VÍRUS Porque neutro nem sabonete, nem a Suíça
edição nº 12 novembro/ dezembro
PLANETÁRIO
EDIÇÃO ESPECIAL TEMÁTICA
Utopia O horizonte que nos convida a transformar os sonhos em realidade
Ocupação das praças
Educação transformadora Analisamos modelos pedagógicos por uma sociedade mais justa
ENTREVISTA CLUSIVA com
IN
Silvio Tendler
nº12
EDIÇÃO DIGITAL
Movimento global de acampamentos em espaços públicos reacende os ânimos de luta anti-capitalista
O cineasta que retratou a Utopia e a Barbárie fala sobre revoluções possíveis
MUITO
! O D A OBRIG
A Vírus Planetário agradece a todos e todas que apoiaram a publicação da nossa 12ª edição. Através do Catarse, plataforma de financiamento colaborativo, essa utopia coletiva se tornou ainda mais possível. Aos que não só contribuíram financeiramente, mas também ajudaram a divulgar nosso trabalho e essa empreitada intensa que foi o Crowdfunding, o nosso sincero MUITO OBRIGADO! Foram mais de 100 doadores! Alcançamos o valor necessário para a produção da revista impressa antes do prazo se esgotar, graças a vocês. Que todos possam correr atrás dos seus horizontes e sonhos. E que estes sejam cada vez mais coletivos e colaborativos, para que possamos nos unir numa só força para transformar esse mundo já intolerável.
Segue a lista dos nossos parceiros:
João Paulo Mehl, Leandro Gomes Caetano, Thiago Petra, Thiago Machado Maia, Maria Angelica Gomes, Elis Tanajura, Maria Luiza Valois, Marisa Cristina Rodrigues, Edimilson Jr., Winston Sacramento, Marcos Adler Duarte, Silvana Sá, Antonio Oscar Vieira, Aline Carvalho, Otto Alvarenga Faber, Maria Clara Baldez, Matheus Machado Fonseca, Elizabeth Feldman, Roseane Dahis, Eduardo Albergaria, Nana Vasconcelos, Maria das Dores Mota, Rafaela Santos, Anelise Quintal, Leila Loureiro, Victor Américo, Vera Regina Loureiro, João da Cunha Bertolini, Leily de Oliveira, Caio Bibiano, Monalisa Feitosa, Raymundo de Almeida, Mariene Gomes Caetano, Rodrigo Rodriguez-Arnaiz,
Maíra Lopes, Cláudia Piccinini, Alvaro M. Caldas, Fernando Teixeira, Silvia Maria Pedreira, Antonio Augusto Bastos, Maria Esther Lopes, Luiz de Melo Arthur Belino, Laura M. Alves, Fred Israel, Gabriela C. Chaves, Ana Brasil Machado, Clarissa Nanchery, Marcio Sá, Lidiane Lobo, Filipe Freitas, Luiz Philyppe Motta, Bruno B. Corrêa, Mariana S. Avillez, Amanda Gurgel, Luisa C. Fonseca, Pedro Castanheiras, Laura B. Addor, Marina Schneider, Jorge Humberto Lopes, Angela Maria P. Buzanovsky, André Guimarães, Gustavo Mehl, Tania Pacheco, Raquel Júnia, Martha França, Carmen Silvia N. Dias, Téo Cordeiro,
Vania Loureiro, Wanderlice Pereira, Sandra Mara Ortegosa, Vaidyaratna Karla Mattos, Rosalia Duarte, João Tancredo, Juliana Maschietto, Beatriz Polivanov, Antonio Mauricio Gouvêa, Ana Carolina O. Gomes, Eloisa Amorim, Márcia Maria, Georgia M. C. Pereira, Claudia Paranhos, Maria Clara Senra, Paulo Baldez, Narayan Silva, Bruna Baldez, Frederico de Miranda, Emanuel Alencar, ZozuZ Cidadão Digital, Paula Bianchi, Diego T. G. do Nascimento, Ruth Feldman, Marcela A. Alves, Vasco Albuquerque, Felipe Salek, Maria Inês Gurjão, Evandro Rocha, José Roberto Costa, Vania Alves *Os nomes estão em ordem de entrada da doação
Sumário
Editorial 4
Pelo direito de sonhar (e lutar) Esta é uma edição especial. Homenageamos os que carregam uma fagulha no peito e levam o horizonte nos olhos. A utopia do mundo melhor sobrevive nesta Terra de cínicos. Avessa aos sonhos, quando estes não são os de consumo, a sociedade ridiculariza os idealistas. Sem argumentos tentam nos convencer do fim da história. E, pior, que nós somos os vencedores. Pois se você acredita na justiça social e no fim da desigualdade, se você acredita na livre circulação de idéias e do conhecimento, se você acredita na construção de uma sociedade mais integrada com o meio ambiente e numa outra concepção de desenvolvimento, te convidamos a incitar a revolução que existe dentro de você. Esta é a primeira edição temática da Revista Vírus Planetário. O tema é a Utopia. Nas últimas onze edições, buscamos tratar das injustiças, dos problemas e das contradições desse nosso sistema em franca decadência. Chegou a hora de falar dos movimentos e das ideias que corroem o vício do conformismo de dentro para fora. Não se trata de ignorar as barbáries, mas de sublimar o desejo pela transformação. A primavera árabe, o 15 de Maio espanhol, os protestos dos estudantes chilenos, os espasmos revoltados nas ruas londrinas, as greves gerais na Europa e as ocupações das praças em escala global ecoaram o grito dos indignados em 2011. O alvo é um modelo de sociedade que favorece o crescimento econômico de uns, em detrimento da vida de outros; que enxerga o enriquecimento como um fim. Não existe uma receita de bolo para curar as mazelas dos nossos tempos. Mas existem muitas ideias circulando – sufocadas, porém desejosas de vida. O que fizemos nesta edição foi apanhar algumas para cravá-las nas páginas a seguir. Na Entrevista Inclusiva, o cineasta Silvio Tendler nos guia pela história das resistências, com reflexões sobre o documentário “Utopia e Barbárie”. Nos recantos da mata atlântica, visitamos o Instituto de Permacultura e Ecovilas que recodifica a palavra “conexão”. Apresentamos o fronte da batalha dos direitos autorais, no qual as novas licenças de compartilhamento e os movimentos pela cultura livre se chocam com a vertente econômica da propriedade intelectual. Modelos de educação alternativa defendem a formação cidadã em oposição à linha de montagem para o mercado. Um diário de bordo pela Venezuela, Colômbia e Equador faz pulsar a veia latino-americana. Esta edição sobre a utopia foi publicada graças às doações feitas através do Catarse, uma plataforma de financiamento colaborativo chamada crowdfunding. O reconhecimento de leitores e amigos nos permitem perseguir a utopia de uma comunicação mais democrática. Quisemos retribuir apresentando horizontes, utópicos e possíveis. Boa leitura e mãos à obra!
Adriana Facina_Exigir o impossível!
5 Sórdidos Detalhes 6 Movimentos Sociais_Nós somos os 99% 8 Bula Cultural_Entrevista Teatro Mágico 10 Bula Cultural_Direitos Autorais 2.0 12 Bula Cultural 13 Oswaldo Munteal_A utopia do desenvolvimento 14 América Latina_Um passo em direção ao horizonte 18 Sensacional Repórter Sensacionalista 20 A educação como alavanca das mudanças 24 O que pensa a grande imprensa?!_Dênis de Moraes 25 Passatempos Virais 26 A utopia está no horizonte? 28 Entrevista Inclusiva_Silvio Tendler 32 Meio ambiente_Ecovilas e permacultura Afinal, o que é a Vírus Planetário? Muitos não entendem o que é a Vírus Planetário, principalmente o nome. Então, fazemos essa explicação maçante, mas necessária para os virgens de Vírus Planetário: Jornalismo pela diferença, não pela desigualdade. Esse é nosso lema. Em nosso primeiro editorial, anunciamos nosso estilo; usar primeira pessoa do singular, assumir nossa parcialidade, afinal “Neutro nem sabonete, nem a Suíça.” Somos, sim, parciais, com orgulho de darmos visibilidade a pessoas excluídas, de batalharmos contra as mais diversas formas de opressão. Rimos de nossa própria desgraça e sempre que possível gozamos com a cara de alguns algozes do povo. O bom humor é necessário para enfrentarmos com alegria as mais árduas batalhas do cotidiano. O homem é o vírus do homem e do planeta. Daí, vem o nome da revista, que faz a provocação de que mesmo a humanidade destruindo a Terra e sua própria espécie, acreditamos que com mobilização social, uma sociedade em que haja felicidade para todos e todas é possível. Recentemente, inauguramos um Conselho Editorial (nomes abaixo) com integrantes de movimentos sociais e intelectuais que referendam e apoiam a revista. Em breve, ampliaremos os participantes do Conselho.
EQUIPE: Coordenação editorial: Artur Romeu, Caio Amorim, Júlia Bertolini, Mariana Gomes e Seiji Nomura Redação: Daniel Israel, Fernanda Freire, Maira Moreira, Maria Luiza Baldez e Rodrigo Teixeira Diagramação: Caio Amorim e Mariana Gomes Ilustrações: Carlos Latuff e Felipe Salek Colunistas: Adriana Facina, Oswaldo Munteal Colaborações: Dênis de Moraes Conselho Editorial: Adriana Facina, Ana Enne, André Guimarães, Carlos Latuff, Dênis de Moraes, Eduardo Sá, Gizele Martins, Gustavo Barreto, João Tancredo, Larissa Dahmer, MC Leonardo, Marcelo Yuka, Marcos Alvito, Michael Löwy, Miguel Baldez, Orlando Zaccone, Oswaldo Munteal, Paulo Passarinho, Tarcisio Carvalho, e Virginia Fontes
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A Revista Vírus Planetário - ISSN 2236-7969 é uma publicação da Malungo Comunicação e Editora
ADRIANA FACINA Adriana Facina é antropóloga e professora do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF). Coordena o Observatório da Indústria Cultural e figura entre o(a)s principais pesquisadores de favelas e cultura popular, além de ser uma importante ativista social.
Exigir
o Impossível ! Quando quem dita as regras é o mercado, a utopia supera as fronteiras entre sonhos e realidade Uma das frases mais famosas escriPodemos dizer que quanto mais tas nos muros em Paris durante o leuma realidade é vista como inalterável vante do Maio de 1968 dizia: “Sejamos e seus termos são naturalizados, mais realistas, exijamos o impossível”. Apaa utopia sai de cena e mais frequente rentemente, uma contradição em terse torna a utilização do termo utópimos. Como ser realista e ao mesmo co, ou outros análogos, para desquatempo exigir o impossível? De modo lificar propostas políticas e visões de bem humorado, os rebeldes de 68 crimundo tocadas pela revolução. ticavam uma certa lógica realista da Vivemos num período de vitória política institucional que busca desneoliberal. Os valores do individualisqualificar como utópico tudo aquilo mo competitivo, do consumismo, da que não está compreendido por uma determinada análise da “realidade” e das possibilidades de sua A utopia permite lembrar transformação. Para este tipo de realismo, a polítique quem faz a história são ca seria uma esfera para pessoas. ” conquistas possíveis dentro de uma realidade prédeterminada, não compreendendo em seu léxico demandas que desconsiderassem descrença no público e da exaltação tal determinação ou que buscassem do privado não conquistaram terreno subvertê-la por um ato de vontade insomente na economia e na política, dividual ou coletiva. mas também em corações e mentes.
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Como em nenhum outro momento da
História, vivemos numa sociedade de mercado, na qual as regras deste se perpetuam nas relações interpessoais e nos afetos. Quanto mais capturados por essa lógica, maior a dificuldade em imaginarmos um mundo verdadeiramente diferente deste no qual vivemos. Para muitas pessoas em todo o mundo, de todas as classes sociais, sonhar hoje significa poder comprar alguma coisa. Da casa própria ao carro novo, do tênis de marca ao celular de último tipo, nossos sonhos seguem sequestrados e mantidos a salvo da utopia. Afinal, nada mais possível do que comprar as inúmeras mercadorias disponíveis, em tese, para todo e qualquer ser humano com recursos para tal. No entanto, no mesmo momento em que Steve Jobs morria e ele e sua bem comportada criatividade eram louvados pelos arautos satisfeitos do real, embaixadores da utopia ocupavam Wall Street com todas as suas impossibilidades sonhadas, denunciando a ganância dos calculadores de possibilidades. Marx dizia que a diferença entre a melhor abelha e o pior arquiteto era que este projetava na imaginação o que iria realizar no seu trabalho, afirmando assim a sua criatividade (e humanidade) por meio dele. A utopia é, portanto, dimensão inescapável do ser humano, posto que é criatividade, primeiro passo para realizar com trabalho o que existe na imaginação. Mais que direito, necessidade, a utopia torna fluidas as fronteiras entre o possível e o impossível e permite lembrar que quem faz a história são pessoas de carne e osso, capazes de transformar o mundo à imagem e semelhança dos seus sonhos.
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Vírus Planetário - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2011
Cartazes do Maio de 68 e do movimento de ocupações de 2011
A Mentira varrida pra debaixo do tapete
s o d i d r ó s . . . s e h l a det
Por Daniel Israel e Caio Amorim
Atrocidades II – USP
Foi gritante a coincidência entre a prisão do traficante da Rocinha Antônio Bonfim Lopes, o Nem, na madrugada de quinta-feira (10/11), e a manifestação “Contra a covardia” horas depois organizada pelo governo estadual em defesa dos royalties do petróleo do pré-sal permanecerem para o estado do Rio de Janeiro.
PhDs em repressão também são os PMs com carta branca do govenardor Alckmin - para atacar os estudantes dentro da Universidade de São Paulo (USP). Basta ver como se articulou a invasão e repressão aos estudantes que em novembro ocuparam a reitoria da USP por uma semana.
