Edição 14 Vírus Planetário completa

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Resistência Quilombola - A repressão ao samba e a luta do Quilombo Sacopã por seus direitos

VÍRUS Porque neutro nem sabonete, nem a Suíça

PLANETÁRIO

DROGAS

Legalizando

o debate

Quais são as consequências da guerra às drogas e por que a descriminalização deve estar em pauta

Cuba nº14

EDIÇÃO DIGITAL

Como vai a ilha socialista em 2012?

ENTREVISTA INCLUSIVA com

Adriana Facina A pesquisadora fala sobre o desafio de ser intelectual e miliante e sobre seu novo livro

Edição Digital R$ 2 edição nº 14 maio


Por Laissa Gamaro

Por Laissa Gamaro

APRENDEM

Afinal, o que é a Vírus Planetário? Muitos não entendem o que é a Vírus Planetário, principalmente o nome. Então, fazemos essa explicação maçante, mas necessária para os virgens de Vírus Planetário: Jornalismo pela diferença, não pela desigualdade. Esse é nosso lema. Em nosso primeiro editorial, anunciamos nosso estilo; usar primeira pessoa do singular, assumir nossa parcialidade, afinal “Neutro nem sabonete, nem a Suíça.” Somos, sim, parciais, com orgulho de darmos visibilidade a pessoas excluídas, de batalharmos contra as mais diversas formas de opressão. Rimos de nossa própria desgraça e sempre que possível gozamos com a cara de alguns algozes do povo. O bom humor é necessário para enfrentarmos com alegria as mais árduas batalhas do cotidiano. O homem é o vírus do homem e do planeta. Daí, vem o nome da revista, que faz a provocação de que mesmo a humanidade destruindo a Terra e sua própria espécie, acreditamos que com mobilização social, uma sociedade em que haja felicidade para todos e todas é possível. Recentemente, inauguramos um Conselho Editorial (nomes ao lado) com integrantes de movimentos sociais e intelectuais que referendam e apoiam a revista. Em breve, ampliaremos os participantes do Conselho.

Siga-nos: twitter.com/virusplanetario Curta nossa página! facebook.com/virusplanetario

EXPEDIENTE: Rio de Janeiro: Artur Romeu, Caio Amorim, Felipe Salek, Fernanda

Freire, José Roberto Medeiros, Júlia Bertolini, Maira Moreira, Maria Luiza Baldez, Mariana Gomes, Renata Melo, Rodrigo Teixeira e Seiji Nomura | Campo Grande (MS): Marina Duarte, Rafael de Abreu, Tainá Jara, Daniel Lacraia, Jones Mário, Fernanda Palheta, Everson Tavares | Brasília: Thiago Vilela, Alina Freitas, Ana Malaco, Luana Luizy, Elis Tanajura, Tais Koshino Diagramação e projeto gráfico: Caio Amorim e Mariana Gomes Ilustrações: Rio de Janeiro: Carlos Latuff e Francis Carnaúba; Vila Velha-ES: Laíssa Gamaro e Leonardo Almenara (estudiocosmonauta. com.br); Brasília-DF: Tais Koshino (capa) Revisão: Bruna Barlach e Luma Marques Colaborações: Rafael Puetter (rafucko.com), Lobo Batuta (lobobatuta.com), Carmem Xantre (Casa da América Latina),Lidiane Lobo e Rosilene Almeida

Conselho Editorial: Adriana Facina, Ana Enne, André Guimarães, Carlos Latuff, Dênis de Moraes, Eduardo Sá, Gizele Martins, Gustavo Barreto, João Tancredo, Larissa Dahmer, MC Leonardo, Marcelo Yuka, Marcos Alvito, Michael Löwy, Miguel Baldez, Orlando Zaccone, Oswaldo Munteal, Paulo Passarinho, Tarcisio Carvalho, e Virginia Fontes

www.virusplanetario.com.br

Anuncie na Vírus: marketing@virusplanetario.net #Impressão: #Tiragem: 3 mil exemplares

COMUNICAÇÃO E EDITORA A Revista Vírus Planetário - ISSN 2236-7969 é uma publicação da Malungo Comunicação e Editora com sede no Rio de Janeiro


Editorial

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Nesta edição, colocamos alguns tabus em cima da mesa! Já passou da hora de discutirmos certos assuntos. Num período em que alguns poucos direitos começam a ser conquistados, como a legalização do aborto no caso de fetos anencéfalos, vemos aumentar casos de machismo e homofobia.

Sumário

Basta! Precisamos discutir as questões que todos conhecem, mas a mídia grande prefere ignorar, omitir ou desinformar. Começaremos o debate sobre a descriminalização das drogas no Brasil. A verdade é que, hoje, todas as classes sociais usam os mais diversos tipos de drogas – lícitas ou não. Isso todo mundo já sabe. Mas há um lado perverso desta questão que ninguém fala: se o uso é geral, a repressão é segmentada, sendo direcionada às camadas mais pobres da sociedade.

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Niterói_Morro do Bumba: dois anos de luto e luta

6 Passatempos Virais_Ligue os pontos 7 Uma nota latinoamericana

Recebemos também um relato em primeira mão da XIX Brigada SulAmericana de Solidariedade a Cuba. Nela, pessoas de diferentes países sul-americanos têm a oportunidade de conhecer o país socialista. A aventura é impressionante e revela o quanto estamos desinformados. Continuaremos trazendo relatos de países pelo mundo afora.

8 Bula Cultural_Manguinhos e o Ecomuseu 10 Bula Cultural 11 Mato Grosso do Sul_Relatos do Tribunal

E na primeira de uma série de cidades, nossos Passatempos Virais apresentam o transporte coletivo do Rio de Janeiro, onde o usuário pode escolher entre sofrer um assalto nas barcas (e não é culpa da violência, é do preço mesmo!), ser esmagado dentro do metrô ou desfrutar de um tranquilo engarrafamento em um calorento ônibus. Em dúvida sobre qual escolher?

Popular da Terra

14 Drogas_Legalizando o debate 18 Sensacional Repórter Sensacionalista 19 Sórdidos Detalhes 20 Choque de silêncio ao Quilombo Sacopã 24 Passatempos Virais_Jogo da Vida-transportes 26 Entrevista Inclusiva_Adriana Facina 30 Para quem vale a Vale?

Um novo horizonte O que não nos falta são discussões, denúncias e ideias. Mas para darmos conta de tudo isso, precisaremos da participação cada vez mais intensa de vocês, nossos leitores. Por isso, agradecemos a sua compreensão em relação ao aumento do preço da revista impressa para R$5. Ressaltamos que agora contamos com um escritório de redação, pelo qual pagamos aluguel e, com o crescimento da qualidade de impressão, quantidade e distribuição da revista, também aumentam os gastos. Além disso, nos firmamos cada vez mais como membros da linha de frente no quesito democratização da comunicação. Estamos crescendo nas redes sociais (passamos a Veja Rio em número de fãs no facebook!) e, hoje, nossas atualizações nas redes sociais são vistas por mais de um milhão de pessoas por semana. No entanto, isso não se converte, necessariamente, em recursos financeiros para a revista. Continuamos sem remuneração, mas esperamos contar com mais ousadia e vontade política para democratizar a comunicação por parte das entidades sindicais, organizações e movimentos sociais.

32 (Re)conhecendo Cuba_Uma viagem à ilha socialista em 2012

Falamos para muitos. A esquerda precisa entender esse espaço e, perceber de vez, que seu lugar é aqui, e não nas mídias tradicionais. A um passo de conquistar nossa profissionalização concreta precisamos de mais e mais parceiros! A democratização da comunicação deve ser uma bandeira da esquerda como um todo. Um novo horizonte se coloca e estamos mais do que preparados para ele! Vamos juntos?

Correio Viral: Maria Tabosa: Feliz por ter conhecido a Virus. A Vírus faz meus dias mais iluminados: de idéias, de sentimentos, até de amor à vida. Ana da Costa: Quero agradecer ao comprometimento de vocês com os leitores. Edições adicionais como um pedido de desculpas não é tão simbólico, qualquer editora faz, mas um bilhete pessoal e escrito à mão é o diferencial e mostra a importância do leitor para a revista. Obrigada! Luiz Phillip Luca Chaves: Excelente jornalismo.

Paulo Oliveira: Obrigado. Vocês fornecem (mesmo sem saber [ou não ] ) jornalismo de melhor qualidade que a grande maioria dos jornais que eu conheço. Abordam de maneira imparcial e de forma crítica, analítica. NOSSA RESPOSTA: Na verdade, abordamos de maneira Parcial! Com muito orgulho de termos lado, de escolhermos lutar pelo fim das desigualdades. Para nós, não existe comunicação imparcial, pois é feita por pessoas, e quem se diz imparcial, está mentindo. Como diz nosso slogan: “Porque neutro nem sabonete, nem a Suíça” Muito obrigado, Paulo!

>Envie colaborações (textos, desenhos, fotos), críticas, dúvidas, sugestões, opiniões gerais e sobre nossas reportagens para

contato@virusplanetario.net Queremos sua participação!


niterói

Foto: Samuel Tosta / APN-Sindipetro-RJ

Morro do Bumba: Dois anos de luto e luta

Dois anos depois da tragédia ocorrida pela chuva e descaso do poder público de Niterói, moradores de favelas atingidas continuam desabrigados Por Seiji Nomura Encontrar com o Morro do Bumba pouco mais de dois anos após os desabamentos de 2010 dá, ao mesmo tempo, esperança e tristeza. Dentro do possível, a vida continua na favela, as crianças e os adultos jogam futebol aos domingos, enquanto outros preferem pescar pelas redondezas. Conversando com os moradores, porém, logo são lembradas pessoas que morreram no desastre das chuvas e do descaso, que fez mais de 50 vítimas só ali, além de ter deixado centenas sem moradia. “Dois anos depois, o prefeito não fez nada. Os apartamentos, que deveriam ter sido entregues para nós em seis meses, não recebemos até hoje, por exemplo”, afirma o presidente da Associação de Vítimas do Morro do Bumba, Francisco Carlos Ferreira de Souza, que também perdeu sua casa no acidente. Esta orga4

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nização é uma das várias criadas por conta dos desabamentos. Foi considerado um dos fatores determinantes para a ocorrência do desastre o fato de que várias casas foram construídas em cima de um

que lá era aterro sanitário, mas é preciso explicar como era. Por cima do lixo, era colocada uma camada de pó químico, terra e concreto”, explica. “Já moravam pessoas no morro antes da instalação do aterro sanitário, que ficava em São Lourenço. A

Grande parte das famílias afetadas pelas chuvas não recebeu aluguel social até hoje”

aterro sanitário. Ao contrário da impressão que várias reportagens da época dos desabamentos passaram, esta parte do Bumba não passava de 1/5 do morro. Infelizmente, era a área onde Francisco e muitos outros moravam. “Várias pessoas sabiam

transferência foi feita com força policial porque os moradores da região não queriam que fosse levado para lá”, recorda. A esposa de Francisco, Eliane de Souza, estava presente em um pronunciamento do então prefeito Jorge Roberto Silveira (que hoje


está em novo mandato) sobre o tema. “Ele disse que poderíamos construir sobre essa área e deu até título de posse”, lembra a moradora. “Vários outros governantes fizeram melhorias também davam aval pra que ficássemos lá. Recebemos caixa d’água, asfalto e até um campo de futebol”, comenta Francisco de Souza. Ele lembra que desde o começo da ocupação das favelas, no começo do século XX, com a ocupação da favela da Providência, a história do Rio de Janeiro é marcada pelo descaso com a habitação popular. “Com a demolição de cortiços, muitos se encontraram sem ter onde morar. O Estado deveria ter construído habitação para eles”, opina. Em uma visita ao Bumba, notase como a organização das casas e do espaço é bem diferente das construções propostas pelo governo e das que têm sido realizadas como política urbana na maioria do Estado, que parece ter como referência a classe média. Por exemplo: no Bumba, boa parte das pessoas conta com quintal, o que permite que algumas criem animais como galinhas, cabras e pelo menos um cavalo; as casas são maiores do que os apartamentos com dois quartos que o governo está construindo, pois as famílias costumam ser maiores do que as de classe média (não só pelo número de filhos, mas também porque, frequentemente, incluem outros parentes e filhos de outros relacionamentos). É de praxe que as pessoas no Bumba andem pelas ruas do morro despreocupadas, pois não têm que seguir o mantra “olhe duas vezes antes de atravessar a rua” — primeiro porque quase não passam carros e motos, segundo porque rua não parece ser lugar que só se atravessa, mas também em que se para e conversa.

