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Entrevista_Hailey Kaas Ativista fala sobre a importância do transfeminismo
Vírus Porque neutro nem sabonete, nem a Suíça
R$2 edição digital nº 31 março 2014
Planetário
Feminismo
Intersecional
A luta contra as opressões é coletiva
70 anos de Henfil Confira nosssa homenagem Hamilton Octávio de Souza
Brasil revive clima da copa de 70
Com conteúdo do
MEDIA FAZENDO
nº31
Edição digital
Gestão Mobilização Docente e Trabalho de Base
www.aduff.org.br
Em defesa do projeto dos movimentos sociais para o petróleo, com monopólio estatal, Petrobrás 100% pública e investimento em energias limpas.
organização:
Vamos barrar os leilões do petróleo! Notícias da campanha:
www.sindipetro.org.br
www.apn.org.br | www.tvpetroleira.tv
Aline Valek
Antonio Zanon
100 vezes
Cláudia
O site Think Olga - www.thinkolga.com - fez uma belíssima
homenagem à Cláudia Silva Ferreira, assassinada brutalmente pela PM do Rio no sábado, 16 de março em Madureira (zona norte do Rio de Janeiro). Confira no link abaixo e ao lado a divulgação do projeto
A mulher arrastada pela Polícia Militar tinha nome: Cláudia Silva Ferreira. Cláudia também tinha família. E sonhos, coragem, dores e medos, como qualquer ser humano. As denúncias da barbárie ocorrida são importantes e elas não devem cessar, mas fugir do sensacionalismo e humanizar esse momento também é! Por isso, nos propusemos a retratar Cláudia com mais carinho do que o visto nos últimos dias. A convite da OLGA, alguns artistas gentilmente criaram imagens sensíveis, que se dispõe a resgatar a dignidade roubada por criminosos. Este projeto se chama 100 VEZES CLÁUDIA e é aberto para que qualquer um possa enviar suas
Gui Soares
homenagens. Ou seja, esperamos publicar aqui novas artes com Didi Helene
frequência. Gostaríamos de imprimir algumas das ilustrações e enviar à
www.tinyurl.com/olga100claudia
família de Cláudia. Quer participar? Escreva para olga@thinkolga.com
o i e rr ral o C Vi >Envie colaborações (textos, desenhos, fotos), críticas, dúvidas, sugestões, opiniões gerais e sobre nossas reportagens para
contato@virusplanetario.net Queremos sua participação!
Afinal, o que é a Vírus Planetário? Muitos não entendem o que é a Vírus Planetário, principalmente o nome. Então, fazemos essa explicação maçante, mas necessária para os virgens de Vírus Planetário: Jornalismo pela diferença, não pela desigualdade. Esse é nosso lema. Em nosso primeiro editorial, anunciamos nosso estilo; usar primeira pessoa do singular, assumir nossa parcialidade, afinal “Neutro nem sabonete, nem a Suíça.” Somos, sim, parciais, com orgulho de darmos visibilidade a pessoas excluídas, de batalharmos contra as mais diversas formas de opressão. Rimos de nossa própria desgraça e sempre que possível gozamos com a cara de alguns algozes do povo. O bom humor é necessário para enfrentarmos com alegria as mais árduas batalhas do cotidiano.
O homem é o vírus do homem e do planeta. Daí, vem o nome da revista, que faz a provocação de que mesmo a humanidade destruindo a Terra e sua própria espécie, acreditamos que com mobilização social, uma sociedade em que haja felicidade para todos e todas é possível.
Recentemente, unificamos os esforços com o jornal alternativo Fazendo Media (www.fazendomedia.com) e nos tornamos um único coletivo e uma única publicação impressa. Seguimos, assim, mais fortes na luta pela democratização da comunicação para a construção de um jornalismo pela diferença, contra a desigualdade.
Expediente: Rio de Janeiro: Alexandre Kubrusly, Ana Chagas, André Camilo, Artur Romeu, Bruna Barlach, Bruno Costa, Caio Amorim, Camille Perrisé, Catherine Lira, Chico Motta, Débora Nunes, Eduardo Sá, Joyce Abbade, Julia Campos, Livia Valle, Marcelo Araújo, Mariana Moraes, Raquel Junia | São Paulo: Ana Carolina Gomes, Duna Rodríguez, Gustavo Morais, Hamilton Octávio de Souza, Jamille Nunes, Jéssica Ipólito, Luka Franca e Sueli Feliziani | Brasília: Alina Freitas, Edemilson Paraná, Luana Luizy, Mariane Sanches e Thiago Vilela | Minas Gerais: Ana Malaco, Laura Ralola e Paulo Dias | Ceará: Iorran Aquino, Joana Vidal, Livino Neto, Lucas Moreira e Rodrigo Santaella | Piauí: Nadja Carvalho, André Café, Sarah Fontenelle, Mariana Duarte e Diego Barbosa | Bahia: Mariana Ferreira | Paraíba: Mariana Sales | Mato Grosso do Sul: Marina Duarte, Tainá Jara, Jones Mário, Fernanda Palheta e Eva Cruz | Rio Grande do Sul: João Victor Moura, Maiara Marinho e Rafael Balbueno Diagramação: Caio Amorim | Ilustração capa: “Contra a Violência de Gênero” Leitura de Elisa Riemer da obra de Salvador Dalí - “Girafas queimando e telefones – as sete artes” (1957).
Conselho Editorial: Adriana Facina, Amanda Gurgel, Ana Enne, André Guimarães, Claudia Santiago, Dênis de Moraes, Eduardo Sá, Gizele Martins, Gustavo Barreto, Henrique Carneiro, João Roberto Pinto, João Tancredo, Larissa Dahmer, Leon Diniz, MC Leonardo, Marcelo Yuka, Marcos Alvito, Mauro Iasi, Michael Löwy, Miguel Baldez, Orlando Zaccone, Oswaldo Munteal, Paulo Passarinho, Repper Fiell, Sandra Quintela, Tarcisio Carvalho, Virginia Fontes, Vito Gianotti e Diretoria de Imprensa do Sindicato Estadual dos Profissionais de Edução do Rio de Janeiro (SEPE-RJ) Siga-nos: twitter.com/virusplanetario Curta nossa página! facebook.com/virusplanetario
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www.virusplanetario.com.br Comunicação e Editora A Revista Vírus Planetário - ISSN 2236-7969 é uma publicação da Malungo Comunicação e Editora com sede no Rio de Janeiro. Telefone: 3164-3716
Editorial Aprendemos desde muito cedo que o mundo se divide em dicotomias: o bem e o mal, o oito e o oitenta, a liberdade e a opressão. E não demoramos para perceber como essa ideia é equivocada. Se isso fosse correto, nossas batalhas certamente seriam mais simples: concentraríamos nossa força em combater apenas um inimigo. Mas existem muitos degradês entre o oito e o oitenta, que podem passar batido se não nos esforçarmos para vê-los. A opressão, na verdade, se mostra como “opressões”. Opressões que se apresentam de maneiras tão plurais que uma fórmula apenas não é possível para combatê-las. Por isso surge a necessidade de nos articularmos, ouvirmos e questionarmos para entender as relações de causa e efeito das ferramentas que tentam nos manter desiguais. Por vezes, partilharemos de pontos em comum. Outras vezes, lutas específicas nos diferenciarão, mas jamais nos separarão. Este é o momento de reflexão sobre feminismo e as diversas facetas que compõem esse movimento social complexo. É o momento de pensar em que aspectos temos privilégios, em nosso lugar de fala, e como podemos auxiliar sem protagonizar uma luta que não é nossa.
Sumário 6
Sórdidos Detalhes
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Hamilton Octávio de Souza_ Brasil revive clima da Copa de 70
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Bula Cultural_A mulher e o cinema
16 Bula Cultural_Indicações e Contra
17 Fazendo Media_Dá-lhe, Henfil! 21 Rio Grande do Sul_Ruína indígena à maneira gaúcha
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CAPA_Feminismo_Várias lutas, uma só luta
As correntes que nos prendem podem não ser iguais, mas não seremos livres enquanto não extinguirmos todas elas.
29 Traço Livre 30 Entrevista Inclusiva_Hailey Kaas
A entrevista inclusiva deste mês é com Hailey Kaas, uma das maiores referências nacionais sobre o tema.
34 Passatempos Virais
Além disso a sub-representatividade das mulheres no cinema é tema da bula cultural, na qual o teste de Bechdel aponta como ainda vivemos numa sociedade que desvaloriza as narrativas das mulheres. Fechamos comemorando os 70 anos que Henfil teria feito esse ano se não tivesse nos deixado cedo demais. Henfil se foi, mas sua luta gráfica continua presente e sempre atual. Outros marços virão e nós aqui da Vírus seguiremos lutando contra o machismo e contra todas as formas de opressão, não só em março, mas cotidianamente. Caminhe conosco por mais uma edição desta revista e nos vemos novamente em abril.
