virus planetario_9 edicao completa

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porque neutro nem sabonete, nem a Suíça edição nº 9 março/abril de 2011

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O R io d e Ja n ediro.o..

co nt in u a li n

Operação do milhão

Como transformar uma operação que viola direitos dos moradores de favelas em um sucesso de crítica e público

Ronaldinho Gaúcho

ENTREVISTA INCLUSIVA com

e a mercantilização do futebol. Saiba como dribles viraram dólares e euros

Traço explosivo contra os podres poderes

Carlos Latuff


Afinal, o que é a Vírus Planetário?

Por Rafael Manaia

Muitos não entendem o que é a Vírus Planetário, principalmente o nome. Então, fazemos essa explicação maçante, mas necessária para os virgens de Vírus Planetário: “Há 400 mil anos, nos tornamos Homo Sapiens. Desde então, nos diferenciamos uns dos outros”. Revista Vírus Planetário. Jornalismo pela diferença, não pela desigualdade. Esse é nosso lema. Em nosso primeiro editorial, anunciamos nosso estilo; usar primeira pessoa do singular, assumir nossa parcialidade, afinal “Neutro nem sabonete, nem a Suíça.” Somos, sim, parciais, com orgulho de darmos voz

a pessoas excluídas, de batalharmos contra as mais diversas formas de opressão. Rimos de nossa própria desgraça e sempre que possível gozamos com a cara de alguns algozes do povo. O bom humor é necessário para enfrentarmos com alegria as mais árduas batalhas do cotidiano. A humanidade é o vírus do homem, e o homem é o vírus do planeta. Daí, vem o nome da revista, que faz a provocação de que mesmo a humanidade destruindo a Terra e sua própria espécie, acreditamos que com mobilização social, uma sociedade em que haja felicidade para todos e todas é possível.


Sumário

Editorial De ventos novos e ventos antigos Sopram ventos novos dos países islâmicos; é assim que gostaríamos de começar nosso editorial, mas somos impedidos pela tradicional (embora dificilmente usada atualmente) cautela jornalística. Como mostra a reportagem “A luta no Egito não acabou”, é uma ilusão pensar que a queda do ditador é o fim desta história. Novos ventos devem surgir da implantação de um novo governo civil, que pode ou não responder às demandas das ruas e mudar toda a conjuntura do Oriente Médio. O velho discurso do novo A mídiazona aliada dos governos estadual e municipal faz parecer surgir algo de novo na segurança pública do Rio de Janeiro, com a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e a invasão do Complexo do Alemão. Somos contra a visão de que essas medidas pontuais (apoiadas pelo governo federal, lembremos) representem mudança significativa. O problema não está só na violência, mas principalmente nas condições que permitem sua permanência. O Rapper Fiel, morador da Favela Santa Marta, mostra como a chegada das UPPs e o que se chamou de “reconquista de território” ou “entrada do Estado” acaba resultando no encarecimento da moradia, alimentação e serviços na favela e, portanto, contribui para perpetuar a exclusão social quando moradores são obrigados a deixar suas casas. Investigamos o que foi chamado pelos próprios moradores das favelas de “Operação do Milhão”, as incursões policiais no Alemão, Vila Cruzeiro e Parque Proletário da Penha, que na Operação Guilhotina, teve o velho jogo político exposto por detrás delas. Envolvido nos dois temas, encontra-se o cartunista Carlos Latuff, que teve suas charges levantadas por manifestantes egípcios nos protestos. Crítico ferrenho à política de ‘insegurança pública’ do atual governo fluminense, o desenhista fala desses e outros assuntos na entrevista inclusiva desta edição “Rio 2016, é nóis!” Esta edição também traz uma volta ao Haiti, que há um ano viveu momentos de terror com um terremoto que devastou parte do país. Será que a situação mudou muito? É o que tentamos descobrir. Desmascaramos também a mercantilização do futebol, afinal, Copa do Mundo e Olimpíadas estão chegando e o povo brasileiro precisará abrir os olhos diante de tanta riqueza se aproximando. O que pode estar por trás de negociações milionárias? O que pode mudar na vida da população? Por enquanto, o que podemos ver e perceber é a alta nos preços. Será que em na Olimpíada o pão vai custar 2016 reais? Relatamos, entre tantos outros assuntos, uma tocante história sobre aborto. Religião e filosofia à parte, saúde pública é o ponto-chave do debate. Tudo isso e mais nessa nona edição!

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Cá entre nós... Muito além da UPP

5 Paulo Piramba_ “A culpa é do povo” 6 O Sensacional Repórter Sensacionalista 7 Passatempos Virais 8 Esportes_ Mercantilização do futebol 10 Bula Cultural_O Canecão é nosso! 12 O que pensa a grande imprensa?_ Entrevista_José Arbex Jr.

13 Sórdidos Detalhes_Trovão 14 Mundo_A luta no Egito não acabou 16 Tropa 2_ Novos Inimigos, velhos problemas 18 Mundo_Haiti 20 Entrevista Inclusiva_Carlos Latuff 24 Perfil_A inspiração do Horto 25 Oswaldo Munteal_Arquivos da ditadura 26 Rio de Janeiro_ Operação Mentira 29 Direto de Brasília_ Elas decidem 30 Bola e arte_ O Dinheiro e o Conto do vigário

EQUIPE: Editores: Caio Amorim, Mariana Gomes, Seiji Nomura, Vinícius Almeida e Artur Romeu Redação: Rio de Janeiro - Artur Romeu, Caio Amorim, Daniel Israel, Mariana Gomes, Seiji Nomura, Maria Luiza Baldez, Kalindi D’Elia e Vinicius Almeida | São Paulo - Carlos Carlos Brasília - Thiago Vilela Diagramação: Caio Amorim e Mariana Gomes Ilustrações: Clóvis Lima (capa), Carlos Latuff e Rafael Manaia Colaborações: Rodrigo Rodriguez, Paulo Piramba, Silvana Sá, Emerson Fiell, Tatiana Lima e Oswaldo Munteal Apoio: ADUFRJ e SINDIPETRO-RJ Agradecimentos: NKP, MC Leonardo, Mano Teko e Juninho Adicione-nos no Facebook:

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Esta é a edição digital

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cá entre nós

RAPPER FIELL Emerson Fiell é rapper, cineasta e morador do morro Santa Marta

Muito além da UPP A limpeza étnica em torno dos enclaves fortificados dos ricos. Há mais de dois anos da implantação da UPP (Unidade de Policia Pacificadora) no morro Santa Marta, Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro. O que melhorou? Aqui apresento uma ótica de quem vive lá. Falo além da UPP, porque me lembro de toda a campanha midiática em prol do projeto, chamada de “revolução”. Isso fez até os próprios policiais acreditarem que eles realmente são revolucionários.

por dia, total de 210 em 30 dias) terá que desembolsar a quantia de: 875,00 reais. Vale lembrar que o salário mínimo é de R$ 530. Eu não incluo comprar leite, gás de cozinha, remédio, roupa, pagar conta de luz, TV a cabo etc.

Até as olimpíadas, onde estaremos?

Até a chegada das Olimpíadas, não sei Será um desafio para todos os moradose estaremos aqui no morro Santa Marta. res permanecerem, pois Santa Marta e a Hoje, mais do que nunca, temos um cusárea em volta está virando um território de to de vida muito caro. A nossa conta de negócios para a especulação imobiliária. luz chega com valores aleatórios. No mês Vejo um outro morro diferente do que estapassado eu paguei R$50, sem ninguém fiva acostumado, onde moram estudantes car em casa, pois de classe média trabalhamos o dia e estrangeiros e todo fora. NesO Santa Marta está onde há disputa se paguei R$ 45. para alugar um virando um território Tenho conhecibarraco de dois mento que alguns de negócios para a metros quadrados moradores estão especulação imobiliária.” pela quantia de pagando R$ 80, R$ 350. Vejo bar R$100. Cadê a tase transformando rifa social? em república, vejo bares tendo que se Sutilmente, estão “higienizando” a faadaptar à tendência de ser empreendevela, sem que a totalidade dos moradores dor. Vejo as marcas excedentes de bebiperceba. A mídia pulveriza a mente do tradas alcoólicas nesses bares, em troca de balhador com o slogan de favela modelo e cadeiras e mesas. Vejo também muitos que temos que agradecer ao santo Sérgio comércios agonizando para resistir à morCabral, governador do Rio de Janeiro. O te, demitindo funcionários e aumentando Presidente Lula veio ao morro Santa Marseus preços. ta em setembro de 2010 e propagou que Fiz uma pesquisa e constatei que para temos que esquecer o nome favela, pois nós trabalhadores e moradores das faveesse já passou e é feio. Mas ninguém colas da Zona Sul, para sobreviver só com menta a omissão do poder público com esses quatro itens: aluguel (R$ 350 menrelação aos moradores do pico do morro. sais), café da manhã (R$ 3,50 por dia, total Lá não chegou absolutamente nada de de R$ 105 em 30 dias), almoço (R$ 7 por urbanização. Toda essa transição benefidia, total de 210 em 30 dias), jantar (R$ 7 ciou alguém: os enclaves fortificados dos

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Por Emerson Fiell

ricos. Esses estão felizes da vida, com o aumento dos seus imóveis, de R$150 mil para R$300 mil e R$ 400 mil etc. Hoje não podemos realizar o baile funk no morro, mas os blocos de fora do morro fazem seus eventos aqui e fazem o que bem entendem. A UPP também faz suas festas, e não tem nenhum problema. Por que isso? Cadê a melhoria que falaram tanto na TV Globo e nos outros meios de comunicação? A Globo viveu ineditamente 30 dias aqui no Santa Marta durante o dia para mostrar as “mudanças”. Mas nunca nos deu voz. Agora, existe uma algo que eu também reconheço: diminuíram as armas nas mãos dos civis e hoje não ouvimos mais tiros a esmo. O número de mortes com armas letais reduziu. Isso é muito bacana e é direito nosso, já que no Brasil não vivemos uma guerra. Porém, sabemos quem bota essas armas nas mãos dos consumistas do tráfico. E não é morador de favela não. Já estamos em 2011, e houve pouquíssimas melhorias coletivas no Santa Marta. Sim, medidas paliativas sim, isso chegou e irá chegar sempre. Eu me refiro a mudanças revolucionárias, onde o povo poderá viver de forma igualitária, com mais saúde, moradia digna, alimentação de qualidade. Isso não chegou e vai além da UPP. Faço uma convocação para todos os trabalhadores que querem residir nas favelas, principalmente da Zona Sul. Vamos nos organizar porque as remoções vão vir e toda nossa historia irá virar mais um livro para sociólogos e pesquisadores que não moram em favelas.


PAULO PIRAMBA Paulo Piramba, é engenheiro, ambientalista e membro da Rede Ecossocialista Internacional

“A culpa é do povo”

A hipocrisia dos governos em culpar os moradores de áreas de risco por sua própria tragédia se repete na tragédia da região serrana do estado do Rio

Por Paulo Piramba Sérgio Cabral voltou de férias culpando a natureza e o povo, e eximindo-se de culpa. No Rio de Cabral, a tragédia de hoje é a ante-sala da do ano que vem. Os mortos de 2010 já foram esquecidos; os de 2011 também serão. A eles o governador dedica algumas lágrimas de olho seco, para logo depois avisar: se fizer “ocupação irregular”, a casa cai!

Ilustração: Waldir Diniz

infinito, a qualquer preço. Neste começo de ano, esse preço se conta em mais de 800 mortos e 460 desaparecidos, até quando escrevo este artigo.

Toda tragédia ambiental traz consigo, além do número cada vez maior de vítimas, a ladainha das “ocupações irregulares”, repetida por governantes e grande mídia, onde os mais pobres são culpabilizados pela sua própria morte. Isto esconde a falta de uma política habitacional que, além de dar moradia digna para todos os moradores das cidades, leve em consideração a necessidade de adaptá-las aos efeitos das mudanças climáticas.

Os mais pobres são expulsos das áreas ‘nobres’ e confinados em territórios precarizados social e ambientalmente.

As cidades do capital, como tudo o que ele toca, são voltadas para a reprodução do lucro. Desrespeitam o território onde foram construídas, e passam por cima dos limites dos ecossistemas de que fazem parte. A maneira como são ocupadas, e para onde crescem, não é determinada pela necessidade de seus habitantes, mas pela especulação feita com seu território. O valor desses territórios não é o da necessidade real da maioria de seus habitantes, mas o valor que o mercado atribui a eles. Os mais pobres são expulsos das áreas

“nobres” e confinados em territórios precarizados social e ambientalmente. Quando essa divisão de espaço começa a esgotar sua capacidade de extrair lucros, novos espaços são “eleitos” pelo mercado, e a especulação se realimenta.

Há alguns anos, os ecologistas alertam sobre a intensificação dos extremos climáticos, por conta das mudanças no clima. Nós, ecossocialistas, apontamos o capitalismo como responsável, e afirmamos a necessidade de se mudar o sistema, para não mudar o clima. Infelizmente, a ficha ainda não caiu! Dentro das organizações de esquerda, ainda somos poucos os que conseguimos nos desvencilhar da sua tradição desenvolvimentista. O fetiche do progresso faz com que nossos projetos, alternativos aos da classe dominante, repitam o mesmo modelo de crescimento

É claro que não ficamos insensíveis diante do sofrimento das pessoas. Mas, ironicamente, a maioria de nós acaba repetindo o mesmo método ecocapitalista de separar a “grande política” das questões ambientais. Ficamos consternados com as tragédias anuais, mas aceitamos ligar nosso futuro como país à exploração do pré-sal, o que vai aumentar ainda mais a emissão de CO2. Para disfarçar essa contradição evidente, criamos o “Co2 de esquerda”, aquele que também vai parar na atmosfera, mas vai gerar recursos para educação, saúde, habitação, etc. Moramos nas cidades, mas nossa política e prática têm pouco a ver com elas. Com os olhos nas grandes questões da humanidade, ficamos cegos ao que está em torno de nós, as grandes e pequenas contradições cotidianas da classe que representamos. As violências do capital contra os mais pobres – seja a policial, de gênero, de raça, de orientação sexual, de geração, de classe ou ambiental – acabam sendo tratadas de forma estanque, como interessa ao capitalismo, ou, o que é pior, naturalizadas por nós. Nosso desafio é construir pontes que unam estas questões. Além de descriminalizar a pobreza, é necessário desculpabilizá-la pela sua própria morte.

