A liberdade através da transformação - movimentos por dignidade emergem no Brasil e no mundo
VÍRUS Porque neutro nem sabonete, nem a Suíça
Cidade para poucos Edição Digital nº11
com o desmonte da defensoria pública do Rio de janeiro, população fica à mercê das remoções
edição digital nº 11 agosto/setembro de 2011
PLANETÁRIO
Do YouTube ao Faustão sem mudar o discurso ENTREVISTA INCLUSIVA com
Amanda Gurgel A professora do Rio Grande do Norte que ficou famosa no YouTube por seu discurso firme em defesa da educação pública
A vírus agora tem sua editora! O COLETIVO DA REVISTA VÍRUS PLANETÁRIO TEM O PRAZER DE ANUNCIAR A CRIAÇÃO DE SUA EDITORA PRÓPRIA: Significado de Malungo: Companheiro, camarada. Nome que se davam mutuamente os negros escravos vindos da África no mesmo navio. Pelo simbolismo da força que este nome carrega, trazendo ao mesmo tempo o espírito de luta e de companheirismo presentes em nossas raízes africanas, é que escolhemos este nome para batizar nossa editora. Que seja mais uma etapa na árdua, mas recompensadora, caminhada pela comunicação construtora de um mundo em que haja felicidade para todas e todos.
“Tamo aí mandando brasa!” Malungo - Chico Science Além de editar a Vírus, a Malungo também realiza atividades de comunicação (edição, reportagens, diagramação, artes gráficas, entre outros) para organizações, sindicatos e outros movimentos sociais.
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Esta é a edição digital
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Sumário
Editorial
*Clique no número para ir direto para a página
Cidade pra quem? “Bota-abaixo”: esse foi o nome pelo qual ficou conhecida a reforma urbana do Rio de Janeiro no governo Pereira Passos. Mas bem que poderia se referir ao que ocorre hoje com a preparação para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Grande parte das favelas é o fruto que o povo fez brotar do áspero solo que lhes restou do primeiro “bota-abaixo”. Destruindo cortiços e casas pobres, e sem planos para habitações populares, a reforma levantou bandeiras a favor da ‘ordem’ e do ‘embelezamento da cidade’. Até agora, parece que a história se repete quando vemos as obras da Transcarioca, Transoeste e a ‘revitalização’ da zona portuária. A elevação do preço dos alugueis e de venda de imóveis mais do que dobrou em várias áreas, inclusive dentro das próprias favelas (algumas começam a ser chamadas de ex-favelas). Mas onde há poder, também existe resistência. Por isso, decidimos falar sobre liberdade. O ano de 2011 tem contado com protestos e levantes em todo o mundo. Fatos históricos como a derrubada do ditador Mubarak no Egito e as diversas revoltas na Europa, acabam de vez com as suspeitas de que os povos do mundo estão apáticos. No Brasil, se levantam contra as políticas dos governos, movimentos como o dos bombeiros e dos profissionais de educação. Em meio a tantas injustiças, uma nordestina indignada ganhou o Brasil via internet. Mais de três milhões de pessoas já viram o vídeo da professora Amanda Gurgel, que protestou contra o descaso com a educação pública. A Vírus Planetário bateu um papo com ela sobre falta de investimentos, cuscuz alegado e muito mais. Falando em cuscuz, você sabe o que tem comido? Na mesa do brasileiro hoje tem mais arroz, feijão, alface, morango... cheios de agrotóxicos. E tudo com o aval do governo brasileiro. Uma campanha nacional tem o objetivo de alertar a população sobre os riscos do veneno nosso de cada dia. E como a Vírus Planetário também é diversão e arte, temos uma entrevista com a banda El Efecto. Os caras produzem música de qualidade misturando todo tipo de som: rock pesado, samba e funk carioca. Tomás e Bruno, membros da banda, conversam conosco sobre ideologia, arte e preconceito musical.
Atraso e preço Pedimos desculpas pelos 30 dias de atraso para lançar esta 11ª edição. Estivemos revendo conceitos e investindo no projeto em si, como o registro ISSN que nos permitiu ter, pela primeira vez, código de barras em nossa capa. Contamos com sua compreensão, pois a Vírus é uma publicação independente. Por escolhermos o lado pelo qual caminhamos - mesmo mais difícil - sabemos que estamos no caminho certo, ajudando a construir uma sociedade mais justa. Para que consigamos produzir uma revista com qualidade, alcancemos a tão sonhada periodicidade mensal e cubramos, minimamente os gastos, aumentamos o preço para R$3,00. Muito obrigado pelo fortalecimento da mídia alternativa!
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Meio Ambiente_ Agrotóxico mata!
6 Bula Cultural_ Entrevista: El Efecto 8 Bula Cultural_ Crowdfunding e a reinvenção da vaquinha
10 Internacional/Entrevista_ Os indignados na Espanha 11 Brasilidades_ Do meu amor pela rua 12 Adriana Facina_ Pesquisar a favela com a favela 13 Sórdidos Detalhes 14 Movimentos Sociais_ A liberdade através da transformação
20 O Sensacional Repórter Sensacionalista 22 Entrevista Inclusiva_ Amanda Gurgel 26 Passatempos Virais_ Jogo dos 66 erros 28 Oswaldo Munteal_ Inclusão: Desafio para o século XXI no Brasil? | Nota: O assassinato da justiça
29 Rio_ A explosão da cidadania 32 Direto de Sampa_ Bola e Arte: Ariano Suassuna
Afinal, o que é a Vírus Planetário? Muitos não entendem o que é a Vírus Planetário, principalmente o nome. Então, fazemos essa explicação maçante, mas necessária para os virgens de Vírus Planetário: “Há 400 mil anos, nos tornamos Homo Sapiens. Desde então, nos diferenciamos uns dos outros”. Revista Vírus Planetário. Jornalismo pela diferença, não pela desigualdade. Esse é nosso lema. Em nosso primeiro editorial, anunciamos nosso estilo; usar primeira pessoa do singular, assumir nossa parcialidade, afinal “Neutro nem sabonete, nem a Suíça.” Somos, sim, parciais, com orgulho de darmos visibilidade a pessoas excluídas, de batalharmos contra as mais diversas formas de opressão. Rimos de nossa própria desgraça e sempre que possível gozamos com a cara de alguns algozes do povo. O bom humor é necessário para enfrentarmos com alegria as mais árduas batalhas do cotidiano. O homem é o vírus do homem e do planeta. Daí, vem o nome da revista, que faz a provocação de que mesmo a humanidade destruindo a Terra e sua própria espécie, acreditamos que com mobilização social, uma sociedade em que haja felicidade para todos e todas é possível.
EQUIPE: Editores: Caio Amorim, Mariana Gomes, Seiji Nomura e Daniel Israel Redação: Rio de Janeiro - Caio Amorim, Mariana Gomes, Seiji Nomura, Maria Luiza Baldez, Júlia Bertolini, Daniel Israel, Fernanda Freire, Artur Romeu e Rodrigo Teixeira | São Paulo - Carlos Carlos Ilustrações: Carlos Latuff (capa), Diego Novaes e Maurício Machado Colunistas: Adriana Facina e Oswaldo Munteal Diagramação: Caio Amorim e Mariana Gomes Colaborações: Aline Carvalho, Gustavo Sixel, Mardonio Barros e Felipe Salek Agradecimentos: Pâmella Passos
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A Revista Vírus Planetário - ISSN 2236-7969 é uma publicação da Malungo Comunicação e Editora
meio ambiente
Agrotóxico mata! Campanha permanente visa esclarecer danos causados pelo uso de agrotóxicos e estimular formas saudáveis de produção agrícola no Brasil
Por Daniel Israel e Júlia Bertolini* No mês de julho, a Anvisa proibiu a comercialização do agrotóxico Metamidofós. Para enfrentar este e outros venenos agrícolas, movimentos sociais, pesquisadores e outras organizações da sociedade civil se mobilizaram e construíram a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, lançada em abril. Desde então, a Campanha pertence à sociedade brasileira, que tem o desafio de lutar por soberania alimentar livre de venenos. No Rio de Janeiro, a Campanha, organizada em nível nacional, promove reuniões semanais no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS/UFRJ). A partir destes encontros, foi organizado o primeiro debate sobre os males do uso de agrotóxicos na agricultura brasileira, que ocorreu em junho, na Uerj. O tema confirma a situação de emergência vivida pela agricultura brasileira: ainda hoje, o modelo de produção agrícola privilegiado por investimentos públicos é o que se pauta na utilização de agrotóxicos. No mês de julho, foi lançado o Plano Safra da Agricultura Familiar 2011/2012, que, através do Pronaf, pretende R$ 16 bilhões em linhas de crédito para a agricultura familiar, enquanto a previsão para o lado oposto gira em torno de R$ 200 bilhões de lucro para os empresários do agronegócio.
Logomarca da Campanha
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Ou seja, como o agronegócio recebe inúmeros investimentos estatais e goza de incentivos fiscais, a agricultura familiar fica refém da imposição do uso de agroquímicos (como adubos e pesticidas), cuja compra é pré-requisito para a liberação de créditos. O resultado disto? O Brasil já é o maior consumidor de “defensivos agrícolas” – leia-se, agrotóxicos – do mundo, segundo dados de 2009 da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef). - Durante mais de 30 anos, os produtores ouviram de pesquisadores e agrônomos que suas práticas (pelo uso que faziam das sementes, por exemplo) eram ultrapassadas e pouco produtivas, e que o único jeito de produzir seria com adubos, agrotóxicos e se-
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- O Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), criado pela Anvisa em 2001, revela, ano após ano, que
A campanha vem chamando a atenção para a forma de produção de nossos alimentos e a saturação do modelo agroquímico.”
mentes melhoradas pelas empresas. O crédito oferecido era para comprar esse pacote. Promover a transição agroecológica significa reverter esses processos, repensar o papel dos serviços públicos para a agricultura e resgatar o papel do agricultor enquanto gerador de conhecimentos e tecnologias – afirma Gabriel Fernandes, pesquisador da AS-PTA (Agricultura Familiar e Agroecologia).
Até que a praga atingiu a lavoura Coincidência ou não, o termo ‘defensivo agrícola’ surgiu no Brasil justo quando o País atravessava uma de suas mais graves crises políticas: era o tempo da ditadura militar e o presidente era o general linha-dura Médice. Vírus Planetário - AGOSTO/SETEMBRO 2011
Portanto, de forma arbitrária e sem qualquer diálogo com os produtores rurais, foi implantado, na década de 1970, o Plano Nacional de Defensivos Agrícolas, como afirma a pesquisadora da Fiocruz-PE Lia Giraldo em artigo publicado na edição de julho da Le Monde Diplomatique. Ela explica como o uso indiscriminado de agrotóxicos viola o que está previsto em lei:
muitos agrotóxicos excedem os limites máximos de resíduos (medição que atende pela sigla LMR) autorizados pela legislação. A limitação, e até extinção, do uso de agrotóxicos é urgente e depende do envolvimento de todas as entidades civis organizadas. Só assim será possível evitar situações como a que passou Leile Teixeira, hoje professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) em Rio das Ostras, na Região dos Lagos (RJ), quando tinha dez anos: - Eu me lembro de uma vez, quando era criança, que fui mexer em umas plantas e minha mão ficou vermelha. Eu não sabia o que era, mas aquilo foi resultado do uso de agrotóxicos. Lembro-me do fato, pois fui brincar em seguida com algumas primas, e elas
Os rumos agroquímicos da agricultura brasileira O Brasil já é o oitavo maior produtor mundial de derivados químicos, cuja estimativa para 2010 apontou lucros de US$ 101 bilhões, ficando entre a Coréia do Sul e o Reino Unido. Por isso, a Indústria Química, que conta com 1.051 fábricas no País, sendo 600 apenas no estado de São Paulo, adquiriu tanto prestígio junto ao Governo Federal, uma vez que, por estar “colaborando com o desenvolvimento nacional”, os executivos receberam “carta branca” para agir como bem entendessem. É o caso da liberação de crédito rural mediante a compra de agroquímicos. Associada às multinacionais mais rentáveis do setor – como a Basf, de origem francesa, que estampa a logomarca na primeira página do sítio da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) –, a Abiquim aumenta seus lucros a cada ano. Como se vê no gráfico, o faturamento líquido – isto é, descontados salários e impostos – do setor, no Brasil, no ano de 2009, foi de US$ 103,3 bilhões. Se considerarmos o foco desta reportagem, ainda teremos muito assunto para abordar as razões dos US$ 16,1 bilhões investidos em fertilizantes, adubos químicos e agrotóxicos – estes últimos, denominados pelas transnacionais como “defensivos agrícolas”. Em documento preparado já em 2010, a previsão da Associação para o ano passado
era quase 30% superior, elevando o faturamento para US$ 130,2 bilhões. Quase metade deste rendimento se deveu aos “produtos químicos de uso industrial” (US$ 63,8 bi), mas fertilizantes, adubos e agrotóxicos também não estagnaram: somados, responderam pelo valor de US$ 18,2 bilhões. Uma lástima esta cesta básica, que reduz a qualidade de vida dos brasileiros e não ajuda o País a crescer. Ajuda, isso sim, a crescer o olho das multinacionais no Brasil.
não acreditavam que o vermelho era da plantação do milho, até porque encerávamos a casa com cera vermelha em pasta, que também deixava aos mãos assim. Mas eu nunca encerei a casa! (risos). A pesquisadora Lia Giraldo salienta, ainda, que “são diversos os estudos que mostram uma correlação entre as curvas de crescimento de consumo de agrotóxicos com as de registros de intoxicações em seres humanos.” No mesmo artigo, intitulado “Um país infestado por agrotóxicos”, ela enfatiza a estimativa da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), de que “para cada caso registrado de intoxicação por agrotóxico ocorrem cerca de cinqüenta outros sem notificação ou com notificação errada.”. Em outro momento, Gabriel Fernandes ressalta a função desempenhada pela Campanha: - A campanha vem cumprindo o importante papel de chamar a atenção da sociedade para a forma como nossos alimentos são produzidos e para o fato de que o modelo agroquímico está saturado. Com isso, o desafio é não ficar só nas denúncias, mas também mostrar as alternativas que já existem e o que precisamos fazer para aumentá-las e multiplicá-las. No dia 25 de julho, foi exibido no Teatro Casa Grande o documentário “O veneno está na mesa”, com direção de Silvio Tendler, que contou com um público estimado em 800 pessoas. Esta foi a primeira vitória da Campanha, que tem conseguido provocar a indignação da sociedade brasileira em relação ao envenenamento dos alimentos que consumimos. No entanto, nem todos estão satisfeitos. Trata-se do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola, que explicitou o incômodo causado pela Campanha através de ofício assinado por seu presidente Júlio Augusto Kämpf. O Sindicato reclamou ao reitor da Universidade de Brasília (UnB) por causa da circulação de exemplares do cartaz em que aparece um avião despejando agrotóxico sobre uma série de alimentos (ilustração ao lado do título desta matéria). No segundo parágrafo da nota encaminhada ao Reitor José Geraldo de Sousa Júnior, é mencionado que “o material associa a imagem distorcida de um avião agrícola, como poluidor de alimentos.”. A segunda vitória é saber que o cartaz não foi banido.
