer com a construção de um consenso sobre o planejamento de uma cidade voltada para o mercado? É toda uma concepção de planejamento urbano que surge a como resposta às mudanças estruturais na economia a partir da partir da crise dos anos 1970 e, mais especificamente ao receituário proposto pelo Consenso de Washington. O governo federal se retira do papel de promotor do da política de desenvolvimento urbano e alguns teóricos começam a defender a ideia de que os gestores municipais

Fotos: Arquivo pessoal


devem assumir o papel de protagonistas na busca de investimentos. As cidades passam a se basear no modelo de planejamento e gestão empresarial, que, no Brasil, chega com o nome de planejamento estratégico. A ideia é que todos devem estar unidos no plano interno para poder competir por investimentos dentro do mercado mundial. Esse modelo chega ao Brasil através dos escritórios de consultoria catalães, tendo a experiência de Barcelona como paradigma. Um organismo complexo como a cidade passa a ser tratado como um sujeito unitário e, mais precisamente como uma empresa. Você vê aquela ideia de que a cidade tem vocação. “A vocação do Rio para os esportes”. Ora, uma cidade não tem vocação, dentro dela existem interesses contraditórios e conflitantes e não existe possibilidade de conciliar esses interesses em uma única vocação. A essência desse modelo não é uma cidade planejada para as necessidades de seus habitantes, mas sim para um ambiente externo, disputando com outras cidades um espaço para inserção no mercado global.

No entanto, é muito comum que esse caráter administrativo das cidades seja valorizado. Quais são os impactos de uma cidade ser gerenciada como uma empresa? O meu argumento, em concordância com muitos outros colegas, é que a cidade deve ser planejada para seus habitantes e não para o mercado. As decisões que envolvem esse debate são políticas e não administrativas. Onde investir? Como investir? Qual é o melhor projeto

Primeiro a cidade é gerida como empresa e depois a própria empresa passa a gerir a cidade”

para a cidade? Uma decisão administrativa é se vai contratar tal ou tal empresa, mandar tapar tal ou tal buraco. Uma decisão política é pensar se vai dar prioridade ao projeto “Porto Maravilha” em detrimento de outros projetos. A atitude de se ampliar uma linha de metrô ou buscar um traçado em rede é política porque envolve jogos de poder, interesses econômicos e interesses da população. A ideia do planejamento estratégico vem de um modelo que se coloca de cima para baixo e se impõe através do argumento de repetir a experiência que supostamente deu certo. Você não pode simplesmente transpor um modelo de uma cidade para outra; cada lugar tem suas peculiaridades próprias, históricas, sociais, culturais, políticas. E isso é feito sempre em cima do argumento do emprego e da renda, que é acionado para a construção do consenso.

Ouvimos com frequência a ideia de “o que é bom para a cidade”. Isso ajuda a determinar esse consenso? Existem muitos pontos de vista do que é bom para cidade. No meu ponto de vista, seria uma cidade que ampliasse os canais de participação, que aumentasse o espaço da política, da democracia participativa e que, ao mesmo tempo, reduzisse as desigualdades sociais. Mas, para certos segmentos, é melhor que venham os negócios. Nunca se ganhou tanto dinheiro no Rio como agora. É claro que, para esses grupos que estão ganhando, os megaeventos parecem perfeitos. Primeiro a cidade

é gerida como empresa e depois a própria empresa passa a gerir a cidade. A neutralidade e a competência técnica são sempre acionadas como ferramentas na criação do consenso, porque contra a competência ninguém tem argumento. Qualquer pessoa que se coloca contra ela é imediatamente acusado de atrasado, porque se coloca “contra o desenvolvimento”.