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Por Vinícius Almeida e Caio Amorim

*Improvável, mas não impossível.

Só tomando cogum elo mesmo pra falar tanta merda

Patrícia Kogumelo CONTROLE

REMOTO

O Aprendiz - Caveira estreia em maio Nunca serão! Como na brilhante Operação das favelas, invadimos como um caveirão as preparações da primeira versão do reality show: “O Aprendiz - Caveira.” A onda de realities shows na TV brasileira não para! Era de se esperar que um meio de comunicação recheado de coisas modernas e interessantes cada dia nos surpreendesse com novidades e mais novidades nessa área, que ainda tem muito a render. Descobrimos o próximo sensacional reality da Rede Bobo que promete deixar o BBaBaca e o Curral no chinelo, ou melhor na cova! Vamos pensar galera, todo mundo está vendo na TV como agora no Rio de Janeiro não há apenas um Capitão Nascimento fictício, mas sim centenas de heróis brasileiros adentrando território inimigo para acabar com o mal. Mas o que o novo programa vai mostrar é que um homem comum também pode ser um soldado do BOPE. Nesse país em que tudo é possível, agora o filho do pedreiro também vai virar matador! (Ops!) Herói do BOPE, quis dizer! É isso mesmo galera! O programa “Nunca serão!” vai mostrar a incrível realidade dos heróis do BOPE com a participação do ex-capitão Rodrigo Pimenta Nos Olhos do Pobre é Refresco, grande inspirador do Nascimento dos cinemas. Ele vai voltar à ativa e fazer um programa de treinamento ao vivo com novos recrutas. No final apenas um será eleito novo soldado e como prêmio pode matar pobre à vontade e ainda ganhar uma estrelinha. Vai valer a pena ver e se emocionar com esse novo sucesso!

Para a criatividade de Boninho e dos produtores do Big Brother Brasil 11 para a prova do líder do frango assado. Numa divertida brincadeira, os participantes fingiam ser frangos assados para promover uma marca de tempero. Nossos heróis se revezavam num forno em tamanho humano inteiramente cobertos com um saco plástico. Muito divertido!

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Para os chatos de galocha de plantão na internet que falaram mal da prova dizendo que “Hitler ficaria orgulhoso do BBB” e que foi “tortura”. Esse pessoal não tem senso de humor! Gente, foi só uma brincadeira, tudo pra essa gentinha dos “direitos humanos (que mais parece direitos de bandidos) é “tortura”. Fala sério! Só falta agora quererem censurar o Big Brother com os tais Conselhos de Comunicação. Xô censura!

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Sério Canalha,

governardor do estado do Rio, foi convidado para participar da prova de abertura do reality show e deu algumas dicas para os competidores do programa.

O reality também exigirá dos competidores habilidades no computador para testar a inteligência policial dos participantes

Um dos aprendizes mostra bastante macheza a Caveira na prova de pegar a bolinha

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Nesta

segunda, vai ao ar no Jornal MultiNacional a série de reportagens investigativas feita pelo coleguinha César Tralha sobre os policiais presos pela Operação Guilhotina que foram injustamente condenados a cumprir a pena de serviços comunitários. Na foto vemos o inspetor da polícia civil, nosso grande Trovão, cumprindo suas horas de serviço comunitário. “Tenho muita saudade do meu Môzão (como chama seu fuzil AR15 de estimação)”


PASSATEMPOS VIRAIS

Por Caio Amorim

Ligue os pontos

e descubra as conexões periculosas *algumas paradas têm bônus interligados em conexões mega periculosas. Percorra o pontilhado e seja feliz.

Ligue os pontos e descubra quem é o orgulho de Hitler no Brasil

... Chico Buarque, que no palanque falou que o governo petista não fala fino com Wahington nem fala grosso com La Paz e Caracas. O músico é irmão da...

... Dilma Rousseff, cuja campanha eleitoral foi apoiada por diversos artistas como...

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... O Inspetor da Polícia Civil Leonardo da Silva Torres, o Trovão, adorado pela mídiazona após participar da matança no Complexo do Alemão em 2007 e no final 47 de 2010, e preso recen48 gui49 46 temente pela operação lhotina da PF. Trovão usava farda igual 50 45 aos fuzileiros navais americanos e fez 51 44 um garimpo de grandes valores em uma 43 área empobrecida tal qual fez...

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meses, fez 5 e, durante 3 ... Ronaldo, qu , segundo go en 6 am 4 ção no Fl assinou e sua recupera o,” çã ra 7 32 be do co menla “F ele seu “clu 1 lo pe thians i- 8 com o Corin proposta of ito fe r te 9 o go nã berem de todos sa 10 cial”, apesar contrato da de o in rm té que o 11 fez com que a, Fl o m Nike co 12 13 o Timão que m co se as R9 fech ado pela cin tro 14 pa é até hoje gaericana. O jo 15 empresa am do a ente, acim dor, notadam , 16 ra ei ou sua carr peso, encerr s e chaica m lê 17 po repleta de o por muimado de gord ive... 18 us ta gente, incl

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E por falar em mercenário, Sylves ter Stallone , depois de fil mar durante meses no Brasil, o filme “Mercenário s”, declarou: “lá você pode explodir o país e eles ainda dizem ‘obrigado, e aqui está um macaco para você levar para casa”. O Sa lafrário abusou de nossa hospitalidad e e cuspiu no pr ato que com eu tal qual fez.. .

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... o ex-presid ente Lula, ex-sindicalista, exmilitante de esquerda qu e consegui u em 2010 fa zer sua suce ssora...

...nova ministra da cultura, Ana de Hollanda que, ironicamente, fala grosso com o pessoal pró-copyleft e fala fino com o ECAD, órgão recolhedor de direitos autorais que arrecada um dinheirão, assim como fez, no Complexo do Alemão, ...

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... George Clooney, no filme “Trê s Reis” em que Mark W ahlberg, Ice Cube, junto com ele, interpretam mercenários...

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o” exercida ... “Profissã a pelo em ri st ae m com ão de Rom ir e io presár is aúcho, Ass naldinho G

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esportes

R10

Por Vinícius Almeida e Caio Amorim Como qualquer flamenguista apaixonado, é impossível esconder uma felicidade pelo mega-craque estar em nosso time. Entretanto, se por um lado vivemos uma euforia inexplicável, é necessário dimensionarmos que o futebol é uma paixão, linda e emocionante, mas completamente irracional. Podemos e vamos comemorar todos os dribles, gols, vitórias e campeonatos de Ronaldinho Gaúcho e Thiago Neves, mas não podemos nos esquecer do lado obscuro dessas contratações. Tal qual um item raro, o Flamengo arrematou R10 em um leilão completamente fora dos padrões éticos (já não tão rigorosos) do capitalismo. Não podemos nos esquecer do principal responsável pelo sucesso do Flamengo na negociação, a empresa Traffic. Dos R$ 2 milhões mensais a serem pagos em salário, a Traffic arcaria com R$ 1,2 milhão e o restante, viria de participação em ações de marketing do clube. Em troca, a Traffic deve coordenar a exploração da imagem de Ronaldinho e, possivelmente, receberá “royalties” da venda de camisas do craque. Numa rápida pesquisa sobre a empresa em seu próprio site, temos uma noção de quão poderosa ela é. Além do marketing esportivo (atividades como venda e empréstimo de jogadores), também detém direitos de transmissão, patrocínio de diversos campeonatos ao redor de mundo, e recentemente, vem

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o ã ç a z i l i t n a c r e eam

l o b e t u f o d

Como a transação milionária que repatriou Ronaldinho Gaúcho ao futebol brasileiro mostra para que serve, de fato, uma economia “estável”.

comprando afiliadas da TV Globo pelo interior paulista (como a TV TEM que atinge 318 cidades). Por isso, analisando friamente, é difícil não ser crítico a uma empresa que está concentrando tanta riqueza às custas da mercantilização do jogador de futebol e de muitas ilusões de ex-futuros jogadores, mesmo que ela ajude seu time a contratar um

“Tudo indica que o povo brasileiro não terá qualquer retorno dos bilhões movimentados pelos grandes eventos.”

dos maiores astros do futebol. Também não podemos deixar de perguntar: como o Flamengo não pagou sua dívida, o que garante tanto crédito e confiança do Assis (empresário e irmão levado mais velho do R10) para trazê-lo ao Brasil? A resposta é essa mesma: crédito! Anunciada como um dos países emergentes mais atraentes para os mercados internacionais do momento, o Brasil alcançou no governo Lula um status invejável de economia a ser investida. Só é possível acreditar que Ronaldinho terá seu salário pago porque a economia brasileira ampliou o poder de compra dos torcedores, mas não só isso.

Após a crise das hipotecas nos Estados Unidos de 2007-2008, diversos países mergulharam numa recessão sem tamanho, que geraram diversas mobilizações, especialmente na Europa, e uma profunda crítica ao modelo neoliberal de Estado. No entanto, recentemente na Grécia (um dos países cujo povo mais sofreu consequências da crise) aprovou um pacote de medidas tradicionalmente neoliberais, como aumento da idade mínima para aposentadoria e outros cortes para reduzir o gasto fiscal. O povo italiano também sofre com os ditames do capitalismo mundial e o governo de Silvio Berlusconi já opera mudanças em sua equipe desgastada pela impopularidade. Berlusconi também é presidente do Milan e isso não é uma mera coincidência com a vinda de R10 para o novo continente. Vendo seu principal investimento nos últimos anos não ter mais mercado consumidor para sustentá-lo, reconheceu que era hora de vendê-lo para reduzir os danos. Mesmo assim o natural era que Ronaldinho fosse parar no futebol inglês, talvez o campeonato dos EUA etc. Só que a crise na Itália gera falta de crédito em toda Europa e afeta todo o mundo. A imprensa europeia tenta desviar o foco, como uma família falida comendo caviar, chamando o campeonato brasileiro de “Cemitério de Elefantes”, como falou o diário espanhol “Sport” em janeiro deste ano. No caso de Ronaldo e Roberto


Bula cultural algumas recomendações médico-artísticas

Paiol Cultural Por Mariana Gomes

Ilustração: Carlos Latuff

Carlos para o Corinthians, talvez. Porém tanto Ronaldinho, quanto Thiago Neves, Fred no Fluminense, e antes Adriano Imperador e Robinho que são jogadores com muitos anos pela frente de carreira, fazem dessa tese insustentável. Mas nem tudo são flores na terra do samba. Ao mesmo tempo em que vemos Ronaldinho de volta ao Brasil, não vemos. Os principais estádios estão sendo reformados para a Copa do Mundo e terão sua capacidade diminuída bruscamente. Por exemplo, o Maracanã, antigo maior estádio do mundo, abrigará apenas 60 mil torcedores após reforma que custará aos cofres públicos mais de R$1 bilhão (dinheiro que poderia ser usado com muito mais urgência na prevenção de tragédias como a da região serrana). Não há dúvida que com a “melhora” econômica brasileira, os ingressos para os jogos serão cada vez mais caros. De forma alguma observamos o discurso de prosperidade no futebol associado a um projeto educacional, e tudo indica que o povo brasileiro não terá qualquer retorno dos bilhões movimentados pelos grandes eventos. Enquanto isso, “Eikes” da vida continuam dando “orgulho” para o Brasil chegando perto dos homens mais ricos do mundo e clubes como o Flamengo com grandes astros. Por décadas vimos na Espanha, Portugal e Itália o gozo de ter o futebol mais rico e valorizado do mundo e agora é lá que o povo vai às ruas cobrar sua fatura. Será que o brasileiro vai um dia cobrar a sua?

O Paiol Cultural é Fotos: divulgação um projeto que trabalha a cultura como instrumento de transformação, tornando o fazer artístico mais acessível. Suas ações estão voltadas para a redução da dificuldade de acesso a bens culturais e para o desenvolvimento da economia da cultura local. O objetivo é trabalhar pela democratização do acesso à cultura nos municípios do Leste Fluminense do Rio de Janeiro e prestar serviços que desenvolvam a economia da cultura nestes locais, proporcionando desenvolvimento local e sustentável. O Paiol não enxerga a cultura como um produto, e sim nas possibilidades de desenvolvimento da capacidade crítica e reflexiva através da arte. Uma das idealizadoras do projeto, Jéssica Santos, explica que o projeto nasceu do incômodo que sentia por morar em uma cidade considerada “dormitório” e quase sem opções de lazer para além da indústria cultural. “Conheci artistas e produtores culturais que lutavam para realizar seus projetos e, ao mesmo tempo, um público enorme carente de opções. Com o intuito de criar um espaço para os artistas divulgarem os seus trabalhos e, ao mesmo tempo, uma oportunidade para o público entrar em contato com várias linguagens artísticas de forma gratuita, nasceu o projeto do Paiol Cultural” - descreve Jéssica, que é moradora de São Gonçalo. O projeto lançará um site em fevereiro (www.paiolcultural. com.br) e além de notícias e agenda do projeto, será atualizado com informações sobre produção cultural, eventos culturais gratuitos ou a preços populares, discussões sobre políticas públicas culturais, divulgação de artistas e instituições culturais. A ideia é que o Paiol torne-se, futuramente, um chamado “negócio social”. “Estamos estudando para que no futuro sejamos o que se chama de negócios sociais, ou seja, uma organização que gera impacto social e ao mesmo tempo seja auto-sustentável. Por isso trabalhamos com prestação de serviços, tanto na área de produção cultural como na de assessoria de comunicação” - explica Jéssica.

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Bula cultural

algumas recomendações médico-artísticas

Para transborda r

cultura

Reconquistado, após anos de luta dos movimentos da UFRJ, o objetivo é de transformar o antigo Canecão em um espaço público, cultural e popular.