*Colaborou Maira Moreira
*Confira neste link o documentário de Sílvio Tendler, “O veneno está na mesa”, no YouTube : http://va.mu/EQgv Enquanto isso, as alterações no Código Florestal contribuem para aumentar o poder do agronegócio e seus agrotóxicos... Charge: Carlos Latuff
Bula cultural
algumas recomendações médico-artísticas
ENTREVISTA Foto: Caio Amorim
À esquerda Tomás Rosati e à direita Bruno Danton
A banda El Efecto é mais um daqueles raros casos de genialidade na música, tanto no conteúdo como na forma, que não raro são excluídos pelas rádios e pelo mercado fonográfico por seu contundente viés de contestação social. O grupo, formado em 2002, tem dois álbuns gravados - “Como Qualquer Outra Coisa” (2004) e “Cidade das Almas Adormecidas” (2008) (todas suas músicas estão disponíveis para download gratuito em seu site - www.elefecto.com.br ) e parte para gravação de seu terceiro trabalho. Apesar de passarem longe da mídia de grande porte, El Efecto vem construindo um público fiel no cenário alternativo por meio da divulgação na internet e em shows realizados em locais importantes como Circo Voador (RJ), Hangar 110 (SP), Fórum Social Mundial (Porto Alegre). Além de ter vencido os festivais Tápias, de 2005, e Rock & Diversão, de 2009. A banda, que conta com Bruno Danton (voz, guitarra, cavaquinho e trompete), Tomás Rosati (voz e bateria), Eduardo Baker (baixo) e Pablo Barroso (voz e guitarra), está a cada dia mais presente no imaginário de seu público com toda sua beleza lírica e musical. As belas melodias e arranjos (com uma infinidade de instrumentos) contribuem para aprofundar a dramaticidade presente em frases simples e diretas como “Teu tênis novo me chuta a barriga/Qual violência será mais nociva? Te roubam a carteira e de mim roubam a vida?”
El Efecto Por Caio Amorim e Mariana Gomes Como começou a carreira de vocês? Bruno: Começamos em 2002. A gente tocava em outras bandas antes, aí formamos o El Efecto para dar espaço para outras coisas que não tinham a ver com essas outras bandas, em termos de ideia, formato.
Você vivem de música? Bruno: Sim, mas não da banda, sou professor. O nosso baixista trabalha com direitos humanos. A banda não dá retorno financeiro, só para sustentar ela mesma. Mesmo assim a gente ainda precisa bancar algumas coisas com nosso próprio dinheiro. Tomás: Eu trabalho como professor de bateria e de espanhol. Temos conseguido fazer a banda custear os seus deslocamentos e outras coisas. Essa é a nossa meta. As nossas outras atividades permitem que a gente também conduza a banda da maneira como a gente acredita.
Vocês já buscaram alguma gravadora? Bruno: Não. Já pensamos nessa questão. Agora a gente está gravando um novo disco. Esse vai ser um momento em que tudo isso vai ficar pesado, porque gravação é desgastante. Às vezes até prejudica um pouco, porque se a gente fosse viver só disso podia se dedicar à gravação com tranqüilidade. Também não sabemos quais as implicações de fechar com uma gravadora, porque a gente disponibiliza tudo na internet. Se não pudermos mais fazer isso, acho que seria bastante difícil aceitarmos. É uma postura nossa, mas ao mesmo tempo nunca nos confrontamos com uma situação concreta que fizesse a gente avaliar os prós e contras disso.
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que a gente A inquietação política sobre a nossa coloca é uma cobrança e espectro social.” maneira de agir ness Foto: Caio Amor im
Vocês acham que a música de vocês consegue atingir o público em geral ou ela é mais intelectualizada? Bruno: Queremos sempre construir junto com as classes mais populares. Mas nesse campo artístico vivemos uma contradição inevitável. Tomás: A questão de classe para a gente é fundamental. Sempre nos perguntamos até que ponto conseguimos chegar às pessoas. Tentamos usar e abusar da música no seu sentido mais popular, por exemplo, o funk. Sobre a letra, acho que é a forma que afasta mais as pessoas da mensagem. Tem uma questão da letra, que é um pouco angustiante, mas que ao mesmo tempo não dá para fugir, que é a nossa condição de classe. Porque nós falamos de um lugar e, inevitavelmente, as pessoas que se identificam com isso são pessoas que tem angústias mais ou menos parecidas com as nossas. Mais do que isso, a inquietação política que a gente coloca está relacionada a uma cobrança sobre a nossa maneira de agir nesse espectro social.
Como é a receptividade do público nos espaços mais populares? Bruno: Já tocamos em duas ocupações urbanas. A Flor do Asfalto, que é uma ocupação de punks, e a Machado de Assis, ocupação sem-teto. O evento gira mais em torno do movimento do que do nosso show. Nas lonas culturais a galera que vai já é do rock’nroll, vai para escutar a banda. Eu toparia numa boa, mas nunca tocamos numa favela. Não deve ser tão diferente de um evento de rua, como o Santa Teresa de Portas Abertas. Você está ali fazendo um barulho para pessoas que não curtem o rock. Acho que a favela ou um evento de pessoas
Show da banda: versatilidade nos estilos e instrumentos musicais
que não tem hábito nem o interesse de escutar rock, é igual.
E o novo CD? Bruno: Conversamos sobre as diferenças entre os discos e ideias que a gente gostaria de resgatar, mas caminha mais ou menos na mesma direção. As ideias, as músicas, é uma maneira de compor tentando aglutinar coisas diferentes. Nesse terceiro CD a gente fez uma avaliação de aspectos que mudaram do primeiro para o segundo para saber o que vale a pena tentar. Unir uma vertente mais irônica e irreverente que no primeiro estava presente.
Vocês acreditam que é possível a banda chegar num patamar de sobreviver só da renda dos shows, mas ainda assim num cenário independente? Bruno: Eu acho que não, ia ser foda, muito bom, mas acho que não é possível. Tomás: Seria uma coisa incrível pra gente. Há casos como o do Teatro Mágico, que foram direto pelo circuito alternativo até chegar no patamar de hoje. Consideramos que tem muita gente que gosta do El Efecto, mas, ao mesmo tempo, a gente nunca teve esse boom de sucesso, não temos nenhum videoclipe tão bem produzido. Mas dá pra ser otimista porque a gente está sempre crescendo, né? (risos)
Bruno: Não tivemos grana e nem ninguém pra bancar. Temos dois videoclipes que eu gosto muito, que foram parceiros fizeram. A gente não ganhava em nenhum show, agora a gente recebe pelo menos um trocado pra pagar o transporte.
Há muito preconceito musical, especialmente contra os ritmos populares, e vocês têm um funk gravado, que é uma música das mais famosas. Como vocês enxergam essa questão? Vocês tocam o funk em shows, por exemplo? Tomás: De vez em quando, a gente toca sim. Sempre tivemos ela como arma secreta. Bruno: Às vezes pra implicar mesmo com o preconceito. Tomás: Teve um episódio muito interessante quando a gente foi tocar em Mesquita num evento chamado “Passarela do Rock”. E era aquela galera 100% roqueira, e aí a gente pensou: “Vamos começar com o funk pra ver o que vai acontecer”. Mas a repercussão foi tão escabrosa, eles ficaram com raiva, xingaram a gente, chegaram a desligar o som. Foi uma reação muito espontânea, em que a pessoa acaba se colocando também. Porque, às vezes, tem o público que não se digna nem a vaiar, nem a bater palma. Bruno: Os roqueiros desses locais é que são os oprimidos. E no bar do lado tinha o funk que atrapalhava o rock deles. E aí fica uma rixa babaca de gênero musical. E eu ainda tava com o cavaquinho, porque emendamos uma na outra. Mas foi maneiro porque, apesar de algumas pessoas terem ido embora, a maioria se prestou a ouvir o resto. No final decidimos dar o disco de graça pra quem ficou. Teve um cara de lá que até hoje pinta nos shows.
Bula cultural
algumas recomendações médico-artísticas
Crowdfunding e a reinvenção da vaquinha coletivo Financiamento rojetos - faz com que p g in d n fu d ow cr saiam do papel independentes
Por Aline Carvalho* O consumo de hoje não é o mesmo de algumas décadas – ou mesmo alguns anos atrás. O contato e a troca direta entre pessoas geograficamente distantes através da internet possibilita o estabelecimento de novas redes, colocando em questão não apenas o que consumimos mas também como consumimos. Depois da febre das compras coletivas, vemos surgir na internet o “crowdfunding”, também conhecido como “financiamento coletivo”. Trata-se de uma nova dinâmica de captação de recursos para projetos, através de coletas de fundos online. Em troca, são oferecidas contrapartidas criativas a seus apoiadores: uma garrafa de cerveja artesanal, link para download do filme, vaga num ônibus hacker, ou ainda uma oficina de animação online ou técnicas de DJ - apenas para citar alguns exemplos. O que importa é a originalidade, e o apoiador é convidado a fazer parte do projeto. Em vez de pagar
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R$40 no CD da
mento nasceu. Esta dinâmica ainda se dá principalmente nos círculos próximos dos projetos e alguns mais antenados nas novidades da web. Mas com a popularizaçao destas ferramentas e o aumento do número de projetos financiados com sucesso, vemos surgir ao poucos uma “cultura de crowdfunding” no Brasil.
Além disso, muda-se o foco Lady Gaga, por que não finando financiamento do produto, que ciar 4 bandas independentes com deixa de depender exclusivamente da sua exploração comercial, R$10 cada?” abrindo a possibilidade para o compartilhamento e difusão em O termo vem da noção de “croredes alternativas. Por outro lado, wdsourcing”, quer dizer, usar a cose apresenta também uma nova via letividade como fonte de ideias. Muitas vezes, os apoiadores de para o consumo em si: em vez de pagar R$40 num cd da Lady projetos no crowdfunding contribuem também com sugestões e na Gaga, por que não ajudar a financiar 4 bandas independentes com divulgação, indo além do papel passivo de consumidor. Isto possiR$10 cada uma, e ainda receber o link do cd, participar do show de bilita a formação de redes, parcerias e trocas pessoais, culturais e estreia ou entrevistar os músicos? técnicas. Trata-se de um fenômeno social e também um novo moEste movimento está a todo vapor no mundo, e, no Brasil desde delo econômico, se apresentando como uma solução de captação janeiro deste ano, foram criados mais de 10 sites de crowdfunding, de recursos para projetos que não tenham grandes patrocinadores, como Catarse.me, Ulule.com e Movere.me. Eles atuam facilitando mas que sejam suficientemente interessantes para atrair pequenos o contato entre produtores e o público, ao mesmo tempo consumie médios apoios financeiros, além de muitos colaboradores. dor e financiador dos projetos. Como todo novo modelo econômico, este tipo de financiamento também encontra novos desafios. Prin*Aline Carvalho é mestranda em Indústrias Criativas na Université cipalmente no Brasil, cujo poder aquisitivo e o hábito de realizar Paris 8 e coordenadora da versão brasileira do site de crowdfunding compras online é bem diferente dos Estados Unidos, onde o moviUlule.com
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Vírus Planetário - AGOSTO/SETEMBRO 2011
Indicações Chico César - “Odeio Rodeio” Foto: George Vale
Atual secretário de Cultura da Paraíba, Chico César, desde o começo de sua carreira -“inaugurada” com o sucesso “Mama África” em que fala da rotina da mulher negra e pobre brasileira - se manteve alheio ao que dá o tom no mercado fonográfico brasileiro. Em “Odeio Rodeio”, lançada em 2003, o músico denuncia os rodeios (“não sei se é luxo ou é lixo/quem sabe é o bicho/que sofre o esporão”) e o agronegócio (“mas quem corta cana/não pega na grana/não vê nem a cor”). Como explicou em sua página na internet, “a monocultura estética em torno de temas ligados ao agronegócio copiado do modelo americano tem subestimado a pujança criativa do interior do país.”.
Livro “Da favela para as favelas” - Repper Fiell
O músico Marcelo Yuka e a jornalista Claudia Santiago são algumas das pessoas que referendam este livro, o primeiro do Repper Fiell (com “E” pela valorização da cultura nordestina do Repente). Liderança comunitária da favela Santa Marta, do Rio de Janeiro, o autor critica a comunicação hegemônica e fala sobre o rap e a cidadania. À venda por R$15 no site www.educarliberdade.com.br
Site - “Não tenho preconceito, mas...”
Contraindicações Estupro não é piada!