Deve-se realocar as pessoas para casas melhores, mas perto do local de origem, para não perder o vínculo”

Falando sobre esse assunto, Francisco de Souza conta o que achava das remoções. “Não sou a favor da remoção das favelas, mas sim de realocar as pessoas. O que se remove é objeto. Acho que se deve realocar para casas melhores, com infraestrutura, mas perto do local de origem para não perder o vínculo”, explica. “E, claro, dando laudo definitivo de que não está em risco, não tem porque sair”. O ativista também criticou a política de aluguel social do governo. “Um dos problemas é que grande parte das famílias afetadas pelas chuvas não recebeu aluguel social até hoje — só no Bumba são 20, mas em Niterói são centenas. Mas mesmo quem recebe não está tão bem. No dia seguinte ao anúncio de que seria dado o aluguel social, os preços subiram muito, cerca de 50%”, afirma: “Na verdade, existe uma lei municipal que afirma que o Estado é responsável por pagar o aluguel e arranjar as casas e não esse “se vira” que foi o aluguel social”. Outro problema teria sido a condição dos abrigos, onde até hoje moram centenas de famílias. “Eram dois: o 4º Grupo de Companhias de Administração Militar (4º GCAM) e o 3º Batalhão de Infantaria do Exército (3º BI). Em 2011, as pessoas foram retiradas à força do GCAM, apesar de termos resistido três vezes, mas na última trouxeram o BOPE e como havia crianças no abrigo, decidimos não continuar lá”, explica. “Juntaram todo mundo no BI, onde as condições são muito piores. Entra água da chuva nos pavilhões, vaza esgoto. Só há um banheiro para todas as pessoas que, inclusive, encontra-se em uma condição precária”, denuncia.

Francisco de Souza em audiência sobre a situação dos desabrigados

Foto: Elias Francioni

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Por Caio Amorim e Seiji Nomura

PASSATEMPOS VIRAIS

Ligue os pontos

e descubra as conexões periculosas Ligue os pontos e desvende quem é o dono de uma mansão em Angra (RJ) que viola leis ambientais e cerca o mar com boias para fazer impedir o acesso de banhistas e fazer uma praia particular. Dica: Diversos personagens das conexões periculosas têm uma ligação bem íntima com ele. ...Metrô Rio, cuja passagem aumentou para R$3,20 por um péssimo serviço. Assim como as Barcas Rio-Niterói, cuja passagem disparou para R$4,50. A (i)mobilidade urbana no Rio e em todo o Brasil é um desrespeito ao povo, assim como...

...Adriana Anselmo, advogada/modelo/ manequim sancionou a lei Luciano Huck de Angra, permitindo que sua mansão continue em área de preservação ambiental. Sua firma de advocacia também representa as empresas concessionárias da Supervia, aquela do chicotinho da Central (e não é sadomasoquismo!) e do...

...As Remoções de moradias populares, as quais o governo samba na cara da população, trata os pobres como lixo para preparar a cidade para a Olimpíada 2016 e Copa 2014, organizada pela CBF sob a nova direção de...

...Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, filhote político e principal apoiado e apoiador de Sérgio Cabral, que teve um conflito amoroso, mas acabou voltando para sua esposa... 12

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...Construtora Delta, que tinha como lobista o senador DEMóstenes Torra. Também suspeita de ter relações com o bicheiro, a empreiteira doou altos valores paras campanhas eleitorais da presidente Dilma e para diversos govenos estaduais (como em Goiás). Além de ser a principal “parceira” do governo do estado e da prefeitura do Rio de Janeiro fazendo diversas obras, como a reforma do Maracanã. Prefeitura do Rio de Janeiro comandada por aquele - como disse o Jornal do Brasil, num editorial bizarro - exemplo de funcionário público que é...

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Como fez Ronaldinho Gaúcho, que foi 5 pego na webcam trocando o tradicional esquema 4-4-2 pelo popular “cinco contra um”. Seu irmão e empresário Assis foi condenado por lavagem de dinheiro e sonegação de impostos, “crimes de gente rica”, parecidos com os crimes pelos quais está sendo investigada na CPI do Cachoeira, a... ... Yoani Sanhez, a “blogueira” - quem quiser outro termo, fique à vontade - de Cuba que só acha a ilha ruim porque ainda não viu “cubalançar” nem integrou o caribe com “méxicoperu”. 2

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...José Maria Marin, esse fanfarrão aí da foto, também conhecido como Zé Medalha, que embolsou - literalmente - uma medalha do jogador do Corinthians na premiação da Copa de Juniores...

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...E por falar em embolsar, quem demonstrou exímia habilidade nesta “categoria olímpica” - foi DEMóstenes Torra, que foi flagrado nuns papos, no mínimo, comprometedores com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Investigações também ligam Cachoeira...

...À“honrada” revista Veja, que fez um estardalhaço exaltando a...


américa latina

Foto: c.alberto /flicrk

Uma nota Latinoamericana O desafio de reorganizar a Luta na América Latina

Por Carmen Xantre A América Latina do século XXI desperta. Não vive somente o presente, mas sonha um futuro, uma esperança, uma utopia. Vemos um movimento de recuperação da nossa identidade, do nosso passado comum, da nossa integração, da nossa união, frente a um mundo em crise. Precisamos conhecer nossa história, entender a trama que criou conflitos desnecessários e antagonismos absurdos entre países vizinhos, divididos apenas pela falta de consciência de sua história e destino comum, de seu presente miserável e da balcanização em função dos interesses das potências dominantes e de elites locais rapinantes que nos condenam ao raquitismo na disputa do poder mundial. Condenando-nos a uma vida de muitas provações e pouca autonomia. Ao longo dos séculos vários movimentos de libertação, de variadas formas, propostas de ação e personagens, desde escravos “rebeldes” (Haiti, Palmares), povos indígenas (Paraguai, no passado, Bolívia hoje) até a Cuba socialista, todos envolvidos em uma luta pela construção de uma utopia, de uma nova era de justiça. O conceito de “nação-latino-ameri-

cana”, sonho de Jose Martí, de Bolívar e seus companheiros, entre eles o brasileiro Abreu de Lima, pressupõe a recuperação da rica memória nacional latino-americana e a tomada de consciência de que temos uma origem colonial em comum, nos constituímos como um somatório de povos e culturas em comum, vi-

rica Latina (organização que luta pela integração e solidariedade aos povos latino-americanos, pela sua autodeterminação e progresso social) inaugura este espaço trazendo histórias de um passado muitas vezes desconhecido, mas que demonstram o quanto nossas lutas nos unem.

Precisamos conhecer nossa história, entender a trama que criou conflitos desnecessários e antagonismos absurdos entre países vizinhos”

vemos hoje os mesmos problemas, sofremos das mesmas dívidas e da mesma dependência. O surgimento de novos governos de caráter mais popular, de entidades como o CELAC e a UNASUL, a proliferação de protestos e movimentos sociais por toda a América Latina, trazem a esperança de um futuro melhor: utopia transformando-se em realidade. É com alegria que a Casa da Amé-

“No início de março deste ano, o coletivo da revista Vírus Planetário recebeu uma ótima notícia: a Casa da América Latina abriu as portas da sua sede no centro do Rio de Janeiro para acolher o escritório de redação da Vírus, que agora divide o espaço com a sede da CAL. Já companheiros de luta pela democratização da comunicação e do conhecimento por uma sociedade justa e libertária, os dois coletivos agora iniciam uma frutífera parceria. Esta seção é um desses frutos”

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Bula cultural

algumas recomendações médico-artísticas Foto: Laboratório de Direitos Humanos de Manguinhos

Disputas simbólicas removem moinhos?

Manguinhos e o Ecomuseu Ecomuseu de Manguinhos questiona os valores e estigmas associados à favela

Por Renata Melo A lenda de um porco com cara de gente, uma antiga casa de música, palco de encontros e desencontros memoráveis, uma heroica e inesquecível ceia de um natal marcado pela enchente e pela solidariedade - essas são algumas das histórias que circulam pelos becos e vielas de Manguinhos e que vão virar documentários. Que outras histórias habitam esse lugar? Qual a relevância de se construir um outro discurso, quando falamos de um território extremamente estigmatizado e criminalizado? São questões que vem sendo discutidas pelo Ecomuseu de Manguinhos. O Ecomuseu - que hoje também é um Ponto de Cultura (Programa Cultura Viva, do Minc) - está localizado na favela de Manguinhos, no Rio de Janeiro. Faz parte da RedeCCAP, OSCIP presente em Manguinhos des-

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de 1986 e conta com a parceria da Coordenadoria de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz. Para além das relações institucionais, seus membros preferem a definição do Ecomuseu como um coletivo de mobilização do território, um instrumento comunitário que visa promover atividades de emersão da identidade e memória local.

nhos e sim fazer com que as pessoas construam dessas diferenças pra com uma cidade ideal, reflexões para autodeterminação do próprio horizonte de expectativas. Isso fará do Ecomuseu um aparelho cultural vivo porque reconhece cultura no trabalhar a terra, o território, trabalhar novas estéticas – e éticas “, explica o coordenador Felipe Eugênio.

Ao contrário do que o nome possa sugerir o Ecomuseu não existe como um museu, pelo menos não convencionalmente nas paredes e instalações de um museu, ou seja, ele não tem um prédio, nem um curador que dita o que (e como) será visto. Há uma outra perspectiva que trabalha na lógica de patrimônio imaterial da história e cultura de Manguinhos: “nossa ideia não é monumentalizar a pobreza e as tragédias de Mangui-

Esse coletivo nasce com uma proposta desafiadora: disputar no campo simbólico e cognitivo os valores e produções de sentido sobre o território, o que Eugênio caracteriza como uma “guerrilha semiológica”, conceito desenvolvido por Umberto Eco. Que valores são esses? Quando a moradora Turia de Souza afirma “eles só veem nossa comunidade como prostituta, traficante e ladrão”, é sinal de que existe na representação sobre o mo-


O objetivo é trabalhar política com magia, com humor, provocar valores de cidadania por meio de uma linguagem sedutora”

rador de favela, práticas de violência. ses valores são prioridades do Ecomuseu: “a missão do ecomuseu Quando a jovem Gabriela Soares não num território de exceção é desafiadora porque se pretende crítica e se sente retratada como pessoa, mas propositiva. Trata-se de imprimir novos signos num meio estigmatizacomo marginal, - “a sociedade trata a do, novas referências sobre essa população local, desconstruir estiggente como marginais. Eles não tramas que legitimam o status quo; ocupar simbolicamente um espaço tam a gente como pessoas, mas sim aparentemente esvaziado de cidadania.” Missão nada fácil, não é? como projetos de marginais”- está Mas como preconizava uma juventude efervescente em maio de 1968: claramente expressa aí “sejamos realistas, exijamos o imuma relação de oprespossível”. são que, entre outras Acreditando que outras recoisas, se dá por meio presentações são necessárias, o da linguagem e da Ecomuseu de Manguinhos vem A sociedade nos trata construção de sentido, criando estratégias de comunicacampos que passam como marginais, e não ção aliando a dimensão técnica pela comunicação. como pessoas” ao debate político. Desde 2011, a Nesse sentido, Feliequipe trabalha na identificação pe acredita que quesdos atores artísticos-culturais tionar e subverter esdo território, e já promoveu um curso de audiovisual em Manguinhos. Desse curso resultaram moEstudantes do curso audiovisual de Manguinhos em radores que são colaboradores do Ecomuseu nesse ano, aula prática na Fiocruz | Foto: Fio Peter tempo no qual entra em processo a produção de 10 documentários que serão exibidos nas ruas da comunidade.