Por Maria Luiza Baldez e Mariana Gomes* Foram 39 anos de luta na justiça antes que a UFRJ pudesse encher o pulmão para gritar: “O Canecão é nosso!”. A casa de show, que fica em Botafogo e funcionava como uma instância particular, foi finalmente reintegrada à universidade. A determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), de maio de 2010, foi cumprida no final do ano passado, quando ocorreu a entrega das chaves aos novos responsáveis. Depois de reconquistar a área do ex-Canecão, a UFRJ foi surpreendida com a decisão favorável da Procuradoria Regional Federal que, no dia 19 de outubro do ano passado, fez o pedido de imissão de posse também do espaço do antigo bingo, que, agora, volta a ser administrado pela universidade.

Pela democratização da cultura

O que o Canecão descumpriu?

Os custosos ingressos fazem parte do passado. “A intenção é que agora o local se torne público, cultural e popular”, destacou, Kenzo Soares, representante do Diretório Central dos Estudantes Mário Prata (DCE da UFRJ). O destino do ex-Canecão e do ex-bingo já está na pauta de discussão. No dia 17 de dezembro, um documento de trabalho foi apresentado pelo Comitê Técnico do Plano Diretor (CTPD) para iniciar os debates sobre novas propostas para o local. Este renasce com o nome de Arena Minerva de Música e Arte (AMMA). O projeto está sendo formulado seguindo o princípio de respeito ao caráter público do espaço, o que significa que as atividades serão voltadas à promoção da diversidade e da manifestação da cultura, sem restrição econômica.

Originalmente cabia ao grupo Priolli, detentor do Canecão, pagar uma quantia mensal – cujo valor a Administração Central da universidade não divulgou - à UFRJ como aluguel do espaço. Com o tempo, o Canecão deixou de pagar este aluguel e a UFRJ, ao fim do primeiro contrato de 10 anos, requereu a administração do imóvel. Foi o início de uma briga morosa na Justiça. As idas e vindas fizeram a UFRJ fechar um novo contrato, com um novo valor, que novamente foi descumprido no tocante ao repasse das verbas. O caso foi mais uma vez para a Justiça e resultou em longos anos de espera, com todas as decisões judiciais favoráveis à UFRJ. A cada decisão, mais recursos, até que o STF pôs fim aos 39 anos de briga.

A versão preliminar do documento, já publicada, determina que a Arena deve se comprometer com a juventude, inclusive e especialmente os estudantes de escolas públicas, para lhes integrarem ao projeto. O objetivo é fazer com que a AMMA funcione como um pólo de promoção à cultura e de inserção da população em geral. , especialmente as camadas que tradicionalmente não têm acesso à cultura. Seria um meio de inserir as pessoas num outro contexto, numa nova dimensão de vida. Uma forma de democratizar a cultura hoje tão restrita. O espaço também deve

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ser visto como uma escola de formação de profissionais para a produção de eventos. A diretoria da Associação dos Docentes da UFRJ (Adufrj-SSind) acredita que a proposta não-comercial do espaço está bem definida, porém, as sugestões para a forma de gestão ainda são insuficientes e devem ser melhoradas. A mobilização dos estudantes e a participação dos sindicatos da UFRJ foram de vital importância para a conclusão do processo. O presidente da Adufrj-SSind, Luis Eduardo Acosta, acredita que esta é a oportunidade para um trabalho “político cultural inovador com forte impacto na sociedade”. Para ele, os espaços de caráter público devem servir a toda sociedade, convidando ao palco movimentos sociais e núcleos de atores realmente comprometidos com a democratização da cultura.

*colaborou Silvana Sá

Estudantes na manifestação pela volta do Canecão à UFRJ


Indicações Blog “Filmes Políticos” Uma nova mania toma conta da galera “Cult bacaninha” na internet. O Blog www.filmespoliticos.blogspot.com disponibiliza mais de 250 filmes de ticos) com realmente alguma diversos gêneros (não só os polí art como “O pequeno solGod de coisa para contar. Clássicos rra s como “Notícias de uma gue dado”, documentários famoso ate deb o o com TV, na s ntaçõe particular” até históricas aprese de 1989 recheiam esse site de lor Col x Lula re ent l ncia preside aos filmes estão com boas grav diversidade e cultura. Todos ! ções e legendas. Super-dica heim os aqui na bula estão dispoicam ind que es film dois Aliás, os . níveis para download no blog lmespoliticos.blogspot.com Acesse para baixá-los: www.fi

“Ao sul da fronteira” e tem O renomado diretor Oliver Ston es de film des gran lo em seu currícu órias hist tam con pre sem ficção que da sul “Ao do mundo real. Mas foi em stas revi ent a o mei fronteira” que, em Américom diversos presidentes da produa um com u stro mo na Lati ca olhar um ples ção relativamente sim re a sob al ndi mu e o ican te-amer alternativo para o público nor o ern gov pelo ida mov pro , mal o falsa dicotomia entre o bem e

Contraindicações Engenhão Após o início das obras para a Copa do Mundo no Mar acanã, o que restou para o torcedor do Rio de Janeiro foi aturar o Engenhão (ou Vazião). Seu acesso principal é pelo trem do Rio, que é igual o trem-fantasm a (um horror!). Sua capacidade é bem menor que o Maracanã, e são pouquíssim os os ingressos mais populares (que tam bém são salgados). Para piorar, sua arquitetura fragmenta a torcida de tal man eira que fica difícil chamar quem vai ao estádio de torcedor. Somos no Engenh ão, no máximo, espectadores chatos e cho chos.

dos EUA. , véz, Evo, Kirchner e até Lula Mostrando diferenças entre Cha tem tico alís o seu trabalho jorn Stone deixa também claro que a” não é um filme anti-EUA, teir fron da sul lado e opinião. “Ao s imprensa mundial sobre esse mas sim contra as mentiras da imu Vale ão desses presidentes. países e pela direito de express to a pena conferir!

“Cidadão Boilesen” o documentáDirigido por Chaim Litewski, ning Boilesen, Hen de rio remonta a história o no Brasil icad rad ês rqu ama empresário din , itar financiou que, durante a ditadura mil na sede da ura tort e assistiu a sessões de assassibou aca e DI) -CO OBAN (depois DOI armada. luta pela o feit o ent içam just nado no e trilha sonora Com uma qualidade técnica luz sobre quão a um joga e film o excelentes, uerda e direidesigual era a disputa entre esq ilitar. Talvez l-m civi era ta e como a ditadura do empresariado na ditadura o açã ticip par da ão a demonstraç vencedor do Festival “É Tudo Verseja o grande mérito do longa dade” de 2009.

O gramado do Engenhão na visão da arquibancada atrás da baliza com a linha do gol encoberta pelas placas de publicidade

POSOLOGIA ingerir em caso de marasmo ingerir em caso de repetição cultural ingerir em caso de alienação

manter fora do alcance das crianças nocivo, ingerir apenas com acompanhamento médico extremamente nocivo, não ingerir nem com prescrição médica 11


O que pensa a grande imprensa?!

Imprensa alternativa

em questão

Em entrevista à Vírus Planetário, José Arbex Jr. expõe porque deixou o conselho editorial do jornal Brasil de Fato

Por Seiji Nomura Nas últimas eleições presidenciais, se havia alguém que ainda acreditava na neutralidade da imprensa, deve ter caído da cadeira. De bolinhas de papel — pasmem, com 10 quilos! — sendo atiradas em carecas, até Dilma rasgando dinheiro, tudo serviu de munição para a guerra eleitoral. Quem lia a imprensa grande e seus clamores - em geral, pela vitória de José Serra (PSDB) - tinha a impressão de que só os tucanos tinham voz na mídia O professor de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e articulista da revista Caros Amigos, José Arbex Jr., discorda dessa impressão, apesar de ressaltar que os veículos da grande imprensa estão em uma posição muito mais vantajosa. Então membro do Conselho Editorial do jornal “Brasil de Fato”, Arbex rompeu com seus companheiros em resposta a uma edição especial do veiculo, com dois milhões de exemplares, que enxergou como “um palanque de Dilma, precisamente como a ‘grande mídia’ é um palanque de Serra”, como declarou em carta aberta sobre a sua decisão. A capa do jornal exibia manchetes como “Artistas e intelectuais apoiam Dilma” e “Serra só governa para ricos” e o editorial fazia a defesa da candidatura da então presidenciável petista. A polêmica levantada por Arbex leva a refletir sobre os rumos da imprensa alternativa. Será que a diferença entre grande mídia e os outros meios é uma simples reedição do ditado “cada um vende o seu peixe”? Para o jornalista, há exemplos de veículos que rompem esse estereótipo (ainda que isso nunca signifique a neutralidade), como a inglesa BBC (rede pública inglesa) demonstra ao manter entre seus colunistas John Pilger, famoso por ter denunciado a matança de cidadãos

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afegãos, quando seu governo apoiava a guerra contra o país árabe. Para ele, um meio de comunicação mais democrático evita a grande polarização de posições políticas, permitindo falar contra, a favor e radicalmente contra qualquer corrente, como a da candidatura Dilma. “Isso não significa, porém, que a transformação do jornalismo em panfleto é uma situação que vem de hoje. É uma herança histórica de 500 anos de escravidão e exploração que permite a absoluta desregulação e monopólio dos meios de comunicação e dificultou o acesso a educação”, defende Arbex. O professor cita exemplos, como a propriedade cruzada, pois é possível, através de mecanismos legais, ser dono de diversas emissoras de TV, rádios e jornais, que atendem determinados locais, efetivamente criando “feudos de comunicação”. A história do “Brasil de Fato”, conta Arbex, foi a de enfrentar esse monopólio criando uma alternativa, sendo obrigado a vencer boicotes na distribuição e financiamento, para defender suas posições. O que levou o jornal a adotar estilo ‘panfletário’, segundo Arbex, foi justamente a perseguição ao movimento dos semterra, que deu origem ao veículo. “Você tem dois candidatos. Um continua um dos primeiros governos a dar alguma paz para os sem-terra e o outro é herdeiro de

que dispunham para se proteger”, explica Arbex. “É uma situação que não teria porque acontecer se os meios de comunicação fossem mais democráticos”. O editor do “Brasil de Fato”, Nilton Viana, tem outra opinião sobre a saída de Arbex e a polêmica em torno da imprensa alternativa. “Ele foi o único membro do conselho editorial, como convidado, a ser contra o apoio à candidatura Dilma. Isso foi uma situação pontual, para derrotar a candidatura fascista de José Serra. O jornal é plural, dando espaço a vários setores da esquerda brasileira e ajudando a elevar a consciência do povo”, afirmou o jornalista. “Arbex é um intelectual e só representa sua própria opinião, o que permite que ele adote posturas mais radicais na política nacional. Nós representamos um conjunto de organizações políticas e precisamos ter mais responsabilidade política no veículo”. Essa discussão à parte, vale ressaltar que Arbex é crítico aos que acham que as alternativas que estão surgindo com a internet bastam. “Ainda é pouco. A mudança deve acontecer na sociedade como um todo. É uma ilusão crer que a comunicação por si só pode mudar a lei e as práticas ou que a lei vai mudar a comunicação”, arrematou.

“É uma ilusão crer que a comunicação por si só pode mudar as práticas.” matanças e perseguição ao MST. Por isso, eles utilizaram o jornal como único instrumento de


A Mentira varrida pra debaixo do tapete

s o d i d r ó s ... s e h l a t e d

Criminoso?!

Ué, mas ele não era “herói”?!

Considerado exemplo de eficiência pela elite e sua mídia, Leonardo Torres (Trovão) foi preso sob acusação de negociar armas e de receber R$100 mil de criminosos. A corrupção policial revela quão ineficaz é o combate armado ao varejo da droga. Por Tatiana Lima Certa vez, em uma conversa informal com um dos muitos jornalistas que reproduziram fotos do inspetor Leonardo Torres, perguntei a opinião dele sobre o policial Civil. “Nossa, o cara é um psicopata. O cara é louco”. Mediante a resposta, contra-argumentei dizendo: “Mas vocês publicaram entrevista e foto dele...”. Recebi a seguinte resposta: “Nossa, mas ele é um personagem fantástico”.

diz que passou a fumá-los nas ações, integrantes da comunidade “Trovão – O após uma ocasião em que mulheres saíRambo Brasileiro” no Orkut postaram ram correndo com medo. “Daí em diante, mensagens de desapontamento ao antiresolvi que a fumaça do charuto, depois go herói. “Você era meu ídolo, cara! Seu de uma incursão, servia para espantar os corrupto de merda!”. males”, declarou. Também admitiu: “Meu sonho é servir no Iraque. Me sairia muito bem na A verdadeira face das incursões Faixa de Gaza”. E o que dizer da reportagem policiais foi revelada pela operação da revista Época, ediGuilhotina.” Trovão chamou a atenção de jornalistas ção 476 de 2007, que o em 2007, nas operações policiais ocorridescreve como “a força das no Conjunto de Favelas do Alemão. policial inovadora”? A matéria conclui que Como na ocupação realizada em 2007, Usando farda camuflada, coturno, capa“Trovão é alguém com quem a população movimentos sociais denunciaram saques, cete e viseira idênticos aos de soldados pode se identificar. Agora, há a sensação roubos, torturas e execuções sumárias estadunidenses enviados ao Iraque, o de que a ação da polícia é para valer”. cometidas por policias durante a ação inspetor ganhou admiradores na sociedaocorrida há cerca de três meses no Alede brasileira. Em entrevista publicada no Trovão nunca escondeu quem era. Fez mão. A imprensa grande adotou o disjornal O Globo em 29 de junho de 2007, declarações perturbadoras, como esta curso do “bem contra o mal”, “mocinhos Trovão aparece fumando um charuto. Ele retirada do documentário Dançando com contra bandidos”, enaltecendo policiais e o Diabo: “Eu sou o inspetor Torres, filho da relativizando tais denúncias. Contudo, ao tempestade, oriundo do mau tempo, nascontrário do que ocorreu em 2007, a verci para o combate e para as horas ruins. dadeira face das ações policiais ganhou Eu sempre vou foder o mal e quem tiver manchetes através de investigações da do lado dele”. No documentário, o diretor operação Guilhotina da Polícia Federal. Jon Blair também captou declarações tão Foi deflagrada, então, uma crise nas instiperturbadoras quanto as feitas à imprentuições de segurança. sa carioca. Nelas, Torres confessa que “a morte de dez traficantes não vale a vida Diferente do delegado de polícia Carde um só policial”. E conclui: los Antônio Luiz Oliveira, ex-subchefe “Mas quando a gente dá o operacional e também preso na operação primeiro tiro quer que aquilo Guilhotina, Torres não exercia cargo polítiA foto de Torres fumando entre corpos nunca acabe, aí está a vocaco. Portanto, a abertura de espaço jornaensanguentados em um beco ção para o guerreiro. Você eslístico para suas declarações polêmicas da favela do Alemão seria impublicável em cores e quece que é um policial, você em 2007 comprovam uma escolha editorecursos gráficos em outros está numa guerra”. rial das publicações. Esta não foi apenas jornais do mundo. Farda, coturno e outros aparatos uma consequência da função pública e trajados pelo inspetor durante a ação policial são Após a revelação de cripolítica atribuída a ele, e sim o desejo claenaltecidos. O fato de ele, mes cometidos pelo inspetor, ro de abrir espaço ao seu próprio herói. inabalável, fumar charutos entre pessoas mortas não é destacado como algo espantoso ou inapropriado.