O “humorista” Rafinha Bastos, da TV Bandeirantes, declarou em um dos seus “espetáculos” de stan d up comedy que o homem que estuprar uma mulher feia merece um prêmio, pois fez um favor a ela. Diante dessa “excelente piada”, finalmente, o Ministério Público decidiu investigá-lo por incitação e apologia ao crime. Tem gente por aí dizendo que isso é censura. Para essas pessoas, Rafinha só violou a regrinha do “politimanifestante em São Paulo camente correto”. Pois é. E não é que a piadinha se espalhou por program as ainda mais sem graças, como o tedioso “Zorra Total”? No quadro do metrô, é feita a mesma piada, um homem abu sa sexualmente de uma mulher e sua amiga diz pra ela aproveitar e que deveria se sentir sortuda, pois não é sem pre que uma mulher feia como ela tem essa sorte.
O blog “Eu só queria estudar” fez uma boa postagem sobre o caso, confira o texto neste link: http://tinyurl. com/3nagn73
Cena do Zorra Total que natu raliza o abuso sexual em trens e metr ôs
Sites baseados em colagens comentadas de posts de twitter e facebook não são novidade, mas este merece a indicação porque combina o humor com o problema do preconceito. Frases de gênios ímpares da rede como “Não sou homofóbica, mas vão se agarrar em casa. Ô vergonhera!.” recebem comentários do site como “Não te abomino, mas saia da minha frente.”. Vale a pena conferir www.naotenhopreconceito.tumblr.com
POSOLOGIA ingerir em caso de marasmo ingerir em caso de repetição cultural ingerir em caso de alienação manter fora do alcance das crianças nocivo, ingerir apenas com acompanhamento médico extremamente nocivo, não ingerir nem com prescrição médica Vírus Planetário - AGOSTO/SETEMBRO 2011
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entrevista
Henrique Carneiro:
Os Indignados na Espanha HENRIQUE CARNEIRO, professor de História da USP, esteve na Espanha, e acompanhou a chegada das marchas a Madri, no dia 23 de julho. Nesta entrevista, o escritor e militante do PSTU mostra como a Puerta Del Sol, em Madri, tornou-se centro da luta na Europa, retomando o fio histórico com a geração que resistiu em Madri, diante das tropas franquistas.
Por Gustavo Sixel Como foi a chegada das marchas com os indignados?
Henrique Carneiro: Eles percorreram até 600 km, de seis pontos. Passaram em cidades médias e iam se comunicando, com celulares, smartphones.... Quando chegaram, eram milhares e fizeram um grande ato. No dia seguinte, uma passeata juntou 40 mil. Vi muito cabelo branco na Praça. Gente atingida na aposentadoria, lutadores de outras gerações. Havia veteranos da Guerra Civil, como uma velhinha de 88 anos, derrubada pela polícia. A Puerta del Sol é o marco zero de Madri, ponto central, com grande tradição política. A Praça estava ocupada desde 15 de maio (15-M), com tambores, festa... Tinha esse ar, jovens, desempregados e até andarilhos. Gente com tempo para seguir a marcha. Que não estava trabalhando...
Tempo que sobra hoje, com o desemprego...
Henrique: Sim. A taxa na juventude é mais de 40%, e a média, 21%. É o setor mais atingido, com perspectiva de decadência, de viver pior que os pais... Em Portugal se diz: “É preciso estudar para ser escravo”. É um fenômeno mundial de que o capitalismo não tem mais como absorver esses setores. Um cenário sombrio, de perda de conquistas. A Espanha vive uma rebelião no sentido integral. A idéia de que é preciso mudar tudo... Imagino que semelhante ao que deve ter sido 68. Algo como: “dormíamos. Agora despertamos”.
Algo como um retorno da paixão pela política? Sim, pela política das ruas. De mostrar
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Somos os netos dos operários que vocês não puderam fuzilar na Guerra Civil”
como basta reunir algumas centenas, milhares de pessoas que você faz história, consegue mudar a agenda do sistema. Faltam ainda as camadas organizadas do proletariado. Os sindicatos, com exceções, estão ausentes porque são aliados do governo. Já os manifestantes cantam: “o que falta, o que falta? uma greve geral”.
Como são os debates dos manifestantes?
Um pouco todo mundo fala o que acha. É a ideia de democracia direta, de tomar a palavra. Há toda uma gestualidade... O pessoal evita aplaudir, agita as mãos se concorda, e cruza os braços, se é contra. Evitam vaiar, acham ruim. Há muita participação, mas pouca alternativa, programa. Há quem propõe participação eleitoral; o 15-M como partido. O anticapitalismo é presente. Cantam: “anti, anti, anticapitalistas”. Mas o que fazer, o que pôr no lugar, não há um projeto ainda. Há uma retomada de uma tradição, da guerra civil. Teve uma pequena cidadezinha, onde o prefeito, do PP, quis tirar as tumbas de mártires da guerra civil. O pessoal do 15-M foi lá, com bandeiras
Momento da chegada das marchas dos indignados / Foto: Henrique Carneiro
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Vírus Planetário - AGOSTO/SETEMBRO 2011
No cartaz na praça Puerto del Sol, “A revolução apaixona” / Foto: Henrique Carneiro
republicanas e cartazes dizendo “somos os netos dos operários que vocês não puderam fuzilar”.
Essa revolta se espalha pela Europa, o mundo árabe, Chile. Podemos chamar de um levante mundial?
É uma reação em cadeia como não se via em décadas, com diferentes facetas. Na Grécia, Espanha e Portugal, há o movimento de massas. E na Inglaterra é um sintoma das grandes cidades, da exclusão social. E outro pólo, o da extrema direita. O ataque em Oslo mostra que saídas radicais vão se tornar mais presentes na Europa com a crise. A ameaça fascista não deve ser desprezada. Na Noruega, tem 23% dos votos. O norueguês não é um louco solitário. No poder, a esquerda oficial faz as políticas dos banqueiros, e cria desilusão... Os manifestantes gritam: “Onde está a esquerda? No fundo, à direita”. A geração chamada de “ni-ni”, não quer nem PSOE, nem o PP, partidos com uma mesma política. As saídas de centro são idênticas: salvar bancos e atacar as massas. E, assim, o lema Revolução ou Fascismo assume atualidade.
Brasilidades | cidade da vez: Fortaleza MARDONIO BARROS Mardonio Barros é morador de Fortaleza, Ceará, pedagogo formado na UFF e produtor cultural
Hoje ao fim de um dia de trabalho, depois de ir de um lado para outro da cidade, “terminei”, por assim dizer, minha peregrinação por Fortaleza. Parei em uma livraria para procurar uns livros, e tomar café. Encontrei um livro que há muito tempo queria ter novamente, um livro do cronista João do Rio chamado: “A Alma Encantadora das Ruas”. Em um dos textos, bem no início do livro, o autor fala sobre nossa paixão pela rua. Digo nossa, dos humanos que nos encontramos na rua e que através dela chegamos aos muitos destinos e a ocupamos de múltiplas formas e sentidos.
“
A rua é o lugar de passagem, que divide os espaços da cidade ao mesmo instante que os liga.”
Do meu amor
pela rua
veis e\ou mal executadas pelas empreiteiras mafiosas. Entretanto, acredito no potencial da rua e em seus movimentos contraditórios com suas forças humanizadoras e desumanizadoras, pois a realidade é totalidade e a totalidade é contraditória. É caminhando pelas ruas que podemos ouvir seus gemidos de gozos, é tomando as ruas que podemos mudar a ordem das coisas. É preciso reagir, para resgatar a vida que pulsa nas ruas e nos corações dos que nelas transitam. Pois só assim, conseguiremos vencer o medo, a miséria, os buracos, a brutalidade cotidiana das relações que estabelecemos uns com os outros. É preciso encher as ruas de gente, que passeiem por elas, e que nelas se apaixonem umas pelas outras. E que nossa paixão pelas ruas, e pela vida possa dar novos nomes e sentidos as ruas onde nossos passos são dados.
Praça do Ferreira em Fortaleza/CE | Foto: Renato Ribeiro
A leitura do livro transportou-me para muitos lugares e tempos, e me fez pensar em toda uma vitalidade que pode ser encontrada na rua. A rua é o lugar do público, da vida que está fora da casa com seus perigos e encantos. Na contemporaneidade vivemos o avanço da cultura do medo, do estimulo ao consumo e da segregação, que têm contribuído para o esvaziamento do público. A rua é o lugar de passagem, que divide os espaços da cidade ao mesmo instante que os liga. Sempre que eu posso saio flanando, sem destino, meio vadeando, meio refletindo sobre a vida e sobre o mundo. Caminhando pelas ruas podemos ver mendigos, vendedores, carros disputando espaço e\ou paralisados em engarrafamentos quilométricos, e raramente crianças jogando bola e tias sentadas nas calçadas de suas casas olhando o movimento da rua e conversando trivialidades. São retratos de um mundo que se desenvolve desigualmente e que produz mendigos e carros em um volume cada vez maior. Percorrendo os caminhos de Fortaleza consigo perceber as contradições que se manifestam nas ruas. É no contato com o mundo que posso sentir-me mais humano e mais participante da vida. Vivemos num mundo das sensações, num mundo da imagem, dos sentidos e dos desejos, mesmo que estes últimos em alguma medida tenham sido encapsulados pela lógica do consumo imprimida pelo mundo do capital. Nas ruas de Fortaleza é comum ver carros de luxo rebocando enormes aparelhagens de som que ostentam as desigualdades e propagam o “forró eletrônico” ao lado de ônibus lotados que transitam com dificuldade pelas ruas cheias de buracos, fruto de obras intermináVírus Planetário - AGOSTO/SETEMBRO 2011
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ADRIANA FACINA Adriana Facina é antropóloga e professora do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF). Coordena o Observatório da Indústria Cultural e figura entre o(a)s principais pesquisadores de favelas e cultura popular, além de ser uma importante ativista social.
Pesquisar a favela,
Pesquisar na favela,
Pesquisar com a favela Os desafios do(a) pesquisador(a) acadêmico que deseja transformar a realidade que estuda
Uma das marcas mais perversas na desigualdade social brasileira na educação é a do acesso à universidade. As tímidas políticas públicas voltadas para a ampliação da educação superior não conseguiram, ou não pretenderam, aproximar a universidade pública do horizonte de vida da maioria dos jovens da classe trabalhadora. Muitos sequer sonham com essa possibilidade de cursar uma “pública”, no máximo contemplam a “faculdade privada”. Se isto é verdadeiro para o ensino de graduação, quando falamos de pesquisa acadêmica, a distância é ainda maior. Contraditoriamente, embora poucos favelados se tornem pesquisadores universitários, a favela é um dos temas clássicos de pesquisa no campo das ciências sociais. Tal contradição está na base de sentimentos ambíguos por parte da população das favelas em relação aos pesquisadores que fazem daquele território seu campo. Se, por um lado, há a expectativa de serem ouvidos, de conquistarem melhorias para suas favelas, de denunciar as mazelas vividas, por outro, existe a desconfiança de que tais pesquisas ajudem mais aos pesquisadores em suas carreiras do que propriamente aos seus “objetos” de estudo.
“
Todas essas tensões me fazem refletir sobre o meu papel como pesquisadora. Quando me perguntam sobre o “retorno” que minhas pesquisas darão para a favela sempre sinto um frio na espinha. Afinal, tal retorno pode ser muito modesto frente às expectativas geradas. Minha posição é pessoal e não pretendo ditar um receituário ético. Até porque, o caminho que escolhi também gera muitas dificuldades. Como pesquisadora, não me vejo pesquisando a favela ou mesmo na favela. Procuro colocar meu capital cultural e as relações que posso mobilizar a favor de demandas que percebo entre meus interlocutores (e não informantes e menos ainda objetos) de pesquisa. Em diálogo, pretendo pesquisar com a favela. Creio ser esta uma posição democrática que, ainda que não seja capaz de superar conflitos e contradições gerados pela brutal desigualdade social que coloca pessoas de classes sociais distintas em mundos culturalmente separados, pode despertar novas práticas. Subverter, por um lado, o autoritarismo do saber acadêmico e seu distanciamento das demandas dos pobres e, por outro, as expectativas geradas por anos de clientelismo estatal ou ongueiro não é tarefa fácil. Mas o desafio, acredito, vale a pena acadêmica, política e existencialmente.
O desafio vale a pena acadêmica, política e existencialmente”
Há muito sentido nessa desconfiança. De fato, até mesmo pela ausência de discussão acadêmica sobre questões éticas nas pesquisas em territórios favelados, pelas dificuldades de divulgação dos trabalhos e também pela frequente surdez do poder público para com os resultados dessas pesquisas, aparentemente pouco impacto elas trazem para a favela. Digo aparentemente, pois tenho certeza de que a permanência das favelas no cenário da cidade tem a ver obviamente com a resistência do povo favelado, mas também com a atuação de aliados não favelados, e aí incluo os inúmeros pesquisadores que se voltaram a conhecer, compreender e mesmo defender a existência das favelas. Voltando à desconfiança, nela também existe o mito de que os pesquisadores ficam “ricos” com seus livros e teses, o que sabemos
Vista do alto do Cruzeiro, em Acari | Foto: Equipe do Projeto Acari Cultural coordenado por Adriana Facina
não ser verdade para a maioria, professores assalariados de classe média. Existe ainda a recusa em ser “objeto” de pesquisa, “ratos de laboratório”, como ouvi recentemente. Para estes, os próprios favelados seriam as únicas vozes legítimas para falar sobre a favela. Se, por um lado, tal reivindicação parte de uma legítima demanda de voz e espaço na produção de conhecimento sobre a favela, por outro, ela também não está livre de complexas questões que envolvem financiamento de ONGs e o capital (simbólico e econômico) capaz de ser mobilizado com o rótulo favelado.