Da forma que você coloca, parece que é uma construção autoritária. No entanto, não temos a impressão de estarmos sendo obrigados a fazer o que quer que seja. Vários autores, dentre os quais eu destaco, no Brasil, o professor Carlos Vainer, já tem chamado a atenção o quão autoritário é esse tipo de consenso. Porque não é mais um autoritarismo da imposição pela violência, mas é um autoritarismo que passa pela própria negação do espaço da política. Porque a cidade não se torna mais o espaço de debate, e sim o do consenso, porque qualquer um que ouse desafiar o consenso é atrasado e antipatriótico. A cidade passa a ser gerida com base nesse modelo de projeto neoliberal, onde o Estado deixa de assumir o seu papel e o transfere para a iniciativa privada. Temos então a ação direta da iniciativa privada em torno do que alguns autores chamam de “coalização prócrescimento”. O espetáculo esportivo vem legitimar tudo isso de uma forma muito mais eficaz. O Rio de Janeiro não teria conseguido realizar esse projeto sem os megaeventos esportivos. O projeto Porto Maravilha, por

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ENTREVISTA INCLUSIVA_Nelma Gusmão

O que queremos fazer não é nada impossível, é apenas respeitar o direito dessas pessoas a decidirem sobre o seu destino”

exemplo, estava latente há muito tempo, os megaeventos chegaram para legitimar toda a sua articulação.

Como isso se configura concretamente no Rio?

Vamos tomar o Porto Maravilha como exemplo, uma área onde 75% das terras são públicas. Essas terras vão ser comercializadas preferencialmente para os compradores dos Certificados de Potencial Adicional Construtivo (CEPACS). A iniciativa privada, de posse desses certificados, poderá construir acima do limite de utilização do terreno permitido pela legislação. Os recursos captados no mercado, pelo município, com a venda desses certificados, seriam reinvestidos naquela região. A ideia é tornar o espaço atrativo, valorizando as oportunidades para o investimento através de uma Parceria Público-Privada (PPP). Ok. Vamos analisar de perto. No Porto Maravilha, primeira Operação Urbana Consorciada do Rio de Janeiro e a maior do Brasil, a iniciativa privada não apareceu para comprar os CEPACS no valor de 3,5 bilhões e investir mais cerca de R$ 8 bilhões no contrato de PPP para a realização das obras de infraestrutura, sua manutenção e prestação de serviços públicos por 15 anos. O Fundo de Investimento Imobiliário Porto Maravilha, controlado pela Caixa Econômica Federal, comprou todos os CEPACS com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Ou seja, dinheiro do trabalhador. O Fundo controlado pela Caixa foi o único interessado em assumir o risco e agora cabe a ele revender os 6,4 milhões de CEPACS na bolsa de valores para tentar recuperar o investimento. O risco é assumido com o dinheiro público. Essa é a primeira crítica. Outro ponto importante. A Prefeitura diz “vamos fazer uma grande arrecadação para investir na área”. Ora, vai arrecadar através dos CEPACs, cuja inversão está restrita à área onde foi captado o recurso, mas abre mão do IPTU e de outros impostos, através de várias leis de benefícios

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fiscais e creditícios, que poderiam ser aplicados de forma distributiva em áreas da cidade carentes de investimentos. Então, reforça-se a concentração de benefícios em áreas com potencial de valorização do capital. Por último, a Lei Orgânica do Município, a legislação Estadual e a Constituição Federal afirmam que para terrenos públicos estruturados em áreas centrais o poder público deve priorizar a construção de habitação de interesse social. Então você tem 75% de terras públicas, numa área central, com acesso a todos os meios de transporte, onde se concentra a maioria dos empregos da cidade, mas o que acontece? É uma área que tem um valor muito grande para colocar pobre para morar, dentro da visão desse modelo de cidade, é claro. A ideia é que para valorizar essa área, tem que tirar o pobre que está lá, ao invés de construir habitação social. Então vem uma série de discursos articulados, seja o de instalar um teleférico, de construir um plano inclinado, seja o de que a área é de risco. Todos os argumentos possíveis são acionados para tirar os pobres de lá, porque área onde vive pobre é desvalorizada. Enfim, sempre se colocou a necessidade de reestruturar aquela área, mas nunca para os moradores e sim para os negócios.