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mundo

A luta no Egito não acabou O povo egípcio ainda tem muitas demandas a serem atendidas

Quando a revolta na Tunísia que derrubou o então presidente Ben Ali estourou, não demorou que usassem a metáfora do efeito dominó para explicar os movimentos em outros países árabes. Bastava que uma das peças tombasse para que todos os outros fossem caindo em uma longa sequência. Essa pode até ser a impressão de alguém que olha de fora o levante egípcio que derrubou Hosni Mubarak, em 11 de fevereiro, mas dificilmente um manifestante que viveu os trinta anos do governo do ditador pensaria assim. Assolado pelo desemprego que chegava a quase 20% e pela inflação, o povo do Egito sofria com um percentual de pobreza que beirava os 44%.

tude 6 de abril, a Irmandade Muçulmana, sindicatos e grupos ativistas da internet (como o Somos todos Khaled Said, inspirado num jovem morto recentemente pelo regime de Mubarak) organizaram mobilizações que atraíram a adesão espontânea das pessoas que estavam nas ruas. “Estão presentes na revolta cristãos, muçulmanos, núcleos de esquerda, sindicatos e jovens da classe média. Não há apenas uma pessoa que possa representar o levante”, afirmou Luiz Gustavo.

vés de um levante popular. Kandil, porém, lembra também que as condições atuais são bem diferentes: em vez de um golpe militar com amplo apoio popular, o que se observa é um levante que derrubou um militar do poder. Além disso, ele lembra que a ideologia dentro das forças armadas se aproxima muito mais do liberalismo do que de um autoritarismo e também que ainda há forte mobilização popular.

Para Luiz Gustavo, a base do exército, em geral, foi favorável ao movimento, com muitos soldados participando dos protestos, à paisana. Mas ele também lembra que nem toda a cúpula militar rompeu com MubaO atual regime não tem rak. “O atual chefe da junta, Ahcompromisso com as reivindicações” med Shafiq, fez parte do governo Esses dados demonstram que não nasceu no dia 25 de janeiro deposto como ministro por mais de 2011 o sentimento que levou de 20 anos. A expectativa é de mais de dois milhões de egípcios às ruas. Segundo o repórter, deve-se ter cautela que haja mudanças, mas o atual regime O governo Mubarak foi alvo de constancom a ideia de que a revolta não tem face. não tem compromisso com as reivindicates protestos que datam desde seu iníPara ele, a frase pode ser usada para ções. Os manifestantes querem um govercio, passando pelos períodos da Guerra manter no poder a junta militar que assuno civil”, alertou. do Golfo e do Iraque. Mais recentemente, miu provisoriamente as funções de Muba como apontou o jornalista Luiz Gustavo rak. Também compartilha desta cautela o Revolta ou revolução? Porfirio — que esteve no Egito a serviço colunista Hazem Kandil, do jornal egípdo jornal ‘Opinião Socialista’ do Partido cio Al-Mazry Al-Youm. Ele escreveu que O diretor do Centro Egípcio de Direitos Socialista dos Trabalhadores Unificado os militares detêm o poder desde 1952, Econômicos e Sociais, Khaled Ali, questio(PSTU) —, movimentos como o da Juvenquando foi derrubado outro regime atranou em coluna, também para o Al-Mazry,

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Ilustrações: Carlos Latuff

Por Seiji Nomura


O papel das mulheres nos protestos Quando se trata dos países muçulmanos, nós ocidentais sempre levantamos a questão do lugar da mulher na sociedade. Luiz Porfírio falou do papel que elas assumiram nos protestos. “É mentira as informações de que não havia mulheres no movimento ou que elas assumiam posições menores. Muitas discursavam, muitas assumiam comissões, muitas vezes com papéis preponderantes. É importante notar que existiam tanto as sem véu quanto as que usavam os trajes tradicionais. Mas mesmo assim, ainda existe o machismo e a luta contra ele”

o porquê de continuarem os protestos dos trabalhadores e sindicatos, quando a maior parte do movimento da praça Tahrir parou de se reunir. Segundo o advogado que passou anos defendendo as causas dos trabalhadores, grande parte do movimento está satisfeita com o andar da carruagem, com alguns chegando a acordos com a junta militar. Os trabalhadores, porém, ainda têm muitas demandas a ser atendidas. Desde funcionários de bancos até trabalhadores do transporte público continuam nas ruas, exigindo aumentos e outras reivindicações. Amr Adly, outro colunista do mesmo veículo, observa correntes muito diferentes dentro do levante. Para ele, pouco a pouco o consenso que existe na massa de egípcios começa a ruir e as diferenças políticas aparecem. Muitos dos jovens que protestaram na Praça Tahrir tentaram apaziguar as manifestações apenas um dia após a saída de Mubarak. Para o jornalista, a ‘classe média’, que tende a ser mais conservadora e que dialoga com os militares, pode tomar o caminho de

ignorar os direitos trabalhistas enquanto promovem outros direitos políticos. Um exemplo de onde isso aconteceu, destacado por Adly, é o da Turquia, onde a democratização se deu somente sob a forma de eleições livres, mas dominadas por partidos de centro-direita, enquanto

atmosfera mais democrática. Em vez dos direitos dos trabalhadores, a discussão se concentraria em torno dos preceitos do islã, da família e o estado de não-muçulmanos no Egito. Sobre a acusação de muitos analistas

É um erro pensar que a Irmandade Muçulmana é homogênea”

os sindicatos e organizações de esquerda não tiveram muito espaço para manobra. Porém, o analista também vê a possibilidade de que o governo garanta a liberdade dos sindicatos, possibilitando a polarização entre partidos de esquerda e de direita. Caso isso não aconteça, o jornalista acha mais provável que as divisões políticas sejam formadas de acordo com a identidade, reproduzindo as diferenças da era de Mubarak, só que numa

Efeito Dominó

Após o impulso dado pelo povo do Egito e Tunísia, diversos outros povos da África e Oriente Médio: Síria, Arábia Saudita, Iêmen, Omã, Jordânia, Bahrein, Irã, Argélia, Marrocos, Costa do Marfim e os angolanos preparam manifestações contra seu governo. Na Líbia, talvez seja a situação que mereça mais atenção. A reação do poder estabelecido, representado pelo ditador Muammar al-Gaddafi, que já afirmou que só sai do poder morto, foi mais forte do que no Egito. Caças atiram contra manifestantes desarmados e milhares de pessoas já morreram. A oposição que conta com grupos armados (há militares que desertaram e passaram a lutar contra Gaddafi e trouxeram armas para o lado dos opositores) já controla metade do território líbio (inclusive a segunda maior cidade, Benghazi) e avança em direção à capital Trípoli para tomar de vez o poder. Os EUA ameaçam realizar uma intervenção militar no páis rico em jazidas de petróleo.

do ocidente de que os fundamentalistas islâmicos chegarão ao poder, o jornalista Luiz Porfírio lembrou que, é um erro pensar que a Irmandade Muçulmana é homogênea. “Há inclusive, um movimento muito parecido com a Teologia da Libertação entre eles”, observou. Ele também apontou que, apesar da Irmandade permanecer como uma força muito grande entre os egípcios, ela anunciou em nota que não irá concorrer às próximas eleições. Precisamente quando parece que a luta egípcia chega ao fim — ditador deposto, estado de emergência abolido — é que se faz mais necessária a mobilização. O velho ditado “O rei está morto, viva o rei” nos lembra de que não basta que Mubarak se retire do país ou que se derrubem suas estátuas. Vale relativamente pouco a saída do ditador se não se garantir outros anseios do povo como a liberdade política e religiosa, o aumento de salários e a melhoria das condições de vida. São esses fatores que irão determinar se os acontecimentos do Cairo serão lembrados como uma mera revolta ou como algo maior — uma revolução.

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Foto: divulgação

tropa de elite 2

Novos Inimigos, velhos problemas As discussões sobre Tropa de Elite 2 travadas por especialistas em segurança pública Por Kalindi D’Elia Uma cidade permeada pela desigualdade, territórios abandonados pelo poder público e apenas 118 minutos de filme. Onze milhões de espectadores depois (recorde de bilheteria no Brasil batido no final de 2010), Tropa de Elite 2 continua gerando discussões sobre segurança pública na sociedade civil e na grande mídia. Tudo isso maximizado pela onda de violência que chamou as atenções para o Rio de Janeiro nas últimas semanas de novembro e fortificou ainda mais a fé popular na existência de um inimigo público. A questão do inimigo não é nova, desde a origem da filosofia e da religião assumiram esse lugar as bruxas, os hereges, os homossexuais e tantos outros. No Brasil de 1945 até o fim do regime militar, o inimigo era o comunista subversivo. Dos anos 90 para cá, quem aparece nesse lugar é o narcotraficante. Segundo Carlos Henrique Serra, coordenador do programa de pós-graduação em ciência política da Universidade Fe-

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deral Fluminense (UFF), foi no período após a ditadura que a questão das drogas surgiu para a mídia e para a classe alta como o mal da sociedade. “Os segmentos mais conservadores, que se encontram nas instituições sociais de controle, continuam a trabalhar com a lógica do inimigo. Nela, o outro é sempre percebido como uma ameaça”, diz ele.

Os problemas não serão resolvidos com tropa de elite nem com tropa da elite” “A atual política criminal em relação ao tráfico enseja muito mais mortes do que as drogas em si. O inimigo é imprescindível para manter essa política de lógica quase cartesiana. A questão das drogas não é uma questão de polícia. Ela deve ser politizada, e não tratada de forma bélica. Os problemas não vão ser resolvidos com tropa de elite nem com tropa da elite”, completa.

A criação da imagem de heróis e inimigos, junto à mensagem perpetuada pela grande mídia de que a cidade está em “guerra”, traz a idéia de que existem aqueles que devem ser eliminados. Na continuação da saga do antes capitão e agora coronel Nascimento o inimigo é trocado, mas a lógica de tratar questões sociais apenas com a repressão continua a mesma. Ela ratifica um olhar moralizante sobre a questão criminal que, de acordo com Vera Malaguti, socióloga e membro do Instituto Carioca de Criminologia, é uma das coisas mais perigosas que podem acontecer no atual cenário da segurança pública. “Este discurso da limpeza e da moral não é o caminho, porque acaba sendo despolitizante. É quase o discurso moral religioso, que induz políticas de repressão violentas. Produz uma demonização que encobre uma visão mais econômica, política e até cultural”, diz ela, que também acredita que os filmes não ajudam a mostrar o verdadeiro sistema. “Eles são funcionais para a indústria do controle do crime e para a mídia que faz parte dela,


Vera Malaguti

A opinião de

especialistas em

segurança pública

(socióloga e membro do Instituto Carioca de Criminol ogia)

“Apesar da política neo-liberal criada no segundo filme, no fundo o qu e os dois vendem são as cenas de violência. Por trá s de um discurso politicamente correto, os dois film es trazem uma apo logia da militarização, da tortur a e da violência com o mercadoria e fazem parte de um mercado de policiz ação da vida. E para est a indústria prosperar é imprescindível qu e exista a criação de um inimigo. Os filmes não ajudam a mostrar o sistema. São funcionais para a indústria do contro le do crime, pois aju dam a encobrir um sistema maior”

“Nos anos 90 a questão das drogas surge para a mídia e para a classe alta como o mal da sociedade. Como se as drog as nunca tivessem sido parte dela. O primeiro filme retificava a lógica do inimigo. No segundo o inimigo é trocado, mas a lógica continua a mesma. Quando você cria heróis faz uma idea lização, despolitiza o debate. A criação dos heró is sai do terreno da realidade concreta”

Carlos Henrique Serra

(sociólogo e historiador coordenador da pós-grad uação em ciência política da UFF)

Marcelo Freixo

(deputado estadual/PSOL-RJ presidente da CPI das armas)

urar o entretenimento a “Quando você consegue mist um ou outro, é maravide mão r uma boa causa, sem abri isso. Toda essa lógica da egue lhoso. Eu acho que o dois cons do herói, que era o Nasciidéia a trói cons Rio no a guerra criad tem que ser eliminado, que ele daqu e e, film mento no primeiro ginaria que o dois ima ais jam um o o inimigo.Quem assistiu ribuiu para cont que eiro prim fosse ser esse. Foi o debate do . São os debates do dois ndo segu no asse pens lha que o Padi pensar no terceiro ou não” que podem contribuir para ele

porque são o senso-comum criminológico. O populismo criminológico. Colocam o BOPE no mercado, transformando ele em um modelo de polícia. O problema é que esse modelo é um modelo bélico”, diz.