A verdade varrida pra debaixo do tapete...
sórdidos es detalh
chega da favela chorar
Coletivo Pinte e Lute
No domingo, dia 16 de março, a auxiliar de serviços gerais Cláudia Silva Ferreira saiu de casa, no Morro da Congonha, Madureira (zona norte do Rio de Janeiro) para comprar pão. No caminho, foi baleada por um policial militar que, segundo depoimento de testemunha “estava de frente para Cláudia” a curta distância, tendo a bala atravessado seu peito e batido num muro. Após terem assassinado sumariamente Cláudia, os três PMs Alex Sandro da Silva Alves, Adir Serrano Machado e Rodney Miguel Archanjo a alojaram no porta-malas de sua viatura sem o menor cuidado tendo seu corpo ficado preso no para-choque do veículo e arrastado pelo chão por mais de 350 metros na Estrada Intendente Magalhães. Testemunhas relatam que os policiais foram alertados por outros motoristas de que o corpo estava sendo arrastado no asfalto e batendo em outros carros e mesmo assim não pararam o carro. A versão da Polícia de que Cláudia havia sido morta durante uma troca de tiros com traficantes do Morro da Congonha e que levaram Cláudia com vida ao Hospital Carlos Chagas foi completamente desmentida, uma vez que o vídeo amador filmado pelo carro de trás que acompanhou a viatura - mostra claramente que o corpo de Cláudia foi tratado como um saco de lixo. Também não condiz a versão de que Cláudia fora assassinada em troca de tiro, pois duas testemunhas asseguram que foi uma execução, uma vez que Cláudia estava sozinha quando se deparou com os dois policiais que atiraram. “Do jeito que eles chegaram com a arma, ela virou de lado, ela deu caminho pra eles. Eles não enxergaram?! Uma mulher de blusa branca e bermuda preta?” afirma uma das testemunhas do crime. Os três policiais que estavam na viatura chegaram a ser presos na segunda, dia 17/3, mas soltos na sexta,
dia 21/3. Há de se registrar que os três PMs já tinham assassinado ao menos 16 pessoas. O advogado da família de Cláudia, João Tancredo, afirma que o fato de os policiais estarem soltos aumenta muito o medo de seus familiares, que devem ser incluídos no (frágil) programa de proteção à testemunha. Abaixo, a antropóloga e membro do conselho editorial da Vírus, Adriana Facina, faz uma emocionante homenagem, colocando dois roteiros que tragicamente se encontraram: o dos policiais e o de Cláudia e sua família.
Um tento, em dois tempos... O choro em coro Por Adriana Facina Roteiro para a banalidade do mal: Mais um dia de operação. Calor, adrenalina a mil, doido pra fazer o fuzil cantar contra aqueles animais. Arrego de merda, mixaria du carái. Um vulto negro brilha contra o sol ao virar a esquina. Pá pum. Corpo no chão. Deu merda, mulher com copo de café na mão e saco de pão. Gritaria, choro. Bora sumir com esse corpo daqui. Olha a perícia. Tiro pra alto, sai todo mundo. E aquela garota gritando ali, diz que é filha,que merda é essa. Enfia essa porra na caçamba. Filha da puta, tinha que passar ali naquela hora? Gente maldita que surge que nem formiga do buraco. Enfia, enfia aí. Caralho, caiu o corpo. Bora bora. Onde a gente vai desovar isso. Peraí, que porra é essa? Todo mundo gritando. Tão aplaudindo a gente. Pára pára. Putaqueopariu a mulher tava pra fora. E agora? Alguém filmou. Tamo fudido. Prestando socorro irmão, prestando socorro. Foi só um erro operacional. Infelizmente, uma tragédia, esperamos que não se repita. Próximo.
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Roteiro para a singularidade do mal: Tiro. Que barulho é esse? Mãe. Mãe. Cadê você? Tá todo mundo gritando. Quero minha mãe, quero pão, tô com fome. Minha barriga dói. Tô com medo. Entra e sai gente daqui de casa. Ela nunca demora assim. Silêncio. Estão falando comigo. Polícia, caiu, hospital, machucado. Quando ela volta? Não volta mais? Não? Dormiu pra sempre. Pra sempre, meu filho. Mas por quê? Tô com frio, tá doendo tia. Quero a minha mãe. Sua mãe morreu, meu filho. Foi quem, tia? Quem matou? A polícia, menino, foram eles…. Abraça, tia. Tem um troço doendo aqui dentro de mim. Abraço. Um corpo pequeno estremece. Chora, meu filho, chora.
Bruna Barlach
O machismo mata todos os dias...
Uma mulher que merecia viver e amar Como outra qualquer do planeta
ilustração: Gilberto Maringoni
Como visto na página 2 aqui nesta edição, o site thinkolga.com fez uma belíssima homenagem à Cláudia, reunindo diversos artistas que enviaram (e continuam enviando) suas obras artísticas em homenagem à memória de Cláudia, como esta à esquerda do coletivo Pinte e Lute. Negra, favelada, mulher e guerreira, Cacau, como era chamada merecia viver e amar como outra qualquer do planeta, mas os podres poderes ignoram a existência do povo, das pessoas negras, dos excluídos, tratam como saco de lixo a ser arrastado, ceifado, assassinado, “pacificado”. E é para isso que centenas de artistas estão mostrando a face humana de Cláudia. Para lembrar que não! Não admitimos viver em um mundo tão cruel e hostil. Não queremos mais ver e saber que existem cenas tão dilaceradoras. Acesse aqui o projeto: www.tinyurl.com/olga100claudia
… E nenhuma de nós está livre da violência advinda do machismo. Nem mesmo militantes feministas. No mês passado a militante do PSTU-PE Sandra Lúcia Fernandes foi assassinada, juntamente com seu filho de 10 anos. O assassino, seu namorado, disse que cometeu o brutal assassinato por sentir ciúmes de Sandra. Junto com o nosso pesar, é preciso que nos lembremos sempre que o machismo não é uma força invisível. Ele mata. Só no Brasil, mais de 15 mulheres são mortas a cada dia. Ou seja, a cada uma hora e meia morre uma mulher assassinada por conta do machismo. Nos lembramos hoje e a cada dia de todas as mulheres mortas pelo machismo e que a presença da ausência delas nos fortaleça na luta contra o machismo. Companheira Sandra, presente!
Por Paulo Marcelo Oz / facebook.com/tirinhasoz
A história se repete... ...às vezes como piada sem graça 50 anos atrás cerca de 100 mil pessoas se reuniram em São Paulo para o episódio coletivo mais reacionário da história: a marcha da família com deus pela liberdade. Esta tal marcha, coordenada pela Igreja, pela burguesia, partidos conservadores (e com a presença ilustra da CIA), foi um dos elementos utilizados como “desculpa” para instauração do golpe militar de 1964, que instaurou a ditadura. Como todos sabem, foram anos áureos para o Brasil: tortura, assassinatos político, silenciamento das vozes dissonantes com o sistema, controle das telecomunicações pelo governo, políticos biônicos, fechamento dos partidos de esquerda e outros eventos que jamais nos esqueceremos. No entanto, há quem sinta saudades deste tempo. Tanta saudades que estão organizando uma nova marcha da família com deus e etc. Dessa vez, encabeçam o movimento conservadores de classe média auto-organizados via facebook e sabe-se lá mais quem. Se a primeira marcha já foi uma farsa, o que será a reedição da farsa? No mínimo, uma piada. Mas como avanço do conservadorismo não é engraçado, assim como reivindicar uma ditadura militar, são poucos os dispostos a rir. Vírus Planetário - março 2014
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hamilton
octávio de souza Hamilton é jornalista e professor na Pontifícia Univerdade Católica de São Paulo (PUC-SP) e membro da equipe da Revista Vírus Planetário
Brasil revive clima Da copa de 1970 O governo do general Médici usou o futebol para estimular o ufanismo patrioteiro e esconder da sociedade a brutal repressão aos opositores do regime. Ao completar 50 anos do golpe civil-militar de 1964, quando o governo constitucional de João Goulart foi violentamente derrubado, o Brasil parece reeditar agora – em vários aspectos – o ambiente vivido num dos momentos mais duros da dita-
dura, durante o governo do general Emílio Garrastazu Médici, que utilizou amplo esquema de marketing e de publicidade oficial para explorar politicamente a Copa do Mundo de Futebol, de 1970, para capitalizar apoio popular ao governo federal.
Apesar de a Copa de 1970 ter sido realizada no México, o general Médici e sua equipe se empenharam desde antes da convocação da seleção, no período ainda de escolha dos jogadores e na fase de treinamento, em relacionar o interesse
General Médici levanta a taça Jules Rimet junto com Carlos Alberto Torres, capitão da seleção no tricampeonato em 1970
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do governo com o desempenho e o sucesso do time de futebol. O próprio general-presidente assumiu pessoalmente o papel de torcedor número 1, ao ponto de dar palpites até mesmo na escalação do time. A conquista do tricampeonato serviu para combinar a alegria do povo com a exaltação do regime militar, numa época em que o “milagre econômico” era comemorado com crescimento do PIB acima dos 10%. Agora a Copa é no Brasil, está sendo tratada como um megaevento do capitalismo mundial, organizado por uma entidade privada, a FIFA, mas envolve inúmeros interesses econômicos (desde empreiteiras construtoras de estádios, empresas aéreas, setor hoteleiro, agências de turismo, mídia corporativa e comércio em geral) e conta com recursos públicos e apoio político do governo federal e dos governos estaduais das 12 sedes dos jogos. Como aconteceu em 1970, a Copa de 2014 está sendo transformada num espetáculo grandioso, uma espécie de obra nacional para avivar o ufanismo patrioteiro, exaltar o governo e proporcionar dividendos – políticos e econômicos – para todos aqueles que decidiram tirar algum proveito desse circo monumental. Ao analisar o assunto, Patrícia Mariuzzo, em artigo veiculado na revista digital Pré-Univesp, de julho de 2010, afirma: “Embora o projeto intelectual e político de associar a imagem do Brasil e do homem brasileiro às vitórias da seleção de futebol nas Copas do Mundo seja anterior ao regime autoritário dos anos 60 e 70, a ditadura opera este movimento de forma mais orgânica e planejada, incluindo a disponibilização de recursos e a indicação de dirigentes de futebol.” Na verdade, o que aconteceu especificamente na Copa de 70, no Brasil, ganhou uma dimensão parecida – guardada as devidas diferenças e proporções – ao que aconteceu nos Jogos Olímpicos realizados
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O que aconteceu na Copa de 70, no Brasil, ganhou uma dimensão parecida as Jogos Olímpicos realizados na Alemanha nazista”
na Alemanha nazista, quando o governo de Adolf Hitler tratou de realçar a superioridade da raça ariana. Ou o que aconteceu posteriormente na Copa de 1978, na Argentina, quando a ditadura militar genocida explorou o futebol para encobrir o assassinato de milhares de militantes de oposição ao regime. Esses episódios, em momentos e países diferentes, foram fortemente criticados pelas organizações, publicações, jornalistas e intelectuais de esquerda de todo o mundo. No caso da Copa de 70, no Brasil, a exploração do futebol para a sustentação política da ditadura motivou milhares de artigos, trabalhos acadêmicos, dissertações de mestrado e teses de doutorado na maior parte das universidades brasileiras. Existe um vasto material disponível para quem quiser verificar como as técnicas de comunicação, os apelos emocionais e patrióticos, o envolvimento do Estado com aquele evento está de novo na ordem do dia, no Brasil de 2014, num país que engatinha na construção da democracia e ainda mantém a grande maioria da população sem o atendimento dos direitos fundamentais do ser humano.