Seria apenas coincidência? Cabral planejou a manifestação contra a Emenda Ibsen com bastante antecedência, a tempo de a Polícia invadir a Rocinha e fazer os preparativos para a instalação da 19ª UPP. E qual seria a isca para levar a população em peso ao Centro, contra a Emenda Ibsen? Prender o traficante Nem, o procurado da vez, e desmobilizar seus comparsas em uma das maiores favelas da América Latina, prometendo para três dias depois o início da UPP...
...mas nem tudo é passividade O “protesto” do governador do PMDB encontrou uma oposição quando chegou na Cinelândia, onde havia o palco do evento. Os movimentos sociais juntamente com os manifestantes acampados na Cinelândia, no Ocupa Rio, conseguiram tensionar o evento “oficial”. As palavras de ordem - abaixo reproduzidas - surtiram efeito e constrangeu até os políticos que nem subiram no palco.
“Injustiça é 640 para guarda municipal / 760 para professor / 960 para bombeiro / 17000 para o governador / Injustiça é milícia! / Corrupção na polícia! / Injustiça é o Rio desigual! / Onde gente morre em fila de hospital! *VEJA EM NOSSO SITE ( virusplanetario.net ) ESPECIAL SOBRE A INVASÃO DA POLÍCIA À ROCINHA, uma ótica muito além da espetacularização da violência!
Atrocidades I – Unir
Os policiais estão aprendendo direitinho nas universidades brasileiras. Quando se trata de desrespeito aos direitos humanos e à autonomia univesitária, os agentes da Polícia Federal são pós-graduados! Eles vêm cometendo uma série de truculências contra quem está lutando no movimento grevista da Universidade Federal de Rondônia (UNIR). A greve teve início no dia 14/09, estando à frente professores e estudantes que vinha exigindo melhores condições de trabalho e explicações do reitor sobre o porquê de não serem contratados 490 servidores técnicos aprovados em concurso público, para dar conta de atividades que hoje se encontram defasadas. Até que começaram as arbitrariedades que estão disponíveis em vídeos em nosso site: www. tinyurl.com/6or4zuj. Os desrespeitos vão desde agressões físicas até prisões arbitrárias. O reitor Januário Amaral se irritou com os “barderneiros” e mandou esta mensagem de seu gabinete: Ilustração: dceunir.blogspot.com
Mobilizados contra a privatização no ensino da USP e a presença da PM no interior Ilustração: Carlos Latuff do campus –, os estudantes se levantaram contra a detenção de três colegas que teriam fumado maconha dentro da universidade. O que se viu nos dias seguintes foi o aumento no poder autoritário da PM paulista: o contingente enviados (mais de 500 da tropa de choque, dois helicópteros e 20 viaturas) era desproporcional à dimensão da questão; militares fortemente armados contra manifestantes que mal tinham com o que atacar ou se defender. A culminância do enfrentamento desejado pela PM levou à prisão de 72 jovens, que foram soltos na quarta-feira sob fiança de um salário mínimo (R$545), dia 9/11. Como vivemos numa democracia, não é mesmo?
Ilustração: Carlos Latuff
Paródia da campanha do governo do estado
Rocinha X Pré-sal
internacional / movimentos sociais
Na Ocupação em Boston (EUA), manifestantes bloqueiam entrada do Banco da Reserva Federal dos EUA
Nós somos os Movimento global de acampamentos em espaços públicos lembra que o povo representa 99% da população e reacende os ânimos da luta anti-capitalista Por Maria Luiza Baldez e Artur Romeu As falhas da engrenagem capitalista se tornam cada vez mais evidentes. Peças fundamentais para o funcionamento do sistema, agora desarticuladas, deixam visíveis suas implicações diretas: uma crise global representada na forma do desemprego, da inflação e da corrupção. Fortes indicativos de que algo não está indo tão bem quanto deveria são as grandes manifestações que o mundo presenciou este ano. As primeiras fagulhas vieram logo em janeiro quando uma onda de protestos assolou a Tunísia e o Egito. O povo estava farto de aceitar as próprias condições miseráveis. Presenciava a fome, a falta de postos de trabalho, a censura à imprensa. Dias seguidos de protestos incessantes, ainda que com medidas e supressões violentas, obtiveram um grande sucesso. Os ditadores Ben Ali e Hosni Mubarak perderam lugar para uma insurgente democracia. Na Espanha, a indignação. Milhares protestaram em mais de 50 cidades
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do país, no dia 15 de maio. Em Madri, os manifestantes tomaram a Porta do Sol. Reivindicavam medidas políticas voltadas para a sociedade, entre eles a eliminação dos privilégios de políticos e o fim do desemprego. Visto que exigências permanentes pedem ações permanentes, os “indignados” se mantiveram acampados durante o verão da Europa, enfrentando, inclusive, perturbações policiais. Seis meses depois, a situação econômica continua grave. Quase cinco milhões de espanhóis, cerca de 21% da população ativa, estão desempregados atualmente, segundo o Euronews. Em Manhattan, os manifestantes protestaram contra o sistema econômico em seu local mais representativo, a Wall Street - considerada um dos centros financeiros mais importantes do mundo por ser onde se localiza a bolsa de valores de Nova York. O movimento Occupy Wall Street, que teve início no dia 17 de setembro, sofreu, re-
centemente, tentativas de desocupação e repressões policiais. Provavelmente, pela força que ganhou o movimento depois da adesão de ex-combatentes, estudantes e professores. A situação lá já está claramente incomodando. E, para “perturbar” um pouquinho mais, se estendeu além mar. A intensificação dos fluxos de comunicação pelas mídias sociais criou o terreno necessário para fazer o movimento crescer em diversas cidades. A ideia da ocupação, difundida ao redor do mundo, ficou conhecida como Ocupa (“Occupy”, em inglês). Os céticos que admitam que a unificação do movimento pode, ao menos, ser percebida por uma frase em comum: “Nós somos os 99%”. Os 99% que pagam pela crise daquele 1% beneficiado pelas corrupções do sistema são os mesmos 99% que passam a ter consciência de seu tamanho e força. Em meio aos protestos, uma data ficou marcada pelo seu significado
De cima para baixo: Ocupação de Wall Street, em Nova Iorque, policiais recebem instruções, enquanto manifestantes dormem. “Dormíamos, Despertamos!” Assembleia do Ocupa Sampa, embaixo do viaduto do Chá, no Vale do Anhangabaú em São Paulo Barracas do acampamento do OcupaRio, na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro Debate no OcupaRio
mundial: o dia 15 de outubro. Em mais de 900 cidades, em cerca de 80 países, milhares de pessoas tomaram praças e vias, unidas com o mesmo propósito: demonstrar a indignação com o atual modelo social. Para esclarecer que as reivindicações são permanentes, as passeatas, aos poucos, foram se assentando, tomando a forma de acampamentos. Recentemente, uma nova manifestação de caráter global foi marcada para ocorrer no dia 11 de novembro.
Foto: 15osp.org
Foto: Artur Romeu Foto: Artur Romeu
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Os acampamentos devem refletir sobre a sociedade, buscando pontos de convergência através do debate político.
A principal exigência da sociedade ao deparar-se com estes movimentos é conhecer a pauta de reivindicações políticas. Esses questionamentos, muitas vezes, são feitos de forma crítica aos movimentos, argumentando que, sem a existência de campanhas estabelecidas, toda a proposta dos manifestantes se perde na efemeridade ou simplesmente na rebeldia sem causa – o que pode ser visto como uma lamentável tentativa de esvaziar a importância dos protestos. Não é possível ignorar as causas concretas das manifestações: o despertar de um povo que, cada vez mais, percebe as implicações antidemocráticas do sistema econômico vigente. E não se conforma. Os acampamentos, portanto, desempenham um papel importante no cenário das manifestações e a eles devem ser atribuídos objetivos relevantes para a luta, como refletir sobre a sociedade, ter consciência dos problemas sociais, buscando pontos de convergência através do debate político. Experimentar novos modelos de organização social comunitária em um sistema político mais justo e integrado, além de estimular ações para levar as questões discutidas ao resto da sociedade.
No Rio de Janeiro, o acampamento foi montado na Cinelândia, no dia 22 de outubro. Ali, os indignados adotaram o nome do movimento como sobrenome pessoal. O professor Frederico Ocupa Rio afirma que ele considera fundamental quebrar o gelo: “A gente vive em uma sociedade em crise e queremos liberdade para exercer nosso poder político. É essencial estarmos aqui para quebrar a apatia”. A estudante Fernanda Ocupa Rio completa: “O mais relevante é exercitar nossa cabeça e quebrar pré-conceitos”. Quem não vê a relevância das manifestações e questiona, com descrença, “aonde é que isto vai dar?”, pode tentar perceber que é importante o suficiente agir no presente. A luta existe, o debate persiste. E não mais em um ambiente restrito: as ações, ainda que locais, se refletem em uma conjuntura global. As manifestações permanentes se mantêm, não apenas porque ali dormem um grupo de pessoas todas as noites. Mantêm-
se porque, em tantas outras praças, dormem milhares de pessoas, desconhecidas, mas com a ideia comum da transformação necessária. E, para reunir ânimo, vale lembrar do discurso do filósofo Slavoj Zizek, na Liberty Plaza, quando visitou o Occupy Wall Street: “Eles dirão que vocês estão sonhando, mas os verdadeiros sonhadores são os que pensam que as coisas podem continuar sendo o que são por um tempo indefinido, assim como ocorre com as mudanças cosméticas. Nós não estamos sonhando; nós acordamos de um sonho que está se transformando em pesadelo. Não estamos destruindo nada; somos apenas testemunhas de como o sistema está gradualmente destruindo a si próprio”.
Acompanhe os movimentos que estão pulsando o mundo: Democracia Real Ya - http://www.democraciarealya.es/ Occupy Together - http://occupytogether.org/ Occupy Streams - http://occupystreams.org/ Ocupa Rio - www.ocupario.org Ocupa Sampa - www.15osp.org Vírus Planetário - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2011
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Bula cultural
algumas recomendações médico-artísticas
Show na Fundição Progresso | Foto: Artur Romeu
ENTREVISTA Por Artur Romeu e Rodrigo Teixeira
Teatro Mágico
A Vírus Planetário cobriu o show de lançamento do novo álbum “Sociedade do Espetáculo” do grupobanda-circo-poesia O Teatro Mágico, no dia 29 de outubro. Misturando diversos elementos artísticos em sua “celebração coletiva” na Fundição Progresso, no Centro do Rio, O Teatro Mágico tem sido uma das marcas de um novo movimento alheio à mídia comercial. Eles não vendem suas músicas, que estão disponíveis gratuitamente na internet, e não integram grandes gravadoras e distribuidoras. Ao contrário, foi o público que ergueu o grupo nas redes sociais ao status de uma das mais relevantes bandas do cenário atual. O lançamento do novo álbum teve como marca 300 mil downloads pela internet. O clipe do primeiro single, “Amanha, será?”, já foi visto por mais de 450 mil pessoas na rede. Batemos um papo rápido com Fernando Anitelli, principal compositor e vocalista, 40 minutos antes de subirem ao palco da Fundição. Acima Fernando Anitelli conversa conosco. À direita, a apresentação na Fundição. | Fotos: Artur Romeu
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Vírus Planetário: O nome do CD de vocês é “Sociedade do Espetáculo”, lembrando o título do livro de Guy Debord. No livro, o autor defende que o grande problema da sociedade do espetáculo é que ela não foge de si mesma. O espetáculo é o próprio fim do espetáculo. Então, qual é o fim do Teatro Mágico? Para onde O Teatro Mágico quer ir para além de si mesmo? Fernando Anitelli: O Teatro Mágico, neste terceiro momento, traz essa metáfora em relação ao título do livro justamente para fazer uma brincadeira sobre as relações mídiaticas que se dão hoje em dia. Tudo é muito rápido, efêmero, raso. É tudo muito superficial. E ao mesmo tempo consegue ser profundo, a gente consegue acessar muita coisa.
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A ideia é mostrar qu e a “Sociedade do Espetáculo é cada um de nós, pois todos estamos dent ro deste contexto.”
Fazemos parte desta sociedade, construímos isso. O terceiro álbum deveria fechar uma trilogia; a ideia era um “fim”, nesse sentido. Mas a gente resolveu fazer uma trilogia igual ao George Lucas, faz três pedaços mas ainda tem mais aí pela frente. Então, a ideia da “Sociedade do Espetáculo” não é traduzir o livro de uma maneira sonora, mas sim trazer o debate que ele faz em relação a essa experiência, essa vivência. Dialogar com nosso público através das redes e saber que estamos juntos para construir uma outra coisa. Somos tentáculos de um mesmo motor. É esse o nosso intuito. Até a capa do álbum a gente fez como um retrato da sociedade em geral. Não tem “ah, esse aqui é fulano, esse aqui é sicrano, não”. É um retrato geral. Tem o bem, tem o mal, tem a TV, o público, tem gente da trupe, tem várias bandeiras colocadas ali. Acho que a ideia é justamente essa, mostrar que a “Sociedade do Espetáculo” é, de certa maneira, cada um de nós, pois todos estamos dentro deste contexto.
VP: Você tocou com o GOG no Fórum Social Mundial de Belém, em 2009. O GOG é uma referência nacional de um rap crítico, de cunho social. Aqui no Rio está ocorrendo uma refundação de um funk como crítica social. O que você acha desse fenômeno? Ele faz parte também uma nova música popular brasileira? FA: Eu acho fundamental. Assim como o movimento punk surgiu na época, com letras minimalistas, meio tocadas de “qualquer jeito”, com um timbre ruim, uma qualidade não tão boa, mas retratava todo um contexto. E foi tachado “disso, daquilo”.