Mas como um projeto dessa envergadura, numa área central da cidade, passou sem que fosse feito um debate público? O Instituto Pereira Passos (IPP) é o órgão público responsável pelo planejamento e implantação de projetos estratégicos para a cidade. Em 2009, o Eduardo Paes convida o empresário Felipe Góes, sócio da empresa de consultoria McKinsey, para coordenar o IPP e cria uma Secretaria Especial de Desenvolvimento para ele, que assume o papel, como o próprio Prefeito do Rio ressaltou na época, de “vender a cidade”. O Felipe desmonta o instituto e enche com os primei-


A resistência aos megaeventos atingiu um nível de mobilização que tem se fortalecido a cada dia.”

ros escalões com funcionários da McKinsey, que praticamente monta um escritório dentro do IPP. Todo o projeto para o Porto Maravilhada é delegado, através dessa equipe, a um consórcio composto pelas empresas OAS, Carioca e Odebrech. Assim que o Rio de Janeiro é escolhido sede das Olimpíadas de 2016, é enviado para Câmera Municipal, onde é aprovado em apenas um mês, sem a realização de audiências públicas conforme previsto no Estatuto da Cidade. O projeto das empresas se torna lei e os únicos habilitados a participar da licitação para as obras no Porto Maravilha são do consórcio Novo Porto que é composto pelas mesmas empresas OAS, Carioca e Odebrech responsáveis pelo projeto e que ganharam um contrato de 7,5 bilhões de reais. E nada disso é ilegal. No final, uma área ocupada por determinadas classes sociais passa por um processo de reforma urbana que a torna inviável para a sua população original, seja devido à remoção forçada, seja devido à supervalorização do custo de vida na região que se revela insustentável para os antigos moradores. Muitas vezes, quando se fala em recuperar uma área degradada significa expulsar a população pobre que mora ali.

O que sustenta esse consenso? O professor Carlos Vainer identifica no discurso dos defensores desse modelo dois elementos como fundamentais. A percepção de crise e o patriotismo cívico. Ou seja, a percepção de crise vem trazer o projeto como salvador do fantasma da estagnação

e do desemprego. Para sustentar a continuidade do projeto, nada melhor que a ideia de que mesmo que eu viva muito mal na minha cidade, eu vivo na cidade mais famosa do mundo. A carga simbólica articulada aos megaeventos é muito forte, remete a uma construção de ideais gloriosos, como a honra, a justiça, a busca da superação ou a união entre os povos. Esses valores morais é que agregam valor à marca olímpica junto aos seus clientes. Quem são os clientes? Os patrocinadores, as redes de TV e os gestores de cidades. Uma vez estabelecido o consenso, estão criadas as bases de legitimação para uma maciça transferência do capital público para a iniciativa privada, seja através de políticas de redução de impostos, de incentivos fiscais, de financiamentos, de grandes empreitadas ou de mudança de parâmetros urbanísticos. A tese principal que defendo é que, se os interesses econômicos têm submetido a cidade ao mercado, a produção de eventos esportivos criam o meio adequado para que isso se dê de uma maneira perfeita. Isso só acontece graças a uma forte autonomia política e jurídica conquistada pelo campo da produção do espetáculo esportivo, através de uma delicada costura que atravessa mais de um século e se sustenta basicamente nesse capital simbólico nesse tempo acumulado.

Você acha que vai haver um legado para o Rio depois de 2016? Eu acho que teremos um grande legado, honestamente acho. Do mesmo jeito que esse projeto hege-

mônico conseguiu unificar os grupos dominantes do Rio, ele conseguiu também unificar os movimentos sociais que estavam bastante fragmentados. Eu acho que a resistência aos megaeventos atingiu um nível de mobilização que tem se fortalecido a cada dia. Inicialmente, se criou a Rede dos Megaeventos (Reme), que posteriormente evoluiu para Comitê Popular da Copa do Mundo e Olimpíadas para, na sequência, construir uma articulação nacional forte em torno dos Comitês Populares da Copa. Esta articulação acabou conquistando visibilidade mundial.

Como tem se manifestado essa união dos movimentos sociais? Qual seria um caminho alternativo? O Plano Popular da Vila Autódromo é um exemplo de como se pode planejar a cidade para seus moradores e que não é necessário fazer uma assepsia social para sediar eventos desse porte. Por mais que eu seja uma técnica em planejamento urbano, eu nunca vou saber o que é melhor para os moradores da Vila Autódromo, esse título de doutora não vai me conferir a chancela de dizer para as pessoas que lá vivem o que é melhor para elas. Uma cidade para ter valor de uso, tem que oferecer uma boa qualidade de vida para os seus moradores. Não tem mistério. O que queremos fazer não é nada impossível, é apenas respeitar o direito dessas pessoas de decidirem sobre o seu destino, o que não tem sido feito pelos nossos gestores.