Objetivo eleitoral Ao se referir ao evento de 1970, o pesquisador Gilson Pinto Gil, professor na Escola Superior de Ciências Sociais, da Universidade do Estado do Amazonas, e estudioso do imaginário do futebol, explica que o estímulo político-institucional por parte do governo e de suas agências de propaganda tinha o objetivo de mostrar como se poderia chegar ao padrão de evolução e preparo dos países europeus. “Para a Copa de 1970 surgem comissões técnicas de preparadores físicos, muitos saídos de escolas militares”, conta. A vitória restaurou a confiança e o ufanismo. “Instalou-se a ideia de um Brasil que ‘ninguém poderia segurar’, pois teríamos conseguido unir a arte ao único recurso dos europeus, a força, tornando-nos invencíveis”. Outros estudiosos lembram que o regime militar precisava de “reconhecimento e legitimação”, que procurava identificar o regime com a nação, fundir o governo com a pátria, ao mesmo tempo em que procurava “associar a imagem do Brasil à de um povo ordeiro, civilizado e vencedor, um povo pacífico, avesso a conflitos de ordem religiosa, racial ou mesmo social”. Qualquer semelhança com que tem acontecido no Brasil de hoje, na véspera da Copa de 2014, não é mera coincidência. No artigo “Copa de 1970 e a Ditadura Militar”, o escritor goiano Jeocaz Lee-Meddi conta que, “no Brasil, o povo acompanhava a seleção
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Hamilton Octávio de Souza fonte: www.facebook.com/foralckmin
. Agora, por mais incrível que possa parecer, a mesma música da “pátria de chuteiras” da ditadura está sendo tocada em comerciais no rádio e na televisão, assim como inúmeros outros jingles publicitários criados para contagiar a população brasileira com o entusiasmo – artificialmente – com a Copa de 2014.
>>Euforia musical A música “Pra Frente Brasil” foi habilmente utilizada pelo governo Médici para inflar a autoestima dos brasileiros e fazer a ligação do futebol com a política, em especial para legitimar o regime militar.
Pra Frente Brasil
Na dissertação de mestrado, intitulada “O Futebol Explica o Brasil – O Caso da Copa de 70”, o jornalista Marcos Guterman registra o seguinte: “Imediatamente após a conquista do tricampeonato, o então presidente nacional da Arena, Rondon Pacheco, “recomendou a todos os candidatos do seu partido no próximo pleito que destaquem durante a campanha a vitória do Brasil na Copa do Mundo (...), ao lado das realizações do governo revolucionário”, pois se tratava de “fator psicológico positivo” da “mensagem que o partido governamental deve levar ao povo, a fim de obter bons resultados nas urnas”. O otimismo, disse Rondon, “vai proporcionar-nos uma cabeça de ponte entre a Arena e o povo, que há de trazer bons reflexos nas urnas”.
Composição: Miguel Gustavo
Noventa milhões em ação Pra frente Brasil Do meu coração Todos juntos vamos Pra frente Brasil Salve a Seleção De repente é aquela corrente pra frente Parece que todo o Brasil deu a mão Todos ligados na mesma emoção Tudo é um só coração! Todos juntos vamos Pra frente Brasil, Brasil Salve a Seleção
Não é a toa que a presidente Dilma Rousseff colocou não Qualquer semelhança apenas muito dinheiro público e todo o com que tem acontecido peso da máquina esno Brasil de hoje com o tatal na realização da em jogos transmitidos pela primeira que aconteceu às vésperas Copa, mas também vez pela televisão. O impacto era vi– assim como fez o da Copa de 1970 não é sível. Poucos privilegiados se deram presidente Médici ao luxo de ver a transmissão em comera coincidência.” – tem uma agenda res, adiantando-se em dois anos à dedicada ao futebol chegada da tecnologia ao país, que e à seleção brasileira, se confirmaria em 1972. No meio da inaugura estádios, revibração do povo, ecoava com grancebe dirigentes e orde sucesso por todo o país, o hino ganizadores do camda copa, “Pra Frente Brasil”, de autopeonato de futebol, ria de Miguel Gustavo. escreve no facebook e no twitter Em depoimento para o projeto Memória, da Petrobras, o antigo asmensagens pessoais aos jogadosessor de relações-públicas do governo Médici, Carlos Alberto Rabaça, res – tudo evidentemente com os conta como a ditadura resolveu aproveitar a música de Miguel Gustavo mesmos propósitos de extrair do (“Pra Frente Brasil”) em campanha popular de apoio ao regime. O vídeo esporte popular o máximo de gade Rabaça pode ser visto no seguinte endereço: www.tinyurl.com/copa1970 nhos na política.
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Ilustração: Rafael Balbueno
Massacre midiático De acordo com o respeitado brasilianista Thomas Skidmore, autor do livro “De Castello a Tancredo – 1964-1985”, depois do fiasco sofrido pela Seleção na Copa de 1966, o temível Serviço Nacional de Informações (SNI) criado pelos militares, passou a acompanhar de perto a delegação do selecionado apontando uma nova relação entre poder
público e futebol. Ele lembra que a Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP) foi criada em janeiro de 1968, no governo Costa e Silva, conseguiu alcançar grande sucesso em 1970 quando o marketing governamental estimulou a autoestima do povo e, sobretudo, suas esperanças, ligando ambas à idéia de um futuro brilhante. Participavam
da equipe da AERP jornalistas, psicólogos, sociólogos e agências de publicidade. Segundo Skidmore, o Brasil tinha 45 emissoras de televisão licenciadas quando Médici assumiu. Nesse período, o governo concedeu mais de 20 licenças e, nesse processo, ajudou consideravelmente no crescimento da Rede Globo – emis-
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Hamilton Octávio de Souza
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a oportunidade Mais uma vez o governo perde brança do de virar a página da triste lem governo Médici”
sora que aceitou também o financiamento parcial das organizações Time-Life. A ascensão da rede sempre foi explicada pela defesa dos interesses oficiais através da programação durante o governo Médici. O Brasil vive agora uma situação muito estranha para quem imagina que o país já é mesmo um “Estado Democrático de Direito”. De um lado, o governo joga pesado na realização de um evento privado, promove uma brutal transferência dos recursos públicos para alguns grupos econômicos, usa todos os meios da comunicação para fazer da Copa o grande ópio do povo, o instrumento de elevação forçada do otimismo e da confiança. Mas, de outro lado, o Estado se vale da mais brutal repressão, através de todas as forças policiais estaduais e federais, para conter as explosões sociais sobre os mais diferentes problemas do país, inclusive daqueles que não concordam que o dinheiro público seja gasto com estádios de futebol, com a exploração do esporte para fins políticos e eleitorais. Todos sabemos que as carências são de outra ordem. Mais uma vez o governo perde a 12
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Ilustração: Rafael Balbueno
oportunidade de virar a página da triste lembrança do governo Médici, quando a Copa serviu para encobrir as prisões, torturas e mortes dos que lutaram contra a Ditadura.
Bula cultural
algumas recomendações médico-artísticas
A mulher e o cinema Na foto: a cartunista Alison Bechdel cujo trabalho inspirou o teste de Bechdel
Teste de Bechdel avalia presença feminina nos filmes Por Jamille Nunes Se perguntarmos a qualquer pessoa qual foi o último filme que ela assistiu com uma protagonista mulher, a resposta provavelmente não vai demorar muito para vir. Ainda assim, vai demorar mais do que se perguntarmos qual o último filme assistido com protagonista masculino.
Criar uma ou um personagem protagonista requer muitas nuances. E a indústria do cinema, especialmente a de Hollywood, não está muito acostumada a dar profundidade às mulheres, se resumindo na maioria das vezes em ser extremamente sexista. As mulheres aparecem como perso-
nagens secundárias, terciárias, ou com grande apelo sexual. E mesmo que alguma personagem mulher seja bem desenvolvida, muitas vezes ela é única no enredo, cercada de homens, sem que a relação dela com outras mulheres seja bem retratada.
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Bula cultural
algumas recomendações médico-artísticas
Quer ver um filme e comer pipoca?