O movimento funk surte a mesma reação em determinadas pessoas, que querem até proibir o baile, querem proibir a música em si. O funk é música brasileira, é maculelê, é uma batida. Acho que o funk com letras mais politizadas é fundamental, pois tem muita gente que gosta da batida mas não gosta do “proibidão” ou da “sacanagem”. Aliás, a “sacanagem” não é uma coisa oriunda do “funk”, mas já vem também do forró, do baião, do xote. Se você for ver na raiz lá tem muita brincadeira, tem muita metáfora que é justamente essa “sacanagenzinha”. Eu acho emergencial que a música brasileira seja mais crítica. Quanto mais a gente puder produzir funk, tecnobrega, todos esses movimentos que são populares, que saem de morros, de bairros que não são de classe média, que tem acesso aos acordos com grandes mídias do rádio e da TV, melhor. A gente começa a alimentar cada vez mais a criatividade. A batida pode ser a mesma, mas letras variadas, outros poetas, outras críticas. Falta crítica, falta essa politização das relações não somente no funk, mas falta na MPB, falta no pop nacional, no rock nacional. Está “tudo muito bem”, “todo mundo feliz” e ninguém fala nada. Ninguém está incomodado, ninguém está afetado. Nós temos que nos incomodar com as coisas. A gente tem que estar realmente disposto a isto, a travar o diálogo com aquilo que nos incomoda, e não se acomodar com o que incomoda. Que a gente possa ter muito mais funk com letras variadas, politizadas, assim como na MPB em geral. Vírus Planetário - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2011
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Bula cultural
algumas recomendações médico-artísticas
Direitos Autorais 2.0
Sociedade remixada e propriedade intelectual Entenda os debates sobre as políticas de direitos autorais na era digital
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Por Artur Romeu O que está realmente em jogo quando falamos de direitos autorais hoje? O relatório sobre a economia criativa, realizado pelo Banco Mundial em 2008, indica que 8% do PIB do planeta vem da economia da cultura, setor beneficiado direta ou indiretamente pela criação de obras intelectuais. A indús-
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tria criativa – que intersecta arte, negócio e tecnologia – é uma das que mais cresce no mercado internacional. Muitos especialistas traduzem essa crescente importância da comercialização de bens imateriais na economia global, no conceito de sociedade da informação, ou ainda, de capitalismo imaterial. Neste contexto, os direitos autorais, que regulam a chamada propriedade intelectual, assumiram um papel de destaque e são alvos de interesses econômicos e políticos, que vão muito além do legítimo direito do autor. No I Fórum Internacional de Economia Criativa para o Desenvolvimento, em 2006, o ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, afirmou que “o futuro do sistema capitalista está condicionado a repensar o modelo de propriedade intelectual”. A especialista em comu-
nicação e novas mídias da Universidade de Coimbra Maria Manuela Borges afirma que o debate está polarizado: “Por um lado, a introdução de novos mecanismos de controle de cópias que, numa política de maior cerceamento, combate a pirataria e os downloads ilegais. Por outro, a emergência de movimentos de software e cultura livre, sob novos tipos de licença, têm como consequência uma quantidade cada vez maior de material em livre acesso”, explica. O surgimento de novas licenças de compartilhamento, assim como a expansão dos movimentos de software e de cultura livres, são expressões da busca pela ruptura com os modelos econômicos estabelecidos na indústria cultural no século XX. Eles defendem que a construção colaborativa e o compartilhamento livre do conhecimento são fundamentais para se construir uma sociedade mais criativa e plural. Eles acusam os mecanismos legais de controle da propriedade intelectual de privilegiarem grandes conglomerados de mídias e apontam que estes são uma forma de privatização do conhecimento e da cultura – gerando a mercantilização das idéias e o controle social.
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Questionar a política dos direitos autorais é lutar pela emancipação cultural e pela democratização do conhecimento.”
criação gratuita de quase 500 mil sites até agora) e o Mozilla Firefox (também gratuito e o segundo navegador mais usado no mundo).
controlar a criatividade”, publicado em 2004, é um marco para os que debatem a propriedade intelectual na era digital.
Também não são poucos os exemplos de bandas de sucesso que disponibilizaram gratuitamente faixas ou álbuns inteiros em seus sites, como o Radiohead e o Coldplay. Da mesma forma, grupos menores colocaram seu trabalho na internet a fim de alcançar o público e buscar o retorno financeiro nos palcos. As formas de financiamento destas iniciativas são variadas, seja através de fundações, editais públicos ou ainda de micro-doações de pessoas que acreditam no projeto. O veterano cineasta Silvio Tendler lançou recentemente o documentário “O veneno está na mesa”, e disponibilizou o filme na íntegra no Youtube. O vídeo já conta com quase 50 mil visualizações e o diretor diz que, com a repercussão, está sendo convidado para muitas conferências e debates, nos quais é pago e vê aí mais uma forma de retorno.
O Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro é um dos grandes pólos de reflexão sobre a cultura digital no Brasil. O professor de direito Bruno Magrani, que coordenou durante cinco anos o grupo de pesquisa Cultura Livre, afirmou que, ao longo das últimas décadas, houve uma maximização da proteção à propriedade intelectual liderada pela indústria do entretenimento, que passou a ver seus interesses econômicos ameaçados: “Existe uma corrupção institucional, pela qual interesses particulares passam a distorcer o sistema político a seu favor através de, por exemplo, pressão econômica”, conta.
O livre compartilhamento do conhecimento é fundamental para a construção de uma sociedade mais criativa e plural.”
O software livre e as novas licenças – uma revolução digital Estes movimentos tiveram origem na década de 80. O programador Richard Stallman cunhou, em 1988, o conceito de CopyLeft ao associá-lo à Fundação para o Software Livre. O caso mais conhecido baseado nos princípios que prevêem o compartilhamento, a construção colaborativa e a abertura dos códigos fontes dos programas (open source) é o sistema operacional Linux. Outros exemplos que teriam enraizado esta herança são projetos como a Wikipédia (maior enciclopédia da história com acesso gratuito), o Wordpress (que possibilitou a
Outra proposta que segue uma linha semelhante e que tem tido grande adesão é o Creative Commons, fundado em 2001. Essa licença tem por objetivo permitir a criação de obras com base legal de compartilhamento, identificando trabalhos com “alguns direitos reservados”. O professor da Universidade de Columbia, em Nova York, Lawrence Leissig, idealizador do projeto, é uma voz polêmica no questionamento da legislação corrente dos direitos autorais. O seu livro “Cultura Livre – Como a grande mídia usa a tecnologia e a lei para bloquear a cultura e
No entanto, a postura progressista da pasta, quando capitaneada por Gilberto Gil e depois por Juca Ferreira, que chegou a fazer uma consulta pública do anteprojeto da nova lei pela internet, foi freada com a chegada da atual ministra, Ana de Hollanda. A reforma que estava sendo proposta era considerada pelos críticos das atuais políticas de direitos autorais um avanço para o país. O principal desafio entorno das questões da propriedade intelectual é o de encontrar equilíbrio entre o legítimo direito do autor e o interesse público no acesso à cultura e ao conhecimento. A Consumers International (organização que defende os direitos dos consumidores) estabeleceu um ranking dos países que mais facilitam o acesso ao conhecimento em suas leis de direitos autorais. De 34 países, o Brasil ocupa a 27a colocação. Com a imensa quantidade de bens imateriais a serem comercializados, a poderosa vertente econômica do copyright exerce grande pressão para a manutenção de certas políticas consensualmente inadequadas ao contexto contemporâneo. Questionar a política dos direitos autorais é lutar pela emancipação cultural e pela democratização do conhecimento. Vírus Planetário - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2011
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Bula cultural
algumas recomendações médico-artísticas
Indicações
Contraindicações
Cineclube CAL-ABI
Quinta-feira à noite, duas vezes por mês. O que você faria no Centro até às 22h? Algumas pessoas vão religiosamente à Associação Brasileira de Imprensa (ABI), para o Cineclube mantido em parceria com a Casa da América Latina (CAL). Na tela do Auditório do 7º andar, já foram exibidas obras de todos os gêneros, que refletem sobre a matriz latinoamericana. Nosso entrevistado inclusivo desta edição, o cineasta Silvio Tendler, terá o documentário Memória e História em Utopia e Barbárie exibido no dia 15 de dezembro.
Calle 13 - LatinoAmerica
Latinoamérica é um vídeoclipe produzido pela dupla porto riquenha Calle 13 (Rua 13), que traduz intensae mente as lutas, derrotas pedos desafios enfrenta los povos de uma América que, embora permaneça com suas veias abertas, continua pulsando com novas formas organizativas e cada vez mais identificadas com suas origens. Numa contundente crítica ao sistema capitalista, (re) afirmam que existem coisas preciosas que não podem ser compradas. Arrepiemse! Acesse www.lacalle13.com para ver na introdução o clipe
Documentário Marcelo Yuka - No caminho das setas
Exibido e premiado no Festival do Rio de 2011, o documentário Marcelo Yuka no caminho das setas, revela a alma de um homem, que com arte e indignação, busca dar a volta sobre si mesmo e, o destino que o atingiu. Sua utopia? A paz. Paz como partilha de nossa comum humanidade.
A página do facebook do filme tem as informações locais e horários de exibições: www.facebook.com/yukanocaminhodassetas
de
A Utopia Capitalista
EU DI SS E QU E EU ES TAV A CE RT O SOB RE O CAP ITAL ISM O!
Nesta edição, falamos de utop ia principalmente na forma de grandes sonhos carr egados de amanhecer, que animam e orientam a cam inhada. Diferente da utopia do capitalismo, sonho notu rno com a acumulação irrestrita de bens e o estímulo máximo da produção e do consumo desregulados. Durante boa parte da história recente, países se submeteram a um falso discurso sobre modelo de desenvolvimento em que os ‘subdese nvolvidos’, aqueles que supostamente por uma razão ou outra ficaram um passo atrás na caminhada do prog resso, iriam chegar ao patamar dos Estados Unidos ou da Suíça. Parecia uma questão de tempo. Hoje, quando a crise ambiental bate à nossa porta, mostrando que a poluição e o uso da natureza ao mod o dos EUA não é possível em um país — imagine em vário s — e quando observamos que por mais que se aum ente o bolo da produção, um número que esconde uma triste realidade que jamais muda significativamente : mais de um terço da humanidade se encontra abaixo da linha da miséria.
POSOLOGIA ingerir em caso de marasmo ingerir em caso de repetição cultural ingerir em caso de alienação manter fora do alcance das crianças nocivo, ingerir apenas com acompanhamento médico extremamente nocivo, não ingerir nem com prescrição médica
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OSWALDO MUNTEAL Oswaldo Munteal é professor de história na UERJ, Facha e PUC-Rio. Pesquisador da FGV, coordenador do grupo de pesquisa Núcleo de Identidade Brasileira e História Contemporânea (NIBRAHC)
A utopia do
desenvolvimento Os caminhos possíveis para um projeto coletivo de sociedade Vivemos mais uma fase em que o discurso desenvolvimentista parece dominar o cenário político nacional. Será a única alternativa para o crescimento e para a distribuição de renda?
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agenda capaz de superar os entraves da questão social, faz-se necessário atacar um mal grave: o desemprego e a falta de expectativa da nossa juventude. A utopia das pessoas, que têm entre 25 e 35 anos, é a de se salvar individualmente.
É preciso atacar o desemprego e falta de expectativa da juventude. ”
Desde o Estado Novo de Vargas até as reformas de base da Era Jango, a utopia desenvolvimentista foi dominante, com variações e tonalidades, porém com um eixo comum: distribuir sem socializar os meios de produção. Hoje, as transformações do capitalismo abalaram as convicções das teorias do desenvolvimento. Com a flexibilização do trabalho, a reestruturação da base produtiva e o desemprego estrutural, fica a pergunta: será possível mudar a vida das pessoas sem o povo? A luta, por uma modificação mais consistente, volta a estar em pauta após o liberalismo, como diz Immanuel Wallerstein. A atualidade do desenvolvimentismo mostra a sua necessária superação dialética. Afinal, não são os países que se desenvolvem, mas todo o sistema mundial. Os discursos do G20, agendas para a crise grega e a política ortodoxa de combate à inflação se apresentam com gosto de receita repetida à exaustão. Não é fácil sair desta fórmula, é verdade, mas não estamos condenados a repeti-la. Aliás, o nosso povo não precisa disso. Para uma Charge: Carlos Latuff
Um novo projeto de sociedade deve estar associado a um enfoque coletivo. Os asiáticos, nesta fronteira do desenvolvimento, procuraram um caminho próprio. Qual será o
nosso? Talvez esta seja a maior utopia do brasileiro. Superar o que está estabelecido e enxergar além das lideranças carismáticas. Reivindicar este movimento depende de uma construção sólida e, sobretudo, de longo prazo. Não se trata, portanto, de bravatas. Não há tempo para isso. A utopia, ou distopia, segue o seu rumo, e nós brasileiros tentamos buscar o nosso caminho. O desenvolvimentismo tinha no horizonte a distante revolução industrial como parâmetro. A nossa utopia precisa definir qual revolução nos alavancará para o século XXI.