“Venha contar a história de Manguinhos”, com esses dizeres vários cartazes foram espalhados pela comunidade. O resultado foram assembleias lotadas e a equipe do Ponto de Cultura com ouvidos e gravadores a postos. Daí surgiram histórias que, entre pitorescas e engraçadas, tinham como pano de fundo as tragédias do território mas também as soluções oriundas dali mesmo, de Manguinhos.“O objetivo é trabalhar política com magia, com humor, provocar valores de cidadania por meio de uma linguagem sedutora”, afirma Felipe Eugênio. Reinventar o território, subverter os valores que nos são impostos e empurrados goela abaixo todos os dias. Uma luta, sem dúvida, necessária e que com o trabalho do Ecomuseu se torna cada vez mais possível. São balas nada perdidas de alto contágio ideológico. E muitas, sim, derrubam gigantes terríveis – e até seus maus disfarces de moinhos, que bons ventos não dão.

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Bula cultural

algumas recomendações médico-artísticas

Indicações Documentário “As muitas faces de uma cidade” - Danilo Georges, Eliseu Pirocelli e Vinicius Santos

Contraindicações

O documentário descreve brilhantemente as contradições de uma cidade como Foz do Iguaçu, bela, que irradia energia para todo o país, e é, ao mesmo tempo, a cidade onde mais morrem jovens. Nessas muitas faces das tão variadas cidades, encontramos jovens que arrumam seu trampo, que se divertem e que reinventam a vida.

Bar Bukoswki

Exposição “Manguinhos: Território em Transe” A exposição conta, através de fotografias, mapas e textos, a história da ocupação de Manguinhos, zona norte do Rio de Janeiro e as lutas políticas ocorridas durante os últimos cinco séculos. A mostra itinerante começa seu percurso nos dias 23, 24 e 25 de maio no campus da Fiocruz. De lá, seguirá para Manguinhos, favela onde se situa a insa cidade tituição. “A gente reforçou muito a relação de Manguinhos com iros verdade os são que aqueles r provoca de foi o trabalh nosso O do Rio. dor historia Pinha, Daniel afirma io”, protagonistas da história do territór e Ativista Unidad pela o realizad é o trabalh O projeto. do ador e pesquis da CoordeDefensora do Meio Ambiente (Uadema) e conta com convênio . Fiocruz da ncia Presidê da Social ção Coopera nadoria de ioeMais informações: territorioemtranse@yahoo.com.br / territor 6 8167526 (021) e 00 3181.79 mtranse@uadema.org.br / Tels.: (021)

Localizado em Botafogo, o Bar Bukowski, que já foi sinônimo de um espaço alternativo no Rio de Janeiro, piora sua concepção a cada dia. Entrada muito cara (R$35,00), péssimo serviço e “seguranças” que se valem da premissa de serem Policiais Militares para exercerem sua “autoridade” no esta belecimento. Ilegal e imoral.

Livro “Occupy” - David Harvey, Slavoj Žižek, Tariq Ali et al. - Editora Boitempo autores, o Com o princípio de não arrecadar recursos para editores e de ntos movime s diverso dos o mosaic um livro faz ocupação que ocorreram no mundo em 2011. Tariq Ali, em seu texto presente na coletânea, afirma que saber contra quem se luta é um importante começo. Por outro lado, Slavoj Zizek é bem categórico ao defender que é preciso saber o que se quer. Os trabalhadores, de acordo com ele, sempre tem a resposta, o problema é não saber a pergunta. O movimento Occupy abre novos horizontes para perguntas estruturais da sociedade capitalista atual. Fique ligado! Sortearemos este livro nas próximas semanas. Para concorrer, basta curtir nossa página: facebook.com/virusplanetario

POSOLOGIA ingerir em caso de marasmo ingerir em caso de repetição cultural ingerir em caso de alienação manter fora do alcance das crianças nocivo, ingerir apenas com acompanhamento médico extremamente nocivo, não ingerir nem com prescrição médica

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mato grosso do sul

Amanhã vai ser outro dia: Relatos do Tribunal Popular da Terra de Mato Grosso do Sul Por Tainá Jara e Rafael de Abreu “A universidade deve ser flexível, pintar-se de negro, de mulato, de operário, de camponês, [de índio] ou ficar sem portas, e o povo a arrebentará e pintará a Universidade com as cores que melhor lhe pareça.” Ernesto Che Guevara

Amanheceu diferente a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul no dia 30 de março de 2012. Despertavam do alojamento os índios, quilombolas e camponeses junto com estudantes e militantes de organizações ligadas à terra. Levantavam-se para mais uma batalha na luta por seus direitos em um território nunca ocupado por eles, à universidade. Os índios, com seus cocares de penas coloridas e o vermelho de suas peles realçados por urucum, junto com os demais participantes adentraram no Teatro Glauce Rocha. Em 1979, neste local, foi instalado oficialmente o governo de Mato Grosso do Sul, com a posse do primeiro governador, Harry Amorim Costa, e a presença do ditador Ernesto Geisel. Em um espaço muito frequentado pela elite sul-matogrossense nas suas solenidades, a universidade começava a se pintar de povo no primeiro


“ dia de atividades do Tribunal Popular da Terra de Mato Grosso do Sul (TPT-MS) que se estendeu aos dias 31 e 1º de abril. O Tribunal, já havia acontecido em 1987,com julgamentos simbólicos de vários casos emblemáticos, entre eles o assassinato de Marçal de Souza, uma das principais lideranças indígenas do país. Em sua segunda edição o Estado brasileiro, latifúndio e o agronegócio foram colocados no banco dos réus. A atividade é um ato políticocultural, com discussões durante e depois das programações, nas rodas de tereré, nos bate-papos de corredores e dormitórios. O espaço coloca a classe oprimida para se conhecer. Os movimentos sociais dialogando e se escutando mutuamente faz com que o TPT seja crucial para a luta de classes, por propiciar que se identifiquem, se reconheçam no olhar, no coração, na alma e na luta de cada uma e cada um que o compõe. Debater a questão agrária no Mato Grosso do Sul, estado onde o agronegócio e o latifúndio imperam por estarem mais organizados, é um ato de coragem. Alguns números ajudam a traduzir o contexto em que é realizado o TPT-MS. Segundo dados o Conselho Indiginista Missionário (CIMI), foram assassinados 253 indígenas, 55% dos assassinatos de indígenas do país. Das 21 comunidades quilombolas, 17 estão em luta e esperam a definição favorável de titulação no INCRA. O estado lidera o ranking de 12

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Debater a questão agrária no Mato Grosso do Sul é um ato de coragem”

concentração de terra, com 75% das propriedades rurais acima do limite que é compreendido como justo e de trabalhadores submetidos a condições de trabalho escravo, com 1.322 registro, representando 34% dos casos do país. Foram julgados nesse Tribunal Popular da Terra nove casos de lideranças indígenas assassinadas só na última década. Uma dessas vítimas foi o líder Guaraní-kaiowá, Marcos Verón, cuja família estava presente. “Estamos aqui nesse Tribunal Popular para reivindicar primeiramente nossas terras que hoje estão paradas na justiça”, explica Ládio Verón, filho de Marcos, que hoje vive na região de Dourados. Participaram do evento aproximadamente 150 indígenas das etnias Guarani-kaiowá e Terena. Luneci de Almeida, da juventude Guarani-kaiowá, lembrou que muitos não estavam ali (os outros 72 mil indígenas) e por isso à responsabilidade dos presentes era maior. “É bom levar as palavrinhas para eles saberem o que está acontecendo aqui no tribunal”, explica a jovem que vive na aldeia Laranjeira Ñhanderú no município de Rio Brilhante que conquistou na justiça o direito de permanecer em seu território até que as pericias fossem efetuadas.

Sem lhe pedir licença Inicialmente a programação procurou fazer um aquecimento para o julgamento, favorecendo o diálogo entre os movimentos sociais pre-

sentes e dando embasamento para quem ainda não tinha acúmulo sobre a questão da terra em Mato Grosso do Sul. A primeira mesa redonda foi composta por Miescelau Kudlavicz, da Comissão Pastoral da Terra (CPTMS), Katya Vietta, antropóloga e Narciso Pires, da ONG Tortura Nunca Mais que expuseram elementos históricos e atuais da questão fundiária, do Estado e da privatização das terras indígenas. Encerrando as atividades do período da manhã, houve um informe sobre a PEC (Projeto de Emenda Constitucional) 215. O Projeto, aprovado em março pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) da Câmara Federal, quer tirar das mãos do Executivo a prerrogativa de demarcar e homologar os territórios tradicionais colocando essa decisão nas mãos do Congresso Nacional e, consequentemente, da bancada ruralista. A PEC viola a Constituição Federal ao alterar o equilíbrio entre os Poderes. Tema polêmico que está sendo muito debatido diante do risco de ser votado ainda esse ano. No período da tarde foram realizados espaços de discussão específicas dos quilombolas, indígenas e camponeses, além da oficina musical “Luta pela Terra, pela Vida – Resistir é preciso” e discussão sobre o impacto do uso de agrotóxicos no Mato Grosso do Sul. A abertura cultural ficou a cargo da poesia militante, cantada pelo quarteto Humanos Vermelhos, grupo musical formado por membros da ONG Tortura Nunca Mais do Pa-


Atividade do Tribunal Popular no campus da UFMS

foi interrompido com a informação de que fazendeiros e seus jagunços estavam presentes fazendo registros fotográficos dos depoentes e de participantes. A mesa interrompeu as atividades para que houvesse novo credenciamento. As pessoas autorizadas a fazer registros foram apresentadas ao público.

55% dos assassinatos de indígenas do país foram neste estado”

raná e da apresentação do Grupo de Teatro Colisão.

Hoje a gente é que manda Depoimentos emocionados e indignantes marcaram o sábado de programação do Tribunal Popular da Terra. As denuncias iam muito além dos assassinatos de lideranças Guarani-Kaiowá julgados nesse dia. O que se ouviu foram relatos de um verdadeiro genocídio onde o inimigo ataca em forma de bala, de fome, de confinamento, de coquetel molotov, de PEC, de despejos, de usinas... A caneta tem sido a arma que mais acentua o conflito. O relato da primeira testemunha

Os invasores eram representantes do Sindicato Rural e da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso do Sul). Do lado de fora, ao serem questionados sobre o porquê da presença, responderam que o evento era de interesse deles e das organizações que representavam e sempre frequentavam atividades organizadas por sem-terras, quilombolas e indígenas. Sobre o motivo das fotografias, eles preferiam não dizer nada mediante a justificativa de causar polêmica. Com a pressão dos movimentos ali presentes os coronéis do agronegócio se retiraram. Ao final do julgamento, o Juri Popular constituído por lutadoras e lutadores das mais variadas frentes de luta e resistência ao avanço do capital em Mato Grosso do Sul, condenou e declarou o Estado brasileiro, latifúndio e o agronegócio culpados.