(A regra)
Bem, … eu não sei. Eu tenho
essa regra, sabe...
que, dois, conversam entre si, três, sobre qualquer coisa que não seja um homem.
…as duas mulheres no filme falam entre si sobre o monstro.
Eu só vejo filmes que se enquadram em três requerimentos básicos. Um, tem que ter pelo menos duas mulheres no filme...
Bem Restrito, mas uma boa ideia.
Sem brincadeira. O último filme que eu pude ver foi Alien...
Quer ir pra minha casa e fazer pipoca? Agora sim! eu gostei
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Duvida? Convido você a pensar nos últimos filmes que assistiu e submetê-los ao Teste de Bechdel.
O teste de Bechdel O teste de Bechdel surgiu a partir de uma tirinha da quadrinista Alison Bechdel chamado “A Regra”, de 1985 (TRADUZIDO AO LADO). Na tirinha, uma de suas personagens faz uma crítica à presença feminina em filmes, que, quando há, são representadas através de um viés preconceituoso. A regra da personagem para assistir a um filme é composta por três pontos bem simples: 1. O filme tem que ter duas personagens mulheres, com nomes 2. Essas mulheres tem que conversar entre si 3. Sobre qualquer coisa que não seja homens Esse teste não necessariamente quer dizer que o filme é bom, ou que seja feminista. O objetivo dele é selecionar filmes que mostrem como mulheres se interessam por assuntos que vão além de “homem”.
“
A indústria do cinema não está muito acostumada a dar profundidade às mulheres”
A (sub-)representatividade feminina De acordo com o Centro de Estudos da Mulher na Televisão e no Cinema, de San Diego, EUA, as mulheres foram apenas 15% das protagonistas dos 100 filmes mais rentáveis de 2013. Em 2011, esse número era de 4%, e em 2002, elas eram meros 1%. Os números aumentaram e podem aumentar mais, caso continuem se mostrando aumento significativo na bilheteria. Afinal de contas, se chama “indústria cinematográfica” porque os lucros são parte crucial do processo. O estudo também mostrou que 13 dos 100 filmes mais rentáveis em 2013 tinham número equivalente de personagens masculinas e femininas. Porém, para a pesquisadora Martha Lauzeen, que conduziu o estudo, não há muito para se comemorar. Segundo ela, as mulheres dificilmente costumam ser mostradas como líderes e não têm sequer objetivos claros traçados. Elas geralmente aparecem jovens (entre seus 20-30 anos), com metas mais relacionadas à vida do que ao trabalho. E eles aparecem em seus 30-40, com ambições de trabalho.
Parece pouco, mas se você prestar atenção, muitos dos filmes que assistimos, inclusive os que contam com mulheres protagonistas, como Tomb Raider não passam nesse pequeno teste. Até mesmo filmes famosos, como a trilogia d’O Senhor dos Aneis, a primeira trilogia de Star Wars, O Cavaleiro das Trevas, para mencionar alguns, também não passam.
É de se pensar, então, até onde os filmes são responsáveis por perpetuar estereótipos sobre a mulher, se elas são apenas retratadas jovens e com ambições tão “caseiras”.
Se lembrarmos que a direção e o roteiro dos filmes são também feitas por homens, não é muito difícil entender porque temos esse problema de subrepresentatividade. Esses roteiros são construídos quase que em toda a sua estrutura por homens e refletem como a nossa sociedade não quer contar a história de mulheres.
O Instituto de Filmes Suiços apoiou a iniciativa e um canal de TV a cabo mostrou interesse em usar o mesmo sistema em sua programação.
Promovendo a equidade de gêneros Para tentar ajudar a divulgar os filmes com mais presença feminina, uma rede de cinemas na Suíça vai usar o teste de Bechdel para avaliar os lançamentos. A diretora da rede, Ellen Tejle, disse que as pessoas reagiram bem à iniciativa e que se mostraram surpresas ao ver a quantidade de filmes lançados reprovados pelo teste.
Pode parecer apenas um pequeno passo, mas pode significar uma tendência cada vez maior à observância na disparidade entre os gêneros. “As imagens da mídia nos dizem quem importa na sociedade”, afirma Lauzeen, e completa: “se certos grupos são omitidos, isso sugere que essas pessoas não são importantes”.
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Bula cultural
algumas recomendações médico-artísticas
Indicações
Contraindicações
Beleza Real – Negahamburguer
O Sexo e as Nêga Quando achamos que Miguel Falabella não poderia piorar em sua postura racista, elitista e machista, ele nos brinda com um prato cheio de opressões. Em sua nova série para a TV, ainda sem data de estreia, o conhecido ator e roteirista de comédias de gosto duvidoso e qualidade idem busca fazer uma paródia da série americana Sex and the city. Se a original já é um poço de machismo e estereotipação, a versão brasileira ainda vem carregada de fetichização da mulher negra, exotização tudo isso, é claro, pra um banquete de racismo. A ideia é mostrar que a preocupação das mulheres é o cabelo, os homens, e, é claro, a magreza. Desde já, super contra-indicado. Foto: SESI SP
negahamburguer.com
capa do livro
Evelyn Queiróz, a Negahamburguer, é uma artista visual que consegue, através de seu trabalho, promover uma experiência estética profundamente ligada ao feminismo intersecional. Talvez por isso e pela necessidade que as mulheres, de todos os tipos, cores, formas e tamanhos têm de se sentirem representadas pela linguagem visual, a artista tem ganho tanto espaço. Sua fama, que começou pelo facebook, se alastrou com o projeto do livro Beleza Real, no qual ela, através de ilustrações e escritos, conta a história de diferentes mulheres que sofreram violência de gênero. São relatos tristes e íntimos, ressignificados pelo olhar de Nega. O livro é um projeto independente e está à venda no site da autora, onde você também pode conhecer mais sobre o seu trabalho:
-feito grafite na Lapa
Negahamburguer com seu recém (Rio de Janeiro)
Lançado em 2013, o livro busca trazer diferentes abordagens sobre o feminismo para responder por que a resposta da pergunta “a quem pertence o corpo da mulher?”, que deveria ser óbvia, não encontra eco na sociedade. O corpo é da mulher, mas o Estado, os homens, a Igreja e demais instituições religiosas, todos tenta impor essa lei ao corpo da mulher que é despersonalizado e transformado num campo de disputa de interesses.
capa do livro
A quem pertence o corpo da mulher? Reportagens e Ensaios Leonardo Sakamoto e Maíra Kubik Mano (orgs.)
POSOLOGIA ingerir em caso de marasmo ingerir em caso de repetição cultural ingerir em caso de alienação manter fora do alcance das crianças nocivo, ingerir apenas com acompanhamento médico extremamente nocivo, não ingerir nem com prescrição médica
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FAZENDO
MEDIA
Março de 2014 | Ano 11 | Número 114 | www.fazendomedia.com | contato@fazendomedia.com
a média que a mídia faz
Dá-lhe,
Henfil! Por Diego Novaes*
Comigo foi assim: quando eu era criança, mesmo me entupindo de copiar os desenhos dos gibis do Maurício de Souza, o cara que mais me chamou atenção foi o Henfil. Eu ficava tentando entender como é que aquele camarada conseguia representar qualquer coisa naqueles traços que pareciam ser tão garranchudos. Aquilo me intrigava, e só anos depois fui perceber que o desenho do cara era (im)perfeito, numa perfeição que conseguia retratar qualquer objeto e pessoa, num estilo único. Segundo o consagrado cartunista Jaguar, o traço do Henfil era caligráfico, o que pra mim significa que tinha a caligrafia de se desenhar como se escreve, de se escrever como se pensa. Mas o mais importante nem era o jeito que ele desenhava. A característica do Henriquinho que sempre me impressionou era ele ser uma máquina de combate ideológico. E o Henfil era assim mesmo: desenhava, escrevia e falava o que pensava, doesse a quem doesse. Ele foi o nosso cartunista mais engajado e combativo em muitos e muitos anos (e talvez até os dias de hoje). Enquanto há quem diga que outros grandes nomes do cartun como Millôr, Ziraldo e até o Jaguar tinham lá seus momentos de recuo e conservadorismo em pleno tempo d´O Pasquim, o Henfil era o cara que nunca deixou de acreditar e pregar que a arte é uma ferramenta de luta política a favor do lado revolucionário da luta de classes.
*Diego Novaes é cartunista, chargista, ex-metalúrgico e licenciando em educação artística pela UFRJ
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A carreira de um pouco mais de vinte anos como cartunista e ativista político foi simplesmente épica. Seu humor engajado e mordaz introduziu a charge e o cartun nas grandes campanhas sindicais, popularizou o Urubu como mascote do Flamengo, criou o slogan e toda a campanha Diretas Já!, debateu costumes da sociedade com Os Fradinhos, fez política contra-hegemônica com a Graúna, bode Orleana e Zeferino, denunciou a censura do regime militar com Ubaldo, o Paranóico, defendeu a cultura nacional com a Onça Glorinha, enfrentou personalidades coniventes com o regime com o Cemitério de Mortos-Vivos do Caboclo Mamador e desnudou a ditadura desafiando seu “primo” general Figueiredo, nas antológicas Cartas da Mãe. Em tempos de remoções, UPP´s, criminalização da pobreza, choques de ordem, demolição do IASERJ, desocupação da Aldeia Maracanã, perseguição aos mo-
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vimentos sociais e outras tantas atrocidades cometidas em pleno Estado “democrático de direito”, não é difícil imaginar a falta que o Henfil nos faz. Ah é, já ia me esquecendo: escrevi esse textinho por ocasião dos seus 70 anos, que se dariam no dia 5 de fevereiro último, se estivesse vivo. Mas isso é uma mera formalidade pra quem se eternizou na cultura brasileira. Acompanham o texto, algumas chargetas e tiras minhas em homenagem a ele que fiz de alguns anos pra cá. E outras do próprio Henfil que não perdem a atualidade.