Capa da revi sta Veja, ed ição de 10 de no vembro de 20 10

Apesar dos velhos problemas de simplificação, o segundo filme veio com uma ampliação da visão em relação ao primeiro. Isto é inegável. Um dos personagens que vem trazer essa mudança é Fraga, inspirado no deputado estadual Marcelo Freixo. Para o parlamentar, o segundo filme joga o debate para o andar de cima porque o Nascimento vai para o andar de cima. “Ele, como boa parte da polícia, não era treinado para pensar nem ter grandes

concepções de segurança, e sim para cumprir ordens. A polícia sempre foi um instrumento importante para manter essa política. Ela não é barata, violenta e corrupta à toa. Ela é assim por que isso interessa a uma elite política que se reproduz nos lugares onde essa polícia tem um papel decisivo, que é o do controle”, diz Freixo. “O Nascimento não vira uma pessoa de esquerda, crítica, mas o discurso dele na CPI das milícias é o discurso que tem que ser feito na assembléia legislativa. É diferente dele estar falando isso na favela, no BOPE ou para um policial. Ele está falando para parlamentares, como membro da secretaria de segurança no poder legislativo. Esse momento é uma síntese do que o filme fez”, completa. Tendo como um de seus grandes momentos o discurso de Nascimento na Alerj, a política surge como grande vilã no segundo filme. E este é outro problema que deveria gerar reflexão. Segundo Carlos Henrique, quando isso acontece, “cria-se um descaso na política como algo que possa trazer transformações estruturais na sociedade brasileira”. É preciso ter cuidado para que essa demonização não acabe sendo mais um elemento na perpetuação do “sistema” tão falado no filme. A sensação de que “não tem mais jeito” pode gerar um perigoso

descaso, onde o desgaste da imagem política vira mais uma força na engrenagem da despolitização. Tropa de Elite 2 veio gerar um debate sobre as políticas de segurança pública do Rio de Janeiro. E ter colocado o assunto em pauta já foi um passo importante. Mas é essencial que se tome cuidado com a exaltação, que geralmente não incentiva a visão crítica. A grande mídia, que na capa da Veja trata Nascimento como “o primeiro super-herói brasileiro”, colocou o filme numa posição de verdade absoluta muito nociva para o debate. A taxação dos ditos inimigos acaba desestimulando questionamentos maiores. No primeiro filme, os traficantes e usuários aparecem como vilões, mas a própria proibição de algumas drogas não é questionada. Já o segundo traz à tona o problema das milícias, mas deixa de lado o discurso que questiona a ausência do poder público em alguns locais onde o braço do Estado que mais chega é o da repressão. Atualmente, se fala na retomada de territórios por parte da polícia. A falta de estrutura e interesse político que fizeram com que os moradores destas comunidades precisassem de máfias para o funcionamento de alguns serviços básicos, porém, não entrou em pauta.

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mundo

Como vai o Haiti? Um ano depois do terromoto, o que mudou num dos países mais pobres do mundo?

Foto: Marcelo Casal Jr. - Agência Brasil

Por Rodrigo Rodriguez-Arnaiz Em 12 de janeiro de 2010 um abalo sísmico de 7 graus na escala Richter lembrou ao mundo que um país chamado Haiti existia. Nas semanas seguintes, não faltaram declarações de apoio e de ajuda financeira e humanitária de todas partes do globo terrestre. Esgotado o interesse do público (ou dos editores) no tema, desapareceram do noticiários os milhões de haitianos afetados pelo terremoto e os repórteres e celebridades prestativos. Porém, 1 ano após o desastre, a situação do país mais pobre da América Latina parece ser a mesma, ou até pior, já que um furação e uma epidemia de cólera causaram mais de três mil e quinhentas mortes desde outubro. Assim como o terremoto de 2010, que matou 250 mil pessoas e deixou 3 milhões de desalojados, o impressionante número de contagiados pelo vírus da cólera é resultado da inexistência de condições mínimas de moradia e da pobreza extrema que atinge 80% da população do Haiti. Sendo assim, é compreensível que uma doença erradicada da região no século passado consiga emergir de forma tão avassaladora. No entanto, muito além das causas superficiais, essas tragédias são o resultado de um passado marcado pela miséria e pelo desdém das grandes potências. Ao longo de quase 200 anos, o país foi castigado por ter expulso os europeus, abolido a escravidão

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e declarado a independência no início do século XIX.

As consequências do terremoto Um ano após o abalo sísmico, 1 milhão e 300 mil pessoas continuam sem moradia, vivendo em acampamentos provisórios. A construção de habitação caminha a passos lentos, e até edificações institucionais como o Senado ainda não foram

É importante que os atores locais definam a prioridade dos recursos”

reerguidas. Funcionários públicos mortos não foram substituídos, apesar de uma taxa de desemprego de cerca de 30%, de acordo com o Banco Mundial. Nas áreas rurais a situação é ainda mais dramática, visto que apenas 8% dos habitantes têm acesso à água potável confiável, segundo o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola. Ironicamente, o terremoto trouxe para o Haiti o aumento significativo da ajuda hu-

manitária e de serviços de saúde. Porém, apenas uma pequena parcela dos milhões de dólares doados para ajudar na reconstrução do país foram usados. “Por causa da corrupção e dos interesses das elites locais, a comunidade internacional tem receio de disponibilizar os recursos sem manter algum tipo de fiscalização e controle”, explica o mestre em Relações Internacionais, Danilo Marcondes. No entanto, para o professor do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio que esteve no Haiti em 2008, a participação dos haitianos é fundamental para que as ações sejam bem sucedidas: - O processo de reconstrução da infra-estrutura depende fortemente da ajuda e dos recursos internacionais, mas é importante que os atores locais tenham espaço para definir as prioridade e como os recursos serão aplicados. A responsabilidade precisa ser dos próprios haitianos, afirma Marcondes. As últimas notícias provenientes do Haiti indicam que o surto colérico que arrasa o país desde outubro ainda deixa suas marcas na população, pois já atingiu mais de 70 mil pessoas. A Organização das Nações Unidas (ONU) acredita que até 200 mil haitianos possam ser contagiados nos próximos 6 meses. Por isso, solicitou uma ajuda de cerca de 160 milhões de dólares à comunidade internacional, mas recebeu


menos de 10% desse valor até agora. Para o ex-presidente de Cuba Fidel Castro, que acompanha intensamente a atuação da Brigada Médica cubana no país, as péssimas condições sanitárias são a causa mais provável para a epidemia: - No caso especial do Haiti, o terremoto desfez as redes de uma e outra onde estas existiam, e milhões de pessoas vivem em casas de campanha que muitas vezes carecem inclusive de latrinas, e tudo isso se mistura, analisou Fidel, no artigo “Haiti: subdesenvolvimento e genocídio”, publicado pela imprensa oficial cubana.

Problemas com a ONU A cólera também causou confrontos violentos entre manifestantes haitianos e os soldados da Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah, na sigla em francês). Boatos disseminados na população sugeriam que as tropas nepalesas da ONU eram as responsáveis pela bactéria. Como esses soldados estão posicionados na região de Artibonite, que foi a mais afetada pela doença, e um Centro de Detecção de doenças norte americano afirmou que o tipo de cólera encontrado no Haiti era semelhante ao vírus presente na região do Nepal, parte da população culpou os membros da Minustah. No entanto, como as eleições presidenciais e legislativas seriam realizadas em 25 de novembro, a ONU considerou que os protestos tinham motivações políticas.

- A principal preocupação dos Estados Unidos com Haiti envolve um possível fluxo de refugiados haitianos para o território americano, já que o país está perto

Eleições e o futuro do Haiti Desde que se tornou novamente uma democracia, em 1986, o Haiti sofre com golpes de estados sucessivos. O atual presidente, René Préval, que está no cargo pela segunda vez desde 2006, “conseguiu trazer algum grau de estabilidade no momento necessário para conduzir o processo de transição”, nas palavras de Marcondes. Porém, o próximo presidente encontrará um cenário pouco convidativo, agravado pela epidemia de cólera. O processo eleitoral envolveu 18 candidatos à presidência e como o voto não é obrigatório a disputa é sempre complexa. Desta vez, as suspeitas de fraude cresceram após a divulgação do resultado oficial, que apontou Jude Celéstin, noivo da filha do presidente Préval como segundo colocado, à frente do músico de forte apelo popular, Michel Martelly. Os militantes de Martelly não aceitaram os números divulgados, e realizaram protestos violentos.

Outros 11 candidatos também pediram a anulação do pleito. Mirlande Manigat, candidata de oposição que defende a saída da Minustah, ficou em primeiro lugar, e enfrentará Celestin no segundo turno. A data da realização da eleição ainda não foi determinada, apesar do mandato do atual presidente terminar em 7 de fevereiro de 2011. A opinião dos observadores internacionais se dividiu entre aqueles que consideraram a eleição uma “farsa” e os que consideraram o “processo válido apesar das irregularidades”, como o chefe da missão de observação da Organização dos Estados Americanos (OEA), Colin Granderson. Nesta caso, é inequívoca a preocupação dos estrangeiros com uma transição rápida, sem grandes turbulências. A estabilidade política do Haiti parece ser mais valiosa que o processo democrático em si. A respeito da reconstrução do Haiti um ano após o terremoto, nenhum sinal é tão evidente como o surgimento de uma epidemia de cólera tão devastadora. Enquanto a comunidade internacional apressa a mudança presidencial, 1,3 milhões de haitianos só querem acelerar outra coisa: o acesso à água potável e a construção de moradias.

Ilustração: Javier Pedrosa

Assim como o terremoto e a epidemia de cólera evidenciaram deficiências estruturais do Haiti, os confrontos e a violência latente nos dias que antecederam as eleições trouxeram à tona problemas políticos antigos. A Minustah chegou ao Haiti em 2004, após quase uma década de mediação e negociação. As críticas à presença das tropas da ONU subiram de tom nos últimos meses, ao passo em que o processo de reconstrução continua estagnado. O aumento da presença militar dos Estados Unidos, que enviaram mais de 4 mil homens após o terremoto para “garantir a segurança”, é visto com receio por alguns setores que sinalizam para a existência de petróleo no país. Mas para o mestre em Relações Internacionais Danilo Marcondes, existe outra explicação:

de Miami. Também existe o risco de que traficantes possam se beneficiar da fragilidade estatal para usar o Haiti como trampolim de envio de drogas.

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A charge tem o poder de reduzir temas complexos a sua essência. Ela pode ridicularizar o establishment, construir ou demolir um discurso.”

Carlos Latuff

Não eram apenas os gritos de liberdade que serviam para expressar a revolta dos manifestantes da Praça Tahrir. Junto com os socos atirados ao ar e as palavras de ordem, eram levantados cartazes com charges denunciando os abusos do governo egípcio; desde sapatos atirados no rosto do então ditador Hosni Mubarak até o povo semeando e colhendo os frutos da democracia, os curiosos desenhos coloridos acompanharam os momentos do levante, desenhados dia a dia conforme o desenrolar do movimento. Talvez fosse difícil de imaginar que um brasileiro fosse o responsável pelos desenhos que simbolizaram tanto a luta quanto a vitória daquela revolta. Para sermos justos, há apenas um punhado de anos atrás, nem mesmo o próprio Latuff se imaginava nesse papel nem em qualquer outro parecido. Apesar de sua paixão pelo desenho começar desde sua infância, o cartunista, mesmo sendo de esquerda, não se considerava alguém com preocupações políticas. Somente depois de assistir, em meados da década de 90, a

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um documentário sobre os Zapatistas no México, ele percebeu que jamais poderia separar o que pensa de seu trabalho. “A charge pode construir ou demolir um discurso” – diz o cartunista mais reconhecido pela esquerda, sindicatos e movimentos sociais brasileiros. Com 42 anos, Carlos Latuff demonstra uma vontade imensa de lutar contra as injustiças mundo afora. Militante incansável, mesmo não se definindo como tal (“apenas” um apoiador de diversas causas, diz), Latuff exprime na beleza de seus traços, seus sentimentos, emoções, angústias pelo estado de opressão vigente no Brasil e em outros países e pinta com todas as cores a alegria de povos que conquistam vitórias marcantes pela igualdade entre os seres humanos. Não é à toa que os desenhos de Latuff acabaram saindo do bairro de São Cristóvão, Rio de Janeiro, para os movimentos sociais do mundo inteiro.

Foto: Caio Amorim

ENTREVISTA INCLUSIVA:


Vírus Planetário: Você sempre trabalhou como chargista?

Não, eu trabalhei numa loja de equipamentos ortopédicos, e depois fui trabalhar de office boy da Editora Globo. Ia comprar shampoo, O.B. pra funcionário. Cansei desse trabalho, fiquei um tempo desempregado, até que eu encontrei trabalho como ilustrador em uma agência de publicidade. A minha carreira profissional, como ilustrador, começou em 1989.

VP: E na agência de publicidade, você tinha alguma crise de consciência política? Naquela época, eu não tinha consciência política. Até assistir a um documentário sobre os zapatistas, em 1998, eu achava que era possível ser de esquerda e trabalhar para a direita. Eu cheguei a ilustrar uma cartilha da primeira campanha do FHC à presidência. Eu não via contradição, era de esquerda, votava no Lula, mas era profissional. Com o tempo, a gente vai percebendo que não dá pra ficar em cima do muro.

VP: E como é viver da sua arte? Sua única renda são as charges?

Hoje, trabalho para imprensa sindical, é onde tenho tido mais liberdade. Essas charges que eu faço, por exemplo, criticando o Estado, o governo, elas não sairiam na grande imprensa. Essa questão do Sérgio Cabral em relação às UPPs e a invasão do Alemão, a imprensa, principalmente no Rio de Janeiro, só aplaudiu. As charges críticas que eu fiz jamais iriam para O Globo, Extra, O Dia. A minha fonte de renda é a imprensa sindical; agora, eu faço também com identificação

ideológica.