Como vai abafar nosso coro a cantar na sua frente Para celebrar a vitória de uma pequena batalha, os indígenas comemoram com música, ciranda e orações e compartilharam com os presentes as poucas espigas de milho que hoje são possíveis cultivar na terra que vivem. Os rappers Guarani-Kaiowá, Brô Mc’s cantaram suas dores, mas também chamaram para a luta em sua língua, o guarani. Uma noite de paz e confraternizações indicava o encerramento do Tribunal Popular da Terra de Mato Grosso do Sul. No domingo pela manhã, o julgamento de todas aquelas violações testemunhadas não podiam ficar só em nossas memórias. Por isso o Tribunal Popular da Terra de Mato Grosso do Sul virou documento para que os homens brancos do Estado pudessem compreender e, principalmente, firmou uma unidade entre os camponeses, quilombolas e indígenas. Momento histórico de Mato Grosso do Sul neste século digno de ser registrado em vídeo, livro e dossiê. Vírus Planetário - ABRIL 2012

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drogas

Quer fumar?

PASSA a grana! CIA

POLÍ

Ilustração: Carlos Latuff

Legalizando o Por Maria Luiza Baldez e José Roberto Medeiros

debate

Sejam lícitas ou ilícitas, é inegável que as drogas estão inseridas na realidade social. E, apenas com uma discussão honesta, será possível descobrir o melhor caminho para se tratar deste delicado tema. 14

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Instituto Carioca de Criminologia (ICC).

Um debate sem preconceitos

Todos os objetivos da guerra contra as drogas feita através do proibicionismo são um fracasso total”

M ac on ha Medicinal sara diz que a realidade não corresponde a esta expectativa. “A criminalização é ineficaz. Hoje em dia, quem quer usar drogas, usa”, contesta. Após anos sendo tratado como tabu, o debate em torno da questão das drogas se reorganiza e passa a ser discutido sob novas perspectivas. Estando diante de políticas públicas limitadas, que falham em impedir a circulação das drogas no meio social, começa a se formar um consenso de que é necessário outro caminho para se tratar do assunto.

A problemática da criminalização A solução aceita hoje para se defender do medo que a população, em geral, sente em relação à droga é o caminho da criminalização e do proibicionismo. Supostamente, a droga se torna inacessível quando proibida. Contudo, o juiz criminal Rubens Ca-

O proibicionismo mostra à luz uma face que preza pela saúde e pela segurança pública - porém, se as drogas ilícitas continuam facilmente acessíveis, o que este discurso esconde? Para militantes da questão, esconde um caráter destrutivo, que atinge os dependentes e os segmentos pobres da população. “No Brasil, vemos um senso comum produzido pela grande mídia que impede que o cidadão médio brasileiro tenha acesso a informações inteligentes. Ele fica empantanado no medo, o que só aumenta o problema na produção, comercialização, violência e dependência”, afirma Vera Malaguti, professora de Criminologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Secretária Geral do

É assim que, contrariando a visão proibicionista, surge o debate relativo à defesa da descriminalização e da legalização das drogas – dois conceitos diferentes, mas que propõem soluções direcionadas para o mesmo fim: entender a droga como parte da sociedade e buscar meios menos perversos para se lidar com ela. “A criminalização de qualquer droga produz mais danos do que aqueles que se quer evitar”, afirma Rubens Casara. Ele explica: “a descriminalização é o fato de retirar a questão das drogas do âmbito do processo penal. É possível tratar desta questão em outras esferas, como a administrativa, mesmo que continue ilícita. Já a legalização seria uma regulamentação autorizando as drogas. É quando você torna o porte, o consumo e até a venda lícitos”. O que para muitos pode parecer uma atitude extremista não deve ser entendido como um descaso infundado – aqui, a droga é trazida para o plano da realidade, saindo da hipocrisia do discurso proibicionista. Para Vera, este não pode ser visto como um estudo alternativo, mas sim institucional: “A ideia da legalização seria a ideia do controle pela legalidade”, explica.

Os efeitos da guerra contra as drogas Com a criminalização, não parece inapropriado identificar a situação como uma verdadeira guerra contra as drogas – expressão que pressuVírus Planetário - ABRIL 2012

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Marcha da Maconha A Marcha da Maconha é o maior moviMarcha da Liberdade em São Paulo organizada mento organizado voltado para a legalizaem 2011 como resposta à proibição da marcha ção da maconha no Brasil. Apoiada por da maconha. Hoje, a Marcha está liberada / Foto: Marcel Maia figuras conhecidas como o sociólogo Renato Cinco e o advogado André Barros, a Marcha completa dez anos e ganha as ruas de 31 cidades brasileiras. O movimento, iniciado em 2002, em uma passeata com 500 pessoas, agora reúne milhares de homens e mulheres, usuários e não usuários, que, independente de suas orientações ideológicas, unem forças em prol de uma mesma bandeira: a descriminalização dos usuários de drogas e a legalização do uso da cannabis sativa para quaisquer fins. Muito reprimida durante o período entre 2007 e 2011, a Marcha da Maconha, desde junho do ano passado, foi considerada uma atividade lícita pelo Supremo Tribunal Federal e, com isso, não pode mais ser alvo de repressão por parte das autoridades policiais. Confira o local e data das marchas em cada cidade no site: www.marchadamaconha.org

põe que a droga precisa ser combatida através de aparatos penais e militares. A guerra não é uma política social: torna a droga intimamente ligada ao crime, fazendo com que seus usuários sejam vistos de forma também marginalizada.

Não existe guerra às drogas, existe uma guerra aos pobres disfarçada”

“Quando se criminaliza a droga está se criminalizando uma parcela específica da população – uma parcela pobre e excluída, que constitui a população carcerária do país. Tratando a questão como crime, o Estado se exime da responsabilidade de tratar estes indivíduos”, argumenta Casara: “Hoje, pode-se dizer que metade das condenações carcerárias é relacionada às drogas. E o Brasil já se configura como o terceiro país com o maior número de presos no mundo”. Porém, seria um equívoco dizer que a guerra é somente contra as drogas. “Hoje, todas as classes sociais cheiram cocaína e fumam maconha. Mas a repressão continua segmentada”, define o sociólogo e membro da organização da Marcha da Maconha, Renato Cinco. Segundo ele, “não existe guerra às drogas, existe uma guerra aos pobres disfarçada”. É uma forma de controle social. A repressão atual se utiliza de uma justificativa de guerra às drogas para manter ativo um estado de exceção ininterrupto. A postura proibicionista exclui também os próprios dependentes e compromete a elaboração de políticas para acolher e tratar o cidadão. “Como é possível produzir tratamento para a dependência no meio da guerra? Quando se agrega ao sofrimento o proibicionismo, potencializam-se

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as dificuldades e só miserabiliza a vida dos dependentes e do serviço de saúde para atendê-los”, questiona Vera. A professora de Criminologia avalia que “esta política tem objetivos explícitos, onde é um fracasso; mas tem por trás objetivos implícitos onde é um sucesso: para a indústria de armas, para a expansão do sistema carcerário, policial e repressor, que, na democracia, a tendência seria se retrair”. O sociólogo Renato Cinco ilustra que a proibição não acaba com a venda, apenas cria um novo mercado, desregulado, permitindo que qualquer substância possa ser misturada às drogas produzidas, o que pode ser muito mais perigoso para a saúde dos usuários: “Quando você proíbe um mercado, você cria o mercado clandestino, que passa a ser o sonho liberal. Você não acaba com ele”.

A interferência estadunidense Grandes responsáveis pela política de guerra às drogas, os Estados Unidos expandiram a sua visão internacionalmente. Uma interferência que pode ser considerada negativa: “Os países que acabaram com o proibicionismo observaram um declínio no consumo. Isto é um dado da ONU. Já o Brasil teve aumento no consumo; assim como a Colômbia, praticamente ocupada pelos EUA. Um dado muito interessante é o Afeganistão. Durante o governo talibã, a produção da papoula, matéria-prima da heroína, tinha se reduzido. Com a invasão americana, aumentou”, comenta Vera Malaguti, deixando claro que, para ela: “Todos os objetivos da guerra contra as drogas feita através do proibicionismo são um fracasso total. Não diminui a produção, a comercialização ou o consumo, nem trata a dependência”. O juiz Rubens Casara completa: “Nos EUA, o combate contra as drogas surgiu efetivamente para se ter com o que lutar contra. O governo encontra um inimigo para


Presídio Central de Porto Alegre superlotado, um dos problemas da criminalização das drogas (e da probreza, de fato) | Foto: Sidinei Brzuska

manter a população sob controle. Os traficantes substituíram a luta contra o comunismo”. Curiosamente, vem dos Estados Unidos uma das maiores experiências que demonstram a ineficácia do proibicionismo. Entre 1920 e 1933, o álcool foi proibido no país através da Lei Seca. Porém, ao contrário do que se esperava, o consumo cresceu, criando-se o tráfico de álcool. O jake, uma bebida de gengibre, teve sua fórmula modificada para burlar a Lei Seca e ser vendida aos mais pobres. Ali, foram misturadas substâncias nocivas que deixaram quase 200 mil estadunidenses paralíticos. Renato Cinco faz um paralelo entre o jake e o crack, alegando que, assim como o jake, o crack é uma droga feita para os mais pobres, fruto da política proibicionista: “Ao invés de jogar fora o que sobrava da produção da cocaína, eles misturavam outras substâncias mais baratas para formar o crack. Acho que a saída para o problema é a regulamentação do mercado de cocaína”.

Experiências internacionais Além da Holanda, pioneira na legalização das drogas, outros países também começam a olhar o tema sob uma ótica que não é a da repressão. Em Portugal, por exemplo, o uso das drogas já foi descriminalizado, e, segundo Renato Cinco, possibilitou aos usuários procurar tratamento adequado.

Caso no STF Apesar de polêmico, o debate sobre as drogas entra em pauta quando o Supremo Tribunal Federal avaliou como relevante o recurso da Defensoria Pública de São Paulo no caso de um preso que, tendo sido pego usando drogas dentro da cadeia, foi condenado a trabalhos comunitários. Para a Defensoria, a proibição do uso de drogas fere a intimidade sendo, portanto, inconstitucional. Se o STF decidir pela validade do argumento da defesa, pode-se entender a decisão como um passo a caminho da legalização.

Em Berlim, com o aumento do consumo de heroína, que causa a dependência física do usuário, a prefeitura criou um programa de combate à droga, tratando-a pelo viés da saúde pública. Bares onde a droga é permitida são associados a serviços médicos públicos, mantendo sob controle o uso e a qualidade da substância.

Uma nova perspectiva Para o juiz criminal Rubens Casara, “a pessoa recorre a drogas por diversos motivos e não deixa de usar pela criminalização, é um substituto químico do prazer”. Portanto, a criminalização é ineficaz. Do mesmo modo, a legalização não é apologética, afinal, “ninguém vai passar a usar drogas só pelo fato de se descriminalizar a questão”, completa Casara, que vai além: “Dentro do caráter de exercício de liberdade, a pessoa deve ser permitida usar ou não usar, desde que a sua conduta não interfira na liberdade do outro”. O consumo de subs-

tâncias alteradoras da consciência é, de uma maneira geral, em busca do êxtase, de transcendência religiosa ou, até mesmo, da cura. Inclusive, o uso para fins medicinais também entra em questionamento, visto que a maconha é reconhecidamente eficaz para evitar efeitos da quimioterapia, por exemplo. “Nós podemos imaginar um caminho brasileiro, soberano, que atenda aos nossos medos, desde que a discussão saia do terreno onde a grande mídia a colocou, capitaneada pela velha visão da guerra às drogas imposta pelos Estados Unidos”, reflete Vera. Para colocar a proposta em prática, contudo, Renato Cinco lembra que uma série de outras questões devem ser pensadas, como a publicidade – que, para ele, deveria ser proibida se referente a qualquer droga, incluindo as lícitas como álcool, remédios, açúcar e cafeína. Vírus Planetário - ABRIL 2012

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Por Rafael Puetter rafucko.com

*Improvável, mas não impossível.