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rio grande do sul
Ruína indígena à maneira gaúcha Cinquenta famílias Kaingang do norte do Rio Grande do Sul vivem em situação degradante. Enquanto isso, ruralistas clamam por guerra e falam em milícias de agricultores para que indígenas desapareçam
Protesto em frente ao Palácio do governo do RS no ano passado pedia por demarcação de terras indígenas e quilombolas no estado | Foto: Tiago Miotto
Por João Victor Moura O estado do estereótipo branco de olhos claros e cabelos loiros tem em sua composição muitas outras cores. Aqui no Rio Grande do Sul vivem Guaranis e Kaingangs e viveram também os Charrua, povo extinto pelos colonizadores europeus e considerado dizimado pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio), mas que mantém remanescentes reconhecidos pelo governo gaúcho em algumas cidades do estado. A luta pelo reconhecimento não é, no entanto, exclusividade charrua, mas atinge todos os agrupamentos indígenas no RS. A construção da história gaúcha deixa antever, de fora, um número muito pequeno de variáveis. As marcas identitárias até hoje são formadas basicamente pelo churrasco, a bombacha, modelo de calça típica
na região, e o chimarrão. É só mais de perto que outras características se apresentam, como as diversas nuances do tradicionalismo gaúcho e as diferenças históricas e culturais das diferentes partes do estado. Ainda mais de perto é que outras nuances aparecem. Contrariando o estereótipo europeu, o RS tem proporcionalmente o maior número de adeptos declarados das religiões afro, segundo o Censo 2010, e ainda é berço do Batuque, religião trazida de Guiné e Nigéria e hoje presente em outros estados brasileiros, no Uruguai e na Argentina. É de perto que se pode ver, também, o número considerável de indígenas, hoje vivendo nas beiras das estradas, vendendo artesanatos nas cidades de maior porte e tendo grandes dificuldades de sobreviverem em
meio a agricultores inflamados pelo discurso do agronegócio.
A especificidade gaúcha: entre a terra e os indígenas, os pequenos agricultores A divisão fundiária no Rio Grande do Sul tem uma divisão clara entre Sul e Norte do estado. O pampa, no sul do estado, é marcado por latifúndios de arroz e, também, do chamado “deserto verde”, as extensas plantações de eucalipto, usado para fabricação de celulose, nas mãos de grandes multinacionais como a Fibria (ex Aracruz) e a finlandesa Stora Enso. Já o norte do estado tem uma outra estrutura fundiária, com propriedades menores - ainda que nas últimas décadas os latifúndios venham crescendo na região – onde se planta milho e, principalmente,
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soja. E é justamente no norte do estado que a população indígena é maior, o que aparentemente coloca em lados opostos dois setores desvalorizados: indígenas e pequenos agricultores.
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Entre a abertura do processo de demarcação e sua conclusão, os indígenas aguardam em situação de calamidade.”
Não é necessário, e nem haveria espaço para isso, falar aqui da amplitude do poderio e do lobby dos grandes latifundiários brasileiros. O que interessa é perceber como esse poderio tem colocado em pé de guerra indígenas e os pequenos agricultores. Na manhã do dia 12 de fevereiro começou a circular um vídeo com declarações de dois deputados da Bancada Ruralista no Congresso Nacional. No vídeo, os deputados Luís Carlos Heinze (PP/RS) e Alceu Moreira (PMDB/RS) incitam a violência e destilam ódio contra grupos politicamente minoritários. Heinze diz, sobre a Secretaria-Geral da Presidência: “É ali que estão aninhados quilombolas, índios, gays, lésbicas. Tudo o que não presta ali está aninhado”. Já Alceu Moreira incita a violência por parte dos ruralistas “Nós, os parlamentares, não vamos incitar a guerra, mas lhes digo: se fardem de guerreiros e não deixem um vigarista desses dar um passo na sua propriedade. Nenhum! Nenhum!” E arrebata, com a audiência em polvorosa: “Reúnam verdadeiras multidões e expulsem do jeito que for necessário”. As declarações caíram como uma bomba, em especial o que disse Heinze, ao atacar não só os
indígenas, mas também quilombolas e a comunidade LGBT. Com a repercussão, o deputado se declarou também pelo Youtube. Pediu desculpas aos gays e às lésbicas por sua declaração e usou a justificativa mais antiga entre os conservadores, “tenho amigos e pessoas da minha relação que são homossexuais”, declarou. Disse ainda não ser racista ao falar dos quilombolas, já que, segundo ele, o movimento quilombola não é bem-visto até por negros e negras (em outro vídeo, divulgado posteriormente, Heinze se contradiz, e faz a mesma declaração durante o “Leilão da Resistência”, realizado pelos latifundiários no Mato Grosso do Sul, em que troca a palavra quilombolas por “negros” e encerra com “a família não existe [na Secretaria-Geral da Presidência]”). É com essa retórica que o agronegócio busca convencer os pequenos agricultores do norte do estado. Essas declarações foram feitas em um evento exatamente no epicentro do conflito entre os
Roberto Liebgott exibe bomba de gás lacrimogêneo utilizada pela polícia para reprimir manifestantes pró-direitos indígenas | Foto: Tiago Miotto
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Pequenos agricultores são usados como massa de manobra pelos ruralistas”
pequenos produtores e os indígenas, no município de Vicente Dutra. Nessa mesma cidade em que as gravações dos deputados foram feitas, uma comunidade indígena resiste em um pequeno pedaço de terra. Não são, contrariando as absurdas declarações, exploradores da terra alheia. Pelo contrário, a situação em Vicente Dutra é exatamente a oposta. A luta das cerca de 50 famílias, que vivem hoje num território de dois hectares conhecido como Rio dos Índios, é por sobrevivência. Assim como acontece em outras cidades da região norte do estado do RS e em outras partes do país, as terras dos Kaingang de Vicente Dutra estão em um processo demorado de demarcação, uma espera de mais de dez anos. A FUNAI já abriu o processo de demarcação, considerando aquela área território tradicional. Mas, entre a abertura do processo de demarcação e sua efetiva conclusão, os indígenas aguardam os diversos trâmites burocráticos em situação de calamidade. Enquanto isso, quem lhes expropriou permanece explorando as terras tradicionais. Essa injustiça ignorada pelos deputados ruralistas teve início décadas atrás. Diferente do que deixam entender Heinze e Moreira, a disputa pelas terras em Vicente Dutra privilegia os produtores rurais e o ex-prefeito da cidade, Osmar José da Silva. Enquanto exercia seu mandato, em 1981, da Silva expropriou parte considerável do que já eram
terras ocupadas por indígenas. No lugar foi criado o empreendimento turístico “Águas do Prado”, balneário que explora as águas termais da cidade. O detalhe nefasto: “Águas do Prado” pertencia, na época da expropriação, ao próprio prefeito Osmar José da Silva.
Kaingangs de Vicente Dutra: ainda à espera de justiça Os últimos capítulos da disputa no norte do estado aconteceram no ano passado. Em novembro de 2013, o conflito acabou com feridos quando indígenas tomaram o “Águas do Prado” à força. Foi em meio a esse conflito já insuflado, que o evento com as presenças de Heinze e Moreira aconteceu na cidade. Diferente do que fazem parecer, os Kaingang de Vicente Dutra já reiteraram que desejam ver os produtores rurais da região indenizados pelas áreas que de fato são tradicionalmente indígenas. As declarações dos deputados ruralistas só demonstram o desconhecimento, ou a má-fé, destes com os processos demarcatórios na região e com a realidade dos produtores rurais no entorno. Incentivando o conflito, fazem parecer que os indígenas e os pequenos agricultores estariam em
lados opostos no conflito agrário brasileiro. O que, diga-se, vem bem a calhar para o latifundiário deputado Heinze, que, segundo o próprio declarou nas últimas eleições, é proprietário, junto com sua família, de 1368 hectares de terra segundo a declaração de bens das eleições de 2010, ou 684 vezes o território atualmente ocupado por mais de duzentos indígenas em Vicente Dutra (Alceu Moreira não declarou suas terras para a Justiça Eleitoral). Para piorar a situação, depois do conflito deflagrado na região e do incentivo de Heinze e Moreira, o lobby ruralista tem tornado a situação ainda pior na cidade. Os indígenas de Vicente Dutra não têm sido recebidos no comércio da cidade, pois simplesmente os comerciantes se negam a vender seus produtos, mesmo que adquiridos com dinheiro vivo. A situação em Vicente Dutra já não é nada fácil. O incentivo à violência e as demonstrações preconceituosas já conhecidas, mas agora públicas, só contribuem para levar mais instabilidade à região. E são os pequenos agricultores que, como diz Roberto Liebgott, do Conselho Indigenista Missionário, são usados como massa de manobra pelos ruralistas num conflito em que indígenas e pequenos deveriam estar do mesmo lado.