Escola Bilingue no interior da procincia de cotopaxi - Equador
américa latina
Caminhando um passo em direção ao horizonte
O começo de uma jornada pela América Latina
Por Luna Arouca e Marina Praça Como contar uma viagem? Como transformar ou esquematizar pessoas, histórias e vivências? Dentro de cada país é possível viver vários outros. Assim esse texto parece uma missão complicada, que só pode ser entendido partindo dessa complexidade. Nos sete meses iniciais de viagem passamos pela Revolução Bolivariana da Venezuela, cruzamos a Sociedade do Medo e do Controle na Colômbia e vibramos com a Sociedade Indígena em luta por sua biodiversidade no Equador. De peito aberto nos jogamos em uma viagem que para muitos parecia uma loucura. Não queríamos rotas, nem mapas traçados. Saímos a nos movimentar, buscando movimento e gerando movimentos. Cada passo, cada história, cada país foi passando pela gente. Trazendo sorrisos, paisagens e sonhos que vão sendo levados. Ainda no Rio essa era a nossa uto-
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pia, que diante de tantas expectativas, parecia difícil de realizar. Agora a utopia é o nosso dia a dia, e por aqui vamos alimentando outra: ver nossa America Latina unida, pelos povos, pela preservação do meio ambiente, pela diversidade de nossas culturas e cultivos, traços e línguas, e que nada nem ninguém possa reter o poder dessa história, pois acreditamos que chegou a sua hora...
O novo socialismo da Venezuela:
se: “Socialismo o muerte”. Sentimos na Venezuela o chamado “Socialismo do Século XXI”: a distribuição da riqueza, o MERCAL (mercado subsidiado pelo governo com produtos a baixo custo), cada produto com um artigo da constituição, a “Misión Barrio Adentro“ ( com postos de saúde dentro das favelas e periferias e médicos cubanos fazendo atendimento primário), as donas de casa recebendo salário por seu trabalho, ou trabalhando com a comunidade com a “Misión Madre Del Barrio”, a gasolina a preço baixíssimo (tanque cheio a 1 dólar) e a construção de milhares de casas por todas as partes do país.
A Venezuela foi uma surpresa boa. O primeiro choque foi ver nas paredes, nas caixas de produtos, na frente do exército as palavra Socialismo e Revolução. Os produtos do governo vêm com um coração e dentro a frase: “Hecho en socialismo”, na frente da polícia está a fra-
A cultura política está presente nos venezuelanos em toda parte. Ouvíamos e discutíamos política o tempo todo. Fossem de direita ou de esquerda, chavista ou não, todos tinham uma opinião e queriam debatê-la. Até os opositores nos diziam que com a entrada de
Já caminhamos um passo em direção ao horizonte.
Chávez a política se massificou no país. Escutamos um motoboy da “Organização dos motociclistas pelo socialismo” falando da mobilização realizada por eles, apoiando a volta do presidente, na tentativa de golpe em 2002, quando milhares de pessoas saíram às ruas; ele nos contou da formação política “recebida” por Chávez (publicação de livros e discursos na televisão e nas ruas), citou Rosa Luxemburgo e disse que se algo acontecer com o presidente os motoboys estão dispostos a entrar em uma guerra civil para defendê-lo. A organização por bairros em comunas, a universidade que tem como base o trabalho coletivo, o financiamento massivo de projetos com caráter organizativo e comunitário, nos davam sinais da construção de uma sociedade pautada na coletividade e não no individualismo. E nos fazia entender na prática a importância do empoderamento do povo nos processos de transformação radical da sociedade.
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Os opositores falavam da corrupção, do enriquecimento dos boliburgueses e da perseguição política, todos motivos sérios, mas que não tivemos elementos para analisar. Desse lado, da história o mais forte que escutamos foi sobre uma história sobre uma consulta popular na qual o governo tornou público o nome daqueles que votaram contra a decisão governista. Estes entraram para uma lista utilizada pelas instituições públicas na hora da contratação de funcionários e outros benefícios, impedindo-os de obtê-los. Esta foi uma das contradições da Revolução Bolivariana que mais nos marcou e nos fez perceber que o respeito à diferença segue sendo um grande obstáculo nos processos revolucionários. Mesmo com todos os processos de transformação, a estrutura capitalista ainda existe, uma das particularidades do projeto do “Socialismo do Século XXI”. A tradicional elite financeira domina os meios de comunicação, a terra e
Agora a utopia é o nosso dia a dia, e por aqui vamos alimentando outra: ver nossa America Latina unida.”
a entrada de artigos importados. Contraditoriamente, essa elite também é admirada pela população devido ao seu status social. A lógica do consumo está muito presente e todos comentam que há muito dinheiro circulando. A polarização é real e forte, e apontada pelos venezuelanos como algo negativo do governo. Diante dessa conjuntura vimos o enfrentamento diário nos jornais e nas ações perpetradas pelo Estado contra essas elites, desapropriando terras e empresas e construindo na imprensa pública outra “verdade oficial”. Não sabemos como vai ser ou pode vir a ser o enfrentamento da luta de classes na Venezuela. Ficamos com a esperança que esse processo possa se consolidar e se ampliar na direção de uma sociedade mais justa e igualitária. Mas isso só a história dirá.
O silêncio forçado na Colômbia
Fotos: Marina Praça e Luna Arouca
O início veio junto com a história contada por Garcia Marques na sua bibliografia. A invasão da indústria bananeira, a Guerra dos 100 mil (entre liberais e conservadores) e a Guerra do Canal do Panamá. Nos anos 50, a possibilidade de um governo de base, como o nosso de João Goulart, com Gaitán – rompida por seu assassinato em plena borbúria urbana e política de Bogotá - e a contínua disputa oligárquica e elitista, marcada pela inexistência de partidos de esquerda na história política do país. A resistência em âmbito nacional na Colômbia surge na década de 70 com a guerrilha e sua luta armada pela construção de outra sociedade. Projeto apoiado, a princípio, pela população pobre do campo e da cidade e por movimentos locais. Na década de 90 o auge do narcotráfico, com o “Cartel de Medellín”, Pablo Escobar e CIA. E o início da justificativa para todo o tipo de guerra e intervenção estrangeira. Acentuado com a associação entre guerrilha e narcotráfico. Está montado o cenário da situação política que a Colômbia vive hoje, e que escutamos, sentimos e vivenciamos um pouco. Bogotá parecia uma cidade grande normal, seu centro histórico, suas
Equador: Dia dos Afroequatorianos Vírus Planetário - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2011
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américa latina
Colômbia
ruas cheias de gente. O primeiro sinal de algo estranho foi a quantidade de políciais nas ruas; em todas as esquinas e praças. Na casa de amigos, ouvíamos as primeiras histórias fortes. A jovem senhora, trabalhadora da saúde e participante de um movimento feminista, nos contava com os olhos cheios d’água a situação do seu país. Ela falou da perseguição e extermínio das organizações sociais, das ameaças em papel volante debaixo das portas, da morte de militantes, do medo, da guerra.
Venezuela
Ficamos lá uma semana e a cada dia encontramos uma pessoa diferente, de um movimento diferente, e todos nos contavam o mesmo. Os encontros eram em lugares públicos, mas escolhidos a dedo por cada pessoa. As conversas eram meio sussurradas, os olhos estavam atentos ao entorno e a informação se repetia: a sociedade está vigiada e controlada. Além da polícia e do exército nas ruas, pessoas comuns tinham se transformado em informantes. Confirmamos essa realidade com dois amigos brasileiros, cada um de uma organização, que quando saíram da Colômbia depois de atividades políticas, foram advertidos pela policia de que ela sabia de todos os seus passos dentro do país. A guerra está controlada, o governo após muitos esforços e muito dinheiro manejou politicamente a situação. As estradas, antes perigosas pela possibilidade iminente de uma ação, agora já são transitáveis. A resistência vive em uma ditadura disfarçada e o povo sob controle. A guerra civil estampada e encoberta ao mesmo tempo. Encoberta pela suposta segurança e pelo neoliberalismo. Estampada pelas perseguições e atentados a qualquer tipo de resistência e pelos bombardeios e massacres, justificados e realizados por todos os atores dessa guerra. Vimos o que pode ser o aprofundamento de uma política neoliberal. Todos os serviços básicos, educação, saúde, transporte, nas mãos de empresas privadas. A economia e a política estão totalmente dependentes dos EUA atra-
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Saímos a nos movimentar, buscando movimento e gerando movimentos. Cada passo, cada história, cada país foi passando pela gente. Trazendo sorrisos, paisagens e sonhos que vão sendo levados.”
vés dos Tratados de Livre Comércio e planos intervencionistas como o Plano Colômbia (supostamente de combate ao narcotráfico). E vimos a importância da estrutura pública que temos no Brasil, por menor que seja.
O dólar do Equador Entramos na Revolução Cidadã do Equador pensando que iríamos ver um pouco da Venezuela. Talvez por ter no imaginário que Corrêa e Chávez formavam um bloco político. Nos equivocamos em vários sentidos e percebemos como no Brasil não sabemos nada do Equador. Vimos que Corrêa está muito mais próximo do nosso governo petista do que da Revolução Bolivariana. É um governo com um olhar para as bases sociais, mas que não se propõe a rupturas com o capital estrangeiro e visa o desenvolvimento a qualquer custo. Os primeiros questionamentos vieram ao vermos um país latino americano com traços indígenas por toda parte manejar seu dia a dia com dólares. O custo de vida é latino, mas a moeda é o dólar. Ônibus a $0,25, comida a $1,50 e com $1 dólar se compra quase tudo por aqui. Por que isso? Por que o dólar colocou o Sucre abaixo e todos tratam com naturalidade que a moeda americana seja a sua? Não conseguimos entender exatamente como se deu esse processo, mas sabemos que veio com a justificativa da estabilidade econômica, e trouxe o encarecimento do custo de vida e a total dependência em relação à economia norte americana. Os primeiros contatos no Equador foram com pessoas da Via Campesina e uma ONG ambientalista, a Ação Ecológica. As visões eram bem críticas, falava-se que Corrêa chegou ao poder com o discurso e apoio da esquerda, prometendo transformações profun-
das. Denunciavam que estas mudanças foram superficiais e que em relação ao meio ambiente o governo está cometendo atrocidades, na liberdade dada as petroleiras e mineradoras. Mais ao sul, na cidade de Cuenca, chegamos à casa de uma amiga e ouvimos outro discurso. O pai dela era correista, estava muito feliz com o governo, via grandes mudanças na área da saúde, educação, na assistência aos discapacitados portadores de necessidades especiais (“Misión Manuela Espejo”), no retorno de equatorianos ao país e na estabilidade política e econômica. Os discursos pareciam opostos, mas duplamente verdadeiros . Os indígenas são maioria no Equador e, como se vê pelos traços no rosto ou por suas roupas, são diferentes grupos, com diferentes culturas. Mas não imagine uma tribo indígena como fantasiamos e vemos em filmes. Fomos com o livreiro conhecer a televisão indígena do MICC- Movimento Indígena e Campesino de Cotopaxi. Lá tivemos outra conversa, Maritza, uma das construtoras do projeto dessa desta TV comunitária nos contou a briga com os poderosos dos meios de comunicação, o êxito na constituição da repartição do sinal em TV pública (33%), privada (33%), e comunitária (34%), a criação do canal indígena com programas em quíchua e espanhol. Nessa conversa ouvimos as dificuldades da relação com o governo, a cooptação dos lideres do movimento. Escutamos uma historia que já vimos no Brasil: a complexidade e o desafio da
estrutura de um movimento social em relação com uma institucionalidade que diz apoiá-lo. Na nossa última etapa no país, conhecemos a região amazônica e os impactos das indústrias petroleiras, que vêm de um processo de 30 anos de apropriação da terra, da água e da dignidade humana. Fomos a uma atividade chamada Clínica Ambiental. Lá escutamos a apresentação de um informe sobre as consequências destas indústrias em uma comunidade chamada Pimampiro. Coisas difíceis de ouvir que nos mostravam as dores causadas pela força do desenvolvimento do capital. Numa comunidade de 80 casas, há 42 poços petroleiros; 75% da população têm problemas sérios de saúde e 34% das famílias tiveram casos de câncer. Há um processo de construção da invisibilidade dessa população por parte da petroleira e a imposição do estado desta atividade econômica a qualquer custo. A luta ambiental foi o que vimos de mais forte, seja por meio dos indígenas, das ONGs, dos camponeses ou de comunidades afrodescentes. Todo tipo de luta era pela defesa da maior biodiversidade do mundo (é o que dizem por aqui) e dos povos que vivem a milhares de anos junto a ela. Vírus Planetário - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2011
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*Improvável, mas não impossível.
CBF - Coluna do Bom Futebol Por Ricaço Teixeira Notinhas descontraídas escritas por um homem cuja aposentadoria é a morte!
Para o Bradesco, o Rio de Janeiro é oh [clap, clap, clap] preço!
Eduardo Pais é ou não é um Filé Carioca? O prefeito da Cidade Gostosa, o filezão carioca Eduardo Pais e Mães, deveria ter deixado com menos do que meio-alvará o restaurante que explodiu, que mais parecia ter sido invadido pelo Bope. Assim, quem sabe, o prefeito bem-passado não daria um quarto-de-alvará para mim, outro quarto para o João Maria Faustino Godofredo Havelange – ufa! –, e o último, que não pode ser emprestado por banqueiro nem licitado por empreiteiro amigo, para o Cabralzinho passar o pernoite de reconciliação com a esposa. Depois de todo o causo com a viagem a Porto Inseguro, o que restou de tudo isso foi que o governador a-ba-fou com a carona no luxuoso helicóptero do Eike Maravilha. Gentileza gera gentileza! Ahhh! Agora, falta só o Cabral, descobridor do Rio de Janeiro, facilitar uns “licenciamentos ambientais” para o Mr. Maravilha construir portos faraônicos. 18
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Educação, que nada! É tempo de especular em cima do Rio de Janeiro, aproveitar que enquanto a grama não volta a crescer na careca – ops, no campo – do Maraca, a gente bota a Delta para reformar estádio, tribunal de justiça, porto... Só não boto lá em casa, porque o Centauro Cavendish – que ganhou como retribuição um chifre do nosso governador – cobraria cada dia mais caro! E já que falamos em preço, como é que tem acidente no bondinho, com o preço alto daquele jeito? Se eu pago R$ 0,60, exijo que tivesse pelo menos uma broca no lugar do arame freado. E do jeito que andam nossos hospitais públicos, meus leitores, vocês deveriam agradecer às UPA’s e OS’s pelo atendimento que não deixam os pacientes feridos, impacientes, com o selo “saúde boa é a privada”. Vejam o meu caso, não fosse o Pró-Cardíaco, a minha diverticulite não teria passado e um monte de gente estaria até hoje se divertindo às minhas custas.