Manifesto Al-Caloi O Pedalar é uma iminente vitória Na foto: flagrante de um de nossos ataques suicidas. À esquerda, nossa poderosa arma de destruição em massa.

Por meio deste manifesto, a organização cicle-terrorista Al-Caloi, formada por ciclistas de todo o país, torna públicas as suas exigências para que cessem os ataques a automóveis em vias públicas. São elas: - A construção de ciclovias, bem como a manutenção e reparo das vias já existentes As mudanças deverão ser realizadas em todas as zonas, sem privilégio por áreas turísticas e/ou áreas mais nobres. Os ataques ocorrerão em maior número em beiras de estrada e em áreas como a Zona Norte do Rio de Janeiro, onde há menos condições para que nossos membros se locomovam. - Pistas compartilhadas e leis que punam o motorista que não respeitar os ciclistas. O não cumprimento dessa exigência ocasionará, invariavel-

mente, em retaliação pela AlCaloi, por meio de atiramento de bicicletas sobre carros, ônibus e até mesmo caminhões em movimento. Nenhum veículo será poupado e nossas mortes justificarão nossos pedidos por melhores condições de circulação pelas vias públicas. “O sangue dos ciclistas atropelados será uma maldição que perseguirá os motoristas, uma maldição que os perseguirá dentro e fora de seus automóveis” Questionamos: Por meio de seu poder e de suas mídias (como o colunista Artur Xexéo), os fervorosos defensores do automóvel continuarão a ocasionar os ataques suicidas de nossos membros? A decisão de pôr fim a essas mortes é de vocês! Que os cidadãos não se façam

escravos dos automóveis. Que nossos semelhantes não sejam obrigados a andar nos transportes públicos demorados, caros e poluentes. Que as bicicletas ganhem o respeito que merecem. Caso contrário, continuaremos a jogar nossas magrelas sobre seus veículos, morrendo se for necessário, para que um dia possamos percorrer toda a cidade a bordo de nossas bikes. Chamamos o povo ciclista do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife - de todas as grandes e pequenas cidades do Brasil, do litoral ao interior, passando pelas beiras de estrada - a se juntar ao movimento, se levantar e pedalar para que possamos vestir um capacete e chegar seguros ao nosso posto de trabalho, em nossas residências e quiçá aos nossos piqueniques.

Confira a Reportagem no Telejornal sobre a Rede Terrorista Al-Caloi no link: www.abre.ai/alcaloi


A Mentira varrida pra debaixo do tapete

sórdidos hes... detal

A vida imita a arte Farra parisiense paes blindado

Não existe nada como merecidas férias para confortar um empregado depois de um ano inteiro de trabalho suado. De fato, isso não incomoda ninguém. O problema é quando este “empregado”, entendendo que não precisa prestar contas, resolve tirar férias que, vamos combinar, não são tão merecidas assim. Em parte porque não vieram de um trabalho “suado”; em parte porque férias é período de descanso e não é para ser tirada em pleno expediente. Estamos falando do governador do Rio Sérgio Cabral, junto com seus secretários, Régis Fichtner (Casa Civil), Wilson Carlos (Governo), Sérgio Côrtes (Saúde) e Julio Lopes (Transportes), que resolveram tirar férias de alto luxo na Europa, na companhia de Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta. Antes de tudo, é preciso dizer que a Delta é a empreiteira que mais tem contratos de obras no Rio, Estado no qual Cabral é governador. Ou seja, Cabral e Cavendish parecem ter ultrapassado há muito a fronteira do ditado “Amigos, amigos, negócios à parte”. Acusado de receber propina para conceder as licitações, Cabral nega que a viagem tenha sido paga com dinheiro público e afirmou que saiu do próprio bolso. Mas isso foi só depois das fotos serem reveladas. Antes, Cabral havia justificado como sendo uma viagem oficial. Ainda que as datas confusas e os guardanapos brancos nas cabeças das “figuraças” do governo mostrem exatamente o contrário: só curtição. Os escândalos da Delta envolvem favorecimento ao bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, além de contratação de funcionários fantasmas e o su-

perfaturamento de obras, como a do Maracanã. E tudo para ter mais dinheiro para sofisticadas viagens. Bem, fato é que a Prefeitura andou contratando a Delta para diversas obras, como a Transcarioca (menina dos olhos da prefeitura, via expressa que removeu centenas de moradias)... Não só o governador que tem relações comprometedoras, mas o prefeito Eduardo Paes parece que vai precisar se esforçar para não afundar no mesmo navio. A Delta foi afastada das obras da cidade no fim do abril – mas fica fácil depois do alvoroço, né? Já basta a suspeita do seu envolvimento com as milícias, reconhecidamente organizações mafiosas que ele defendia em 2006... Vírus Planetário - ABRIL 2012

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direitos humanos

Entrada do Quilombo Sacopã| Foto: Maira Moreira

Choque de silêncio ao Quilombo Sacopã

O ataque aos diretos conquistados pelas comunidades quilombolas.

Por Maira Moreira e Taiguara Moreira *

A criação de estereótipos e estigmas sempre esteve a serviço da desestabilização da diversidade cultural”

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Sempre que falamos em quilombo é recorrente o aparecimento daquela idéia ensinada na matéria de História na escola – “refugio de negros escravos fugidos”. Pois é, hoje em dia precisamos ir além. O historicismo positivista que está por trás desta corriqueira visão, trata o quilombo como um lugar marcado apenas pelo elemento fuga e o enquadra no passado, produzindo uma interpretação estática do mesmo. Algo que o circunscreve a um determinado tempo e espaço, em claro contraste com a dinâmica própria daquilo que em última instância define a natureza da um quilombo, um agrupamento étnico. Sabemos que os grupos étnicos reinventam-se cotidianamente sem perderem a sua identidade. Esta não pode ser vista numa perspectiva essencialista, mas como uma expressão dinâmica de um gru-

po unido por vínculos simbólicos (crença numa origem comum que é fortalecida através da memória preservada pelo grupo, por seus rituais religiosos e festejos típicos) e/ou sanguíneos. Deste modo, é possível compreender o quilombo no presente. Dentre os grupos étnicos, as Comunidades Quilombolas encontraram na Constituição de 1988 uma possibilidade de reconhecimento nova, distante daquelas conservadoras, justamente por possibilitar uma identificação do quilombo no presente e a garantia

*Colaboraram Daniel Israel, Miguel Cardoso (antropólogo) e Luiz Sacopã (presidente da ACQUILERJ e integrante da comunidade do Quilombo Sacopã


do direito sobre o território ocupado tradicionalmente. Na sequência deste reconhecimento jurídico, que foi instrumentalizado pelo Decreto nº 4.887/2003, vieram uma série de estudos realizados com os processos de regulamentação de territórios quilombolas. Estudos estes que contribuem muito para que a sociedade brasileira consiga visualizar uma realidade de resistência tão rica e que ainda sofre tanto com as tentativas conservadoras de torná-la invisível e pulverizá-las.

Um caso exemplar de resistência A Comunidade de Remanescentes do Quilombo Sacopã tem sua origem com a chegada da Família Pinto para a área que hoje corresponde ao território quilombola. No início do século XX alguns membros desta família migraram de Minas Gerais, onde trabalhavam numa fazenda de café, para Friburgo e logo após para a cidade do Rio de Janeiro, onde buscavam trabalho e moradia. Instalaramse no bairro da Lagoa Rodrigo de Freitas, que na época não havia passado pelo processo de urbanização. Na década de 1960 e 1970 o bairro se urbanizou e a valorização imobiliária permitiu que as classes média e alta da cidade se instalassem no bairro de forma permanente, configurando

assim a demanda pela remoção das favelas locais e também da comunidade quilombola do Sacopã. Próximo ao local onde permaneceu a família Pinto foi removida na década de 1970 uma comunidade chamada “Morro da Catacumba”, formada majoritariamente por exescravos ou descendentes dos mesmos. Em diversos momentos o grupo étnico instalado na Rua Sacopã teve sua territorialidade ameaçada, demonstrando que o processo de resistência do grupo é complexo, frente às intervenções dos “de fora” e às investidas de remoção e dissolução do mesmo.

O choque de silêncio A Comunidade do Quilombo Sacopã, atualmente enfrenta uma proibição de realizar livremente suas práticas culturais, entre elas a tradicional roda de samba, a requerimento dos condomínios da localidade. O pedido dos condomínios foi concedido pelo desembargador Jorge Luiz Habib, que em sua decisão impediu que o festejo típico fosse realizado a qualquer hora do dia. No ano passado, foi proferida uma decisão pela Juíza de Direito, Maria da Glória Oliveira Bandeira de Mello, que determinou o horário de

19h para o término de evento musical de qualquer modalidade no terreno localizado na Rua Sacopã, 250 (A), onde se localiza a Comunidade quilombola. Não satisfeitos com o limite estipulado na decisão, o Edifício Cambury e outros requereram que a decisão fosse reformada, o que por sua vez foi feito. Faz alguns meses que Comunidade vive a proibição total da realização da sua roda de samba. O Desembargador Relator, Jorge Luiz Habib, acolheu a reivindicação que tinha por objetivo cessar as atividades culturais desenvolvidas em qualquer horário no endereço do quilombo. Assim, demonstrou a precariedade da compreensão, por parte do Judiciário, dos elementos que constituem a comunidade tradicional quilombola, reconhecida constitucionalmente. A proibição imposta ao grupo constitui explícito preconceito traduzido em processo judicial, ocultado por uma linguagem jurídica que tem por função a manutenção e legitimação do poder de um grupo dominante sobre aquele território. Com esta decisão o Judiciário se rebela contra a própria Constituição, tendo em vista que o art. 215,§ 1º, infirma que o Estado protegerá as manifestações culturais afrobrasileiras, entre outros dispositivos.