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feminismo
Piquenique feminista - Rosa Luxemburgo - Angela Davis - Simone de Beauvoir - Maria Lacerda de Moura Pagu e Marx | Arte por Elisa Riemer
várias
uma só
luta(s)
al ou n o i c e s r e t n I o m, a m o s Feminism e s s e õ s s e Quando as opr ar junt@s nos fortalece lut Por Sueli Feliziani, Hailey Kaas e Bruna Barlach “Ao longo de vários séculos de lutas, tivemos muitas conquistas como o direito de votar, de estudar e de trabalhar. No entanto, ainda somos responsáveis pelas tarefas domésticas nas famílias; nossa participação ainda é minoritária tanto na política, quanto nos sindicatos; a violência contra as mulheres só cresce; ainda recebemos salários 30% menores que os homens (chegando a 72%, no caso das mulheres negras), para mesma escolaridade e função.” exclama Danielle Bornia, militante do Movimento Mulheres em Luta (MML). Desde seu início, no século XIX, o movimento feminista nasce como uma organização contra o patriarcado. O patriarcado, como abstração cultural tinha como sujeito universalizado o homem. Mais especificamente o homem caucasiano, dono de propriedades, heterossexual, que era o portador hegemônico dos direitos políticos, reprodutivos, educacionais, econômicos e civis da época. Assim, na sua gênese, o feminismo surge como uma luta contra este sujeito universal. No entanto, as primeiras mulheres a se organizar também eram um tipo específico de mulher: a mulher branca,
pertencente às camadas médias e burguesas. Em função desta caraterística, a primeira onda do movimento feminista ocupou-se de demandas como: direito ao voto, propriedade, direitos de sucessão, educacionais, direito ao trabalho e direitos reprodutivos e sexuais, dentro de um viés que não abordava outras nuances importantes das relações de gênero como classe, etnia, orientação sexual, capacitação ou identidade. Resumindo, era um feminismo branco, pensado e executado por mulheres financeiramente e socialmente privilegiadas em relação a outras mulheres.
Percurso feminista Enquanto, no século XIX, sufragistas Europeias e norte americanas brigaram por direitos políticos, Sojourner Truth, ativista negra abolicionista, fazia seu célebre discurso “Ain’t I A Woman?” (em português: “E não sou mulher?”) - questionando a inferioridade em que as mulheres negras estadunidenses eram colocadas em relação às mulheres brancas - em 1851 em uma convenção de mulheres em Akron, Ohio, EUA.
E aqui no Brasil, Luíza Mahin, em 1835, liderava a revolta dos Malês em Salvador, Bahia. Foi o século em que mulheres negras ajudaram a escrever a história contra a escravidão, mas a sua luta e a luta das primeiras feministas ainda não se encontrava. Já no século seguinte a grande pauta do movimento feminista foi a luta por direitos reprodutivos e sexuais, junto com o reconhecimento da cidadania para as mulheres negras e pobres. Lembrando que no Brasil, o voto feminino só foi alcançado a todas as mulheres em 1946. De acordo com a doutora em psicologia social Jaqueline Gomes de Jesus, em contribuição para o “Blogueiras Negras”, “o Brasil é um país que naturalizou, ao nível das instituições, todo tipo de segregação: racial, étnica, classista, de gênero, regional, capacitista…” Mas é claro que, para notar que isso ocorre é preciso sentir na pele. Por isso, as pautas do feminismo foram mudando com a incorporação de novos sujeitos dentro do movimento. Nesta perspectiva, enquanto que para as feministas brancas e burguesas as pautas rodavam em
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feminismo
Mulheres trans* têm seu gênero a invalidado até por quem deveri delas” lutar com elas e pelos direitos
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torno do direito à propriedade e sucessão de bens, as mulheres negras e trabalhadoras seguiam nas demandas por cidadania e melhores condições de trabalho, como nas grandes greves das indústrias têxteis no início do século XX. Nos EUA, Rosa Parks abriu caminho ao fim da segregação racial que culminariam em Black Power, Panteras Negras, o fim da segregação e o direito ao Voto Negro. Foi em 1965 que os conflitos por direitos civis revelaram nomes como Angela Davis, Ericka Huggins e outras feministas negras que foram presas, torturadas, e perseguidas até o fim dos anos 90 por sua participação nas lutas por cidadania do século XX. Mas é Audre Lorde, teórica estadunidense negra e lésbica, que aponta pela primeira vez, em 1979, no ensaio “As ferramentas do mestre nunca irão desmantelar a casa do mestre” o descaso da teoria e da academia feminista com a mulher negra, pobre, sexualmente diversa. Para Lorde, seria uma arrogância acadêmica particular supor qualquer discussão sobre teoria feminista sem examinar as muitas diferenças entre as mulheres, e sem uma contribuição significante das mulheres pobres, negras e do terceiro mundo, e lésbicas.
O nascimento do feminismo interseccional A partir dos debates trazidos por Lorde para a academia e para a militância, nasceu o feminismo intersecional, que tem como primeiro grande referencial teórico o seu ensaio “Não Existe Hierarquia de Opressões”. Neste ensaio, a teórica se posiciona dizendo que não há como escolher entre as opressões de orientação, de gênero, de classe, ou de raça, e que todas devem ser combatidas com igual energia, pois esta seria a função de uma luta intersecional que leva em consideração a diversidade das faces sócio políticas dos indivíduos. A este debate se juntaria Bell Hooks, também norte-americana, que escreveu seu primeiro livro em 1981, intitulado “Eu não sou uma mulher? Mulheres negras e feminismo. Neste trabalho ela critica duramente a visão clássica do feminismo que não levava em consideração a questão de classe e de raça em suas pautas. Até hoje Hooks é uma das referências quando se trata do tema, com ótima produção sobre como o sexismo atinge as mulheres negras e como, a partir deste sexismo, as mulheres negras sofrem com opressão diferentes das mulheres brancas, seja no âmbito econômico, social, afetivo e de representação na cultura. 26
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De acordo com a doutora Jaqueline Gomes, “os diversos feminismos que adotam e aplicam o conceito de interseccionalidade, criado pelo Feminismo Negro, reconhecem e denunciam a realidade degradada pelas discriminações multiplicadas pelas diferentes identidades sociais das pessoas, e felizmente têm se tornado mais populares no discurso comum de quem reflete criticamente sobre tudo isso que aí está.” Nascido das feministas negras, o feminismo intersecional promoveu um espaço para outros grupos que não eram representados pelo feminismo clássico, branco, heterossexual, magro, cisgênero e de classe média. Pois da mesma forma que não há hierarquia entre as opressões, elas são várias e precisam ser discutidas em suas especificidades.
Interseccionalidade avança Como a “mulher universal” das correntes feministas tradicionais não abarcava, de fato, um grande número de mulheres, também não aceitavam mulheres trans* em seus círculos, pois partiam de uma mentalidade bio-essencialista que relegava as mulheres trans* à categoria homem - ora por terem um genital considerado masculino, ora por considerarem que mulheres só são mulheres se designadas como tal no momento do
nascimento. No entanto, “Mulheres trans* são assassinadas e a existência delas é tão silenciada que suas mortes acabam fazendo parte das estatísticas de homofobia, além de terem seu gênero invalidado até por quem deveria lutar com elas e pelos direitos delas”, como nos aponta Renata Mol, blogueira feminista intersecional focada em combater a gordofobia em seu ativismo. Conforme aponta Danielle Bornia do Movimento Mulheres em Luta (MML), “as opressões se combinam. Quando olhamos as estatísticas de violência, vemos que as mulheres negras são as que mais morrem e são estupradas. O tráfico sexual também tem como seus maiores alvos as mulheres negras e jovens.”
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As mulheres negras são as que mais morrem e são estupradas. ”
Angela Davis, lutadora feminista contra o racismo Arte: Elisa Riemer
Renata também nos lembra que, “mulheres e meninas negras são assassinadas, violentadas, sexualizadas, exploradas e desprezadas por uma sociedade que não as vê como seres humanos. Elas também estão entre as maiores vítimas de um sistema carcerário podre em todos os sentidos.” - completa Renata. Outro elemento fundamental para o debate interseccional é a questão das mulheres lésbicas, bissexuais e pansexuais, que têm a sua sexualidade tão invisibilizada ao ponto de não haver dados concretos sobre sua situação, conforme nos aponta Danielle, “É a chamada ‘invisibilidade lésbica’. Sem dados, é ainda mais fácil negar políticas públicas para combater a homofobia e o machismo. Não existem métodos de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis específicos para as mulheres lésbicas. O machismo e a homofobia também se combinam numa prática absurda e recorrente, que é a do ‘estupro corretivo’ – um jeito de ‘castigar’ as lésbicas e reeducá-las em relação ao seu ‘devido’ papel numa relação sexual.”