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movimentos sociais

Por terra, território e

dignidade

Trabalhadores das organizações sociais do campo denunciam o “sequestro” do meio rural para alimentar as cifras bilionárias do agronegócio

Por Ana Malaco Entre os dias 20 e 22 de agosto houve em Brasília aquela que é considerada, entre os movimentos camponeses, a maior articulação entre as organizações sociais do campo. O último evento da mesma proporção aconteceu há 50 anos, o histórico I Congresso Camponês, de 1961. O Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas reuniu cerca de 8 mil camponeses, indígenas e quilombolas. O objetivo do Encontro foi o de unificar a luta dos movimentos camponeses, priorizando um plano de ação local em cada estado brasileiro, fortalecendo a base e definindo estratégias comuns a favor de políticas públicas para esta população excluída e oprimida diariamente. 32

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Para as organizações sociais do campo, o meio rural brasileiro está sendo “sequestrado” para satisfazer o lucro de poucas grandes empresas multinacionais do agronegócio. A atual crise econômica internacional vê como alternativa a expansão do capital sobre os recursos naturais como mercado de crédito e carbono, royalties do petróleo e do minério e especulação da terra, que caracterizam a transformação do capital fictício em patrimônio real, alimentando ainda mais a estrutura desigual desse modelo desenvolvimentista. Para Willian Clementino, representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), “Não haverá nenhum programa de combate à pobreza eficaz que não passe pela

Reforma Agrária. Este é um princípio para todos nós.”. O autodenominado agronegócio, que combina latifúndio, capital externo, tecnologia, agrotóxico e geração de saldos comerciais externos expressivos, surgiu como “alternativa” e resultado da crise estrutural atual do capitalismo. Este não modifica em nada a estrutura agrária do país, mas, ao contrário compete com pequenos agricultores, tira o direito de trabalho do homem do campo e gera ainda mais desigualdade. “Parte dos capitalistas do mundo inteiro está vindo para o Brasil comprar terra, usinas de combustível, hidrelétricas, agredindo o meio am-


Fotos: Ana Malaco

biente, forçando a mudança da legislação indígena e levando a uma maior concentração da propriedade, da terra e da renda”, pronunciou João Pedro Stédile, diretor nacional do MST que representou a Via Campesina, durante coletiva de imprensa realizada na abertura do encontro. Outro fator importante que foi denunciado pelas organizações foram as ações de violência de grandes projetos contra os trabalhadores e comunidades tradicionais. Mais de 500 projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) estão sendo executados em territórios indígenas. “O modelo de desenvolvimento que ceifa vidas e coloca na cadeia lideranças que lutam pela terra não pode ser chamado de desenvolvimento”, declarou Lindomar Terena, liderança indígena. Segundo publicação anual Conflitos no Campo Brasil, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), foram registrados 29 assassinatos de trabalhadores rurais em 2011. Embora o número seja menor que no ano anterior, quando 34 trabalhadores foram assassinados, houve aumento de 177,6% no número de trabalhadores e trabalhadoras ameaçadas de morte. Outro ponto destacado pelos movimentos foi a criminalização das organizações sociais através

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movimentos sociais Comunidades camponesas, quilombolas e indígenas sofrem com cenário de violência: • Recente desaparecimento de duas lideranças Guarani em MS; • Perseguição contra Tupinambás no sul da Bahia; • Atual disputa entre o Quilombo Rio dos Macacos e a Marinha, no interior da Bahia; • 1363 casos de conflitos no campo e 1035 conflitos por terra registrados no ano passado (Conflitos no Campo – Comissão Pastoral da Terra) • 12 assassinatos de janeiro a abril desse ano (Conflitos no Campo – CPT) • Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) nº 3239, que praticamente inviabiliza a demarcação de terras quilombolas; • A PEC (Proposta de Emenda Constitucional) nº 215, que transfere do Executivo para o Legislativo a regularização de áreas indígenas. das coberturas jornalísticas feitas pela mídia mercadológica. Segundo as organizações, ao tratar a luta como caso de polícia e não de política, a “grande” imprensa contribui para tornar ilegítimas as lutas das famílias que esperam o direito de trabalhar na terra e comunidades tradicionais que lutam pela legalização de seus territórios. A Declaração Final do Encontro Unitário, elaborada durante o evento, foi entregue ao Ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. O documento foi entregue por 15 mulheres, representantes dos diversos movimentos que compuseram o Encontro, no ato que finalizou o evento, no dia 22 de agosto. Cerca de 10 mil pessoas marcharam do Parque da Cidade em direção ao Palácio do Planalto. O documento propõe a efetivação da Reforma Agrária, o acesso A “grande” à terra, fortalecimento da agricultura familiar, fomenimprensa to à produção agroecológicontribui para tornar ca e orgânica, o respeito às mulheres e a superação da ilegítimas as lutas divisão sexual do trabalho, das famílias que a garantia da educação no esperam o direito de campo e a democratização dos meios de comunicação, trabalhar na terra” além de pautas sobre a necessidade de ações mais efetivas do governo para acabar com a violência no campo, contra trabalhadores, trabalhadoras, comunidade tradicionais e indígenas.