A Dilma não me “tucuta” no facebook =( Já chorei pelos canos, cantos e campos, e não adianta: sigo inconsolável. Mas a prepotenta Dilma ainda vai me receber, senão faço até o PCdoB tirar o apoio ao governo. Aliás, na cerimônia de posse do Aldoh Rebola como ministro do Desmatamento do Esporte, ela continuou não me dando bola. Só que eu vou me vingar dela, ressucitar o Orlando Silva e mandar ele cantar “Nervos de aço”, especialmente aquele trecho: “Eu só sei é que quando a vejo/Me dá um desejo de morte ou de dor”. Mas bom mesmo é o System of a Dilma!
Por Daniel Israel, Mariana Gomes e Adriana Facina
Gente de bem! Mila Branco
A Usp tá bandida Quem ama (S2) a CBF dá RT! Onde já se viu o governante mais importante de um país perguntar se a população topa ou não pagar as dívidas dos outros? É óbvio que o povo deve pagar! Se você concorda comigo, dê RT – Ricaço Teixeira, ou, para os íntimos, retuíte – e dê o recado para os gregos, antes que eles deem aquele presente estilo cavalo-de-Tróia para o resto da Europa. Nessas horas, me pergunto que mal há no fato de os meus amigos banqueiros serem bancados pelos governantes? Nada a ver o pessoal quebrar tudo em Atenas! Por isso, o plebiscito é o calcanhar-de-Aquiles do Papandreou, reconstruir a cidade será o 13º trabalho de Hércules e Zeus ficaria envergonhado se fosse o negociador daquela bendita dívida. Democracia, a gente se liga em você! Outro dia, estava passando pelo bucólico Jardim Botânico, quando vi um monte de badernistas em frente a uma das 476894356 sedes da Globo. Para piorar, faziam o papel da Comlurb, impedindo os garis de faxinar a rua. Não entendo o que tem a ver se manifestar limpando a entrada da Globo, porque eu, que tenho tanta influência lá dentro, posso garantir que é tudo tão limpinho, ainda mais nos estúdios e nos cenários das novelas. Vai que esse pessoal quisesse conversar com um dos vinte e oito herdeiros da Família Azul-Marinho, achando que nenhum deles fosse transparente o bastante para deixar o James Bonner contar a verdade no “CQC” – digo, no “Jornal do Banco Nacional”.
Hoje é dia Rock, beb de eam!
Que horror esses maconheiros da USP, néam, gente? Só tomando muito rivotril pra aguentar... E quanta violência! Pra quê isso, meu Deus? Ainda bem que a PM soube agir com rigor, atacando esses foras-da-lei. Peraí um minuto porque eu tô baixando uma música aqui e meu computador travou. Ai esse Windows pirata sempre dá problema, Brasil! Bem, mas como eu ia dizendo, a PM mostrou praqueles filhinhos de papai mimados com quantos paus se faz um Carandiru. Bem feito! Odeio essas desordens. Claro que a PM exagera um pouco. Por exemplo, eu tenho de ter pacote de dados no meu celular pra saber onde tem Lei Seca, néam? Senão, como vou poder beber meus bons drink com as amigas da academia? Afinal, os guardinhas da Lei Seca nem aceitam uma cervejinha, ai que absurdo! Agora dá licença que vou voltar aqui pra minha leitura semanal da Veja e daqui a pouco vou ver o Jornal Nacional pra me informar cada vez mais. Afinal, não basta ser bonita, tem de ser culta também. Aliás, que horror essa história de “funk é cultura”, né, people? Se ainda fosse a Lady Gaga (que aliás é TUDO, pós-feminista, fashion, super in, com looks que arrasam, enfim, a-do-ro!). Espero que essa baderna acabe logo e que, ao contrário da ditadura, o governo de SP e a reitoria da USP não façam um serviço de preto e não deixem esses terroristas voltarem às ruas. Um brinde aos direitos humanos para humanos direitos! Quem quer prosecco? Aloka! Ah, e para quem quiser acompanhar mais sobre os papos-cabeça que temos no clube das socialites engajadas, pode ver nesse vídeo: http://migre.me/684qn Adieu, Ludmila Marcondes Alcântara Mena Barreto Figueiredo Castelo Branco, gente de bem
educação
A educação como alavanca
das
mudanças
Modelos pedagógicos para uma nova sociedade
Escola itinerante Zumbi dos Palmares, em 2009, no Acampamento do MST, Primeiro de Agosto, em Cascavel (PR) Foto: Janine Moraes
Por Maria Luiza Baldez, Rodrigo Teixeira e Seiji Nomura Julgando pelo que se ouve nas ruas, não há dúvidas da importância atribuída à educação. “Eita, povinho mal educado”, diz a madame torcendo o nariz, enquanto o político na TV discursa: “a única forma de mudar o Brasil é uma revolução na educação”; numa casa apertada, o pai descamisado diz para
muito mais da usada pela elite do que da falada pelo povo, o que cria uma grande desigualdade de antemão e reafirma não só os lugares sociais como o suposto ‘merecimento’ de quem os ocupa. A escola também enfrenta o problema do direcionamento para exames
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Educadores se propuseram a formular novos modelos de escolas, buscando outras formas de valorização da aprendizagem.”
seus filhos pequenos, “vou dar a vocês a chance que eu nunca tive, de estudar para ser alguém na vida”. Chega a ser irônico como algo que é visto de forma tão central em nossas vidas é sempre tachado como defasado — poucos são os que não reclamam de suas escolas ou universidades, mesmo quando bem colocadas nos rankings educacionais. Pesquisas como as do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) de 2008, apesar de variações, costumam apontar a educação como o maior problema na percepção dos brasileiros. Como instituição principal desse processo, a escola sofre muitas críticas. Alguns, como o sociólogo Pierre Bourdieu, apontam para a reafirmação de uma forma de se pensar e viver. Entre outros exemplos de sua obra, tem destaque o das avaliações em torno da língua oficial — que se aproxima
como o vestibular. “Para o tradicionalismo pedagógico, a compreensão dos conhecimentos apresentados aos estudantes continua sendo algo menos valorizado. É muito mais importante, em tal perspectiva, que os estudantes sejam capazes de obter resultados positivos em exames e concursos, mesmo mediante formas de memorização”, avaliam os professores da Faculdade de Educação da UFRJ, Máximo Campos e Suzana Saraiva. Há aqueles que, como filósofo Ivan Illich, se manifestam contra a própria ideia da instituição, afirmando a necessidade de outro modelo, de várias redes educativas nãoinstitucionalizadas, para tornar possível a educação universal. Mas mesmo com as severas críticas, são poucos os que não reconhecem a escola como fundamental hoje. “Hoje, poderíamos dizer que não ‘podemos escapar à escola’, pois ela é uma
experiência cada vez mais universal na vida dos indivíduos. Por sua vez, a esquerda e os movimentos sociais com base social nas classes trabalhadoras visualizaram na educação escolar um importante espaço de luta”, afirmam Máximo Campos e Suzana Saraiva. O professor da Escola de Comunicação da UFRJ, Muniz Sodré, valoriza o anacronismo do espaço da escola. “Mesmo com tantos defeitos, a escola ainda é um rito, um reduto em relação ao capitalismo e às exigências da sociedade. É nela que podemos nos dedicar a fazer e a estudar coisas sem depender de utilidade imediata, onde podemos misturar o útil e o inútil em um ócio criativo, estudar literaturas e humanidades, por exemplo. Scholé, de onde vem a palavra escola, significa ócio em grego”, afirma Sodré, que se prepara para lançar o livro “Reinventando a educação: diversidade, descolonização e redes”, pela editora Vozes.
Experiências e perspectivas Ao questionarem o tradicionalismo pedagógico e a sua função social, alguns educadores se propuseram a formular novos modelos de escolas. Eles apresentam diferenças nos métodos de ensino, buscando outras formas de valorização da aprendizagem, a fim de superar antigos problemas. Este foi o caso de Paulo Freire, Anísio Teixeira, Lauro de Oliveira Lima, e, da mesma forma, das iniciativas do MST. “A experiência de Paulo Freire foi singular na história da educação. Vejoo através de dois vetores. Um que é a crítica à educação bancária, que tenta depositar os conteúdos do professor nos alunos, e o outro que é seu trabalho como alfabetizador, que partia Vírus Planetário - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2011
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educação Escola Zumbi dos Palmares no Acampamento do MST, Primeiro de Agosto, em Cascavel (PR) Foto: Janine Moraes
da realidade imediata do educando”, aponta Muniz Sodré. Em suas aulas, Sodré lembra como o método Paulo Freire é capaz de alfabetizar adultos em apenas 40 dias. Para ele, esse fato contraria expectativas de ineficiência em torno de métodos alternativos de educação, e ainda construindo com os educandos formas de contestar a realidade. Máximo Campos e Suzana Saraiva também reconhecem a importância de Paulo Freire. “As propostas dele não partiam de uma idealização, mas sim da realidade concreta dos educandos e de suas percepções da realidade”, observam. “Ele também nos lembra que não se faz um discurso para alguém, principalmente para os oprimidos, mas sim junto com alguém. A boa pedagogia não se satisfaz ou pretende dar respostas, mas sim fazer perguntas”, concluem. A iniciativa do professor Lauro de Oliveira Lima também é digna de registro. Baseando-se nas pesquisas de Jean Piaget, um biólogo suíço interessado pelo estudo do desenvolvimento
infantil, Lauro criou, há cerca de 50 anos, um novo método de ensino. Trata-se do Método Psicogenético. Lauro e sua esposa, Maria Elisabeth Santos de Oliveira Lima, fundaram a escola “A Chave do Tamanho”, no Rio de Janeiro. O professor, ao invés de oferecer aulas expositivas, propõe situaçõesproblema que devem ser resolvidas
Escolas no meio rural Segundo Ana Beatriz, do MST, há uma política de redução das escolas no campo. “Isto está ligado a uma visão específica do campo, ligado ao agronegócio. Estão querendo colocar o campo como um lugar que não é habitado por gente, mas por grandes plantações de soja, por exemplo”, afirma. “Foram fechadas cerca de 24 mil escolas no campo, o que é contraditório em relação à política de interiorização das universidades, por exemplo. Quem mora no campo está tendo que viajar horas para ter escola”, aponta Erivan Hilário, também do MST. “Estranho muito como há toda uma burocracia para se abrir uma escola, se dificulta muito o processo, mas não há critérios claros de como se fecha uma, principalmente quando é no campo”, ironiza o professor.
“
Anísio Teixeira idealizava uma linha pedagógica com maior liberdade, propondo uma reflexão crítica.”
Aula de Educação Física na Escola Zumbi dos Palmares do MST | Foto: Janine Moraes
pelas crianças e adolescentes, através de dinâmicas de grupo. A diretora da escola “A Chave do Tamanho”, Ana Elisabeth Santos de Oliveira Lima, explica que a corrente piagetiana tem como objetivo criar estas situações em todas as áreas do conhecimento. “A escola tradicional acha que tem que transmitir os conteúdos e as crianças devem decorar. O grande benefício da escola piagetiana é que o conhecimento, uma vez construído, é permanente. O que não é construído desaparece sem uso, e os jovens esquecem tudo o que estudaram”, esclarece Ana Elisabeth.