VP: Em uma publicação sindical, você liberou charges do Egito, porque era uma questão de militância. Como funciona isso? Eu tenho duas vertentes de trabalho. Os dois são ideológicos. Um é o trabalho profissional, que tem a ver com publicações de sindicatos, isso é o que eu sou pago pra fazer e faço desde 1990, com muito orgulho. Eu devo a minha existência profissional e física à imprensa sindical. E tem esse trabalho de militância, que começou com os zapatistas, em 1997, 1998, que tem a ver com a internet. As pessoas me conhecem mais por esse viés da inter-

Quantos cartunistas compram a causa contra a violência policial?”

net. Se eu doei pros ativistas egípcios, não seria justo que eu cobrasse do sindicato, ou de quem quer que seja. Porque o meu interesse é que essas imagens sejam reproduzidas e furem os bloqueios. Eu utilizo a internet pra colocar charges que, de outra maneira, não seriam reproduzidas pela grande imprensa. Mas nesse caso, a própria imprensa reproduziu os desenhos. Isso é curioso, não tinha acontecido até então. Mas eu não tenho ilusões de que isso vai acontecer sempre. Foto: Mariana Gomes

VP: Você falou que não tinha consciência política quando começou a desenhar. Quando você começou a ter? Quando eu vi um documentário na TV sobre os zapatistas em meados da década de 90. Já tinha acesso à internet e pensei que poderia produzir uma série de desenhos que eles pudessem utilizar nos materiais de propaganda deles. Comecei a fazer os desenhos e mandava para o escritório da Frente Zapatista de Libertação Nacional, na Cidade do

México, por fax. Depois, em vez de ficar mandando por fax, eu pensei em escanear e colocar na Internet. Aí, a ficha caiu: o meu trabalho não é apertar parafuso, o meu trabalho tem uma importância ideológica. Aí é que eu percebi essa questão de ser profissional. Profissional, que nada! Ele não pode ser feito de maneira leviana, e a partir desse momento eu percebi que o meu trabalho é essencialmente ideológico. E que pode ser utilizado por movimentos, partidos, grupos. Tem um poder.

VP: E qual poder você acha que ele tem?

De reduzir temas complexos a sua essência, para que qualquer pessoa possa compreender. De ridicularizar o poder, o establishment. Uma charge em que apareça o Hosni Mubarak tomando uma sapatada na cara, se você levantasse há dois meses na Praça Tahrir, seria preso. Essa capacidade que a charge tem de ridicularizar as figuras do poder é muito importante. Não é à toa que o Sérgio Cabral mandou retirar aquele outdoor que tinha a figura do policial sorrindo diante da mãe da favela com o filho morto. A charge pode construir ou demolir um discurso. Por isso, no golpe em Honduras, as duas primeiras pessoas presas foram o presidente Zelaya e o cartunista Mcdonald. Existe uma diferença entre as charges que você vê nos jornais da grande imprensa e aquelas que são pra pegar pesado. Essas, geralmente, a grande imprensa não publica. Depois daquela experiência no Egito, quando os manifestantes seguraram charges feitas por mim, teve uma pessoa da Argélia que me pediu, via Twitter, um desenho, e eu fiz. O Movimento Verde, do Irã, também me pediu, mas a questão é você apoiar as causas que ninguém apoia. Cartunista, geralmente, vai apoiar “salve a baleia!”, bem classe média...

VP: E qual é a sua relação com esses cartunistas que fazem outro tipo de trabalho? Eu não tenho relação com eles. Eles fazem o trabalho deles, já têm muito espaço.

VP: Qual sua opinião sobre as UPPs e o apoio que elas têm recebio da mídia e do governo federal?

A questão do que acontece na favela, pra mim, é a militância mais complicada que tem, até mais do que o Oriente Médio. As favelas são guetos, locais de violência, pobreza, óbvias, objetivas. Aí, quando você vai fazer um trabalho pra contestar a ação do Estado nas favelas,

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ENTREVISTA INCLUSIVA_Carlos Latuff

se depara com gente da favela que é cooptada pelo Estado e pelas ONGs, que te impedem de fazer esse trabalho. Eu já tive um desenho vetado em jornal de comunidade, porque criticava o Estado. O mesmo Estado que manda a polícia pra matar as pessoas, helicóptero blindado, de guerra, pra dar tiro na favela, manda dinheiro pras ONGs, Igrejas Evangélicas, que têm esses jornais. E isso me machuca muito, porque aquelas pessoas precisam muito de solidariedade, de ação mesmo. Quantos cartunistas você conhece, que compram a causa contra a violência policial? Ser cartunista da CUFA, do VivaRio, não adianta.

Um dos motivos pelos quais o Governo Federal apoia as UPPs, é porque foi criada pelo Sérgio Cabral, que pertence ao partido da base aliada. Se a UPP fosse uma idéia do PSDB, teria sido combatida. É politicagem o nome disso. Uma outra coisa que a gente tem que analisar é o seguinte: a gente não pode se enganar, a gente vive no sistema capitalista. Independente se é Dilma, Lula, Tiririca, a gente não está no socialismo. Existe uma ilusão de classe, da grande maioria das pessoas que eu conheço, que acredita que o fato da Dilma ter vencido as eleições, se sente como se a gente estivesse num sistema de esquerda, o que não é verdade.

a vela n a f a r e pa vai ocu re: corrupta e u q p er cia A polí esma de sem a gosta de s i éd am UPP é a. A classe m da.” t a violen engan

“ Foto: Mariana Gomes

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No final das contas, o sistema é o mesmo e a base do sistema capitalista é excluir. Sobre a UPP, a polícia que vai ocupar a favela é a mesma de sempre: corrupta e violenta. O mínimo de raciocínio: aquelas pessoas que tiveram ação importante no Alemão, roubaram o que foi deixado pelos traficantes, negociaram fuga. E o discurso agora é que foram alguns policiais, mas é o segundo da hierarquia da Polícia Civil, os

“homens-de-ouro”. A classe média gosta de ser enganada. O sistema, do governo federal até o governo municipal, é todo corrompido. Não é só a polícia; ela é só um reflexo do sistema inteiro.

VP: Como você começou a se envolver com as questões do Oriente Médio?

Em 1999, eu mandei pra uma ONG de Ramallah um desenho normal, de um colono judeu dando um tiro pelas costas num palestino. Eles gostaram e tiraram cópias, até que me convidaram pra ir até lá, fazer um tour pelos territórios ocupados. Depois de ter visto como eles viviam, eu abracei a causa palestina. Foi uma porta pra outras questões. E o Oriente Médio tem tido uma atenção muito grande do imperialismo dos EUA, que tenta subjugar aquelas populações de qualquer jeito. Muitas das vezes, a religião muçulmana tem servido de resistência contra o imperialismo. Não é à toa que tem Israel, ponta-de-lança dos interesses dos EUA e do Ocidente naquela região. A partir dessas experiências, eu comecei a atentar pra guerra do Iraque, Afeganistão. E na questão do Egito, eu fiquei desenhando desde o dia 23 de janeiro, antevéspera do início das manifestações, até o dia 11 de fevereiro, data da renúncia do Mubarak. O que eu penso que pode acontecer, como tem acontecido em outros países, é que essas ditaduras truculentas e obsoletas vão dar lugar a pseudodemocracias. Como é o caso da Turquia, que é apresentada como uma democracia porque as pessoas podem votar, tem instituições fortes, mas há violações aos direitos humanos, a questão dos jornalistas curdos com penas de mais de cem anos de prisão.

VP: Você acha que o Egito vai caminhar pra isso?

Sim. Mas qual é o país realmente democrático? O Brasil, por exemplo, não é um país democrático. Em Rondônia, se for a uma rádio fazer denúncias contra pistoleiros, quando você sair, vai ter um pistoleiro na porta para matar você. O Brasil tá longe de ser exemplo de democracia. A justiça tem sido utilizada pra calar a boca da imprensa. Nesse regime pseudodemocrático, tudo trabalha com sensação. Quando o ex-secretário de Segurança, Josias Quintal, se referiu à “sensação de segurança”, é exatamente isso que inibe as pessoas de ir pra rua, como aconteceu no Cairo. No Cairo, não havia sensação de coisa alguma. A única sensação era de repressão. A sensação de liber-


dade é muito mais efetiva para os poderes. Se você pode pagar um Blackberry ou um carro em mil vezes, você tem a sensação de liberdade.

VP: Como você vê a situação da mulher no Oriente Médio?

Não há como analisar o Oriente Médio como um todo. No Líbano, existem mulheres que andam como no Ocidente: óculos escuros, roupas “normais”; na Arábia Saudita, acho que não dá nem pra andar na rua com o cabelo descoberto, inclusive as estrangeiras. Me surpreende ver que, principalmente nos lugares onde eu estive, na Jordânia, Palestina e Líbano, as mulheres não têm se conformado com esse lugar que a sociedade machista colocou pra elas. Elas não têm uma atitude passiva, não. Inclusive, nesse movimento no Egito teve bastante mulher.

VP: Você tem uma militância contra a política do Cabral, e nas eleições você prestou um certo apoio à Dilma. Por quê? A última vez que eu votei, foi em 2002. Desde então, eu anulei tudo. O meu problema era o Serra. A candidatura do Serra conseguiu o que nem a do Collor tinha conseguido: amalgamar todos os setores mais reacionários da sociedade bra-

Se você pode pagar um Blackberry ou um carro em mil vezes, você tem a sensação de liberdade.”

sileira. Integralista fez campanha contra a Dilma, Opus Dei, evangélicos, os militares golpistas. O Serra declarou que ia combater o MST. Ali, eu fui chamado à responsabilidade e não tinha outra alternativa. O que a Dilma vai fazer, é mais ou menos o mesmo que o Lula. O Serra seria um atraso. A discussão é sistêmica, e não partidária. Vai ter gente que vai achar que eu sou governista, mas, com o passar do tempo, com as charges que virão da Dilma, isso vai se clarear.

VP: Te acusam de antissemitismo. O que você responde sobre isso?

Aqueles que me acusam de antissemita se baseiam em um relatório que foi produzido pela União Europeia sobre o que é antissemitismo. Muita gente diz que eu nego o Holocausto, porque eu participei de um concurso de charges, no Irã, sobre o Holocausto. Esse concurso foi uma resposta às charges que, na Dinamarca, atacavam a fé islâmica. Pra questionar o uso da liberdade de expressão, fato alegado pelo jornal dinamarquês e os cartunistas, a Casa da Caricatura do Irã (órgão independente do Governo Iraniano) organizou o concurso, e ficou evidenciado que o mesmo argumento não foi aplicado às charges

do Holocausto. Para eles, as charges sobre Maomé eram liberdade de expressão; as charges sobre Holocausto eram antissemistismo. O desenho com o qual eu participei e ganhou o segundo lugar, mostrava o palestino vestido com roupa de campo de concentração, como se estivesse no Holocausto. Eu não estou negando o Holocausto; eu estou reafirmando que aconteceu. De acordo com esse relatório da UE, qualquer associação a Israel ou ao nazismo é antissemtismo, ele serve mais para proteger o Estado de Israel. O antissemitismo tem sido utilizado para silenciar e suprimir críticas a Israel. Em nenhuma das minhas charges existe a questão religiosa ou étnica, mas política. São sempre organizações de direita que me acusam. Então, se eu desenhar um caça israelense, com uma estrela-de-David dentro de um círculo, atacando uma cidade palestina, não podem dizer que é antissemitismo, porque esse é o símbolo da Força Aérea de Israel. Isso tudo, na verdade, é uma estratégia maldosa pra atender a um lobby pró-Israel. Já fiz trabalho pra anarquistas judeus contra o muro (que separa Israel e Cisjordânia), já fiz charges para o Gush Shalom, uma revista alemã, judaica e de esquerda (“Der Semit”, em português “O Semita”).

Manifestantes egípcios exibem charges de Latuff em protesto Foto: Mohamed Abed

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perfil

A inspiração

do Horto Conheça a luta de Emília, líder da comunidade, pelo direito à moradia Por Maria Luiza Baldez Depois de vinte e oito anos de uma corajosa resistência popular, a comunidade do Horto está prestes a regulamentar o seu direito de moradia. A Secretaria de Patrimônio da União (SPU), em convênio com a UFRJ, fez um estudo para normalizar as moradias no bairro, da Zona Sul do Rio de Janeiro, a partir da atualização do cadastro socioeconômico, da definição de um processo urbanístico e da delimitação da área a ser regularizada. O projeto já foi apresentado aos moradores, ao Jardim Botânico e ao Ministério do Meio Ambiente. Se aprovado, o título de concessão de uso real da terra será entregue às famílias. Ou seja, elas receberão o direito de permanecer em suas casas, sem a permissão de vendê-las, conservando, assim, a comunidade. Os primeiros processos de reintegração de posse, decretando que as famílias de baixa renda deveriam entregar a área de terra que ocupavam, datam de 1982. Não por coincidência, o mesmo ano em que a Associação de Moradores e Amigos do Horto (AMAHOR) foi fundada.

Estamos conscientes de nossos direitos e temos embasamento para combater por eles”

A luta das famílias para se manterem em suas casas é antiga. Mas, para o processo estar tão bem encaminhado hoje, foi essencial a participação de uma figura especial: Emília Maria de Souza, atual presidente da AMAHOR e reconhecida líder da comunidade. Emília mora no Horto desde que tinha três anos de idade. Em 1998, entrou para a associação de moradores do bairro como parte integrante da diretoria. Foi quando começou a se envolver com os problemas. “A visão que todos tinham era que a única forma de combate era a parte jurídica”, conta. O departamento jurídico mantinha o limitado objetivo da indenização, em valores de 25 a 30 mil reais, insuficiente para comprar até casas precárias. Ela quem propôs que a linha de enfrentamento mudasse, incentivando a participação da comunidade em seminários e palestras. “Eu passei a transmitir o que eu aprendia para a comunidade. As pessoas começaram a perceber que tinham direitos”, relata. A discussão pública da situação do Horto foi importante, também, para conseguir grandes apoios para ajudá-los na luta. Em voz preocupada, Emília questiona a situação: “É muito estressante. Aqui é a única área em que a União está tendo dificuldades de fazer a regulamentação latifundiária”. Para a líder, as complicações se devem aos interesses de empresários que “acham que aqui não pode morar pobre e querem a área para expandir o Jardim Botânico”, completa indignada.