A Mentira varrida pra debaixo do tapete
s o d i d r ó s . . . s e h l a det
Não adianta, o Eike faz de tudo para ser notícia. Mas ele quer sempre mais, para ele é preciso multiplicá-las. E no Norte Fluminense, onde populações inteiras estão perdendo suas moradias por causa do Porto do Açu, não é que Batista agora quer processar dois blogueiros de São João da Barra? O Blog A Mosca Azul, mantido pela dupla Charles Guerreiro e Fabrício Freitas, publica inúmeras violações provocadas por autoridades, veículos de comunicação e empresários.
Choque ou educação? Depois de 2 meses de greve, professores conseguiram 5% de aumento, ultrapassando o patamar dos R$ 800,00 mensais de vencimento, mesmo o governo tendo oferecido inicialmente apenas 3,5% de reajuste. Alguns dias depois, Sérgio Cabral concede espontaneamente gratificação bônus de R$ 1.000,00 mensais para integrantes da Tropa de Choque da PM-RJ. Nada contra a tropa, que ganha mal, mas entre o Choque e a Educação, Cabral deixou bem claro a forma que prefere lidar com o povo. Ilustração: Carlos Latuff
A presidenta isentou o empresariado industrial de bilhões em impostos com a mesma rapidez que vetou o aumento dos aposentados (que, por sinal, já estava aprovado). Dilma assinou embaixo também o quase livre-acesso aos recursos que o BNDEs repassa com juros subsidiados. Conseguiu o que queria: manter as regalias dos que já estão montados na grana e deixar o povão a ver navios. Já passou da hora da galera que falou que ia derrotar Serra nas urnas e Dilma nas ruas começar a se mexer.
dilma e pmdb PT e PMDB comemoram casamento com bolo. Ah... Como é doce a vida!
E um desses empresários é o próprio Eike, que, em bate-papo pelo Twitter, avisou o seguinte aos rapazes: “Vou na justica (sic) contra voces (sic) tambem (sic)! Legal” Legal que ele não acentuou um monte de palavra e deu mais motivo para a gente militar contra ele e os megaprojetos dele. Só o Porto do Açu tem obstruído a consolidação de assentamentos de Reforma Agrária, comunidades tradicionais (caiçaras, pescadores, quilombolas e indígenas) e residências em geral.
serra Derrotado nas urnas. E Dilma? Será derrotada nas ruas?
PMDB está indignado com as prisões realizadas na operação voucher. Eles acham que a presidenta Dilma deveria se posicionar do lado da base aliada, independentemente de provas de corrupção. Prometeram atrapalhar o governo nas votações do legislativo para mostrar a força do partido. Uma das medidas debatidas na cúpula do partido para prejudicar o governo é aprovar o aumento das verbas para a saúde. Incrível como o mundo gira em volta dos umbigos dos partidos. Incrível como aumentar a verba para a saúde é considerado uma agressão.
Ilustração: Diego Novaes
Minimizando a vida
Por Daniel Israel, Mariana Gomes, Felipe Salek e Caio Amorim
saúde privatizada O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (CREMERJ) denunciou a farsa que é o concurso público da prefeitura do Rio de Janeiro. Eduardo Paes abriu concurso para médicos com salários de R$ 1.500,00 mensais. A carga horária é de 24h semanais. Ao mesmo tempo, a prefeitura paga R$ 9.150,00 para as chamadas “Organizações Sociais” (OSs), por cada médico exercendo a mesma carga horária. É tudo uma questão de escolha. Aqui, escolheu-se privaizar a saúde e retirar direitos dos profissionais. Ainda vamos ouvir muito falar dessas OSs. Essa é mesmo uma gestão que “faz tudo pelo social”! Pelo social da Unimed, da Amil, da Golden Cross...
É Gangue! Enquanto vários políticos são denunciados por enriquecer de maneira ilícita e nada acontece, o rapper Tonho Crocco, da banda Ultramen, está sendo processado. Isso porque fez um rap para protestar contra o aumento de salário dos deputados estaduais do Rio Grande do Sul. Os parlamentares aprovaram para si mesmos 73% de reajuste em 2010. Na letra da música, Crocco se refere aos deputados que votaram a favor como uma “gangue”. Dúvidas que não querem calar: 1) Ele falou alguma mentira?; 2) E a liberdade de expressão? Termina onde começa a “honra” dos pobres e difamados deputados?
movimentos sociais
A liberdade atravÊs da transformaç
Foto: Samuel Tosta
Por Seiji Nomura, Mariana Gomes e Caio Amorim Balões vermelhos rasgam a palidez azul do céu inerte da praia de Copacabana. Cerca de 50 mil pessoas, entre educadores, bombeiros, crianças e até cachorros povoam o negro granulado do concreto e as não-tão-brancas areias da praia. Porém, o que os traz ali naquele domingo de 12 de junho não é o habitual dourado da cerveja à beira-mar, nem o bronzeado com que nos tinge o sol, mas um grito entalado na garganta.
eiro, n a J e Rio d tram o s n o s e m õ o nd izaç Mobil m todo mu isposto a ed ee da Brasil indignado de através povo iberda rnidade l a r ista ate conqu aldade e fr igu
ção
A grande manifestação foi em apoio às greves dos professores da rede estadual e aos bombeiros do Rio de Janeiro, que receberam amplo apoio da sociedade. A passeata, que foi do Posto 2 até o Forte de Copacabana, foi a coroação da união de servidores públicos do estado do Rio de Janeiro (especialmente os bombeiros e os profissionais de educação). Para uma geração que nasce entre 1985 a 1990 (como os autores desse texto), para quem grandes protestos se assemelham a um vago arremedo de lembrança, estar numa manifestação como essa é algo de arrepiar. Pode parecer para muitos que, diante dos relatos dos livros de história ou filmes de ficção sobre as ‘Diretas já’ ou a luta contra a Ditadura Militar, o que ganha o cinza de aspecto vago são os protestos atuais, mas o que realmente se percebe é que o que não passam de fantasmas são ideias como a de que o povo não luta por seus direitos ou que a juventude de hoje não liga mais para a política. Por mais que esteja longe do que se pode esperar, no alvorecer das revoltas árabes e de grandes manifestações como as das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), principalmente em Jirau (RO) e Supae (RO), ninguém mais fala no “fim da história” como a resolução dos grandes conflitos políticos, como fez Fukuyama perto dos anos 90. “Enquanto houver ser humano, haverá história”, afirma Modesto da Silveira, advogado de presos políticos desde a Ditadura Militar até hoje, como os presos na visita de Obama neste ano. “Cerca de 20 mil pessoas por dia morrem não de AIDS, AVC ou qualquer outra doença, mas por fome, por não ter o que comer. Enquanto isso, há indivíduos que lucram o equivalente a países inteiros. A luta da sociedade civil por direitos vai continuar”, afirma o advogado, para quem a democracia foi uma conquista em relação aos chamados “Anos de Chumbo”, nos quais foi até sequestrado.
movimentos sociais
Uma história de luta A impressão que muitas vezes se passa nos veículos da imprensa comercial é de que revoltas como a de Jirau (onde dezenas de milhares de trabalhadores se revoltaram) surgem de repente. E com os professores e bombeiros, não foi muito diferente. De repente, pipoca uma revolta na tela da TV. No caso dos bombeiros, porém, a luta atual tem sementes antigas. Não é possível precisar um começo exato (sempre há precedentes), mas certamente a tão polemizada ocupação do Quartel Central tem raízes na proibição de greves no meio militar, o que dificulta muito qualquer reivindicação. Fortes restrições ao direito de lutar por melhores condições de trabalho e salários dignos. Os bombeiros são obrigados, por exemplo, a cumprir todo o expediente durante o período das manifesta-
“
Agora a imagem de Cabral como administrador de sucesso, herói das comunidades, construída pela Rede Globo e seus aliados, começa a ruir.”
ções. Em geral, quem estava mais presente no movimento estava de férias ou em folga. Segundo a historiadora e professora da Universidade Federal Fluminense, Virgínia Fontes, o movimento dos bombeiros começou paulatinamente com aqueles que têm
contato diário com a população, principalmente na orla marítima e, pouco a pouco, foi se ampliando. “As primeiras manifestações foram caminhadas no Aterro do Flamengo, de salva-vidas. A imprensa caiu em cima, mas a exposição das condições de vida dos bombeiros, homens e mulheres, mexeu com
o da
omeç c O l a r b Ca opularidade queda da p retrospectiva: Uma breve
Ilustração: Carlos Latuff
Incentivados pela mídia comercial, especialmente os veículos das organizações Globo, a opinião pública, em geral - desconsiderando os movimentos sociais - apoiava incondicionalmente o governador do PMDB, que tem gastos milionários em propaganda. Culminando na invasão da Vila Cruzeiro e do Conjunto de Favelas do Alemão em novembro de 2010, ação considerada pela mídia hegemônica, a batalha derradeira contra a criminalidade, a popularidade de Cabral só subiu. Apesar disso, os inúmeros assassinatos na favela, a defesa das remoções de favelas e a construção de muros para cercá-las, construíram o rótulo de fascista junto aos movimentos sociais, opinião minoritária entre a população. Mesmo com a repressão policial brutal da greve dos professores em setembro de 2009, chamando os profissionais da saúde em greve de “vagabundos” e “safados” em 2008, a repercussão negativa entre a população fluminense não foi tão forte quanto a resposta dada pelo povo as suas ofensas contra os bombeiros. Recentemente, o triste acidente com o helicóptero que teve amigos como vítimas fatais também revelou suas promíscuas relações com megaempresários, doleiros e empreiteiros, que financiaram sua campanha, e estão colhendo os frutos com privilégios em licitações de obras e isenções fiscais. Veja abaixo uma breve retrospectiva de Cabral:
2006-
Com apoio do presidente Lula, Sérgio Cabral Filho é eleito go-
vernador do Rio de Janeiro. Entre suas principais promessas estavam uma “nova política de segurança pública”, extinguindo o uso do Caveirão.
2007-
Descumprindo seu “compromisso de campanha”, Cabral continua utilizando o Caveirão nas incursões policiais nas favelas, e matando pobre como se fosse “inseticida social”, expressão usada pelo Coronel Marcus Jardim. Visando a “pacificação” da cidade para os jogos Pan-Americanos, a megaoperação (entre maio e julho) no Conjunto de Favelas do Alemão matou cerca de 50 pessoas (entre crianças e outras pessoas sem qualquer relação com o tráfico). A reportagem de Marcelo Salles no jornal A Nova Democracia - leia no link: www.tinyurl.com/3gr8rnl - ajuda a revelar um pouco mais sobre o fascismo de Cabral. A banda El Efecto (entrevistada nesta edição) fez uma música criticando a hipocrisia do governador do Rio, ouça neste link: www.elefecto.com.br/mp3/ cabrais.mp3 )
2008 - Em mais um ano maculado com sangue de inocen-
tes e crianças mortas nas favelas por incursões policiais ou de ações das milícias, o governo do estado inaugura em 20 de novembro, dia da consciência negra (parece até piada!), a primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na favela Santa Marta. De lá pra cá, surgem diversas denúncias de agressões físicas e morais feitas por policiais de UPPs (que pela propaganda oficial, é uma nova polícia) a moradores.
2009 -
Maio - Em visita às obras do PAC em Manguinhos, Cabral xinga de “otário” e “sacana” o rapaz Leandro que reclamava do Caveirão na porta de sua casa. Veja o vídeo pelo link: http://tinyurl.com/2wdhep3.
2010
- Novembro - Mais uma vez o Complexo do Alemão e a Vila Cruzeiro foram alvos de uma operação policial que dessa vez, contou com a ajuda da Marinha e do Exército. Confira na nossa nona edição reportagem sobre o caso: http://tinyurl. com/3hfze2o *A ONG Justiça Global em parceria com outras instituições, publicou em seu site o documento realizado em maio de 2009 sobre o processo de criminalização da pobreza, acesse pelo link: www.tinyurl.com/3gyfnnc
Manifestação na Praia de Copacabana, no dia 12 de junho
o imaginário da população. Atualmente, por conta das privatizações, são os bombeiros que estão fazendo primeiros socorros com ambulância, isso mobiliza bastante o conjunto da população, qualquer que seja a configuração ideológica ou política dessas pessoas”, explicou a historiadora.
ças, romperam as trancas do Quartel Central do Corpo de Bombeiros num ato de protesto, que infringiu a hierarquia militar.
quartel no momento da invasão. Resultado: 439 bombeiros presos, cinco crianças feridas e uma grávida hospitalizada.
Recebendo um dos piores salários da categoria em todo o Brasil, sem qualquer benefício – como vale-transporte ou alimentação -, os bombeiros começaram a se manifestar cerca de quatro anos antes do episódio que tornou público (e midiático) esse processo. A ocupação do Quartel Central (taxada por alguns como invasão) foi um episódio controverso, que ocupou o noticiário desde a madrugada do dia 3 de junho até o dia seguinte. Centenas de bombeiros, muitas vezes acompanhados de familiares, inclusive crian-
Não foi, porém, um começo sem penitência, na manhã do dia 4 de junho, o batalhão de choque da PM foi chamado para invadir o Quartel dos bombeiros e reprimir o movimento. A maioria dos policiais se recusou a atacar seus colegas e, por isso, alguns foram detidos temporariamente. O BOPE, então, foi chamado, para concluir a operação, além de bombas de gás lacrimogêneo, foram disparadas mais de 30 balas de fuzil, cujas cápsulas foram guardadas pela deputada estadual Janira Rocha (PSOL), que estava dentro do
O governador Sérgio Cabral foi no mesmo dia à imprensa e fez a habitual atuação teatral digna de novela mexicana, chamando os bombeiros de vândalos e criminosos. Para Virgínia Fontes, a reação contra os bombeiros foi muito brutal, tanto por parte do governador, quanto da mídia e dos setores mais organizadamente à direita. “O governador usou a sua truculência tradicional, tanto verbal quanto institucional e a mídia repercutiu isso escandalosamente. Nos primeiros movimentos de greve, o jornal O Globo já vinha chamado os bombeiros de ‘salva-mortos’” – destacou Virgínia. Contudo, pelo fato de os bombeiros contarem com a admiração da grande maioria da população - chamados de heróis -, dessa vez, as palavras de Cabral foram rejeitadas. Naquele momento, não foi a minoria da população fluminense -a sociedade civil organizada que desde 2007 vêm relatando o quase fim dos direitos humanos na gestão Cabral – e sim por uma esmagadora maioria. Cabral se reelegeu com expressiva vitória em 2010. Mas agora a imagem de administrador de sucesso, herói das comunidades e guardião do progresso, construída pela Rede Globo e seus aliados, começa a ruir.