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feminismo Ilustração: Didi Helene
Feminismo intersecional e o sujeito dinâmico Desta forma o feminismo intersecional pretende que seu sujeito seja dinâmico e se pretenda múltiplo, com desejos, percepções, sentimentos múltiplos, assim como as pessoas também o são. As vivências são intersecionadas por todos os tipos de opressão como racismo, classismo, capacitismo, gordofobia, machismo e lesbofobia (entre outros) que constroem as vidas (ou não-vidas) destas pessoas nos espaços sociais. Por isso, é sempre importante abordar o assunto com cuidado e tendo isso em vista, para que possamos realizar uma análise mais objetiva, que leve em conta todos os vários vetores que possam oprimir o sujeito. Para a blogueira Renata, “O feminismo não deveria ser sobre o que se entende por poder, porque o poder de algumas é a exploração de outras. É uma luta pelos direitos e pela libertação de todos esses 28
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O feminismo é uma luta pelos direitos e pela libertação de todos esses grupos marginalizados que se interseccionam”
grupos marginalizados, e tantos outros, que se interseccionam – criando sistemas opressivos repletos de nuances ignoradas pelo feminismo generalizado e dominante. Por isso a perspectiva intersecional é tão necessária e urgente.” Danielle, militante do MML, nos lembra que, “Além de se combinarem, as opressões contribuem para aumentar a exploração.” Por isso, a luta contra as opressões deve ser travada em conjunto com a luta pelo fim da exploração, rumo a uma sociedade mais justa e igualitária. Se o machismo, o racismo, a lesbofobia, transfobia, gordofobia e todas
as demais opressões simplesmente não se extinguirão magicamente ao ter fim o capitalismo, é sabido que sem destruir este sistema, essas opressões jamais acabarão. Para Danielle, a saída está na construção do socialismo. Para isso, o caminho apontado pela militante do MML é que os setores oprimidos sejam protagonista da luta contra a exploração, por isso, é fundamental que a luta pelo socialismo também incorpore a luta contra as opressões. A sociedade que queremos construir deve ser livre em todos os sentidos, inclusive de qualquer forma de opressão.
traço livre Ilustrações por Diego Novaes Texto de Bruna Barlach
o terror da mídia grande
contra os movimentos sociais A morte do cinegrafista Santiago no desempenho de sua função causou verdadeira comoção midiática. Eis que surge um garoto que diz ter passado um rojão pra outro e agora devem ambos ser acusados por homicídio doloso triplamente qualificado. Não há dúvidas que a morte de Santiago precisa ser investigada, mas outra coisa que precisa ser investigada é a própria investigação. Começando pelo advogado dos garotos, Jonas Tadeu Nunes. O advogado, que conta com diversos processos, ainda é conhecido por defender milicianos. Acusados fizeram declarações de que os focos de violência das manifestações teriam como mandantes partidos de esquerda. Estes partidos estariam financiando os Black Blocs para estarem nas manifestações. Qual o critério para essa acusação? O fato de haverem bandeiras dos partidos nas manifestações. Estranhamente estes partidos (PSTU e PSOL) sempre estiveram com suas bandeiras nas manifestações, até antes dos Black Blocs. Mas as acusações esdrúxulas continuaram atacando o movimento de ter ligação com o Dep. Marcelo Freixo (PSOLRJ). Daí pra frente a bola de neve continuou a crescer. Entraram na roda das acusações sem sentido João Tancredo, presidente do Instituto de Defensores de Direitos Humanos (DDH) e o advogado Thiago Melo, que também faz parte do DDH pelo incrível crime de estarem defendendo os Black Blocs e demais presos políticos das manifestações do Rio. É claro que todas essas acusações não serviriam de nada se o governo não conseguisse usá-las para um propósito maior: a criminalização dos movimentos sociais de uma vez por todas. Sob a desculpa de que é preciso proteger a população de novos atos de violência e vandalismo Dilma lançou uma portaria, que está sendo chamada de AI-5 de Dilma, numa referência à legislação mais rígida de perseguição aos movimentos sociais impostas pela Ditadura Militar. Esta portaria, conhecida como Garantia da Lei e da Ordem já está sendo aplicada contra os índios no sul da Bahia. Os próximos a receberem a repressão do exército certamente serão os movimentos sociais organizados.
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foto: arquivo pessoal
Entrevista INclusiva:
Hailey Kaas
Por Jamille Nunes e Jéssica Ipólito Em apenas três anos, o blog Transfeminismo, consegue cada dia mais levantar no espaço virtual um debate que até então era escasso: o da transgeneridade aliado ao feminismo. A página do Facebook alcança mais de 5.500 pessoas, onde textos de outros blogs também são compartilhados. A fundadora do blog, Hailey Kaas, que além de ativista trans é também tradutora, pesquisadora, e linguista, nos recebeu para um batepapo sobre sua história, militância e experiências. Ela foi a principal responsável por traduzir textos sobre transfeminismo e abrir as portas para uma demanda tão importante e necessária para a luta pela igualdade em meio a um mundo tão machista e transfóbico, que só será mudado com muita militância coletiva.
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Que dificuldade você enfrentou para começar a expressar a seu gênero? Como foi esse processo junto com a sua família e pessoas próximas? Se assumir trans é falar de resistência da família, do círculo social. Só me assumi depois que meu pai morreu. Ele sempre me reprimiu pra um modelo de masculinidade padrão. No início, como várias pessoas, eu não achava que eu era trans, eu achava que eu era um homem feminino. Eu me atraía por outros caras. Mas você transgride certas coisas, e percebe que dentro da identidade de homem cis-gay, você também é reprimido. Eu queria usar maquiagem, roupas femininas, e quando usei, fui rechaçada. Estudei em escola religiosa rígida, e foi um tormento. Os professores me chamavam pra falar do meu comportamento, me dizendo pra ir ao psicólogo… Por muito tempo eu não entendia. Achei que eles estavam se referindo à minha “homossexualidade”. Chamaram minha mãe, falaram com ela… Como eu era adolescente, minha mãe achava que era fase, que eu queria atenção. Ela resistia. Mas eu tinha mais liberdade porque ela não era violenta como meu pai. A violência dela era de ordem de segurança. Ela tinha medo que eu fosse espancada na rua. Teve uma época que, contra a vontade dela, eu comecei a pegar roupas velhas da minha irmã, que tinha saído de casa, e fui me virando. É difícil no começo, porque as pessoas acham que você é um homem vestido de mulher. Não
A maioria das pessoas trans estão em subempregos: telemarketing ou prostituição”
se importam em respeitar o seu gênero. Para ser aceita como mulher trans, você precisa cumprir pré-requisitos do que é “ser mulher”. Ter curvas, cabelo comprido, não ter pelos no rosto. Eu senti que à medida que eu ia transicionando, e eu comecei a “passar” [como mulher], eu adquiria respeito. Na época, eu achava isso normal. Porque a gente pensa, dentro de uma lógica cissexista, que ninguém vai respeitar a gente com barba, e quando eu não tiver mais isso, vai ser OK. E foi mesmo, mas eu não percebia que isso era uma violência. Respeito deveria ser para todo mundo, não só pra quem “passa”. É o que defendo hoje. É notável que às vezes me respeitam porque eu “passo”. Eu vejo que muitas outras pessoas trans não são respeitadas porque elas não estão “se esforçando o suficiente”.
Você pode falar de opressões específicas que as pessoas trans enfrentam e passam despercebidas pelas pessoas cis? Essa cobrança da passabilidade como fator humanizante. Se eu falho em passar nessa norma, eu sou desqualificada como mulher. Por mais que uma mulher cisgênero receba um “você parece homem” não significa o mesmo que “você é homem” direcionado a uma trans. Tem uma força por trás desse discurso, o da biologia. A pessoa usa isso contra você. Outro ponto é falar das pessoas que têm a nossa cidadania nas mãos. Para alterar o nome eu preciso do laudo da psicóloga e da endocri-
nologista. Me perguntam “Você não mudou o nome ainda?”, como se fosse simples. É um processo, muitas vezes baseado em mentir. Você, por exemplo, não conta se for bissexual, porque a maioria interpreta isso como não ser trans de verdade. Lésbica então… Mulher trans lésbica, pior. Tem coisas que você fala e que você não fala. Tem um jogo de cintura. A alteração no nome que tá prevista em lei para pessoas cis por causa de chacotas não precisa de laudo. Você vai lá e altera. A gente precisa. Tem também o acesso aos serviços mais básicos, desde saúde até empregos. Mesmo em centros de assistência, travestis sofrem preconceitos de médicos. E a maioria das pessoas trans estão em subempregos: telemarketing ou prostituição. Telemarketing emprega muita gente trans porque você não lida com o cliente face a face. Se tivessem que estar na porta, certamente as pessoas não aceitariam, porque elas não querem ter essa “imagem ruim” pro negócio. Existem programas de inclusão, mas não adianta só passar na entrevista. Passar é a primeira etapa, você precisa se manter no espaço. Já trabalhei em uma agência de tradução, onde a gerente me adorou. Disse que não tinha problema mas precisaria contar pro meu chefe direto, que assinava o ponto. Eu aceitei, mas a informação vazou. Foi horrível, as pessoas te tratam diferente. Você vai ao banheiro e olham para ver que banheiro você foi. E tem que aguentar piadas com “traveco” o tempo todo. Uma hora eu não aguentava mais, a vibe era
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eNTREVISTA iNcLUSIVA_Hailey Kass
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não só Respeito deveria ser para todas, pra quem ‘passa’ ”
ruim, e eu saí fora. Essa é a expulsão simbólica. Você não aguenta ficar num ambiente onde é discriminada diariamente. Os programas de inclusão ajudam você a passar na entrevista, teoricamente. Mas se você não pode ir ao banheiro correto, se o supervisor não gosta de você, se te dão o crachá com o nome errado… Não tem acompanhamento correto. E ninguém quer fazer o crachá com o nome certo. Se faz, quer o nome civil do lado. É sempre um drama. Quem consegue, dentro da empresa, é sorte. Inclusive empresas públicas, do governo, demitem quem reclama do crachá com o nome errado. São inúmeros obstáculos.
Você teve alguma referência de mulher trans na sua vida? No início da transição, só tinha de mulher cis. Hoje, seria a Jaqueline de Jesus. Ela é guerreira, uma das poucas mulheres trans doutora e negra do país. Tem também um homem trans, o espanhol Miquel Missé, que escreve textos muito bons. A Bia da UNICAMP, que abriu as portas pra conseguir a alteração do nome na lista de chamada na UNICAMP, porque eles não queriam implantar a resolução do governo do estado. A Julia Serano e a Suzanne Striker, teóricas trans. A Suzanne escreveu um livro chamado “História Transgênera” [tradução livre], muito rico. E a Viviane Vê, minha diva.