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O parque do Jardim Botânico, inclusive, já começou a ampliar o território. Perto do prédio da administração, é possível observar um portão, que era o limite original do parque. Agora, a linha divisória é a escola Júlia Kubitschek, que educa as crianças do Horto. Vale ressaltar que o processo de regularização da área do parque não foi concluído ainda. Porém, a expansão continua, irregularmente. “Eles já demonstraram interesse em ter a área do Caxinguelê, do Morro das Margaridas e do Grutão para reflorestamento. Mas e o espaço que eles já recuperaram? Não vão usar porque hoje está reservado para instituições privadas”. Emília trabalha com produção de eventos e, com freqüência, era contratada para promover a Feijoada da Tia Elza e as suas famosas rodas de samba. Por conta da situação do Horto, ela acabou prejudicada financeiramente: “A AMA-JB faz uma propaganda perversa do movimento e a procura caiu. A arma que eles têm é criminalizar e deixar as pessoas mais vulneráveis”. As palavras sábias de Emília são uma inspiração. A vida lhe ensinou o que precisava saber. Não foi difícil entender por que ela é a líder da comunidade do Horto. Ela respira fundo e faz o discurso final: “Eu acho que consegui passar para as pessoas que, embora seja complicado, nós temos a obrigação de lutar pelo o que é nosso. A gente não deve desistir do nosso sonhos. Já estamos lutando há tanto tempo. O direito à moradia já foi conquistado pelo artigo 429 da Lei Orgânica do município. Se nós não insistirmos, vamos enfraquecer também a luta de vários companheiros que estão no mesmo barco que a gente. A defesa deste direito é fundamental, não só pela nossa situação, mas pela situação do coletivo”.


OSWALDO MUNTEAL Oswaldo Munteal é professor de história na UERJ, Facha e PUC-Rio. Pesquisador da FGV, coordenador do grupo de pesquisa Núcleo de Identidade Brasileira e História Contemporânea (NIBRAHC)

Que se abram os arquivos! A quem interessa interromper o processo de arqueologia da história recente do Brasil?

Jango no comício da Central em 13 de março de 1964, no qual defendeu as reformas de base

Por Oswaldo Munteal “Juscelino, Jango e Lacerda, (...) na minha cabeça, eu não diria que nenhum deles morreu de morte natural. A suspeita e a dúvida existem evidentemente. Se esta Comissão puder aprofundar com fatos e testemunhas, penso que será da maior importância a apuração de tal procedimento.” (Miguel Arraes em depoimento a Comissão da Câmara dos Deputados para apurar as circunstâncias da morte do ex-presidente João Goulart). O ex-governador Miguel Arraes foi um dos primeiros a suspeitar de algo que salta aos olhos, o fato de Jango ter sido esquecido e a sua morte pouco estudada. A tese da morte natural de Jango é aceita por todos como a história oficial e, por isso mesmo, não precisa ser defendida. Cabe ao historiador sempre a dúvida, a pergunta que é a base da pesquisa científica. E como dizia Max Weber, o elemento essencial na busca da verdade científica: o interesse. O contexto da morte do ex-presidente está sendo examinado com seriedade pela nossa equipe de pesquisa, com metodologia adequada à documentação e referencias teóricos que nos permitem aprofundar a questão, e não apenas descrevê-la, como era comum no caso dos dedicados copistas medievais. Para superar a exclusão da vida pública que sofreu o presidente Jango, faz-se mister o uso do conhecimento, de uma sabedoria de porte. A investigação meticulosa acerca do exílio do presidente João Goulart está debruçada sobre um tripé de informações.

1- A rede de relações perigosas que cercou o presidente desde 1954 até o plano para eliminálo em dezembro de 1976, que envolveu uma troca intensa de correspondências entre as autoridades da ditadura, objetivando o controle dos deslocamentos do presidente no exterior, a vigilância da sua casa, a infiltração de agentes do cone sul vinculados a Operação Condor e uma teia densa de contatos no exterior que demonstram o temor de que o presidente voltasse ao Brasil.

outro lado é imediatamente qualificado como perigoso e passível de eliminação. Poucos povos conhecem tão pouco um ex-presidente como no caso de João Goulart. A abertura dos arquivos da ditadura representa um avanço para a democracia brasileira, e consequentemente a apuração de responsabilidades. Não é hora de ter medo. A quem interessa interromper o processo de arqueologia da história recente do Brasil? Quais são as forças que, por exemplo, se insurgiram contra o PNDH 3 e a sua Comissão da Verdade? Karl Marx escreveu que a história pode se repetir de duas maneiras: como farsa ou como tragédia. Faz-se necessário recorrer ao pensamento crítico quando desejamos chegar ao centro dos problemas. O terceiro PNDH é ambicioso, abrangente e corajoso. Por definição ele foi, depois das reformas de base, o programa mais fecundo já elaborado pela república. A rigor, assistimos a um linchamento da mídia e dos setores mais conservadores da sociedade brasileira, que em nome da tradição e dos bons costumes demonizaram as propostas sem a leitura adequada. Já vimos este filme antes e o povo brasileiro morre no final. A grande imprensa parece abominar a liberdade de expressão. Ora, um segmento da sociedade não tem o direito de se expressar? De dar a sua opinião sobre os destinos do nosso país? A ditadura de 1964 deitou raízes profundas, deixou um saldo nefasto e, mais grave, criou defensores.

O Brasil precisa acertar contas com sua história.”

2- O depoimento do agente uruguaio Mario Neira Barreiro sobre a preparação de uma operação, que foi chamada de Escorpião, para envenenar o presidente. Barreiro é um criminoso e está preso na penitenciária de Charqueadas, mas não devemos ser tão ingênuos a ponto de desprezar um personagem da época. O depoimento do agente é peça fundamental no processo de pesquisa. 3- Numa entrevista recente, o ex-ministro Jarbas Passarinho afirma que durante o governo Geisel havia uma orientação de extermínio dos adversários políticos. Carl Schmitt, em sua densa obra, chama a atenção para o fato de que, em política, a dinâmica amigo/inimigo é muito intensa. Nesse sentido, aquele que está do

Os interesses que estão ocultos nas críticas ao conteúdo do III PNDH são aviltantes para a memória nacional. É preciso rever a história recente de nosso país, e a pesquisa sobre as circunstâncias da morte do presidente João Goulart é parte fundamental deste processo. A criação da Comissão da Verdade é um principio ético e constitucional para todos aqueles que defendem o estado de direito. Os magistrados mais respeitados do nosso país reconhecem que toda a América Latina fez a sua revisão histórica a partir de uma relação profunda entre o Estado e os organismos da sociedade civil. O Brasil também precisa acertar contas com a sua história.

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Rio de Janeiro

Operação do Milhão O garimpo do espólio do tráfico, roubos, mortes de moradores e outros abusos policiais contradizem o discurso da mídia grande na sangrenta operação no Alemão, Vila Cruzeiro e Parque Proletário da Penha

Moradores do conjunto de favelas do Alemão na linha de tiro Foto: Carlos Latuff

Por Vinícius Almeida e Caio Amorim* Forças ocultas do mundo das drogas colocaram o Rio de Janeiro em estado de pânico. A Polícia Militar, o BOPE, as forças armadas e até a população das favelas (revoltada com a violência dos bandidos, é claro!) estão unidos, SOMANDO FORÇAS para acabar com esse caos na cidade do Rio de Janeiro. Bom, se eu fosse um governante bem “choque de ordem”, precisasse fazer uma limpeza geral na “bandidagem”, para preparar o terreno das Olimpíadas e Copa, eu até torceria por um caos desse acontecer. Se eu fosse dono de emissoras de rádio e TV, que vão aumentar absurdamente seus lucros com os grandes eventos esportivos na cidade maravilhosa, idem! Na verdade, eu ia até dar uma forçada nas matérias que veiculasse, só colocando imagens “maneiras” da polícia, como nesses filmes

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de Hollywood, fazendo-os parecer heróis que estão salvando a cidade dos supercriminosos cruéis e malvados. Agora para quem não acredita em Papai-Noel, Coelhinho da Páscoa e imparcialidade da imprensa, eis um contraponto. Em 2007 foram realizados os Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro. Antes disso uma brutal chacina no complexo do Alemão denunciada por diversos movimentos, em especial a comissão de direitos humanos da OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil). Naquela ocasião, o advogado João Tancredo (presidente da Comissão em questão) foi destituído do cargo após pressão do governo Cabral sobre a entidade de advogados. Mesmo

Para lideranças comunitárias, os roubos aumentaram, assim como a corrupção dos soldados. O despreparo é evidente.”

assim, a investigação legítima conseguiu mostrar uma voz, dissonante e indignada, da comunidade atingida pelos excessos daquela operação policial. Mais de três anos depois, muito da história se repete tragicamente e com proporções mais alarmantes. Segundo o Delegado Orlando Zaccone, “o apoio midiático e da chamada opinião pública (se é que isso existe!) pode levar a não dar chance para que nenhuma voz se manifeste em relação aos excessos, com medo até de ser vinculada a protetora de marginais”. O esforço das grandes emissoras em contar a história do “caos” no Rio é impressionante. Na principal invasão realizada pela polícia, na Vila Cruzeiro, matérias veiculavam a descontextualizada morte do jornalista Tim Lopes (mártir há anos usado para justificar a repressão policial) ocorrida no mesmo local, com a ação, até agora não identificada, de queima de automóveis pela cidade. Sem julgamento, prática de ditaduras, os go-

*colaborou Mariana Gomes


Ilustração: Nico

A redenção do Caveirão Execrado pela opinião pública e representando o caráter truculento da PM do Rio de Janeiro, o veículo blindado Caveirão (ou para os iludidos “Pacificador”) teve na operação das Favelas seu status de Bat-móvel recuperado. A foto ao lado publicada na revista Época de 29 de novembro de 2010 mostra crianças fazendo pose com o veículo, e serve para combater sua fama de “mal”. O poder de fogo da polícia no Rio não diminuiu e, concretamente, o Caveirão é ainda mais letal hoje em dia.

vernos dizem reagir a “barbárie”. Agora promovem a instalação de uma Unidade de Política Pacificadora (UPP) no morro do Alemão, o que os permite dizer que não são “só repressores”. Para completar, apontam que a população está apoiando o lado do “bem” na luta contra o “mal”. Um “bem” que veste preto, tem o símbolo da caveira e os mais potentes instrumentos de extermínio possíveis.

Ilustração: Carlos Latuff

No dia 24 de janeiro, a equipe da Revista Vírus Planetário esteve na Vila Cruzeiro para saber que “legado” foi conquistado pela invasão. O Parque Proletário da Penha, nos arredores do complexo da Vila da Penha e próximo ao Complexo do Alemão (onde foi instalada a “gloriosa” UPP) não recebeu nenhum benefício social, segundo moradores, pela “visitinha especial” do Estado em novembro. Mesmo tratando-se somente da segurança, hoje apenas soldados do exército fazem plantões de 72 horas seguidas nas comunidades. A autoridade deles é tão baixa que sequer conseguem separar brigas entre moradores. Para Jussara Raimundo, apelidada de Bizuca, e Dona Ana, lideranças comunitárias há décadas, os roubos aumentaram, assim como a corrupção dos soldados. O despreparo é evidente.

Mesmo com as prisões de policiais civis que estiveram na incursão ao Alemão (em 2007 e 2010) pela Operação Guilhotina da Polícia Federal (veja reportagem sobre o policial civil preso Trovão na página 13), o caveirão, o Bope, e toda a filosofia do herói truculento, impiedoso e cruel continua em voga na sociedade brasileira (em especial, a fluminense). Talvez pelo fato de a associação de que esses caras que foram presos são os mesmos que mataram 19 pessoas em um único dia em 2007, e no fim de 2010, além de roubarem mais almas, roubaram também milhares em bens e dinheiro não ter sido feita pela mídia empresarial. É comum ouvirmos nas ruas do Rio, os comentários habituais de quando há prisões de policiais corruptos: “É um absurdo! Aonde vamos parar?”. No entanto, essas mesmas pessoas são aquelas que, novamente, voltarão a aplaudir quando houver outra incursão policial em favelas e mais inocentes morrerem, pois para eles, esses policiais corruptos são casos à parte. Não questionam, por exemplo, o método de enfrentamento na bala e no desrespeito aos direitos do morador que, por si só, já são maneiras perversas de corrupção. Nessa onda de glorificação do BOPE, força policial responsável pela instalação inicial das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), temos tristes exemplos do apoio da população do Rio de Janeiro à “força pacificadora”, como se não houvesse nada mais paradoxal do que o símbolo da morte representar a pacificação. Além do caveirão de brinquedo (sucesso de venda no dia das crianças do ano passado), a fantasia de carnaval do BOPE volta à moda depois do Tropa de Elite 1, mas dessa vez, os comerciantes dizem que a vendagem está muito maior. O traje preto agora vem com a inscrição “Força Pacificadora” em menção às instalações de UPP, que motivou muitas pessoas a comprar. Comerciantes da Tijuca, área que conta com 5 UPPs dizem ter esgotado seu estoque.

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O Sucesso do BOPE e do Caveirão em 3 atos:

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1: menino sai feliz da loja com a fantasia da “força pacificadora” do BOPE; 2: a publicidade do caveirão de brinquedo da fabricante Roma Brinquedos; 3:crianças se divertem no caveirão junto com o secretário de segurança pública, José Mariano Beltrame na UPP do Morro dos Macacos

“Primeiro a polícia roubou tudo, agora tá cheio de ladrão, mesmo com o exército no morro. Aí, quando você vai reclamar na polícia, eles falam: ‘mas você viu quem era o ladrão? Tem provas?’ Não acreditam na gente ou fazem pouco caso.” – Conta Renata, também liderança do Parque Proletário.