Faixa avisa a Cabral: “Não é com o bombeiro que não se brinca, é com o povo. Pois o povo pode até te tirar daí, quer ver? Olha o que já fizemos...”
Ilustração: Maurício Machado
Os bombeiros foram presos. junto com Os professores, continuam mal pagos. Não tem quem salve nosso governador da própria
movimentos sociais Categorias dizem não ao autoritarismo Os profissionais da Rede Estadual de Ensino do Rio já haviam realizado, em 2009, uma dura greve contra a política do governo Cabral, de abandono total da educação. A paralisação contou com episódios que resumem bem o estilo Cabral de governar. A Polícia Militar apontou armas em direção aos professores, cassetetes, spray de pimenta e usou de muita truculência na repressão as manifestações, marcas do homem que trouxe a a Copa do Mundo e as Olimpíadas para o Rio. A greve teve poucas, mas importantes conquistas, como a inclusão do professor de 40 horas no Plano de Carreiras. Enquanto isso, a mídia comercial tratava os grevistas como aqueles que estariam se negando a trabalhar, preferindo ficar em casa descansando. O coordenador do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (SEPE-RJ), Tarcísio Carvalho, classificou as greves de 2009 e 2011 como importantes momentos para acabar com a naturalização da precariedade da educação e para dizer não ao autoritarismo do governo. “Quem faz a greve, organiza as passeatas, as vigílias, acaba trabalhando mais do que normalmente trabalharia. Ao contrário do que alguns dizem, no momento em que estamos em greve lutando por melhores salários e condições de trabalho, estamos exercendo uma tarefa muito importante para a sociedade como um todo”, explicou Tarcísio. Devido à precária situação da educação no Rio, uma nova greve dos educadores era inevitável, e estava prevista para acontecer apenas em agosto de 2011. Entretanto, algo inesperado aconteceu: os bombeiros, que
Descrença na polí Uma das marcas atuais que pode levar a pensar no declínio da atuação política em geral é a crise da política partidária. É lugar comum na fala da mídia e de grande parte dos jovens a suspeita da corrupção generalizada dos gestores públicos e particulares, eleitos ou não, através de votação democrática. Segundo Modesto da Silveira, que foi Deputado Federal pelo MDB durante a Ditadura Militar, entre 1979-1983, essa desconfiança não é nenhum pouco infundada. Ao contrário do que apresenta a mídia grande, na qual qualquer falha parece corresponder a uma safadeza pessoal dos gestores, Modesto apresenta outra idéia. “A política partidária parece um jogo de cartas marcadas, no qual quase sempre ganha quem arrecada mais dinheiro para a campanha, com poucas exceções, geralmente mais à esquerda”, afirma ele, cético. “Tanto é que se pode observar em todos os parlamentos do mundo que quando há negros, mulheres ou pobres, são poucos. A maioria é de brancos heterossexuais e ricos. Independen-
trouxeram outro espírito de luta e protesto para as ruas (é comum ver em suas manifestações políticas, vê-los fazendo exercícios físicos de flexão). Diante da falta de diálogo do governo Cabral, educadores e bombeiros selaram a união necessária para dialogar com a população. Dado ao momento favorável, a greve da rede estadual de educação convocada pelo SEPE foi aprovada em assembleia no dia 7 de junho. No mesmo dia, cerca de dois mil profissionais de educação rumaram às escadarias da Alerj e se juntaram aos bombeiros que estavam acampados há dois dias. A partir daí, a união foi se consolidando até um grande ato na sexta-feira, dia 10 de junho. A semana foi marcada pelos cinco mil educadores
Avenida Atlântica em Copacabana tomada pelo mar vermelho | Foto: Artur Romeu
ítica institucional temente da cor ou do sexo, quase sempre são grandes capitalistas ou seus obedientes seguidores. O sistema eleitoral permite esse tipo de distorção”, explica. — É grande a importância da sociedade civil organizada para se opor às máfias do poder econômico — conclui ele O exemplo da reeleição de Sérgio Cabral parece demonstrar claramente as diferenças entre o que a população quer e o que o sistema eleitoral impõe a ela. Virgínia Fontes também sinaliza o hiato trazido pelas campanhas milionárias. Há uma distância entre o que a população sabe e sente e a transferência dessas informações em termos de voto. “Nas eleições, a população não é chamada a escolher quem ela quer, mas sim entre o pior e o ‘menos pior’ ou entre o desconhecido e o conhecido. Uma estrutura eleitoral largamente lastreada em campanhas milionárias não tem nada a ver com uma estrutura franca da população. Eventualmente, se consegue furar esse bloqueio, mas isso é bem mais complexo”, explicou a professora. Alerj tomada por mais de 7 mil pessoas num belo encontro entre bombeiros e educadores Foto: João Pedro Teixeira
“
e estudantes que saíram da Candelária e marcharam até as escadarias da ALERJ, encontrando os cerca de dois mil bombeiros presentes no local. A festa feita pelos bombeiros foi o sinal de que, como diria Gonzaguinha, “da unidade vai nascer a novidade”. Depois da passeata em Copacabana, que aconteceu em pleno dia dos namorados, os bombeiros partiram para as batalhas por anistia nos poderes judiciários, civis e militares. Enquanto os educadores seguiram realizando atos públicos e exigindo diálogo com o governo, dignidade, salários justos, democracia, entre outras reivindicações. Após o acampamento na Alerj e as diversas tentativas de negociação, os educadores iniciaram um acampamento em frente à Secretaria Estadual de Educação (SEEDUC), no centro do Rio. Desde então, as lideranças do SEPE tiveram inúmeras reuniões com o secretário de educação, Wilson Risolia. O reajuste concedido totalizou menos de 40 reais e a greve só terminou no dia 12 de agosto devido às ameaças de descontos nas folhas de pagamento. Mesmo assim, Tarcísio Carvalho considera que a greve teve uma vitória política no sentido de forçar o governo a reconhecer que era preciso reajustar o salário dos servidores. Além disso, a população pode perceber que Cabral investe pouco em educação. “Depois de 66 dias de greve, voltamos para as escolas de cabeça erguida, com orgulho da luta travada e com a certeza de que conseguimos mostrar para a sociedade fluminense que o governo Cabral é intransigente e que poderia ter evitado a greve caso tivesse concedido o reajuste antes”, arrematou Tarcísio.
Educa necess dores e bom ária pa b ra dial eiros selara ogar c m a un om a p opulaç ião ão.” Atualmente, os bombeiros vêm tentando
negociar em Brasília a anistia aos 419 presos. O Projeto de Lei foi aprovado no Senado e está em discussão na Câmara dos Deputados. Enquanto isso, a mobilização dos bombeiros segue. No dia 8 de agosto, uma assembleia com a presença de cerca de 200 bombeiros consolidou a fundação da Associação SOS Bombeiros que, por si só, já representa um ato de resistência, pois os militares não podem ter sindicato. A campanha agora é por mais adesões à Associação. A grande pauta dos bombeiros hoje é a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 300. Esta PEC define um piso salarial nacional para os bombeiros, policiais militares e civis. No dia 9 de agosto, as três categorias realizaram uma manifestação na Câmara dos Deputados em defesa da votação em segundo turno da PEC 300. Ainda não se sabe a data certa da votação da PEC 300, e nem se ela será aprovada, mas a vitória política dos bombeiros foi visível. O grande apoio da população e a própria mobilização da categoria foram conquistas marcantes. Além disso, uma questão simbólica importante foi a ressignificação da expressão “Juntos somos fortes”, usada por Sérgio Cabral na última campanha eleitoral.
População em péssimas mãos A historiadora Virgínia Fontes também aponta para uma questão essencial. Para ela, a população do Rio de Janeiro vem sido constantemente agredida. Ela lembra o caso
da TKCSA, uma siderúrgica instalada em Santa Cruz, trazida ao Rio pelo governo de Sérgio Cabral. A fábrica surgida da parceria entre a ThyssenKrup e a Companhia Siderúrgica do Atlântico, está funcionando ainda sem permissão, de forma completamente ilegal. “A TKCSA teve o apoio dos três níveis de poder na sua implantação: municipal, estadual e federal, infestou o ar de Santa Cruz, está generalizando problemas de saúde severos e coloca em risco toda a população da cidade pelo volume de poluição produzido”, destacou. Outro ponto é o escandaloso crescimento do patrimônio da família Cabral. Como lembrou Virgínia Fontes, a população sabe que o governador enriqueceu consideravelmente. “As fotografias da casa do governador em Angra dos Reis já foram divulgadas. Não é o primeiro episódio em que o governador aparece em um casarão enquanto o resto do estado desmonta em volta dele, desde o acidente de Angra (2010), da Região Serrana (2011) e, agora, o caso dos bombeiros e dos professores. Temos que levar em conta que, mesmo com a mídia tentando apassivar a população e maquiar a verdade, a realidade continua existindo, portanto, as contradições estão presentes, e as pessoas vão sofrer e reagir a elas de maneiras diferenciadas”, afirmou a historiadora. Vírus Planetário - AGOSTO/SETEMBRO 2011
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*Improvável, mas não impossível.
Alô, Chics! GLÓRIA KAIU Voltei, Brasil! Até que enfim esses esquerdistas da Vírus Planetário pararam de me censurar simplesmente porque eu tenho opiniões polêmicas. Nessa edição vamos falar sobre um super boffyscândalo que está soltinho na pista. Também vou dar dicas de como se comportar nos estádios que ficarão chiquérrimos para a Copa de 2014. Prontas? Então retoquem o make, ajeitem o modelito e venham comigo! Ou como dizem na internet: VEM, GENTE!
Boy-magia na pista! Vou começar logo pelo que interessa! Se meu sobrenome já é Kaiu, imaginem a minha boca quando eu soube que o Sério Canalha se separou. Que BAPHO, hein! Vai ver a Ariadna Ancelmo, típico nome de mulher barbada, se tocou que não era boa o bastante para esse partidão. Como primeira-dama estatal, além de contar com todo o luxo do Palácio das Laranjeiras, ainda tinha o privilégio de ter no seu escritório de advocacia clientes de nível, como o Metrô Rio. Como vai ganhar a vida, já que ela está por conta própria?
E vocês não sabem da maior: a assessoria de empresa do Não-Mais-Futuro-Candidato-À-Presidência informou que, por causa de problemas de infraestrutura no Palácio, o dito-cujo está morando na casa do banqueiro Guiverme Paez, irmão de Errado Paez, nosso imprefeito. Vai ver a megera está querendo levar a residência de Canalha no processo de divórcio!
Eu sou Agro Eu sou agro, e você? O que dizer do rústico, mas sempre chiquérrimo Laranja Lima Podre Duarte? E a queridíssima Giovana Antanelli, né? Eles estão divinos na nova propaganda do novo movimento “Sou agro”, do qual faço parte junto com várias empresas do bem que trazem riqueza e comida para o brasileiro, como a Vale, Bunge e outras. Acho chic! Mas, por favor, não me venham cansar minha beleza dizendo que essas empresas exploram milhões de trabalhadores, entopem as comidas de agrotóxicos que matam em busca do lucro! Vocês não sabem que uma sociedade só é chic quando tem uma alta classe para dar o glamour da moda e da alta etiqueta? Já não basta a breguice dos vídeos que o MST fez com o Osmar Prado, o Wagner Moura, o Sérgio Mamberti?
Esse tal de Football
Achava futebol um esporte selvagem, coisa de pobre mesmo, que não tem o que fazer, subdesenvolvido. Acho que meu preconceito (que graças a Deus venci) era porque via aqueles moleques descalços jogando em campos de terra, sujos até as orelhas, com uma bola murcha nos pés, aí ficava com medo de assalto. Aí depois morria de medo com a violência nos estádios: parecia com um ‘clube da luta’, cheio de pobre suado... Agora, estão acabando com as horríveis ‘geralzonas’ e subindo o preço dos ingressos. Nada como retornar às origens, quando futebol se escrevia Football e era coisa de família nobre! Estou pensando até em alugar um camarote para a Copa! Não é que eu seja contra pobre ir aos estádios, mas não dá também para emporcalhá-los. Vamos colocar #ElitizeOsEstádios nos trending topics do twitter, chics do meu Brasil!
Por Daniel Israel, Seiji Nomura, Mariana Gomes e Caio Amorim
Super-promoção Sei que muita gente estranhou quando falei de ‘elitizar o preço do ingresso’, mas não tem nada a ver. Gosto muito de pobre, ajudo muito eles: fiquei encantada quando minha empregada me pediu pra comprar pro filho dela um João Sorrisão. Pra quem ainda está fora da tendência, é um boneco inflável de João Bobo (ou João Teimoso, para os mais chics) que a grande Rede Bobo lançou para dar alguma graça a esse esporte, apenas 50 reais, uma pe-chin-cha! Acho que deveríamos fazer distribuição de João Sorrisão nas favelas, aliás, está mais do que na moda ser solidário!
Risole é tudo de bom! O querido amigo Sério Canalha colocou um boffyscândalo na secretaria de educação do RJ, o Wilson Risole. O digníssimo está fazendo um ótimo trabalho de caridade com os vândalos professores do estado, oferecendo um generoso aumento de 36 reais! E esses professores vagabundos, preguiçosos e demodê não aceitaram! Gentem, vocês querem o que? Já fizeram as contas de quantos risoles dá pra comprar com esse dinheiro? Isso é que é reclamar de barriga cheia, hein, (literalmente)!