Ilustração: Vitor Vanes

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Por Chico Motta facebook.com/deltanews2012

*Improvável, mas não impossível.

NEWS

As principais notícias do dia com dispensa de licitação

C

ampo Grande – Nesta terça-feira, após um dia de campanha sem imprevistos, Eduardo Paes encontrou-se com os principais correligionários da zona oeste para uma partida amistosa de Banco Imobiliário, o jogo favorito do prefeito conforme informações de sua própria assessoria. No entanto, o que era para ser um jogo tranqüilo acabou gerando muita confusão. Logo no início os participantes se depararam com todos os logradouros da Zona Sul e Centro reservados em nome de Eike Batista que mandou um advogado para cuidar dos seus interesses. Hotéis eram construídos aos montes e o custo de passagem estava acabando com as reservas de todos. Para piorar a situação as companhias de ônibus, de estrada de ferro, de navegação e de aviação, já estavam todas vendidas, e antes que pudessem respirar as tarifas já haviam subido. “O custo de vida está altíssimo, Dudu, quem quer rir tem que fazer rir!”, indagou Jerominho pouco antes de puxar a carta-prisão e ser mandado para cadeia. A partir daí foi uma seqüência de carta-prisão atrás de carta-prisão que deixou até mesmo Eduardo Paes assustado. Os lideres que ainda permaneciam no jogo pressionaram o Prefeito para tomar alguma providência, recebendo como resposta uma mensagem de texto registrada com exclusividade por um de nossos jornalistas, “A relação com as milícias vai azedar na

“A relação com as milícias vai azedar na cpi, mas podem ficar tranquilos, que vocês são nossos, e nós somos seus”

cpi, mas podem ficar tranquilos, que vocês são nossos, e nós somos seus.” Mas em Pasárgada, como se sabe, todos são amigos do Príncipe, e não demorou muito e para que as regras do jogo mudassem. Paes logo assinou acordos abrindo novas concessões para transporte alternativo que foram distribuídas generosamente

entre os presentes, mexeu alguns pauzinhos e conseguiu liberar linhas de crédito facilitadas com subsídio do Minha Casa, Minha Vida, possibilitando, assim, a construção de diversas casas nos logradouros controlados por seus colegas. Ao final do jogo todos elogiaram a capacidade gerencial e administrativa do Prefeito, “Somos um Rio!” disse um dos líderes. Ainda durante o evento foi marcado o churrasco de lançamento da campanha de um candidato a vereador da região que ocorreria na data de hoje. Enviamos uma jornalista para cobrir, mas desde que deixou a redação não conseguimos mais entrar em contato. Redação - Rio de Janeiro”


Quem não respeita a

educação pública, não merece seu

Nessas eleições, não vote em candidatos que querem destruir a educação pública. A educação tem que ser 100% pública, gratuita e de qualidade. Por isso, exigimos:

_O fim das avaliações e gratificações baseadas na meritocracia _O não fechamento de escolas _Manutenção dos Triênios dos servidores _Planos de Carreira unificados _Concurso Público para contratação de professores e funcionários _Piso salarial de 5 salários mínimos para os professores e 3,5 salários mínimos para os funcionários _Eleições diretas para diretores de escolas

voto!! 35 anos

Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro

www.seperj.org.br


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