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Dona Bizuca e sua neta Foto: Artur Romeu

Bizuca atenta para as diferenças geográficas entre Conjunto de favelas do Alemão, Vila Cruzeiro e Parque Proletário da Penha; três conjuntos de favelas separados, apesar da proximidade, mas muitas vezes, tratados como algo único. A senhora de 51 anos lembra que, apesar de a Vila Cruzeiro e o Alemão receberem alguns investimentos públicos como hospitais, escolas e creches (especialmente com o PAC), o Parque Proletário, onde vive, não recebe praticamente nenhuma política pública de melhoria. Bizuca lembra o encontro que teve com o ex-presidente Lula na inauguração do teleférico do conjunto do Alemão: “Sr. Presidente, eu estou falando em nome de 35 mil moradores da minha comunidade, não temos uma política pública, não tem uma creche, não tem uma escola de formação, uma escola técnica, nós não temos nada.”- disse à época.

facções: “Tem uma série de garotos que estavam envolvidos com o tráfico e batem a minha porta, eu fico desesperada. O que eu vou fazer com esses meninos? Onde eu vou colocá-los? Eles querem ajuda! Querem mudança de vida! Querem voltar pra escola, tirar documento... Batem a minha porta toda hora e falam: ‘Tia, já entreguei isso e aquilo outro, não quero mais essa vida, quero mudar, arruma um emprego pra mim, arruma um lugar pra mim.’ Às vezes, a gente até consegue arrumar um lugar, mas logo eles são dispensados e, muitas vezes desnorteados, acabam voltando para o tráfico por não ter rigorosamente o que fazer.” – conta Bizuca com a voz aflita.

Como referência local, ela relata as dificuldades encontradas para tentar inserir no mercado de trabalho jovens que querem deixar o varejo de drogas e suas

Entretanto, apesar de inúmeros problemas relatados pelos moradores do Parque Proletário da Penha, o que vemos nas TVs são alguns moradores aplaudindo os tanques de guerra cedidos pela marinha invadindo sua comunidade e destruindo tudo o que encontrava pela frente. De volta à realidade vista por nós, os mesmos moradores da região reco-

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A operação que surpreendeu muitos apoiadores do atual modelo de segurança pública fluminense, na verdade, vem descortinar algo há muito denunciado pelas organizações de esquerda: a corrupção não só no que diz respeito a roubos e desvios de valores, drogas e armas para facções do varejo e milícias, como também no modo de agir da polícia: truculenta, desrespeitosa e assassina. Dezoito dias antes de ser iniciada a operação da PF, quando estivemos no Parque Proletário da Penha, as lideranças comunitárias locais atentavam para o fato de o chamado espólio do tráfico (bens como ouro, armas, drogas e dinheiros abandonados pelos varejistas da droga em sua fuga) estar sendo “garimpado” por alguns policiais. “A gente apelidou a operação do Alemão de operação do Milhão, foi dinheiro, ouro, carro, moto... Foi muito dinheiro, eles andavam de pá, enxada e cavadeira.” – conta tragicomicamente Renata. “Tem uma história de um policial militar que chegou e falou: sei que tem uma bolsa aqui deixada pelos traficantes que tem 3 milhões de reais, se vocês falarem pra mim onde tá, eu dou R$20mil pra vocês.” – relata.

tica

exemplo, desse armamento que foi apreendido no Complexo do Alemão pra saber de onde ele veio, e em qual momento ele deixou de ser legal e se tornou ilegal.” Sobre a nova chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, o presidente da CPI das armas elogia o bom histórico, mas ressalva: “não são pessoas isoladas que vão resolver esses problemas. É claro que quando se coloca uma pessoa incompetente ou com algum tipo de envolvimento, o problema piora. Mas uma boa pessoa não vai resolver sozinha, precisa-se, evidentemente, de políticas públicas, de uma corregedoria independente, de um salário melhor para a policia, de uma outra formação para o policial. As boas pessoas precisam ser acompanhadas de boas políticas. Se isso não for feito, vamos continuar com uma situação muito precária na área de segurança.”

Eles andavam de pá, enxada e cavadeira.”

Um dos principais críticos da atual política de segurança pública implementada por Cabral desde 2007, o deputado estadual Marcelo Freixo do PSOL teve seu pedido de abertura da CPI das armas aceito um dia antes do início da operação Guilhotina. Presidente da CPI, que aguarda a composição para começar os trabalhos, Freixo ouvirá os investigados pela operação da Polícia Federal. “O objetivo da CPI das armas é investigar o tráfico de armas, munições e explosivos no Rio de Janeiro. É fazer uma grande investigação, por

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Perguntamos ainda ao deputado se ele acha que Sérgio Cabral, Eduardo Paes e Rodrigo Bethlem podem ter algum envolvimento com os alvos das investigações da operação guilhotina ou se sabiam de algo. A resposta de Freixo é sugestiva: “Os cargos da segurança pública são cargos políticos, então foi de responsabilidade política a escolha. É claro que você desconhecer determinadas coisas, mas no Rio de Janeiro, na segurança pública, todo mundo se conhece, todo mundo sabe quem é quem. É difícil alguém ser surpreendido com alguma coisa, a gente sabe quem é quem há muito tempo.”

Ilustração: Carlos Latuff

Ope

Desde que as forças policiais começaram a “ocupar” o conjunto de favelas do Alemão, Vila Cruzeiro e Parque Proletário da Penha, inúmeras foram as denúncias apuradas por organizações de direitos humanos como Justiça Global, Rede contra a Violência de moradores tendo portas de suas casas mais de uma vez arrombadas e seus bens roubados. Estávamos finalizando esta edição da Vírus Planetário quando foi deflagrada a operação Guilhotina da Polícia Federal na sexta-feira, 11 de fevereiro.

nhecem que o “maior violador de direitos é o Estado”. E desde que as forças do “bem” saíram do Alemão, Vila da Penha e proximidades a grande mídia jamais retornou. Quando a nova geração de traficantes queimarem novos automóveis (se é que foi isso mesmo que aconteceu) eles certamente voltarão para exibir mais episódios do seriado de ação e “pura adrenalina” que faz as audiências subirem e o povo da favela viver no terror.


Três histórias sobre aborto Ilustração: Thaís Cunha e Thiago Vilela

Direto de Brasília

Elas decidem Por Thiago Vilela “Ter um filho nunca me passou pela cabeça”, afirma Sara.* A jovem brasileira mora na Europa. Soninha é estudante da Universidade de Brasília (UnB). Nunca soube se queria ter filhos no futuro. Thaís tem um filho, trabalha como funcionária pública e não pretende engravidar novamente. No Brasil, uma em cada cinco mulheres já realizou um aborto.** Soninha sente enjoo pela manhã, durante a aula e à noite. E no dia seguinte. Receosa, compra o teste de farmácia. Temerosa, vai ao ginecologista. Incrédula, pega o resultado do ultrassom. Está grávida. Sara sabe que sua menstruação está atrasada. Falta encarar a realidade. Após exatas oito semanas, compra o teste de gravidez. Positivo. Thaís conhece os sintomas. E já havia abortado uma vez. Mãe católica e pai militar, ela prefere guardar segredo da família. Na Ceilândia, compra os remédios. Pelo Código Penal Brasileiro de 1940, provocar aborto pode resultar em pena de um a três anos de detenção. É uma das leis mais restritivas do planeta. No mundo, o aborto é permitido** em 56 países, que juntos representam 40% da população mundial. Soninha guarda segredo dos pais. “Eu fiquei com medo deles não me apoiarem, quererem que eu tivesse o filho. Eu não estou preparada.” Apenas o namorado e duas amigas sabem. Compram o remédio pela internet. Sara conta para os pais. “Minha mãe estava desconfiada. E eu precisava da ajuda deles.” De férias na Inglaterra, o aborto acontece lá mesmo, onde é legalizado desde 1967. O sentimento é de medo. “Acho que o mais difícil é conseguir ajuda. Me senti muito sozinha.” Mas Soninha está segura. Depois de duas semanas, o remédio chega pelo correio. O procedimento irá durar 48 horas. Chegando ao hospital, Sara se depara com dezenas de jovens esperando atendimento. “Conheci meninas da minha idade que já haviam abortado, lá isso não é tabu. Inglesas também ficam grávidas cedo.” Terá de passar por uma cirurgia. Irá durar no máximo uma hora. De posse dos remédios, Thaís repete o procedimento. Na manhã seguinte, os enjoos continuam. O teste confirma: continua grávida. Ela aumenta a dose do medicamento. “Funciona”. “As cólicas eram muito fortes”. Soninha toma o primeiro comprimido foi tomado à noite, quando começaram as dores e o sangramento. Com analgésicos e compressas quentes, o namorado e a amiga tentavam diminuir o sofrimento. Vinte e quatro horas depois ela toma o medicamento que faltava. Os sintomas se intensificam ainda mais. Sara entra na sala de operações. “Deitei numa cama e me deram anestesia geral. Acordei meia hora depois, ainda um pouco tonta. Depois de 20 minutos descansando,

ganhei um sanduíche e fui para casa normalmente.” Thaís não está mais grávida, mas o feto continua em seu corpo. Decide ir ao hospital fazer uma curetagem. O procedimento é simples, porém arriscado. “O médico raspa o útero da mulher com a cureta, uma ferramenta que parece uma colher de pedreiro”, revela uma amiga. Depois de dois dias, começa a ter febre. Descobre que está com uma infecção. Depois de passar por três hospitais diferentes, ela é internada no dia do aniversário de seu filho. A mesma amiga recorda: “Poucas pessoas sabiam e não se podia falar sobre isso. Ficou um clima muito estranho.” Passada a cirurgia, Sara se sentia bem. “Voltei a uma vida normal rapidamente e na minha casa nunca mais se falou no assunto.” Soninha conseguiu tirar um significado positivo de tudo que aconteceu. “Eu parei para pensar muito mais no que eu queria para a minha vida.” Depois de uma semana sentindo muita dor, Thaís faleceu.**** * Todos os nomes citados neste texto são fictícios. As histórias são reais. ** Nesses países, o aborto é permitido sem nenhuma restrição até a 12ª semana gestacional. O Brasil está incluído em um grupo de 68 países que reúnem 26% da população mundial, nos quais a prática só é admitida em circunstâncias específicas. Os dados são do Center for Reproductive Rights, organização norte-americana voltada para o tema (http://reproductiverights.org/). *** Thaís morreu após cinco dias de internação (sete dias depois de ter ingerido os medicamentos abortivos). Como a família não fez uma autópsia, não há meios para comprovar se há ligação entre os eventos. Segundo médico consultado pelos amigos mais próximos, é bastante provável que tenha havido contaminação no procedimento de curetagem. Sua história é baseada na versão narrada por duas de suas amigas.

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Bola e arte

Futebol, arte e transformação social Direto de Sampa

O Dinheiro e o Conto do vigário

Carlos Carlos é vídeo-ativista, escritor, músico e apresentador de Tv. Teve um programa de tv a cabo e internet intitulado “Bola & Arte”. Trabalhou no “Programa Novo” da TV Cultura e foi demitido após ouvir do novo diretor: “Me chamaram pra deixar o programa mais comercial, você não faz esse perfil”. Em poucos meses no programa, foi um diferencial com tiradas políticas e sociais e matérias ousadas como a que fez na Conferência Nacional de Comunicação de 2009.

www.bolaearte.wordpress.com

Não consigo escrever essa coluna. Tá tenso. Tá nervoso. Tá doido o negócio. E eu não consigo escrever pois no momento sofro de falta de papéis verdes.. isso mesmo, dinheiro. O dinheiro tão “idolatrado e adorado, salve, salve”, aquele que faz seres humanos se matarem e criarem subdesenvolvimento para matarem por tabela, esse mesmo que corrói os corações humanos e destrói ideais.

xam sentar, respirar e escrever concentrado.. estou sempre pensando em… DINHEIRO… ou melhor, trabalhos que o gerem.

está pensando em que? DINHEIRO! E um monte de não-executivos o acompanham nas sua idéias sem ao menos questionar!

Milhares de trabalhadores deveriam estar na rua lutando por direitos, mas estão oprimidos pelo sistema.”

Explico melhor: fiquei de escrever essa coluna e enviar para o pessoal da Vírus Planetário. Fiquei lisonjeado com o convite e feliz por escrever numa revista tão firmeza como esta. Mas minha cabeça não me deixa pensar.. e sabe porque? Porque estou apertado de DINHEIRO. Justo eu, o cara que é tão desencanado em relação a ele.. é sim, pode acreditar, o cara que não faz questão de tê-lo, de tanto questionar e duvidar dos valores feios que a elite dessa sociedade injusta ensina. Justo eu, que ainda consigo respirar mesmo bem apertado, não de xixi, mas de DINHEIRO. O fato é que ainda resta um pouquinho (bem pouquinho) dele, mas só a idéia de não ter comida para eu dar para minha filha, me gelo todo… brrrr.. eu tudo bem, mas minha filha não, isso é inadmissível! Ser pai de família mexe demais com a gente. É uma experiência transcendental e ao mesmo tempo prática, muito prática. Você não pode parar para pensar muito, ou você faz, ou você faz, ou você corre atrás, ou você corre atrás. E assim caminha a vida de milhares de trabalhadores brasileiros que deveriam estar na rua lutando pelos próprios direitos, mas não, estão oprimidos por um sistema falso e cínico. Como eu disse, eu já deveria ter entregue essa coluna a alguns dias, mas as precoupações monetárias não me dei-

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Isso só me faz pensar o quanto o ser humano foi e continua sendo patético na forma de vida que escolheu para esse planeta. Pô, a vida é tão bela, a natureza, as crianças, o sol, a lua, as flores, as moças… e o babaca do arrogante ser executivo

É isso, só dinheiro. E não é só pela nota, pelo papel não… ele quer o status que o DINHEIRO proporciona, ele quer mostrar que ele tem, ele quer ter mais que o outro, ele quer ser guloso… o dinheiro não basta, nunca.

Mas apesar de tudo posso dizer que posso respirar por alguns instantes pois parece que eu escrevi algo, só pra contar pra vocês o quanto essa falta de DINHEIRO atordoa a gente…. e algumas coisinhas mais… procure nas entrelinhas. Ilust

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