Super-Heróis Brasileiros Não é que depois do sucesso de “Capitão Estadunidense, o sentinela do liberalismo” e “Homem-Arma-de-Destruição-em-Massa”, os estúdios brasileiros resolveram filmar uma produção nacional? Mas ao contrário de “Bátima”, que invade a China atrás de seus inimigos, nossos heróis não precisam adentrar em território argentino (infelizmente... Eles andam muito atiradinhos contra a mídia e a liberdade de expressão).
píadas contra os ataques de hordas de grevistas pedindo aumentos, de doentes que necessitam de atendimento hospitalar, revoltosos da Baixada e da Zona Norte pedindo melhor transporte público e moradores de rua. Há rumores de que na cena pós-créditos, Ai!ke e seu grupo de heróis receberão uma proposta de Baraka Obámis para se juntar a seu grupo de super-heróis internacional, “Os Globalizadores”.
Brasil Urgente! Lu presidente!
E não é que o super-bom-moço (como a nossa queridíssima revista Veja falou) quer ser presidente dessa bagunça chamada Brasil? Nossa, ia ser tudo de bom! Já imaginou o programa Bolsa Lata-Velha, e o programa Minha casa, meu Lar-Doce-Lar? Melhor política de redução da pobreza, impossível! Ai!ke Batista e Abolha Diniz já entraram com tudo na campanha, e eu, Glorinha Kaiu também. Afinal, todos sabem que nossos lares precisam daquela reforma na jacuzzi, não é mesmo?
Ainda não podemos dar detalhes dessa nova superprodução, mas foi confirmado que um dos heróis principais será Ai!ke Baptista, escalado como o “Surfista Penteado”. Ele será apenas um superempresário durante o começo do filme, mas uma explosão de um bueiro radioativo causará sua transformação, cristalizando para sempre seu topete. A missão principal dos heróis será a de salvar a Copa do Mundo e as Olim-
O queridíssimo Ai!Ke Batista se diverte nas filmagens do novo longa brasileiro
ENTREVISTA INCLUSIVA:
Amanda Gurgel Foto: Caio Amorim
Do Youtube ao Faustão sem mudar o discurso
Por Caio Amorim, Mariana Gomes e Maria Luiza Baldez Durante muitos dias do mês de maio, o grande tema comentado e compartilhado pela internet através das redes sociais foi educação. O hit do momento foi o vídeo de Amanda Gurgel, professora do Rio Grande do Norte que botou a boca no mundo durante Audiência Pública na Câmara dos Deputados com o tema “O Cenário da Educação Pública do Rio Grande do Norte”. Sua fala, foi ao ar ao vivo na TV Câmara do RN, além de filmada e colocada no YouTube. Com milhões de visualizações, arrancou aplausos da plateia e dos internautas ao manifestar falas corajosas como “Me preocupa a fala da maioria aqui, quando dizem ‘não vamos falar da situação precária da educação pública porque isso todos já sabem’. Estamos banalizando isso? Estão me colocando com giz e um quadro numa sala lotada me dizendo para ser a salvadora do país”. Mesmo indo do YouTube para o Domingão do Faustão, Amanda não mudou em nada seu discurso afiado e nem seus ideais. A professora e militante do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), que continua comendo cuscuz alegado e
ganhando 930 reais, fala à Vírus Planetário sobre a situação da educação no Brasil e a repercussão que o seu caso teve. Recentemente, Amanda recusou o prêmio PNBE. Em seu blog a professora afirmou: “Minha luta é outra. Espero que a carta sirva para debatermos a privatização do ensino e o papel de organizações que se dizem ‘amigas da escola’. (...)Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Itaú, Embraer, Natura, McDonald’s e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.(...)”
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Enquanto esses canais estiverem abertos, eu vou continuar dialogando com a população.”
Fale um pouco sobre sua trajetória, em que escola você da aula?
mas ela respondeu que queria mesmo. Eu fiquei muito sem graça. As pessoas precisam de uma referência e acabaram encontrando por causa do vídeo.
os colegas que nunca entraram em greve, para incentivá-los. Eu dizia para levar a foto e o meu convite para a luta. Outra questão é que eu não tenho exatamente a postura que foi atribuída aos sindicalistas historicamente. A própria linguagem, as pessoas dizem que eu não falo “sindicalês”. Eu tenho uma imagem um pouco diferente do rótulo que foi criado para os sindicalistas. Eu realmente sou muito calma, mas isso não faz de mim uma pessoa passiva. Tenho clareza de que só através da luta conquistamos os direitos.
Minha militância começou no moviExiste uma preocupação muito mento estudantil na universidade. Eu grande da sua parte com relação a nasci no Rio Grande do Norte e morei na essa responsabilidade de ser refeBahia por 19 anos. Cheguei a cursar um rência, não é? ano do curso de Letras na Universidade Sim, muita! Eu sempre digo para as Estadual de Feira de Santana, na Bahia. pessoas que eu não sou uma heroína e E lá, o movimento estudantil era muito nem cabe a mim o rótulo de celebridacombativo e atuante, mas eu não poComo o movimento da greve no RN de. Eu sou uma professora como muitas dia militar porque, além de estudar, eu recebeu essa sua fama? outras. Não existe, para a classe trabatrabalhava, e não tinha tempo. Quando Eles estão me considerando uma lidelhadora, nenhuma heroína que não seja me mudei para o RN, fiz uma tentativa rança, uma referência. Nas escolas onde a própria classe trabalhadora. O que eu de transferência, porque a universidade eu trabalho estou recebendo muito apoio posso fazer, estou fazendo, que é cumestava em greve. E eu já tinha essa conse incentivo para fazer as viagens que veprir o papel de animar e instigar as pesciência da importância da greve, apesar nho fazendo. A partir dessa repercussão, soas para se organizarem para a luta, de estar sendo prejudicada. Então fiz abriu-se o debate sobre educação naconstruir manifestações e greves. A parvestibular para a UFRN, e lá não tinha cionalmente. As discussões sobre 10% tir disso, as transformações podem ocorCentro Acadêmico. Então comecei a me do PIB para a educação, por exemplo, rer, e não através somente de mim, ou da aproximar do DCE [Diretório Central dos estão sendo feitas. É uma oportunidade minha imagem, do vídeo. Eu acho que as Estudantes] para mobilizar as pessoas e para debatermos e, se sou eu o símbolo, pessoas estão entendendo isso, elas me construir o CA. Quando entrei na Rede é uma obrigação minha fazer isso, é meu vêem como um símbolo dessa luta, eu Municipal de Educação de Natal, em dever. Enquanto esses canais de diálogo não acho isso ruim. Tenho me esforça2006, logo de cara participei de uma grecom a população estiverem abertos, eu do muito para atender aos convites que ve. E fiquei chocada com a forma como a não vou medir esforços para continuar surgem. direção conduzia a greve. Eu dialogando. não entendia a possibilidade de uma direção de sindicato ser aliada ao governo. A proQuais foram as conseposta da direção era muito Ser calma não faz de mim qüências praticas do vírebaixada e eles a tratavam deo? Houve alguma resuma pessoa passiva. Tenho como a melhor possibilidade. posta prática? Eu logo pedi para falar e declareza de que só através da luta Em termos de adesão à gremonstrei que estava indignaconquistamos direitos.” ve, foi muito positivo. Houve da, e disse que precisávamos uma nova visão sobre a greve, honrar quem estava em greve um novo olhar. Como os projunto com a gente. Virei opofessores sempre carregaram sição à direção do sindicato esse rótulo de “cuidadores”, e me aproximei da Conlutas. muitas pessoas da categoria tinham Há 10 meses, sou filiada ao PSTU que, na Você acha que a opinião pública medo de entrar em greve, diziam que minha opinião, é o partido que abriga as mudou depois que muitas pessoas prejudicariam os alunos. E agora eles esvanguardas dos movimentos sociais. passaram a concordar com as reivintão começando a enxergar que a greve dicações trazidas por você? é um instrumento de luta e um veícuComo foi e está sendo a resposta lo de divulgação do caos que existe nas Eu acho que está mudando um poudas pessoas com relação ao vídeo? escolas. E os responsáveis por esse caos co. No RN, muitas pessoas que nunca Tem sido demais! É inacreditável. Em não somos nós. Quem maneja recursos entraram em greve, estão entrando. No todos os lugares as pessoas têm recopúblicos são os governos, eles são os rescongresso do Sindicato Estadual dos Pronhecido e dado apoio. Já dei até autóponsáveis. Esse novo olhar é um ganho fissionais da Educação (SEPE) do Rio de grafo (risos), na primeira vez eu duvidei, muito grande. Mas, em termos de negoJaneiro, muitas pessoas diziam que queperguntei se a pessoa estava brincando, ciação, não conseguimos nada. riam tirar foto comigo para mostrar para
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ENTREVISTA INCLUSIVA_Amanda Gurgel
Qual foi o resultado da greve? Mesmo com o crescimento de 8 bilhões da receita do estado do RN, o governo disse que não pode oferecer reajuste. Nossa greve acabou por determinação judicial. Recebemos ameaça de corte de ponto, exoneração e multa de até 500 mil reais para o sindicato. A categoria se sentiu ameaçada com o corte de um salário que já é precário. Isso aconteceu também na Paraíba, infelizmente. A única coisa que conseguimos foi o cumprimento do piso salarial nacional, nada além disso. Depois que houve o julgamento de ilegalidade da greve, ainda continuamos por mais uma semana, o que consideramos uma vitória. Foi a primeira vez que uma greve continuou mesmo depois de uma determinação judicial. Aos poucos a categoria vai avançando na consciência e percebendo que o poder judiciário não está ao lado dos trabalhadores.
O que você tem a dizer para as pessoas que falam que a luta dos professores é apenas por salários e que o salário não é tão baixo quanto de outras categorias? O fato é que as pessoas debatem educação sem qualquer propriedade. Os próprios gestores falam sobre educação com base em números e relatórios de avaliações, e não a partir da realidade, do chão da escola. O custo de vida no sudeste é mais alto que o do nordeste, mas a jornada de trabalho no nordeste é muito mais alta. Precisamos levar em consideração o cotidiano da escola, então, quem fala esse tipo de coisa – e falo isso sem nenhuma arrogância – não tem conhecimento sobre isso. Se parte daí, a análise da pessoa, então, não temos como deba-
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ter. Não se pode nivelar por baixo. E se as outras categorias também estão insatisfeitas, eu queria que elas entrassem na luta com a gente. O piso dos jornalistas do RN, por exemplo, é de 950 reais, é muito baixo. O ideal seria que eles pudessem lutar junto com a gente. E eu lutaria por eles, como luto por qualquer categoria.
Você chegou a ser criticada por ir ao Faustão? Surgiram algumas críticas, mas as pessoas tem me defendido muito. Algumas pessoas disseram até mentiras, que eu li um texto que foi escrito pela produção do programa. Eu nem sei decorar texto! Quando recebi o convite, fiquei em dúvida se deveria ir ou não. Mas o que está em debate não sou eu, é o que essa exposição pode causar. E o resultado que tivemos foi uma plateia cheia aplaudindo as greves do Brasil na mesma emissora que critica as greves. É uma emissora que sempre boicota as nossas causas e, se o espaço está aberto agora, vamos aproveitar.
Por que você acha que o vídeo fez tanto sucesso? Uma série de fatores levaram ao sucesso do vídeo. Acho que uma delas foi que ele se passou numa audiência pública e eu me dirigi diretamente à secretária de educação e aos deputados, que são figuras que as pessoas temem. Ao fato de ter sido veiculado pelo canal oficial da Assembleia Legislativa ao vivo, sem possibilidade de edição. E à internet, que facilitou a divulgação. Mas não houve
esforço do PSTU, as pessoas do partido ficaram sabendo do vídeo depois que já tinha muitos acessos e comentários.
Você pretende se candidatar a algum cargo político nas próximas eleições? Isso vem sendo muito discutido no RN. E há dois pólos pra essa discussão. Um deles se utiliza disso para dizer que somos oportunistas. O outro lado é o público, as pessoas me parando na rua e dizendo “você tem que se candidatar, eu voto em você, faço campanha”. Mas o fato é que esse debate nunca aconteceu dentro do partido. Primeiro porque quase ninguém sabia que eu era do PSTU. As questões relacionadas a candidaturas dentro do partido são discutidas de maneira absolutamente horizontal. São levados em consideração diversos critérios e não estou sendo tratada com privilégios por causa do sucesso do vídeo. Além disso, não priorizamos eleições, não somos um partido eleitoreiro. Nosso principal objetivo é organizar os movimentos sociais. É natural que eu leve comigo o nome do partido e vice-versa, até porque, eu tenho orgulho de ser do PSTU. Se for necessária a minha candidatura, estou à disposição. Mas ainda fico um pouco assustada e nem tive muito tempo de refletir sobre isso. Agora que estou tendo a dimensão disso tudo, é meio assustador, mas não há pressão nenhuma por parte do partido. E temos muita coisa para dar conta, então não temos posição sobre isso ainda.
Fotos: Caio Amorim
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Não há como discutir educação se não discutirmos investimento. Porque ele interfere diretamente em tudo, desde a questão salarial, a oferta de vagas, até a realização de projetos de inclusão.”
Muita gente ficou curiosa para saber que é cuscuz alegado (risos) (Risos) Isso é uma coisa que a gente tem muito o costume de dizer no RN. Porque, nas escolas, os professores não podem ter acesso à merenda, porque pela lei, ela é para o aluno. E o fato de o professor se alimentar com a merenda escolar é considerado desvio da merenda. E a promotora do RN se ocupa muito com essa questão, fiscaliza periodicamente. Com outras coisas ela não se ocupa, como, por exemplo, o nosso Plano de Carreira e Salários. Então, eu sempre digo: além de toda a dificuldade que a gente passa, até esse cuscuz que a gente come tem que ser alegado? Alegado no sentido de justificado mesmo. E nós alegamos que temos que comer sim, porque não temos tempo e nem dinheiro para fazer as refeições fora da escola.