Da esquerda para direita: Luiz Sacopã com sua neta Maria Eduarda (em destaque no centro) e parte da família Pinto reunida no almoço | Fotos: Maira Moreira

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Placa colocada no portão de acesso ao Quilombo Foto: Maira Moreira

A situação se aproxima de uma polêmica muito presente na primeira metade do século XX, a da repressão nos lugares de reunião e encontro da população negra para realização do samba. Parece que retrocedemos no tempo, e que foi ontem que os sambistas eram estigmatizados de malandro, e comunidades pobres e negras (não esqueçamos que a divisão de classes que foi sendo criada em nossa sociedade está marcada pelo corte étnico-racial) eram removidas das áreas centrais do Rio de Janeiro através da política do “Bota Abaixo” de Pereira Passos. Observamos que a repressão imposta sobre as práticas e usos tradicionais do grupo sobre o território demonstram uma tentativa de deslegitimar a territorialidade do mesmo, de alguma forma abalando a produção de sua existência naquele local. Pode-se perceber isso, pela forma como nem mesmo foi respeitado o limite de 22h para realização atividades com som que exceda 85 decibéis. 22

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Sabemos que os grupos étnicos reinventam-se cotidianamente sem perderem a sua identidade”

Precisamos estar atentos O requerimento efetuado pelos condomínios e a decisão proferida no processo devem ser atentamente analisados para que não sejam perdidos no tempo e no espaço – ainda que consigamos reverter a situação de silenciamento do Quilombo Sacopã. O que se vislumbra por trás des-

sas manifestações é a reedição de práticas de expulsão dos pobres, que nunca deixaram de estar em vigor. E que parecem constituir a regra fundamental de gestão do espaço da cidade e do entendimento dos conflitos fundiários de maneira geral. O discurso do progresso e do desenvolvimento aos

>>A Comunidade de Remanescentes do Quilombo Sacopã, localizada no nº 250 da Rua Sacopã no bairro da Lagoa, área nobre do Rio de Janeiro, teve sua trajetória registrada em estudo antropológico e historiográfico realizado pela Universidade Federal Fluminense (UFF). O autorreconhecimento enquanto quilombola foi certificado pela Fundação Cultural Palmares (FCP), órgão público responsável pela certificação das áreas quilombolas. Atualmente o procedimento administrativo relativo ao reconhecimento, identificação, demarcação e titulação do território tramita na autarquia agrária.


ral pública

ltu re expressão cu v li a e g n ri st re Resolução 013 ecida como “Zero nizasse um ia se você orga O que você far horas anas uc licial proibisse po evento, e um po ontecendo É isso que está ac pular que tes dele começar? po ra ltu cu s do Rio. A ais não em muitas favela loc s se es e dá força a es ra piopa une os morador E . ial lic po ça a pela for pecifies pode ser impedid ais m , paldado pela lei rar, o abuso é res solução 013. camente, pela Re

Roda de Funk no

y : Maria Buzanovsk

Cantagalo | Fotos

Conh ção dá ao Treze”, a resolu de proibir r policial o pode cultural to en ev r ue qualq acordo de io, év sem aviso pr e ele mesqu ios tér cri m co resolução mo pode criar. A regulade o é a atualizaçã da Ceni Le da s õe taç men de novemsura (5.536, 21 a herança bro de 1968), um r. A Lei da lita Mi a ur da Ditad tucional, sti on Censura é inc Constituim co do or ac de 1988. Nas ção Federal de do , isso tem o arbitrária de to favelas com UPPs , como a proibiçã os us ab os uit m . gerado bailes funk incipalmente de s no tipo de evento, pr ente, muitas veze am sooibidos arbitrari As a o, iss r Po a. Os bailes são pr uma justificativ nh ne ea m ) se NK , to FU en PA dia do ev s do Funk (A ssionais e Amigo ra a Resont co a nh pa ciação dos Profi m a Ca u Rio, lançaram iles funk, podem organização Me a censura aos ba m Co e”. rez -T - manifestação nk Fu lução “Zero de s bém as Roda tam s ida ocorre geraloib e pr qu ar K, fic a pela APAFUN ad cri do-o e al ur ult -c político e o funk, cantan ar livre e promov luta, conde to en m mente até 20h ao tru ins sobre como é um informações sodicusrsando-se do debate e das ão aç pli a roda am ra tribuindo pa panha foi com um çamento da cam ma e lan ne O . Ipa os tre eit en dir do e br za Cantagalo, locali do rro Mo no de funk . zona sul carioca Copacabana, na

O ataque formal ao Decreto nº 4887 / 2003 Além das dificuldades enfrentadas por cada comunidade particularmente, como esta que vivenciada pela comunidade do Quilombo Sacopã, ainda existem as investidas conservadoras orquestradas, visando atingir todas os agrupamentos étnicos quilombolas. É o caso da ADIN nº 3239 (Ação Direta de Inconstitucionalidade que tem como objetivo a revogação do Decreto nº 4887 / 2003) que começou a ser julgada pelo STF no dia 18 de abril, momento em que as partes realizaram sustentação oral das teses defendidas. O ministro Cézar Peluso se manifestou pela inconstitucionalidade do Decreto 4.887/2003. Se após o fim do julgamento, a ADIN for considerada procedente e o Decreto 4887/2003 reconhecido como insconstitucional, poderá comprometer a continuidade de todos os procedimentos de reconhecimento, identificação e titulação dos territótios quilombolas. Assista ao voto de Cézar Peluso no link: www.abre. ai/vista .

moldes do capitalismo se afirmam como marcha motora da sociedade, em detrimento da diversidade e do respeito aos povos e suas territorialidades. Situações como essas nos informam sobre o quanto ainda nos resta fazer para que superemos as heranças dos tempos coloniais. Para que consigamos aprofundar o processo de democratização em nossa sociedade, o reconhecimento e o respeito às comunidades tradicionais, em particular às Comunidades de Remanescentes de Quilombos. A proibição ao samba implica na usurpação do direito de ser quilombola - de um grupo que preserva a memória da

opressão histórica sofrida, de tempos que não foram de liberdade. Fica comprometida a existência do mesmo e a reinvenção de suas tradições. Para o Quilombo Sacopã, o samba é um importante elemento de enraizamento, que afirma suas fronteiras frente à comunidade que os circunda. A possibilidade de realizar sua tradicional roda de samba propicia o fortalecimento do grupo étnico instalado na Rua Sacopã - 250 > Nota da redação: Maira acompanhou o caso do quilombo Sacopã de perto, tendo visitado o local inúmeras vezes, mantendo contato direto com os moradores e militantes locais. Este artigo baseia-se nas informações coletadas durante esta experiência. Vírus Planetário - ABRIL 2012

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O intelectual, ao não se posicionar, perde não só culturalmente e politicamente, mas também na reflexão e na sua capacidade de intervenção”

Foto: Artur Romeu

ENTREVISTA INCLUSIVA: Por Artur Romeu, Caio Amorim, Mariana Gomes, Seiji Nomura e Rodrigo Teixeira

Adriana Facina

Professora, antropóloga, mãe, esposa, historiadora, funkeira, intelectual, militante... seria difícil escolher apenas uma denominação para nossa entrevistada da vez. Adriana Facina tem sempre um dia cheio, reserva as segundas-feiras para escrever depois de levar o bebê, Raul, de 1 ano, à creche. Envolvida em diversos projetos, Facina tem hoje uma militância popular bastante reconhecida e muito rara. Ligada aos movimentos de favela, cultura popular e, principalmente, ao movimento funk, foi uma das principais articuladoras políticas da Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (APAFUNK), presidida por MC Leonardo, e responsável pela politização de MCs e DJs, incentivando a composição de funks críticos e reflexivos. Ela também atua no mapeamento cultural da favela de Acari, no subúrbio do Rio, e ministra cursos de formação de agentes populares. Um dos grandes objetivos de Adriana é mostrar um lado das favelas que quase nunca aparece, mas que é riquíssimo: a produção artístico-cultural.

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Formada em história pela UFF (no mesmo período em que passaram por lá Marcelo Freixo, Alessandro Molon e Marcos Alvito), fez mestrado em História Social da Cultura na PUCRio e, no doutorado, partiu para a antropologia, área em que ficou e se apaixonou, por trazer elementos de “carne e osso” ao estudo da história. Hoje, aos 41 anos, Adriana faz questão de frisar que pouco ensinou durante sua pesquisa pelas favelas cariocas. Segundo ela, o aprendizado foi muito maior e deixou como fruto, por exemplo, a reflexão sobre a linguagem. Mesmo com um livro inteiro praticamente pronto, ela decidiu reescrevê-lo. “Preciso dar a contrapartida aos que colaboraram comigo, inclusive, através da forma e não apenas com o conteúdo”, explica. Adriana falou à Vírus sobre funk, favela, militância e muito mais. Tudo com a já conhecida paixão pela poesia, pela música e pela cultura brasileiras.


“ Como você se aproximou da favela enquanto pesquisadora? Eu já tinha interesse pelo espaço como militante e incluía debates como a criminalização da pobreza nos meus cursos na universidade. Estreitei minha relação com a favela como acadêmica porque meu projeto de pós-doutorado era sobre música e sociabilidade popular no Rio de Janeiro. Eu ia trabalhar com três exemplos: o brega, o samba e o funk. Assim, pretendia cobrir boa parte das paisagens sonoras que estão nos espaços de lazer popular na cidade. Só que o funk me pegou pela questão política. Desde a primeira chegada em campo, me foi falado muito sobre a criminalização do gênero, de como os artistas se sentiam desrespeitados em relação a questões de direitos autorais. Aquilo foi me absorvendo. Eu me senti mobilizada para colocar minha rede de relações e o espaço da universidade à disposição desses artistas. O funk me levou para a favela. Tinha que construir alguma coisa junto com aquelas pessoas, tanto politicamente quanto academicamente. Com a luta do funk, parecia que nós estávamos realmente trabalhando no espaço e com as pessoas às quais nós precisamos chegar para mudar a sociedade, lidando com todos os problemas e contradições existentes. E nesse meio tempo Leonardo compôs a música “Para sempre favela”, que fala sobre o que ele aprendeu na favela, o que a favela nos ensina. E pra mim foi como se fosse um hino do meu processo.

Como você enxerga a figura do intelectual militante? Acho que o olhar militante traz uma qualidade superior ao trabalho acadêmico. Passei boa parte da minha vida acadêmica tentando justifi-

O olhar militante traz uma qualidade superior ao trabalho acadêmico”

car minha militância. Hoje, eu acho o contrário: quem não é militante é que deve justificar seu olhar. O intelectual, ao não se posicionar, perde não só culturalmente e politicamente, mas também na reflexão e na sua capacidade de intervenção. O professor e o pesquisador devem ser capazes de deixar claro seus posicionamentos, porque é a partir daí que ele poderá desenvolver as críticas sobre o mundo. O intelectual que não é objeto de sua própria reflexão não é capaz de entender o que está fazendo. Quem não se posiciona acaba favorecendo os poderes hegemônicos, que não precisam se posicionar, pois já têm seu espaço. Precisamos entender a construção do conhecimento como algo ativo, prático, e não como contemplação ou passividade.

O que você pensa sobre a organização de movimentos como a Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (APAFUNK)? A organização de movimentos como a APAFUNK é um desafio que está colocado para nós da esquerda. Hoje, a instituição sindical e os partidos precisam urgentemente serem ressignificados, porque o mundo em que essas instituições foram criadas não é mais o mesmo, embora muitos de seus problemas permaneçam. Movimentos como a APAFUNK mostram que é possível construir organizações com dimensão sindical, de exigência de direitos trabalhistas, mas que também atuem em outras frentes. Para a APAFUNK é essencial intervir nas políticas públicas e na dotação de verbas públicas. Isso também é democratização da cultura e da política.

Você dá aula a futuros professores de história. Como você analisa essa formação universitária?

Lembrando o que disse Paulo Freire: não existe aprendizagem e ensinamento em si, separados, o que existe é o processo que se dá em torno desses dois movimentos juntos. Uma coisa que me entristece muito é ver que estamos formando, majoritariamente, professores para a educação bancária. Eles se formam achando que possuem um conhecimento que vão “passar” para os outros. Quando chegam na escola e percebem que aquelas pessoas não estão minimamente interessadas naquele conhecimento, que eles passaram cerca de cinco anos adquirindo, ficam chocados. Existem três maneiras de lidar com isso: uma é sentar e chorar; a outra é dizer que essas pessoas são ignorantes, que não querem nada; e a terceira é olhar para essa realidade e pensar no que se pode fazer, que é o método marxista de analisar a realidade concreta e intervir. Não podemos criar outra realidade, temos que enfrentar a realidade que existe. Precisamos repensar a escola como um todo. Acredito que não estejam os preparados para isso, porque nós falamos muito e ouvimos pouco.