O que é transfeminismo e como você contribuiu para o movimento? Até onde eu sei, não havia nenhum blog especificamente sobre transfeminismo no Brasil. Antes de eu escrever, a Aline Freitas fez o texto “Manifesto Transfeminista”. Mas não havia discussão, ninguém nunca tinha falado o que era cissexismo. E aí eu disse para um amigo “Não tô achando nada sobre.” A gente era rato de Tumblr, e as pessoas já discutiam lá. Eu queria trazer essas informações do Tumblr pra gente discutir aqui no Brasil. Ele me apoiou, e eu fiz o blog Transfeminismo em 2011. Criei o grupo e comecei a “importar” uns textos. O primeiro texto sobre cissexismo foi bem importado. Meu pensamento mudou, já escrevi um segundo. O essencial não mudou. O transfeminismo é uma corrente que acredita que mulheres trans são mulheres, basicamente. Se difere do ativismo trans porque tem nas premissas o empoderamento feminino. Não só da mulher, mas do feminino em si, que na sociedade é visto como algo ruim. As pessoas de um espectro feminino deveriam ser incluídas, não só mulheres trans. Mas quando a gente pensa em transfeminista, a gente pensa mais em mulheres trans, o sujeito do transfeminismo. Essas mulheres eram e são até hoje marginalizadas, tanto no movimento LGBT, quanto no feminismo. O ativismo trans tem alguns problemas de machismo, mas acho que tá se aproximando mais do feminismo, talvez até por causa do transfeminismo.
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Vírus Planetário - março 2014
Quando você fala de empoderamento de mulher, fala de imagem. Isso vem daquela ideia de que a gente tem que estar perfeita para “passar” e ser reconhecida como mulher. As mulheres trans podem sim estar lá com a perna peluda, o sovaco peludo, tem mulher cis que faz isso e não é menos mulher. O transfeminismo surge também para reivindicar mulheres trans como protagonistas do feminismo. Mulheres trans nunca foram consideradas protagonistas do movimento feminista porque elas nunca foram consideradas mulheres, nem pelas próprias feministas cis. Essa é uma das grandes demandas: o reconhecimento social de mulheres trans como mulheres. Parece besta, mas a todo momento a gente se depara com essa ideia de que as trans não são mulheres. O argumento da socialização sempre surge, mesmo entre aliad@s, que é a ideia de que mulheres trans foram socializadas como homem, então “existe algo ali de masculino e opressor”. É complicado combater e explicar que, se a socialização fosse determinista, não existiria feminismo. Afinal de contas, a socialização da mulher não é para que ela seja submissa? Mas muitas escapam disso. E mesmo a socialização de mulheres trans não foram socializações masculinizadas. Enquanto meu pai tentava me moldar dentro de um ideal masculino, isso era um sofrimento pra mim. Era ruim, e eu sofria violência física e psicológica. Eu não queria e não entendia porque eu tinha que ser aquilo. Mas eu precisava agradar meu pai. No final, não funcionou. Eu não posso falar “foi socializada como homem” e acabou. Tem mulher trans que não consegue se olhar no espelho e se reconhecer com aquele genital. É uma coisa alienígena pra ela.
Tem essa questão também, que muita gente liga a transgeneridade com a cirurgia, né? Quando as pessoas ficam sabendo, elas perguntam sobre a ci-
Meu corpo, meu gênero minha sexualidade Arte: Elisa Riemer
rurgia. Isso é outro privilégio cis. Ninguém pergunta sobre a sua genitália, é ofensivo. Mas se você é trans, é batata. Até aquela pessoa boazinha, que você sabe que te respeita… Ela tenta ser sutil, constrói um caminho para que, se você responda violentamente ou deixe de responder, ela saia como ofendida. “Ai, eu perguntei com todo o respeito!” Ela não entende que a pergunta em si é uma invasão. E se você responde de primeira, dá uma brecha para a continuação. “Ah, e seus pais” e é interminável. É corriqueiro. As pessoas querem saber a configuração do seu corpo. “Aquela pessoa tá se apresentando como mulher, diz que é trans. Eu preciso saber o que ela tem no meio das pernas, para eu estar segura do que é aquilo na minha frente.”
A respeito de correntes políticas, você acredita que as pessoas militantes transfeministas têm uma tendência a ser politicamente de esquerda? O movimento transfeminista surgiu na esquerda, puxado pelo anarquismo, socialismo, pela interseccionalidade e conversando até com o movimento negro, mesmo que pouco. As pessoas já tem uma forte consciência pra esquerda. Difícil você ver algum direitista. Às vezes tem gente governista. Mas a maioria ou é anarquista ou socialista ou de alguma esquerda qualquer. Mesmo que seja petista, petista não tão governista assim.
Por Caio Amorim
passatempos virais
Ligue os pontos
e
descubra as ligações perigosas Descubra a empresa de mídia que tem ligações perigosas com a ditadura militar, com o governo Paes e Cabral no Rio, com o PSDB em todo o Brasil, com a especulação imobiliária e que adora fazer “reportagens” inventando ‘ligações’ entre quem luta por uma sociedade justa, tratando os movimentos sociais como uma quadrilha *Ao completar as ligações perigosas entre os personagens, completa-se o desenho ...Adriana Anselmo, advogada cuja firma de advocacia representa as empresas concessionárias (concessões públicas do governo do estado do Rio, comandado por seu marido) da Supervia, aquela do chicotinho da Central (e não é sadomasoquismo!) e do...
ilustração: Tavarez
...Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, que no mínimo, poderia-se dizer que tem ligações com a Milícia. Paes também é filhote político e principal apoiado e apoiador de Sérgio Cabral, que é casado com...
...um dos chefes de Milícia no Rio de Janeiro, Natalino Guimarães (ex-deputado do DEM) em 2008. Pra quem não sabe as milícias atuam em áreas pobres do Rio, extorquindo a população e fazendo com que as pessoas sejam obrigadas a pagar taxas de gás, luz entre outros para não morrer. Essa máfia já foi defendida por...
Eu sou um advogado super o confiável! Ou você acha que Natalino ia chamar qualquer advogado pra defendê-lo?
...advogado Jonas Tadeu Nunes, que resolveu magicamente defender de graça os dois acusados de terem disparado o rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade, mesmo tendo defendido...
Foi genial essa estratégia
RÊ Rê RÊ
Por que você colocou os seus clientes um contra o outro sE você defende os dois?
né?!
Delegado Ruschester Marreiros Barbosa que tentou incriminar Amarildo de Souza e sua família, dizendo que ele era traficante. O delegado é amigo no facebook do...
Obs: esse é o nível de “apuração” e “qualidade jornalística” nas matérias dos veículos das organizações globo, editora abril (revista veja), folha de São Paulo, estadão e toda a corja midiática (band, record, sbt e por aí vai
...Metrô Rio, cuja passagem custa R$3,20 e oferece por um péssimo serviço. Assim como os ônibus do Rio que aumentaram para R3. A (i)mobilidade urbana no Rio e em todo o Brasil é um desrespeito ao povo, que se revolta...
...Assim como vem fazendo desde as Jornadas de Junho , quando o país inteiro se mobilizou e a mídia grande tratou de primeiro criminalizar a revolta dos 20 centavos, depois tentou cooptar o movimento, também sem sucesso. Os aumentos dos ônibus foi revogado no Rio e em São Paulo em 2013. Assim como a violência simbólica da mídia, os manifestantes também tomaram muita porrada da...
ilustração: Rafael Balbueno
...Polícia Militar. E além de centenas de feridos, ocorreram diversas mortes por conta de uma ação truculenta e irresponsável da polícia em todo o Brasil e que no Rio, tem como chefe maior.... ilustrações: Diego Novaes
...Sérgio Cabral, que, com sua política de “segurança pública”, trata pobre e favelado como lixo a ser varrido da frente ou exterminado. Exatamente como pensa...
...a âncora do SBT, Rachel Sheherazade, que apoiou a ação dos justiceiros que espancaram, torturaram e acorrentaram nu pelo pescoço a um poste na zona sul do Rio de Janeiro, um suposto ladrão de bicicletas. Isso tudo acontece porque todo mundo sabe que a Rachel é má, mas a Ruthinha é boa. A irmã de Ruthinha também é admirada... ilustração: Rafael Balbueno
Fascismo
...por Olavo de Carvalho, guru da direita. O “filósofo” e astrólogo que inspira diversos reaças que soltam o verbo no facebook. São lunáticos e alguns chegaram ao ponto de dizer que a campanha para que se fizesse justiça no caso do desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza (torturado, morto e desaparecido pela UPP da Rocinha) foi orquestrada por Marcelo Freixo para se promover e ganhar mais votos. Infelizmente, essa campanha desumana encontra eco em ações como a do...
XIV Congresso do Sepe/RJ As jornadas de junho, o sindicato e a luta pela educação pública, laica de qualidade, contra a criminalização dos movimentos sociais.
26 a 29 de março de 2014 no Clube Municipal (Rua Hadock Lobo, 359, Tijuca)
Rio de Janeiro O Congresso é o mais importante fórum de deliberação do Sepe, maior sindicato do estado do Rio. A sua finalidade é a de organizar a categoria para as suas lutas, adequando a estrutura interna da entidade para a defesa dos direitos dos profissionais e da escola pública. Os filiados do sindicato podem participar das assembleias para a escolha dos delegados nas Regionais do Sepe, na capital, e nos núcleos nos demais municípios.
Participe! www.seperj.org.br