Qual a sua opinião sobre o piso salarial nacional para professores?
salarial – porque quem ganha bem não precisa dar aula em três horários -, seja na oferta de vagas, na não-superlotação das salas de aula, novas ferramentas pedagógicas, realização de projetos de inclusão, atendimentos especiais, como psicólogos e assistentes sociais, enfim. Muita gente diz que não adianta aumentar o investimento porque metade do dinheiro fica pelo meio do caminho. Mas se formos esperar a corrupção acabar para aumentar o investimento, é melhor desistirmos logo. No Plano Nacional de Educação (PNE) que foi elaborado no governo FHC, no outro decênio, e foi implementado pelo governo Lula, as metas não foram alcançadas, inclusive o investimento de 5% do PIB para a educação. Lula investiu menos de 3%. A proposta do atual PNE é que partamos desses 3% com a perspectiva
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Os gestores falam sobre
Esse piso estabelecido não educação com base em nos contempla, porque pronúmeros, e não a partir do chão porcionalmente, ganhamos pouco para um jornada de da escola.” 40 horas. Mas, entendemos que se ele for implementado agora, não deixa de ser um avanço, principalmente para as cidades de interior. O salário de um de chegarmos aos 7%, mas sem qualquer professor no Piauí é de 500 reais. Então, garantia de que isso vai ser feito e nem seria um avanço se não fosse considerade onde esse dinheiro vai sair. Não se do a vitória em si. A questão salarial está fala em auditoria e nem em suspensão diretamente ligada à qualidade do ensido pagamento da dívida pública. No últino porque, hoje, embora seja garantido mo ano, 44% da receita brasileira foi para por lei, o professor não consegue licença o pagamento da dívida. Não podemos para fazer cursos, mestrado etc. Falam esperar que esse dinheiro venha do préem criar acervos em biblioteca, mas não sal, depois de ser dividido para todas as adianta, porque o professor não tem multinacionais, e sobre quase nada para tempo de ler. a educação. As metas são muito vagas e distantes. Por isso defendemos que o investimento seja de 10% imediatamente! O que você pensa sobre as verbas
para a educação no Brasil hoje?
Não há como discutir qualquer coisa referente à educação se não discutirmos investimento. Porque ele interfere diretamente em tudo, seja na questão
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Como você avalia o cotidiano da escola, as terceirizações etc? Essa questão da terceirização, infelizmente, é uma realidade. No RN, pratica-
Nosso principal objetivo é organizar os movimentos sociais.”
mente todos os funcionários de limpeza, merenda etc. são terceirizados. Há muito tempo não se realiza concurso, o objetivo é terceirizar tudo. Nós fazemos cota para café e açúcar para os professores, somos obrigados a economizar em material, em comida. Às vezes os professores precisam desistir de realizar atividades por falta de material, alguns compram do próprio bolso.
Há pouco tempo você recusou um prêmio do Pensamento Nacional das Bases Empresariais – PNBE e enviou uma carta a eles. Fale sobre isso. Enviei uma carta e eles responderam dizendo que estavam surpresos com a minha reação. Eu estava numa correria muito grande e não sabia exatamente do que se tratava o prêmio. Tive que pesquisar bastante para chegar a essa conclusão e àquela redação, e demorei para dar a resposta. Eles responderam dizendo que “nossa luta é a mesma”. Se estou diariamente me posicionando contra os empresários da educação, como posso aceitar uma premiação desse tipo? Havia um interesse publicitário, talvez, da parte deles. Eles estavam querendo explorar a minha imagem devido ao sucesso do vídeo, que até FHC postou no site dele (risos). Teve um setor da esquerda que, pelo fato de eu ter ido ao Faustão, estava achando que eu estava preocupada em dar visibilidade ao partido. Então, depois de recusar esse prêmio, as pessoas viram de que lado estou na luta de classes.
PASSATEMPOS VIRAIS Por Felipe Salek
Jogo dos 66 erros Sérgio Cabral
GOVERNADOR
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Na campanha a governador de 2006, Cabral mandou uma cartinha muito fofinha aos professores. Revelamos com exclusividade a carta original não alterada por seus assessores. As duas cartas, abaixo reproduzidas, são bem parecidas, vamos Descobrir os 66 erros entre elas, amiguinhos?
Sério
Canalha D I TA D O R
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Rio de Janeiro, 23 de setembro de 2006 Otário(a) Professor(a): Como candidato a Ditador doEstado, elegi como irrelevante no meu governo a educação pois penso que não se constrói uma elite sem que se dê um favorecimento adequado aos amigos e aos parentes. Acredito que o sucateamento do sistema educacional se faz, além dos investimentos da iniciativa privada, com o investimento na Tropa de Choque. Só é possível se condenar as nossas crianças e os nossos jovens à privação da liberdade com professores mal remunerados, execrados, desmotivados e com a garantia do recebimento da aposentadoria e pensão miseráveis. É por isso que me dirijo a você para assumir os seguintes compromissos, que considero mais importantes, na área da educação: • • • • • • •
Expansão das perdas salariais dos últimos 10 anos; Estagnação do atual plano de carreira com a exclusão dos profissionais de 40 horas; Descongelamento do plano de carreira apenas dos funcionários por mim indicados; Fim da política de construção de Novas Escolas e da incorporação de gratificações ao piso salarial; Início da política de abandonos; Criminalização das greves e paralisações; Início das terceirizações e contratos precários e abertura imediata de concurso público para professores e funcionários dispostos a regime de austeridade salarial.
Minha vida pública é pautada pela incompetência. Não tenho compromisso com absolutamente ninguém do povo do meu Estado. A Secretaria de Estado de Educação do meu Desgoverno terá como titular pessoa com histórico de roubo na área de educação e vínculos com o esquema de desvio de verbas. Conto com o seu imposto para o bolso do Governador. O meu compromisso é o de fazer da educação do Estado do Rio de Janeiro penúltima colocada entre os outros Estados do País. SÉRIO CANALHA
OSWALDO MUNTEAL Oswaldo Munteal é professor de história na UERJ, Facha e PUC-Rio. Pesquisador da FGV, coordenador do grupo de pesquisa Núcleo de Identidade Brasileira e História Contemporânea (NIBRAHC)
Inclusão:
Desafio para o século XXI no Brasil A inclusão das pessoas com deficiência física, das mais diversas, se converteu num problema relacionado também às políticas públicas, objetivando assim a entrada no sistema escolar público e privado de milhares de jovens em condições plenas de sociabilidade e compreensão pedagógica. O problema se tornou grave diante dos obstáculos postos pela ofensiva neoliberal que ainda persiste em alguns setores da sociedade brasileira, inclusive autoridades públicas. A exclusão em nosso país é ancestral. Remonta à colonização, atravessou o império, sobretudo neste período com a farsa liberal, e atingiu a república. O problema da inclusão das pessoas com deficiência tornou-se a derradeira cidadela reacionária para a defesa dos privilégios inconfessáveis. Os conservadores não sossegam diante da horizontalidade, da perspectiva, por mais distante que seja, da igualdade de condições na luta pelas oportunidades. Ao contrário, preferem apostar tudo contra o povo. Mais uma vez, como no caso das cotas sociais e raciais, a sociedade brasileira saberá se mobilizar e dizer um não a tudo isso. Precisamos reverter este quadro. Insisto, mães por este Brasil choram a educação pública de seus filhos. A construção de um país livre e democrático depende disto, da emergência do novo.
O assassinato da justiça
Quando o combate à corrupção vira caso de vida ou morte A juíza Patrícia Acioli foi assassinada na noite do dia 11 de agosto dentro de seu carro, em Niterói. A magistrada era conhecida pelo combate às milícias e a máfia do jogo do bicho, e estava recebendo ameaças de morte há vários anos. O caso ganha grande repercussão porque fica evidente a falta de compromisso do Tribunal de Justiça (TJ) de São Gonçalo para com a segurança da juíza. Apesar de declarações de representantes do órgão no sentido de que Acioli teria dispensado a escolta policial, documentos apresentados pela família demonstram que a juíza se preocupava com sua segurança e chegou a pedir ao Tribunal maior proteção policial. Segundo uma amiga da juíza, ela teria preferido uma escolta informal após ter o número de policiais reduzidos de três para um pelo TJ e a organização de sua segurança ter sido entregue a um inimigo seu dentro do órgão. Reprodução de TV
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Os conservadores não sossegam diante da perspectiva da igualdade de condições na luta pelas oportunidades”
Quero crer que a luta de milhares, de milhões de pais e mães não será em vão. Teremos mais um capítulo da luta do povo brasileiro contra os seus algozes. A questão da diversidade precisa ser vivida nas salas de aula não como uma discussão teórica e distante dos alunos, mas no cotidiano escolar, na prática docente e discente. Ela deve ser enfrentada num ambiente de plena socialização. E acrescento a escola é o lugar por excelência da liquidação das discriminações. Sem mediações perversas, e controle social espúrio. O professor é soberano no seu dever de ensinar, e um agente transformador na sociedade. O movimento pela Inclusão agora e já, está representado em todo o território nacional. Não podemos aceitar lobbys daqueles que usam as suas pastas para brecar as conquistas, ainda que pequenas, do povo sofrido. Isto é inaceitável. O cargo público pertence ao povo e em nome dele deve ser exercido. Esta luta é de todos, a de reverter a prisão invisível de milhões de brasileiros. Inclusão Já. Escola Já.
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O Deputado Estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), também amigo da juíza, declarou em pronunciamento sobre o caso: “A tentativa de desqualificar a juíza, seja por um motivo ou por outro, dizendo que ela morreu porque não pediu proteção, porque não houve um ofício, é um absurdo, é um ato de extrema covardia, como se o problema fosse burocrático. Quem do Tribunal de Justiça não sabia que aquilo poderia ocorrer? Existiam ameaças concretas. Os sucessivos presidentes do Tribunal sabiam disso e não tomaram providências. Ela prendeu mais de 60 milicianos, boa parte deles indiciados por nós na CPI das Milícias”. A juíza costumava dizer “Se ter caráter custa caro, pago o preço”. Continuar o seu legado é a melhor homenagem que é possível lhe fazer, para que algum dia não seja mais necessário morrer por algo tão necessário à dignidade humana: justiça.
rio de janeiro Carlos Arthur Nuzman (presidente do Comitê Olimpíco Brasileiro - COB), Eduardo Paes (prefeito do Rio) e Ricardo Teixeira (presidente da Confederação Brasileira de Futebol - CBF) Foto: J. P. Engelbrecht
A explosão da cidadania
Setores do judiciário, movimentos sociais e organizações internacionais acusam o governo do Rio de violar o direito humano à moradia Por Artur Romeu, Daniel Israel e Fernanda Freire A Secretaria Municipal de Habitação dow Rio de Janeiro, capitaneada por Jorge Bittar (PT), anunciou em janeiro de 2010 que iria remover 119 favelas “não urbanizáveis” até 2012 e demonstra que está empenhada em cumprir a promessa. O plano inclui a remoção de pelo menos 13 mil pessoas que, segundo estudo feito pela Prefeitura, estariam vivendo em áreas de risco. Ainda de acordo com o governo, os moradores seriam realocados,
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após acordo e indenização prévia, para as casas do projeto do Governo Federal “Minha Casa, Minha Vida”, em regiões como Cosmos e Campo Grande, a cerca de 40 km do Centro da cidade. Da mesma forma, a construção das vias expressas Transoeste, Transolímpica e Transcarioca tem justificado a remoção de uma série de comunidades que estão no caminho das obras.
Há uma lista de irregularidades na política de remoção de moradores em oito cidades que sediarão a Copa do Mundo.”
Com a intensificação dos preparativos para a Copa do Mundo e as Olimpíadas, diretamente associados à escalada das remoções no ano passado, também aumentou a preocupação das organizações ligadas aos direitos humanos. Em dezembro, a ONG Justiça Global encaminhou uma medida cautelar (procedimento judicial que visa prevenir, defender ou assegurar a eficácia de um direito) à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA), denunciando os abusos nas remoções dos moradores que se encontram no caminho das obras. Da mesma forma, em abril deste ano, a relatora-especial da ONU para o Direito à Moradia Adequada, Raquel Rolnik, divulgou um comunicado listando irregularidades na política de remoção de moradores no Vírus Planetário - AGOSTO/SETEMBRO 2011
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âmbito dos dois megaeventos, abordando exemplos em oito cidades que sediarão o mundial. De acordo com a urbanista, a maioria das denúncias diz respeito “à falta de transparência nas ações do poder público”, “à ausência de diálogo e de negociação sobre alternativas às remoções”, “à realização de despejos de forma violenta e ao baixo valor das indenizações”, entre outros. Durante uma reunião com representantes do Conselho Popular, da Pastoral das Favelas e da Defensoria Pública, em maio, relatos concretos dos mesmos problemas foram expostos ao secretário-geral da Anistia Internacional, Salil Shetty, que se mostrou preocupado com a situação. - Todos entendem que, se você vai sediar a Olimpíada ou a Copa do Mundo, algumas mudanças terão de ser feitas. Mas as pessoas que vão ser afetadas precisam ter uma voz, e um processo legal deve ser seguido. Acho que todos os exemplos que ouvimos mostram que esse processo não está sendo seguido, afirmou Shetty.
Ilustração: Carlos Latuff
Vila Autódromo. Na zona oeste do Rio, um centro de resistência popular Sob o pretexto de “dano ambiental” e “dano estético”, autoridades querem remover favela que resiste Apertada entre os muros da pista de corrida e as margens da Lagoa de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, a Vila Autódromo tem uma história de ocupação que remonta aos anos 60. A área inicialmente isolada do resto da cidade, atraiu num primeiro momento pescadores e, em seguida, com as obras de construção do Autódromo, outros tantos operários e trabalhadores que também acabaram se instalando na comunidade, hoje com cerca de 1.500 habitantes. O presidente da associação de moradores, Altair Guimarães, tem 57 anos, dos quais os últimos 15 foram vividos na Vila Autódromo. Sua chegada coincidiu “mais ou menos quando começaram os problemas na comunidade”. - Antes de chegar aqui, quando criança numa favela da Zona Sul que foi expulsa pelo Carlos Lacerda e fui para a Cidade de Deus, de onde também tive que sair por causa da construção da Linha Amarela. Vim para Vila Autódromo no começo dos anos 90. Mais uma vez cheguei junto com as ameaças de remoções, conta Altair.