O que você aprendeu nesse seu envolvimento com o funk e com as favelas? Uma coisa é a gente ler sobre criminalização da pobreza, ver os dados de extermínio. Outra coisa é você estar na favela quando o caveirão entra. Aí vemos o tamanho da barbárie a que estamos submetidos. Essas experiências existenciais dão uma substância para o que lemos. Outra coisa que aprendi foram as noções de respeito e humildade. A coisa do respeito, de como se colocar, como se apresentar. Aprendi muito com as crianças da favela também. A espontaneidade, Vírus Planetário - ABRIL 2012

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ENTREVISTA INCLUSIVA_Adriana Facina

Às vezes, nas nossas individualidades medrosas, o outro é sempre o estranho”

a curiosidade, a sagacidade, o peito aberto. Às vezes, nas nossas individualidades medrosas, o outro é sempre o estranho. Poderia ficar horas falando sobre o que aprendi.

A política de remoções e as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), demonstram uma nova tentativa de acabar com a favela?

O neoliberalismo foi vitorioso mais do que na economia - na conquista das subjetividades.”

Hoje, é difícil um político dizer que vai acabar ou que é contra a favela. Considero isso uma grande vitória dos movimentos sociais. As remoções se dão sob outros argumentos – como o da zona de risco e da defesa da vida, como aconteceu no Morro dos Prazeres. No Santa Marta, vários moradores tiveram que sair ou foram empurrados para as partes mais altas e mais precárias, porque não foram capazes de segurar a onda do aumento dos aluguéis. Você cria novas oportunidades de negócio, mas para poucos. Isso é uma espécie de remoção velada. Hoje, é muito difícil alguém dizer “vamos remover a Rocinha”, mas se diz “vamos remover uma parte para proteger o meio ambiente”, vai cerceando e construindo a favela como um grande negócio para a especulação urbana.

Você acha que o conservadorismo velado aumentou desde a Ditadura? Não sei dizer se aumentou ou não, mas hoje há algo que é diferente em relação à Ditadura. Existe essa visão fatalista das coisas. Acho que durante o regime militar, com toda sua dureza, a dimensão da mudança, de lutar por um mundo melhor, estava posta de uma maneira muito forte para os movimentos sociais. Mas hoje, vários desses grupos se renderam à lógica de que vivemos em um mundo muito ruim e sem alternativa. Nisso o neoliberalismo foi realmente vitorioso – mais do que na economia, foi na conquista das subjetividades. Mais do que o conservadorismo, vivemos a vitória do conformismo. Mais uma vez citando Paulo Freire: ser de esquerda, progressista e ser pessimista são coisas incompatíveis. Acho que esse conservadorismo “bolsonárico” é sempre nicho. Essas pessoas têm como aparecer mais nos meios de comunicação, elas dão suas opiniões, mas eu acho que falam muito entre elas. O que

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me preocupa é o pessimismo dos que podem fazer alguma coisa.

A privatização do espaço público e a mercantilização da cultura têm um papel nisso? Se você não vive o espaço público ou coletivo enquanto tal, se os lugares onde isso podia ser sentido deixam de existir, as pessoas pensam que o que resta é se retirar para sua individualidade. Todos nós ouvimos esse discurso de “eu faço a minha parte”. Não é que não seja importante a gente ter uma atuação ética no mundo, a pessoa ser preocupada com o que fazer com o seu lixo, por exemplo. Mas, de que adianta eu me preocupar se o meu lixo vai ser reciclado ou não, enquanto a TKCSA (ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico) está jogando lixo tóxico na atmosfera? O Carlos Walter (geógrafo, professor da UFF) sempre fala que se o mundo em que vivemos fosse bom, ninguém ficaria no domingo pensando “ai, que saco, amanhã é segunda, começa tudo outra vez”. Essas subjetividades mostram que a insatisfação é o que predomina. Existem vários caminhos para mudar isso, e com certeza o do pessimismo não é um deles, nem o de ficar martelando em velhos jargões, fazer passeata em cima de carro de som, falando com termos que só nós mesmos entendemos. Isso não mobiliza e não comove ninguém. Acho que os movimentos políticos também têm que parar para reinventar suas práticas.

Como você acha que os movimentos sociais devem fazer para conquistar essas pessoas? Eu acho que temos que criar es-


Fotos: Caio Amorim

O preconceito linguístico é fortíssimo, ele é uma estratégia de poder”

não deve ser vista como antropologia culturalista, que essencializa e reduz tudo a uma cultura, sobretudo entendida como consenso.

A linguagem acadêmica acaba sendo uma forma de exclusão social também. O que você pensa sobre o preconceito linguístico? paços, fóruns, práticas para a gente ouvir as pessoas. A cultura é um grande caminho, como tem ocorrido no Sarau Bem Black, na periferia de São Paulo. O cara vai pra lá, sair, tomar o poder e ser eleito deputado? Não, não vai. Mas o que se constrói ali enquanto análise da realidade e possibilidade de luta? É do Bem Black, por exemplo, que está surgindo um movimento importantíssimo de resistência contra o que a Marinha está fazendo no Quilombo Rio dos Macacos. O que ocorre nesse quilombo pode ser a vitória também de Pinheirinho (SP), da Vila Autódromo (RJ) e de muitos outros lugares que lutam contra o mesmo processo. Não tenho receita de bolo, mas devemos criar esses espaços de disputa.

Você acha que os movimentos sociais estão distantes das pessoas? Acho que eles estão falando para um povo que já tem um grau de maturidade política ou de comprometimento com causas políticas consoli-

dadas. O desafio é falar para aquela pessoa que está em um trabalho precarizado, que chega em casa e vai assistir televisão – sua principal diversão. Acho que temos muito para aprender com a prática cotidiana desses sujeitos que não estão organizados, assim como temos muito a construir junto com eles. Enquanto a gente trabalhar apenas com quem já está organizado, é socialista, não tem contradição, não é racista, não é machista, acho que a gente não vai muito longe. A não ser que tenha uma crise revolucionária, uma revolta que incendeie tudo, que acho que não está muito próximo.

Você acha que através da antropologia é possível reavivar o estudo da história como espaço de militância? A antropologia traz elementos humanos para o estudo da história. Acho que a antropologia deve contribuir para o estudo da história através de métodos de pesquisa. Mas,

Ele é fortíssimo. Às vezes, os alunos escrevem de forma mais autoral e o professor diz: “quem é você pra achar alguma coisa?”. Os professores falam para eles que devem escrever ‘segundo tal autor’, ou seja, ele deve repetir a fórmula. São estratégias de poder. É um discurso de autoridade que se constrói a partir desse apagamento do subjetivo. Recusar a gíria, por exemplo, tem a ver com isso. A linguagem formal é considerada duradoura, portanto é inquestionável. Enquanto que, se você incorpora certas formas de falar, se coloca uma efemeridade também. São essas reflexões que eu estou buscando fazer na construção do meu livro [a ser lançado em breve, pela editora Malungo, a editora da Vírus] sobre o movimento funk. Enquanto pesquisadora e escritora, como resultado desse trabalho tenho a preocupação em repensar essas fórmulas de linguagem. Essa concepção que tenho sobre linguagem foi sendo construída a partir do meu contato com o funk. Foi o funk que me ensinou.

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minas gerais

TRADUÇÃO: “Transformamos florestas tropicais em minas e represas. Custe o que custar”

Para quem vale a Projeto da VALE para reabertura de antiga mina em Mariana (MG) causa polêmica entre a população da cidade Por Ana Malaco Na contramão do avanço rápido e ancorado em cifras bilionárias da indústria da mineração em Minas Gerais, o descaso das empresas com a população e com o local em que as mineradoras se instalam é alarmante. Uma dessas investidas é o projeto de reabertura da antiga Mina Del Rey, na primeira cidade do estado, a histórica Mariana. Insatisfeitos com a falta de explicações da Vale S/A, empresa (ir) responsável pelo projeto de reabertura da mina, moradores da cidade de Mariana vivem um momento de tensão. A área de extração da mina está localizada no manancial que abastece 30% de Mariana, a 1 km do Parque Estadual Arqueológico do 30

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Vale?

Gogô e a 4 km do centro histórico da cidade- e é ainda um mistério para a comunidade. O movimento Mariana Viva, organização da sociedade civil, a Câmara Municipal e até a Prefeitura da cidade se manifestaram contra a reabertura da mina e a atividade nos perímetros urbanos. Prevista para 2014, a reabertura da mina ameaça a qualidade de vida na cidade. A lista de consequências da falta de planejamento urbano e ambiental para Mariana é extensa e já faz parte da realidade local: verticalização das edificações, desenfreada especulação imobiliária, hiper-parce-

lamento do solo, problemas crônicos no beneficiamento e distribuição de água, saturação do tráfego de veículos e pessoas, sobrecarga do transporte urbano, insuficiência do setor de prestação de serviços – sobretudo saúde, alimentação e educação. A este quadro de visível sobrecarga das estruturas urbanas de Mariana soma-se o impacto ambiental, um dano ainda difícil de prever ao Patrimônio Histórico, e a atividade turística, indissociavelmente ligada à identidade e à vida desta tricentenária cidade. “Defendemos a mudança desse modelo de desenvolvimento econômico para se privilegiar a qua-


Pior empresa do mundo Após tantos impactos negativos ao meio ambiente em diversos países, a Vale recebeu o prêmio Public Eye (organizado por ativistas de todo o mundo) de pior empresa de 2012 - o cartaz à esquerda foi feito na época da votação no site. Empresas com a Syngenta, famosa produtora de agrotóxicos ficou para trás, perdendo o primeiro lugar para a Vale, que teve mais de 25 mil votos ao redor do mundo.

A empresa se transforma no maior entrave para o desenvolvimento socioeconômico dos municípios onde se instala.”

lidade de vida, o patrimônio paisagístico e a identidade mineira das cidades que nasceram entre as montanhas”, defende a socióloga e professora da Universidade Federal de Ouro Preto Giulle da Mata.

Cadê o projeto? Atualmente, a maior demanda das entidades que se opõem à reativação é que a Vale divulgue seu projeto de reabertura da mina. Os representantes da Vale, entretanto, afirmam que o projeto para extração seria realizado depois da escolha da terceirizada, prevista para o mês de outubro do ano passado. No entanto, a mineradora ainda não respondeu à população essas questões. Integrante da Sociedade REVIVERDE e cidadã marianense, Aparecida Oliveiro, não acredita que a Vale desconheça como será a extração no local da Mina Del Rey e questionou “como a mineradora prevê a reabertura para aproximadamente daqui a pouco mais de dois anos e não tem projeto para a extração? Nem sabe dizer como será feita? E quais os impactos na região?”.

lhões de toneladas de minério por ano com a reabertura da Mina Del Rey, e que o tempo de extração é de aproximadamente 10 anos. A empresa irá gerar cerca de 300 postos de trabalhos diretos.

Ao contrário do que a Vale afirma em seu discurso sustentável, a empresa vem se transformando no maior entrave para o desenvolvimento socioeconômico dos municípios onde ela está instalada. Um exemplo disso é o aumento do número da população. Pela falta Do bolo de US$ 68,5 bilhões em de mão de obra qualificainvestimentos previstos por grandes da nas cidades que a empresa atua, mineradoras para o Brasil até 2015, o a maioria dos empregos gerados são estado de Minas Gerais receberá mais para pessoas que não são da cidade. de um terço (33,6%), segundo o Ibram Em Mariana, somente no ano passa(Instituto Brasileiro de Mineração). Em do, as mineradoras atuantes na cidade 2010, Minas foi responsável por 49,4% receberam juntas aproximadamente no valor da produção mineral do país, 6000 empregados. Esse número reatingindo US$ 19,7 bi. presenta aumento de outros índices, como filas em hospitais, especulação imobiliária, natalidade, violência, entre outros.