#10% do PIB pra educação, já! O educador Anísio Teixeira, por sua vez, idealizava uma linha pedagógica voltada para uma educação com maior liberdade e centrada no estudante. A proposta é refletir criticamente em conjunto com os estudantes, para que exerçam também seu papel como cidadãos. Corria o ano de 1969 quando uma escola de São Paulo teve uma filial aberta no Rio de Janeiro. Com uma linha pedagógica autônoma em relação à proposta original, a instituição recebeu outro nome. O espaço, então, foi rebatizado de Centro Educacional Anísio Teixeira (CEAT). A professora de Artes Plásticas do Ensino Fundamental, Sandra Oliveira, comenta sobre as práticas que considera fundamentais para a formação do aluno: “Para montar uma escola eficiente, é preciso ouvir o cidadão, perceber quem ele é, usar o conhecimento que ele já tem para gerar um novo conhecimento”. Para ela, os elementos do cotidiano devem ser incorporados na sala de aula. “É preciso incentivar o espaço de discussão”, completa. Sandra também descreve este estímulo como uma das qualidades mais respeitáveis do colégio. “O CEAT realiza mini-congressos a cada ano. Escolhe sempre um tema diferente para ser discutido. Este ano, o tema é a cidade do Rio de Janeiro, para se discutir as Olimpíadas, os transportes etc”. Outra característica do colégio é a escolha pelo não uso de uniforme. “O que eu posso dizer é que assim a gente preserva a singularidade de cada um, já que o uniforme tira um pouco esta singularidade. Não estou falando de individualidade, mas de singularidade. A individualidade pressupõe que se está sozinho e a escola é um coletivo”, comenta a professora. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) também promove iniciativas de educação nos assentamentos e na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF). Para Ana Beatriz, membro da coordenação da educação do movimento, a escola é um campo de luta. “Apesar de a escola disseminar os valores dominantes, entendo esta como um campo de luta e criamos alternativas a ela”, afirma. O também membro da coordenação de Educação do MST, Erivan Hilário, complementa explicando sobre
No Brasil, existem ainda 14 milhões de analfabetos e cerca de 25% da população não tem acesso à escolaridade mínima. Segundo dados da Unesco, o investimento anual por pessoa em idade escolar no Brasil é um dos mais baixos do mundo, US$ 959 - muito atrás de Cuba (US$ 3.322), Argentina (US$ 1.578) ou, até mesmo, Botsuana (US$ 2.203), considerado um dos países mais pobres da África. Se compararmos com os países que investem mais seriamente em educação como a França (US$7.884) e a Noruega (US$ 15.578), torna-se ainda mais claro o baixíssimo aporte governamental nesta que é uma das mais importantes políticas públicas. Para mudar esta realidade, foi formado um Comitê Nacional por uma ampla campanha pelo investimento de, pelo menos, 10% do PIB (Produto Interno Bruto) em Educação. Com a participação de dezenas de entidades dos quatro cantos do país, o comitê deu a sua largada no Rio em um ato realizado no dia 20 de outubro, na Cinelândia, contando com a participação de mais de 400 pessoas. O Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPE-RJ) foi um dos principais atores desta campanha e continua participando ativamente de
a luta diária contra a separação entre teoria e prática. “Nas escolas há conhecimentos que devem ser passados e que requerem certo rigor, como a alfabetização e a interpretação. É falsa a visão de que no MST não ensinamos o currículo completo, mas também trazemos o referencial crítico e vinculamos o conhecimento à experiência da vida no seu sentido mais amplo. No ensino de matemática, por exemplo, os estudantes investigam como os assentados usam o cálculo nas hortas e no plantio”. Sobre perspectivas e horizontes para a educação, o militante do MST frisa que, para ele, só há mudança se houver luta. “Para isso, é preciso a organização de professores, dos alunos, de todos envolvidos com a escola”, ex-
Foto: Clarice Castro
sua organização. Para Ivanete da Silva, professora em Duque de Caxias e diretora do SEPE, “é fundamental a aplicação dos 10% do PIB, pois a educação precisa de uma sustentação financeira de fato, inclusive para possibilitar condições de trabalho e salários melhores. E não bastam recursos. Queremos também uma escola pública com um projeto políticopedagógico transformador e democrático”. Para saber a opinião da população brasileira sobre o assunto, movimentos sociais estão organizando até dia 6/12 o plebiscito popular para consulta. A pergunta da cédula é simples: Você é a favor do investimento de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) na Educação Pública, já? Sim ou Não. Mais informações no site do campanha: www.dezporcentoja.blogspot.com/
plica. Segundo ele, a organização destes núcleos fundamentais é essencial para que as escolas não fiquem submetidas às políticas do governo ou do mercado. “Nem todas as escolas que ficam em nossos assentamentos têm a participação do movimento na gestão, mas ter grupos organizados entre os estudantes, professores e funcionários é um fator fundamental”, observa. “Mudar a educação e a sociedade é um trabalho que vem em conjunto, um não deve ser completamente separado do outro. Não podemos ter a educação ideal em uma sociedade individualista como a nossa e nem a sociedade ideal sem a educação”. Vírus Planetário - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2011
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O que pensa a grande imprensa?!
Ativismo em rede e comunicação
DÊNIS DE MORAES Dênis de Moraes é Professor do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador do CNPq e da FAPERJ.
para a cidadania A comunicação alternativa e não mercantilizada vem se utilizando cada vez mais da Internet para ampliar o horizonte de difusão de informações e ideias contra-hegemônicas – isto é, de questionamento do neoliberalismo e seus efeitos antissociais, o que pressupõe contraditar o discurso dominante, segundo o qual o incremento da produtividade depende da liberação generalizada das atividades econômicas. A dinâmica descentralizada e interativa de Internet ajuda a ampliar os campos de resposta e resistência ao domínio dos grupos midiáticos, além de introduzir novos modos de convivência, manifestação de desejos, divulgação autônoma e participação social. No ecossistema em rede, todos compartilham um colossal hipertexto formado por interconexões que se retroalimentam continuamente, sem subordinação a hierarquias e controles predeterminados. As junções de afinidades eletivas aparecem em redes sociais, listas de discussão, correio eletrônico, mensagens instantâneas, fóruns, bases de dados, blogs e videoconferências. As ferramentas virtuais têm sido valiosas na preparação de atos públicos, bem como na divulgação em tempo real dos eventos, em coberturas. A instantaneidade, a transmissão descentralizada, a abrangência global, a rapidez e o barateamento de custos tornaram-se vantagens ponderáveis. O ativismo em rede tende a politizar o uso das tecnologias, na medida em que prioriza conteúdos críticos e questionadores. O fenômeno Wikileaks, as recentes mobilizações em redes sociais para as marchas antine-
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O ativismo em rede tende a politizar o uso das tecnologias”
oliberais no Chile e na Espanha e a coordenação, por celulares e dispositivos wi-fi, das ocupações cidadãs em dezenas de cidades do mundo são evidências da apropriação social imaginativa das tecnologias. Essas aberturas ao contraditório possibilitadas por usos tecnológicos até então imprevistos são relevantes porque a mídia comercial, não raro, distorce ou ignora necessidades e aspirações comunitárias, resultando em bloqueios (deliberados, mas não assumidos) ao pluralismo. A despeito de tais avanços, devemos meditar sobre duas questões conexas.
A primeira: a Internet não é uma esfera divorciada das realidades socioculturais. Ainda que a práxis virtual esteja pautada por especificidades, há uma relação de complementaridade com o real. Não se trata de substituir o território físico pelo virtual, e sim de reconhecer que os processos de expressão e significação não se excluem; em verdade, eles podem complementar-se. A segunda questão: a moldura de mudanças tecnológicas está marcada por graves contradições e desigualdades. Enormes parcelas da população mundial continuam excluídas da evolução técnica. E são as classes privilegiadas que absorvem as maiores vantagens da cultura digital, afetando a ideia de bem comum que deveria ser o pilar de sustentação da divisão igualitária das riquezas e do progresso tecnocientífico e material. Daí a importância de reivindicarmos, de forma sistemática e organizada, políticas públicas inclusivas e permanentes, capazes de proporcionar maior equanimidade nos acessos, usufrutos e benefícios tecnológicos. Torna-se essencial também barrar a concentração monopólica nos setores de mídia e infotelecomunicações, através de medidas e ações articuladas que favoreçam a diversidade informativa e cultural e a universalização dos direitos da cidadania.
PASSATEMPOS VIRAIS
BOMBA!
A equipe da Vírus fez um ataque hacker-terrorista nos computadores da grandiosíssima revista Veja. Encontramos uma bomba! Descobrimos este texto só com as lacunas a preencher. Nossa suspeita se confirmou: eles têm um banco de dados de adjetivos malvadinhos que só trocam a cada edição. O mais legal é que as combinações possíveis são inúmeras. Não é à toa que eles já fizeram 32123 edições.
Monte você mesmo sua reportagem da revista Veja sobre os movimentos sociais.
Para apresentar esse segredo de estado que é essa receita, chamamos nossa querida amiga quituteira Ana Maria Brega para apresentar-lhes Antes de começar, pegue todos os ingredientes, preenchendo as lacunas abaixo:
Eles são ___________ (mimados / rebeldes / anarquistas / emos / chatos / bobos / feios / cara-de-melão / cagalhões) e __________ (soviéticos / favelados / viados / paraíbas / baianos / índios / pretos / solteiros / viúvos) Caminham em grupos, pois são ___________ (covardes / não podem com nenhum de nós / fazem suruba e espalham DSTs como método de difusão da ideologia comunista / escondem um terrível segredo) . Captamos esse absurdo de fala em uma de suas assembleias: “ ________________” (Precisamos instalar a ditadura comunista / Vamos acabar com a liberdade de expressão nesse país / É hora de morfar! / Batatinha quando nasce se esparrama pelo chão / Somos contra a pena de morte / Somos a favor das pesquisas com células-tronco / Somos a favor do união civil homossexual) Não à toa, na madrugada do dia ____________ (da consciência negra / do trabalho / do aniversário da revolução russa / do aniversário da revolução cubana / na data de nascimento de Hitler) cometeram um ato de __________ (subversão / terrorismo / típico de crianças mimadas) no(a) __________ (Reitoria da USP/ Reitoria da UFRJ / bandejão da UERJ / sede da Editora Abril / sede da Rede Globo / jardim de infância). Num país, onde é certo ser ________ (corrupto / comedor de criancinha / comunista / sindicalista / mensaleiro / sanguessuga), não impressiona que esse(a) ____________ (corja / gangue / alcateia / manada ) siga sendo financiados pelo(a)(s) __________ (ouro de Moscou / ouro de Havana / desvio de verbas públicas / corrupção / Hugo Chávez / FARCs / Evo Morales). Por isso, o especialista em _____________ (segurança pública / educação / sociologia / astrologia / quiromância / moda) _________ (Demétrio Magnoli / Luciano Huck / FHC / Regina Duarte / Hebe Camargo / Reynaldo Azevedo / Olavo de Carvalho / Diogo Mainard) recomenda a todos que exerçam sua cidadania _____________ (xingando muito no twitter / fazendo um texto a favor da pena de morte no facebook / humilhando quem é contra as UPPs / denunciando os terroristas no DOPS / pagando o dízimo para a OBAN e DOI-Coidi / renovando sua assinatura de Veja / trollando o blog do Luiz Carlos Azenha / comentando no blog do Reynaldo Azevedo para defendê-lo dos comunas safados que vivem trollando o blogueiro)
Vamos provar? UMMMMHHHH Vou até passar por debaixo da mesa!
Depois de pegar todos os ingredientes acima, vamos ao preparo da massa de manobra: Destile ódio em páginas, pegue uma pitada de cinismo, prepare uma matéria fajuta qualquer sobre uma dieta milagrosa ou um tratamento falcatrua contra o câncer, insira frases de duplo sentido na manchete da capa, abuse no fascismo e pronto. Agora é só requentar, que a matéria vai bombar na próxima edição. Para deixar nosso prato, ainda mais saboroso, é possível adicionar a gosto spams enviados a milhões de emails oferecendo assinatura com 40% de desconto. Nossa produção já tinha preparado alguns desses indigestos pratos, deem uma olhada em quão deliciosos eles ficam:
A utopia está no horizonte? Por Maira Moreira e Taiguara Moreira Sintetizando a reflexão do cineasta argentino Fernando Birri, Eduardo Galeano diz que a utopia serve para caminhar. Desta forma, poderíamos pensá-la enquanto um princípio orientador, mais que um objetivo. Algo que esvaece na medida em que nos aproximamos, mas que dialeticamente vai ganhando concretude justamente nas caminhadas, trajetórias e investidas potencialmente utópicas na história. A utopia, deste modo, não seria apenas um não-lugar, como o imaginado por Thomas Morus, mas parte fundamental da história humana. Algo que (re)dimensiona nossa
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“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei”.
experiência no mundo e nos co-move. Não estamos, portanto, no campo das impossibilidades, mas no campo da história concreta, da ousadia, da capacidade de imaginar que a realidade pode ser diferente, que transformações podem ser realizadas, das resistências e rebeliões, da autogestão, das revoluções, de um caminho emancipatório. Buscamos ver as coisas diferentes, tentamos enxergar possibilidades de transformação das condições de desigualdade, de pobreza material e espiritual, das situações de opressão de
Fernando Birri
gênero, étnicas, raciais e/ou religiosas. Esta esperança utópica nos torna desassossegados com a realidade, tal como ela se apresenta. A utopia se articula com uma perspectiva de justiça. Considerar utopia nos parece também percebermo-nos em um caminho trilhado por muitos, uma tradição de investidas na história, algumas consumadas, outras não, e tantas que não chegaram a ser registradas. Não se trata
Na foto, militantes do MST
apenas da nossa ou da sua utopia, mas de muitas. Melhor dizendo, de um princípio compartilhado. De Francisco Julião a Martin Buber, de Rosa Luxemburgo a Victor Jara, de Simone Weil a Camilo Torres, dos zapatistas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra... Tantos e tantas. Deste modo, considerar a utopia no presente é tornar presente aqueles que se foram na esperança de um mundo justo, de realização de transformações necessárias como, por exemplo, a Reforma Agrária no Brasil. Como diz o lema: “vivem mais os que morrem lutando”. Pensar a utopia é pensar um nós, é pensar não apenas no futuro possívelimpossível, mas na redenção do passado e do presente, na superação de opressões históricas. Como a história nos revela, a caminhada utópica se incompatibiliza radicalmente com a ordem vigente em cada época, que está sempre preocupada com a manutenção do poder. A utopia, na verdade, dispensa o poder.
Equador, 1982
vo no que se busca construir novas referências. Este último aspecto, que em muitos momentos perdeu espaço para a dimensão mais reativa da proposta socialista, nos interessa particularmente resgatar. Resgatar a dimensão utópica é também romper com as fronteiras erguidas pela modernidade ocidental entre presente, passado e futuro. É passar a
“ Fotos: Sebastião Salgado
Na sociedade moderna, uma das mais significativas narrativas utópicas é o socialismo.”