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Vírus Planetário - AGOSTO/SETEMBRO 2011
Moradora há mais de 30 anos da comunidade, a professora de rede estadual de ensino Inalva Brito acompanha desde então as diversas “investidas da prefeitura para tirar a comunidade”. Segundo ela, que também faz parte da Associação de Moradores, a grande maioria das casas da comunidade é loteada e regularizada, mas ainda assim os habitantes sofrem pressões do poder público para deixarem a área. - A primeira acusação que sofremos, foi uma ordem de remoção que justificava a retirada da comunidade por “dano estético”. Depois vieram outras, como área de risco, dano ambiental, invasão do perímetro de segurança da área olímpica e a construção do Centro de Mídia para 2016. Temos conseguido demonstrar ao longo dos anos que estas acusações são infundadas, afirma Inalva. As obras da Transoeste e da Transolímpica, que estão sendo construídas para desafogar o trânsito da cidade, agora são o principal motivo de preocupação da Vila Autódromo. Segundo os moradores, o aterramento de vários pontos próximos à comunidade e à Lagoa Jacarepaguá pode provocar o alagamento das ruas quando houver grandes chuvas. No ano passado, os moradores da Vila Autódromo criaram o Movimento Olimpíadas Não Justificam Remoções e vêm se articulando com outras comunidades na tentativa de resistir às pressões do governo.
Moradores da Vila Autódromo não são contra as olimpíadas, mas querem o compromisso com a dignidade humana respeitado pela Prefeitura.
Fotos: Artur Romeu
Casa com marcação da Secretaria Municipal de Habitação (SMH) indicando futura remoção.
A Defensoria Pública nas mãos de quem ameaça direitos O Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (Nuth/Deperj) recebeu das mãos do deputado estadual Marcelo Freixo (Psol) a maior condecoração existente em nosso estado: a Medalha Tiradentes. Mas a homenagem de 19 de abril estava cercada pelo simbolismo da tragédia anunciada. Dez dias depois, uma sexta-feira, a sala do Nuth amanheceu fechada. Mais exatamente, trancada, com um segurança postado em frente à porta, para impedir a entrada de defensores, estagiários e demais funcionários que, até à véspera, trabalhavam no Núcleo. Por isso, em carta aberta, os estagiários, demitidos por telegrama no Dia Mundial do Trabalhador, fizeram uma denúncia sobre o andamento da atual gestão da Defensoria Pública-Geral do Estado (DPGE). Eles declararam “repúdio à política da nova administração geral da Defensoria Pública, que através dos abusos assinalados favorece o processo de remoções de comunidades empobrecidas”. Também pudera, o defensor-geral Nílson Bruno Filho foi eleito pela
No debate sobre política habitacional, promovido pelo Encontro Regional de Estudantes de Direito (ERED), na PUC-Rio, o Secretário Municipal de Assistência Social, Rodrigo Bethlem (PMDB), defendeu as reformas urbanas desenvolvidas pelo poder público. Mas ele reconheceu, sob as acusações da Defensora Pública do Rio de Janeiro Maria Lúcia Pontes, que ao analisar todo o processo é possível que tenham ocorrido “problemas pontuais”. - Não se consegue fazer omelete sem quebrar ovos, temos o compromisso em privilegiar o interesse público em detrimento do privado. Estas obras de infraestrutura vão trazer qualidade de vida para muita gente e infelizmente estas remoções são necessárias, afirmou Bethlem. Segundo o sub-procurador-geral de Direitos Humanos do Ministério Público do Rio de Janeiro, Leonardo Chaves, o Estado não tem respeitado a Lei Orgânica do Município, “muito menos a Constituição Federal que garante o direito a moradia”. - A legislação só justifica as remoções quando os moradores correm perigo de vida. Eles devem ser realocados para as áreas mais próximas e receber uma indenização que respeite o valor de mercado do terreno e um aviso prévio razoável, estipulado em no mínimo 30 dias. Temos provas de que isso não acontece, afirma o procurador.
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maioria de seus colegas, para o mandato de um ano (2011-2012), sob o slogan “A Defensoria para os defensores”. Ainda assim, militantes pelo direito à moradia se organizaram com o intuito de contestar a falácia usada por Rodrigo Bethlem, de que “não se consegue fazer omelete sem quebrar ovos”. Nos dias 11 e 12 de maio, defensores, estagiários e funcionários do Núcleo e militantes de movimentos sociais, aliados aos moradores das comunidades assistidas pelo Nuth, protestaram em frente à sede da Defensoria. Um dos presentes, Miguel Baldez, pioneiro da advocacia popular no Brasil, afirmou que “o governador Sérgio Cabral faz da polícia o braço armado da Defensoria Pública”. O próprio Nílson Bruno justificou que o trabalho conjunto, entre defensores e comunidades, fazia parecer “que o Núcleo era parte do movimento social”. Talvez porque, como afirmaram os estagiários, “chegamos a atender 98.805 famílias, o que corresponde a aproximadamente meio milhão de pessoas com o seu direito à moradia ameaçado”.
“cometendo um crime contra a sociedade ao levar adiante as políticas de remoções”. - O que acontece no Rio é absolutamente ilegal, mas não vem de hoje. As remoções eram uma prática constante do governo Carlos Lacerda e uma herança do “Bota Abaixo” de Pereira Passos. Este processo está diretamente associado à especulação imobiliária, que é o paroxismo da produção capitalista da cidade, analisa Baldez. Apesar das raízes históricas desse conflito habitacional, o ex-procurador afirma que houve uma intensificação das remoções nos últimos anos. A Defensora Pública Maria Lúcia Pontes foi coordenadora do Núcleo de Terras e Habitação (NUTH) do Rio durante quatro anos e também alerta para o aumento do número de remoções. Segundo ela, “os megaeventos nos próximos anos são o pano de fundo para o processo de mercantilização da cidade que beneficia-se do afastamento da pobreza”. - O mercado se expande na cidade onde existe espaço e oportunidades de lucro, por isso normalmente cresce onde estão as comunidades, que apesar de algumas terem décadas de ocupação, continuam irregulares e é portanto mais fácil e barato removê-las. Aumentando também o valor agregado da área ao distanciar as favelas, explica Maria Lúcia.
O Estado está cometendo um crime contra a sociedade ao levar adiante as políticas de remoções”
Ao expor uma ordem de remoção da Vila Harmonia, comunidade localizada no Recreio, com a desocupação “no prazo máximo de 0 dias”, assinada em 27 de outubro de 2010, Leonardo Chaves denuncia a gravidade do problema. De acordo com as informações que obteve, pelo menos outras duas comunidades sofreram com uma ação ilegal da Prefeitura: Restinga e Vila Recreio 2, ambas na Zona Oeste do Rio. Segundo dados recolhidos pela Defensoria Pública, as três regiões somadas contam mais de 500 famílias, com um histórico de ocupação que remonta aos anos 1970, além de não estarem em áreas de risco.
Ex-procurador do Rio de Janeiro, o advogado e professor Miguel Baldez presta assessoria jurídica a comunidades nas questões do direito à moradia e à posse de terra há 30 anos. Ele afirma que o Estado está
No dia 12 de maio foi organizada uma manifestação em frente à Defensoria-Geral do Rio de Janeiro, onde militantes de movimentos sociais, pessoas atingidas pelas obras e parlamentares uniram-se para denunciar as arbitrariedades recorrentes da política habitacional da prefeitura. A militante do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) Lurdinha Lopes afirmou que o povo não pode se render à opressão pública: - A classe trabalhadora tem direito de acesso à justiça. Construímos mecanismos para que esses direitos se efetivassem. Nós estamos aqui para dizer que não vamos aceitar que essa luta seja jogada no ralo. Os nossos núcleos, a Defensoria Pública, o que a gente tem de avanço democrático institucional é fruto da luta de movimentos sociais durante décadas neste país.
Bola e arte
Futebol, arte e transformação social Direto de Sampa
Carlos Carlos
Ariano Suassuna: essencial Esses tempos eu gravei uma vídeorreportagem com o grande Ariano Suassuna (a matéria foi ao ar na TVT – Tv dos Trabalhadores, meu trabalho atual). Há tempos o admiro e agora posso confirmar: Ariano é um ser especial e iluminado. Um simples contato com sua obra e a pessoa já não é mais a mesma. Pra quem não conhece, está perdendo muito. E pra quem conhece, pesquise mais e mais, pois faz bem pra alma e pra fortalecer nossos mais nobres sentimentos. Ariano causa boas mudanças nas pessoas, ele é um ferrenho defensor da cultura e do povo brasileiro. Não aceita o fato do Brasil e do brasileiro se apequenar perante qualquer país gringo, pois tem consciência de nossa força. Mas ele deixa bem claro que não é contra outros países, o que ele faz é valorizar o seu próprio chão e mostrar o tamanho da insanidade do menosprezo que ocorre em relação à cultura brasileira, onde os próprios brasileiros não conseguem e nem querem enxergar o óbvio escondido entre os ditames do sistema e das imposições históricas de nosso país. Ariano tem o tipo de inteligência que eu admiro: sim, porque inteligências burras e egoístas vemos aos montes por aí, mas inteligências verdadeiramente inteligentes estão em falta na praça. Esse “tiozinho” figura, que já tem mais de 80 anos, continua com o astral lá em cima e demonstra uma paixão verdadeira pela vida, algo que só um ser humano especial consegue ter e manter. Se existe um “ideal de felicidade”, eu diria que o meu se espelha bastante no modo de ser do Ariano: irônico e brincalhão, sarcástico e revolucionário, criativo e diferenciado, artista, guerreiro, humanista e tantos outros adjetivos que eu possa escrever aqui.
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é vídeo-ativista e repórter da TVT (Tv dos Trabalhadores). Trabalhou no “Programa Novo” da TV Cultura e foi demitido após ouvir do novo diretor: “Me chamaram pra deixar o programa mais comercial, você não faz esse perfil”. Em poucos meses na tv, foi um diferencial com tiradas políticas e matérias ousadas como a que fez na Conferência Nacional de Comunicação de 2009.
www.bolaearte.wordpress.com
Ele não tem nenhuma vergonha de defender o Brasil: o Brasil do matuto, do interiorano, do nordestino, do caboclo simples e especial, que vive no suor do dia-a-dia lutas e mais lutas longe das lentes da grande mídia. O que Ariano faz é revolucionário: é a arte da incansável luta de tentar fazer as pessoas pensarem mais, enxergarem sobre outras óticas, além das doutrinas impostas, sempre em prol de valorização de nossa arte, de nossa cultura e de nosso povo, atuando como um crítico ferrenho da chamada “cultura de massa”. Fui agraciado com essa vídeorreportagem gravada com Ariano, onde fiz questão de beijar a mão desse “guerrilheiro celeste”. Além disso, recitei pra ele alguns versos de um rap meu intitulado “Samurai-Indigená”, que é sobre a valorização de nossa cultura e cita Ariano em determinado trecho da letra. Leia esse trecho: No tesouro da cultura brasileira se alimente Estude essa corrente, pra ficar mais consciente Sem ficar acreditando, que os gringos sabem mais Soltar os gritos da matas sobre as grandes capitais Pois o mar vai virar sertão e o sertão vai virar mar Demorô, essa é a hora pro resgate começar E passar pros nossos filhos e pras novas gerações Conversando, discutindo ou cantando nas canções Um Brasil mais regional, menos desigual Um Brasil onde o bem prevaleça contra o mal Um Brasil onde a criança valorize o próprio chão Não comemore Halloween e sim festeje o São João Ouvindo as estórias de Ariano Suassuna Com a sua inspiração que vem do meio das dunas Surreais!!! Numa terra de Indigenas-Samurais!!! Por isso mesmo eles não param, querem mais!!! Numa luta incessante pela paz!!! Todos somos Samurais-Indigená A força tá dentro de nós, basta a gente enxergar Demorô, essa é a hora pro resgate começar E não lidar com descaso com seu próprio habitat
Enquanto isso, na sala de injustiça, o ministro de minas e energia, edison lobão anuncia
e o ss o e sileir m o a C br ... o uxa pové tro
que o próximo leilão do petróleo brasileiro já tem data pra acontecer: 12 de setembro...
Aê G a tod leera, o te blo m cos undo! m pra Sã d ter e petr o 174 ra e ó no m leo, na ar!
...os empresários brasileiros e estrangeiros já começam a juntar a merreca pra comprar mais poços e ganhar muito mais dinheiro
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vuuummm
Ma õõÊE! Quem Quer petróleo?
Entretanto, algo não esperado por lobão e seus comparsas ainda pode acontecer: O povo brasileiro tem que se mobilizar e Exigir:
“o petróleo tem que
ser nosso!”
Olha o desespero do lobão quando notar que seus planos diabólicos irão por água abaixo...
E aí??? Quer que essa história tenha um final feliz? Então, participe da campanha
O Petróleo tem que ser nosso!
Em defesa do projeto dos movimentos sociais para o petróleo, com monopólio estatal, Petrobrás 100% pública e investimento em energias limpas. organização: Notícias da campanha: www.apn.org.br
Notícias da campanha: www.apn.org.br Participe do abaixo-assinado: www.sindipetro.org.br
Docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Enquanto Dilma dá R$25 bilhões de incentivos fiscais às grandes empresas, o professor universitário tem a seguinte resposta...
Contra os ataques do governo e em defesa da carreira docente! Visite nosso site:
www.adufrj.org.br