>>

Os movimentos sociais enxergam a mobilização social como a única forma de impedir a reabertura da Mina Del Rey, no entanto alegam ainda é preciso conscientizar parte significativa da população. “Acredito na mobilização social e só assim vamos fazer com que empresas como esta recuem em suas estratégias prejudiciais a todos nós. Para a Constituição brasileira, o subsolo ainda pertence ao povo brasileiro, por isso a mineração precisa de concessão pública e deveríamos exigir mais impostos e retorno social pela exploração mineral. Se a Vale fosse realmente democrática deveria respeitar a população das localidades onde ela tem atividades. Parece que a empresa quer passar por cima das aspirações populares - um exemplo disso é justamente o que vem acontecendo aqui em Mariana, onde a empresa quer a qualquer custo reativar a Mina Del Rey”, concluiu o diretor do Sindicato Metabase dos Inconfidentes, Valério Viera. Vista de Mariana (MG) | Foto: Ana Malaco

Gerente Geral do Complexo Mariana/Vale, Rodrigo Melo informou que a empresa imagina ser possível extrair cerca de dois miVírus Planetário - ABRIL 2012

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internacional

Memorial Che Guevara | Foto: Lidiane Lobo

(re)conhecendo

Cuba

A experiĂŞncia de uma brigada de solidariedade na Ilha Socialista Por Lidiane Lobo e Rosilene Almeida


Entre os dias 22 de janeiro a 5 de fevereiro, diversas pessoas vindas de países como Chile, Brasil Uruguai e Argentina, reuniram-se em preparação à XIX Brigada Sul-Americana de Solidariedade a Cuba. Homens e mulheres de todas as idades e das mais diferentes origens. Em comum, a vontade de entender e vivenciar a experiência Socialista Cubana. É verdade que, no grupo, há pessoas que já participaram em brigadas anteriores. E a gente só entende isso quando já é hora de voltar para casa e se pega fazendo planos de voltar em breve. Na verdade, há algo naquela ilha que inspira os melhores sentimentos de qualquer pessoa. E nada desses papos de energia ou coisas do gênero. Estamos falando do sentimento de humanidade experimentado na prática.

As atividades A programação consistia na divisão de 2 grupos, A e B, que revezavam as atividades (o grupo do RJ ficou no segundo). Nos três primeiros dias ficamos hospedados no Hotel Las Yagrumas, em Caimito, área mais afastada da capital Havana. Participamos das boas vindas aos Brigadistas no Acampamento Internacional Julio Antonio Mella, que estava comemorando 40 anos de fundação

Somos porta-vozes de uma experiência que prova que é possível existir um lugar onde o ‘ser’ é mais importante que o ‘ter’”

e de um encontro com alguns dos seus fundadores. Neste mesmo dia outra atividade de “boas vindas” estava programada: a famosa “Noche Cubana”. Uma festa com apresentação de artistas da Ilha, regada a muita salsa e mojito. No dia seguinte todos de pé bem cedo para a visita mais marcante de toda a brigada: a ida ao Memorial Ernesto Guevara. A imponência do Memorial condiz com a figura de Che. Todo em mármore, com uma enorme estátua que talvez seja possível de ser vista de toda a cidade. Lá estão os restos mortais não só do herói guerrilheiro, como de vários combatentes que tombaram pela revolução. Na parte interna, a materialização da história. O museu guarda boa parte dos objetos pessoais que conhecemos apenas por fotos. Há também documentos, cartas que

retratam momentos inesquecíveis da vida, mas principalmente do papel revolucionário desse homem. Atrás do Memorial, há um pequeno cemitério, com o Pacto del Pedrero, de 1º de dezembro de 1958: “Unir es la palabra de orden. Juntos estamos dispuestos a vencer o morir”. Ir a Cuba e não visitar Santa Clara é uma perda incalculável. Porém, não podemos negar que, se fora da Ilha Che Guevara é a representação do ideal revolucionário, não podemos dizer que lá ele seja o único. O herói nacional é José Martí, cuja história é anterior à revolução de 58 e cujos escritos inspiraram e inspiram até hoje aquele povo. (José Martí lutou pela Independência Cubana da Espanha.)

Foto: Julia Franca

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Montagem com Jose Marti presente em exposição no seu memorial. “Sim, podemos!” Foto: Julia Franca

Claro que, como ninguém é de ferro, ganhamos uma tarde livre para aproveitar a praia, já que o alojamento ficava a inacreditáveis 45 passos da praia caribenha, segundo cálculo de um dos brigadistas!

Isla de La Juventud: o que acontece na Ilha não pode ficar só na Ilha! Nos dias seguintes embarcamos para a Isla de La Juventud. Para quem não conhece, esta ilha foi devastada, há alguns anos, por um furacão e não houve nenhuma vítima fatal. O mesmo furacão que deixou milhares de mortos e desabrigados nos Estados Unidos. Dar esta informação é importante porque, por conta disso, também há 5 anos eles não recebiam brigadistas e ainda encontramos a cidade sendo reconstruída. Neste tempo, fizemos o que podemos chamar de intensivão da revolução. Visitamos o Museu Municipal e o Presídio Modelo, construído antes da revolução como uma cópia fiel de um presídio considerado de segurança máxima nos EUA, onde Fidel ficou preso e escreveu “A História me absolverá”. (onde hoje é um Centro de Memória). Visitamos também um encontro dos CDRs locais (Comitês de Defesa da Revolução), que são organizações populares constituídos, de maneira voluntária, pelos moradores de cada quadra dos bairros, a partir de 16 anos. Estes coletivos discutem e deliberam políticas para o País, mas acima de tudo defendem os princípios revolucionários começando pelo seu bairro. Também visitamos as cooperativas de trabalhadores.

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Na volta ao “continente”, ocupamos as instalações do Acampamento. É hora do trabalho voluntário agrícola. Visitamos também, neste período, o Museo de La Revolución, recentemente restaurado, mas propositalmente deixado à vista as marcas de tiros feitas durante a invasão realizada por estudantes numa das primeiras tentativas de derrubar o governo de Fulgêncio Batista, onde ocorreu uma chacina desses revoltosos. O Museu, como o próprio nome já diz, conta a história da Revolução Cubana e seus personagens, já que é de lá que Fulgêncio Batista é obrigado a fugir (o prédio era o antigo Palácio Presidencial). A Brigada também ofereceu grandes debates, como as conferências que discutiram Democracia e Direitos Humanos em Cuba, Transformações Econômicas além de uma atividade sobre os 5 cubanos presos nos Estados Unidos, acusados de espionagem. Comum em todas elas, o sentimento de quanto as informações que recebemos aqui são manipuladas e parciais, e do quanto é necessário uma mídia livre e independente (viva a Vírus Planetário!). Para não perder o ritmo, a “Noche Surameri-

cana” foi a última atividade, onde os países presentes apresentavam sua cultura uns aos outros. Esta experiência é importante para todos os lados: para os cubanos é uma oportunidade de mostrar sua realidade, tentando se contrapor a toda lógica midiática dos países capitalistas que querem nos fazer acreditar que Cuba é uma sociedade falida. Para nós, é uma oportunidade de formação em todos os sentidos. É um país impressionante. Possui todas as contradições de qualquer sociedade, mas nos mostra a cada instante, a cada esquina, a cada olhar de seus habitantes e de suas crianças que outro mundo é possível. Uma sociedade que tenta formar seus cidadãos de forma plena; que coloca acima de tudo o bem estar de suas crianças e sua educação. A essa altura do campeonato, já nos despedindo da Ilha, dos amigos que fizemos, entendemos que a Brigada acaba e começa para nós uma nova tarefa: sermos porta-vozes desta experiência. Mostrar às pessoas que é possível existir um lugar onde nenhuma criança morre de fome, onde não há analfabetos e onde o “ser” é mais importante que o “ter”. E é aí que a gente se pega fazendo planos para voltar....

O que é a Brigada de Solidariedade a Cuba? A brigada tem por objetivo fornecer maior compreensão da realidade cubana, e a realização de jornadas de trabalho voluntário como aporte ao desenvolvimento agrícola e à esfera produtiva do país. Também conhecer como é um país socialista, pequeno, mas que brinda de solidariedade internacional, incluindo o Brasil. Neste ano, participaram 115 brigadistas brasileiros, que ao final do evento elaboraram um documento a fim de traçar uma rotina de trabalho de solidariedade à Cuba em nosso país. Cada país organiza os critérios de participação, através das associações responsáveis, partindo da ideia de que são vias de manifestar a solidariedade concreta com este povo, assim como conhecer mais diretamente o processo revolucionário, a história, a cultura, as tradições e conquistas sociais, além das dificuldades que a ilha atravessa. Ao todo são sete brigadas realizadas durante todo o ano, incluindo vários países do mundo, inclusive os Estados Unidos. Nota das brigadistas: quando recebemos o convite para escrever estas páginas, achávamos que seria possível dar conta de toda a informação. Ilusão nossa. Lemos e relemos o texto e percebemos que não só visitar a Ilha, mas participar da brigada, é uma experiência necessária a todos aqueles que acreditam que um outro mundo é possível. Portanto, se desejar participar também, entre em contato com a Associação Cultural José Martí, que é quem organiza as brigadas no Brasil. Contato: www.josemartirj.webnode.com


Enquanto isso, na sala de injustiça, o ministro de minas e energia, edison lobão já

e o ss o e sileir m o C bra a... o ux pové tro

está anunciando que o próximo leilão do petróleo brasileiro está próximo de acontecer...

Aê to Gale bl oc do m era, os und te te de o! S m pr a rr pet ão ae 1 r no óle 74 ma o, n r! a

...os empresários brasileiros e estrangeiros já começam a juntar a merreca pra comprar mais poços e ganhar muito mais dinheiro

m

vuuummm

Ma õõÊE ! Quem Quer pe tróleo? Entretanto, algo não esperado por lobão e seus comparsas ainda pode acontecer: O povo brasileiro tem que se mobilizar e Exigir:

“o petróleo tem que

ser nosso!”

Olha o desespero do lobão quando notar que seus planos diabólicos irão por água abaixo...

E aí??? Quer que essa história tenha um final feliz? Então, participe da campanha Em defesa do projeto dos movimentos sociais para o petróleo, com monopólio estatal, Petrobrás 100% pública e investimento em energias limpas.

NOVIDADE! Acompanhe a campanha e outras notícias pela TV Petroleira em www.tvpetroleira.tv

Notícias da campanha: www.apn.org.br Participe do abaixo-assinado: www.sindipetro.org.br

organização:


Educação não é

Mercadoria!

O SAERJ

Diga não a

e a Escola Pública:

o

SAERJ!

No segundo semestre de 2012, os alunos das escolas estaduais farão o SAERJ. Mas o que essa prova significa? Ela irá trazer algum benefício para as escolas e para os profissionais da educação? A resposta é: infelizmente NÃO!

Mas os professores não são obrigados a aplicar essa prova. Ela será utilizada como instrumento do Plano de Metas somente em 2013. E o que o governo não está dizendo é que o tal 14º salário somente será pago às escolas que atingirem TODOS os itens do Plano de Metas. Todos os ganhos que recebemos foi graças a nossa luta e mobilização! Com a nossa greve de 2011 garantimos o Plano de Carreira para os funcionários e Professores de 40h, enquadramento por formação, incorporação do Nova Escolas e etc. Só a nossa luta tem garantido vitórias.

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Os professores NÃO têm medo de avaliação. Mas uma avaliação que não leva em conta a realidade da comunidade escolar, que não foi realizada a partir de um projeto formulado pela categoria é, no mínimo, autoritária. Além disso, é uma tentativa de mascarar o resultado do Rio de Janeiro no Ideb nacional

anos

Professor, não use essa prova como avaliação de sua disciplina! Não permita que seu aluno seja prejudicado!

Vamos juntos, pais, alunos e profissionais da educação, lutar por uma verdadeira Escola Pública de Qualidade!

Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro

www.seperj.org.br


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