A utopia, como parte de nossa experiência existencial e social, está presente na produção de visões aperfeiçoadas da realidade, projeções necessárias a todo grupo humano para orientar sua própria realidade em termos de justiça e em termos morais. Sendo assim, a utopia está ligada a perspectivas totalizantes, a escatologias, enfim, às chamadas grandes narrativas. Estas projeções utópicas não podem ser pensadas apenas no campo do imaginário, dos simbolismos. Mas, sobretudo, como força motora de investidas históricas. Ou seja, na dimensão da práxis, afeto e consciência. Na sociedade moderna, uma das mais significativas narrativas utópicas é o socialismo. Ele não pode ser reduzido apenas a uma ética, como notou Michael Löwy, na medida em que se constitui também enquanto um referencial crítico fundamental do sistema capitalista. Isto é, carrega em si um potencial reativo ao modelo capitalista e um potencial criati-
perceber o tempo em sua intensidade. Um presente cheio de passado inacabado e cheio de possibilidade de futuro em aberto. Redenção e Messianismo se articulam intimamente com utopia, ou melhor, dão a sua materialidade espiritual. Esta intensidade temporal, por sua vez, cria um maior entrelaçamento entre meios e fins: somos o projeto daquilo que queremos. Se colocarmos a liberdade em nosso horizonte, não podemos suprimi-la no presente. Não se pode realizar um projeto de liberdade para o amanhã a partir da sua supressão no hoje. Nessa perspectiva, encontramos a experiência fundamental dos socialistas utópicos. Embora tenham desenvolvido uma teoria crítica do modo de produção capitalista ingênua em certa medida, desenvolveram a outra perna do socialismo, que é a da capacidade antecipatória, potencialmente utópica. Algo com que a União Soviética de Stálin pouco se importou, com sua crença inabalável
no desenvolvimento das forças produtivas e do progresso inelutável. Entendemos que a contradição só se acirra, de fato, com o desenvolvimento da incompatibilidade moral com o sistema, e isso muito bem perceberam os socialistas utópicos e uma ampla tradição de socialistas marxistas posteriores como György Lukács e Lucien Goldmann (“só é possível criticar o capitalismo se estivermos voltados para um futuro não alienado”). Victor Hugo entende a utopia como “verdade matutina”, esta definição se coaduna com a perspectiva que buscamos enunciar sobre a utopia, algo que está sempre a revelar o novo, não ilusões noturnas como faz o capitalismo. Esta definição de Victor Hugo parecenos bastante apropriada para contrapor-se ao lugar estigmatizado que a utopia foi colocada pelo pensamento burocrático-pragmático do capitalismo - como algo ilusório, como fuga. Afirmamos o contrário, ela é potencialmente criadora, criativa, desbravadora de verdades, de tesouros escondidos. O socialismo constitui, talvez, a utopia mais exemplar na história das sociedades modernas, entretanto, não o vislumbramos como projeto pré-fabricado, mas como construção permanente. Referindo-se a inúmeras tradições diferentes, sendo constituído através de memórias e tradições diversas, por uma pluralidade de culturas. O caminho nos parece a própria concretização, matutinamente, desta utopia em nossas investidas contra este sistema brutal. Concordamos, então, com Victor Hugo quando este descreve utopia como “verdade matutina”, mas fazendo um breve comentário: a utopia não é, a priori, verdade matutina, cabe a nós fazermos com que seja, verdadeiramente, um constante amanhecer. Vírus Planetário - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2011
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A geração de vocês é tão rebelde quanto a minha. As formas de fazer isso é que são diferentes. Arrastem com vocês os velhinhos por favor.”
Fotos: Mariana Gomes e Caio Amorim
ENTREVISTA INCLUSIVA:
Silvio Tendler
Por Artur Romeu, Caio Amorim e Mariana Gomes
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Modéstia à parte, sou um utopista realizado”
O mural da apertada baia de Silvio Tendler no Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, onde dá aulas no curso de cinema, é composto pelos seguintes itens: uma foto de Che fumando um charuto; uma foto de Lula abraçado com Evo Morales, pregada por um imã de geladeira do filme de Fellini, “La Dolce Vita”; um recorte de jornal com uma crônica de Veríssimo, intitulada “O que diria Hegel”; e uma folha A4 com uma citação de Michel Löwy, “Que todo o desencanto seja ressuscitador”. Nascido em 1950, o cineasta é detentor das três maiores bilheterias de documentários do
cinema brasileiro, com “Os anos JK” (1980), “O mundo mágico dos trapalhões (1981)” e “Jango” (1984). Os filmes de Silvio, carioca amante dos botecos pés-sujo, resgatam momentos históricos guiados, na maioria das vezes, por personagens que marcaram o seu tempo com ideias revolucionárias. Instigados pelo filme “Utopia e barbárie”, lançado em 2009, buscamos o professor para saber mais sobre essa verdadeira aula da história das resistências. Conversamos sobre as revoluções que envelhecem e os novos paradigmas da geração Y que, para ele, está tentando se encontrar.
No seu filme “Utopia e Barbárie” há uma reflexão sobre a disputa do espaço da memória coletiva da sociedade. Por que optou por iniciar o filme assim? Acho que desmemoriar é uma face da dominação. Quando você rompe com a memória, está cortando o vínculo das pessoas com a sua própria história. O que eu queria dizer é que nós temos uma história. E que aqueles tempos conturbados do neoliberalismo que vai ser coroado por coisas positivas como o fim dos muros e coisas negativas como o fim das utopias, ele vem sobretudo ancorado nessa ideia de fim da história, defendida pelo Fukuyama – e fim da memória. E aí eu resolvi bater de frente com isso. Sou historiador, mas não faço mais história voltada pro passado. Faço história voltada para o futuro. E para existir futuro é preciso ter passado.
No mesmo filme, Eduardo Galeano faz uma consideração sobre a necessidade de um distanciamento para perceber melhor as mudanças pelas quais o mundo atravessa. Por que essa conclusão? A história pede reflexão, amadurecimento. E você não é capaz de fazer isso imediatamente. A partir do estudo você consegue analisar o passado para melhor entender o futuro que
quer construir. Então, trabalhei nesse sentido, na história das resistências. É uma coisa que volta hoje à evidência. Eu ouvi no rádio, hoje, o Boechat falando de um velhinho de 90 e tantos anos que lançou um livro exatamente no lugar onde começou a revolução francesa. O livro tem 13 páginas, fala de utopia e já vendeu milhões de exemplares na Europa. Ou seja, as pessoas estão querendo buscar novamente essas referências. Esse movimento dos indignados está tocando profundamente as pessoas. Na verdade eu acho que essa coisa da memória é fundamental para construir o futuro.
Você acha que os paradigmas da sua geração se perderam? Quais seriam hoje os novos paradigmas revolucionários? As revoluções envelhecem. Ela é revolução enquanto é revolução, enquanto é orgásmica. Tem um livro que saiu no começo dos anos 70 que se chama “Os Orgasmos da História”, de Yves Fremillon. Ele apresenta revo-
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mas de ação revolucionária jamais serão as mesmas, porque os momentos e as circunstâncias históricas mudam. A minha geração perdeu muito tempo tentando reproduzir a revolução soviética. As pessoas ficavam o tempo todo discutindo Lênin, segundo as mais diversas tendências políticas. Mas não há uma formula de revolução. Então vamos buscar nossas próprias formas de ação. Fidel fez algo completamente diferente e as condições políticas tornaram possível a Revolução Cubana. Acho que a geração de vocês, que hoje está absolutamente perdida, já já vai se achar. Estão buscando uma forma muito interessante, que é global. As ocupações que começaram em Wall Street e vieram parar na Cinelândia. Acho que a geração de vocês chega lá!
Porque falar das barbáries junto com as utopias? Acho que as utopias nascem da bar-
As utopias nascem da barbárie e também podem gerar barbárie. São movimentos conexos, quase como um balé.”
luções como espasmos orgásticos. As revoluções cubana, chinesa e vietnamita foram super revolucionárias. O poder é outra coisa. A administração, o cotidiano. Seria adorável, mas você não é capaz de fazer a revolução todo dia. Quanto aos paradigmas que inspiram o mundo atual, não acho que seja a pergunta certa. Criam-se alternativas próprias. Se você estudar a história, vai ver que a tua maluquice do presente é possível. Que um maluco igual a você fez algo parecido no passado e outro que vai te suceder vai fazer no futuro. Agora, as for-
bárie. Elas são antagônicas. As utopias também geram barbárie. Esse movimento é dialético, quase Hegeliano. O sonho da utopia, de construir um mundo justo pode acabar como no Camboja. Derrotaram o imperialismo americano e construíram a ditadura mais atroz que a humanidade já viu, com dois milhões de mortos, num país tão pequeno. Isso foi uma barbárie que nasceu de uma utopia. As utopias do pós-guerra nasceram de duas grandes barbáries: os campos de concentração e as bombas de Hiroshima e Nagasaki. A barbárie que derrotou os nazistas e os japoneses abriu o caminho para a utopia da democracia, da igualdade, da liberdade. São movimentos conexos, quase como um balé. Vírus Planetário - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2011
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ENTREVISTA INCLUSIVA_Silvio Tendler
O que é utopia para você? Um sonho possível da realização de um projeto. Pessoal, político, cultural, social. Pode ser imaginar um canal público de TV que abra espaço para todas as nossa produções. Pode ser o ensino gratuito pra todos. Pode ser saúde para todos, acabar com essa porcaria de sistema de saúde que a gente tem. A utopia busca a realização de um projeto. E isso traz consigo algumas barbáries.
caso do Castro Alves. O diagnóstico utópico com Milton Santos , que denuncia as barbáries que a gente vive hoje, mas também fala das utopias possíveis na globalização... enfim, minha utopia é fazer os filmes que eu faço. Modéstia à parte, eu sou um utopista realizado.
Não tenho saudade de viver no tempo antes da penicilina, da internet, das câmeras miniaturizadas. O mundo de hoje é muito melhor. O que é ruim nos Eu, durante anos, denunciei barbátempos de hoje é a dominação econôries nas ditaduras com filmes como mica e social, o capitalismo e como ele JK, Jango e Marighella. Apresentei nos explora. Mas do ponto de vista da também utopias possíveis. A democonstrução da vida, hoje é muito mecracia com o JK, a justiça social no lhor do que nos anos 60. Era româncaso do Jango, a tico viver naquela época, foi muito luta revolucionária gostoso e eu com Marighella. A tenho sauutopia poética no dade. Mas eu tento ser Acho que a gera ção contempode vocês chega râneo. Não lá! quero ser um Estão buscando uma nostálg ico. forma global d Hoje há algue se ma dificuldamanifestar.” de de procurar alternativas mais gostosas. Tudo é padronizado, não tem mais “pé sujo”. Na minha época os botecos eram um mais sujo do que o outro. Viver naquele tempo foi muito bom, mas hoje eu tenho muito mais meios pra trabalhar. Eu filmava em película, que é muito mais caro e rudimentar, montava numa máquina que era muito mais lenta, mais cara, mais demorada. Eu faço um efeito especial em 30 segundos. Naquela época demorava uma semana. Não tinha Google, não tinha internet. Hoje fazer pesquisa é mole. Eu acho que vocês têm um
Como você enxerga seu papel enquanto cineasta na construção de um projeto comum?
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mundo que lhes oferece muito mais variedade tecnológica para qualidade de vida.
O Zizek fez um discurso em Wall Street que ficou muito famoso. Ele fala sobre os dilemas da nossa sociedade, sobre revoluções... Em primeiro lugar, quem faz as revoluções são as vanguardas. Essa história de que as massas fazem revoluções é um mito. As massas acompanham as revoluções, mas não fazem. Segundo mito: essa falta de utopia da geração de vocês. Eu não acredito. Acho que vocês estão procurando as mesmas saídas que a minha procurou. Por exemplo, a minha geração achou durante anos que vocês estavam subordinados ao cinema comercial e entretenimento. Mas eu nunca vi crescer tanto cineclube quanto hoje em dia. As pessoas estão querendo ver filmes cabeças. A geração de vocês é tão rebelde quanto a minha. As formas de fazer isso é que são diferentes. Arrastem com vocês os velhinhos por favor, os sobreviventes de 68!
Qual foi a repercussão de “Utopia e Barbárie” em termos de público e retorno? E o seu último filme “O Veneno Está na Mesa”? Eu tô bombando como há muito tempo eu não bombava! Desde o Jango eu não sou convidado pra tanta exibição, tanto debate. As visualizações no YouTube, agora que eu achei a forma de liberar os direitos e deu super certo. Todo mundo quer ver o filme, participar de debates. O “Utopia e Barbárie” foi sabotado. Como eu botei imagens de uma entrevista muito boa com a Dilma e coincidiu o lançamento do filme com as vésperas de eleições, as pessoas me
Fotos de divulgação do filme Utopia e Barbárie. Da esquerda para direita: Silvio com o General Giap, no Vietnã, com o escritor Eduardo Galeano e abaixo, o diretor em sua juventude
atribuíram desejos eleitorais que eu não tinha. Mas tem um baita circuito e está circulando alternativamente, como um filme de verdade. Só que no circuito grandão foi fracasso porque não deu mídia.
Como você vê a relação com a distribuidora de filmes da Globo? Você tem que tentar furar todos os bloqueios, ao invés de ficar discutindo princípios. Não se pode ter medo de nada. Você tem que se comunicar. Em “O Veneno Está na Mesa” usei umas imagens da Globo que legitimam várias coisas que estão sendo ditas no filme. Política é frente, é aliança, tem que abrir os espectros.
acho que independente do governo Lula ou do próprio PT, existe um movimento internacional agora que parece mais forte que isso. Outro dia eu vi um vídeo do Galeano na Praça em Barcelona dizendo: “Se organizem, façam vocês mesmos, ocupem as praças”. Os movimentos, que estão no mundo inteiro, estão promovendo o ressurgimento de um certo anarquismo em antítese a essas organizações políticas tradicionais, que de um certo ponto de vista fracassaram.
o Brasil hoje em dia é isso. Produzindo etanol, soja e deserto verde. Isso é a economia brasileira, o Brasil corre o risco de se tornar um país exportador de matérias primas e um O que você pensa sobre importador de produtos a relação x com os partiderivados. Isso não é bom. dos políticos hoje? O Brasil está sendo desindustrializado. Uma política Eu tenho um assistente Não tenho saudade de viver anti-Vargas quase. O que que é anarquista e está parno tempo antes da internet. O ticipando do movimento de nesse caso é uma tragédia ocupação da Cinelândia. Ele para nós todos. Quando o que é ruim hoje é o capitalismo me contou que eles tiraram solo acabar, vamos ficar o PSTU, que os partidos, e como ele nos explora.” sem economia. Sou a favor como de hábito, tentaram da reforma agrária. Por isso aparelhar. Eu não acho que votei no Plínio, ele tinha as pessoas sejam apolíticas. um outro projeto de desenExiste um certo cansaço volvimento. Com o modelo com o aparelhamento dos que está aí, o PT rejeitou todo o seu movimentos sociais pelos partidos. Agora, o cara que expulsa outra tenprojeto político, esqueceu a reforma Qual a sua relação com a Améridência política do movimento tamagrária, criou uma esquizofrenia no ca Latina? Pelos filmes, dá pra notar bém tem um pensamento político. poder. Essa aliança com esse capitalisque há algo especial. Não são menos políticos. Existe um mo atroz que está rolando. aparelhamento de ambas as partes. É Ah, sim. Quando eu falo de utopia, uma questão de convivência e ajustes. a gente pode ver que a América Latina é muito melhor do que ela foi. Hoje a Quais são seus próximos projetos? América Latina está na ordem do dia. Você acha que a desilusão com o O filme “Os advogados contra a diNa America do Sul quase todos os goLula contribuiu para essa insatisfatadura - por uma questão de justiça”. vernos são interessantes. E o Brasil ção do processo político? “O Poema Sujo”, do Ferreira Gullar. “A assumiu também um papel importanAlma Imoral”, do Rabino Nilton BonDo ponto de vista popular isso não é te nesse contexto. Desde o Fernando der. verdade. Eu não diria o governo Lula, Henrique, mais principalmente com o mas o PT, que é a negação da sua próLula, o Brasil ganhou uma expressiviVocê tem o telefone do Eduardo pria história. Passou anos e anos nedade muito maior internacionalmenGaleano? Estamos tentando falar gando alianças. Eles não votaram no te, enquanto potência. Acho isso bom. com ele e não conseguimos... Tancredo para não corroborar com Desde que não se restrinja a um granO Galeano não tem telefone. Deve aquelas pessoas. E agora essas pesde produtor de commodities. Porque na ter, mas nunca me deu. Só tenho o esoas estão todas no governo. Mas eu verdade o que está acontecendo com mail.
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meio ambiente
Escritório do IPEMA | Foto: Artur Romeu
Ecovilas e permacultura Uma conexão sem fio com o futuro Por Artur Romeu e Júlia Bertolini “A senha é mandioca”. Cobertos por um guarda chuva atrofiado e guiados por uma lanterna tímida, Marcelo Bueno nos indica uma trilha que leva ao escritório com ponto de internet sem fio. Estamos no alto de um morro da Serra do Mar, em Ubatuba, litoral-norte paulista. A Mata Atlântica, densa e úmida, se lambuzava na chuva enquanto acabávamos de passar as últimas horas da noite ouvindo as histórias de um dos maiores nomes da permacultura no país. Faz 12 anos que o arquiteto se comprometeu com a emissão zero de lixo. E, nesse meio tempo, fundou o Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica, o Ipema. Referência nacional em bioconstruções e planejamento sustentável, Marcelo embalou nossos sonhos com imagens de um mundo em que a tecnologia, o homem e a natureza podem viver em harmonia. O café feito no fogão à lenha da cozinha coletiva ajudou a esquentar o corpo. Os quitutes vegetarianos também saíram do armário como mágica. Compota de berinjela, paçoca, geleia de amora e banana passa, tudo fruto de
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alguma parte dos 25 alqueires do Ipema. Destes, 20 são destinados para área de reserva ambiental. O Instituto não é ligado à rede pública de luz, uma opção dos fundadores, mas consegue iluminar as casas do espaço e oferecer conexão à internet para os moradores e funcionários a partir da geração de energia de uma hidroturbina e painéis fotovoltaicos (energia solar). Em um mundo cada vez mais conectado, no qual todos almejam internet banda larga como uma política pública, Marcelo nos trouxe outro significado para a palavra conexão. Conexão também com a natureza, com nós mesmos e com todos os seres que compartilham este mesmo planeta. Essa visão é partilhada pela maioria das pessoas que trabalha para a construção de novas alternativas para o mundo a partir de projetos de ecovilas. O termo surgiu em 1991, de acordo com a GEN (Rede Global de Ecovilas), e serve para caracterizar uma comunidade - rural ou urbana - de pessoas
que aspiram integrar um ambiente social favorável com um estilo de vida de baixo impacto. Estima-se que existam hoje entre 15 e 20 mil comunidades sustentáveis no mundo. Para ativar essa integração, as ecovilas trabalham com vários aspectos. Design ecológico, permacultura, bioconstrução (construções com uso de materiais reciclados, ecológicos e, em grande parte, provenientes daquela região), produção de alimentos orgânicos, energia renovável e construção de novas experiências e práticas comunitárias. O Ipema é hoje um grande laboratório de novas formas de se reconectar com a natureza. Além da geração de energia a partir da água e do sol, as construções são feitas com técnicas de adobe (construção com barro) e pouco uso de cimento, os banheiros são secos (não usam água e produzem composto orgânico) e toda a água utilizada na cozinha e chuveiros vai para tanques de tratamento a base de pedras e plantas (técnica conhecida como biofiltro).
As ecovilas podem demonstrar para as pessoas que é possível viver reconectada com o meio ao seu redor.”
Conexão com a natureza através da permacultura Toda a infra-estrutura está vinculada aos princípios da permacultura, que pode ser entendida literalmente como uma cultura permanente. O desenvolvimento de “sistemas produtivos organicamente integrados respondendo às necessidades humanas essenciais de forma conectada com o meio”. O princípio básico da Permacultura é: trabalhar “com” e “a favor de”, e não “contra” a natureza. Para Peter Webb, permacultutor australiano residente no Brasil, a permacultura traz estímulos e soluções sociais gerados dentro das próprias comunidades. “A sua filosofia e práticas simples favorecem a reintegração do ser humano no seu meio ambiente de formas sustentáveis”, destaca. Marcelo contou que foi na Austrália que esbarrou com a pergunta que iria mudar seu rumo. A interrogação veio de um aborígene que, quando soube que ele vinha do Brasil, questionou curioso: “Você mora no país onde estão destruindo a última floresta tropical, não é? E o que você está fazendo a respeito?”. Responder “nada” parecia humilhante, mas era a única coisa que ele poderia dizer. A atitude levou o arquiteto, que ainda não sabia muito de permacultura, a transformar sua viagem em uma jornada por ecovilas e comunidades com o objetivo de se aprofundar em técnicas de sustentabilidade. Após um ano viajando de bicicleta no sudeste asiático, o já iniciado permacultor passou quatro meses no Centro de Treinamento em Ecovilas da “The Farm”, nos Estados Unidos. Com a bagagem cheia de livros e conhecimento, começou a dar cursos de permacultura e planejamento de ecovilas. De volta a Ubatuba, começou a transformar sua casa em uma habitação sustentável e fez três grandes escolhas: não comprar mais madeira de lei, não comer mais carne (para não contribuir com a expansão do desmatamento para pecuária) e
Marcelo Bueno no IPEMA | Foto: Artur Romeu
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a aposta na emissão zero de lixo. Ou seja, todo e qualquer lixo que ele produz é reciclado ou vira adubo. “O que mudou para mim foi me sentir responsável pelas minhas emissões, porque ninguém é. Todo mundo paga para a prefeitura dar um fim no lixo e por um preço muito baixo que não consegue cuidar, não cuida. A definição de lixo é muito parecida com a de espaço, é infinito, todo dia se multiplica”, enfatiza Marcelo. A partir da escolha pela emissão zero, ele mudou seu estilo de consumo. “Ser ecológico dá trabalho, porque você tem que mudar seus hábitos. Se você fosse morar no Japão você também teria que mudar: falar outra língua, comer outra comida, mas você escolheu fazer isso. O problema é que ninguém escolhe ser ecológico”, frisa.
Transformar os hábitos e a economia Os ativistas da permacultura e do movimento das ecovilas acreditam que é possível mudar os hábitos das pessoas para formas de vida mais sustentáveis. Para eles, as pessoas podem começar separando o lixo orgânico, reciclar o lixo. Fazer compras em cooperativas de produtores e mudar radicalmente a forma de consumir. O movimento que cresce no Brasil aponta que devemos rever os benefícios e prejuízos da globalização. O consumo globalizado, a produção de alimentos e bens gasta energia em excesso na produção e distribuição dos produtos. A produção em escala global consegue proporcionar custos baixos, mas, além da exploração da mão-de-obra de países mais pobres, o que está em jogo é o valor ecológico que não é embutido no produto. O custo de uma madeira hoje em dia não leva em conta quanto
vale uma floresta de pé. Muitos gostam de afirmar que o Brasil é um país rico, porque ainda tem disponibilidade de recursos naturais, como as florestas, a água e o petróleo. Essas mesmas pessoas dizem que o PIB – Produto Interno Bruto - brasileiro cresce a cada ano. Mas a contradição parece ser intrínseca. Se a riqueza de que tantos falam vem da exportação de commodities ligados a exploração de recursos naturais, não estamos caminhando para nos tornarmos um país cada vez mais pobre? Pensar em sempre ampliar o consumo e expandir a economia são prerrogativas que não combinam com a habitação de um planeta com recursos limitados. “Por que temos sempre que expandir a economia? O planeta não é infinito”, aponta Marcelo. Uma das alternativas propostas é a regionalização e fortalecimento das economias locais. Filipe Freitas, membro da ecovila Terra Una, MG, acredita que a forma de organização social do nosso sistema afasta as pessoas e fragmenta as relações sociais. “O sistema de trabalho hoje é a grande prisão, porque as pessoas precisam trabalhar dois terços da vida para alcançar um tipo de renda que permita sobreviver dentro desse sistema. Sinto que no desenvolvimento da capacidade de trabalhar coletivamente e viver, criar vida juntos dentro de uma comunidade, podemos liberar muita energia para alcançarmos essas soluções no nível econômico e também o desenvolvimento da espiritualidade”, ressalta Filipe. Vírus Planetário - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2011
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Alguns grandes desafios enfrentados nas ecovilas estão justamente associados às relações sociais. “Temos que procurar ter uma nova/antiga visão de ampliação de família, em que as pessoas consigam enxergar que a família pode ser mais ampla. Acho que essa mudança passa por aí, por essa compreensão do viver comunitário”, afirma Filipe Freitas.
Laboratórios de vida em comunidade A ecovila é vista também como um laboratório para o desenvolvimento de novas formas de vida em sociedade. “Ecovilas são espaços em que ferramentas de interação comunitária estão sendo desenvolvidas, e vejo que estes instrumentos podem ser aplicados em bairros, em prédios. São esses passos de interação familiar, uma suprafamília
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Trabalhar coletivamente dentro de uma comunidade pode liberar muita energia para alcançar soluções”
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O Ipema é hoje um grande laboratório de novas formas de se reconectar com a natureza”
- que transcende esse limite nuclear e patriarcal - que une as pessoas em projetos e valores compartilhados”, acrescenta Filipe. As críticas mais comuns ao movimento de ecovilas, em sua maioria, partem da suposição de que são pessoas que se isolam em vidas perfeitas. Mas não parece ser essa a visão da nova geração que está experimentando essa maneira diferente de viver. “Em Terra Una não temos nenhuma pessoa com a intenção de se isolar num espaço idílico de criação de uma vida, dos sonhos. A gente vai para o ambiente rural, porque acredita que o contato e a vivência mais intensa com a natureza é determinante para uma conexão maior. Ir para o ambiente rural tem um significado de saúde, de ampliação das possibilidades de convivência, mas sempre mantemos nos nossos projetos a preocupação de como influenciar os grandes centros urbanos de convivência”, explica Filipe. Hoje, as ecovilas, comunidades e institutos de permacultura podem ser vistos também como uma forma de mostrar que é possível viver de maneira diferente, reconectada com o meio ao seu redor. Para Marcelo Bueno, a grande importância do Ipema é que as pessoas
Vivência em bioconstrução organizada pelo IPEMA: aula pratica de técnicas de construção com terra, bambu, pedra e uso de materiais ecológicos.| Foto: Divulgação IPEMA
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precisam ver para acreditar que é possível. “É preciso interiorizar a proposta de mudança. Aqui, no Ipema, você é obrigado a mudar seus hábitos”, afirma. A interface entre o Ipema e a sociedade ocorre através de cursos que acontecem desde 2004, e que já formaram cerca de três mil pessoas. São cursos em bioconstrução, permacultura e agricultura orgânica. Da mesma forma, a Terra Una oferece vivências e programas de estágio onde pessoas podem participar da vida em comunidade por um período de tempo e conhecer as técnicas ecológicas e sociais que são desenvolvidas no lugar. Assim funciona a maior parte das comunidades no Brasil e no mundo. Além de oferecer cursos e programas de voluntariado, muitas ainda desenvolvem projetos com a cidade ao entorno. O grupo de Terra Una, por exemplo, mantém um Ponto de Cultura. E o Ipema administra o Projeto Juçara, que visa capacitar pessoas da região para colheita da semente e plantio da Juçara, tipo de palmeira nativa da Mata Atlântica que está em extinção.
Por Felipe Salek (argumento de Seiji Nomura)
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Em defesa do projeto dos movimentos sociais para o petróleo, com monopólio estatal, Petrobrás 100% pública e investimento em energias limpas.
Mais informações:
www.apn.org.br